Autores
Eneide Maria Santos
CPF 426787145-00
Mônica de Moura Pires
CPF 478333355-68
Moema Maria Badaró Cartibani Midlej
CPF 049.687.785-20
Jaênes Miranda Alves
CPF 321232805-34
Endereço para correspondência:
Universidade Estadual de Santa Cruz
Departamento de Ciências Econômicas
Rodovia Ilhéus-Itabuna, Km 16 – Salobrinho
CEP 45650-000 – Ilhéus-Bahia
A/C Mônica de Moura Pires
Endereço eletrônico – [email protected]; [email protected]; [email protected]
Grupo de pesquisa – 1 - Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas
Forma de apresentação – pôster
Sessão - Monografia
A DEMANDA DO LEITE BOVINO PASTEURIZADO NO MUNÍCIPIO DE
CAMACAN – BA
RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar o comportamento da demanda de leite pasteurizado em
Camacan, Bahia. Fez-se levantamento primário de dados, por meio de entrevistas
estruturadas com uso de formulários, utilizando-se amostragem aleatória. Foram
entrevistadas 150 pessoas residentes na área urbana do município, administrador do
laticínio e estabelecimentos que comercializam leite. Posteriormente, os dados foram
submetidos a análises de estatística descritiva. Tais análises permitem concluir que 98%
dos consumidores camacanense de leite pasteurizado conhecem sua a importância na
alimentação diária e, 54 % dos consumidores entrevistados não conseguem identificar
nenhum risco à saúde quando consomem leite in natura, que não passou por fiscalização e
critérios de higienização no processo de coleta e comercialização. 31,3% dos consumidores
preferem o leite pasteurizado e apenas 2,3% dos entrevistados consideram o preço fator
decisivo na escolha do produto. Tal comportamento pode ocorrer pela falta de
concorrência no mercado produtor de leite, pois, na cidade, existe apenas um laticínio,
conferindo assim característica monopolista à produção desse tipo de leite. Portanto, o
poder de barganha do consumidor nesse mercado desaparece, sendo fundamental a
presença dos órgãos de defesa do consumidor na fiscalização do produto e nas práticas de
comércio.
Palavras-chave: mercado consumidor; monopólio, leite.
1. INTRODUÇÃO
1.1. O problema e sua importância
O leite, mesmo sendo um alimento essencial ao homem, em função da riqueza de
nutrientes que possui, deveria ser consumido em todas as fases da vida, pois sua falta na
alimentação humana pode acarretar sérios problemas à saúde, como desnutrição,
raquitismo e, em pessoas da terceira idade, a osteosporose, além de outros graves
distúrbios nutritivos. Muitas vezes, porém, a população não consome a quantidade
necessária de leite ou de seus derivados, especialmente por fatores econômicos como falta
de poder aquisitivo para adquiri-lo ou em função dos níveis de preço do produto. Ademais,
têm-se também, os entraves de comercialização que dificultam o consumo de leite,
principalmente, pela camada social menos favorecida da sociedade.
Na atual conjuntura socioeconômica internacional e nacional, as exigências para
produção e comercialização do leite são cada vez maiores, o que torna necessário uma
maior organização do setor produtivo, visando atender às exigências de qualidade do
mercado consumidor e aos padrões estabelecidos pela legislação em vigor que é a
Instrução Normativa nº 51 de 18 de setembro de 2002, prevista no Programa de Melhoria
da Qualidade do Leite, do Governo Federal.
Tanto o leite como seus derivados, estão submetidos à regulamentação da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O decreto lei nº 986, de 12/10/1969, capítulo
10, artigo 48, assegura que o leite comercializado deva seguir o padrão de qualidade
estabelecido pela agência reguladora, cabendo também a ANVISA agir com ações
educacionais, preventivas, fiscalizadoras e punitivas quando ocorrerem transgressões ao
decreto (Folha do Cacau, 2002).
Essa tendência implicou em uma necessidade de adaptação e mudanças
tecnológicas na indústria laticinista nacional, que vem ampliando gradativamente a
produção de derivados de leite como, cremes, manteigas, leites - concentrados,
condensados e em pó, dada a ampliação da demanda desses produtos.
Aliado a isso, surgiram novas técnicas de processamento para o leite, como a
pasteurização e a ultrapasteurização ou Ultra High Temperature (UHT), processos esses
que envolvem o aquecimento e resfriamento do leite. Na primeira técnica, o leite deve ser
aquecido a uma temperatura entre 72º C a 75º C por 15 a 20 segundos, para reduzir a
quantidade de bactérias nocivas à saúde, mas que conserve todos os nutrientes do leite.
