ESPAÇO ABERTO
Reflexões Sobre o Currículo
a Partir da Leitura
de um Livro para Crianças
Antonio Flavio Barbosa Moreira
A seção “Espaço Aberto” tem por objetivo englobar artigos que
expressem a diversidade temática da área de ensino de química,
bem como abordar questões educacionais mais amplas de interesse
dos professores e das professoras de química. Neste número,
apresentamos um artigo em que o autor argumenta em favor da
importância da teoria curricular na formação de professores e
demonstra como nossas histórias e experiências pessoais podem
constituir-se em poderosos catalisadores de reflexões sobre
currículo. Para tanto, o autor se vale de uma experiência com a
literatura infantil: o livro O frio pode ser quente?, de Jandira Masur.
currículo, textos estéticos, conhecimento
o local, para o específico, para as experiências individuais. Situadas no interior de um panorama coletivo, histórico
e cultural, essas experiências podem
nos ajudar a repensar e a aperfeiçoar
nossas práticas e nossos saberes.
Examino, ao longo do artigo, algumas perguntas: que devemos entender por currículo? Como o currículo tem
sido estudado? Como nossas experiências estéticas pessoais podem
enriquecer nossas análises? Tais perguntas constituem os fios que estabelecem a organização do texto.
1. Concepções de currículo
O
s estudos sobre currículo
constituem significativa
ausência nos cursos de licenciatura. Somente quem estuda pedagogia ou freqüenta cursos de pósgraduação costuma estar familiarizado
com as mais recentes discussões
travadas no campo em pauta. Os
demais restringem-se a refletir sobre
ensino e algumas questões curriculares nas aulas e em textos de didática
que, no entanto, tradicionalmente não
propiciam uma abordagem mais profunda dessa questão. Ainda que as
fronteiras entre as disciplinas didática
e currículo sejam tênues e flexíveis,
correspondendo na verdade ao que os
especialistas determinam e não a
supostas características essenciais
dos dois campos de estudos, os temas
que têm atraído a atenção dos pesquisadores e professores de didática não
têm sido, a despeito das interfaces, os
mesmos investigados pelos especialistas em currículo.
A conseqüência é que grande parte
de nossos professores exerce suas atividades, participando de processos de
elaborar e implementar currículos, sem
ter tido em sua formação a oportuni-
dade de conhecer e analisar o que vem
A palavra currículo tem adquirido
sendo investigado, pensado e consdiferentes sentidos ao longo do tempo,
truído pelos curriculistas. Daí a necestendo sido associada, em diferentes
sidade de outros espaços e estímulos
momentos, às idéias de ‘conteúdos esque possibilitem aos docentes das dicolares’, ‘experiências de aprendizaferentes disciplinas escolares aproveigem’, ‘planos de aprendizagem’, ‘objetar as contribuições do pensamento
tivos’ e ‘avaliação’. Na verdade, o
curricular para o aprimoramento de
termo expressa determinadas ênfases,
suas práticas.
determinados posicionamentos ideolóNo presente artigo, chamo a atengicos, determinada visão do que se
ção para a importância da teoria curriconsidera educação e do que se
cular e procuro mosespera da atuação
Grande parte de
trar que nossas histódas escolas. Nesse
nossos professores
rias, nossas experiênsentido, não cabe conexerce suas atividades
cias pessoais, podem
siderar um significado
(...) sem ter tido, em
constituir-se em pocerto ou errado; o que
sua formação, a
derosos catalisadores
se faz necessário é
oportunidade de
de reflexões sobre
precisar o ponto de
conhecer e analisar o
currículo. Meu foco
vista adotado quando
que vem sendo
particular será a expese fala em currículo.
investigado, pensado e
riência estética, a exPode-se verificar
construído pelos
periência com a liteque dos significados
curriculistas
ratura infantil. O ponaté aqui apresentato de vista subjacente
dos, ‘conteúdos’, ‘exé que as macroanálises, ponto forte da
periências de aprendizagem’, ‘objeteoria curricular crítica, que nos têm
tivos’ e ‘avaliação’ correspondem aos
permitido melhor entender as relações
chamados elementos substantivos da
entre o currículo e o contexto social
prática pedagógica, enquanto ‘planos’
mais amplo, podem beneficiar-se dos
representa o conjunto de intenções
insights de estudos que se voltem para
referentes a essa mesma prática.
