ESTRATÉGIAS DE LEITURA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS EM EJA Edineiton Pereira Tejo1 Fabiane Caroline Barreto2 Kátia Melo3 RESUMO: Nosso objeto de estudo parte da seguinte problemática: quais as estratégias de leitura presentes nos livros didáticos de português adotados nas classes de educação de jovens e adultos de uma escola pública? Delimitamos para tal estudo a análise da Coleção Viver e Aprender (Vóvio, 2004) e, para tanto, foi feito um levantamento quantitativo procurando identificar quais as estratégias são acionadas antes, durante e após a leitura nas atividades propostas verificando qual a sua freqüência e a forma de encaminhamento nos livros da referida coleção. Os resultados indicam a prevalência de situações de leitura para localização de informações sobre poucas situações que suscitassem, do aluno, o pensamento reflexivo e a construção do sentido. PALAVRAS-CHAVE: estratégias de leitura, livro didático, educação de jovens e adultos. INTRODUÇÃO A partir das articulações entre os conteúdos teóricos e práticos vivenciados no curso de Pedagogia da UFPE, surgiu o interesse em investigar como os livros didáticos de português, adotadas nas classes de EJA da rede pública de ensino, trabalham as estratégias de leitura. A escolha do tema do presente trabalho é decorrente, então, das discussões sobre o ensino de estratégias de leitura na disciplina de Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa 2 e da constatação, durante as observações feitas nas aulas de português da EJA, de que muitos alunos até sabem ler, mas não compreendem o que lêem, são analfabetos funcionais. _________________ 1 Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE – [email protected] 2 Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE – fabiane.conceiçã[email protected] 3 Professora Adjunta 1 do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino – Centro de Educação – UFPE – [email protected] Atualmente a concepção de leitura postulada, como nos mostra Solé (1998), traz o leitor como um produtor de sentido, atribuindo como elementos 2 básicos para a construção da compreensão o estabelecimento de uma relação entre o sujeito leitor, sua leitura de mundo, a leitura do texto e a orientação dada ao aluno na escola, para que este possa assumir uma posição de reflexão sobre o texto. Solé (1998, pág. 22) também defende que “(...) a leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto; neste processo, tenta-se satisfazer [obter uma informação pertinente para os objetivos que guiam a leitura]”. Em outras palavras, conforme supracitado, deve sempre existir uma função social para esta, pois a interpretação que nós, leitores, fazemos dos textos dependerá, em grande parte, dos objetivos da nossa leitura e estes devem ser levados em conta quando se trata de ensinar as pessoas a ler e a compreender. Já Barbosa, Coutinho e Silva, (2004, p. 42) reforçam essa idéia quando dizem que “a leitura é indispensável para o próprio processo de escolarização. As dificuldades de leitura provocam conseqüências negativas na aprendizagem de todas as outras áreas de conhecimento, pois na esfera científica, o texto escrito é o principal instrumento de circulação do conhecimento (...)” Devemos considerar que devido às peculiaridades da modalidade de ensino em foco neste trabalho, a Educação de Jovens e Adultos, existem concepções e práticas próprias em relação à leitura e ao livro didático. Um ponto chave é que o aluno de EJA tem uma gama de experiências de vida e lê de diversas formas, vinculando essa leitura ao mundo do trabalho e outras interações sociais que ocorrem na comunidade da qual participa. Aprendemos ao longo do curso de Pedagogia, que para que a leitura e a escrita cumpram com sua função social é preciso que sejam conscientes e reflexivas, e não apenas mecânicas. Daí vem a importância de se ensinar as estratégias de compreensão leitora, pois quando bem utilizadas levam o aluno à construção do sentido do texto lido, à descoberta do novo, não desprezando a bagagem intelectual do mesmo, que por ser um jovem ou adulto tem bem mais experiência de vida que um aluno do ensino fundamental. 3 Nesse trabalho, voltamos nossa atenção aos livros didáticos que desde os anos 90 vêm sendo foco de interesse por parte de estudiosos e pesquisadores em geral. Essa atenção é percebida com maior nitidez, quando nos voltamos para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)1. Esse Programa trata-se de um sistema de avaliação, com o intuito de aprovar ou não livros didáticos destinados aos alunos de escolas públicas, contemplando as diversas áreas de conhecimento, ou seja, essa avaliação não contempla apenas os objetivos quanto ao ensino da leitura e da escrita pela criança. Além do que, os livros didáticos se constituem, muitas vezes, no único material didático utilizado pelo educador. Sendo assim, pretendemos analisar como os livros didáticos de língua portuguesa utilizados nas salas de educação de jovens e adultos trabalham a compreensão leitora. Com a evolução ocorrida ao longo dos anos no que se refere ao ensinoaprendizagem da compreensão leitora é que se faz necessário atentar a uma consequente evolução dos materiais didáticos. A finalidade é de obter reformulações tais que contemplem atividades didátícas, as quais se tornem adequadas à realidade inovadora. Então, de que forma, as atividades de compreensão leitora propostas no livro didático atual podem contribuir no processo de formação