Avaliação ergonômica da operação de aplicação de gel em duas empresas florestais Marcos Dias do Carmo [email protected] Amaury Paulo de Souza [email protected] Luciano José Minette [email protected] RESUMO Este estudo foi desenvolvido com dados coletados em duas empresas florestais localizadas nos Municípios de Belo Oriente e de Santa Bárbara, no Estado de Minas Gerais. O objetivo foi avaliar ergonomicamente a operação aplicação de gel, através de análise do ambiente de trabalho e de avaliações biomecânicas, da carga de trabalho físico e risco de Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT). A operação registrou frequência cardíaca média muito próxima do valor-limite, sendo classificada como moderadamente pesada. O limite de compressão do disco vertebral L 5-S1 foi ultrapassado, e verificou-se altíssimo risco de LER/DORT, expondo os trabalhadores a patologias ocupacionais. Concluiu-se que a operação de aplicação de gel, da maneira que é realizada, encontra-se fora dos padrões ergonômicos recomendados. Palavras-chave: Eucaliptocultura, Ergonomia, Operações florestais. Ergonomic assessment of operation of gel application in two forestry companies ABSTRACT This study was developed with data collected in two forestry companies located in Belo Oriente and Santa Bárbara, Minas Gerais State. The aim was to assess ergonomically the operation of gel application, through analysis of the workplace, biomechanical and physical workload evaluating, and Repetitive Strain Injury / Work-Related Musculoskeletal Disorders (RSI/WRMD) risk. The operation registered a very close limit value average cardiac frequency, been classified as moderately heavy. The recommended value for compression force on L5-S1 vertebral disk has been exceeded, and it was found very high RSI/WRMD risk, exposing the workers to occupational diseases. It was concluded that gel application operation is out in accordance with the recommended standards, how is performed. Keywords: Eucalyptus cultivation, Ergonomics, Forestry operations. __________________________________________________________________________________________________ Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 210-223, Jan./Jul. 2010 210 Avaliação ergonômica da operação de aplicação de gel em duas empresas florestais _________________________________________________________________________________________ 1. Introdução 1.1. Descrição do problema Desde a década de 1990, a expansão do setor de base florestal brasileiro vem-se mostrando notadamente significativa. De acordo com ABIMCI (2011), o setor foi responsável, no ano de 2007, por 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, equivalente a US$ 44,6 bilhões, demandando alternativas em implantação florestal que ofereçam sistemas mais aprimorados e que visem à sustentabilidade econômica, ambiental e social e, principalmente, que busquem por maiores ganhos em saúde e segurança no trabalho. A Ergonomia tem contribuído com o aumento da produtividade e da qualidade final do produto, mesmo tendo como alvo primordial a qualidade de vida do trabalhador florestal. Segundo Fiedler (1998), dependendo da maneira como as atividades florestais são executadas, os trabalhadores, muitas vezes, erguem e transportam cargas com pesos acima dos limites toleráveis e, ainda, de maneira incorreta e continuadamente por vários anos. Logo, a manutenção dessas posturas e cargas, de forma excessiva ou repetida, aumenta o risco de lesões por desgaste das articulações envolvidas, comprometendo seriamente a saúde do trabalhador, o que pode levar, também, a um quadro de Lesões por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT). Além disso, ao se lesionar o trabalhador necessita de tratamento e reabilitação, onerando custos extras ao Estado e ao empregador, além de afetar o seu equilíbrio emocional e psíquico. De acordo com Couto (1995), a capacidade física do ser humano para desenvolver atividades pesadas em geral é muito baixa. Os transtornos de coluna constituem uma das maiores causas de afastamento prolongado do trabalho e de sofrimento humano. As lombalgias, por exemplo, são muitas vezes originadas e agravadas por condições de trabalho inadequadas, e nesse caso tais problemas decorrem da utilização incorreta da “máquina humana”. A operação de aplicação de gel, objeto deste estudo, conhecidamente apresenta vários problemas ergonômicos, como elevada carga de trabalho físico, alta exigência de forças, posturas forçadas e inadequadas, repetitividade de movimentos, esforço estático e ausência de intervalos para recuperação da fadiga, sendo todos esses itens passíveis de medidas apropriadas de correção, através da reorganização do trabalho. 