Artigo
Qualidade microbiológica do leite cru no município de
Pontalina, GO
Microbiological quality of raw milk in the city of
Pontalina, GO
Resumo
O leite é um alimento de grande importância nutricional, sendo consumido por pessoas de todas as idades. Atualmente existe uma preocupação da sociedade em consumir alimentos de boa qualidade, sendo necessário que este seja obtido em condições
adequadas de higiene, caso contrário podem ser desencadeadas várias doenças no
organismo do ser humano. Partindo deste pressuposto, o objetivo deste trabalho
foi identificar a qualidade microbiológica de amostras de leite cru comercializadas
informalmente no município de Pontalina, GO, sendo feita a contagem padrão de
micro-organismos mesófilos aeróbios estritos e facultativos viáveis em ágar PCA e
a determinação do número mais provável (NMP/ml) de coliformes totais e coliformes
fecais, comparando os resultados obtidos com a legislação vigente, a Instrução Normativa 62/2011 do MAPA. Também foram identificados gêneros de bactérias da família Enterobacteriaceae em meios de cultura específicos. As amostras em desacordo
com os padrões estabelecidos pela legislação foram: 100% de micro-organismos
mesófilos aeróbios estritos e facultativos viáveis, 88,9% de coliformes totais e 83,3%
de coliformes fecais. O total de amostras analisadas neste trabalho apresentou contaminação pelos seguintes gêneros de Enterobácterias: 100% por Escherichia coli;
5,5% por Salmonella spp.; 27,8% por Shigella spp., 61,1% por Klebsiella spp., 61,1%
por Enterobacter spp. e 61,1% por Proteus spp.
Luane Firmino de Souza¹
Mara Lucia Lemke de Castro²
¹Graduada em Ciências Biológicas
na UEG UnU Morrinhos, PBIC Universidade Estadual de Goiás
²Doutora em Agronomia, EA Universidade Federal de Goiás.
Bolsista do CNPQ
Correspondências:
Mara Lucia Lemke de Castro
[email protected]
Palavras-chave: contaminação, patogênicos, salmonelose, shigellose
Abstract
Milk is a food of great nutritional importance, being consumed by people of all ages.
Currently there is a concern of society to consume good quality food, requiring that it be
obtained in adequate conditions of hygiene, otherwise can be triggered various diseases
in the human body. Under this assumption, the objective of this study was to identify
the microbiological quality of raw milk samples marketed informally in the municipality of
Pontalina, GO, being made a standard score of mesophilic aerobic microorganisms strict
and facultative viable PCA agar and determining the number more likely (MPN / ml) of total
coliforms and fecal coliforms comparing the results obtained with the current legislation,
Normative Instruction 62/2011 of the MAP. Were also identified bacterial genera of the
family Enterobacteriaceae in specific culture media. Samples at odds with the standards
established by the legislation were: 100% micro-organisms strict and facultative aerobic
mesophilic viable, 88.9% of total coliforms and 83.3% of fecal coliforms. The samples
analyzed in this study were contaminated by the following genera of Enterobacteriaceae:
100% for Escherichia coli, 5.5% for Salmonella spp. 27.8% for Shigella spp., 61.1% for
Klebsiella spp., 61.1% by Enterobacter spp. and 61.1% by Proteus spp.
Keywords: contamination, pathogenic, salmonellosis, shigellosis
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Introdução
No Brasil, é proibida pelo Decreto-Lei nº. 923, de 10 de outubro de 1969, a comercialização do leite cru para consumo
direto (BRASIL, 1969). Contudo, este tipo de comércio ainda
é muito comum em cidades do interior, devido ao preço relativamente baixo do leite cru, pelos hábitos alimentares da população e pela falta de conhecimento sobre os riscos que o leite
sem nenhum tratamento térmico oferece à saúde pública, já
que este não está livre de micro-organismos patogênicos podendo causar inúmeras doenças (SOARES, K.M.P. et al., 2010;
AMARAL C.R.S., SANTOS E.P., 2011). O leite na sua forma líquida possui grande disponibilidade de água e apresenta pH
neutro e grande quantidade de nutrientes, e todos estes fatores
juntos contribuem para que seja um excelente meio de cultura
para o crescimento de inúmeros micro-organismos (LEITE, C.