do leitor na EJA?! Para responder a essa questão, nosso estudo teve por objetivo principal analisar as propostas de atividades de compreensão leitora do livro didático de EJA. Para tanto, buscamos identificar as estratégias de leitura presentes nestas atividades; verificar sua freqüência, buscando responder se tais atividades facilitam ou dificultam a leitura do aluno, nesse contato diário com o livro didático, e procurando indicar as possíveis “lacunas” ou “entraves”; elementos que possam prejudicar o avanço do discente em sua jornada de leituras ou as chaves que vão abrindo as múltiplas portas desse longo 1 O PNLD foi criado em 1995 com o intuito de estabelecer critérios para a avaliação dos livros didáticos, porém a primeira avaliação aconteceu em 1996 e no ano seguinte, através do guia do livro didático, publicou-se os livros que foram aprovados pelo MEC. A partir disso, o MEC faz a divulgação, de 3 em 3 anos, da lista dos livros avaliados e aprovados. Esse programa é uma iniciativa do Ministério da Educação e da Cultura e tem por objetivo a aquisição e distribuição universal gratuita dos livros didáticos para alunos das escolas públicas. 4 caminho, bem como analisar se o livro leva em conta a relação com o quotidiano do aluno. Iniciaremos este artigo com a explicitação dos pressupostos teóricos que embasam a pesquisa para, depois apresentar a metodologia do estudo e os resultados. Leitura e compressão leitora A idéia de leitura está atrelada à noção de texto e às expectativas do leitor perante essa unidade textual. É a partir de suas idéias iniciais sobre o conteúdo, outras experiências com textos escritos ou não que o indivíduo interage com a palavra escrita e assimila / recria a mesma. A partir de um conjunto de noções prévias em relação ao texto é que se dá uma resignificação em torno do mesmo, num processo mediante o qual se compreende o que está escrito, isto é, mesmo que o texto apresente uma significação em si, o entendimento de um escrito para um determinado leitor “(...) não é uma réplica do significado que o autor quis lhe dar, mas sim uma construção que envolve o texto, os conhecimentos prévios e objetivos de leitor que o aborda” (BARBOSA; COUTINHO; SILVA, 2004, p. 120). Nesse sentido, a leitura ultrapassa a decifração do código, e transformase em uma busca pela descoberta e compreensão que vai criando, por sua vez, uma nova necessidade de ler no indivíduo. Os pressupostos mostrados acima evidenciam a relevância da leitura no contexto das turmas de jovens e adultos, pois temos a compreensão que dentro do espaço da sala de aula há diversas expectativas e finalidades quanto ao ato de aquisição da leitura, pois a mesma constitui-se prática social relevante, já que entendemos que a leitura não funciona tão somente como “(...) um ato de interação do leitor com o texto, mas como uma prática de interação de autor e leitor, mediada pelo texto, ou autor(es), leitor(es), ouvintes, mediada pelo texto, todos constituídos em contexto sócio-histórico-ideológico.” (LEAL, 1999, p. 32) 5 Isto é, vai desde o uso instrumental no cotidiano (para ler jornal em busca de emprego, pegar ônibus, fazer lista de compras etc.) quanto a outros objetivos de leitura, como ler por prazer, para buscar informações ou estudar etc. envolvendo, dessa ordem, os vários formatos textuais que circulam em diversas esferas sócio comunicativas. Sabemos que a leitura, como também o seu ensino, não são atividades fáceis nem tão pouco simples, muito pelo contrário, são processos em que se necessita, ao mesmo tempo, manejar com destreza as habilidades de decodificação e guiar essa atividade de acordo com nossos objetivos, idéias, experiências prévias e até mesmo motivação. Para que isso ocorra, as estratégias fazem-se mais do que necessárias, proporcionando oportunidades de se realizar uma leitura eficiente, como veremos no subtópico a seguir. As estratégias de leitura As estratégias de leitura consistem na atividade de acionarmos o conhecimento prévio que temos sobre todos os aspectos envolvidos na leitura, para selecionar informações que possam criar o contexto de produção leitora, permitindo assim, o seu entendimento. Esses procedimentos são operações regulares para abordar o texto e contribuirão para a leitura consciente e reflexiva do material escrito. Sendo um dos focos principais do presente trabalho, pois o mesmo tem como objetivo maior verificar quais as estratégias de leitura estão presentes no livro didático de EJA, o tema em questão é de grande importância para que o leitor, em sua interação com o texto, utilize mecanismos que o levem à compreensão do que está escrito, isto é, que assuma uma posição ativa perante o texto. Ensinar a leitura envolve o ensino de estratégias de abordagem, compreensão e construção de sentido do texto, entes essenciais para a eficácia do discurso, ou seja, a uma noção de linguagem que vai além da idéia sistema ou código ou simplesmente gramática, dentro de uma concepção de linguagem com uso efetivo, com interação entre sujeitos, que pertencem a um determinado contexto histórico e social. Em sua complexidade, a leitura se apresenta como uma atividade cognitiva, que envolve diversos processos no ato de ler, englobando um 6 conjunto de estratégias que são usadas de maneira articulada, permitindo ao leitor que possa antecipar o significado do que está lendo e quase que de forma simultânea, possa verificar se a antecipação feita é correta, e, em caso negativo, retomar uma