1.2. Definição e aplicação de Ergonomia A International Ergonomics Association (IEA, 2000) definiu Ergonomia como a disciplina científica que investiga as interações entre o ser humano e outros elementos do sistema, aplicando teorias, princípios, dados e métodos a projetos que busquem a otimização do bem-estar humano e do desempenho global de sistemas. Logo, busca-se a redução de fadiga, estresse, erros e acidentes, proporcionando segurança, satisfação e saúde ao trabalhador enquanto elemento fundamental nesse sistema produtivo. A eficiência virá como consequência (IIDA, 2005). Utilizando o conceito e ferramentas da Ergonomia, pode-se, com efeito, mitigar os danos diretos e indiretos sobre o bem-estar e a saúde do trabalhador e, consequentemente, potencializar a eficiência da operação, por meio da adaptação ergonômica do trabalho ao ser humano. Segundo Vidal (2003), para realizar a transformação positiva das situações de trabalho é necessário, essencialmente, modelar a atividade de trabalho, o que é possibilitado pela Análise Ergonômica do Trabalho (AET): caracterizar de que maneira os fatores técnicos, humanos, ambientais e sociais numa situação de trabalho determinam as atividades dos operadores. A AET caracteriza-se como análise sistêmica, holística e integrada. Sua prática consiste em analisar a atividade com relação ao seu contexto físico, avaliando esforço físico exigido, organização postural, dispêndio energético, repouso articulado com a noção de homeostase; ao seu contexto cognitivo, caracterizando a compreensão diagnóstica, decisão operatória e decisão procedimental; e ao seu contexto organizacional, por seu turno esquematizando a divisão do trabalho, a cooperação simples e a constituição dos efetivos. A AET pode ajudar a resolver os grandes problemas de organização do trabalho nas empresas. É cuidando dos problemas precocemente que as ações ergonômicas apresentam seu maior impacto e seu menor custo (VIDAL, 2002). O modelo de análise ergonômica do trabalho utilizado neste estudo, ajustado de acordo com as características da atividade pesquisada, vem sendo __________________________________________________________________________________________________ 211 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 211-223, Jan./Jul. 2010 Marcos Dias do Carmo, Amaury Paulo de Souza, Luciano José Minette _________________________________________________________________________________________ cada vez mais aplicado por especialistas brasileiros em estudos e pesquisas no setor florestal, a exemplo de Minette et al. (2010). Cada vez mais os estudos em Ergonomia vêm-se mostrando importante ferramenta para o levantamento de situações de risco à saúde do trabalhador tanto no setor florestal quanto em diversas áreas, oferecendo oportunidades de melhorias nos processos operacionais e buscando a conformidade desses com a legislação vigente, através de estudos mais detalhados, como o realizado por Carmo (2010). 1.3. Descrição da operação A operação de aplicação de gel é geralmente utilizada no processo de implantação florestal, no plantio manual de mudas da cultura, nesse caso o Eucalyptus sp., aplicando simultaneamente a dose de gel próximo à muda. A operação de plantio manual com aplicação de gel consiste nas etapas mostradas na Figura 1 e discriminadas a seguir. Depósito de gel Depósito de mudas Abastecimento do reservatório de mudas Abastecimento do reservatório de mudas Deslocamento até área de plantio Plantio de mudas Figura 1 - Fluxograma da jornada diária de trabalho na operação de plantio manual com aplicação de gel a) Abastecimento do reservatório costal de gel: o trabalhador retirava o reservatório das costas e colocava-o no solo ou em uma base de apoio adaptada à carroceria do caminhão-depósito. Com o auxílio de regador, transferia o gel do depósito para o reservatório costal, com capacidade para até 22,0 L de gel (Figura 2). Figura 2 - Etapa de abastecimento do reservatório costal de gel b) Abastecimento do reservatório de mudas: o trabalhador transferia as mudas depositadas nas bandejas para o reservatório de transporte que ficava preso à cintura e, em seguida, deslocava-se com o gel e as mudas para o local de plantio (Figura 3). Figura 3 - Etapa de abastecimento do reservatório de mudas c) Plantio: o trabalhador utilizava plantadora manual que possuía dois compartimentos: um para depositar a muda na cova e outro acoplado ao reservatório de gel por uma mangueira para depositar determinado volume da substância próximo à muda. O trabalhador deslocava-se entre as covas e, ao chegar a cada uma delas, enterrava a ponta da plantadora no solo. Apanhava a muda no reservatório de transporte e fazia sua remoção do tubete, introduzindo-a na parte superior da plantadora. Depois, o trabalhador pressionava o pé em torno da muda para firmá-la ao solo, formando uma espécie de calha para retenção de água (Figura 4). Ao terminar o plantio, o trabalhador deixava a plantadora na área e retornava ao depósito de gel e mudas, munindo-se novamente para iniciar um novo ciclo de trabalho. __________________________________________________________________________________________________ Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 212-223, Jan./Jul. 2010 212 Avaliação ergonômica da operação de aplicação de gel em duas empresas florestais _________________________________________________________________________________________ 2.1. Local de desenvolvimento do estudo Os dados foram coletados em duas empresas florestais, A e B, localizadas, respectivamente, nos Municípios de Belo Oriente, Distrito Florestal do Vale do Rio Doce, e Santa Bárbara, região CentroLeste, ambos no Estado de Minas Gerais, durante o mês de abril do ano de 2006. As coordenadas geográficas das empresas A e B eram: 19° 13’ 12” S e 42° 29’ 01” W, e 19° 56’ 15” S e 43°26’15” W, respectivamente. Figura 4 - Etapa de plantio manual das mudas e aplicação do gel 2.2. Amostragem d) Encerramento: a jornada diária de trabalho era encerrada após o cumprimento, pelo trabalhador, da meta de plantar 480 mudas, que era equivalente a seis caixas destas. O kit utilizado na operação de plantio manual com aplicação de gel era composto por um reservatório costal de material plástico com alças para o transporte do gel, um reservatório de mudas preso por um cinto à cintura do trabalhador e uma plantadeira. A capacidade do costal era de 22,0 L de gel, com massa total de 28,4 kg depois de abastecido. A massa da plantadora era de 3,5 kg e do reservatório de mudas, 2,8 kg. As declividades nas áreas de plantio eram, em sua maioria, superiores a 20º, o que dificultava o deslocamento do trabalhador e oferecia riscos de quedas. 