VI Seminario Colombiano de Limnologia – NEOLIMNOS Monteria – Córdoba Colombia Mini-Curso: Ecofisiologia do Zooplâncton 4-6 Setembro de 2004 Aula 1 - Introdução - Respiração Prof. Dr. Ricardo Motta Pinto Coelho Departamento de Biologia Geral Instituto de Ciências Biológicas Universidade Federal de Minas Gerais UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Ecofisiologia do Zooplâncton • Conceitos Básicos UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Conteúdo Energético A matéria viva tem propriedades uniformes não só no que se refere à sua composição em elementos essenciais (C,N e P principalmente) bem como ao seu conteúdo calórico por unidade de biomassa (peso seco). Uma das formas de se comparar organismos muito diferentes entre si seria calcular o seu equivalente energético. Em média, os organismos possuem o conteúdo energético variando de 3700 a 6500 cal.g-1de peso seco (Margalef, 1977). Entretanto, estes valores não podem ser totalmente metabolizáveis pelos organismos. A taxa de assimilação de uma presa, por exemplo, é função da eficiência de utilização dos diferentes compostos presentes em sua biomassa pelo seu predador o que por sua vez depende dos produtos terminais do metabolismo (grau de oxidação). UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Organismo kcal.100g-1.peso fresco-1 Bactérias 40-100 Fitoplâncton 30-60 Vegetais superiores (folhas) 12-40 Vegetais superiores (madeira) 127-290 Vegetais superiores (néctar) 38-290 Vegetais superiores (pólen) 240-305 Vegetais superiores (sementes) 300-650 Vertebrados 160-350 Insetos 70-150 Quadro I: Valor calorífico de alguns tipos de alimentos (modificado da tabela 14-12 de Margalef, 1977). UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Conteúdo Elementar Trata-se da expressão da biomassa de plantas, animais, microorganismos e detritos em percentual por peso seco de Carbono (%C), Nitrogênio (%N) e Fósforo (%P). As razões de C:N:P são importantes para verificar, por exemplo, qual é o fator limitante ao crescimento. Os teores desses elementos podem também nos dar inferências sobre o “status” nutricional dos organismos bem como de sua possível dieta. Nesse sentido, muitos estudos têm sido conduzidos com isótopos naturais desses elementos. Os lagos podem ser classificados segundo as razões C:N. A medida que cresce o teor de carbono da água, cresce igualmente a razão C:N . Esse incremento sugere que há um aumento do carbono recalcitrante, típico de restingas, áreas alagadas (wetlands) e rios que drenam extensas áreas florestais (Rio Negro, Amazonas). UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Tabela Periódica dos Elementos Nutrientes Essenciais aos Organismos Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Tabela Razões estequiométricas de seston (dominado pelo fitoplâncton) em lagos com indicação da limitação por nutriente (Wetzel, 2001) Razão C:N N:P C:P Si:P C:Clorofila-a APA-Clorofila-a Deficiência N P P Si Geral P Grau de Limitação Por Nutriente Nenhuma Moderada Severa <8.3 8.3-14.6 >14.6 <23 >23 <133 133-258 >258 <20 20-100 >100 <4.2 4.2-8.3 >8.3 <0.003 0.003-0.005 >0.005 Observação: APA: atividade da enzima fosfatase alcalina; as razões C:N, N:P, C:P são em micromoles.micromoles-1.l-1 A razão C:Clorofila-a está calculada em micromoles.ug-1.l-1 e a razão APA:clorofila-a está calculada em (micromoles.ug-1).h-1 UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Composição bioquímica A composição bioquímica do animal tem importantes implicações ecológicas e bioenergéticas. Num primeiro momento, estuda-se tradicionalmente os teores de lipídeos, carbohidratos e proteínas. Os estudos podem avançar aprofundando-se na composição qualitativa dos lipídeos, por exemplo. Neste caso, os teores de ácidos graxos, fosfolipídeos e triglicérides podem ser quantificados. As proteínas podem ser o seu conteúdo em aminoácidos identificado e os carbohidratos podem ser divididos em mono- ou polissacárideos. UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Carbohidratos Carbohidratos possuem a fórmula geral CH2O e incluem desde açúcares simples (hexoses) a polissacarídeos tais como amido e o glicogênio. Carbohidratos incluem ainda substâncias com importantes funções estruturais tais como a celulose que é formada de várias unidades do tipo C6H10O5 que chegam a pesar 400.000. O algodão, por exemplo, é composto por cerca de 90% de celulose. Outro grupo importante de carbohidratos são as glicoproteínas tais como o colágeno que desempenha importante função estrutural. UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Aminoácidos São as unidades formadoras das proteínas. Tratam-se de