XIII Encontro de Iniciação Científica
IX Mostra de Pós-graduação
06 a 11 de outubro de 2008
BIODIVERSIDADE
TECNOLOGIA
DESENVOLVIMENTO
MCH0761
A PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE JORNALISMO DO VALE DO
PARAÍBA SOBRE AS MUDANÇAS NA PROFISSÃO DECORRENTE DA
DIGITALIZAÇÃO DAS MÍDIAS
Monica Franchi Carniello
Liliane Azevedo Santaella
Fabio Ricci
Professora Doutora da Universidade de Taubaté,
Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional,
Rua Expedicionário Ernesto Pereira, 225, Taubaté, SP
[email protected]
Mestranda, Universidade de Taubaté,
Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional,
Rua Expedicionário Ernesto Pereira, 225, Taubaté, SP
[email protected]
Professor Doutor da Universidade de Taubaté,
Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional,
Rua Expedicionário Ernesto Pereira, 225, Taubaté, SP
[email protected]
Resumo
O desafio da profissão de jornalista, atualmente, que cabe tanto ao mercado quanto à academia, é
adaptar-se ao cenário contemporâneo, marcado pelo acelerado desenvolvimento tecnológico dos
meios de comunicação. O objetivo desta pesquisa foi verificar a percepção dos profissionais de
comunicação do Vale do Paraíba sobre as alterações geradas pelo advento das mídias digitais no
jornalismo. Para conduzir esta pesquisa descritiva e qualitativa, foi utilizado o método de coleta de
dados por meio de entrevista estruturada. Foram selecionados como amostra trinta e um
profissionais de jornalismo atuantes no Vale do Paraíba. Verificou-se que a disponibilidade e
acessibilidade à informação, decorrente especificamente do advento da Internet, mudou o processo
de produção jornalística, diminuindo o trabalho de campo e imprimindo agilidade nos processos de
produção de mensagens. O estudo revelou uma visão otimista em relação às perspectivas
profissionais futuras, porém os entrevistados consideram que o mercado regional ainda é fraco no
setor, necessitando de mais profissionalização.
Palavras-chave: jornalismo, comunicação digital, Vale do Paraíba
Introdução
O grande marco histórico da imprensa brasileira é o ano de 1808, quando é fundado o
primeiro jornal no país, intitulado A Gazeta do Rio de Janeiro. A partir desse fato, que coincide,
não por acaso, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, outras publicações começam a
ser editadas em várias cidades brasileiras, entre eles o representativo Diário de Pernambuco, no
Recife (RAMOS, 1990, p.2).
Com isso, começa a se configurar no Brasil a profissão de jornalista, cuja ampliação do
campo de trabalho se relaciona diretamente ao desenvolvimento tecnológico das mídias.
Compreende-se que “o jornalista é responsável pela interpretação madura dos
acontecimentos, já que exerce liderança natural pela ocupação de canais que possibilitam a recepção
de mensagens por cidadãos e consumidores” (RAMADAM, 2001).
Com o aparecimento de novas mídias, como a revista, que se firma no mercado brasileiro no
começo do século XX; o rádio, que possui sua época de ouro na década de 40; a televisão, que é
introduzida no Brasil em 1950 e rapidamente se torna o veículo de maior alcance e penetração; e,
mais recentemente, a Internet, cuja abertura comercial no Brasil data de 1996, o jornalista se depara
com o desafio de cumprir sua função primeira, descrita acima, adaptando às técnicas e linguagens
específicas de cada veículo de comunicação.
Esse cenário passa a exigir cada vez mais profissionalismo. Se os primórdios do jornalismo
brasileiro foram marcados pela atuação de profissionais pouco preparados, que se aventuravam na
profissão, ou por profissionais vindos de outras áreas, especialmente do Direito, a segunda metade
do século XX é marcada pelo processo de profissionalização, cujo marco se dá com a criação do
primeiro curso superior de jornalismo.
“A criação do ensino superior de jornalismo foi um outro passo fundamental no processo de
profissionalização dos jornalistas. O curso de jornalismo foi criado por Getúlio Vargas, através do
Decreto n° 5.480, de 13 de maio de 1943. Mas o primeiro curso – da Fundação Casper Líbero, em
São Paulo – só entraria em vigor em 1947, depois que um novo decreto (n° 22.245, de 06 de
dezembro de 1946) regularizou as condições de seu funcionamento” (RIBEIRO, 2003).
Atualmente, o “Brasil possui 334 cursos superiores de jornalismo, 93 deles no Estado de São
Paulo” (BASSETE, 2007).
O desafio da profissão, atualmente, que cabe tanto ao mercado quanto à academia, é adaptarse ao cenário contemporâneo, marcado pelo acelerado desenvolvimento tecnológico dos meios de
comunicação.