Posteriormente, o leite é submetido a baixas temperaturas, tanto para armazenamento como
para transporte. Com relação à técnica UHT, o leite é exposto a temperaturas que podem
variar entre 130º C a 150º C por dois a quatro segundos, para matar todas as bactérias. Essa
técnica gera o denominado leite longa vida que pode ser armazenado até um ano em
temperatura ambiente, desde que a embalagem não seja aberta (www.nutrinews.com.br).
No caso de Camacan, desde 2002, especialmente a partir de agosto, a fiscalização
no município tornou-se mais efetiva, e o leite comercializado não pode mais ser vendido
sob a forma in natura ou cru. Esse acordo provocou mudanças substanciais no mercado de
leite, provocando uma ampliação da oferta de leite pasteurizado para suprir essa nova
demanda local, alterando assim a forma mais comum de comercialização do produto na
cidade, que era a venda pelo produtor em vasilhames, de porta em porta do consumidor.
Esse novo cenário para a atividade leiteira no município, reflexo da nova economia
local, dada a crise da cacauicultura na região, tornou premente a diversificação econômica.
Nesse contexto, a produção de leite pasteurizado tem-se tornado uma alternativa comercial
para o município. Isso pode ser percebido pelos investimentos que os fazendeiros da região
vêm implementando no rebanho leiteiro bovino, para tornar a produção de leite uma
atividade econômica relevante para o município.
A atividade pecuária leiteira em Camacan dá-se de forma extensiva. Esse tipo de
exploração, no entanto, vem sofrendo severas restrições de expansão das áreas de
pastagem, pois o município localiza-se em uma área remanescente da Mata Atlântica,
fazendo parte das denominadas Áreas de Preservação Ambiental (APA). Por isso, há maior
fiscalização por parte dos órgãos públicos competentes.
Assim, a atividade deverá ser cada vez mais intensiva no uso de capital, como
forma de minimizar os efeitos negativos da restrição de crescimento da atividade via
expansão da fronteira agrícola. Isso deverá ter impacto positivo sobre a produtividade e os
custos unitários, tornando mais eficiente, em termos econômicos, a produção de leite.
Dentro desse contexto, a implantação de programas de melhoramento genético,
alimentação, manejo, controle sanitário, implicará em ganhos de eficiência. Como
resultado, há uma melhoria na qualidade do produto ofertado e maior competitividade da
atividade.
Nesse contexto, o estudo visa determinar as características da demanda do leite
bovino pasteurizado consumido no município, diagnosticando os aspectos que interferem
no comportamento do consumidor.
1.2. OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo, analisar o comportamento da demanda de leite
pasteurizado na cidade de Camacan, Bahia.
Especificamente, pretende-se:
- identificar a origem do leite pasteurizado consumido no município;
- quantificar a produção local de leite pasteurizado consumido no município;
- determinar as variáveis de maior relevância para o demandante do produto.
2. PECUÁRIA BOVINA LEITEIRA
2.1. Produção de Leite
A atividade agro-industrial do leite é praticada em, quase todo o território
brasileiro, sendo que cerca de 3,6 milhões de pessoas estão diretamente associadas à
produção primária. A relevância dessa atividade, em nível mundial, é reforçada pelo lugar
que ocupa no cenário econômico. No mercado internacional, os 23 milhões de litros
produzidos mundialmente, levaram a produção de leite a ocupar, no ano de 2002, a quinta
posição entre os principais mercados de produtos agropecuários e a sexta posição em valor
bruto das atividades agropecuárias, R$ 8,1 bilhões (Informe Econômico do Leite, 2003).
Os Estados Unidos mesmo não possuindo um dos maiores rebanhos – cerca de 9,1
milhões de cabeças de vacas leiteiras, destacam-se na produtividade do rebanho, atingindo,
aproximadamente 8.500 L/vaca/ano, dados de 2002. O rebanho nacional de vacas leiteiras,
tem sido, superior a 76% do rebanho americano, no entanto a produtividade brasileira está
pouco acima de 1.000 L/vaca/ano, o que significa um 1/7 da produtividade norteamericana (Tabela 1). Esses valores indicam o baixo rendimento do rebanho nacional.
