Disciplina: Sociologia e Antropologia Aplicadas à Administração Profa: Daniela Cartoni Resumo – Parte 3 Os fundadores da Sociologia Sugestão de Leitura: DIAS, Reinaldo. Sociologia Geral. Campinas: Alinea, 2008. (PLT 254). Capítulo 1 A Sociologia surgiu como uma ciência sobre os problemas sociais, tendo como marco de seu surgimento o século XIX. As transformações econômicas, políticas e culturais deste momento trouxeram a necessidade de uma ciência ou campo de estudo que pudesse trazer novos horizontes sobre os problemas inéditos que se apresentavam. A Revolução Industrial representou mais do que a introdução de máquina a vapor e seus aperfeiçoamentos sucessivos na maneira de se produzir. Ela representava o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário burguês que buscava a expansão de seus negócios a qualquer custo. As conseqüências da rápida industrialização e urbanização decorrentes do sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, dos surtos e epidemias, entre outros. É, portanto, este cenário que traz as questões que passam a ser tratadas pelos sociológicos, que moldam uma nova ciência na expectativa de um futuro mais otimista. Os precursores da Sociologia Como já estudamos, a formação da Sociologia como ciência é resultado de uma constelação de fatores históricos, políticos e intelectuais. Ocorre após a chamada dupla revolução burguesa (Revolução Francesa e Revolução Industrial), num contexto que coincide com os derradeiros momentos da desintegração da sociedade feudal e a consolidação da civilização capitalista. A sua criação não é resultado de um único filósofo ou cientista (embora tenha sido Auguste Comte que deu o nome à esta nova ciência), mas deve se vista como o resultado de um conjunto de pensadores que se empenharam para compreender as novas situações inauguradas na Era Moderna. Vejamos um pouco mais sobre estes pensadores. Auguste Comte e o Positivismo: estudos sobre a Física Social Auguste Comte nasceu em 1798 na França. Seus trabalhos marcaram a criação de uma "filosofia positiva" quando sofreu um colapso nervoso, em 1826. Recuperado, mergulhou na redação do Curso de Filosofia Positiva, que lhe tomou 12 anos. Em 1842, por divergências com os superiores, perdeu o emprego de pesquisador na Escola Politécnica. Apoiado por alguns outros intelectuais, dedicou os anos seguintes a escrever Sistema de Política Positiva, até 1857, quando morreu de câncer, em Paris. Comte busca aplicar os mesmos princípios ao conhecimento do homem (ciências sociais). 1 a s e a s a Influenciado pela obra de seus antecessores iluministas que aplicam o conhecimento racional para o conhecimento da natureza (ciências naturais), Comte busca aplicar os mesmos princípios ao conhecimento do homem (ciências sociais). Por exemplo: um dos fundamentos do positivismo é a idéia de que tudo o que se refere ao saber humano pode ser sistematizado segundo os princípios adotados como critério de verdade para as ciências exatas e biológicas. Isso se aplicaria também aos fenômenos sociais, que deveriam ser reduzidos a leis gerais como as da física. Para Comte, a análise científica aplicada à sociedade é o cerne da Sociologia, a qual chamava de “Física Social”, cujo objetivo seria o planejamento da organização social e política. O pensamento de Comte tinha forte aspecto empirista, por levar em conta apenas os fenômenos observáveis e considerar anticientíficos os estudos dos processos mentais do observador. Nas palavras do próprio Comte: "Positivismo é visão de que o inquérito científico sério não deveria procurar causas últimas que derivem de alguma fonte externa mas sim confinar-se ao estudo de relações existentes entre fatos que são diretamente acessíveis pela observação." O Positivismo tem por base teórica a experimentação, somente dela o investigador deve ater-se, ou seja, toda especulação acrítica deve ser descartada. “Ordem e Progresso”: Era o lema adotado por Comte para a chamada “Lei dos Três Estados” ou etapas do desenvolvimento intelectual da humanidade, compreende que no primeiro estágio a humanidade é regida por abstrações, como teologia e metafísica. No segundo estágio, a humanidade já faz uso da ciência, mas não se libertou totalmente das abstrações encontradas no primeiro, portanto, o segundo estágio serve apenas de intermediário entre o primeiro e o último. Finalmente, no terceiro estágio, o estágio positivo, a ciência já está totalmente desenvolvida, neste estágio não se pretende apenas achar as causas dos fenômenos, mas descobrir as leis que os regem. Ordem e Progresso Antes de Comte, a sociologia já havia dado os primeiros passos, mas foi ele quem a organizou como ciência. O pensador a dividiu em duas áreas: estática social e dinâmica social. A primeira estuda as forças que mantêm a sociedade unida, enquanto a segunda se volta para as mudanças sociais e suas causas. A estática social se fundamenta na ordem e a dinâmica no progresso - daí o lema "ordem e progresso", que figura na bandeira brasileira por inspiração comtiana (por influência de Benjamin Constant e outros importantes positivistas). Conhecidos a estrutura e os processos de