CONTRIBUIçõES AO GERENCIAMENTO DE CANTEIRO DE OBRAS Jorge Luís Leonardo1Glauco José de Oliveira Rodrigues2 Nélio Domingues Pizzolato3 resumo: Este artigo é baseado na pesquisa de dissertação de mestrado CONTRIBUIÇÕES AO GERENCIAMENTO DE CANTEIRO DE OBRAS, submetida e aprovada no Departamento de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, e trata da importância da análise do confronto de fatores gerenciais e produtivos observados nos canteiros de obras, que ainda empregam métodos de trabalhos da construção civil tradicionais em detrimento de outros, em que os métodos de trabalhos e de organização gerencial e produtiva têm incorporado as mais modernas técnicas, enfocando a rapidez, a economia, a qualidade e a segurança. abstract: This paper is based on the research leading to master os science dissertation, CONTRIBUTIONS TO THE MANAGEMENT OF SEEDBED OF WORKMANSHIPS, submitted and approved by the Civil Engineering Post Graduate Department of Universidade Federal Fluminense. This paper tells about the importance of the analizys of the confrontation of managemental and productive factors, observing the seedbeds of workmanships that still use traditional methods of job of civil construction in contraposition of others, where methods of job, managemental and productive organization have incorporated the most modern techniques pointing to fastness, economy, quality and security. Palavras-chave: Construção Civil, Qualidade e Canteiro de Obra Keywords: BUILDING CONSTRUCTION, QUALITY AND SEEDBED OF WORKMANSHIPS. Contribuições ao gerenciamento de canteiro de obras Jorge Luís Leonardo1 Glauco José de Oliveira Rodrigues2 Nélio Domingues Pizzolato3 Resumo: Este artigo é baseado na pesquisa de dissertação de mestrado CONTRIBUIÇÕES AO GERENCIAMENTO DE CANTEIRO DE OBRAS, submetida e aprovada no Departamento de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, e trata da importância da análise do confronto de fatores gerenciais e produtivos observados nos canteiros de obras, que ainda empregam métodos de trabalhos da construção civil tradicionais em detrimento de outros, em que os métodos de trabalhos e de organização gerencial e produtiva têm incorporado as mais modernas técnicas, enfocando a rapidez, a economia, a qualidade e a segurança. Palavras-chave: Construção Civil, Qualidade e Canteiro de Obra Abstract: This paper is based on the research leading to master os science dissertation, CONTRIBUTIONS TO THE MANAGEMENT OF SEEDBED OF WORKMANSHIPS, submitted and approved by the Civil Engineering Post Graduate Department of Universidade Federal Fluminense. This paper tells about the importance of the analizys of the confrontation of managemental and productive factors, observing the seedbeds of workmanships that still use traditional methods of job of civil construction in contraposition of others, where methods of job, managemental and productive organization have incorporated the most modern techniques pointing to fastness, economy, quality and security. Keywords: Building Construction, Quality and Seedbed of Workmanships. INTRODUÇÃO O setor de Construção Civil, tradicionalmente, tem praticado a sua tecnologia baseado no emprego intenso de mão-de-obra não qualificada. Tanto a fase de elaboração, que envolve confecção de projetos e de orçamentos, como a fase de produção física, vem desenvolvendo-se com ênfase no baixo custo, decorrente da referida mão-de-obra desqualificada. Esse procedimento vem sendo justificado pelo argumento da geração de empregos, supondo que a modernização reduziria o seu nível. Entretanto, essa baixa qualificação promove a informalização do trabalho na forma de subempregos, como também degrada os níveis salariais. Esse tipo de mão-de-obra despreparada dificulta a introdução de tecnologias avançadas, em que se possa ter qualidade, produtividade e menores custos de desperdício e retrabalho. Por outro lado, a premissa atual do mercado, impondo qualidade, obras com diversos executantes especializados, na forma de parcerias ou consórcios, estabelece outras propostas de trabalho que exigem pessoal de maior qualificação técnica, capaz de conduzir trabalhos em equipe, impor lideranças, entender amplitude de procedimentos etc. Os padrões tradicionais, baseados em baixos níveis tecnológicos, evidenciam que esta