SEPARAÇÃO DA CLOROFILA E CAROTENOS DO TALINUM PANICULATUM (JACK). GAERTN (JOÃO GOMES) POR MEIO DA CROMATOGRAFIA EM PAPEL Kerliane dos Santos Silva 1 Daniel da Conceição Fontes 2 Antônio Francisco Fernandes de Vasconcelos 3 1 Acadêmica do Curso de Química Licenciatura Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Email: [email protected] 2 Acadêmico do Curso de Química Licenciatura Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Email: [email protected] 3 Profº Orientador Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Email: [email protected] 2 RESUMO A técnica cromatográfica com pigmentos naturais possibilita uma abordagem didática e interessante para o aluno do Ensino Médio, pois permite o acompanhamento de uma separação de misturas pela simples observação das cores dos pigmentos além de possibilitar uma correlação direta entre a Química e o cotidiano (Degani et al., 1998; Oliveira et al., 1998; Costa et al., 2005). As diferenças aparentes na cor do vegetal são devidas à presença e distribuição variável de outros pigmentos associados, como os carotenóides, os quais sempre acompanham as clorofilas (VON ELBE, 2000). O objetivo desse experimento foi utilizar a cromatografia em papel para separar pigmentos presentes no extrato alcoólico das folhas de João Gomes e com base no resultado dos cromatogramas identificar os pigmentos correspondentes as diferentes zonas cromatográficas, e dessa forma contextualizar conceitos da química orgânica mostrando pelos materiais utilizados as estruturas químicas de cada componente. As folhas de João Gomes foram coletadas junto a uma feirante de ervas medicinais no município de São Luís Ma e levadas as Laboratório de Química e Biologia da Universidade Estadual do Maranhão onde foram devidamente higienizadas. Pelos resultados dos cromatogramas, as faixas coloridas indicam que há clorofila do tipo A e do tipo B e essa observação é feita pela diferença nas tonalidades da coloração verde bem como por suas estruturas químicas, e mais abaixo a coloração amarela indica a presença de carotenos. Dessa forma pode-se observar a eficiência da técnica bem como mostrar aos alunos a importância de se conhecer os compostos orgânicos. Esses resultados são semelhantes ao artigo de (RIBEIRO, N. M et AL., 2008). Palavras- chave: folhas de João Gomes, Cromatografia, pigmentos. INTRODUÇÃO A cromatografia é uma técnica de separação especialmente adequada para ilustrar os conceitos de interações intermoleculares, polaridade e propriedades de funções orgânicas, com uma abordagem ilustrativa e relevante. Os métodos cromatográficos são utilizados para separar misturas contendo duas ou mais substancias ou íons, e baseiam-se na distribuição diferencial dessas substancias entre duas fases: uma das quais é estacionaria e a outra, móvel 3 (Fonseca e Gonçalves, 2004). Atualmente as diferentes modalidades de cromatografia são responsáveis por mais de 70% das analises em Química Analítica (Aquino Neto e Nunes, 2003). Uma dessas modalidades é a cromatografia em papel (CP). Trata-se de uma técnica simples para analise de amostras em pequenas quantidades, aplicada principalmente na separação e identificação de compostos polares, tais como açucares antibióticos hidrossolúveis, aminoácidos, pigmentos e íons metálicos (Aquino Neto e Nunes, 2003). O papel consiste de celulose (Figura 1) praticamente pura que pode absorver ate 22% de água. É a água absorvida que funciona como fase estacionaria liquida que interage com a fase móvel também liquida (Aquino Neto e Nunes, 2003). Os componentes da amostra são separados entre a fase estacionaria e a fase móvel em movimento no papel. Os componentes que tem a capacidade de formar ligações (ou “pontes”) de