nova verificação, levantando hipóteses ao se abordar os escritos, levando, desta forma, o leitor a perceber, como indica Solé, que a atividade leitora é “Um processo constante de emissão e verificação de hipóteses que levam à construção da compreensão do texto e do controle desta compreensão – de comprovação e de que a compreensão realmente ocorre." (SOLÉ, 1998, p. 24). Em sua estrutura, cada texto apresenta especificidades, que exigem por parte do leitor estratégias diferentes para apreensão de seu significado; além disso, o leitor assume o rumo em relação à leitura definido por suas expectativas e objetivos diante do texto, acionando mecanismos que permitam o seu entendimento. Para tanto, os leitores mobilizam conhecimentos prévios, lingüísticos, informações vistas em outros textos e conhecimento de mundo. Dependendo do texto (gênero textual), são acionados diferentes mecanismos de compreensão leitora. Utilizamos expedientes e comportamentos diferentes para cada tipo de leitura. Não lemos, por exemplo, uma poesia e um manual de instrução de aparelho da mesma maneira. A utilização desses mecanismos ocorre antes, durante e depois da leitura. Antes da leitura as estratégias são utilizadas no intuito de despertar no aluno a necessidade de ler, bem como para fornecer-lhe recursos para que ele possa enfrentar com segurança a atividade leitora, tornando assim sua aprendizagem significativa. Vejamos a seguir quais são elas: - Motivação: consiste em despertar a curiosidade e o interesse do aluno a fim de que ele sinta-se desafiado; - Fornecer um objetivo para a leitura: através de sugestões de atividades após a leitura, como também estimulando a reflexão sobre as funções sociais do texto, e ainda mesmo a leitura por prazer; 7 - Levantamento de conhecimentos prévios a fim de ativar conhecimentos sobre: o tipo de texto a ser lido, o tema do mesmo, o autor e a função social do texto; - Estabelecimento de previsões através da formulação de questões (professor e aluno) como também exploração dos índices textuais (ilustrações, títulos, diagramação...). Durante a leitura temos a maior parte da atividade de compreensão, como também a maior parte do esforço pelo leitor. Temos a percepção de que elas contribuem tanto para construir uma interpretação possível do texto como para resolver os problemas que aparecem no decorrer da leitura. São exemplos dessas estratégias: - Formulação de previsões e perguntas sobre o texto que está sendo lido: consiste, basicamente em criar expectativas para continuidade da leitura e ativar conhecimentos prévios sobre o tema abordado; - Recapitular, de forma resumida, o que já foi lido através dos seguintes pontos: checar se está havendo compreensão, explorar pistas lingüísticas do texto, monitorar o processo de leitura, verificar se a estratégia de leitura adotada está eficiente; - Esclarecer dúvidas sobre o texto das seguintes maneiras: Interromper a leitura quando o aluno solicitar, para esclarecer dúvidas, levantar hipóteses sobre o que o autor está querendo dizer (para checar durante a continuidade da leitura), consultar dicionário quando necessário, reler o trecho que está parecendo mais difícil. Após a leitura algumas estratégias são reutilizadas, porém agora sob um aspecto um pouco diferente, “pois anteriormente nos ocupamos de alguns destes aspectos enquanto processos que contribuem com a elaboração da compreensão durante a leitura, e aqui verificaremos basicamente sua concretização prática posterior” (SOLÉ – 1998, pág. 133). Entre esses tipos de estratégias, podemos enumerar: - Extração da idéia principal: explica o que é a idéia principal, mostrando exemplos com outros textos, relaciona esta idéia com o objetivo da leitura, 8 como também compara diferentes posições sobre qual seria a idéia principal de um texto e por último, debate sobre a idéia principal de um texto com o grande grupo; - Elaboração de um resumo de diversas formas: oralmente por cada aluno, registrando-o coletivamente, comparar os resumos produzidos, como também realizar resumo de outro resumo; - Responder perguntas sobre o texto como: perguntas literais (respostas explicitamente dadas), inferenciais (respostas inferidas das relações entre partes do texto ou entre informações textuais e contextuais), e de elaboração pessoal. Ao estudar sobre todas essas estratégias citadas para ANTES, DURANTE e APÓS a leitura, percebemos que a compreensão de um texto exige muito mais que o simples conhecimento lingüístico compartilhado pelos interlocutores: o leitor é, necessariamente, levado a mobilizar uma série de estratégias, enfim, participar de forma ativa da construção do sentido. Educação de jovens e adultos e suas peculiaridades Sabemos que, em nosso país, a educação pública no nível básico enfrenta inúmeros problemas, sejam eles de natureza política ou estrutural, como a falta ou inadequação de materiais para desenvolvimento das intervenções, professores que não têm o reconhecimento profissional, e desempenham suas atividades em longas jornadas em troca de salários baixos, fatores que contribuem à desmotivação. Esse atendimento deficitário na educação básica, no Brasil, resultou ao longo dos anos num grande número de jovens e adultos que não tiveram acesso ou não lograram terminar o ensino fundamental obrigatório. Estes fatores somados interferem sobremaneira no processo educativo e a EJA não fica de fora. O Ensino destinado a jovens e adultos atende a uma clientela com características específicas, tais