tecnologia antiga não é mais adequada e que proporciona operários sem qualificação, além de arquitetos e engenheiros com um saber aquém das exigências atuais. O tão discutido desperdício de materiais e de mão-de-obra, e objeto de tantos estudos apresentados por Agopyan (1998), pode representar perdas de 25 a 30% do custo da obra. Desde a década de 90 as construtoras buscam um modelo de indústria seriada em seus canteiros de obras (CARDOSO, 1997). A questão é que esse acesso a novas tecnologias é restrito para poucas, pois o investimento é alto e exige elevados níveis de produção. Comumente, percebe-se que os programas de qualidade, projetos e cadernos de encargos das empresas em geral só contemplam o produto acabado, e não o processo executivo dentro do canteiro. Em última análise, pode-se identificar como principais problemas: falta de planejamento de médio e curto prazo; carência de equipamentos; falta de definições de espaços adequados à armazenagem de diferentes insumos e, consequentemente, sua deficiência com o transporte e, finalmente, falta de parcerias com os fornecedores. É imprescindível que haja, por parte da empresa, um movimento de constante planejamento, conforme o ritmo alcançado. A organização de um canteiro de obras é uma das partes mais importantes do planejamento, resultando em projetos detalhados das locações e das áreas destinadas a instalações temporárias, que podem variar conforme a natureza do empreendimento. Os componentes típicos de um canteiro são: escritórios, oficinas, estacionamento, almoxarifado, depósitos, centrais de concreto, pátios de manutenção e, no caso de materiais e equipamentos importados, áreas de estocagem. Um canteiro de obras bem projetado tem impacto significativo sobre os custos e a duração da obra. Sensíveis modificações vêm ocorrendo nos canteiros de obras. A modernização de técnicas operacionais, a performance de máquinas e equipamentos, a maior profissionalização e consciência dos trabalhadores, da equipe técnica e operacional, bem como as inovações que a informática vem proporcionando, têm impulsionado essas modificações. Mediante o exposto, pode-se concluir que o produto final deverá ser o bom andamento da obra e o impacto significativo no custo. Esse artigo tem por objetivo, então, contribuir com as empresas de construção civil na implantação de canteiros de obras e suas interferências com o projeto e execução da obra, em que se faz necessário uma série de intervenções cujo objetivo é a redução de custos, evitando o desperdício e, principalmente, desenvolvendo na equipe disciplina consciente de trabalho, com a metodização de procedimentos corretos, mantendo a persistência na aplicação de cada solução e provocando situações de visibilidade interna e externa à qualidade pretendida. Desta forma, a equipe elabora sua própria cultura para a qualidade, redução de custos, segurança e saúde. A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EM CANTEIRO DE OBRAS A construção do canteiro de obras é um procedimento que antecede a execução da obra, variando conforme o tamanho do empreendimento a ser construído. As tarefas preliminares para a construção do canteiro incluem o acesso à água para consumo, como primeira providência, a coleta de esgoto, (imprescindíveis para a primeira locação física do canteiro de obras), o barracão de guarda ou conteineres para a guarda de materiais e abrigo dos operários residentes, o fechamento da obra ou todo o perímetro do terreno (além de exigência da prefeitura, trata-se ainda de serviço que visa melhorar a segurança da obra), item fundamental nos dias de hoje, e que deverá ser permanente é, finalmente, o canteiro de serviço, que após a construção do barracão ou instalação do conteiner, inicia a preparação do terreno para receber a locação de paredes. 