Tabela 1 - Pecuária leiteira de bovinos do Brasil
Ano
2000
Produção (milhões de L)
19.767
Rebanho p/ ordenha (cabeças)
17.885
Produtividade (L/vaca/ano)
1.105
Fonte: www.ibge.gov.br, 2003.
2001
20.510
18.194
1.127
2002
22.773
19.005
1.139
Os principais fatores determinantes da baixa produtividade do rebanho leiteiro
brasileiro, estão associados a problemas de manejo, alimentação, sanidade, reprodução e
baixo potencial genético do rebanho a pasto. Pois, na maioria dos estados, a produção é
resultado de uma pecuária realizada de forma extensiva, dada a disponibilidade de terras no
país (IBGE, 2003).
Quanto à forma de exploração, no território nacional, a pecuária leiteira apresentase diversificada. Têm-se desde sistemas de produção extensivos a sistemas intensivo, em
que nos sistemas mais tecnificados, observam-se maiores níveis de produtividade e
qualidade do produto gerado. Atingir a qualidade do produto gerado tem sido a meta dos
produtores, principalmente aqueles que desejam participar do mercado internacional.
No caso do mercado externo deve-se atentar para os padrões internacionais
determinados na sistematização, especialmente quanto ao aspecto de refrigeração do
produto durante o processo de captação e transporte.
O leite tem uma grande importância econômica, tanto na forma pura como
processada. Em nível mundial, observa-se, na última década, crescimento da produção. Em
1990, a produção mundial foi superior a 470 bilhões de litros, em 2003 o volume
produzido chegou próximo a 520 bilhões de litros, um crescimento de cerca de 11%. Os
maiores produtores mundiais em 2003 (FAO, 2004) foram: Estados Unidos (78 bilhões de
litros), Índia (36,5 bilhões de litros) e Federação Russa (33 bilhões de litros). A produção
brasileira em 2003 esteve em torno de 23 bilhões de litros, representando cerca de 4,5% do
total mundial.
Essa produção, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2003), vem crescendo ano a ano, de 1991 até 2000 foi de 3,4%, em 2001 aumentou
em 3,8%, comparativamente ao ano anterior e em 2002 esse crescimento foi de,
aproximadamente, 11%. Em termos quantitativos, a produção passou de 14,4 bilhões de
litros de leite para 22,7 bilhões de litros de leite, ou seja, mais de 50% quando se analisa o
período compreendido entre 1990 a 2002 (Tabela 2). Esse aumento da produção, tem sido
resultado do incremento tecnológico em alguns sistemas de produção, que vem permitindo
uma melhora nos níveis de produtividade e da incorporação de novas regiões, a exemplo
do Cerrado brasileiro.
Tabela 2 – Produção de leite bovino do Brasil
Ano
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
Fonte: www.ibge.gov.br.
Produção
Milhões de litros
14.484
15.079
15.784
15.591
15.784
16.474
18.515
18.666
18.694
19.070
19.767
20.510
22.773
Variação %
4.11
4.68
-1.22
1.24
4.37
12.39
0.82
0.15
2.01
3.13
3.70
11.00
Mesmo com esse crescimento e o país possuir um dos maiores rebanhos bovinos
(19 milhões de vacas leiteiras, dados do IBGE, 2004), a produção não tem sido suficiente
para atender a demanda nacional. Porém, esse quadro poderia ser diferente se os níveis de
produtividade fossem maiores e estivessem próximos, por exemplo aos observados nos
Estados Unidos. Assim, fica evidente que um dos problemas centrais da produção leiteira
brasileira é ajustar-se, pelo menos, à demanda interna, isso, no entanto, exige mudança
tecnológica, principalmente com a implementação de técnicas que permitam aumentar a
produtividade do rebanho.
Assim, aumentar a produtividade do rebanho é importante tanto para suprir o déficit
de demanda de leite, e dos seus derivados, os lácteos. Dessa forma, a geração e a
transferência da tecnologia são importantes sob o ponto de vista da quantidade como da
qualidade do “produto leite”.
Outro aspecto importante no mercado de leite foi a inserção do produto desde de
março de 2003, no Grupo de Garantia de Preços Mínimos (GGPM) e no “Programa Fome
Zero” do Governo Federal. Essas novas diretrizes para o setor devem implicar em efeitos
positivos na atividade, impulsionando o mercado de lácteos. Nesse contexto, os produtores
têm que se ajustar às regras do mercado e às disposições no que diz respeito à produção
(leite pasteurizado e cru), identidade, qualidade do leite tipo A, B, C (Bahia Agrícola,
2003).