como indivíduos que trabalham, turmas heterogêneas, fato que se reflete pelas diferenças de idade, diversidade cultural, necessidades e expectativas, bem como outros aspectos próprios desse nível de ensino, como um público que vem de uma situação semelhante do ponto de vista sócio-econômico e que não tiveram a oportunidade de 9 estudar na idade adequada ou que por algum motivo tiveram que deixar a escola. Uns dos grandes desafios aos educadores nesse nível de ensino, é o estabelecimento de caminhos e metodologias diferenciados, que sejam criativos, próximos da realidade do alunado, que levem em consideração a cultura e os saberes que esses educandos trazem como bagagem, devendo-se valorizar a experiência extra-escolar, vinculando-se os saberes escolares, os trabalhos e as práticas sociais. Temos a noção de que essa maneira de ensinar os conteúdos, estabelecendo conexões com a realidade do educando (fator que leva o aluno a identificar o valor e a utilidade do estudo em sua vida, por meio de atividades ligadas ao cotidiano) dentro de uma prática interdisciplinar e que relacione esses conteúdos com as experiências de vida dos alunos, é válida nas salas de aula de EJA, pois os alunos tendem a serem mais participativos, trazendo consigo uma bagagem de vida muito interessante ao processo de ensino. Essa escolarização “(...) deve permitir aos jovens e adultos adquirirem o conjunto dos conhecimentos necessários à melhoria de suas condições de vida e de trabalho. Além de criar condições que contribuam para o desenvolvimento da comunidade.” (SOUZA, 1998, p. 41). Neste sentido, trabalhar com jovens e adultos é um constante processo de ensinar e aprender, pois a troca de conhecimentos é uma realidade, sendo indispensável que os alunos tenham a chance de expressar as suas idéias, sendo o professor a figura que deverá potencializar as condições que permitam aos discentes revisar a fundo estas idéias e a ampliar as experiências com outras novas, favorecendo à igualdade de chances, à compreensão global do mundo, assim como facilitar o desabrochar pessoal e coletivo. Os programas de EJA, enfim, devem promover a nível pessoal e coletivo, a auto-estima, o espírito crítico, bem como o desenvolvimento das habilidades necessárias aos alunos dessa modalidade, para que os mesmos possam modificar suas vidas e de suas comunidades, sem deixar de alfabetizálos e de contribuir para o prosseguimento de novas aprendizagens. 10 EJA e formação do leitor Nas turmas de EJA, a grande meta que se apresenta é resignificar o sentido de estar alfabetizado, de entender a leitura e a escrita além da capacidade de conhecer letras, sílabas ou ler e escrever textos simples. Formar cidadãos que se apropriem dos usos, finalidades e características dos diversos textos que existem na sociedade letrada, oportunizando-se o uso, reflexão, e domínio das peculiaridades desses diferentes textos que circulam socialmente tem sido o grande desafio na sala de aula, ainda mais nas turmas educação de adultos, que devido a uma série de fatores relacionados tornam o processo de ensino-aprendizagem mais problemático. A constatação é que, muitas vezes, o conteúdo apresentado na disciplina de português não dá conta do aprendizado dos diferentes gêneros textuais, suas funções e usos. Um caminho a seguir seria o que elevasse o texto em sua variedade de um patamar de ensino-aprendizagem, de uso apenas didático dentro da escola, para um domínio de uso e comunicação efetivo, tal qual se apresenta na sociedade letrada, que buscasse garantir no direcionamento desse ensino, torna-se necessário criar situações sistematizadas de reflexões sobre os aspectos estruturais dessas variedades textuais, além da definição de finalidades e motivações que orientem a leitura, pois “Essa busca pode ser de puro prazer, a busca de informação para alcançar uma meta, a necessidade de registrar algo que não poder ser esquecido (...)” (ALBUQUERQUE E MORAIS, 2004, p. 69). Considerando-se a riqueza cultural presente na sala de EJA, bem como objetivos diversos, desejos e necessidades da turma quanto à aquisição de leitura, evidencia-se ser bastante pertinente direcionar a atenção aos pressupostos supracitados, e, associados aos mesmos, fazer uso da ferramenta, o livro didático, que muitas vezes, se mostra a única disponível, para que se estimule o contato com esses textos de forma proveitosa, dentro e fora da escola. 11 O livro didático e seu papel de formação do leitor Tendo em vista que o livro didático é o material mais utilizado em sala de aula (muitas vezes o único), sobretudo nas escolas da rede pública, que têm carência de outras ferramentas de trabalho, seja por falta de recursos ou má gestão, surgiu o interesse em verificar como está organizada uma coleção adotada nas classes de EJA, em uma escola da rede pública. Sobre esse fato Bezerra, salienta que a importância desse material é tamanha “que o interlocutor dos alunos não é mais professor, mas o autor do livro didático”. Bezerra (2003, p.35) Sendo a ferramenta de apoio ao docente em sala de aula, o livro didático constitui uma tradição nas escolas Brasileiras sendo “difícil se imaginar uma sala de aula sem uma cartilha, uma gramática pedagógica, um volume de coleção seriada” (SILVA, 1994, p. 155). Bem sabemos que por muitos anos houve um descompromisso dos órgãos de educação em relação à qualidade dos livros didáticos adotados nas escolas da rede pública, fator que só contribuiu para dar continuidade para