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Reflexões sobre o Currículo de Química N° 9, MAIO 1999
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Neste estudo, pretendo utilizar a palafeitos com os rumos do campo, alguns
mas educacionais e escolas.
vra currículo como significando um
teóricos esforçam-se por reconceituáResumindo, considero, com apoio
texto, no sentido que lhe confere Fálo, partindo da rejeição do caráter
em Apple (1991), que o currículo consvero (1991) — “qualquer passagem
prescritivo anterior e do reconhecititui um ambiente simbólico, material e
falada ou escrita que forma um todo
mento do caráter inevitavelmente
humano constantemente em reconssignificativo, independente de sua
interessado e político do pensamento
trução, cujo desenho envolve questões
extensão” (p. 7). A meu ver, a idéia do
e da prática curricular. Nessa abortécnicas, políticas, éticas e estéticas.
currículo como um texto permite desigdagem mais contemporânea, também
2. Estudos de currículo
nar tudo que se escreve sobre as expecindida em dois grandes grupos — um
riências de conhecimento a serem
mais pautado na fenomenologia e
As intenções e as vivências que
desenvolvidas por professores e aluoutro com raízes no neomarxismo e na
constituem o currículo têm sido objeto
nos, bem como tudo que se faz para
teoria crítica —, deseja-se compreda atenção de diversos teóricos, desde
materializá-las nas escolas e nas salas
ender o processo curricular. A intenção
os primeiros anos do século XX, ainda
de aula. Inclui, portanto, tanto as intenparece ser mais explicar por que o
que as maneiras de abordá-las tenham
ções como as vivêncurrículo é como é do que especular
diferido. Inicialmente,
cias.
como pode ou deve ser. É o segundo
O currículo constitui
nas perspectivas mais
Pretendo, tamgrupo, de cunho mais político, que se
um ambiente
tradicionais, a preocubém, partir de certos
torna prevalente.
simbólico, material e
pação com o planejapressupostos. O priHá cerca de 20 anos, ou seja, do
humano
mento do ambiente
meiro é a idéia do
início da década de 70 ao final da de
constantemente em
educacional a ser
currículo como campo
90, os textos curriculares tendem a exreconstrução, cujo
vivido por professores
de tensões entre um
pressar uma ou outra dessas recentes
desenho envolve
e alunos confere aos
projeto e uma prática
posturas, ainda que o foco nos aspecquestões técnicas,
estudos do campo um
que intenta concretitos técnicos do currículo não desaparepolíticas, éticas e
caráter dominantezá-lo e que necessaça de todo do cenário pedagógico. Mas
estéticas
mente prescritivo. O
riamente o revê e o
é ao enfoque político que se filia um confoco central é o como
transforma. O segundo é a visão de
junto de textos bastante significativo, tanfazer — como planejar, como impleque o currículo corresponde ao instruto qualitativa como quantitativamente.
mentar e como avaliar os currículos. No
mento pelo qual se busca sistematizar
Na década de 90, os textos que
entanto, ainda que unidos pelo inteo processo educativo escolar. Ou seja,
buscam compreender o processo curresse de prever as atividades a serem
é pelo currículo que ‘as coisas aconricular tornam-se mais numerosos e
desenvolvidas, os teóricos diferem nas
tecem’ nas salas de aula; é fundamendiversificam-se. O campo expande-se,
metas a serem alcançadas: uns desetalmente pelo currículo que escolas e
em decorrência de inúmeras pesjam que as experiências se harmoprofessores procuram cumprir as
quisas e publicações, recebe novas e
nizem com os interesses e as
funções que a sociedade lhes delega.
distintas influências teóricas, enfoca
necessidades das crianças, vistas coO terceiro é a constatação de que todo
novos temas, novas questões, novos
mo crianças, ao passo que outros
currículo corresponde a uma série de
problemas sociais e pedagógicos.