1.4. Objetivo O objetivo desta pesquisa de campo foi avaliar a operação de aplicação de gel no processo de implantação da cultura do eucalipto, visando conhecer a realidade de suas exigências ergonômicas e biomecânicas relacionadas à sua realização pelos trabalhadores florestais, de modo a possibilitar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas do ser humano, proporcionando um máximo de conforto e segurança, com desempenho eficiente. 2. Material e métodos O objeto desta pesquisa de campo foi a operação de aplicação de gel no processo de implantação florestal da cultura do eucalipto, através de pesquisas bibliográficas, utilização de técnicas para a coleta de dados e registro dos dados e posterior análise. A população da amostra foi constituída de 100,0% dos trabalhadores florestais envolvidos com a operação de aplicação de gel. Desses, 14 eram trabalhadores da empresa A e oito da empresa B, totalizando 22 indivíduos. 2.3. Avaliação ergonômica da operação Condições de trabalho e perfil do trabalhador Foi utilizado um questionário em forma de entrevista com o objetivo de caracterizar as condições de trabalho e o perfil do trabalhador. Esse método tem a vantagem de incluir na amostragem os trabalhadores analfabetos ou semianalfabetos, além de permitir ao pesquisador familiarizar-se com os termos utilizados no ambiente de trabalho e diminuir a possibilidade de haver interpretação equivocada de perguntas. Foram avaliadas as seguintes variáveis: características da função exercida, ambiente de trabalho, supervisão e treinamento, higiene e segurança no trabalho, escolaridade, ergonomia e postura de trabalho. A análise dos questionários foi realizada por meio de programa estatístico denominado Epi Info (versão 3.3.2 – 2005). Carga de trabalho físico A carga de trabalho físico da operação de aplicação de gel foi avaliada pelo levantamento da frequência cardíaca durante a jornada de trabalho. A coleta e análise dos dados foram feitas pelo sistema Polar Electro Oy. O equipamento, finlandês, consistia de um receptor digital de pulso, correia elástica e um transmissor com eletrodos. Os dados foram obtidos pelo transmissor que era fixado ao peito pela correia e transmitidos ao receptor em __________________________________________________________________________________________________ 213 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 213-223, Jan./Jul. 2010 Marcos Dias do Carmo, Amaury Paulo de Souza, Luciano José Minette _________________________________________________________________________________________ intervalos de tempo predefinidos. Ao término da coleta de dados, estes foram descarregados em um programa que acompanhava o equipamento e, posteriormente, analisados por um software fornecido pelo mesmo fabricante. Foi utilizada a metodologia proposta por Apud (1989) para calcular a carga cardiovascular (CCV) do trabalho, correspondente à percentagem da frequência cardíaca durante o trabalho em relação à frequência cardíaca máxima utilizável, através da seguinte equação: CCV FCT FCR 100 FCM FCR em que: FCT = frequência cardíaca de trabalho; FCM = frequência cardíaca máxima (220 idade); e FCR = frequência cardíaca de repouso. A frequência cardíaca limite (FCL) em bpm (batimentos por minuto) para a CCV de 40% foi obtida pela seguinte fórmula: FCL 0,40 ( FCM FCR) FCR Segundo Apud (1989), quando a CCV ultrapassa 40% (acima da FCL) é necessário determinar o tempo de repouso (pausa), com o objetivo de reorganizar a tarefa, usando a equação: Tr Ht( FCT FCL ) FCT FCR em que: Tr = tempo de repouso, descanso ou pausas, em minutos; e Ht = duração do trabalho, em minutos. Avaliação biomecânica A avaliação biomecânica da operação foi realizada por uma criteriosa análise bidimensional a partir uma série de fotografias e filmes, em que foram registradas diversas posturas adotadas na operação. Depois de selecionadas as posturas e seus ângulos terem sido medidos, os dados foram inseridos no software 2DSSPP (versão 2005), para modelagem e predição de posturas e forças estáticas, desenvolvido pela Universidade de Michigan, em sua versão bidimensional. A análise forneceu a carga-limite recomendada que 99% dos homens e 75% das mulheres conseguem levantar, sendo equivalente a uma força de compressão máxima de 3.426,3 N sobre o disco vertebral L5-S1, que pode ser tolerada pela maioria dos trabalhadores jovens e em boas condições de saúde, de acordo com a metodologia proposta na elaboração do modelo biomecânico. Risco de LER/DORT Utilizou-se para avaliar o risco