TEMADECAPA
Lisboa: uma estratégia
energética para 2013
A Estratégia-Energético Ambiental para Lisboa, oficialmente aprovada em
Dezembro do ano passado, assenta na Matriz Energética, um relatório encomendado pela Agência Municipal de Energia e Ambiente - Lisboa E-Nova.
As conclusões são claras e são os edifícios, e não os transportes, os principais
utilizadores de energia primária de Lisboa, sendo responsáveis por cerca de
46% deste consumo. Em termos globais, a meta passa pela redução nos
consumos de energia primária, em 2013, de 8,9%, em média na cidade.
20 | Setembro/Outubro climatização
D
esde 2005 que a melhoria da
eficiência energética da cidade
é um objectivo formalmente
assumido pela câmara de Lisboa. José
Delgado Domingos, co-autor da Estratégia Energético-Ambiental para Lisboa,
afirma que já há sucessos inegáveis,
como o controlo da iluminação publica
através de um sensor de luminosidade
ambiente, que “já permite poupanças
da ordem dos 150 a 200 mil euros/
ano” e o programa de incentivo ao carpooling acabado de entrar em vigor no
edifício camarário do Campo Grande.
Noutros casos, os resultados podem
não ser ainda visíveis ou os projectos
estão atrasados - como acontece com
a cogeração nas piscinas municipais ou
a proposta de adopção de obrigações
solares térmicas a nível municipal. Mas
o certo é que há ambições e foram estabelecidas metas oficiais para redução
de consumos, através de medidas incidentes sobretudo em três grandes
sectores responsáveis pelos consumos
energéticos da cidade: os edifícios residenciais, os edifícios de serviços e os
transportes rodoviários.
A Estratégia-Energético Ambiental
para Lisboa, oficialmente aprovada em
Dezembro do ano passado, assenta na
Matriz Energética, um relatório encomendado pela Agência Municipal de
Energia e Ambiente - Lisboa E-Nova,
no qual foi feito, em 2005, um balanço
pormenorizado dos fluxos de energia
primária originados pelo concelho de
Lisboa, e na sua principal e mais interessante conclusão: a de que os edifícios,
e não os transportes, são os principais
utilizadores de energia primária de Lisboa, sendo responsáveis por cerca de
46% deste consumo.
“Este resultado não surpreende, na
medida em que eles são os grandes
responsáveis pelo consumo de energia
eléctrica”, pode ler-se na Matriz Energética. Mas a conclusão só resultou clara
porque este estudo reduziu todos os
dados compilados a um “denominador
comum”: unidades de energia primária.
climatização Setembro/Outubro | 21
TEMADECAPA
Os protagonistas
A Matriz Energética (disponível em http://
www.lisboaenova.org/) permite identificar a estrutura de consumos energéticos
no concelho e pretende servir como meio
para a fundamentação de uma estratégia
de intervenção futura para a racionalização
dos desempenhos energéticos da cidade.
A ideia é ajudar os agentes decisores no
concelho a identificar as áreas de actuação
prioritárias, as oportunidades de intervenção e as medidas mais adequadas para a
racionalização dos consumos energéticos.
A Matriz representou “um dos primeiros
passos para a concretização da proposta de
Estratégia Energético-Ambiental”, pois foi
com base nela que foram definidas as metas
de desempenho para a cidade objecto de
consenso técnico e científico, no âmbito das
estratégias e políticas da Comissão Europeia,
constituindo “um instrumento de gestão
sustentável essencial, que enquadra todas
as acções da Lisboa E-Nova”, explica o texto
de introdução, assinado por António Carmona Rodrigues enquanto Vice-Presidente da
Câmara Municipal de Lisboa e Presidente da
Assembleia Geral da Lisboa E-Nova.
Para Lívia Tirone, administradora delegada
da E-Nova, com a Matriz Energética Lisboa
passou a ter “ao seu dispor a informação
actual e operacional na perspectiva da sustentabilidade e da qualidade ambiental, para
definir políticas e fixar metas de desempenho para a cidade e promover as medidas
adequadas a esse fim”. A Matriz reflecte o
compromisso da cidade no âmbito da Carta
de Aalborg (European Sustainable Cities &
Towns Campaign - the Aalborg Charter) e
tem como “desafios implícitos” a descentralização da produção de energia, o aumento
do contributo de energias renováveis para o
balanço energético local e conferir a Lisboa
o papel “de geradora de energia final em
vez de apenas consumidora”.
Por seu lado, Oliveira Fernandes, Presidente
do Conselho Consultivo da Lisboa E-Nova,
sublinha que “a Matriz Energética teve como
objectivo avaliar o impacte dos diversos
sectores consumidores de energia de forma
a poder fazer a ligação com um indicador
universalmente aceite: as emissões de CO2
por habitante. Por isso, todos os consumos
são expressos referindo-se à energia primária
e não à energia final, que, no caso da electricidade não exprime de forma directa as
respectivas emissões de CO2”. Daí que em
todas as desagregações energéticas que se
apresentam a electricidade foi convertida na
quantidade equivalente de energia expressa
em unidades de energia primária. “Esta é
a única perspectiva que permite a visão
sem distorções dos impactos associados
aos consumos energéticos das diferentes
utilizações”,
afirma-se na Matriz.