C., et al., 2002; ARCURI, E. F., 2006).
A qualidade microbiológica de um alimento pode ser definida pela presença ou ausência de micro-organismos indicadores de contaminação fecal, como as bactérias do grupo coliforme. Os coliformes são bastonetes gram-negativos que vivem
no trato intestinal do homem e de animais. São pertencentes à
família Enterobacteriaceae. Dentre os principais gêneros temos
a Escherichia spp., Salmonella spp., Shigella spp., Enterobacter
spp., Klesbiella spp., Serratia spp., Proteus spp., Providencia
spp. e Citrobacter spp. (SOUSA, C.P., 2006).
O objetivo desta pesquisa foi identificar a qualidade microbiológica no leite cru verificando a presença de bactérias,
fazendo a contagem padrão de micro-organismos mesófilos
aeróbios estritos e facultativos viáveis em ágar PCA, e a determinação do Número Mais Provável (NMP/ml) de coliformes
totais e coliformes fecais comparando os resultados obtidos
com a legislação vigente, a Instrução Normativa 62/2011 do
MAPA-Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Foi
realizada também a identificação de gêneros de bactérias da
família Enterobacteriaceae em meios de cultura específicos em
amostras de leite provindas do município de Pontalina, GO.
Material e Métodos
Coletas
Durante os meses de agosto de 2012 a janeiro de 2013,
foram coletadas mensalmente pelo período da manhã,
amostras de leite cru comercializadas informalmente por
três fornecedores diferentes, no município de Pontalina –
GO, perfazendo 18 amostras. Os fornecedores tinham ciência de que estavam participando de uma pesquisa e de
que teriam total sigilo sobre suas identificações. Assim, as
amostras de leite cru de todos os fornecedores foram obtidas em garrafas pet de 2 litros conforme eram destinadas à
comercialização.
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Para facilitar o transporte dessas amostras até o local
de análise, as mesmas foram transferidas do recipiente de
origem para frascos esterilizados com capacidade de 80 ml,
sendo em seguida acondicionadas e refrigeradas em caixa
isotérmica, e levadas para análise no laboratório de Microbiologia do IF Goiano - campus Morrinhos e no laboratório
de Biologia da UEG - Morrinhos.
Quantificação de bactérias mesófilas
Primeiramente, foi feita a contagem direta de bactérias
em ágar PCA utilizando o leite cru, conforme o manual de
métodos analíticos oficiais para analises microbiológicas
para controle de produtos de origem animal e água, recomendados na Instrução Normativa nº 62 do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2003). Depois foi realizada a técnica de diluições seriadas cujo princípio é a diluição progressiva da suspensão bacteriana.
Foi inoculada uma alíquota de 1 mL de uma suspensão
concentrada, sendo feita a transferência da cultura para
uma solução de água peptonada esterilizada com volume
previamente determinado de 9 mL. Foi feita a contagem de
bactérias com a amostra pura e com as diluições 10-1,10-2,
10-3, 10-4, 10-5 e 10-6 espalhadas com alça de platina por
meio da técnica de profundidade em placa de Petri, usando
Ágar Plate Coute (PCA).
Após 48 horas na estufa a 37°C, foi realizada, em cada
amostra, a contagem de bactérias mesófilas conforme dito na
metodologia, sendo em seguida realizado o cálculo da média
aritmética dos valores encontrados. Os resultados foram expressos em unidades formadoras de colônias por mililitro (UFC/mL).
Técnica do Número mais Provável (NMP/ml)
Para determinar a presença de coliformes totais e coliformes fecais foi feita a técnica do Número mais Provável
(NMP/ml), conforme o manual de métodos analíticos oficiais
para análises microbiológicas para controle de produtos de
origem animal e água, recomendados na Instrução Normativa nº 62 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2003), que se baseia em três etapas: prova
presuntiva, prova confirmativa para coliformes totais e prova confirmativa para coliformes termotolerantes.
Prova presuntiva: foi transferida uma alíquota de 1 mL de
uma suspensão concentrada, sendo feita a transferência da
cultura para uma solução de água peptonada esterilizada com
volume previamente determinado de 9 mL, de forma a obter a
diluição 10-1. A partir desta diluição foram feitas as demais diluições 10-2, 10-3. Em seguida, foi feito o inóculo de cada diluição
em série de três tubos contendo caldo LST (lauril sulfato triptose), e posteriormente incubados a 36 ± 1ºC por 24 a 48 horas.