de surgimento de Lesões por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) o check-list de Couto (COUTO, 2002), que oferece avaliação simplificada do risco de tenossinovites e distúrbios musculoesqueléticos de membros superiores relacionados ao trabalho. Este check-list permite rápida identificação de situações propícias ao surgimento de LER/DORT. O check-list de Couto consiste em uma série de perguntas com respostas triviais associadas a pontuações caracterizando situações relacionadas a sobrecarga física, força com as mãos, postura no trabalho, posto de trabalho, repetitividade e organização do trabalho, ferramenta de trabalho. Respostas para situações isentas de risco correspondem a um ponto cada, enquanto para outras que ofereçam risco, à pontuação zero. Para essa análise foram realizadas filmagens, fotos e observações in loco da operação, sendo, posteriormente, esse material utilizado para responder às questões envolvidas no check-list. Os resultados foram obtidos a partir da soma dos pontos do questionário. A interpretação dos resultados foi feita a partir do seguinte critério: Acima de 22 pontos: ausência de fatores biomecânicos – baixíssimo risco; Entre 22 e 19 pontos: fator biomecânico pouco significativo – baixo risco; Entre 15 e 18 pontos: fator biomecânico de moderada importância – risco moderado; 10 a 14 pontos: fator biomecânico significativo – alto risco; e 15 ou mais pontos: fator biomecânico muito significativo – altíssimo risco. __________________________________________________________________________________________________ Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 214-223, Jan./Jul. 2010 214 Avaliação ergonômica da operação de aplicação de gel em duas empresas florestais _________________________________________________________________________________________ 3. Resultados e discussões A análise dos dados retornou os seguintes resultados, seguidos das respectivas discussões: 3.1. Condições de trabalho e perfil dos trabalhadores obtidos pela entrevista com questionário direto, relacionados a situações do cotidiano do ambiente de trabalho. Como ilustrado na Tabela 2, foram levantadas: média de idade, massa média, altura média, cútis e lateralidade da população de trabalhadores das empresas A e B. A Tabela 1 mostra os dados e informações Tabela 1 - Opinião dos trabalhadores das empresas A e B sobre situações cotidianas do ambiente de trabalho Opinião dos trabalhadores sobre situações no Concordam (%) Concordam (%) cotidiano do trabalho empresa A empresa B Escolheram este trabalho por falta de oportunidades 63,0 66,0 Gostavam do tipo de trabalho que faziam 73,0 34,0 Afirmaram que a tarefa era de difícil execução 45,0 45,0 Consideraram a atividade perigosa 84,0 28,0 O risco de quedas era o principal perigo 75,0 85,0 Consideraram a operação cansativa 100,0 100,0 Motivo cansaço: subir/descer o terreno várias vezes 66,0 90,0 Admitiram faltar ao trabalho 20,0 28,0 Faltavam ao trabalho por duas vezes em um mês 44,0 22,0 Faltavam ao trabalho por dores na coluna vertebral 23,0 14,0 Desejavam mudar de ramo dentro da empresa 48,0 50,0 O cargo de encarregado era o mais almejado 33,0 38,0 Possuíam bom relacionamento com o encarregado 63,0 72,0 Tabela 2 - Dados físicos dos trabalhadores amostrados Valores médios Dados físicos dos trabalhadores Idade (anos) Peso (Kg) Altura (m) Branca Cútis (%) Negra Mestiça Destro Lateralidade (%) Canhoto Empresa A 32,4 68,8 1,70 12,0 32,0 56,0 91,0 9,0 B 34,5 69,7 1,70 14,0 57,0 29,0 29,0 71,0 __________________________________________________________________________________________________ 215 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 215-223, Jan./Jul. 2010 Marcos Dias do Carmo, Amaury Paulo de Souza, Luciano José Minette _________________________________________________________________________________________ Foram levantados os níveis de escolaridade dos trabalhadores, bem como suas opiniões sobre os estudos. Os dados são ilustrados na Tabela 3. Os dados sobre hábitos e costumes dos trabalhadores foram levantados através de entrevista, com os resultados apresentados na Tabela 4. Tabela 3 - Nível de escolaridade e opinião dos trabalhadores das empresas A e B (%) (%) Empresa A Empresa B Nunca estudaram 7,0 - Ensino Fundamental Incompleto 74,0 100,0 Ensino Fundamental Completo 7,0 - Ensino Médio Completo 12,0 - Afirmaram não estudar atualmente 100,0 100,0 Pararam de estudar pela necessidade de trabalhar 58,0 57,0 Pararam de estudar por vontade própria 20,0 43,0 Pararam de estudar por dificuldades financeiras 16,0 - Pararam de estudar por causa da distância 7,0 - Gostariam de voltar a estudar 63,0 100,0 Não voltar a estudar devido ao cansaço (do trabalho) 73,0 86,0 Nível de escolaridade Opinião dos trabalhadores Tabela 4 - Opinião dos trabalhadores, seus hábitos e costumes Opinião dos trabalhadores – Hábitos e costumes Empresa A (%) Empresa B (%) Dormiam em torno das 21 horas da noite 35,0 33,0 Acordavam em torno das 4 horas da manhã 67,0 69,0 Período de sono de 7 horas (média) 31,0 39,0 Afirmaram sofrer insônia 7,0 3,0 Achavam o período de sono suficiente para descanso 86,0 63,0 Não sentiam cansaço no início da jornada de trabalho 81,0 85,0 Sentiam cansaço físico após a jornada diária 58,0 58,0 Trabalhadores ligados ao tabagismo 30,0 