Deve-se ressaltar que mudanças vêm ocorrendo na atividade leiteira brasileira,
especialmente a partir da década de 1990, nos cinco maiores produtores do país. Tem-se
verificado uma mudança de posição entre os produtores nacionais, pois enquanto Goiás,
Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul apresentaram crescimento da produção da
ordem de 7%, 4,5%, 3,5%, 3,5%, respectivamente, o estado de São Paulo, apresentou
estagnação de produção, fato este associado à retração dos seus rebanhos (ANUÁRIO
DBO, 2003). Quanto ao estado da Bahia, este configura-se como o sétimo produtor de leite
e o primeiro da Região Nordeste. No entanto, a participação estadual em nível nacional
vem diminuindo em função da redução do rebanho bovino e do número total de vacas
ordenhadas, que foi da ordem de 15,4% e de 12,5%, respectivamente, conforme estimativa
de 2002 da DBO (2003).
A produção baiana está concentrada nas mesorregiões Centro-Sul e Sul Baiana,
sendo os municípios de Caravelas (98.729 mil litros), Ibicuí (14.350 mil litros) e Medeiros
Neto (13.919 mil litros), os três principais produtores (IBGE, 2003).
Neste cenário, a pecuária leiteira não é a principal atividade econômica do
município de Camacan, pois a cacauilcultura durante longo período predominou sobre as
demais atividades, em função do retorno proporcionado. A crise porém que permeia a
cultura desde a década de noventa tem implicando em uma nova reordenação econômica
local e a inserção e, ou ampliação de outras atividades econômicas na região denominada
de Região Cacaueira.
O rebanho bovino camacanense é composto por animais mestiços com baixa
qualidade genética, o que tem implicado em baixa produtividade. Enquanto a média
nacional de produção de leite por vaca está entre 4,2 a 5,1 litros/cabeça/dia, a média do
município é de apenas 2,0 litros/cabeça/dia (Tabela 3), valor este bem inferior à média
nacional. Quando comparada às principais regiões produtoras esta produtividade chega a
ser 3 vezes inferior (ANUALPEC, 2002). No entanto, deve-se ressaltar que essa atividade
é, relativamente, recente no município e são poucos os dados disponíveis nos órgãos
municipais a respeito do assunto.
Tabela 3 – A pecuária bovina de Camacan, Bahia, 2002
Dados
Rebanho (cabeças)
Vacas para ordenha (cabeças)
Produção de leite (L)
Produtividade (L/cabeça/dia)
Fonte: IBGE – (Pesquisa Pecuária Municipal).
Quantidade
15.995
670
366.000
2,00
2.2. Comercialização do leite
A redução nos custos de produção de leite e a oferta de um produto de melhor
qualidade têm sido a meta dos produtores nacionais. Essas ações podem ser percebidas
pelas diretrizes políticas do Ministério da Agricultura e Pecuária para o setor.
Recentemente, para atender as diretrizes traçadas no Programa de Melhoria da Qualidade
do Leite, da Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro de 2002, que substituiu a
legislação de 1952, o governo vem investindo na rede nacional de laboratórios para através
de métodos científicos qualificar o produto nacional, principalmente nos aspectos relativos
à presença de resíduos de antibióticos, contagens bacterianas e de células somáticas. Esses
critérios englobam desde a produção até a comercialização dos produtos lácteos.
Espera-se que a determinação de padrões de qualidade do leite possibilitem a
inserção do Brasil em mercados mais exigentes, especialmente na Aliança Láctea Global,
juntamente com Argentina, Austrália, Chile, Nova Zelândia e Uruguai. Pois, atualmente, o
país é um ativo demandante de leite e de produtos lácteos no mercado internacional.
Dados da Secretária de Comércio Exterior, do Ministério de Desenvolvimento
Indústria de Comércio, mostram que em 2002 o país importou 215.327 toneladas de
lácteos (leite e creme de leite não concentrado, leite em pó/creme de leite concentrado,
iogurte e creme de leite fermentado, soro de leite e produtos concentrados, manteiga e
derivados, queijos e requeijão), um aumento de quase 53% das importações quando
comparada ao ano de 2001 (141.188 toneladas). Mesmo assim, quando se observam os
dados, a partir de 1995, percebe-se que há uma redução nos gastos com as importações de
lácteos e uma tendência de aumento na receita das exportações (Tabela 4).