1. Princípios básicos para a organização do canteiro de obras Segundo Souza (1993), em um canteiro de obras o objetivo principal é alcançar uma melhor disposição para o material, mão-de-obra e equipamentos. Para a organização de um canteiro de obras, alguns princípios básicos devem ser observados conforme a Tabela 1: TABELA 1 Caráter particular Caráter geral Integração O vulto da obra Minimização A natureza e o tipo da obra de distâncias Disposição de áreas de estocagem e de A localização da obra locais de trabalho Diversificação dos tipos Uso de espaços de materiais e de elementos construtivos Especialização das empresas Produtividade que irão participar da obra Condições locais do mercado Flexibilidade de trabalho Ao se iniciar uma obra, deve-se sempre pensar na organização do canteiro de obras de forma a compor uma melhor maneira para os produtos. Esse cuidado agiliza a obra, e ao mesmo tempo evita perdas, danos ou extravio de materiais. Nos dias atuais, em que a competitividade é grande, a procura por novos procedimentos gerenciais, principalmente os de planejamento de obras, poderão reduzir os custos da empresa a partir de um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis para a produção, bem como diminuir os investimentos ou o aporte de recursos financeiros mediante estratégias de obra que não antecipem ou “estoquem serviços”, evitando a mobilização de recursos financeiros na obra antes do necessário. 2. A situação das empresas e as dificuldades na implementação de sistemas de planejamento em canteiro de obras Conforme apresentado por Souza (op. cit.), a situação das empresas e as dificuldades na implementação de sistemas de planejamento em canteiro de obras são comuns em praticamente todo o território nacional, e é sabido que a maioria das empresas do setor, principalmente as pequenas e médias, utiliza procedimentos precários para planejamento de sua produção. Esse quadro é menos grave nas empresas que atuam com construção pesada e obras industriais, sendo bastante acentuado nas que operam com construção leve, como as obras de edificações. Alguns fatores contribuem para esse fato, tais como a falta de tradição e cultura do setor de construção civil no tratamento do tema gerenciamento/planejamento e a formação deficiente dos engenheiros civis e arquitetos no assunto. A comprovação para este fato é a grande procura por cursos de especialização na área de Gerenciamento na Construção Civil, em que profissionais já formados buscam complementar a sua formação para atender à realidade do mercado de trabalho, e as dificuldades que universidades e centros de pesquisas têm para desenvolver processos e sistemas de planejamento que efetivamente venham ao encontro das necessidades das empresas, devido ao distanciamento natural da realidade do canteiro e a descrença em sistemas. A solução seria não importar sistemas e processos de planejamento de países mais desenvolvidos, devido à existência de diferenças entre o processo de produção, além das dificuldades naturais de comunicação devido à diferença de idiomas. 3. Os caminhos e agentes facilitadores para mudança nas empresas construtoras Conforme apresentado por Limmer (1997), o principal agente da mudança é a percepção, por parte das empresas do setor, de que o planejamento da produção é fator importante para aumentar sua influência na produção, bem como administrar melhor seus recursos, observando a ótica do mercado atual. Com a finalidade de obtenção de sucesso, deve-se observar ou mesmo seguir algumas recomendações, tais como: entender que o planejamento de um canteiro de obras é parte de um processo que tem interfaces com outros processos e sistemas internos da empresa, dentre os quais podem ser destacados o empreendimento, projetos, suprimentos e produção, capacitação da equipe técnica da empresa em conceitos, instrumentos e técnicas de planejamento, via programa de treinamento para que os profissionais de nível superior da obra saibam analisar relatórios, identificar folgas, caminhos críticos e entender as sequências propostas nos cronogramas e, até mesmo, ser incentivado a operar os sistemas. Recomenda-se, também, evitar a implantação de “pacotes fechados integrados” que se propõem a resolver todos os problemas de programação de controle da produção, inclusive os de orçamento e controle de custos, que são pouco flexíveis no trato da informação, exigindo que a empresa mude sua forma de ser para se ajustar a ele. Caso se opte pela implantação dos pacotes fechados, como os que elaboram orçamento de obras, recomenda-se optar por aqueles que sejam flexíveis no trato da informação, que permitam importar e exportar dados de um para outros aplicativos ou sistemas. Outro aspecto recomendável é, sempre que possível, estruturar o sistema de planejamento como