50,0 Relaram consumir bebidas alcoólicas 45,0 66,0 Consumiam café durante o trabalho 52,0 50,0 Esforçavam-se para cumprir a meta antes do almoço 83,0 77,0 __________________________________________________________________________________________________ Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 216-223 Jan./Jul. 2010 216 Avaliação ergonômica da operação de aplicação de gel em duas empresas florestais _________________________________________________________________________________________ Em razão da distância entre as residências dos trabalhadores e os locais de trabalho, havia a necessidade de que eles acordassem cedo para serem transportados, através de ônibus das empresas, até o trabalho. O sistema de folgas, em ambas as empresas, correspondia aos sábados, domingos e feriados. Para Fiedler (1998), o alto percentual de fumantes e consumidores de bebidas alcoólicas, mesmo nos finais de semana, é uma característica não satisfatória para a execução do trabalho de alta exigência física, a exemplo da operação de aplicação de gel. Ambas as empresas disponibilizavam para os trabalhadores, durante a jornada diária de trabalho, garrafas térmicas de 5 L para conservar a baixa temperatura da água. De acordo com Minette et al. (2007), as pausas são necessárias para evitar a sobrecarga de trabalho quando se detectam excessos de carga física, por isso não se recomenda a organização do trabalho em metas, visto que o trabalhador, muitas vezes, ignora as limitações do seu organismo, procurando encerrar a tarefa o mais breve possível, ignorando os malefícios das pausas irregulares. Sobre os tipos e frequências das refeições dos trabalhadores, a pesquisa de campo retornou os seguintes dados, descritos na Tabela 5. Dos trabalhadores entrevistados na empresa A, 50,0% tinham maior sensação de fome às 11 h, enquanto para a maioria (67,0%) dos trabalhadores entrevistados na empresa B a mesma sensação ocorria às 10h30. Tabela 5 - Tipos e frequências das refeições diárias realizadas pelos trabalhadores Tipo de refeição Dias de trabalho (%) Dias de folga (%) A B A B Café da manhã 84,0 71,0 74,0 71,0 Lanche da manhã 73,0 71,0 83,0 71,0 Almoço 97,0 86,0 100,0 100,0 Lanche da tarde 44,0 29,0 44,0 71,0 Jantar 99,0 71,0 100,0 100,0 Lanche da noite 20,0 29,0 20,0 71,0 Sobre a sindicalização dos trabalhadores, foram obtidas as seguintes informações através de entrevistas, conforme descrito na Tabela 6. Questionados sobre a importância de serem sindicalizados, a maioria dos trabalhadores da empresa A relatou que o principal motivo era “o auxílio para a futura aposentadoria” e para a metade dos trabalhadores de B, o principal motivo eram “as consultas médicas que o sindicato oferecia”. Sobre o grau de treinamento nas empresas, entre os trabalhadores entrevistados em ambas as empresas, 100,0% deles afirmaram ter recebido treinamento relativo à função por meio do encarregado e do técnico de segurança, com duração média de dois dias, acreditando que esse tempo foi suficiente para o aprendizado. Na Tabela 7, encontram-se as opiniões dos trabalhadores obtidas por meio de entrevistas. Tabela 6 - Grau de sindicalização e opinião dos trabalhadores Opinião dos trabalhadores – Sindicalização Eram sindicalizados Afirmaram conhecer as atividades do sindicato Achavam importante ser sindicalizados Aumento de salário era o maior benefício Empresa A (%) Empresa B (%) 25,0 18,0 43,0 33,0 77,0 67,0 60,0 87,0 __________________________________________________________________________________________________ 217 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 217-223, Jan./Jul. 2010 Marcos Dias do Carmo, Amaury Paulo de Souza, Luciano José Minette _________________________________________________________________________________________ dos trabalhadores, a pesquisa de campo levantou os seguintes dados e informações, descritos a seguir. Dos entrevistados, 12,0% dos da empresa A relataram estar com problemas de saúde na ocasião da entrevista, e, desses, 50,0% acreditavam que esses problemas estivessem associados à execução da tarefa. Doze por cento dos trabalhadores de ambas as empresas relataram sentir dor nos olhos, acreditando ser decorrente do esforço visual durante o trabalho; citaram irritação 35,0% (A) e 38,0% (B). Os trabalhadores acreditavam que esses sintomas estavam relacionados à poeira, e 18,0% deles também consideravam ser a causa de alergia. O desconforto visual pode provocar sensação de cansaço nos olhos, dor, irritabilidade e vermelhidão, obrigando, muitas vezes, o trabalhador a adotar posturas e movimentos inadequados, buscando situações de conforto visual (RIO; PIRES, 2001). Segundo Couto (1995), a sudorese dos trabalhadores pode resultar em irritação ocular e, consequentemente, alguma interferência na tarefa, acentuando os riscos de acidente. Tabela 7 - Opinião dos trabalhadores sobre treinamentos e segurança Opinião dos trabalhadores Empresa Empresa sobre treinamentos e A (%) B (%) segurança no trabalho Afirmaram ter recebido 78,0 88,0 treinamentos na empresa Recebiam treinamento 87,0 71,0 mensal sobre a operação Consideravam importantes os 98,0 98,0 treinamentos Receberam treinamento em 98,0 100,0 segurança no trabalho A operação de plantio florestal manual com aplicação de gel requer cuidado especial com as mudas e com a