transformação da sociedade, seria possível, para o pensador, reformar as instituições e aperfeiçoá-las. Podemos até extrapolar e dizer que para Augusto Comte a lei dos três estados não é somente verdadeira para a história da nossa espécie, ela o é também para o desenvolvimento de cada indivíduo. A criança dá explicações teológicas, o adolescente é metafísico, ao passo que o adulto chega a uma concepção "positivista" das coisas. Brasil: A República e o Positivismo O projeto sociopolítico de Comte pressupunha uma evolução ordeira da sociedade, incompatível com revoluções e mudanças bruscas. Curiosamente, no Brasil os ideais positivistas serviram para alavancar uma troca de regime, com a proclamação da República. O positivismo teve influência fundamental nos eventos que levaram à Proclamação da República no Brasil, sendo uma das principais matérias estudadas no Colégio Militar. A cúpula do Exército, responsável direta pelo fim da monarquia, era predominante positivista, com destaque ao General Benjamin Constant. Este grupo, adepto da ideologia comtiana tornou vitorioso o movimento republicano e a idéia de adotar o lema "ordem e progresso". Várias das medidas governamentais dos primeiros anos da República tiveram inspiração positivista, como a reforma educativa de 1891 e, no mesmo ano, a separação oficial entre Igreja e Estado. A bandeira do Brasil é um reflexo dessa influência na política nacional, onde se lê o lema positivista Ordem e progresso (surgido da expressão Amor por base, ordem por princípio e progresso por fim). 2 Como Durkheim explica a relação entre Individuo e sociedade? O autor, ao tratar dos “fatos sociais”, mostra que nosso comportamento depende da formação da consciência coletiva, ou seja, como fomos educados a partir de regras e valores sociais que já encontramos prontos quando nascemos. Desde os costumes de higiene, alimentação, relações afetivas, religião, modos de educação, a escola, a língua pátria, a nação, o Estado, etc... Tudo isso já estava aqui quando nascemos. Toda essa gama de regras é marcada por tipos de vínculos, chamadas pelo autor de “solidariedade”. O termo não se relaciona exatamente com atividades de ajuda mútua, mas sim com formas de relacionados decorrentes do pertencimento ao grupo. São sentimentos coletivos que foram impostos ao indivíduo que, sozinho, ele não consegue alterar, mas se não cumpri-los, está sujeito a coações, constrangimentos, etc. Mas, haverá espaço para o individuo? Segundo Durkheim, na sociedade capitalista, onde predomina a divisão do trabalho social racional, o que tece as relações sociais é a solidariedade orgânica, que é baseada na especialidade e função de cada trabalhador, profissional e é nesse espaço que ele realiza sua individualidade, pois depende dele a realização daquela tarefa. Fora isso, sobra pouco espaço para um individuo autônomo, separado e independente da consciência coletiva. A sociedade está no individuo e o individuo está na sociedade. As sociedades pré-capitalistas seriam mais sólidas em função da solidariedade mecânica, que une as pessoas em função dos sentimentos comuns, dos valores, etc. Os indivíduos estão presos à sociedade pela tradição e não pela sua função racional , como na solidariedade orgânica. Nessas sociedades haveria muito menos espaço para os indivíduos em termos de autonomia. Já a sociedade moderna seria uma totalidade orgânica, composta por partes diferentes, mas interdependentes. Traz o conceito de anomia,que significa "estado de desregramento", situação na qual a sociedade não desempenha o seu papel moderador, ou seja, não consegue orientar e limitar a atividade do indivíduo. O resultado é que a vida se desregra e o indivíduo sofre porque perde suas referências, vivendo num "vazio". Como Marx explica a relação entre Individuo e sociedade? Marx compreende as trajetórias individuais a partir dos contextos de produção material da vida, ou seja, essencialmente a partir das relações de trabalho. Na sua relação com a natureza e sua transformação para sobrevivência, neste processo o homem trabalha, cria sua vida e faz a história, é sujeito da elaboração do mundo social. Entretanto, ao estabelecer as formas de produzir sua vida, cria ideologias, valores e maneiras de compreender o mundo que o dominam. A própria criatura se sobrepõe ao criador. O homem faz a história não como ele quer, mas como ele pode e consegue fazer. Nesse ponto, os indivíduos dependem dos contextos materiais e históricos em que vivem. A sociedade seria uma totalidade contraditória. Na sociedade capitalista a contradição básica é a produção coletiva e a apropriação privada dos bens, assentada nas classes sociais que sempre estão em conflito. Para problematizar o capitalismo, Marx trata de questões como: O que é trabalho? O que é capital? Qual a diferença entre capital e trabalho? Qual diferença entre dinheiro e capital? O que é lucro? Onde inicia o lucro no processo de produção das mercadorias ou no processo de comercialização das mercadorias (na circulação)? Há alguma categoria de trabalhador que é mais explorados? Estes conceitos são explicados a partir da luta de classes, que caracteriza a desigualdade entre aqueles que possuem os meios de produção (capitalistas) e aqueles que possuem somente a força-de-trabalho e devem vende-la para sua sobrevivência e reprodução. Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente dialética das forças entre opressores e oprimidos, a história da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo do Manifesto Comunista: “A história de toda sociedade passado é a história da luta de classes”. Classes são “os produtos das relações econômicas de sua época”. Assim apesar das diversidades aparentes, escravidão, servidão e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único. A base da sociedade é a produção econômica. Sobre esta base econômica se ergue uma superestrutura, um Estado e as idéias econômicas, sociais, políticas, morais, filosóficas e artísticas. 3 O socialismo propunha inversão da pirâmide social, ou seja, pondo no poder a maioria, os proletários, que seria a única força capaz de destruir a sociedade capitalista e construir uma nova sociedade, socialista. Segundo ele, os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante, ou seja, as idéias que eles têm do mundo e da sociedade seriam as mesmas idéias que a burguesia espalha. O Estado também é fruto das idéias da classe dominante. Não basta existir uma crise econômica para que haja uma revolução. O que é decisivo são as ações das classes sociais na superação da alienação, pois em todas as sociedades em que a propriedade é privada existem lutas de classes (senhores x escravos, nobres feudais x servos, burgueses x proletariados). Para Marx, a luta do proletariado do capitalismo não deveria se limitar à luta dos sindicatos por melhores salários e condições de vida, mas deveria ser uma luta ideológica para que o socialismo fosse uma luta política pela tomada do poder. Para tanto, os trabalhadores deveriam ter um partido político revolucionário que tivesse uma estrutura democrática, que buscasse educar os trabalhadores para levá-los ao poder por meio de uma revolução socialista. Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria injustiça social e exploração dos trabalhadores, onde o operário produz mais para o seu patrão do que o seu próprio custo para a sociedade (produção de mais-valia). Como Weber explica a relação entre o individuo e a sociedade? Para Weber os indivíduos se compõem nas diferentes esferas da sociedade, numa teia complexa e repleta de acontecimentos que são relativamente autônomos uns aos outros. A sociedade pode ser estudada pelas ações sociais porque elas carregam os sentidos de identificação com o grupo. É neste sentido que trata do conceito de status, o elemento simbólico que cria diferenciação entre os indivíduos e traz o conceito de pertencimento. Weber pensa na sociedade não como um bloco, mas como uma teia, em que os indivíduos agem segundo uma infinidade de valores, sentimentos, orientações continuamente reelaboradas por eles. Isso não significa que não exista um condicionamento social sobre os indivíduos. As regras, as leis, os costumes condicionam as ações sociais, uma vez que os indivíduos agem sempre em expectativa aos outros, à comunidade. Para pensar sobre o capitalismo a partir de Weber, dinâmicas que problematizem a racionalidade técnica, a hegemonia das ações racionais e a institucionalização segundo a lógica da burocracia, com rotinas e regras técnicas e racionais. Levanta perguntas como: De que forma estão organizadas, em termos de hierarquias e funções, as empresas de produção, as repartições públicas, a escola, as igrejas? O que é burocracia? O que é racionalização? Weber definiu as dominações como a oportunidade de encontrar uma pessoa determinada pronta a obedecer a uma ordem de conteúdo determinado. • Dominação Tradicional, onde a autoridade é, pura e simplesmente, suportada pela existência de uma fidelidade tradicional); o governante é o patriarca ou senhor, os dominados são os súditos e o funcionário é o servidor. O patriarcalismo é o tipo característico. Presta-se obediência à pessoa por respeito, em virtude da tradição de uma dignidade pessoal que se julga sagrada. Todo o comando se prende intrinsecamente a normas tradicionais (não legais), em virtude das normas oriundas da tradição e da consciência coletiva. • Dominação Carismática, onde a autoridade é suportada por uma devoção afetiva por parte dos dominados, se assenta sobre as “crenças” transmitidas por profetas, sobre o “reconhecimento” que pessoalmente alcançam os heróis e os demagogos. A obediência a uma pessoa se dá devido às suas qualidades pessoais. Vincula-se ao caráter autoritário e imperativo, sendo instável, pois nada há que assegure a perpetuidade da devoção afetiva ao dominador, por parte dos dominados. • Dominação Legal decorrente da “burocracia”, com aplicação da Hierarquia Funcional e das Atribuições são oficializadas, com base na meritocracia (rendimento das capacidades do profissional). A obediência se presta não à pessoa, em virtude de direito próprio, mas à regra. Weber classifica este tipo de dominação como sendo estável, por se basearem normas e o poder de autoridade é legalmente assegurado. 4