Após esse período foi realizada a leitura dos tubos positivos.
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Artigo
Prova confirmativa para coliformes totais: foi repicado,
com o auxílio de uma alça de platina, 0,1 mL da cultura de
cada tubo positivo de caldo LST obtido na prova presuntiva, para cada tubo contendo caldo verde brilhante bile 2%,
e posteriormente incubados a 36 ± 1ºC por 24 a 48 horas.
Após esse período foi realizada a leitura dos tubos positivos.
Prova confirmativa para coliformes fecais: foi repicado,
com o auxílio de uma alça de platina, 0,1 mL da cultura de
cada tubo positivo de caldo LST obtido na prova presuntiva,
para tubo contendo caldo EC e posteriormente incubados a
36 ± 1ºC por 24 a 48 horas. Após esse período, foi realizada
a leitura dos tubos positivos.
A partir da combinação de números correspondentes
aos tubos que apresentaram resultado positivo em cada
um dos testes confirmativos, foi verificado o Número Mais
Provável de acordo com o anexo III do manual de métodos
analíticos oficiais para análises microbiológicas para controle de produtos de origem animal e água, recomendados
na Instrução Normativa nº 62 do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2003). Os valores foram
expressos em NMP/g ou mL.
Meios de cultura seletivos
Foi objetivo do presente trabalho identificar alguns gêneros de bactérias da família Enterobacteriaceae em meios de
cultura específicos. Portanto, para identificação desses micro-organismos cada amostra foi inoculada em Ágar Eosina Azul
de Metileno (EMB), Ágar Xilose-Lisina Desoxicolato (XLD) respectivamente, seguindo as instruções do fabricante.
Quadro 1. Resultados da contagem padrão de micro-organismos
mesófilos aeróbios estritos e facultativos viáveis expressas em UFC/
ml coletadas dos fornecedores A, B e C
Quantidade de bactérias (UFC/ml)
Meses
Fornecedor A
Fornecedor B
Fornecedor C
1º
1,8 x 107
1,0 x 10 7
8,4 x 10 6
2º
8,7 x 106
1,0 x 10 7
1,1 x 10 7
3º
2,1 x 106
2,9 x 10 5
6,3 x 10 6
4º
3,0 x 106
6,4 x 10 6
9,7 x 10 6
5º
7,2 x 106
7,8 x 10 6
2,4 x 10 6
6º
9,6 x 106
1,2 x 10 7
3,2 x 10 6
Fonte: SOUZA (2013)
Calculando a média de contagem padrão de micro-organismos mesófilos aeróbios estritos e facultativos viáveis,
todos fornecedores encontram-se fora do máximo permitido pela Instrução Normativa 62 (Figura 1). Esses resultados
são semelhantes aos encontrados por Barreto et al. (2012),
que obtiveram uma contagem média de 1,6 x 109 UFC/ml de
micro-organismos heterotróficos mesófilos. Das 25 amostras de leite analisadas, todas encontraram-se fora do limite
estabelecido para o leite cru refrigerado tipo A integral (1,0 x
104 UFC/ml) pela respectiva Instrução Normativa 62.
Borba et al. (2012) observaram que das 37 amostras
analisadas em seu trabalho, 81% apresentaram contagem
de mesófilos aeróbios com valores acima do permitido pela
Instrução Normativa 62. Ferreira et al. (2012), demonstrou,
ao analisar 315 amostras, que 17% destas apresentaram
contagem de mesófilos aeróbios em valores superiores ao
estabelecido pela legislação.
Provas bioquímicas
Para a confirmação dos micro-organismos encontrados
em cada amostra, também foi inoculada em Ágar Tríplice
Açúcar Ferro (TSI), Ágar Lisina Ferro (LIA), Caldo Uréia Base,
seguindo as instruções do fabricante.
Resultados e Discussão
Das 18 amostras de leite analisadas, 17 encontraram-se fora do padrão limite (6,8 x 105 UFC/ml) para contagem
padrão de micro-organismos mesófilos aeróbios estritos e
facultativos viáveis, estabelecido pela Instrução Normativa
62, de dezembro de 2011 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) (Quadro 1).