22 | Setembro/Outubro
climatização
O problema da comparabilidade dos
consumos foi uma preocupação da
equipa, que sublinhou a “pertinência
da opção pela utilização da energia
primária em detrimento da energia
final”. Só “assim é possível identificar claramente os edifícios como os
principais responsáveis pelos impactos
ambientais e económicos associados
ao consumo de energia no Concelho
de Lisboa”, uma vez que “em termos
de energia final, os transportes são os
maiores utilizadores de energia, representando mais de 50% do consumo,
mas tal não tem uma correspondência directa com os referidos impactos
ambientais e económicos”.
8,9% de redução em 2013
O principal objectivo da Matriz foi o
de que o trabalho realizado e o conhecimento mais profundo da realidade
dos consumos energéticos da cidade,
permitissem desenhar “à medida” as
estratégias mais promissoras com vista
a optimizar a eficiência energética da
cidade.
Em termos globais, a Estratégia Energético-Ambiental assume como meta
uma redução nos consumos de energia
primária, em 2013, de 8,9%, em média
na cidade e de 9,4%, nos consumos da
responsabilidade da própria Câmara.
Este objectivo inscreve-se simultaneamente no Plano Nacional para a
Eficiência Energética que define como
meta para o desempenho energético
de Portugal, em 2015, uma redução
do consumo de energia primaria em
10%, e no objectivo europeu “UE 20
20 20” em 2020, de redução de 20%
nas emissões de gases com efeito de
estufa, contributo de 20% das energias renováveis e aumento de 20% na
eficiência energética.
Para a consecução do objectivo de
redução de quase 9% dos consumos
em 2013, a Estratégia Energético-Ambiental prevê um conjunto vasto de
“Projectos de Intervenção”, agrupados
em quatro áreas: Planeamento Urbano,
Construção e Infra-Estruturas, Gestão
Urbana e Mobilidade.
No domínio da Construção e Infra-Estruturas, um dos projectos de referência
é a auditoria que conduziu à atribuição
do certificado energético ao edifício do
Campo Grande, a qual concluiu que,
Para a consecução do objectivo
de redução de quase 9% dos
consumos em 2013, a Estratégia Energético-Ambiental
prevê um conjunto vasto de
“Projectos de Intervenção”,
agrupados em quatro
áreas: Planeamento Urbano,
Construção e Infra-Estruturas,
Gestão Urbana e Mobilidade.
Aproveite o melhor que a vida lhe dá
Temos um longo caminho a percorrer até retomarmos o equilíbrio entre
o planeta e os seus habitantes. O tempo para meias medidas passou,
o que não significa que não possamos tirar vantagens da aposta na ecologia.
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Os projectos
em curso
Estratégia Energetico-Ambiental para
Lisboa (EEA) - desenvolver planos de acção
que concretizam a EEA, nomeadamente o
Plano Municipal de Energia e Ambiente
Parceiros – CML, CCDR-LVT, EDP, EPAL,
Lisboagás, Carris
Inicio - Janeiro de 2009
Duração – 18 meses
PROSTO - Best Practice Implementation
of solar thermal obligations - Demonstrar
e quantificar o impacte de boas praticas ao
nível das obrigações de implementação
de sistemas solares térmicos, através de
projectos de demonstração.
Parceiros - CML, Região de Lázio, Inteligent Energy Europe, Ambiente Itália, GALP
Energia, INETI
Inicio - Janeiro de 2008
Duração – 36 meses
Reabilitação sustentável para Lisboa Promoção e realização de intervenções
passíveis de melhorar o desempenho
energetico-ambiental em edifícios-tipo a
reabilitar na cidade de Lisboa
Parceiros – CML, IGESPAR, ADENE, GEBALIS,
EDP, REN, IHRU
Inicio - Janeiro de 2008
Duração – 20 meses
Optimização do desempenho energético
ambiental de edifícios de serviços -Desenvolvimento de uma auditoria energeticoambiental e simulação dinâmica de medidas
a implementar no edifício do Campo Grande
da CML com vista à redução dos consumos
energéticos e ao aumento da qualidade
do ar.
Parceiros – CML, EDP
Inicio - Março de 2008
Duração – 16 meses
Cogeração nas piscinas municipais - Os
projectos das centrais de co-geração estão
em fase de aprovação para 8 das 10 piscinas
previstas. Prevê-se a instalação de unidades
de co-geração industrial para produção de
electricidade e de aguas quentes. O sistema ira produzir electricidade para venda á
rede publica e calor útil aproveitado para
aquecimento de águas.
Parceiros - CML, Galp Energia
Inicio – Janeiro de 2009
Duração – 12 meses
Projecto DISPLAY na Câmara Municipal
de Lisboa - Encorajar as autoridades publicas locais a apresentarem publicamente
o desempenho energetico-ambiental dos
seus edifícios. A CML terá formação técnica
especializada no contexto da certificação
energética de edifícios.
