O REI DO CAFÉ
O COMENDADOR JOAQUIM JOSÉ DE SOUZA BREVES, o Rei do Café, no Brasil Imperial, era filho do CapitãoMor José de Souza Breves (1748-1845) e de Da. Maria Pimenta de Almeida Lobo Frazão (1768-1843), tendo
suas origens mais remotas em Portugal e França, sendo descendente dos Condes de Brèves Savary,
Marqueses de Maulévrier e Duques de Thou. Nasceu na fazenda Manga Larga, município de São João
Marcos, RJ, em 10/06/1804, e faleceu em sua Fazenda São Joaquim da Grama, distrito de Passa Três,
município de Rio Claro, RJ, em 30/09/1889.
Foi Guarda de Honra de D. Pedro I, tendo assistido, com 18 anos de idade, ao Grito do Ipiranga, a
07/09/1822. Dos que presenciaram esse fato histórico, o Rei do Café foi o último a falecer. Comendador das
Ordens da Rosa e de Cristo, chegou a ocupar a alta patente de Coronel da Guarda Nacional.
No ano de 1860, o município inteiro de Bananal, SP, maior exportador de café do Brasil, produziu 540
mil arrobas, enquanto o Rei do Café, sozinho, colheu 390 mil arrobas em suas fazendas e sítios - um total de 70
propriedades, sendo o maior latifundiário brasileiro e maior cafeicultor individual do mundo. Chegou a ter mais
de 6 mil escravos (alguns estudos apontam cerca de 12 mil). Recebeu, então, a alcunha de "Rei do Café",
construindo um verdadeiro império econômico, muito positivo ao desenvolvimento do Brasil.
Além de suas fazendas, teve uma enorme chácara no Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em
frente ao Palácio Imperial, tendo disposto até de um teatro privativo para entretenimento próprio, da família e
amigos. Em Mangaratiba, era dono de armazéns e de um porto para embarque e desembarque do que
importava e exportava, bem como de um navio a vela (o Emiliana) e dois a vapor (o Marambaia e o Califórnia este, com 40 metros de comprimento, atacado por piratas e afundado, em 1866, na baía da Ilha Grande – onde
os destroços encontram-se submersos, até hoje, no costão sudoeste da Praia Vermelha). Além desses navios
de grande porte, teve vários outros bergantins, brigues e patachos.
Patacho União Feliz – pertenceu ao Rei do Café. Este navio, curiosamente, transportou os
móveis da Marquesa de Santos, do Rio de Janeiro para Santos, em 1829, quando Dom Pedro I
terminou, definitivamente, o romance com a mesma senhora, para casar-se com Dona Amélia de
Leuchtenberg, segunda imperatriz do Brasil. Dom Pedro I e o Rei do Café foram grandes amigos.
O vapor Califórnia – naufragado em 1866, na baía de Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ.
Pontos de referência:
Latitude: 23° 09.49' Sul - Longitude: 044° 21. 19' Oeste.
http://www.turisangra.com.br/naufragio-do-vapor-california/44-1141
O Rei do Café teve grande influência na política local e nacional. Esteve totalmente envolvido na
Revolução Liberal de 1842. Foi, por vários mandatos, presidente da Câmara de São João Marcos, RJ, onde
também foi eleito, repetidas vezes, juiz de paz e vereador. Foi chefe político, também, na freguesia de Passa
Três, município de Rio Claro, RJ, onde ficava a fazenda sede de administração de seu império: a majestosa
São Joaquim da Grama, tratada, na imprensa da época, como “o Castello do Rei do Café”. Suplente de
deputado à Assembleia Legislativa da província do Rio de Janeiro e, depois, deputado, de 1842-1843, 18461847 e de 1848-1849, manteve estreita relação com os círculos do poder monárquico. Dom Pedro II gostava de
ouvir seus conselhos, chamando-o para conversas privadas sempre que tomava conhecimento de sua
presença na Corte.