hidrogênio migram mais lentamente (Collins e cols., 2006). Nesse estudo será possível com base nos resultados dos cromatogramas identificar tanto a clorofila como carotenos presente no extrato alcoólico das folhas de João Gomes, e dessa forma entender os conceitos das interações intermoleculares bem como propriedades de algumas funções orgânicas. O Talinum Paniculatum (Jack). Gaertn (joão gomes) é da família portulacaceae que é formada por 47 gêneros e 500 espécies de distribuição predominantemente tropical e subtropical. O Talinum Paniculatum possui folhas suculentas, de disposição espiralada ou oposta cruzada, com flores pequenas e inconspícuas ou com flores grandes e vistosas, reunidas em inflorescências axilares ou em panícula terminal, daí o nome Talinum. A planta alcança até 30 cm de altura, apresenta raiz carnosa e suculenta. As flores aparecem na extremidade da haste floral, de coloração amarela ou rósea e se abrem somente com a luz do sol. O fruto é uma cápsula globosa e pequena contendo sementes. Tem origem na America Tropical, com ampla distribuição em todos os estados brasileiros. Reproduz-se por sementes, de preferência em solos úmidos, sombrios e com matéria orgânica, crescendo espontaneamente em todo Brasil, principalmente em pomares, cafezais, beira de matas e terrenos baldios. Em outros países, como Estados Unidos, é conhecida e comercializada como planta ornamental. É uma planta invasora e a colheita ocorre a qualquer época do ano 4 (RAMOS, 2003). Possui como principais constituintes: água, mucilagem, taninos, sais minerais, acido fólico, pigmentos como caroteno e clorofila (PANIZZA, 1998). O Talinum Paniculatum apresenta propriedades terapêuticas principalmente como emolientes. Folhas e sementes são indicadas no tratamento tópico de feridas e cortes favorecendo a regressão e cicatrização (CARIBÉ; CAMPOS, 1991). As clorofilas são os pigmentos naturais mais abundantes presentes nas plantas e ocorrem nos cloroplastos das folhas e em outros tecidos vegetais (STREIT et al., 2005, p. 748). Além disso, são responsáveis pela captura de luz usada no processo de fotossíntese; dessa forma, são essenciais na conversão da radiação luminosa em energia química. Assim, as clorofilas estão relacionadas com a eficiência fotossintética das plantas e, conseqüentemente, com seu crescimento e adaptabilidade aos diferentes ambientes (JESUS; MARENCO, 2008, p. 816). Os carotenóides desempenham um papel fundamental como pigmento acessório na fotossíntese, agindo como captador de energia e protetor contra foto-oxidação (KRINSKY, 1994). Entre as características químicas e biológicas dos carotenóides, encontra-se um sistema de duplas ligações conjugadas responsáveis pelo poder corante e, também, pela ação antioxidante, apesar de ser, esse mesmo sistema responsável pela instabilidade e conseqüentemente isomerização e oxidação das moléculas de carotenóides durante o processamento e estocagem de alimentos (RODRIGUEZ – AMAYA, 1999). METODOLOGIA As folhas de João Gomes foram obtidas junto a uma feirante do município de São Luís Ma, e levadas ao laboratório de Química e Biologia da Universidade Estadual do Maranhão para imediata extração, essas folhas foram lavadas em água corrente e após escorrer toda a água a temperatura ambiente foi feita a extração por maceração de 10 g da amostra com o auxilio gral e pistilo adicionando-se 50 mL de álcool etílica PA (marca dinâmica) seguido de filtração simples. Após esse processo colocou-se o papel de filtro qualitativo (marca isofar 80g 185 mm) no filtrado, deixou-se evaporar e após 30 minutos observou-se a separação dos pigmentos sendo possível determinar os componentes presentes na folha de João Gomes. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelos resultados dos cromatogramas, (figura 2 D) as faixas coloridas indicam que na parte superior verde mais claro há clorofila do tipo B, que é caracterizada pelo grupo da carbonila que possui maior afinidade com a fase móvel que é o álcool, a dupla ligação da carbonila é quebrada e o ataque é feito ao hidrogênio do álcool.. Já na zona onde o verde aparece mais escuro na parte inferior indica a presença da clorofila do tipo A, houve uma interação maior com a fase estacionaria que é o papel, onde o mesmo possui como principal componente a celulose. E mais abaixo a coloração amarela meio manchado indica a presença de carotenos. Os resultados obtidos assemelham-se ao do artigo de (RIBEIRO et al., 2008). Paralelo a esses resultados pode-se verificar as estruturas químicas desses componentes e entender sobre o comportamento dessas moléculas avaliando a eficiência da técnica cromatográfica. CONCLUSÃO A cromatografia em papel utilizando o extrato alcoólico das folhas de João Gomes permite a visualização da separação cromatográfica dos principais pigmentos existentes no extrato: carotenos e clorofila. Além de despertar o interesse pela química de produtos naturais abordando o assunto sobre os carotenos, o experimento possibilita discussões sobre as interações intermoleculares, polaridade e funções orgânicas. A simplicidade do experimento torna sua realização viável em laboratórios que não dispõem de muitos recursos materiais. REFERENCIAS CARIBÉ, J.; CAMPOS, J.M. Plantas que ajudam o homem. São Paulo: Circulo do Livro Pensamento, 1991). COSTA, C.L.S. e CHAVES, M.H. Extração de pigmentos das sementes de Bixa orellana L.: Uma alternativa para as disciplinas experimentais de Química Orgânica. Química Nova, v. 28, p. 149-153, 2005. DEGANI, A.L.G.; CASS, Q. B. e VIEIRA, P.C. Cromatografia: Um breve ensaio.Química Nova na Escola, n. 7, p. 21-25, 1998. 6 JESUS, Simone Verdes; MARENCO, Ricardo Antonio. O SPAD-502 como alternativa para a determinação dos teores de clorofila em espécies frutíferas. Acta Amazônica, v. 38, p. 815818, 2008. KRINSKY, N.I.. The biological properties of carotenoids. Pure & Applied Chemistry (IUPAC), Great Britain, vol. 66, nº 5, p. 1003-1010, 1994. Disponivel em: WWW.iupac.org. acesso em: 24/09/14 OLIVEIRA, A.R.M.; SIMONELLI, F. e MARQUES, F.A. Cromatografando com giz e espinafre: Um experimento de fácil reprodução nas escolas de Ensino Médio. Química Nova na Escola, n. 7, p. 37-39, 1998. PANIZZA, S. Plantas que curam. 5 ed. São Paulo: Ed. IBRASA,1998. RIBEIRO, N. M.; NUNES, C. R.; Análise de pigmentos de pimentões por cromatografia em papel, Química Nova na Escola nº 29 Agosto de 2008. RODRIGUEZ-AMAYA, D. B.. Latin American food sources of carotenoids. Archivos Latinoamericanos de Nutricion, vol. 49, p. 745- 845, 1999 STREIT, Nivia Maria et al. As clorofilas. Ciência Rural, v. 35, n. 3, p.748-755, maio/jun. 2005. VON ELBE J.H. Colorantes. In: FENNEMA, O.W. Química de los alimentos. 2.ed. Zaragoza : Wisconsin - Madison, 2000. Cap.10, p.782-799. 7 Anexos Figura 1: Celulose – polímero linear de moléculas de glucose unidas entre si por ligações glicosídicas β-1,4. 7 Fonte: http://www2.ufp.pt/~pedros/bq/carb.htm Figura 2: Processo de extração (A), filtração(B), momento da reação(C) e cromatograma após o termino do experimento(D) Fonte: Próprio autor 8 Figura 3: Estrutura da Clorofila, com os grupos caracterizando a clorofila do tipo A e tipo B Fonte: http://www.jornallivre.com.br/182452/tudo-sobre-o-historico-da-fotossintese.html Figura 4: Estrutura do Álcool Etilico Fonte: http://reginaldobatistasartes.blogspot.com.br/2012/01/as-drogas-imagens-ii.html Figura 5: estrutura química do alfa caroteno Fonte: Fontana et al. (2008)