pretendem prepará-las para que se
escolhas, a uma seleção que se faz de
Nesse processo, reflete os novos temtornem os adultos de que a sociedade
um universo mais amplo de possibilipos, as novas configurações, as noparece carecer. Os dois grupos repredades, tanto no que tange às intenções
vas dúvidas e incertezas, os novos
sentam os primeiros indícios das tencomo às práticas. Em outros termos,
paradigmas. O enfodências que no Brasil
todo e qualquer currículo representa
que político é visto cosão denominadas de
O enfoque político é
uma seleção da cultura, como os automo em crise, tanto por
escolanovismo e tecvisto como em crise,
res da chamada sociologia do currículo
essa profusão de
nicismo, respectivatanto por essa
bem argumentaram. O quarto ponto é
influências como pela
mente.
profusão de
a certeza de que essa seleção se faz a
dificuldade que vem
Durante cerca de
influências como pela
partir de certas posturas e interesses,
tendo em responder
50 anos, as duas dodificuldade que vem
o que permite concluir que não há deciaos desafios que a
minam o campo de
tendo em responder
sões curriculares neutras e que todo
prática lhe coloca. Coestudos do currículo,
aos desafios que a
currículo constitui um território de lutas
menta-se mesmo que
alternando-se em
prática lhe coloca
e de conflitos em torno de valores e
seus efeitos se fazem
termos de prestígio e
significados. O quinto aspecto a ressentir mais na construção de novas e
preponderância, ou combinando-se
saltar é a visão do currículo como espasofisticadas teorizações que na maem tentativas de síntese nem sempre
ço produtivo, no qual são atribuídos
terialização de novas realidades no
bem-sucedidas. Cabe realçar, todavia,
significados e construídas identidades
espaço escolar.
o predomínio do enfoque técnico sosociais (Silva, 1997). Daí sua
Em meio a essa profusão de focos
bre a perspectiva mais centrada na
importância e o papel que lhe tem cae aportes, os textos curriculares sofrem
criança.
bido nas tentativas de reformar sistea influência de novas teorias sociais,
No início da década de 70, insatisQUÍMICA NOVA NA ESCOLA Reflexões sobre o Currículo de Química
N° 9, MAIO 1999
Outros, em terceiro lugar, articulam
das artes, da crítica literária, das huque:
manidades, do pensamento pósconcepções de arte, desenvolvidas
• o conhecimento não pode ser remoderno. Multiplicam-se e diversineste século, com concepções de
duzido ao que pode ser dito;
ficam-se a tal ponto que Pinar et al.
currículo. Há, em quarto lugar, aqueles
• o trabalho em um dado problema
(1995) identificam, nestes últimos anos
que estudam as relações entre arte e
produz, por si só, recompensas
do século, 11 diferentes tipos de textos
sociedade, com a finalidade de oferetão ou mais importantes que o
curriculares: textos históricos, textos
cer uma agenda estética para o curríresultado obtido;
políticos, textos de raculo. Em quinto lugar,
• as metas que se busca atingir não
Para alguns
ça, textos de gênero,
alguns empregam nosão alvos estáveis, mas sim horiespecialistas, o
textos fenomenológições associadas às
zontes, direções a serem seguicurrículo é um texto
cos, textos pós-moartes para oferecer
das;
estético em cuja
dernos e pós-estrutuinstrumentos concei• nenhuma parte de uma compoteorização a
rais, textos biográficos
tuais que facilitem a
sição, seja esta uma pintura ou
imaginação é fundae autobiográficos,
compreensão do curríuma redação, é independente do
mental
textos estéticos, texculo e do ensino.
todo do qual faz parte;
tos teológicos, textos
Outros, ainda, discu• o conhecimento científico não é
institucionalizados e textos internaciotem as relações entre o teatro e o currío único que informa e desenvolve
nais.
culo. Outros estudiosos, por fim, defena cognição;
Estudando o campo do currículo há
dem uma noção pós-moderna de
• a ciência, tanto quanto a arte, é
cerca de 20 anos, tenho elaborado texcurrículo como texto estético.
constituída de estruturas artistitos que certamente se enquadram no
Dentre os autores associados ao
camente criadas.
que Pinar e seus colaboradores denocurrículo como texto estético, destacaEisner nos traz, em síntese, a partir
minam ‘texto político’, ainda que, em
se o nome de Elliot Eisner, para quem
de suas experiências estéticas, reflemomentos mais recentes, o fascínio do
o ensino deve ser considerado arte.