compostos formados a partir dos grupos –CO2H e -NH2 ou seja uma mistura de ácido carboxílico e aminas. Aminoácido Aminoácido 1 glicina (GLY) 11 cisteína (CYS) 2 alanina (ALA) 12 tirosina (TYR) 3 fenilalanina (PHE) * 13 glutamina (GIN) 4 serina (SER) 14 triptofano (TRY) * 5 treonina (THR) * 15 ácido aspártico (ASP) 6 asparagina (ASN) 16 histidina (HIS) 7 leucina (LEU) * 17 ácido glutâmico (GLU) 8 isoleucina (ILE) * 18 lisina (LYS) * 9 prolina (PRO) 19 arginina (ARG) 10 metionina (MET) * 20 valina (VAL) * Quadro II Aminoácidos constituintes de proteínas. Entre parêntesis a abreviatura do aminoácido pela nomenclatura internacional. O asterisco indica os aminoácidos essenciais na dieta humana (modificado de Manahan, 1993). UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Proteínas São as unidades básicas de todos os sistemas vivos. Tratam-se de polímeros de aminoácidos (macromoléculas) que chegam a ter milhares de aminoácidos. As proteínas de baixo peso molecular são chamadas de polipeptídeos (< 40 aa). As proteínas são formadas pelas ligações “alfa” ou seja, uma ligação entre o grupo carboxílico de um aa e o átomo de carbono mais próximo do grupo amina do próximo aa. A estrutura de uma proteína diz respeito ao arranjo espacial da molécula. A estrutura primária é a seqüência de aa dentro da proteína. A estrutura secundária refere-se a forma segundo a qual os polipetídeos se arranjam (dobras) entre si. A estrutura terciária está relacionada ao arranjo das espirais “alfa” formada pelos grupos R. A estrutura quaternária é formada quando duas proteínas formadas por cadeias diferentes de polepeptideos se juntam. Funções das Proteínas a) nutrição b) estocagem c) estrutural d) contrátil e) transporte f) defesa g) regulação h) enzimas Exemplos caseína ferritina colágeno miosina hemoglobina anticorpos insulina acetilcolinesterase UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Lipídeos São compostos hidrofóbicos que podem ser agrupados em pelo menos 16 diferentes sub-classes. Cada classe de lipídeo contém compostos de polaridade similar mas as diferenças estruturais podem ser muito grandes. A maioria dos lipídeos biogênicos possui o grupo acil (RC=O). Os ácidos graxos possuem o grupo (COOH). Os lipídeos não são só importantes como substâncias de reserva de energia mas também exercem importantes funções bioquímicas dentro das células. Alguns lipídeos são essenciais ao metabolismo animal mas não podem ser sintetizados por eles. Dentre eles, citamos os ácidos graxos de cadeia longa (-3 e -6). O símbolo grego Ômega () significa a posição da primeira ligação dupla a partir do lado da terminação metila da molécula. Os animais podem elongar ou desaturar as moléculas mas não podem colocar a ligação dupla no ponto 3 e 6. Tipos de lipídeos (Arts & Waiman, 1998) UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Os ácidos graxos podem ser agrupados em duas categorias: os que podem ser sintetizados ou não pelos animais. Os ácidos essenciais (EFA) devem ser obrigatoriamente supridos na dieta. Células animais (marinhas) não podem desaturar abaixo do C-9 e C-10 (final metila). Dessa forma, todos os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 de origem marinha animal provêm de alimentos de outro Reino (vegetal ou monera). Ácidos graxos de cadeia longa do tipo Omega-3 (PUFA) são encontrados apenas em plantas marinhas enquanto enquanto os ácidos de cadeia mais curta () prevalecem em plantas terrestres. Essas diferenças persistem em toda a cadeia trófica desses sistemas. Respiração • Conceitos Básicos UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Captura de alimento: Taxa de consumo de alimento que pode ser filtrado, capturado ou raspado (exemplo: número de presas por unidade de tempo) Ingestão: Do alimento capturado, trata-se do conteúdo energético ou a quantidade de biomassa ou de nutriente efetivamente ingerida pelo animal. Exemplo: mgC.ind-1.dia-1 Assimilação: Trata-se da quantidade de energia, biomassa ou de elementos constituintes da biomassa assimilada pelo organismo, através do intestino (descontada as fezes e excreção urinária). Exemplo: Kcal.Kg-1.dia-1 Excreção: Quantidade de matéria ou energia ingerida que é devolvida ao meio ambiente via excreção através das vias urinárias ou pelas pelotas fecais. A taxa é normalmente expressa em termos de nitrogênio, carbono ou fósforo. Exemplo: mgN.mgPS -1.h-1 Respiração: Quantidade de matéria ou energia assimilada que é usada no metabolismo basal do organismo sendo normalmente expressa em termos de oxgênio, carbono ou equivalente calórico (Exemplo: mgCO2.mgPS-1.h-1). Produção: Quantidade de energia ou matéria já