maneira de plantá-las, bem como conhecimentos para maior segurança no trabalho e sobre atitudes a serem tomadas diante de eventuais situações de emergência. Em relação aos efeitos do trabalho na saúde Partes do corpo em que os trabalhadores relataram dores ou desconforto muscular após a jornada de trabalho 70 66 60 % 50 Coluna vertebral 40 Membros inferiores 40 30 35 35 Ombros Dedos das mãos 20 18 10 0 A B Empresa Figura 5 - Partes do corpo em que os trabalhadores mais alegaram dor ou desconforto muscular após a jornada de trabalho. De acordo com Couto (1995), a postura de pé, quando utilizada na maior parte da jornada de trabalho, pode ocasionar dores nos músculos da panturrilha e surgimento de varizes, principalmente ao se realizar o trabalho transportando cargas pesadas e em ambientes quentes. Sobre as ferramentas de trabalho, a pesquisa revelou as seguintes informações: Para 82,0% (A e B) dos entrevistados, o kit utilizado oferecia boa segurança e encontrava-se em bom estado de conservação. __________________________________________________________________________________________________ Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 218-223, Jan./Jul. 2010 218 Avaliação ergonômica da operação de aplicação de gel em duas empresas florestais _________________________________________________________________________________________ Todos os trabalhadores (A e B) afirmaram que o costal possuía regulagem para altura. Todos os entrevistados, de ambas as empresas, afirmaram que o estofamento do costal não era ideal, pois causava incômodo e elevava a transpiração. Cem por cento dos trabalhadores relataram (A e B) que os controles de acionamento do equipamento eram bem instalados e de fácil acesso e manuseio. Sobre a postura de trabalho, foram obtidos os seguintes resultados, mostrados na Tabela 8. Tabela 8 - Opinião dos trabalhadores sobre a postura de trabalho relacionada à execução da atividade de aplicação de gel Opinião dos trabalhadores – Postura de trabalho Empresa A (%) Empresa B (%) A postura era extremamente desconfortável 77,0 89,0 A postura não podia ser facilmente alterada 47,0 45,0 Havia risco de quedas ao subir e descer o terreno 71,0 79,0 O local de trabalho era de difícil acesso 30,0 25,0 Admitiram ter sofrido acidentes realizando a operação 12,0 - Acidentes associados a quedas por declividades do terreno 100,0 - Segundo Iida (2005), os acidentes geralmente resultam de interações inadequadas entre o homem, a tarefa e o seu ambiente, podendo haver o predomínio de um desses fatores. Logo, a combinação de má postura relacionada com o transporte dos equipamentos e com a dificuldade de locomoção pelo talhão implicava risco potencial para acidentes. 3.2. Carga de trabalho físico A carga cardiovascular (CCV) exigida para a operação de plantio manual com aplicação de gel foi de 41,0% em A e 40,0% em B, estando o primeiro registro citado anteriormente e o segundo exatamente iguais ao valor recomendado por Apud (1989), em sua metodologia. Em ambas as situações, o ciclo de trabalho avaliado foi classificado como moderadamente pesado, visto que a frequência cardíaca (FCT) durante toda a jornada de trabalho foi de 122 bpm (A) e 116 bpm (B), todas acima do limite recomendado. Para Couto (1995), durante uma jornada de trabalho de oito horas a frequência cardíaca não deve exceder a 110 bpm, pois acima desse limite há indicação de fadiga. Em consequência desse ritmo de trabalho, de acordo com Souza e Minette (2002), à medida que aumenta a fadiga, são reduzidos o ritmo de trabalho, o raciocínio e a atenção, tornando o trabalhador menos produtivo e mais suscetível a erros, incidentes e acidentes. As Figuras 6 e 7 ilustram as oscilações da frequência cardíaca dos trabalhadores registradas nas empresas A e B, respectivamente, para a operação de aplicação de gel. Figura 6 - Frequência cardíaca observada durante a operação de plantio manual com aplicação de gel na empresa A, em função do tempo __________________________________________________________________________________________________ 219 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 219-223, Jan./Jul. 2010 Marcos Dias do Carmo, Amaury Paulo de Souza, Luciano José Minette _________________________________________________________________________________________ Quanto mais frequentes e menores, melhor será a recuperação do trabalhador, e ele poderá manter seu ritmo de trabalho. 3.3. Avaliação biomecânica Figura 7 - Frequência cardíaca observada durante a operação de plantio manual com a aplicação de gel na empresa B, em função do tempo Na situação observada na empresa A, a cada 60 min da jornada diária o trabalhador deveria trabalhar 58 min e descansar por outros 2 min. Isso não acontecia devido à organização do trabalho em metas, o que induzia o trabalhador a cumprir sua tarefa rapidamente para ser logo liberado, prejudicando o mecanismo de recuperação de fadiga e oferecendo riscos à sua saúde. As pausas, segundo Silva (2007), proporcionam alívio entre o esforço e o repouso; o organismo humano necessita de períodos de recuperação de energia para que possa manter sua capacidade funcional. Na opinião de Couto (1995), essas pausas representam um mecanismo fisiológico de compensação e de prevenção da fadiga crônica. A avaliação biomecânica foi realizada