Tabela 4 - Exportações e importações de leite e derivados pelo Brasil, 1995-2001
Exportações
Importações
Ano
(US$ 1.000 FOB)
(US$ 1.000 FOB)
1995
9.776
620.109
1996
24.983
523.276
1997
19.394
466.894
1998
25.817
518.969
1999
15.658
445.426
2000
24.974
378.620
2001
42.778
183.020
Fonte: Adaptação ABIA – SECEX, disponível em www.abia.org.br.
2.3. Consumo de leite
A procura por alimentos, incluindo o leite e seus derivados, é determinada por
diversos fatores como níveis da demanda, renda, gosto e preferência, entre outros.
No período compreendido entre 1994 a 1996, com a melhora no poder aquisitivo
fruto da estabilização econômica (Plano Real) percebe-se uma elevação do consumo de
leite. A partir de 1998 observa-se uma estabilização do consumo na faixa de 130
litros/habitantes/ano (Tabela 5). Porém, esse consumo médio brasileiro é insuficiente,
segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Pois, o consumo ideal, segundo a OMS,
seria de 200 litros/per capita/ ano (EMBRAPA, 2004).
Tabela 5 - Consumo de leite no Brasil, 1985 a 2000
Ano
Consumo
Variação anual do
(L/habitante/ano)
consumo (%)
1985
94
1990
107
12.15
1991
112
4.46
1992
108
-3.70
1993
107
-0.93
1994
113
5.30
1995
124
8.87
1996
135
8.15
1997
129
-4.65
1998
130
0.77
1999
130
0.00
2000
129
-0.78
Fonte: www.embrapa.gov.br (Embrapa Gado de Leite, 2004).
O consumo do leite pode se dar sob diversas formas, como: queijos, leite longa
vida, leite em pó, leite cru, leite pasteurizado, entre outras. Nesse mercado, o leite
pasteurizado é o produto que apresenta menor percentual de consumo 6,8% (Tabela 6),
pois há uma concorrência com o leite longa vida, leite em pó e leite cru.
Tabela 6 – Produtos lácteos e suas formas de consumo no Brasil, 2002.
Produtos Lácteos
% de consumo
Queijos
33.0
Leite Longa Vida
19.3
Leite em Pó
16.4
Outros
15.0
Leite cru
9.5
Leite pasteurizado
6.8
Fonte: Adaptada do Anuário DBO, 2003, CBCL/CNA, com dados do IBGE.
3. METODOLOGIA
3.1. Modelo Teórico
Projeções de demanda e consumo podem orientar a produção e comercialização de
determinado produto. Nesse contexto, esse trabalho tem como conceituação básica a teoria
do consumidor.
Existem dois tipos de mercado: o industrial (ou comercial) composto de todas as
empresas comerciais e produtoras que demandam matéria-prima, produtos acabados,
máquinas e utensílios, em atividades para obtenção de lucro; e o mercado consumidor (ou
consumidor final) formado pelo público em geral que, individualmente ou, em grupos,
consomem as mercadorias com a intenção de satisfazer seus desejos pessoais
(HEIDINGSFIELD; BLANKENSHIP, 1963, p.20).
Nesses termos a comercialização é considerada como sendo o processo
intermediário entre produtor e o consumidor. Baseia-se, assim, na disponibilidade de bens
e serviços ao consumidor, na forma, tempo e local, devendo, portanto, adequar-se às
características do produto e ao mercado que se destina.
Na demanda, o indivíduo gasta racionalmente sua renda, restringindo-se ao seu
limite orçamentário, de modo a atingir o máximo de satisfação dentro de sua escala de
preferência. Portanto, a demanda individual refere-se à quantidade de um bem que
determinada pessoa pretenda comprar, durante um determinado período de tempo,
dependendo da renda que dispõe, do preço cobrado pelo produto, do nível de preferência,
além dos preços de outras mercadorias, especificamente aqueles bens que possuem relação
de substitutibilidade entre si ou complementariedade, entre outras variáveis (SIMONSEN,
1999).
Os principais fatores determinantes da demanda são: preço do produto, preferência
do consumidor, poder de compra do consumidor, preços dos bens substitutos ou
complementares, qualidade, expectativas futuras quanto à renda pessoal, preço do bem e
preço dos bens relacionados. No caso do preço este medirá a utilidade marginal do bem
para cada demandante, não se podendo generalizar para todo mercado consumidor, dado
que as necessidades e as circunstâncias de consumo são diferentes para cada indivíduo
(MARSHALL, 1982).