Fazenda São Joaquim da Grama, em Passa Três, Rio Claro, RJ, a sede escolhida pelo Rei do
Café para administrar suas mais de 70 propriedades, espalhadas pelo Vale do Paraíba (de Areias
e Bananal, até a capital do Rio de Janeiro), Sul de Minas Gerais e baías de Angra dos Reis e de
Mangaratiba, RJ.
Fazenda São Joaquim da Grama, Passa Três, Rio Claro, RJ, pelos idos de 1920.
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Desenho reconstituindo a Fazenda São Joaquim da Grama, como foi ao tempo do Rei do Café
(1804-1889). Nota-se que tinha formato de “J”, suas iniciais – Joaquim José. Cercada por fosso,
muralhas de pedras de cantaria e gradis de ferro fundido. O “Castello do Rei do Café”.
Além da cafeicultura, esteve ligado ao comércio de escravos, introduzindo negros da África no Brasil,
atividade que exerceu mesmo após o regulamento proibitivo 1831 (Lei Feijó), até o advento da norma mais
severa, de 1850 (Lei Euzébio de Queiroz). Foi, assim, como outros poderosos do ramo, um traficante de
escravos, sob as vistas grossas do Imperador Pedro II, das autoridades judiciais e policiais, e mesmo da
sociedade essencialmente escravocrata da época. Para isso, teve 5 ilhas na baía de Sepetiba e região de
Angra dos Reis, sendo dono, também, da totalidade da Restinga da Marambaia, onde recuperava, em
quarentena, os negros trazidos nos tumbeiros, para escravizá-los em suas fazendas de café ou vendê-los a
outros cafeicultores da região, principalmente nos Vales do Paraíba fluminense e paulista.
No final de sua vida e após sua morte, sua incalculável fortuna foi abalada por vários golpes que
passou a sofrer, como a abolição da escravatura, em 1888 (de 250 mil arrobas de café, em 1887, o
Comendador Breves produziu cerca de 30 mil, no ano seguinte à promulgação da Lei Áurea). Além disso, a
exaustão do solo fluminense pela cafeicultura voraz e sem planejamento ocasionou grandes perdas aos
fazendeiros da região (primeira crise de 1889). A má política do Encilhamento, logo no início da República,
(1889-1891), agravou ainda mais a crise dos cafeicultores. Após a morte do Rei do Café, a riqueza da família
reduziu-se muito, devido à má administração por parte de seus herdeiros, muitos deles verdadeiros “bons
vivants”, que preferiram morar no conforto das capitais, passearem pela Europa, a administrarem pessoalmente
suas fazendas, entregues a prepostos ou arrendatários, vendidas a preços exíguos a fazendeiros mineiros,
produtores de leite, invadidas por posseiros, desapropriadas pelo Fisco. A decadência da cafeicultura no Vale
do Paraíba era extrema, tendo a rubiácea adaptado-se muito bem às terras paulistas da chamada região da
“terra roxa” (Ribeirão Preto, Araraquara, Campinas e Alta Mogiana). A queda dos cafeicultores valeparaibanos,
em verdade, repercutiu no imediato fim da monarquia dos Bragança no Brasil, em 15/11/1889. Houve, enfim, a
superprodução (21 milhões de sacas, em 1920, para um consumo mundial de 22 milhões de sacas),
culminando com a Grande Depressão econômica de 1929 (crack da Bolsa de Valores de NY – USA), quando a
falência econômico-financeira dos cafeicultores do Vale do Paraíba foi quase completa, levando muitos
fazendeiros à miséria.
O Rei do Café não viu a bancarrota, como sentida por muitos de seus netos e bisnetos. Seus bens, em
inventário aberto em 1889, foram avaliados em cerca de 2 mil contos de réis (aproximadamente 160 milhões de
reais em valores de hoje). Se a isso fosse somado o valor dos escravos, que receberam alforria em 1888, um
ano e quatro meses antes de sua morte, a fortuna elevar-se-ia para cerca de 8 mil contos de réis (cerca de 640
milhões de reais). Foi casado com sua sobrinha Da. Maria Isabel de Moraes Breves (1816- 1894), filha dos
Barões de Piraí, tendo gerado nove filhos, e, por estes, muitos descendentes que se destacaram na sociedade
brasileira, na política, nas armas, nas letras, nas artes...