uma prática em sala de aula deficiente, prejudicando o processo pedagógico. Somente em meados da década de 90, O MEC passou a definir critérios para políticas de avaliação de livro didático, sendo o ano de 1996, o marco de criação de um sistema de avaliação oficial, onde a compra dos livros didáticos inscritos no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) passou a ser subordinada à referida avaliação. Dessa maneira, criava-se então um selo de qualidade, baseado em pressupostos definidos em documentos como parâmetros e referenciais curriculares nacionais, para subsidiar as escolas públicas, dando uma garantia de que aquele material seria adequado ao projeto pedagógico a que se destinava, ou que este ou aquele livro atende a determinado pré-requisito ou situação de ensino/aprendizagem. Sob esta perspectiva, o livro didático de Português deve preencher certos requisitos, que proporcionem em seus conteúdos ao educador e ao aluno instrumentos didáticos adequados, dentro de princípios que orientem seus usuários, por exemplo, em atividades capazes de desenvolver competências 12 leitoras autônomas, nos diversos tipos e gêneros textuais, o mais próximo possível do uso cotidiano da língua escrita e que articulem esses conhecimentos lingüísticos às demais áreas de conhecimentos e atividades sociais. Nesse contexto, é nos livros didáticos que buscaremos, nas entrelinhas dos conteúdos/atividades apresentados, quais estratégias de compreensão leitora são acionadas pelos mesmos quando o aluno entra em contato com os fragmentos de diversos textos, em variados gêneros textuais presentes no livro de Língua Portuguesa e se os mesmos contextualizam outras disciplinas ou com as situações de vida do aluno, devendo ter a compreensão de que: “(...) não é o material em si, mas as atividades suscitadas por ele que serão de fundamental importância no ensino da leitura”. (BARBOSA; COUTINHO; SILVA, 2004, p. 124). Dessa forma, pretendemos verificar como o livro explora em seu conteúdo de língua portuguesa as estratégias para antes, durante e depois da leitura; outro ponto a ser levantado é como se dá a interação com os alunos em relação ao acionamento dos conhecimentos prévios e a contribuição para que ocorram previsões sobre o que será lido ou se o livro traça objetivos para as leituras, guiando a ação do aluno perante os textos. Ainda sobre o conteúdo do livro, temos a intenção de investigar se o arranjo de suas atividades contribui para a autonomia dos alunos em relação aos textos do livro e fora dele. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente trabalho teve como objetivo analisar, através de uma pesquisa documental, como as atividades de leitura dos livros didáticos da EJA abordam as estratégias de leitura. Os livros didáticos selecionados para análise neste estudo foram os da coleção “Viver e aprender” (Autora: Cláudia Lemos Vóvio; Editora: Ação Educativa, São Paulo, 2004, Brasília, MEC) utilizada em uma escola pública da cidade de Olinda. A coleção analisada é composta por três volumes, organizados por módulos, que por sua vez estão divididos em unidades, envolvendo as disciplinas de língua portuguesa, matemática, 13 elementos de geografia, história e cidadania e ciências da natureza. Nossa análise restringiu-se à área de língua portuguesa. Considerando-se a relevância do livro didático como principal material de apoio do professor em sala de aula, sobretudo nas escolas da rede pública, e a importância de se verificar se os seus conteúdos auxiliam o trabalho do docente no processo de construção leitora dos alunos; bem como se contribuem de alguma maneira para que esses últimos utilizem as estratégias de compreensão leitora de forma que os tornem sujeitos autônomos, perante os diversos textos com os quais se deparam, buscamos utilizar procedimentos metodológicos que enfoquem tais aspectos. Para tanto, fizemos a opção por fazer uma pesquisa, na qual se pretendeu analisar uma coleção de livro didático utilizados na EJA, utilizando tanto uma abordagem quantitativa, no momento de tabular e classificar os dados coletados no material analisado no que se refere à diversidade e freqüência das estratégias de leitura presentes nas atividades sugeridas no livro didático, quanto a um direcionamento qualitativo, fundamentado numa perspectiva crítica em relação ao conteúdos/exercícios dos livros tendo por base, os pressupostos teóricos relacionados ao tema, delineados no referencial teórico. RESULTADOS Como foi proposto neste trabalho, analisou-se a Coleção Viver e Aprender (Vóvio, 2004) sob os seguintes aspectos: se a leitura está sendo trabalhada como função social, de forma reflexiva e consciente, considerando a bagagem de conhecimentos dos alunos, que por serem jovens ou adultos já possuem experiências em muitos assuntos. Como também se estão sendo utilizadas estratégias adequadas para o desenvolvimento da compreensão de tal leitura, se há presença de temas que tenham a ver com o cotidiano dos alunos de EJA, e ainda, se há presença da interdisciplinaridade nos textos e nas atividades de leitura. Em suma, procuramos identificar os pontos positivos e negativos presentes nas atividades de compreensão leitora dos livros 14 didáticos da referida coleção, analisando em que medida contribui positiva ou negativamente para a boa formação do leitor de EJA. Durante a análise observamos que as atividades dos livros em estudo apresentam temas e gêneros variados, que possuem relação com o cotidiano da