em quatro etapas: coveamento manual, plantio das mudas, abastecimento do costal e deslocamento entre covas. Nas etapas de plantio e de deslocamento, a carga-limite recomendada foi ultrapassada nas articulações coxofemorais e tornozelos. Apresentaram risco de lesões no disco vertebral L5-S1 e do joelho 17,0%, 23,0% no tornozelo e 26,0% nas articulações coxofemorais. Na etapa de abastecimento, a carga-limite foi ultrapassada em todas as articulações. A Tabela 8 apresenta os resultados da análise biomecânica de ambas as etapas da operação. A sigla SRL (Sem Risco de Lesão nas Articulações) equivale a dizer que mais de 99,0% dos trabalhadores conseguem suportar a carga imposta pela atividade sem risco para as articulações. A sigla CLR (Carga-Limite Recomendada Ultrapassada) indica que menos de 99,0% dos trabalhadores conseguem suportar a carga imposta pela atividade sem risco para as articulações envolvidas. Tabela 8 - Resultado da análise biomecânica da operação de plantio manual com aplicação de gel Etapa Postura Estática Articulações e respectivas condições de suportar a carga, em que: SRL = Sem Risco de Lesão; e CLR = Carga Limite Recomendada Ultrapassada Cotovel Ombros Disco L5-S1 Coxofemorais Joelhos Tornozelos os Coveamento manual CLR CLR CLR CLR SRL SRL Plantio de mudas SRL SRL SRL CLR SRL CLR Abastecimento do costal CLR CLR CLR CLR CLR CLR Deslocamento entre covas SRL SRL SRL CLR CLR SRL __________________________________________________________________________________________________ Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 220-223, Jan./Jul. 2010 220 Avaliação ergonômica da operação de aplicação de gel em duas empresas florestais _________________________________________________________________________________________ Segundo Couto (1995), a sobrecarga postural e o trabalho estático podem gerar fadiga muscular, transtornos osteomusculares e compressão de estruturas nervosas, além do agravamento de lesões prévias em músculos e ligamentos. Os resultados da Tabela 9 indicam na etapa de abastecimento do costal uma força da ordem de 4.724,0 N, valor muito superior ao recomendado pelo modelo biomecânico desenvolvido pela Universidade de Michigan, que é de 3.426,3 N e deve ser evitado, pois oferece sérios riscos à saúde do trabalhador. Tabela 9 - Forças de compressão no disco L5-S1 registradas nas etapas da operação de plantio manual com aplicação de gel, considerando-se o limite recomendado de 3.426,3 N Etapa Plantio Abastecimento Deslocamento Força de compressão no disco l5-s1 (n) 1131,0 ± 67 4724,0 ± 366 1469,0 ± 95 De acordo com Couto (1995), essas forças de compressão excessivas podem ocasionar o surgimento de lombalgia por distensão musculoligamentar, que, mesmo não sendo das mais graves, são recidivantes, podendo, também, ocasionar hipertonia crônica dos músculos, com compressão dos discos intervertebrais e consequente degeneração destes. 3.4. Risco de LER/DORT De acordo com o check-list de Couto (2002), a operação de aplicação de gel apresentou altíssimo risco de LER/DORT, totalizando nove pontos no somatório. Durante a execução das etapas da operação, foi observada alta frequência de movimentos repetitivos, agravados por manuseio de cargas pesadas, ocasionando aumento do risco de lesões por desgaste das articulações envolvidas, fato que contribui para o comprometimento da saúde do trabalhador. Ao se lesionar, esse funcionário é afastado da atividade para tratamento, onerando custos extras ao Sistema Previdenciário do Estado e prejuízos para o empregador, além de alterar o quadro emocional e psíquico do trabalhador. A etiologia das LER/DORT está ligada à exigência de manutenção de posição fixa dos ombros e pescoço por tempo prolongado, uso de máquinas que exigem posturas ou movimentos forçados e, ou, repetitivos, pressão para produzir mais e impossibilidade de pausas (MAENO, 2001). Segundo Silva (2007), as pausas proporcionam alívio entre o esforço e o repouso. As pausas representam mecanismo fisiológico de compensação e prevenção da fadiga crônica. Quanto mais frequentes e menores, melhor será a recuperação do trabalhador, e ele poderá manter seu ritmo de trabalho (COUTO, 1995). O trabalho organizado em sistemas de metas, sem intervalos programados para recuperação da fadiga, oferece riscos de danos osteomusculares, devendo, por tanto, ser evitado. Tendões, músculos e articulações submetidos ao trabalho contínuo e com repetição de movimentos, sem regime de pausas, sofrem alterações e passam a ter dificuldade para obedecer aos comandos do sistema nervoso. Assim, as dores acabam por provocar a diminuição da qualidade do trabalho e da produtividade, afetando diretamente a saúde do trabalhador e expondo-o ao risco de acidentes. O check-list de Couto é um instrumento subjetivo, e para um diagnóstico mais preciso é coerente que também seja feita uma avaliação pelo médico do trabalho. 