PROJETO BICHO ARTEIRO Ana Paula Moreno Tizo Rosângela de Ávila [email protected] [email protected] Escola Municipal Professora Stella Saraiva Peano. Comunicação - Relato de Experiência Resumo: A partir do desejo de explorar a arte com os alunos, aproximando-os de artistas inseridos no circuito artístico, surge a ideia de criar e realizar o Projeto Bicho Arteiro. “Bichos” é o tema norteador para se pensar a arte, inclusive a arte contemporânea, com alunos de 2º, 3º e 4º ano, tornando assim o projeto lúdico e ao mesmo tempo promovendo uma exploração do tema inserido nas imagens artísticas. Nessa construção privilegiamos a arte contemporânea, mas também contemplamos outros períodos da história da arte. O projeto possibilita a criação, o estudo das cores, formas, linhas, escalas, materialidade em diversas linguagens, promovendo discussões sobre os territórios e trânsitos na arte. Atuar como professora de Arte é encontrar sempre um novo desafio! Ao encará-lo, esse desafio se transforma em uma viagem de conhecimento! A cada ano trabalhando como professora de Arte, nos deparamos com propostas desafiadoras, pois muitas vezes não estão inseridas em nossa zona de conforto, exigindo do professor, pesquisa, estudos, dedicação. A partir dos encontros de formação continuada de Arte em 2012, no CEMEPE (Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz), onde o foco foi estudar a arte contemporânea, nos deparamos com um desses desafios: como trabalhar a arte contemporânea em sala de aula de maneira que os alunos pudessem entendê-la? Antes desse desafio, existe ainda outro, talvez maior. Para muitos professores a arte contemporânea é uma incógnita. Não há uma empatia. A falta de contato, de experimentação dos próprios professores com a arte contemporânea fomenta a dificuldade e a ausência desse conteúdo, que mesmo inserido nos currículos escolares, não é tão trabalhado nas propostas dos professores de Arte. Na formação continuada de Arte, a partir dessas questões, inquietações e angústias, estudamos, conversamos, trocamos experiências, participamos de oficinas, viajamos para conhecer e fruir de experiências estéticas de obras que pudessem nos familiarizar em relação a arte contemporânea. Ortiz ramos esclarece sobre arte contemporânea: Muito mais do que um critério de periodização, o termo é utilizado para identificar um segmento específico da produção artística atual. Nem toda arte produzida hoje pode ser classificada como contemporânea. A designação é atribuída à produção de artes plásticas que começou a se desenvolver depois da Segunda Guerra Mundial, tornando-se visível a partir da década de 60. Assumindo configurações muito diferenciadas, que culminam em repertórios teóricos e materiais muito distintos, tende sempre a estabelecer uma conexão estreita com a tradição artística ocidental. Isto não significa que a arte contemporânea seja um produto ou uma evolução da história da arte. É certamente informada por ela. Porém, a história da arte, neste caso, é antes de tudo um canal através do qual um grupo de artistas estabelece conexão com um mundo da arte específico e com o qual desejam ver os seus trabalhos identificados. (ORTIZ RAMOS, 2001, p.14) A formação é muito importante para subsidiar o professor que deseja encarar os desafios em sala de aula. Outro ponto importante a ser destacado é que atuar na mesma escola durante algum tempo, possibilita o professor desenvolver um processo de ensino aprendizagem pautado numa linha de raciocínio, numa sequência, ao mesmo tempo permite avaliar e reavaliar as significâncias e os resultados que os projetos anteriores têm produzido. É nesses processos de avaliação e auto avaliação, nasce o Projeto Bicho Arteiro. Entendemos que para trabalhar com a arte contemporânea com os alunos de 2º, 3º e 4º ano, o projeto precisaria ser construído de maneira lúdica, a partir de um tema norteador. Conversamos com os alunos e escolhemos o tema: bichos. Daí traçamos uma linha de planejamento para trabalhá-lo. Foi criado, então, o “Bichonário”, uma espécie de portfólio no próprio caderno, organizado de forma alfabética. Capa Bichonário. Marcus Gabhriel- 2º ano Iniciamos com a letra A. Primeiro, os alunos desenharam e recortaram a letra A em papel colorido e colaram do lado direito superior do caderno. Depois pensamos, falamos e escrevemos os nomes dos bichos que iniciam com a letra A. Os alunos