xões sobre o conhecimento que, nessa
pós-modernismo, do pós-estruturaPara ele, tal ponto de vista confirmaabordagem, é visto como uma conslismo e do movimento desconstruciose, em primeiro lugar, nos casos em
trução social, como relativo, como vernista tenha me estimulado a redigir
que o professor se envolve tanto com
dadeiro apenas a partir de um quadro
alguns trabalhos que podem ser
seu trabalho que a sala de aula se torna
de referência específico. As impliincluídos no conjunto dos textos pósuma experiência estética. Confirma-se,
cações dessa visão para o currículo
modernos. Neste artigo, proponho-me,
em segundo lugar, na necessidade que
continuam sendo intensamente debaporém, a construir outro tipo de texto,
o professor tem, assim como o artista,
tidas pelos teóricos do campo.
um texto estético, aventurando-me a
de efetuar julgamentos, durante o
Outra experiência similar encontraexplorar algumas de suas possibilidaprocesso de ensino, com base nas
se no texto de Delese Wear (1991), que
des para a compreensão do objeto
qualidades que observa no rumo descomenta o que a leitura de poesia pode
que me chama a atenção há tanto
se processo. Confirma-se, ainda, no
significar para os pesquisadores de
tempo. Antes de meu ‘exercício’, penso
caráter necessariamente criativo de um
currículo. A autora emprega trechos de
ser útil caracterizar o que os autores
bom ensino. Confirma-se, por fim, nos
poemas para ilustrar quatro temas que,
resultados não previstos, mas bemcitados denominam ‘texto estético’.
a seu ver, encontram-se tanto na criavindos, que sempre se alcançam tanto
ção poética como no trabalho com o
3. Os textos estéticos:
na arte como no ensino (Pinar et al.,
currículo. O primeiro deles, admiração,
características e exemplos
1995).
espanto, corresponde à visão de munEisner compara o trabalho do crítico
do do poeta, à crença na incompletude
Segundo Pinar et al. (1995), número
de arte com a crítica na educação, tendo saber, crença essa que torna esticonsiderável de especialistas contrado em vista que os dois casos implimulante e desafiante a busca do copõe-se à busca de certezas e verdades
cam reconstruir uma experiência, ennhecimento. O segundo, ambigüidade,
no campo educacional e utiliza a imagivolvem tornar público
caracteriza a reverênnação como elemento fundamental
um ato particular de
cia pela natureza
para a teorização curricular. Para eles,
Segundo Eisner, o
apreciação. Trata-se,
incerta e não captuo currículo é um texto estético. Alguconhecimento
nos dois casos, de
rável da linguagem e
mas orientações básicas parecem cacientífico não é o único
ajudar pessoas a
a perspectiva de que
racterizar os estudos dos que empreque informa e
perceber qualidades e
somente a partir da
gam a arte para compreender o currídesenvolve a cognição
características, nem
incerteza pode-se ver
culo. Em primeiro lugar, há os que bussempre evidentes, de modo mais prosempre mais, sempre novos e diferencam estabelecer a centralidade da arte
fundo e significativo. Em recente estes ângulos. O terceiro - visão - incita a
no currículo. Em segundo lugar, existudo, Eisner (1991) apresenta o que as
prestar-se atenção a tudo, a nada pertem os que procuram elucidar o caráter
artes lhe ensinaram sobre educação.
der. Espera-se, como o poeta, vir a
estético do pensamento e da aquisição
Segundo ele, com base na experiência
enxergar de fato o que a maioria apedo conhecimento para sugerir persestética foi possível melhor perceber
nas vislumbra. O quarto, ação, reprepectivas de compreensão do currículo.
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Reflexões sobre o Currículo de Química N° 9, MAIO 1999
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senta a consciência crítica detonadora
da ação, a certeza de que a poesia pode impulsionar a ação. Os quatro temas sugerem que a imersão na poesia
ajuda a ver de modo diferente o que
se costuma aceitar sem questionamento. As implicações para o currículo
são muitas e têm se constituído em
alvo da atenção do discurso curricular
contemporâneo.
Os testemunhos oferecidos por
Eisner e por Wear ilustram como determinadas experiências estéticas afetam
as reflexões sobre currículo. Seguindo
seus exemplos, abordo minha experiência com literatura infantil, particularmente com o livro O frio pode ser
quente?, de Jandira Masur.