4. Conclusão Ao final deste estudo, conclui-se que: O ambiente de trabalho estudado proporcionava riscos de acidentes, principalmente em função da necessidade de o trabalhador transportar cargas em terrenos com declividade acentuada, favorecendo o surgimento de dores musculares causadas por posturas forçadas inadequadas ou ferimentos por quedas. O perfil dos trabalhadores revelou uma população de trabalhadores com nível de escolaridade baixo, porém ciente dos riscos de acidentes proporcionados pela atividade por eles exercida, o que evidencia a importância dos treinamentos operacionais e de segurança. A operação de aplicação de gel no setor florestal, da maneira como era realizada nos casos estudados, não se encontrava dentro dos padrões ergonômicos recomendados, necessitando urgentemente de intervenções e ajustes adequados, através da reorganização do __________________________________________________________________________________________________ 221 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 221-223, Jan./Jul. 2010 Marcos Dias do Carmo, Amaury Paulo de Souza, Luciano José Minette _________________________________________________________________________________________ trabalho e adequação das cargas e posturas O sistema de metas adotado nos casos estudados pode oferecer ao trabalhador riscos de lesão e acidentes, pois esse operário tendia a exceder os limites do corpo para cumprir sua meta diária rapidamente, associado a um alto índice de absenteísmo e à sobrecarga física e cardíaca exigida pela atividade. A análise biomecânica da atividade indicou a existência de risco significativo de lesão durante a execução da tarefa em todas as etapas, principalmente naquela de abastecimento do costal de gel, em que o disco vertebral L5-S1 recebia carga acima do limite recomendado e esse mesmo limite foi ultrapassado em todas as articulações, o que demonstrou novamente a necessidade de ajustes técnicos na mesma atividade, pois o trabalhador ficava exposto ao surgimento de patologias ocupacionais. Finalmente, a análise dos riscos de surgimento de LER/DORT indicou, da mesma forma, a necessidade de reorganização da operação de aplicação de gel, pois a execução dessa atividade oferecia risco altíssimo de lesões ao trabalhador, principalmente devido à alta frequência de movimentos repetitivos associados ao esforço estático e ao manuseio de cargas pesadas, presentes na rotina da atividade. 5. Referências ABIMCI – Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente. A Importância do setor para o Brasil: indicadores socioeconômicos da indústria de base florestal. Curitiba, Brasil. Disponível em: <http://www.abimci.com.br/importancia_setor.html>. Acesso em: 19 Jan. 2011. adotadas. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho: manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte: ERGO Editora, 1995. v. 1, 351 p. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho: manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte: ERGO Editora, 1996. v. 2, 383 p. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lições. Belo Horizonte: ERGO Editora, 2002. 202 p. FIEDLER, N. C. Análise de posturas e esforços despendidos em operações de colheita florestal no norte do estado da Bahia. 1998. 103 f. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 1998. IEA – International Ergonomics Association. Definição internacional de ergonomia. Aug. 2000. Disponível em: <http://www.iea.cc>. Acesso em: 19 Jan. 2011. IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2005. 614 p. MAENO, M. Lesão por esforços repetitivos – LER. São Paulo: HUCITEC, 2001. 26 p. (Cadernos de Saúde do Trabalhador). MINETTE, L. J.; PIMENTA, A. S.; FARIA, M. M. et al. Avaliação da carga de trabalho físico e análise biomecânica de trabalhadores da carbonização em fornos tipo “rabo-quente”. Revista Árvore, Viçosa, v. 31, n. 5, p. 845-852, 2007. MINETTE, L. J.; SILVA, E. P.; SOUZA, A. P. et al. Avaliação ergonômica do protótipo de um motocoveador hidráulico, utilizado em atividades de silvicultura florestal. Revista Engenharia na Agricultura, Viçosa, v. 18, n. 6, p. 488-495, 2010. RIO, R. P.; PIRES, L. Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica. 3. ed. Belo Horizonte: Health, 2001. 225 p. SILVA, E. P. Avaliação de fatores ergonômicos em operações de extração florestal em terrenos montanhosos na região de Guanhães-MG. 2007. 111 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2007. APUD, E. Guide-lines on ergonomic study in forestry. Genebra: ILO, 1989. 241 p. SOUZA, A. P.; MINETTE, L. J. Ergonomia aplicada ao trabalho. In. MACHADO, C. C. Colheita florestal. Viçosa, MG: Editora UFV, 2002. cap.10, p. 243-290. CARMO, M. D. Avaliação ergonômica da colheita mecanizada de eucalipto em Monte Dourado, Pará. 2010. 75 f. Monografia (Graduação em Engenharia Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2010. VIDAL, M. C. R. Ergonomia na empresa: útil, prática e aplicada. 2. ed. Rio de Janeiro: Virtual Científica, 2002. 261 p. __________________________________________________________________________________________________ Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 220-223, Jan./Jul. 2010 220 Avaliação ergonômica da operação de aplicação de gel em duas empresas florestais _________________________________________________________________________________________ VIDAL, M. C. R. Guia para Análise Ergonômica do Trabalho (AET) na empresa: uma metodologia realista, ordenada e sistematizada. Rio de Janeiro: Virtual Científica, 2003. 332 p. __________________________________________________________________________________________________ 223 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 1, p. 223-223, Jan./Jul. 2010