visualizaram imagens dos mesmos e depois desenharam na mesma página, momento em que demonstram interesse pelo tema, expõem suas curiosidades, as histórias que ouviram ou que aconteceram com eles por causa desses bichos. Letra A. João Pedro- 3º ano Nesse momento, o projeto não vem apenas trabalhar o conteúdo específico arte, mas também cria interdisciplinaridade com outros conteúdos, como ciências, geografia, história, literatura, português, exploração o tema através de pesquisas sobre os bichos estudados. O projeto também contribui com o processo de alfabetização, os alunos precisam escrever o nome dos bichos, reconhecer as letras na escrita e na fala. Percebemos algumas dificuldades dos alunos, pois no impulso de falar primeiro e é claro a não alfabetização dos mesmos, alguns diziam: “-Aonça Tia!”. Dessa maneira a noção, o reconhecimento das letras, das palavras oral e escrita são trabalhadas no projeto. Depois desse primeiro momento, foi selecionado o bicho: aranha. Mostramos a imagem Mamam da artista Louise Bourgeois. Várias impressões foram expostas pelos alunos antes mesmo de perguntar qualquer coisa sobre a imagem. Os alunos questionavam se era verdade ou mentira aquela aranha daquele tamanho. As questões verdade ou mentira abriram a discussão: então arte é uma verdade ou é uma mentira? Conversamos sobre o assunto e partimos para novos questionamos aos alunos: De que material foi feita essa obra? Como será que o artista fez essa aranha? Ele precisou de ajuda? Como a aranha fica em pé, sendo desse tamanho? Ela não cai? Podemos tocá-la? Você teria medo de ver essa aranha se você tivesse passando pela rua? Ao mostrarmos a imagem da artista Louise Bourgeois, surgiram outros questionamentos dos alunos: “mas ela é uma velha?!” “uma mulher que fez isso?” “ como ela fez isso se ela é velhinha?”. Dialogamos sobre a figura do artista e sobre Loiuse Bougeouis, quem era, como foi sua infância, como ela se tornou uma artista e por que criou a obra Mamam e colocou esse título. Visualizamos alguns vídeos, no primeiro momento assistimos a um vídeo da obra da artista e depois da construção da obra Mamam, com um grupo de operários com guindastes, tratores, montando parte por parte da obra em um parque. Dialogamos sobre os vídeos e os alunos tiveram noção de como uma obra daquele porte podia ser construída. Discutimos sobre o processo de criação de uma obra de arte: a ideia, o esboço, a criação de um projeto no papel, recursos financeiros, das pessoas especializadas para execução até a montagem, a obra acabada. Discutimos sobre o local da arte. A arte fica em museus e galerias, mas ela também pode ficar na rua? De que maneira? Criamos esculturas de papel cartão, momento em que buscamos possibilitar o entendimento a respeito de escultura, espacialidade e tridimensionalidade. Logo após propiciamos a leitura de um texto a respeito da vida e obra da artista. Dessa maneira a metodologia do projeto segue trabalhando as letras do alfabeto individualmente explorando obras de arte de diferentes artistas e épocas. O projeto também possibilitou maior contato com diferentes linguagens artísticas como desenho, pintura, escultura, instalação, bem como colagens, recortes, modelagens e outras linguagens, estudando as cores, as formas, as materialidades, as texturas e tamanhos. Isso acontece a partir de pesquisas, visualização e leituras de imagens, contação de histórias, criação de trabalhos plásticos poéticos e outras experimentações. O projeto se expande além do caderno, na experimentação de exercícios que remetem a instalações, esculturas, objetos, intervenções, momento em que se percebe maior valorização do caderno, pois o mesmo se transforma em uma preciosidade para o aluno, bem como todo o processo de execução do projeto. Aranha. Gabriel - 3º ano. Aranha. Emilly - 2º ano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PICOSQUE, Gisa & GUERRA, Maria Terezinha Telles. Didática do ensino da arte: a língua do mundo - poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. ORTIZ RAMOS, J.M. Cultura audiovisual e arte contemporânea. São Paulo. Revista Perspectiva, julho/setembro de 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392001000300003&script=sci_arttext acesso em: 02 jun. 2013. TINOCO, Eliane de Fátima Vieira (Org.). Possibilidades e encantamentos: trajetória de professores no Ensino de Arte. Uberlândia: E.F.Tinoco, 2003.