Da. Maria Isabel de Moraes Breves (1816-1894) – sobrinha e mulher do Rei do Café - quando
jovem – cerca de 1845.
(Óleo de Claude J. Barandier – coleção do IHGB – RJ)
Capitão-Mor José de Souza Breves (1748-1845) – pai do Rei do Café.
(Retrato a óleo de autoria de Jules le Chevrel – 1845 – Museu Imperial de Petrópolis - RJ).
Este retrato, curiosamente, segundo tradição de família, foi pintado após o falecimento do
Capitão-Mor. Como o processo fotográfico ainda não havia sido inventado, à época, e, como não
houvesse nenhuma pintura da imagem do velho Capitão-Mor Breves, quando de seu
falecimento, os filhos mandaram embalsamar o corpo, contrataram o pintor francês para retratar
a imagem do velho patriarca, que fora muito amado por todos. Assim, o corpo foi sepultado
sentado numa poltrona, na capela do cemitério de Arrozal, RJ.
BARONESA DE PIRAÍ
Da. Cecília Pimenta de Almeida Frazão de Souza Breves – irmã e sogra do Rei do Café. Óleo de
autoria de Claude J. Barandier – cerca de 1845 – Coleção do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro – RJ. Nascida em 1782 e falecida em 06 de julho de 1866, em sua Fazenda Três Saltos,
em Piraí, RJ. Filha do Capitão-Mor José de Souza Breves e de D. Maria Pimenta de Almeida Lobo
Frazão. Casada com o Coronel José Gonçalves de Moraes – Barão de Piraí.
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BARÃO DE PIRAÍ (sogro do Rei do Café)
Coronel José Gonçalves de Moraes (1776-1859)
Óleo sobre tela – autoria de Claude J. Barandier – cerca de 1845 – IHGB – RJ.
Tendo falecido em 30/09/1889, foi o Comendador Joaquim José de Souza Breves sepultado na capela
que ele mesmo mandou construir, nas cercanias de seu palacete da Fazenda São Joaquim da Grama, em
Passa Três, RJ. Exigiu, por testamento, que seus funerais fossem simples, sem pompa e ostentação, vedando
o uso de galões de ouro ou de prata em seu caixão. Proibiu, também, missa de sétimo dia em intenção de sua
alma, por entender que o objetivo religioso de tais cerimônias era desviado, tornando-se as mesmas meras
reuniões sociais.
Igreja de São Joaquim, na Fazenda da Grama, Passa Três, Rio Claro, RJ. Concluída em 1887, aí
estiveram sepultados o Comendador Joaquim José de Sousa Breves – O Rei do Café (18041889), sua mulher, Dona Maria Isabel de Moraes Breves (1816-1894), suas filhas Condessa Dona
Ritta Maria de Souza Breves e Fé D’Ostiani (1836-1866), Da. Maria Isabel de Souza Breves Costa,
Vovó Cocota (1841-1915) e Da. Leôncia de Souza Breves de Oliveira Bello (1854-1906). Os restos
mortais de todos, na década de 1960, foram trasladados para o cemitério municipal de Barra do
Piraí, então sob a administração do saudoso Padre Reynato Frazão de Souza Breves (19352004), primo de minha avó paterna, trinetos do Rei do Café, grande biógrafo e genealogista dos
Souza Breves. As catacumbas dessa igreja foram revistadas e periciadas quando do famoso
“Caso Dana de Teffé”, na década de 1960, por suspeitarem a autoridades policiais que o corpo –
jamais encontrado – dessa senhora de origem tcheca, que fora casada com o diplomata
brasileiro Manuel de Teffé Von Hoonholtz, tivesse sido ocultado nesse templo, infelizmente, em
estado de total abandono nos dias de hoje.