Inicio - Março de 2008
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Setembro/Outubro
climatização
Duração
meses
no campo da eficiência energética, “o
edifício é bem gerido”, diz Delgado
Domingos. “Não há muito a melhorar”,
afirma, sendo certo que é um edifício
alimentado a energias convencionais,
situação que não se revela, num futuro
próximo, economicamente razoável
alterar. A auditoria ao edifício Campo
Grande constitui apenas a primeira fase
e o ponto de partida para um projecto
mais alargado, que visa a elaboração de
cadernos de encargos que definem as
medidas de intervenção e optimização
do desempenho energético de edifícios
de serviços em Lisboa. A medida estava
calendarizada para Maio de 2009, mas
terá avançado mais devagar do que
previsto.
Outros projectos parecem continuar sem
resultados palpáveis. A atentar na calendarização da Estratégia apresentada
no ano passado, a apresentação do
Manual de Boas Práticas “Reabilitação
Sustentável para Lisboa” e a proposta de
adopção de obrigações solares térmicas
a nível municipal estavam previstos
para Julho de 2009. Estas são medidas
que ainda não avançaram de todo.
Na área da Gestão Urbana há melhores
notícias. O projecto de controlo da iluminação publica foi implementado e é um
sucesso, estando a permitir poupanças
de 150 a 200.000 euros/ano, graças a
um simples sensor de luz ambiente
que automaticamente desliga os candeeiros públicos quando a luz exterior
é suficiente. “É um ovo de Colombo”,
diz Delgado Domingos. Até aqui, os
candeeiros ligavam a uma hora certa
todos os dias, independentemente de
serem necessários ou não.
No domínio da mobilidade, avançou
já também o programa de apoio aos
veículos “amigos do ambiente”, com a
instalação na cidade de seis pontos de
abastecimento gratuito onde durante
um ano, os proprietários de carros ou
motas eléctricos poderão carregar os
seus veículos.
Ainda na área da mobilidade, teve inicio
o programa de car-pooling, que pretende incentivar os 1800 funcionários
do edifício do Campo Grande a partilhar
o carro uns com os outros, economizando consumos e emissões. A CML
promete reservar lugares gratuitos de
estacionamento aos que aderirem ao
programa.
A auditoria ao edifício
Campo Grande constitui
apenas a primeira fase e o
ponto de partida para um
projecto mais alargado, que
visa a elaboração de cadernos de encargos que definem
as medidas de intervenção e
optimização do desempenho
energético de edifícios de
serviços em Lisboa.
Poupanças energéticas consignadas
Como medida transversal, foi aprovada a constituição do
Fundo de Eficiência Energética, que permite que a partir do
próximo ano e durante três anos, as poupanças energéticas
conseguidas em Lisboa fiquem consignadas à aplicação em
medidas para continuar a melhorar a eficiência energética.
Todas juntas, espera-se que estas medidas e as demais
previstas na Estratégia-Energético Ambiental possam permitir atingir os desejados 8,9% de redução nos consumos
da cidade em 2013.
A pouco mais de três anos do objectivo, resta esperar que
sejam suficientes, ou que comecem a ser desbravados
cenários mais ambiciosos, alguns ainda colocados pela
Matriz Energética em 2005: por exemplo, “a instalação de
colectores solares térmicos activos em todas as unidades
de habitação existentes no concelho conduziria a uma
economia de energia primária de cerca de 2% face ao
consumo actual” e “a optimização da gestão energética
dos edifícios de serviços, que permitisse uma economia
média de 10% em todos os edifícios de serviços, conduziria
a uma economia de energia primária de cerca de 3% face
ao consumo actual”.
Edifícios consomem quase
metade da energia total
Os edifícios são os principais utilizadores de energia
primária do concelho de Lisboa, sendo responsáveis
por cerca de 46% deste consumo. Dentro dos edifícios, assumem especial destaque os edifícios de
serviços, responsáveis por 65% dos consumos de
energia primária do parque edificado do Concelho
(30% do consumo total do Concelho. Aqui se inclui
uma grande diversidade de tipologias, onde se
destacam a Hotelaria e Restauração, a Banca e
Seguros e a Administração Pública (representando,
respectivamente, 15%, 11% e 9% do consumo de
energia primária do parque edificado de serviços
do Concelho).
Os sectores da Educação e Saúde, pelo seu lado,
representam, cada um, cerca de 6% dos consumos de energia primária do parque edificado de
serviços Os edifícios do sector residencial são
responsáveis por 35% dos consumos de energia
primária do parque edificado do Concelho (16%
do consumo total do Concelho e cerca de 1% do
consumo total de energia primária de Portugal
Continental). Este consumo distribui-se por uma
grande variedade de utilizações, onde é possível
destacar o aquecimento de água sanitária, o frio
doméstico, o aquecimento ambiente, a preparação
de refeições, a iluminação e a lavagem mecânica
(representando, respectivamente, 25%, 18%, 17%,
16%, 10% e 6% do consumo de energia primaria
do parque edificado).
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Lisboa: uma estratégia energética para 2013