Para Steele et al (1971), o consumidor ao tentar tomar decisões baseadas na sua
preferência, sofre várias influências, especialmente as relativas às necessidades físicas e
sociais, valores e atitudes, influências e circunstâncias, e, riscos e incertezas. Dessa forma,
mudanças nos fatores determinantes da demanda, implicam, provavelmente, alterações de
preço. Assim, o mercado produtor deve-se amoldar, constantemente, ao desejo do
consumidor. No entanto, muitas vezes, este mercado ajusta-se às possibilidades de oferta
do produto em função da restrição do número de ofertantes.
3.2. Área de estudo
Este trabalho tomou como referência a cidade de Camacan, situada na região sul da
Bahia, conhecida como Região Cacaueira. A base econômica do município é, ainda, o
cacau, no entanto nos últimos anos outras atividades econômicas, particularmente
agrícolas, têm-se inserido na economia local, num processo de diversificação. Culturas
como café, banana, cupuaçu, palmito, pecuária de corte e leite, começam a se expandir no
município.
3.3. Fonte de dados e tratamento
Neste estudo, realizou-se pesquisa primária, por meio de entrevistas diretas, nos
meses de julho a setembro de 2003. As entrevistas foram realizadas de forma estruturada
com o uso de formulários. Foram entrevistados representantes de unidades produtivas,
comerciantes e consumidores locais.
Os procedimentos basearam-se na amostragem aleatória simples, por
acessibilidade, o que implica em selecionar os elementos que se tem acesso, admitindo-se
que os entrevistados representam o universo pesquisado (GIL, 1995, p.83).
A amostra relativa aos consumidores partiu de informações referentes à quantidade
total de consumidores de energia elétrica residentes na área urbana do município de
Camacan. Estes dados foram fornecidos pela Companhia de Eletricidade do Estado da
Bahia (COELBA). Na cidade têm-se 5.201 residências atendidas pela COELBA, esse total
representou a população do estudo. As entrevistadas foram realizadas de forma aleatória na
cidade.
A amostra (n) foi calculada da seguinte forma:
N = ( σ2 . p . q . N ) / [ e2 ( N – 1 ) + o . p . q ]
em que, σ representa o nível de confiança, expresso pelo desvio padrão p a percentagem
com a qual o fenômeno se verifica; q a percentagem complementar (100 – p); N o tamanho
da população e e2 o erro.
Inicialmente foi realizado um pré-teste com uma amostragem aleatória de 60
indivíduos. A partir do pré-teste foram necessárias algumas modificações para que
houvesse uma melhor qualidade dos dados coletados. A partir daí fez-se a coleta final dos
dados aplicando-se 150 entrevistas individuais. Esses indivíduos representaram os
consumidores de leite da cidade. Além desses consumidores realizaram-se 21 entrevistas
junto aos comerciantes locais e uma entrevista com o administrador do único laticínio do
município. Esse conjunto de entrevistas objetivava verificar de forma mais minuciosa o
mercado demandante de leite na cidade analisada.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apresentados foram obtidos das entrevistas realizadas junto a 150
consumidores, comerciantes locais (15 mercados e 6 padarias) e administrador do laticínio
localizado na cidade de Camacan.
Os consumidores, na sua maioria (98%), consideram o leite um produto importante
na sua dieta alimentar (Tabela 7), sendo o do tipo cru (in natura) aquele que apresenta
características mais adequadas de consumo. Pois julgam como sendo mais “forte” e mais
“saudável”, além de conservar seus nutrientes, diferentemente do leite submetido a algum
tipo de processamento (leite pasteurizado, leite longa vida ou leite em pó). Para esses
consumidores, a “qualidade” do produto pode ser garantida apenas pelo método caseiro de
fervura por um tempo prolongado não necessitando de outros procedimentos.
As entrevistas revelaram que 54% dos consumidores (Tabela 7) não concordam
com a proibição da venda do leite in natura (cru). Pois, segundo os consumidores, eles
conhecem a forma de manejo dos animais no local da ordenha, possuem contato direto
com os produtores e têm o hábito de consumir o produto por meio da entrega do leite pelo
produtor em suas residências. Por outro lado, 46% dos consumidores concordam que as
medidas de fiscalização e, ou acompanhamento técnico de controle da produção, no
campo, e também treinamento de produtores sobre técnicas e métodos assépticos para a
comercialização direta, devem proporcionar um produto de melhor qualidade no mercado.