em sistema aberto, desenvolvido por meio de aplicativos de uso corrente do meio técnico (planilhas eletrônicas, gerenciadores de projetos e outros), de forma que o sistema possa ser desenvolvido e adaptado à cultura da empresa, e não o inverso. Para programação física da obra é de boa prática a utilização de técnicas de rede de precedência (CPM) e, em obras de edifícios, buscar a otimização das suas características, em que as atividades se repetem de pavimento para pavimento ou de trecho para trecho, dentro de uma mesma sequência de serviços. Essa característica, se explorada adequadamente, facilita a geração de modelos em rede. Finalmente, recomenda-se ainda que o início da implantação ocorra de forma gradativa, de modo que os sistemas e procedimentos sejam assimilados sem percalços pela organização, lembrando que o setor está criando cultura sobre o assunto e, desta forma, algum tempo pode ser necessário para a devida fixação. 4. Planejamento do Canteiro de Obras A execução de uma obra é feita segundo um “sistema de produção”, o qual condiciona a disposição dos diferentes componentes no respectivo canteiro de obras. No caso da construção civil, o canteiro de obras pode, se comparado com a produção industrial fabril, ser classificado como uma fábrica móvel, diferindo da fábrica tradicional no sentido que o produto resultante do processo de produção é único e estacionário, enquanto que os insumos (mão-de-obra, materiais e equipamentos) é que se deslocam em torno do produto. Influem na definição do “sistema de produção” da obra as condições do local onde será instalado o canteiro, bem como as de origem da natureza, como fatores ambientais (clima, ecologia etc.), constituindo o que se poderia denominar de componente local do sistema. Além desse componente, há o componente de processo, que é função do processo escolhido para realizar a obra. Segundo Ferreira (1998), o arranjo de um canteiro de obras inclui-se como uma das partes mais importantes do planejamento da obra. Este arranjo resulta em desenhos detalhados das locações e das áreas reservadas às instalações temporárias, respeitando suas origens, porém objetivando um mesmo propósito, ou seja, o de fornecer suporte às atividades de construção. Outra formulação quanto ao arranjo de um canteiro de obra é tratá-lo como um problema de otimização, combinatória discreta. Esse arranjo é delimitado ao problema de um conjunto predeterminado de elementos de produção, circunscrito a um conjunto de áreas igualmente predeterminadas, atendendo suas condições e objetivando sua otimização. 5. Resultados na obra Os resultados trazidos pela implantação de sistemas de qualidade na obra podem ser observados em algumas construtoras e representam movimento que ganha adeptos a cada dia. Os sistemas de qualidade hoje também balizam negociação de contratos e disciplinam as relações com clientes e fornecedores, bem como a certificação que também cumpre um papel importante na modernização do cotidiano das construtoras, criando uma identidade empresarial relacionada com a criação de um arquivo próprio da empresa, em que a forma de armazenar e referenciar documentos anteriores de obras executadas traz ações e procedimentos que possam estabelecer referências comparativas, conforme defende Picchi (1993). CANTEIRO DE OBRAS: TERCEIRIZAÇÃO X RECICLAGEM X CUSTOS 1. Terceirização Atualmente, terceirizar em um canteiro de obras significa delegar um serviço para uma empresa especializada, com a finalidade de encontrar um meio de elevar a produtividade e qualidade da produção, garantindo assim a concretização de prazos e flexibilização na produção, a menores custos do que se poderia ter com uma equipe própria. Esta conceituação, porém, apresenta aspectos que devem ser analisados, pois o construtor não pode apenas pensar em reduzir custos na hora de terceirizar ou subcontratar, devendo levar em consideração, também, a experiência da empresa e sua dinâmica de atuação. A terceirização caracteriza-se por uma prática comum, mas ainda existem dificuldades de encontrar prestadoras de serviços com mão-de-obra especializada, compatível com a técnica e a forma gerencial da empresa contratante. A busca pela qualidade, com a implementação do PBQP-H e a disseminação das normas ISO 9001 , caracteriza indícios de mudanças