Por ter eu publicado parte deste artigo no jornal ATUAL, dirigido por Edmundo Carlos de Andrade
Carvalho, um parente questionou-me o fato de o Rei do Café ter sido ou não um traficante de escravos (“uma
prática terrível”). Por e-mail, informei-o, então, que não restam dúvidas, existindo vasta documentação e
evidências sobre tal atividade praticada pelo Comendador Joaquim José de Souza Breves e outros grandes
fazendeiros escravocratas, entre as décadas de 1830, 1840 e início de 1850. De fato, por essa época, houve
tráfico ativo (por parte de quem trazia negros de África) e passivo (por todos aqueles que os compravam para
escravizá-los) – com a complacência do Estado.
A primeira norma brasileira a proibir a importação de africanos para o trabalho escravo foi a
mencionada Lei Feijó, de 1831, originada da forte pressão do Reino da Grã Bretanha pelo fim do tráfico
negreiro, não por motivos humanitários, mas por meros interesses econômicos. Trata-se de dispositivo jurídico
de fato, mas jamais executado, pois os fazendeiros continuaram a comprar muitos escravos. A produção de
café nos Vales do Paraíba fluminense e paulista, bem como a lavoura de cana-de-açúcar no Nordeste não
podiam parar. Assim, esta norma de 1831 foi uma “lei para inglês ver”.
Naquele momento, o fim abrupto da escravidão poderia levar o Império do Brasil à bancarrota. A própria
Inglaterra mantinha escravos em suas colônias, esparramadas pelo mundo. Portugal e Espanha também. A
França, que abolira a escravidão com a Revolução de 1789, restaurara o terrível sistema servil com Napoleão
Bonaparte no seu comando. Os Estados Unidos da América enchiam de escravos africanos suas fazendas de
algodão. A Igreja Católica Apostólica Romana, que mantinha negros cativos em suas vastas propriedades pelo
Brasil, admitia a escravidão com base na bula “Romanus Pontifex”, do Papa Nicolau V, de 1454, que autorizou
o mercado de africanos, alegando que os negros, sendo pagãos, salvariam suas almas ao serem escravizados
em fazendas de católicos. A elite brasileira, no século XIX, formou sua fortuna com base na lavoura,
completamente dependente do braço escravo. Todos tinham negros cativos, até muitos dos abolicionistas!
Hipocrisia não faltava, como ainda é presente nas atitudes humanas de hoje.
Pois bem, o jeito encontrado pelo governo e sociedade do Brasil, à época, foi fechar os olhos. Os
imperadores D. Pedro I (amigo de farras do Rei do Café) e, depois, D. Pedro II, foram tolerantes com tudo. A
maioria dos deputados, senadores, presidentes de províncias, juízes, autoridades policiais, idem: fez vistas
grossas! Desse modo, a importação de africanos continuou, ainda que ilegalmente, até 1850, com a
promulgação de norma proibitiva mais severa: a também já citada Lei Euzébio de Queiroz. Mesmo assim, entre
1852 e 1854, o Comendador Joaquim José de Souza Breves, seu irmão e sócio Comendador José Joaquim de
Souza Breves e outros fazendeiros de Bananal – SP (Comendador Manoel de Aguiar Vallim, Comendador
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Luciano José de Almeida, Comendador Antônio Barbosa da Silva e Pedro Ramos Nogueira), foram
processados como traficantes de escravos. Foi o famoso "Caso Bracuhy". Pedro Ramos Nogueira, afilhado do
irmão Rei do Café, foi o único, deste grupo, nobilitado no Império de Dom Pedro II, tendo sido agraciado, em
1877, com o título de Barão de Joatinga, ao doar 10 contos de réis para a instrução pública do país. O Barão de
Joatinga foi dono, dentre outras, da famosa Fazenda Loanda, em Bananal, SP, e de uma belíssima ilha em
Angra dos Reis, RJ, cuja casa sede era toda de mármore branco.