Segundo Borba et al. (BORBA, C.M., 2008), a utilização da contagem de micro-organismos mesófilos aeróbios
como bioindicador de qualidade se fundamenta no fato das
bactérias patogênicas presentes nos alimentos se enquadrarem dentro do grupo das mesófilas, as quais se desenvolvem em temperaturas ótimas de 25ºC a 40ºC.
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Figura 1. Resultados da quantificação de bactérias mesófilas
expressas em UFC/ml coletadas dos fornecedores A, B e C
Média (UFC/ml)
8200000
8000000
7800000
7600000
7400000
7200000
7000000
6800000
6600000
6400000
6200000
Fornecedor A
Fornecedor B
Fornecedor C
Fonte: SOUZA (2013)
Do total de 18 amostras analisadas, 16 (88,9%) encontraram-se fora do padrão exigido pela legislação para coliformes totais (< 4,0 NMP/ml), e para os coliformes fecais,
15 amostras (83, 3%) encontraram-se fora do estabelecido
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(< 2,0 NMP/ml) (Quadro 2). Como não existe legislação que
estabeleça padrões mínimos para a presença de coliformes
totais e fecais no leite cru, já que a comercialização do mesmo é proibida, portanto, os resultados encontrados foram
comparados com padrões estabelecidos pela Instrução
Normativa 62 para o leite pasteurizado. Silva et al. (2008)
analisaram em seu trabalho 348 amostras de leite, verificando a presença de coliformes totais em 194 amostras
(55,7%), e coliformes fecais em 182 amostras (52,3%) com
valores acima do exigido pela legislação. Amaral e Santos
(2011), ao analisarem amostras de leite cru, obtiveram resultados semelhantes.
As bactérias do grupo coliforme são amplamente utilizadas
como indicadores de contaminação do ambiente e por fezes,
sendo que a presença deste grupo em elevada quantidade indicam que o alimento foi preparado em condições precárias de
higiene (MURPHY, S., 1997; BRITO, M.A.V. P., 2012).
Quadro 2. Resultados da contagem de coliformes totais (35°C)
e coliformes fecais (45°C) expressos em NMP/ml coletadas dos
fornecedores A, B e C
Coliformes Totais
(35°C) NMP/ml
Coliformes Fecais (45°C)
NMP/ml
Meses
Forn. A
Forn. B
Forn. C
Meses
Forn. A
Forn. B
Forn. C
1º mês
>110,0
>110,0
>110,0
1º mês
>110,0
>110,0
>110,0
2º mês
29,0
<0,3
>110,0
2º mês
>110,0
<0,3
>110,0
3º mês
46,0
21,0
>110,0
3º mês
2,9
46,0
>110,0
4º mês
<0,3
>110,0
>110,0
4º mês
<0,3
>110,0
>110,0
5º mês
>110,0
21,0
>110,0
5º mês
3,5
21,0
<0,3
6º mês
>110,0
>15,0
>110,0
6º mês
>110,0
>110,0
>110,0
Fonte: SOUZA (2013).
Neste trabalho, 100% das amostras analisadas apresentaram contaminação por Escherichia coli (Figura 2). Os
resultados encontrados corroboram com os obtidos por
Mattos et al. (2010), que analisaram um total de 53 amostras
de leite, sendo observada em todas as amostras a presença
de E. coli. No estudo de Barreto et al. (2012), foi observada
a presença de E. coli em 76% das amostras de leite cru.
Andrade et al. (2009) também observaram em seu trabalho a
presença de E. coli em 13,6% de um total de 966 amostras
isoladas de leite.
De acordo com Mattos et al. (2010), a presença de E.
coli indica contaminação fecal e pode ainda sugerir a presença de bactérias entéricas com potencial patogênico para
o homem e os animais. Também sugere que o alimento foi
preparado em condições inadequadas de higiene ou que
este não tenha sido armazenado em condições específicas,
além disso, a bactéria E. coli é reconhecida mundialmente
como a causadora de diversas doenças relacionadas à alimentos (GONÇALVES, E. S. et al.; 2002).