clientela discente a qual se destinam como mostram os quadros I e II, abaixo: QUADRO I X X III X X X CONTO X DESCRIÇÃO X PROPAGANDA OSTAL GRÁFICO II X MÚSICA X P DOCUMENTO I CARTÃO- CARTA JORNAL NOTICIA DE Vol. POEMA GÊNEROS TEXTUAIS X X X X X QUADRO II Vol. TEMAS ABORDADOS I AMOR, SERTÃO DE PE, TRABALHADOR DE FEIRA LIVRE, ANALFABETISMO II SEDE, FOME, POPULAÇÃO URBANA E RURAL, AMOR, LAMPIÃO, SELEÇÃO BRASILEIRA III CANA-DE-AÇÚCAR, FESTAS REGIONAIS, POBREZA, CAMELÔ, COMIDA, MANGUE Os livros também contextualizam tais atividades articulando com os conteúdos de outras disciplinas. Para um aluno de EJA, tais aspectos se mostram pertinentes se considerarmos que a intenção de tais tarefas seria não somente de familiarizálos com as novas palavras e a maneira de escrever as mesmas, mas de permitir que o discente possa adquirir a capacidade de identificar e fazer uso 15 dos mais diversos gêneros textuais presentes em seu cotidiano sem restringir a leitura aos textos que estão presentes nos capítulos dos livros, muitas vezes condensados ou resumidos ou fora de um contexto real. Um exemplo disso pode ser verificado na unidade IV do vol. III que tratou do gênero propaganda, o qual está bastante presente no dia-a-dia, através dos meios de comunicação de massa (rádio, TV...) e meios de divulgação nas vias públicas (placas, faixas, outdoors, feiras livres, ambulantes) sendo esse gênero de alcance amplo da clientela EJA. Foram enumeradas nessa unidade as peculiaridades de uma propaganda, e pediu-se, através das atividades, que os alunos identificassem qualidades dos produtos, atrativos e vantagens que a aquisição do mesmo traria, e também que os próprios educandos divulgassem produtos por meio de suas produções textuais, onde se pediu que ilustrassem seus materiais descrevendo atributos para atrair clientes, conforme pode ser visto no anexo 4. Durante a análise, percebeu-se que a freqüência de atividades de língua portuguesa voltadas para a compreensão da leitura é maior no Vol. 3. Foi constatado que os volumes seguem uma ordem crescente quanto à quantidade das referidas atividades, conforme mostra o quadro III, abaixo: QUADRO III VOL. QTDE. DE ATIVIDADES DE COMPREENSÃO LEITORA I 29 II 64 III 81 Também é válido citar que a coleção não traz nenhuma atividade envolvendo as estratégias de durante a leitura, mas apenas antes ou após a mesma, isso pode ser visto nos anexos 1, 2 e 3, onde temos levantamento quantitativo de cada volume da coleção, bem mais detalhado. Nesse aspecto os três volumes deixaram a desejar, pois é sabido que é durante a leitura que se dá a maior parte da construção compreensão, momento em que se podem utilizar estratégias para estabelecer relações entre nossos conhecimentos 16 anteriormente constituídos e as novas informações contidas no texto, bem como para fazer inferências, comparações, previsões através da formulação de perguntas relacionadas com o conteúdo do texto que está sendo lido. E ainda, processar, criticar e avaliar as informações ao longo da leitura, permitindo assim uma auto-regulação do processo e contribuindo para a formação de um leitor autônomo. É sabido que ao longo da atividade de leitura, “ o aluno deve saber refletir sobre a informação recebida, contrastá-la com suas idéias prévias e, partindo desse contraste, reformular, se necessário, as idéias que tinham.” (SERRA & OLLER, 2003, p. 41) Quanto à distribuição das estratégias utilizadas antes da leitura vejamos o quadro IV, a seguir: QUADRO IV VOL. TIPOS DE ESTRATÉGIAS OBJETIVO PARA LEITURA MOTIVAÇÃO PREVISÃO I X X X II X X III X X LEV. DE CONHEC. PRÉVIOS X X X Com esses dados observa-se que em relação à diversidade da tipologia das estratégias, as mais utilizadas e conhecidas, aparecem nos livros da coleção analisada. Mesmo não estando todas elas em todos os volumes, pelo menos, as duas que podem ser consideradas imprescindíveis para uma boa leitura: objetivo e motivação aparecem nos três livros. Sabe-se que a constante interação entre o conteúdo do texto e o leitor é regulada pela intenção com que se lê o texto, pelos objetivos da leitura, são eles que nortearão o modo de leitura, em mais ou menos tempo; com mais ou menos atenção, com mais ou menos interação. Vale salientar também que é de suma importância a motivação para a leitura, pois sendo assim, o sujeito leitor encontrará sentido para ela. Apresentar o objetivo da leitura já é uma forma de motivar que juntamente com 17 outros argumentos, geralmente desafios ou estabelecimento de relações afetivas entre o leitor e a língua escrita tornam a leitura mais interessante. Em relação à quantidade, enquanto nos volumes I e II, os objetivos para a leitura foram as estratégias que menos apareceram, no volume III esta teve destaque: de 21 atividades de estratégias antes da leitura, ela correspondeu à 13 destas. Na maioria dos casos a sugestão era ler com o propósito de se preparar a fim de socializar o texto para o restante da turma, ou seja, preparar-se para ler com clareza, rapidez, fluência e correção, pronunciando adequadamente, respeitando as normas de pontuação a entonação requerida. Observa-se que nesse caso a compreensão torna-se secundária. Sendo este outro aspecto negativo da coleção em análise, pois o interessante é que as estratégias de compreensão de leitura sejam utilizadas para que os alunos construam um significado para o texto, e não apenas decodifiquem-no. No que diz respeito à motivação para a leitura, a coleção traz uma média de três incidências