Grandes fazendeiros envolvidos com o Rei do Café no “Caso Bracuhy” – 1852/1854. Foram
todos absolvidos por falta de provas.
Comendador Manoel de Aguiar Vallim (1808-1878)
1854)
Comendador Luciano José de Almeida (1797-
Pedro Ramos Nogueira – Barão de Joatinga (1823-1885)
(1795-1879)
Comendador José Joaquim de Souza Breves
Irmão e sócio do Rei do Café.
Encontrei, no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, provas irrefutáveis do envolvimento dos irmãos
Comendadores Breves com o tráfico negreiro. Registros originais mostram apreensão de navios do Rei do
Café, como o União Feliz, em 1835, e outros casos (navio brigue de nome “Destro”, de propriedade do Rei do
Café – desembarcou 457 africanos na Restinga da Marambaia, em 1851). Portanto, é inegável que, a partir de
1831, com a Lei Feijó, até o escandaloso "Caso Bracuhy" (1852/1854), ele, o irmão e outros fazendeiros agiram
à margem da lei.
Os negros sofreram um inferno, a escravidão foi imoral e existiu no Brasil, legalmente, até 13 de maio
de 1888, com o advento da Lei Áurea, como sabemos.
Ter sido um traficante de escravos, como muitos outros fazendeiros da época, entretanto, não faz do
Comendador Joaquim José de Souza Breves uma pessoa indigna. Agiu fora da lei, neste ponto, mas dentro de
um contexto em que teve total conivência do Estado e da sociedade da época. Além disso, foi um brasileiro
apaixonado: ajudou na independência do Brasil, na consolidação do Império, patrocinou o país na Guerra do
Paraguai e levantou divisas como ninguém para a grandeza da economia e manutenção da soberania nacional.
Conta-nos a tradição de família e evidências levam-nos a crer que os Souza Breves eram bons para os
negros, como se depreende de vários depoimentos fidedignos, como os colhidos por Assis Chateaubriand, em
1927, de ex-escravos do Rei do Café. Muitos negros cativos, pertencentes a senhores maus, fugiam para as
fazendas dos Breves, onde eram acolhidos com tratamento que exigia disciplina e trabalho, mas oferecia
condições mais humanas de vida.
“Quis a fortuna que eu me encontrasse na Restinga da Marambaia com os antigos escravos do
Comendador Joaquim José de Souza Breves. Falei a vários deles e de dois pretos colhi até os
nomes: Adriano Junior e Gustavo Victor, este, filho de um antigo escravo de Breves, chamado
Victor, comprado pelo senhor quando adquirira de José Guedes a fazenda do pontal da Restinga
da Marambaia. Adriano Junior residiu na célebre Fazenda São Joaquim da Grama, donde o
senhor o trouxe para vir trabalhar nesta outra fazenda da restinga. Tem para mais de 75 anos e é
pai de 12 filhos, todos morando na Marambaia.
Gustavo Victor parece mais velho. Fala arrastado, como quem procura recompor fragmentos de
história que ninguém nunca lhe veio relembrar. Perguntei que tal era o seu antigo senhor e ele
retrucou:
_ ‘Era um véio bão. Quando via nêgo assentado, depois do serviço, apreguntava se nêgo tava
triste. E mandava reunir a senzala para dançar o cateretê e o batuque, fazendo tocar o bumba de
barriga’.
Parece-me que a mesa era farta nas senzalas dos Breves. Adriano Junior disse-me que o senhor
era o pai da pobreza. Quando vinha de Mangaratiba para a Marambaia, a bordo do vapor
Marambaia, ou do Emiliana, a senzala se alegrava.”
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(Reportagem de Assis Chateaubriand – 1927 – reproduzida no livro “A Saga dos Breves” –
autoria do Padre Reynato Frazão de Souza Breves Filho – páginas 748 a 750)
Como descendente dos Breves, não tenho vergonha de assumir que alguns de meus antepassados
foram traficantes de escravos, pois, como disse, há extensa documentação comprobatória disso e o panorama
histórico era outro. Ademais, a verdade há de ser sempre dita, até para que os erros do passado jamais se
repitam!