4. Questões de currículo e a
leitura de “O frio pode ser
quente?”
26
Em instigante livro, a autora propõese a desmascarar verdades e postulados tidos como indiscutíveis. Relativizando certezas, afirma que “as coisas
têm muitos jeitos de ser”, dependendo
do “jeito da gente ver” (p. 1). Assim,
“quem já se queimou num pedaço de
gelo e sentiu muito frio depois de um
banho quente” (p. 14) não deve se espantar de o frio queimar e de o quente
esfriar. Ressaltando o caráter subjetivo
do processo de conhecer, pergunta:
“como será que pode uma colher cheia
de doce parecer tão pouquinho que
não dá nem para sentir? E cheia de remédio ficar tanto que não dá nem para
engolir?” (p. 24-25). Destacando a necessidade de referenciais, lembra que
a árvore é grande olhada de baixo e
pequena vista do alto de uma montanha. Grande ou pequena, depende de
quê? Responde: depende do lugar de
onde a gente vê. Conclui ser possível
ver de um jeito agora, de outro jeito depois ou, melhor ainda, ver na mesma
hora dos dois jeitos.
Comento brevemente algumas das
reflexões que desenvolvi a partir da
agradável leitura.
Em primeiro lugar, considero que o
texto nos convida a rever visões tradicionais de conhecimento, objetividade,
ciência, verdade. Faz-nos desconfiar
da crença exagerada em nossa capacidade de conhecer o mundo tal qual
ele é, ressaltando o papel de nossas
um determinado modelo ou sistema de
experiências e de nossas construções
verificação (Wright Mills, 1974).
nesse processo. Desafia nossa crença
Em segundo lugar, julgo que a
em um único conhecimento verdadeiro
leitura do livro nos estimula a reconsie, por conseqüência, questiona nosso
derar a crença na superioridade de
repúdio a outros saberes, vistos como
nossas manifestaprimitivos e ingênuos.
O livro O frio pode ser
ções culturais e a
Incita-nos, assim, a requente? nos convida a
abandonar a postura
jeitar a supressão de
rever visões
etnocêntrica que nos
outras maneiras de
tradicionais de
tem levado a rotular
compreender a realiconhecimento,
nossos saberes, cosdade, adequadamenobjetividade, ciência,
tumes, crenças e
te denominada por
verdade
valores como refinaSantos (1995) ‘epistedos e dignos e os
micídio’. Além disso,
outros como rudes e desprezíveis.
torna suspeitas percepções da realiSensibiliza-nos para melhor perceber
dade que se fazem a partir de categoe respeitar diferenças, definidas com
rias fechadas, dualistas. Nessa persbase nas dinâmicas sociais de classe,
pectiva, coloca em xeque o caráter
raça, gênero, orientação sexual, idade
sagrado concedido à voz do especiaetc. Instiga-nos, como professores, a
lista, destacando ao mesmo tempo
adentrar nossos preconceitos para
nossa participação no processo de
superá-los. Inquieta-nos, tornando
produção do conhecimento (Maduro,
aguda a necessidade de buscarmos
1994).
novos caminhos e abrirmos nossa esO livro nos descortina, em síntese,
cola e nossa sala de aula às diferensimples e singelamente, o papel ativo
ças, à promoção de um diálogo crítico
do sujeito na construção do objeto do
entre manifestações e experiências
conhecimento, o caráter inacabado e
culturais distintas, ao esforço por amincompleto de todo conhecimento,
pliar os limites dessas manifestações
bem como o caráter condicional da vere experiências e, ainda, à identificação
dade de qualquer conhecimento, sue ao questionamento das relações de
gerindo que verdade e objetividade
poder envolvidas no estabelecimento
têm significado apenas em relação a
Neste livro procura-se desmascarar verdades e postulados tidos como indiscutíveis.
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Reflexões sobre o Currículo de Química
N° 9, MAIO 1999
das diferenças. Aponta-nos, em resumo, a premência da luta contra relações de poder que marginalizam e
oprimem indivíduos e grupos, congelam significados, justificam preconceitos e preservam privilégios.