por livro. As estratégias de formulação de previsão e levantamento de conhecimentos prévios poderiam ter sido mais utilizadas na coleção, pois são os conhecimentos e experiências do leitor, que fazem parte dos conhecimentos prévios, que irão servir de base para a geração de hipóteses sobre o texto a ser lido, e consequentemente possibilitará a construção de ligações entre o que já se sabe e o que se lê. É importante ativar os conhecimentos prévios do leitor que lhe vão ser úteis para entender o texto que tem à sua frente. Pode acontecer de o leitor não ter os conhecimentos prévios necessários para poder ler/compreender o texto, geralmente isso ocorre quando não temos experiência no assunto do texto a ser lido. A exploração dos índices textuais (cenário, personagens, títulos, ilustrações, autor) é uma forma muito interessante de se formular previsões sobre o texto a ser lido, mas que pouco apareceu nos volumes analisados. Essa estratégia oportuniza que o leitor torne-se protagonista da atividade de leitura, pois as suas contribuições são necessárias para a leitura e ele vê nesta um meio de conhecer o texto e de verificar suas próprias previsões. 18 No geral, em relação a todas as estratégias utilizadas antes da leitura o vol. III foi o que mais trouxe objetivos para a leitura despertando a necessidade de ler e, assim, colaborando para que o aluno descobrisse as diversas utilidades da leitura em situações que promovam uma aprendizagem significativa. Esse livro foi o que mais proporcionou recursos para que estes pudessem enfrentar a leitura com segurança, confiança e interesse, como também para que se tornassem leitores que sabem por que lêem e que assumem sua responsabilidade ante a leitura. No que diz respeito à distribuição das estratégias empregadas após a leitura, analisemos o quadro V, abaixo: QUADRO V Vol. TIPOS DE ESTRATÉGIAS EXPLICITAÇÃO/EXTRAÇÃO PERGUNTA PERGUNTA PERGUNTA ELABORAÇÃO DA IDÉIA PRINCIPAL LITERAL PESSOAL INFERÊNCIAL DE RESUMO I X X X X II X X X X X X X X III X De acordo com os dados acima se constata que nas atividades propostas após a leitura há incidência das principais estratégias. Como pode ser visto, quase todas elas aparecem em todos os volumes, com exceção da estratégia de explicitação da idéia principal, que só aparece no vol. III da coleção, fator que consideramos como ponto negativo para a coleção em análise, pois, segundo Solé (1998, pág. 138) “... a idéia principal resulta da combinação entre os objetivos de leitura que guiam o leitor, entre os seus aspectos prévios e a informação que o autor queria transmitir mediante seus escritos. Entendida deste modo, a idéia principal seria essencial para que um leitor pudesse aprender a partir de sua leitura e para que pudesse realizar atividades associadas a ela, como tomar notas ou elaborar resumos.” 19 Quanto à quantidade, a estratégia mais freqüente foi a de pergunta literal. Isso nos leva á conclusão que a maioria das atividades dos volumes da coleção Viver e Aprender são mecânicas e não levam o aluno a reflexão do que foi lido, pois as respostas para esse tipo de pergunta se encontram literal e diretamente no texto, resumindo-se a uma simples localização de informação, não precisando o aluno refletir para responder, já que geralmente, a própria pergunta oferece uma pista para o leitor responder. Para ilustrar segue a questão do vol. I, pág. 5, transcrita abaixo: QUADRILHA Carlos Drummond de Andrade João amava Tereza que amava Raimundo Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili Que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Tereza para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para a tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. 1. Qual é o nome do autor desse poema? 2. Qual é o título desse poema? 3. Procure no poema nome de pessoas e copie no seu caderno. Observando as questões acima, sabe-se que mesmo o aluno respondendo corretamente a elas, não é o suficiente para sabermos se ele compreendeu o texto lido, o discente já encontra a resposta explícita. Nem ao menos dá para saber se o leu, pois neste exemplo não é necessário ler o texto para localizar as respostas. Não que esse tipo de estratégia seja ruim, mas ela, como todas as outras, só deveria ser utilizada em situações adequadas, que tenham sentido, como na questão do vol. II pág. 6, sobre documentos de identificação, conforme abaixo: 20 2. Olhe o seu RG (Registro Geral) ou Carteira de Identidade e escreva no caderno: a) Qual é o número do seu RG? b) Qual é a data de expedição do seu RG? c) Qual é o órgão expedidor? As atividades dos livros da Coleção Viver e Aprender propostas para após a leitura deveriam trabalhar mais a compreensão leitora, trazendo mais questões inferenciais, perguntas de elaboração pessoal, bem como elaboração de resumos, para que fosse estimulada uma leitura reflexiva e consequentemente contribuísse para a formação de um leitor de EJA: autônomo, consciente e reflexivo. Solé (1998, pág. 160) defende que “talvez não fosse muito difícil pensar em que perguntamos e para que perguntamos, para transformar nossas questões em perguntas pertinentes; isso contribuiria para modificar esta prática em duplo e proveitoso sentido.” O professor elaboraria questões que permitissem aos alunos se autointerrogarem como também teria mais precisão sobre os aspectos a serem avaliados quando da formulação das questões. E como resultado disso, o professor saberia qual a melhor forma de intervir para auxiliar na formação de um bom leitor. Como pode ser visto através dessa análise, encontramos na Coleção Viver e Aprender as principais estratégias estudadas, porém as atividades de compreensão leitora deixaram a desejar no sentido de trabalhar mais a leitura reflexiva, em que o aluno construa o sentido, onde ele confronte a sua bagagem de conhecimentos com o “novo”, trazido pelo texto. Levando-o a pensar para responder, ou seja, a ser um leitor ativo, e não somente localizar uma informação explícita do texto. 