O brasileiro é um povo maravilhoso constituído por brancos, negros, índios e outras etnias. Todos seres
humanos, todos iguais. Os pobres negros, quando não mais interessaram, foram libertos e lançados à margem
da sociedade, sem nenhum planejamento para a integração dos mesmos à nova vida emancipada. Ficaram
sem a tutela de seus ex-senhores e abandonados pelo Estado, sem direito a saúde, educação, alimentação e
outros itens básicos para uma vida digna. São verdadeiros heróis! Até hoje sofrem e merecem atenção especial
do governo, que não só foi conivente com a escravidão, mas instituiu-a como lei, por quase 400 anos, situação
que, infelizmente, agora de forma velada e camuflada, como se sabe, perdura em nosso país, principalmente
em regiões mais pobres como o Norte e o Nordeste.
Que Deus abençoe nosso país, perdoe nossas falhas e de nossos antepassados. Que a nação rica que
somos – sexta economia do mundo – deixe de ser, vergonhosamente, uma das últimas em igualdade social e
distribuição de renda.
Fontes de Pesquisa
Museu da Justiça do Estado do Rio de Janeiro:
1) – Inventário de José Joaquim de Souza Breves (1879).
2) – Inventário de Joaquim José de Souza Breves – Rei do Café (1889).
Arquivo Nacional:
1) Ordens honoríficas – Registro Geral das Mercês – Códice 69.
2) Graças Honoríficas – Códice 37.
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro:
1) Carta Imperial provendo a capitão da 2ª. Cia da 4ª. Esquadra da Imperial Guarda de Honra o 2º. Alferes
Joaquim José de Souza Breves – Paço do Rio de Janeiro – 19/10/1828 – DL 665.13.
Arquivo Municipal de Piraí:
1) Livro de Controle Interno das Fazendas do Comendador Joaquim José de Souza Breves.
Biblioteca Nacional:
1) Jornal do Commércio – 1850 a 1855.
Sites:
http://www.slavevoyages.org/tast/index.faces
http://www.brevescafe.xpg.com.br
http://www.turisangra.com.br/naufragio-do-vapor-california/44-1141
Bibliografia:
Doria, Francisco Antônio // Barata, Carlos Eduardo de Almeida (colaboração) - Os Herdeiros do Poder – Rio de
Janeiro - Editora Revan - 1994.
Breves, Armando de Moraes – O Reino da Marambaia – Gráfica Olímpica Editora, RJ - 1966.
Breves Filho, Padre Reynato Frazão de Souza – A Saga dos Breves – Edição Valença SA – 1995.
Breves Filho, Padre Reynato Frazão de Souza – Pirahy nas Atas da Câmara – Editora Valença SA, 2000.
Breves Filho, Padre Reynato Frazão de Souza – Sant’Ana do Piraí e sua História – Diadorim Editora Ltda. –
1994.
Marcondes, Renato Leite - A arte de acumular na economia cafeeira: Vale do Paraíba - Século XIX - Editora
Stiliano - 1998.
Moura, Carlos Eugênio Marcondes de – O Visconde de Guaratinguetá: um fazendeiro de café no Vale do
Paraíba – 2002.
Pasin, José Luiz - “A Jornada da Independência – Guaratinguetá – Vale Livros – 2002.
Salles, João Laerte Salles - “Pindamonhangaba no Grito do Ipiranga” – 1986.
Depoimentos:
Dona Maria José Coutinho e Souza (1919-1998 / avó paterna do autor deste artigo – legítima descendente dos
Souza Breves).
Marco Aurélio Alves Costa
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Advogado em São Paulo
Formado pela Faculdade de Direito da USP – Largo São Francisco
[email protected]
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O Rei do Café - Jornal O Lince