A digitalização dos meios de comunicação, em especial a viabilização de um sistema de
comunicação em rede global, a Internet, acarretou novas possibilidades tecnológicas e estratégicas
de comunicação. O acesso a softwares produtores de imagens por parte dos usuários, a distribuição
global das informações, a possibilidade de comunicação com mídias móveis, a multiplicação de
canais de distribuição foram alguns dos fatores decorrentes desse processo.
Desde que a Internet abriu comercialmente no Brasil, em 1996, essas mudanças têm sido
instituídas, discutidas e absorvidas pelo mercado das empresas de comunicação.
O processo de adaptação, no entanto, é gradual, uma vez que implica condições econômicas
e adaptação cultural.
Objetivo
O objetivo geral desta pesquisa foi verificar a percepção dos profissionais de comunicação
do Vale do Paraíba sobre as alterações geradas pelo advento das mídias digitais no jornalismo. Para
isso, foram elaborados os seguintes objetivos específicos:
- verificar as mudanças na rotina profissional dos entrevistados;
- verificar qual a visão futura da profissão de jornalista;
- verificar as mudanças de estratégias de comunicação adotadas pelas empresas do ramo;
- identificar as mudanças nas formas de produção de mensagens;
- identificar as mudanças nas formas de distribuição de mensagens;
-identificar as especificidades das mudanças no mercado da comunicação do Vale do Paraíba;
- verificar o preparo dos profissionais de jornalismo da região para lidar com as mídias digitais.
Método
A pesquisa caracteriza-se como descritiva, qualitativa, com método de coleta de dados por
meio de entrevista estruturada. A coleta de dados foi realizada entre os meses de maio e junho de
2008. Foi elaborado um roteiro de entrevista com dez questões que contemplaram os objetivos
específicos da pesquisa.
As entrevistas foram conduzidas por alunos do primeiro ano do curso de jornalismo da
Universidade de Taubaté, que foram devidamente orientados e treinados. As entrevistas foram
gravadas e transcritas na íntegra e literalmente.
Foram selecionados, como amostra, profissionais de jornalismo atuantes no Vale do Paraíba.
Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, não foi utilizado o cálculo amostral estatístico. Para
definir o tamanho da amostra foi utilizado o critério da saturação, o que resultou em um total de 31
entrevistados.
Resultados e discussão
Abaixo estão sistematizados os principais resultados da pesquisa.
A primeira questão tinha como objetivo verificar se os profissionais da área de Comunicação
Social com habilitação em Jornalismo identificaram mudanças na profissão com o advento das
mídias digitais. Todos os respondentes afirmaram que a profissão sofreu uma evidente mudança,
sendo que a rapidez e o acesso facilitado à informação foram as mudanças mais citadas.
“Mudou o jeito do profissional trabalhar. O que antes a pessoa tinha que ir
para a rua para achar uma pauta, agora ela pode achar na Internet, o que
ajudou bastante” (R7).
“Foi a rapidez na produção de notícias” (R17).
Ao pontuar mais detalhadamente o que mudou na rotina dos profissionais de jornalismo, o
item mais citados foi o grande volume de informação disponível. Vários profissionais alertaram
que, em decorrência desse volume de informação, a checagem da veracidade da informação deve
ser mais cuidadosa. Alguns apontaram para um fato relevante: afirmaram que a disponibilidade de
informação tornou o jornalista mais preguiçoso e acomodado, uma vez que ele não precisa
necessariamente sair da redação em busca de informações novas, conforme reproduzido nas
respostas abaixo.
“Mudou que muita coisa que antes você precisava sair a campo pra
pesquisar ou pra conversar [...] você pode fazer a pesquisa inteira antes de
entrevistar determinado profissional só com as informações que você acha
na Internet” (R14).
“Diminuiu a ida do jornalista às ruas pra busca de informações, pra consulta
aos especialistas” (R22).
A grande maioria dos respondentes afirmou que, com a digitalização das mídias, o campo de
trabalho aumentou. Dos 31 entrevistados, apenas 3 afirmaram que o campo ficou mais restrito.
Muitos afirmaram que, apesar das redações terem ficado bem mais enxutas, há mais mídias e
veículos que passaram a oferecer funções novas.
“A redação de um jornal, por exemplo, eu acho que teve sim a sua equipe
enxugada [...] por outro lado, eu acho que a Internet trouxe sim outros
campos, abrindo outras oportunidades para profissionais” (R22).
“Eu acho que aumentou, porque apesar das equipes estarem cada vez
menores, existem muito mais equipes, existem muito mais veículos” (R14).