assimilada que é usada para o crescimento somático ou alocada em reprodução (Exemplo: Kcal.m-2.ano-1). Recursos Não Utilizados: Quantidade de matéria ou energia que foi capturada mas não ingerida ou assimilada. UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Respiração do Zooplâncton O estudo das taxas de respiração em uma comunidade pode fornecer informaçoes não somente sobre a atividade metabolólica geral mas também sobre os efeitos que determinados fatores ambientais exercem sobre a comunidade. Assim, os dados de respiração servem para determinarmos como é feito o uso da energia obtida na alimentação seja na componente temporal seja na componente espacial. Além disso, como as taxas de respiração são afetadas por fatores tais como a temperatura e o pH, pode-se usar os dados de respiração para se ter uma idéia da importância desses fatores na adaptabilidade dos organismos. O gasto energético é uma função do peso do animal e essa razão torna-se ainda mais intensa ao diminuir a razão peso/superfície uma vez que o gasto energético é uma função potência do peso com expoente inferior a 1. Para os animais pecilotérmicos esse expoente é próximo de 0,95 se os animais tem peso compreendido entre 10-6 e 10-1 g e o expoente passa para 0,75 para os animais maiores. Isso quer dizer que a respiração é mais afetada pelo peso do animal especialmente no caso dos animais menores. O zooplâncton de água doce apresenta uma relação genérica com o peso que pode ser definida como sendo: R= 0,0130 * Biomassa 0,93 Em termos gerais, a respiração pode comprometer de 15 a 25% em animais pecilotérmicos na faixa de 0,1 a 100,0 microgramas (peso seco). No entanto, esses percentuais podem serem ainda maiores. A respiração diária nos rotíferos, por exempo, representa de 20 a 48% do conteúdo energético para o rotífero predador Synchaeta e de 43 a 65% para o rotífero filtrador Keratella quadrata (Pourriot, 1982). No entanto a taxa de respiração é ainda afetada por fatores tais como o grau de maturidade do organismo, a densidade dos organismos, pH, temperatura, luz, ritmo circadiano e a concentração de alimento disponível no meio e ainda a presença de substâncias tóxicas no meio. UFMG – ICB – Depto. Biologia Geral, Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Fig – Sistema aberto de fluxo contínuo para a determinação da taxa de respiração de organismos aquáticos: (a) sistema com um único sensor de OD; (b) sistema com dois sensores tipo eletrodos de membrana (E). Os outros elementos do sistema são: WR: reservatório de água, PP: bomba peristáltica, AC: câmara incubadora, V: válvulas. Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Sistema fechado (closed bottle) Fluxo contínuo (open flow) Os animais são disturbados e a taxa de respiração aumenta em função dessas manipulações iniciais. A alteração inicial das taxas de respiração pode ser considerada desprezível. A diminuição contínua dos teores de oxigênio afeta o comportamento geral dos organismos durante o experimento. A concentração (e a pressão) do oxigênio é constante durante todo o experimento. Existe normalmente uma grande amplitude nos valores de oxigênio durante o experimento o que facilita a determinação das taxas. O método exige sensores de membrana com grande precisão capazes de detectar pequenas mudanças na tensão de oxigênio. Existe o acúmulo de excretas tais como o amônio que pode ter uma ação tóxica. Não existe qualquer acúmulo de excretas pois eles são continuamente lavados do sistema. A concentração de oxigênio não mantém-se constante durante o experimento. Pode-se simular várias concentrações de oxigênio dissolvido. Existe a vantagem de serem usados frascos de grandes dimensões e de vários tipos. O fasco de incubação deve ser muito pequeno Cálculo das taxas de respiração é simples O volume da câmara de incubação deve ser pequeno caso contrário os cálculos são muito complicados. Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Fig - Variações da taxa de respiração em função da temperatura em três tipos de organismos planctônicos: Brachiounus calyciflorus (Pourriot, 1975), Daphnia. (Blazka, 1966) e Diaptomus (Comita, 1968) Fig 1 – Esquema ilustrando as relações entre assimilação (A), respiração (R ) e produção e a disponibilidade de alimento em organismos planctônicos filtradores. A linha vertical ilustra o nível de alimento no qual a produção é nula (ILL). Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Variação diurna da respiração e da taxa de filtração de Diaptomus kenai no lago Eunice (Duval & Geen, 1976) Lab. Gestão Ambiental de Reservatórios Lab. 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