A proibição da venda do leite in natura teve efeito positivo sobre a venda de leite
pasteurizado nos estabelecimentos comerciais da cidade, segundo 66,7% dos comerciantes
locais.
Tabela 7- Importância do consumo e proibição da comercialização do leite in natura (cru),
Camacan, Bahia, 2003
Concordam com a proibição de
Importância do consumo
comercialização do leite cru
Freqüência
Percentual
Freqüência
Percentual
Sim
147
98%
69
46%
Não
3
2%
81
54%
Total
150
100%
150
100%
Fonte: Dados da Pesquisa.
Verifica-se, porém, assimetria entre as informações coletadas, pois segundo os
entrevistados o que impulsiona o ato de consumo são fatores associados, principalmente à
saúde (Tabela 8). Portanto, dentro desse contexto, os consumidores não estabelecem uma
relação direta entre o processo de pasteurização do leite a uma maior higienização do
produto. Como explicar então a preferência dos consumidores pelo leite comercializado na
forma tradicionalmente (leite cru), de “porta em porta”? Uma possibilidade é a resistência
a mudanças de determinados hábitos alimentares por parte de muitos consumidores
citadinos. Além disso, o processo de pasteurização implica em aumentos de preço do leite,
o que, em geral, provoca redução no consumo por parte de consumidores. Isto é claro
dentro do conceito de demanda, em que quanto menor o preço, maior tende a ser o
consumo de determinado produto, desde que não haja alteração em outros fatores
determinantes dessa demanda. Como o leite cru, dentre os leites fluidos, é o que possui
menor preço, há, assim, uma maior preferência por parte dos consumidores camacanenses
a tal produto, especialmente àqueles consumidores de menor poder aquisitivo.
Tabela 8 – Motivação para o consumo de leite pasteurizado, Camacan, Bahia, 2003
Tipo de motivação
Freqüência
Percentual
Preocupações com a saúde
25
16.7
Higiene
13
8.7
Sabor
1
0.7
Preço
2
1.3
Outro
11
7.3
Não respondeu
81
54.0
Higiene e sabor
2
1.3
Preocupações com saúde e higiene
13
8.7
Preço e outro
1
0.7
Preocupação com saúde e preço
1
0.7
Total
150
100.0
Fonte: Dados da Pesquisa.
Com relação à quantidade demandada de leite, em média, são consumidos 2,4
L/dia. Considerando que a média das famílias na cidade é de quatro pessoas, observa-se
que o consumo médio por indivíduo está em torno de ½ litro/dia (cerca de 219 L/ano). Esse
consumo está dentro dos padrões mínimos necessários para um indivíduo, segundo a OMS
que deve ser 200L/ano.
Quanto ao preço do leite pasteurizado, este é formado no mercado beneficiador do
produto, o que confere aos consumidores pouco ou nenhum poder de barganha no
mercado, pois na cidade existe apenas um laticínio. Assim, resta ao consumidor, no caso de
leite fluido, apenas o leite longa vida, que, em geral, tem preço mais elevado
comparativamente ao leite pasteurizado. No entanto, para a grande maioria dos
demandantes (97,3%), o preço do leite não é o fator determinante da escolha pelo produto.
Relativo ao perfil dos consumidores de leite, estes, na sua maioria, são estudantes
(20%), trabalhadores domésticos (19,3%), comerciantes (10,7%), aposentados (10%),
vendedores (5,7%) entre outros (34,3%), com nível de escolaridade médio de 7,3 anos de
estudos.
Posteriormente, fez-se o cruzamento dos dados de renda média e consumo médio
de leite (Tabela 9). Observa-se que o maior nível de consumo situa-se no intervalo entre 1
a 4 litros, tendo uma renda de um a dois salários. Esperava-se, porém, que consumidores
com maior nível de renda apresentassem maior nível de demanda por leite, no entanto isso
não foi verificado. Possivelmente a preferência desses consumidores pode estar no
consumo de outros lácteos.
Tabela 9 – Quantidade consumida de leite por faixa de renda, Camacan, Bahia, 2003
Consumo
(em L)
Nível de renda (em salários mínimos)
1
2
Até 2 L
56
28
2a4L
10
5
4a6L
8
2
6a8
4
6
8 a 10
0
3
10 a 12
1
3
TOTAL
79
47
Fonte: Dados da pesquisa.
