Terça-feira, 12 de outubro de 2004. :: Rio de Janeiro PREJUÍZO Atos de vandalismo se espalham e sujam a cidade Pichações custam R$ 1 milhão por ano MILENA COSMO As pichações em áreas públicas, placas de sinalização e monumentos estão custando à Prefeitura cerca de R$ 1 milhão por ano. A Fundação Parques e Jardins gasta, mensalmente, aproximadamente, R$ 30 mil só em limpeza. A Comlurb, responsável pela limpeza de viadutos, passarelas, túneis e muros públicos na cidade, gasta R$ 42 mil. Para solucionar este problema, a Prefeitura está buscando alternativas. A CETRio pretende modificar o material das placas de sinalização e a Parques e Jardins contratou uma empresa que circula pela cidade à procura de pichações. Os maiores alvos são as placas de sinalização da cidade. A CET-Rio gasta, aproximadamente, R$ 1 milhão por ano para a limpeza e troca de placas danificadas. Deste total, R$ 200 mil é para a limpeza de pichações. Segundo a Prefeitura, das 100 mil placas que existem no Rio, duas mil são pichadas anualmente. A região com maior índice de depredação é a Leopoldina, onde são feitas 30% das pichações. De acordo com o chefe de gabinete da CET-Rio, Dalny Sucasas, a companhia está testando um material resistente a pichações, o pet, o mesmo das garrafas plásticas. "Este material é resistente à chuva, sol, e, principalmente, à tinta. Colocaremos em cada placa uma película anti-pichação, que impedirá a penetração da tinta, facilitando a remoção da sujeira", explicou Sucasa. Este novo material, junto com a película de proteção, já foi colocado em alguns pontos do Aterro do Flamengo - uma área que é alvo dos pichadores -, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, e na Avenida Delfim Moreira, no Leblon. Segundo o chefe de gabinete da companhia, o objetivo é que o pet seja implantado em todas as placas de sinalização da cidade. - Primeiro temos que comprovar a eficiência deste material, confirmar se realmente tem resistência e durabilidade. Se aprovado, pretendemos expandir o seu uso para todas as placas da cidade. A pichação nas sinalizações é muito grave porque traz, acima de tudo, riscos aos motoristas - afirmou Dalny. Monumentos não são poupados das tintas A Secretaria Municipal de Parques e Jardins tem conseguido manter limpos os monumentos da cidade. Segundo a chefe da Divisão de Monumentos e Chafarizes da Prefeitura, Vera Dias, a redução das pichações a monumentos tem possibilitado economia do dinheiro gasto com a limpeza. Em 1999, a Secretaria de Parques e Jardins gastou R$ 450 mil para limpeza de monumentos danificados por tinta. Em 2002, esse número caiu para R$ 250 mil. Este ano, apesar do aumento no número de monumentos e do preço do material para limpeza, a Prefeitura estima que serão gastos, no máximo, R$ 300 mil. Em 1998, o monumento a Zumbi dos Palmares, no Centro, foi pichado 23 vezes. Esse ano, ele sofreu 4 agressões. - Temos uma política de "pichou, limpou". Para agilizar nosso trabalho, contratamos uma empresa que circula diariamente pela cidade para verificar se há monumentos pichados. Se alguma sujeira é encontrada, esses funcionários terceirizados acionam a secretaria que manda uma equipe ao local para retirar as pichações - explicou Vera Dias. Entretanto, a limpeza dos monumentos não é tão simples quanto parece. É preciso ter muito cuidado com cada tipo de material. "Para não danificar os monumentos, é preciso utilizar o produto mais adequado para limpá-lo. Cada pedra pede um tipo de limpeza diferente. Além disso, temos muitos monumentos antigos na cidade, alguns com mais de 200 anos, que exigem um cuidado ainda maior", acrescentou Vera. A Comlurb é responsável pela limpeza de viadutos, túneis, passarelas e muros públicos da cidade e gasta quase R$ 500 mil por ano na retirada de pichações. Os locais mais prejudicados são, segundo a empresa, a murada da Avenida Augusto Severo, na Glória, o Túnel do Pasmado, em Botafogo, passarelas, viadutos e pilares da Avenida Brasil e os muros em volta do Maracanã. Nesses pontos, muitas vezes, os garis fazem até três limpezas semanais. Outros locais, como pilares da Avenida Perimetral, no Centro, Túnel Novo, que liga Copacabana a Botafogo, e Praça ! Varnhage n, na Tijuca, também são alvos da ação constante de pichadores. Cada limpeza pode demorar até três horas, dependendo do local em que foi feita a pichação. Cerca de 30 garis trabalham na remoção diária de tintas na cidade. Para realizar esta limpeza, são utilizados, por mês, 1.790 litros de redutor, 170 quilos de estopa, 572 litros de tinta cor de concreto e 150 quilos de cal. Retirada pode custar R$ 800 a condomínios A empresa ASTEC ASSESSORIA SERVIÇOS TÉCNICOS Ltda, entre outros serviços, é especializada na retirada de pichações em qualquer tipo de pedra. Segundo o proprietário, Wagner Antunes, a retirada da tinta é feita apenas com removedor, para que a pedra não seja danificada. "Para cada pedra utilizamos um removedor diferente. Avaliamos também a idade da pichação e se já houve tentativa de remoção, porque esses dois aspectos podem dificultar o trabalho", explicou Antunes. Os maiores clientes das empresas são prédios particulares, localizados, principalmente, na Tijuca, Andaraí e Grajaú. O serviço, que não sai por menos de R$ 100, pode chegar a R$ 800. De acordo com o proprietário da empresa, uma equipe especializada faz um orçamento baseado nas condições do local. Quanto mais alta estiver a pichação, mais caro fica o serviço. Saiba mais Depredação é Crime Ambiental A pichação e grafitagem são crimes ambientais, com punição de três meses a um ano de detenção, previstos no artigo 65 da Lei 9.605/98. Se o ato for realizado em monumento ou objeto tombado em virtude de seu valor artístico ou histórico, a pena passa a ser de seis meses a um ano. Entretanto, a grafitagem - arte de fazer desenhos em muros - é permitida em locais particulares, desde que o proprietário do imóvel concorde. O rapper Émerson Facão, o grafiteiro Acme e o cineasta Remiere Lion Rocha foram acusados de crime ambiental, no ano passado, por grafitarem o muro do Jockey Club do Rio de Janeiro, e condenados a pagar R$ 240 reais cada um para alguma instituição de caridade. Na ocasião, os artistas foram impedidos de continuar o desenho por intermédio da ONG Guardian Angels. Até hoje, Émerson afirma que responde a processo na Justiça pela condenação. O muro do Jockey é tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural Nacional (IPHAN). Monumentos têm que ser limpos com cuidado, pois são muito antigos.