Quando questionados sobre a necessidade de utilização de novas estratégias de
comunicação, percebe-se que os respondentes interpretaram de forma distinta a questão. A maioria
se referiu ao processo de produção de textos jornalísticos, e não ao processo de distribuição de
mensagens ou formatos das mídias. Ainda assim, a grande maioria mencionou necessidade de
mudança ou adequação de estratégias e linguagem.
Foi unanimidade entre os profissionais o reconhecimento de que o computador trouxe
facilidades para a produção de textos e imagens, o que gerou uma aceleração dos processos de
produção jornalística. Quando questionados se o uso de softwares acarretou uma padronização
estética, a maioria discordou.
“O software permite bastante diversidade estética” (R17).
Um entrevistado apontou para uma outra vertente: a padronização de pautas, uma vez que a
Internet se tornou a principal fonte de pesquisa dos jornalistas.
A grande maioria dos jornalistas afirmou que é impossível ter controle sobre a mensagem na
Internet. Alguns mencionaram que é possível segmentar e direcionar as mensagens, mas não há
controle total.
“Não, eu acredito que não seja possível, pois a partir do momento que você
deixou é um espaço aberto, uma obra aberta, e não tem mais controle”
(R16).
Os fatores necessários para construir uma boa mensagem na Internet continuam sendo, sob a
ótica dos jornalistas, clareza, boa apuração e credibilidade, fatores que não se aplicam somente às
mídias digitais. Alguns mencionaram que é importante ter credibilidade fora do ambiente digital
para que esta credibilidade seja transposta para as mídias digitais.
“Para construir uma boa imagem na Internet precisa que você tenha uma
boa imagem fora da internet” (R30).
O otimismo aparece em todas as respostas quando questionados sobre as perspectivas
futuras do mercado, mas houve pouca precisão para traçar cenários futuros. Alguns poucos citaram
a intensificação do processo de convergência das mídias.
“Eu acho que vai haver uma concentração de tudo, em um único aparelho
você vai ter tudo o que você precisa” (R27).
Quando questionados sobre o mercado regional, verifica-se que os profissionais identificam
o cenário atual como ruim, ainda em fase embrionária, mas demonstram muito otimismo quanto ao
potencial crescimento deste mercado.
“Eu acho que está muito aquém do que a gente vê nas grandes capitais”
(R8).
“Eu acho que o mercado do Vale está em evolução” (R21).
“Tem, aqui no Vale, uma perspectiva de desenvolvimento ainda muito
grande” (R24).
A última questão visava verificar se os entrevistados consideravam os profissionais da
região preparados. A preparação profissional foi atribuída, pelos respondentes, mais a fatores
pessoais, como postura, dedicação e busca de constante atualização.
“Eu acho que isso está mais ligado ao desempenho pessoal” (R18).
Conclusão
O estudo revelou que as mudanças na rotina profissional são percebidas pelos jornalistas,
principalmente no processo de produção de mensagens jornalísticas, o que trouxe, segundo os
respondentes, agilidade e necessidade de cuidados maiores com a credibilidade das informações
disponíveis na Internet.
Ficou explícita uma visão otimista da profissão de jornalista, uma vez que a maioria afirmou ter
ocorrido uma ampliação no campo de trabalho. No entanto, ficou evidente que os profissionais
entrevistados acham o mercado do Vale do Paraíba atrasado em relação aos grandes centros, porém
o identificaram como promissor. Fica a questão, para posteriores estudos, se esta percepção se
reproduz entre profissionais das outras áreas da Comunicação Social.
Referências
BASSETTE, F. Jornalista é um narrador de histórias reais. 03 abr 2007. G1. São Paulo. Disponível em:
<http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL17138-5604-2894,00.html> Acesso em 05 jun.
2008.
RAMADAN, N.N.A. Reflexões sobre o ensino de jornalismo na era digital. XXIV Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação. Campo Grande, MS: INTERCOM, 2001. . Disponível
em: <
http://66.102.1.104/scholar?hl=pt-BR&lr=lang _pt&q=cache:K-m_11MQgIJ:reposcom.portcom.
intercom.org.br/dspace/handle/123456789/4376+fun%C3%A7%C3%A3o+do+jornalismo> Acesso
em 27 jul. 2008.
RAMOS, R. 1500-1930: Vídeo-clipe das nossas raízes. In: IBRACO. História da propaganda no
Brasil. São Paulo: T.A.Queiroz, 1990.
RIBEIRO, A.P.G. Jornalismo, literatura e política: a modernização da imprensa carioca nos anos
1950. CPDOC/FGV Estudos Históricos, Mídia, n. 31, 2003/1. Disponível em:
< http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/345.pdf> Acesso em 27 jul. 2008.
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