TM 25/11/11 (2) Aviso de José Manuel Silva aos cerca de 500 médicos que ontem fizeram o juramento de Hipócrates: «Vocês vão ser, provavelmente, o primeiro curso de licenciados que, para o ano, não terá acesso a vagas de especialidade suficientes» Bastonário da OM parafraseia secretário de Estado da Juventude
Jovens clínicos «vão ter provavelmente de emigrar»
Antevendo que o número de vagas para formação específica será inferior à procura já em 2012, José Manuel Silva,
bastonário da Ordem dos Médicos (OM), alertou os últimos jovens clínicos a prestarem o juramento de Hipócrates,
ontem à noite, em Lisboa, para as «dificuldades» que vão sentir quando quiserem seguir uma especialidade. «Vocês vão enfrentar uma série de dificuldades que eu não enfrentei e problemas que até aqui não eram preocupações da classe médica. Vocês vão ser, provavelmente, o primeiro curso de licenciados que, para o ano, não
terá acesso a vagas de especialidade suficientes. Não vai ser fácil, se não impossível, resolver essa equação», avisou José Manuel Silva, discursando na cerimónia em que cerca de 500 novos médicos receberam as suas cédulas
profissionais. É o resultado, conforme foi afirmado, da política encetada há meia dúzia de anos de aumento contínuo de lugares nos
cursos de Medicina – isto depois de uma redução «levada ao absurdo» ainda anteriormente e que originou uma
«relativa» falta de profissionais. «Chegámos a uma situação em que, provavelmente, alguns de vós não vão conseguir tirar uma especialidade. A não
ser que emigrem para outros países», declarou o bastonário da OM, provocando algum burburinho na repleta Aula
Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. José Manuel Silva parafraseava, assim, independentemente do grau de
ironia ou da intenção, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Miguel Mestre, que, a partir do Brasil, tinha
recentemente incentivado os jovens portugueses a emigrarem ‐ «se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras», disse o governante citado pela Lusa. O «desemprego médico», aliás, foi outra das consequências mencionadas na cerimónia, organizada pela Secção Regional do Sul da OM, e com a qual a
nova geração de clínicos terá eventualmente de se debater. «Adequar os “numerus clausus” às necessidades» Preconizando um planeamento atempado, a Ordem voltou então a defender que a abertura de vagas para os cursos
de Medicina devem ter em conta a realidade. «Seria altura, e temos repetidamente chamado a atenção dos nossos governantes para isso, de adequar os “numerus
clausus” às necessidades do País», reiterou José Manuel Silva, explicando: «Não porque queiramos uma protecção
especial para evitar o desemprego médico, mas porque o excesso de médicos, como está nos manuais de economia da
saúde, aumenta a despesa, mercantiliza e diminui a qualidade dos cuidados.» O estudo da Universidade de Coimbra, realizado a pedido do Governo anterior, que estimou poderem existir cerca de
seis mil especialistas excedentários no fim da década, foi igualmente invocado. Os jovens clínicos, de acordo com o cenário, «vão ter provavelmente de emigrar aos milhares», concluiu, por sua vez, José Manuel Silva, insistindo no
verbo utilizado pelo secretário de Estado da Juventude. Ao dar as boas‐vindas aos novos médicos, o bastonário subscreveu as críticas que os internos têm feito relativamente à forma como as últimas vagas foram abertas.
Designadamente o facto de as mesmas serem para os ACES (agrupamentos de centros de saúde) e não para os centros
em particular que os constituem. Por estar em causa uma decisão que afecta de «múltiplas formas a vida das pessoas», José Manuel Silva concordou
que os clínicos devem saber «exactamente» o que vão escolher. «É um direito que têm. Proporcionar esse conhecimento atempado no momento da escolha seria também o resultado e a expressão da organização do
Ministério da Saúde», acrescentou. Publicada originalmente em Univadis.pt (notícias/notícias médicas/Saúde e Sociedade Hoje) Sérgio Gouveia 11SG47M DE 25 DE NOVEMBRO DE 2011
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