que levam as empresas construtoras a exigirem qualidade das subcontratadas. Uma boa parte dos custos fixos de uma construtora é transferida para a terceirização. Entendendo que a terceirização obtém ganhos de produção, pode também reduzir os encargos trabalhistas da construtora. No canteiro de obras, a pressão pela redução de custos trabalhistas faz com que a construtora pressione o empreiteiro; este faz o mesmo com sua mão-de-obra, não pagando devidamente os custos trabalhistas, ou passa a selecionar uma mão-de-obra desqualificada, trazendo consequências indesejáveis, tais como: valorização do profissional diminuída, seguida de autofagia, desqualificação profissional e o desperdício de material. Quando bem conduzida, a terceirização é mestra na produtividade. Com a mudança do mercado, juntamente com a nova postura das construtoras, tem-se a tendência de encontrar subcontratadas que, do ponto de vista da qualidade, preço e produtividade, atendem melhor e dão garantia de seus serviços dentro da realidade esperada. É importante desenvolver uma cadeia de subcontratados desde o projeto até a obra, exigindo uma abordagem just in time e integração das competências que são necessárias, não só para construir, mas também para conceber, desenvolver e atuar. 2. Reciclagem – União do útil ao agradável Observando-se a problemática do entulho de obra e a possibilidade de reciclagem agregando valor ao próprio empreendimento, parte significativa dos materiais que entram numa obra saem, ao final, na forma de lixo, tais como: mistura de cacos cerâmicos, argamassa, concreto, madeira, papel, terra etc. A reciclagem desses resíduos pode ser um negócio lucrativo, já consolidada em outros países, mas ainda nova no Brasil, em que procura-se eliminar a nociva deposição do entulho no canteiro de obras em locais comuns, como: rios, valas públicas, aterros sanitários, vias públicas e, ao mesmo tempo, obtendo-se materiais de construção mais baratos e de boa qualidade. Por isso, é imprescindível encontrar soluções para o problema do entulho, em formas práticas de reciclagem na própria obra, ou em usinas montadas para esta finalidade. As estatísticas veem que a construção civil se constitui em uma das atividades econômicas que mais produzem entulho e que, por esse motivo, o canteiro de obras pode se utilizar de entulho gerado por esta obra, como material de construção na própria obra. Segundo afirma Zordan (1990), o estudo de soluções práticas que apontem para a reutilização do entulho, na própria construção civil, contribui para amenizar o problema urbano dos depósitos clandestinos destes materiais, proporcionando melhorias do ponto de vista ambiental, e introduz no mercado um novo material com grande potencialidade de uso. A reutilização do entulho de construção na própria obra vem possibilitando também resultados significativos de economia e de gerenciamento. O entulho gerado pela indústria da construção civil, especificamente o canteiro de obras, possui particularidades inerentes a condições específicas de cada obra. O entulho gerado, analisado sob a ótica da reciclagem como material de construção na própria obra, é composto de duas porções bem distintas, que são os entulhos não recicláveis e os entulhos recicláveis. 3. Os custos da terceirização e da reciclagem de entulho Faz parte da cultura administrativa de um canteiro de obras o fato de que, durante a execução da obra, o entulho gerado a partir de um determinado instante passa a ser um estorvo, ou seja, um elemento estranho à obra. Mas, para o uso do entulho como material de construção na obra, não se faz movimentos com entulhos recicláveis gerados, que são preliminarmente deixados no próprio compartimento. Além disso, proporcionalmente ocupa menos espaço físico do que o que eventualmente ocuparia no térreo em operação antecedente ao “bota-fora”. Souza (1999) analisa o ciclo de vida de um empreendimento, correlacionando-o com as perdas. O surgimento da parcela entulho ocorre nas fases de execução e utilização de um empreendimento, nunca na fase de concepção. O mesmo é sempre somado com a perda por material incorporado, presente em todas as fases. De fato, sabe-se que os materiais presentes no entulho estão relacionados com o desperdício e são passíveis de reaproveitamento com técnicas de