3
6
1
2
1
1
0
11
4
5
0
1
0
0
0
2
3
7
4
1
0
2
0
0
7
8
0
0
1
0
0
0
1
10
1
0
0
0
0
0
1
Total
1
0
0
0
0
0
1
96
18
13
13
4
6
150
%
64
12
8,7
8,7
2,7
4
100
Analisando-se o cruzamento dos dados escolaridade e consumo, percebe-se que os
consumidores com até 12 anos de escolaridade são os que mais consomem leite
pasteurizado. Tal comportamento pode indicar que existe uma associação entre nível de
escolaridade e a procura por leite pasteurizado. Como a média de consumo é de 2,4 L/dia,
justifica-se pela concentração de consumo na faixa de dois litros 64%, e de 2 a 4 litros de
12% totalizando 76% (Tabela 10).
Como as padarias não comercializam leite em pó, isto deve ter influenciado as
vendas desse produto, pois observa-se um maior consumo de leite pasteurizado em relação
ao leite em pó, sendo que a marca de leite preferida é a do leite industrializado no
município. Essa preferência, porém, pode estar condicionada à disponibilidade de produto
pelos comerciantes locais, pois dos 21 estabelecimentos analisados, apenas cinco oferecem
duas marcas diferentes do produto, os outros disponibilizam apenas a marca do leite
industrializado em Camacan. Assim, a falta de diversidade de marcas do produto, nos
estabelecimentos comerciais da cidade, acabam por induzir o consumidor a adquirir o leite
produzido localmente.
Tabela 10 – Nível de escolaridade e consumo de leite, Camacan, Bahia, 2003
Consumo
(em L)
Até 2 L
2a4L
4a6L
6a8
8 a 10
10 a 12
TOTAL
1a2
26
2
5
1
0
1
35
3a4
7
3
1
2
0
0
13
5a6
9
2
0
2
1
0
14
Nível de escolaridade (em anos)
7 a 8 9 a 10 11 a 12 13 a 14 15 a 16
12
2
2
1
0
1
18
7
3
2
1
1
0
14
29
5
2
4
1
3
44
1
1
1
1
0
0
4
5
0
0
1
1
1
8
Total
96
18
13
13
4
6
150
%
64
12
8,7
8,7
2,7
4
100
Fonte: Dados da Pesquisa.
Na visão do empresário laticinista as mudanças que vêm ocorrendo no mercado
camacanense são importantes, principalmente àquelas relativas a maior exigência quanto
ao leite consumido. Tais mudanças, segundo o administrador, são atribuídas às ações
empreendidas pela firma em parceria com a Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia,
Ministério Público e projetos educativos implementados nas escolas do município.
O laticínio de Camacan, segundo a pesquisa, adquire mensalmente 90 mil litros de
leite, fornecidos integralmente pelos produtores do município. Após coleta, o leite é
processado que tem um custo por litro de R$ 0,67, chega ao consumidor final a um preço
que varia entre de R$ 0,80/L a R$ 0,90/L (preços de novembro de 2003). Essa variação de
preço está associada à margem de lucro incorporada pelo comerciante.
Os consumidores locais consideram que o leite em pó e o leite in natura não são
produtos substitutos, implicando assim em níveis de elasticidade preço-cruzada
praticamente nulos.
5. CONCLUSÕES
Este trabalho procurou apresentar os principais aspectos relativos ao consumo,
salientando tanto a produção de leite pasteurizado como a comercialização na cidade de
Camacan, Bahia.
A atividade pecuarista não tem tradição no município, existe um pequeno rebanho
com técnicas, muitas vezes inadequadas, em que boa parte do rebanho apresenta baixo
potencial genético para ordenha, o que resulta em baixos níveis produtividade.
A maioria dos consumidores salienta a importância do leite na dieta alimentar, no
entanto não consideram que a falta de processamento do leite (pasteurização) possa implica
em um produto de melhor qualidade quando comparado ao leite in natura . Para eles, o
consumo de leite cru não põe em risco à saúde, preferindo continuar consumindo esse tipo
de leite. Como a legislação atual não permite tal situação, eles acabam por consumir o leite
pasteurizado do laticínio local pela falta de opção, além do que o leite pó, segundo os
consumidores entrevistados não é um produto substituto ao leite fluido.
Conforme dados obtidos, os pequenos pecuaristas de leite em Camacan não
determinam o preço do produto, ficando submetidos às condições definidas pela única
empresa laticinista, que é a beneficiadora do leite local. Sob tais condições, o consumidor
acaba tendo pouca ou nenhum poder de barganha na compra do produto.
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