R evista A nalytica • Fevereiro/Março 2015 • nº 75
Neste trabalho, foi detectada a presença de Salmonella
spp. em 5,5% das amostras analisadas (Figura 2). Estes
resultados corroboram com os resultados encontrados por
Machado et al. (2002), que em seu estudo observaram 26
propriedades que trabalham com a produção de leite bovino e em 7,7% das propriedades foi verificada a presença
de Salmonella spp. nas amostras de leite. No trabalho de
Okura, Rigobelo e Ávila (2005) das 324 amostras de leite cru
analisadas, 1,8% das amostras apresentaram a ocorrência de Salmonella spp. As salmoneloses relacionadas com
o consumo de alimentos contaminados tornam-se motivo
de preocupação à saúde pública, sendo responsáveis por
grandes índices de mortalidade (LÁZARO, N.S.; 2008).
Figura 2. Gêneros de bactérias encontradas nas amostras avaliadas,
separadas por fornecedor
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
40%
20%
10%
0%
Fornecedor A
Fornecedor B
Fornecedor C
p.
i
ol
c
E.
on
lm
Sa
la
el
p.
p.
ss
ig
la
el
Sh
ss
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Kl
la
el
ba
ro
e
nt
p.
s
rs
e
ct
p.
s
eu
ss
Total
ot
Pr
E
Fonte: SOUZA (2013)
Neste estudo, 27,8% das amostras apresentaram Shigella
spp. (Figura 2). No trabalho de Okura, Rigobelo e Ávila (2005),
foi constatada a presença de Shigella spp. em 1,1% das amostras de um total de 324 amostras de leite cru. Como o leite
é uma importante fonte de nutrientes para crianças em fase
de desenvolvimento a presença deste tipo bacteriano merece
destaque (OKURA, M. H.; ÁVILA, F. A., 2015).
A Shigella spp. é responsável por causar uma doença conhecida como shiguelose ou desinteria bacilar, caracterizada
em casos mais graves por diarreia com sangue e pus, febre,
desidratação, toxemia e convulsões em crianças pequenas. O
modo de transmissão das shigueloses se dá de pessoa para
pessoa, ingestão de alimentos e água contaminados, e se relaciona diretamente com a precariedade das condições higiênico-sanitárias, já que a via fecal oral é o seu principal modo
de contaminação (PINTO, A., 1996; SANTOS, H. H. P., 2001;
SCHROEDER, G.N.; HILBI, H., 2008). No Brasil, não existe uma
legislação que obrigue a fiscalização de alimentos em se tratando da presença de Shigella spp., talvez, seja por isso, que
as shigueloses são tão pouco conhecidas e pouco relatadas no
país (PAULA, C. M. D.; 2009).
Neste estudo, 61,1% das amostras apresentaram contaminação por Klebsiella spp. Bastos et al. (2006) em seu
trabalho verificaram que todas as amostras de leite analisadas tinham a presença de Klebsiella spp. Os resultados
também corroboram com o trabalho de Arcuri et al. (2008)
61
Artigo
que, ao analisar 43 amostras, detectou em 11 a presença
de Klebsiella spp.
Foi demonstrado também nesse estudo que 61,1% das
amostras estavam contaminadas por Enterobacter spp. Esses resultados corroboram com os resultados encontrados
por Okura, Rigobelo e Ávila (2005), que demonstraram a
presença deste micro-organismo em 31 amostras de leite.
Ainda neste trabalho, foram encontradas em 61,1% das
amostras a presença de Proteus spp. No estudo de Okura,
Rigobelo e Ávila (2005), foi detectada a presença de Proteus
spp. em seis amostras de leite. Generoso e Langoni (2011)
também encontraram em seu estudo quatro amostras com
a presença de Proteus mirabilis.
A presença desses micro-organismos Klebsiella spp.,
Enterobacter spp., Proteus spp. e Escherichia coli no leite,
é sugestiva de que o animal esteja com mastite e necessite
de tratamento específico. Segundo Radostits et al. (2007),
as principais bactérias causadoras da mastite ambiental são
Streptococcus suberis, Streptococcus dysgalactiae, Escherichia coli, Klebsiella spp. e Enterobacter spp.; em menor
frequência, são Nocardia spp., Arcanobacterium pyogenes,
Pasteurella multocida, Campylobacter jejuni, B. cereus, Proteus spp., Pseudomonas spp.