A leitura de O frio pode ser quente? me proporcionou a releitura de
práticas e conhecimentos, favorecendo a recriação de alguns pontos
de vista sobre currículo que venho
abraçando. Nesse sentido, reafirmou-me a centralidade de questões
de conhecimento e cultura no processo curricular e, conseqüentemente, a relevância da inclusão de
sua discussão nos cursos de formação de professores.
Não pretendi, neste artigo, aprofundar nem meus pontos de vista
nem minhas reflexões. Meu propósito foi mais limitado: ilustrar como
experiências estéticas pessoais
podem desencadear reapreciações
do que vimos acreditando e fazendo
em nossas práticas e motivar o leitor
para experiências similares. Espero
ter conseguido.
Antonio Flavio Barbosa Moreira, graduado
em química pela UFRJ, graduado em pedagogia pela
SUAM, mestre em educação pela UFRJ e doutor em
educação pela Universidade de Londres, é professor
titular da UFRJ.
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the aesthetics and ethics of making
films. In: WILLIS, G.E e SCHUBERT,
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Para saber mais
Para ampliar discussões correlatas ao texto, sugiro:
APPLE, M. Consumindo o outro:
branquidade, educação e batatas
fritas baratas. In: COSTA, M.V. Escola
básica na virada do século: cultura,
política e currículo. São Paulo: Cortez,
1996.
_______. Ei, cara, eu sou boa nisso! A arte e a política de criar novo
conhecimento nas escolas. In:
APPLE, M. Conhecimento oficial. Petrópolis: Vozes, 1997.
SANTOS, B.S. Para uma pedagogia do conflito. In: SILVA, L.H. da;
AZEVEDO, J.C. de e SANTOS, E.S.
dos (Orgs.). Novos mapas culturais,
novas perspectivas educacionais.
Porto Alegre: Sulina, 1996.
Eventos
XI ENCONTRO CENTRO
-OESTE
CENTRO-OESTE
DE DEBA
TES SOBRE ENSINO
DEBATES
DE QUÍMICA
O XI ECODEQ, que terá a sua edição de 1999, de 26 a 30 de setembro,
junto com o XXXIX Congresso Brasileiro de Química, tem como tema central
a “Química para o desenvolvimento
sustentado”. Informações: Agustina R.
Echeverria, (agustina@ netgo.com.br),
ou com a Associação Brasileira de Química ([email protected]).
XIX ENCONTRO DE DEBA
TES DE
DEBATES
ENSINO DE QUÍMICA
A 19ª edição do EDEQ, o mais
antigo evento que reúne educadores
envolvidos com Educação Química,
será realizado este ano na Universidade Federal de Pelotas, de 21 a 23 de
outubro. Informações sobre a progra-
mação podem ser obtidas no sítio do
evento www.ufpel.tche.br/edeq e
maiores informações podem ser solicitados por correio eletrônico edeq19@
ufpel.tche.br, por fone/fax (0532) 757354 e 75-7575 ou por carta ao XIX
EDEQ, IQG, Campus da UFPEL, C.P.
354, 96010-900 Capão do Leão - RS.
2° ENCONTRO NACIONAL DE
PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM
CIÊNCIAS
Ocorrerá em Valinhos – SP (Hotel
Fonte Santa Tereza), próximo a Campinas, de 1 a 4 de setembro de 1999,
com o objetivo de reunir pesquisadores em Educação de Ciências, particularmente nas áreas de Física,
Química e Biologia, para discutir trabalhos de pesquisa recentes e tratar
de temas de interesse da Associação
Brasileira de Pesquisa em Ensino de
Ciências.
Trabalhos de pesquisa para apresentação deverão ser submetidos até
30 de junho de 1999.
Informações: Marco Antonio Moreira, Instituto de Física, UFRGS, C.P.
15051, 91501-970 Porto Alegre – RS
ou [email protected]
X ENCONTRO NACIONAL DE
ENSINO DE QUÍMICA
O encontro nacional de ensino de
Química ENEQ, que ocorre nos anos
pares, terá a sua próxima edição junto
com o XX EDEQ e com o 2º Encontro
Latinoamericano de Ensino de Química
na PUC do Rio Grande do Sul. Maiores
informações no sítio dos eventos:
www.pucrs.br/quimica/edeq2000/
edeq.htm
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