HISTORIAL DO CIRCUITO HÍPICO DE PORTUGAL Recolhido e elaborado p’la ZOOAQUÁTICA de um texto do Ex.mo e Dignissimo Senhor Tenente Afonso Palla Realizou-se em Outubro de 1925 um Raid Hípico que também foi conhecido por «Volta a Portugal a Cavalo». Constou de duas fases: a primeira de Velocidade Controlada entre Lisboa e Viana do Castelo num total de 1,503 kms e a segunda de Velocidade Livre entre Viana do castelo e Lisboa com 405 kms. O traçado do percurso foi, Lisboa (Cacilhas), Setúbal, Alcácer do Sal, Grandola, Santiago do Cacém, Odemira, Monchique, (4o kms através de serra sem estradas), Faro, Mértola Beja, Vidigueira, Portel, Évora, Redondo, Vila Viçosa, Elvas, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Nisa, Portas de Ródão, castelo Branco, Fundão, Covilhã, Guarda, Celorico da Beira, Vila Nova de Foz Côa, Moncorvo, Vila Flor, Mirandela, Bragança, Vinhais, Vila Pouca de Aguiar, Amarante, Penafiel, Guimarães, Braga, Vila Verde, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, Viana do Castelo, Lisboa. Partiram ao todo 39 concorrentes, tendo saído de Viana do Castelo nove e chegado a Lisboa só sete. Houve alguns casos que merecem ser relembrados, devido á sua emoção tão entusiástica. Assim na etapa de Odemira - Monchique, através da serra, que deveria ser feita à velocidade de 7 km/h foram feitos os 39 kms em 10 horas. O júri em face do que se passava deixou-os continuar. saíram os concorrentes de Odemira com um guia, que se veio a verificar, que não conhecia o caminho Perdidos na serra, conseguiram já noite, ver uma luz e para ela se encaminharam, andaram por caminhos que as cabras dificilmente aproveitariam. foram dar a um casebre de um pastor, que os orientou. O percurso de Moncorvo a Bragança, de 118 kms, foram feitos debaixo de um temporal, que dificultava o andamento. Em Arcos de Valdevez, não havia cavalariças, nem um bago de ração, as quais não foram cedidas, por quem as tinha, por motivos....(políticos). Durante o Raid, a princípio despercebido, foi-se criando um grande interesse, pela rivalidade que ia existindo entre o Capitão Rogério Tavares e o picador civil José Tanganho. Caldense. Discutia-se acaloradamente que um civil estava a “dar água pela barba” a um militar. No percurso de Viana do Castelo para Lisboa, José Tanganho chegou a ter um avanço considerável, cerca de 10 horas. O entusiasmo quase loucura, apoderou-se e ninguém previa outro vencedor que não fosse o José Tanganho. No dia da chegada apesar da chuva miudinha que caía, os caminhos que levavam ao Pote de Água, tinham grande movimento, bem como o Campo Grande se encontrava com muita gente, ao surgir um grupo de cavaleiros que constituíram a guarda avançada ao passarem diziam que era o Capitão Rogério Tavares, “ninguém queria acreditar”, quando Rogério Tavares, com o seu Emir passava, e a multidão ficava em pleno silêncio. Não, não podia ser... Nessa altura o caldense José Tanganho, vinha a cerca de 7 kms, a pé com o seu cavalo á mão, a ser consolado por um grupo de admiradores, dando vivas ao vencedor moral. Ao chegar ao Campo Grande, José Tanganho chegou, dois bombeiros quiseram-lhe oferecer um cálice de Vinho do Porto, mas a multidão desvairada, viu fardas, e gritava ”Não bebas que te querem envenenar” -. Os bombeiros meteram a garrafa à boca e beberam, oferecendo depois a José Tanganho, que bebeu, seguiram-se então “Vivas aos bombeiros”, “Vivas aos soldados da Paz”. Dirigiram-se então para o campo do Jockey Clube, hoje Sociedade Hípica, num enorme cortejo onde foram recebidos por uma grande ovação. Na manhã seguinte havia uma prova para ver o estado das montadas, 800 metros de trote com três saltos de sebes, começou a correr a notícia, que Emir morrera durante a noite, sendo portanto vencedor o José Tanganho, quando este apareceu montado no seu Favorito foi recebido com uma estrondosa ovação. O Júri anunciou a Classificação final sendo; 1º José Tanganho, e 2 Tem. Brandão de Brito e 3º Capitão Silva Dias. Indescritível o delírio que se seguiu, o público invadiu a pista e levou-o em triunfo, seguiuse um grandioso cortejo, com o caminho cheio de público, até á Câmara Municipal onde foi feita uma recepção e entrega de prémios. Por algum tempo o nome de José Tanganho, andou de boca em boca, depois... como regra geral entrou no esquecimento...