Moreira et al. (1997) realizaram estudo com vacas que
apresentaram mastite na bacia leiteira de Goiânia, observando os seguintes micro-organismos nas amostras isoladas:
Staphylococcus coagulase positiva (32,90%), Streptococcus
spp. (22,07%), Pseudomonas spp. (12,12%), Enterobacter
spp. (10,38%), Corynebacterium spp. (8,65%), E. coli (8,22%),
Bacillus spp. (8,22%), Proteus spp. (6,49%), Klebsiella spp.
(4,32%) e Staphylococcus coagulase negativa (3,46%).
A mastite é uma inflamação da glândula mamária que
pode ser causada por diversos fatores, sendo o mais comum por ação de micro-organismos potencialmente patogênicos que se alojam na glândula mamária (29). A qualidade do leite de uma vaca com mastite é totalmente afetada,
pois a proliferação de micro-organismos inapropriados no
leite propicia a degradação do produto e seus derivados
(SOUZA, L.F.L., 2011), trazendo prejuízos ao consumidor,
assim como para o produtor que necessita ter gastos financeiros com a saúde do seu rebanho.
Como visto nos resultados obtidos neste trabalho, todas
as amostras de leite analisadas apresentaram contaminação por bactérias Gram-negativas da família Enterobacteriaceae. Alguns micro-organismos desta família como Proteus
spp., Enterobacter spp. e Klebsiella spp., provocam alterações no sabor, no odor e na aparência do leite, devido a sua
intensa proliferação. As espécies de Proteus spp. exercem
ações enzimáticas lipolíticas, lisando ou oxidando as moléculas de gordura, originando compostos como o glicerol e
o ácido graxo, que dão o sabor e o odor da rancificação. Já
as espécies de Enterobacter spp. e Klebsiella spp. alteram
62
a viscosidade do leite devido a sua composição capsular
bacteriana que possui um aspecto mucoide, e a proliferação
destes micro-organismos contribui para o aumento desta
viscosidade (CARVALHO G. R., 2010).
Todos os alimentos de origem animal são ótimas fontes
para o crescimento de micro-organismos, mas o leite de uma
forma especial possui todas as características fundamentais
como a forma líquida, pH estável, além de vários nutrientes;
todos esses fatores juntos favorecem a proliferação de inúmeros micro-organismos patogênicos ou não ao ser humano. Assim, uma vez que o leite é produzido em condições
inadequadas de higiene, tem a sua qualidade comprometida,
pois apresenta um grande índice de bactérias que afetam as
suas características (ALMEIDA, G.M., 2010).
Portanto, todos os alimentos que possuem alta contaminação por micro-organismos aeróbios mesófilos e coliformes, indicam as condições sanitárias em que o alimento foi produzido, processado e/ou armazenado (FRANCO,
B.D.G.M.; LANGRAF, M., 1996). Santana et al. (2001) constataram em seu trabalho que as principais fontes de contaminação por bactérias no leite foram os latões, os tanques
de expansão, os tetos mal higienizados, a água residual dos
equipamentos e os utensílios de ordenha e de pasteurização. Apesar de não ter sido de interesse desta pesquisa,
avaliar como o leite foi produzido em seus locais de origem,
acredita-se que boa parte da contaminação seja por estes
fatores citados anteriormente.
Conclusões
De acordo com os resultados encontrados nas amostras analisadas observa-se que a contagem padrão em placas encontrou-se fora dos padrões exigidos pela Instrução
Normativa 62 para o leite cru refrigerado. E, mesmo não
havendo na respectiva legislação um padrão limite para
coliformes totais, a presença destes micro-organismos, juntamente com o número elevado da contagem bacteriana,
exige melhorias nas condições de higiene durante a ordenha e nas condições de armazenamento do produto.
A presença de Salmonella spp. Shigella spp., Escherichia coli, Klebsiella spp., Enterobacter spp. e Proteus spp.
merece destaque, pois, estes micro-organismos representam riscos a saúde dos consumidores, devido ao seu alto
poder de patogenicidade.
Agradecimentos
Ao Programa de Bolsa de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Goiás, pela bolsa concedida à primeira
autora. E ao Instituto Federal Goiano – Campus Morrinhos
pela disponibilização do laboratório de Microbiologia Alimentar para a realização das análises.
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Referênc ias
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