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS Partindo de nossa proposta inicial, a de analisar as estratégias de leitura contidas nos livros didáticos de língua portuguesa adotados em EJA, acreditamos termos atingido nossos objetivos, pois através da análise da coleção Viver e Aprender (Vóvio, 2004) pudemos conhecer melhor a dinâmica de organização e direcionamento das atividades, nesses livros. Obtivemos a impressão, com o presente estudo, de que, mesmo existindo avanços quanto aos conteúdos dos livros didáticos (presença de gêneros textuais variados, interdisciplinaridade, contextualização com a realidade do discente), em certos aspectos ainda há muitas atividades mecânicas, que exploram somente, por exemplo, a localização direta de informações, sem existir a preocupação em ensinar aos educandos a explorar, dentro da própria leitura, mecanismos que o tornem um leitor ativo e autônomo. Compreendemos que por si só, o livro didático não dá conta da compreensão da leitura, cabendo ao educador, o papel de mediador nos momentos de realização das atividades, instigando, despertando o interesse, desafiando aos alunos a reformular o pensamento e a adquirir autonomia nas leituras diárias dentro e fora da escola. Também é válido salientar que não tivemos acesso aos manuais do professor, analisamos apenas os livros da referida coleção. A presente problemática apresenta-se como um estímulo à realização de novas reflexões teóricas em relação a outros aspectos da língua portuguesa (oralidade, produção textual, variedade lingüística) presentes nos livros didáticos utilizados nas escolas, sobretudo da rede pública, que carecem de uma atenção maior, frente ao desafio de se ensinar não somente língua materna, mais seus usos e interações nos diversos espaços da vida escolar e pessoal. A relevância desse estudo está no fato de o mesmo identificar, de forma simples e didática, as principais estratégias que o leitor de EJA tem à sua disposição, através do material didático disponibilizado pelo governo, para, no momento da leitura, tomando como ponto de partida as pistas que o texto lhe oferece, construir um sentido que seja compatível com a proposta apresentada pelos autores dos textos lidos pelo mesmo. 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, Eliana B. C. de e MORAIS, A. G. – “Alfabetização e Letramento: O que são? Como se relacionam? Como alfabetizar letrando?.” IN: ALBUQUERQUE, E., LEAL, T. A alfabetização de jovens e adultos em uma perspectiva de letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. BARBOSA, Maria Lúcia F. F., COUTINHO, Marília L., SILVA, Alexandro – “Quando os alunos não sabem ler... Algumas reflexões sobre a leitura na alfabetização de adultos.” IN: ALBUQUERQUE, E., LEAL, T. A alfabetização de jovens e adultos em uma perspectiva de letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. BEZERRA, Maria Auxiliadora , DIONISIO, Ângela Paiva. O livro Didático de Português – Múltiplos Olhares. 2º ed. Rio de Janeiro: Ed. Lucerna, 2003. LEAL, Telma Ferraz. Prática social de leitura na escola e na sociedade. Leitura: Teoria e Prática. Ano 18. Campinas, ALB, Dez/1999. SERRA, J. , OLLER, C. Estratégias e leitura e compreensão do texto no ensino fundamental e médio. IN: TEBEROSKY. Ana. (et. Al). Compreensão de leitura: a língua como procedimento. Porto Alegre: Artmed, 2003. SILVA, Ezequiel Theodoro da Silva. Contribuições ao debate sobre o material didático de língua portuguesa. Leitura Teoria e Prática. Ano 13, n.º24, Campinas, ALB, Dez/1994. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998. SOUZA, João Francisco de. Educação de jovens e adultos. Recife: NUPEP, UFPE, 1998. VÓVIO, Cláudia Lemos. Coleção: Viver e Aprender – 3 volumes. São Paulo: Ação Educativa, MEC, 2004. 23 ANEXOS ANEXO 1 ESTRATÉGIAS DE LEITURA: VIVER E APRENDER VOL. 1 TIPO 1. Motivação: Despertar curiosidade ANTES QTDE. 3 2. Localização de informação 5 3. Objetivo: - Socializar - Refletir sobre a função social do texto 1. Pergunta Inferencial 2 2. Pergunta Literal 11 3. Pergunta Pessoal 3 4. Resumo 1 4 APÓS TOTAL 29 24 ANEXO 2 ESTRATÉGIAS DE LEITURA: VIVER E APRENDER 2 TIPO ANTES APÓS TOTAL 1. MOTIVAÇÃO: DESPERTAR O INTERESSE EM RELAÇÃO AO TEMA 2. LEVANTAMENTO DE CONHECIMENTO PRÉVIO 3. OBJETIVO PARA LEITURA 1. PERGUNTA PESSOAL 2. PERGUNTA INFERENCIAL 3. PERGUNTA LITERAL 4. RESUMO 59 QTDE. 8 4 5 8 8 25 1 25 ANEXO 3 ESTRATÉGIAS DE LEITURA: VIVER E APRENDER 3 TIPO 1. Previsão: Exploração dos índices textuais ANTES 2. Objetivo: - obter informação precisa - obter informação geral - sugestão de atividade após a leitura - estimular a reflexão sobre as funções sociais do texto QTDE. 4 11 3. Motivação: Despertar o interesse 3 APÓS 4. Resgate de conhecimentos prévios 5. Localização de informação 1.Pergunta literal 3 1 38 2. Pergunta inferencial 10 3. Pergunta pessoal 12 4. Extração da idéia principal 5. Resumo TOTAL 2 1 81 26 ANEXO 4 Será a cópia de uma atividade do vol. 3, sobre propaganda.