reciclagem. Desperdícios não computados, assim como entulhos, podem trazer grandes transtornos aos empreendedores. Diminuir o desperdício implica consequentemente em reduzir a quantidade de entulho gerado. Essa meta torna-se uma necessidade no mercado da construção civil, em que se nota um aumento da competição entre empresas e maiores exigências dos consumidores de obras de edifício, ainda segundo Souza (op. cit.). É importante elucidar que a construção civil é fonte geradora de entulho em quantidades e variedades múltiplas, em que é impossível formalizar um critério padrão para definição de uma metodologia universal no uso do entulho gerado por uma obra. O entulho que uma obra produz pode ser utilizado e consumido de forma reciclável, dentro da própria obra. O uso do entulho como material de construção em canteiro de obras é de forma preponderante, inevitável e inadiável, pois de alguma forma, muito esforço há de ser feito no sentido da conscientização de nossos construtores para o fato de que todos ganham com a reciclagem do entulho de obra, principalmente a natureza. Compatibilização do custo dentro de uma nova forma de organização de trabalho – Uma nova ótica de gerenciar 1. O novo é uma realidade Segundo Cardoso (op. cit.), as novas tecnologias estão incorporadas à realidade corrente, deixando-se de lado o barro e o tijolo, passando-se a empregar materiais industrializados e elementos arquitetônicos pré-fabricados, notando-se ainda que, desta maneira, antigas formas de execuções de obras passaram a fazer parte do passado. Estas novidades fazem com que os custos sejam reduzidos em até 20% e os prazos de obra em até 30%. As construtoras começam a adotar um novo processo tecnológico construtivo, fazendo que a construção não se inicie no canteiro de obra. Ela atua antes, na indústria, em que estruturas, armações, fôrmas, escadas, fachadas de prédios, divisões internas, e até banheiros, são fabricados. 2. As novas tecnologias e suas implantações A diminuição de custos em canteiro de obras depende da associação de diferentes sistemas construtivos. Pode-se citar, como exemplo, paredes internas, fabricadas no sistema drywall, acartonadas com gesso e colocadas em barracas metálicas. As paredes internas, no sistema drywall, são montadas com facilidade e são de manutenção fácil: no caso de problemas com as instalações embutidas, basta cortar o painel, consertar e fechar o corte. Para que isso aconteça é necessário e imprescindível que o projeto seja bem elaborado. Essas inovações são hoje empregadas no canteiro de obras brasileiro (RJ e SP, por exemplo). Outras novidades são fachadas e varandas pré-moldadas, montadas e soldadas em apoios de concreto instalados nas lajes. Banheiros e cozinhas chegam prontos nos canteiros, pois vêm do fornecedor com piso, azulejos, louças, luminárias, torneiras, boxes, portas, saboneteiras, chuveiro e sistemas elétrico-hidráulico. A fim de dar uma idéia da produtividade, em apenas um dia, vinte banheiros ficam prontos, enquanto que, no sistema convencional, estes serviços demandam meses. Estas novas atitudes trazem um prazo de execução mais curto, possibilitando a entrega do imóvel mais cedo do que o esperado. Mas, pelo mercado, há uma exigência que 50% do valor do imóvel sejam pagos pelo proprietário até a entrega, o que desestimula a inovação e a redução de prazos. 3. Uma nova ótica no canteiro O canteiro de obras do futuro é uma linha de montagem, unindo-se planejamento e projetos completos, com diversos sistemas e produtos industrializados. Neste aspecto, todas essas ações vão levar a uma produção enxuta, que, como define Hirota (2000), é a denominação de uma nova concepção dos sistemas de produção. O desafio é adaptar conceitos e princípios da produção enxuta na aplicação na indústria da construção, buscando desta forma melhor desempenho em seu processo de produção. A eliminação de desperdícios, a rapidez executiva, a redução de consideráveis custos e um quadro de operários mais reduzido e enxuto se faz pertinente para o processo de produção, pois a construção civil é uma grande fonte de dados e informações que geram grandes novidades e inovações tecnológicas. É notório que a elevada competitividade, a busca pela excelência, o foco no cliente e as transformações nas relações de mercado entre as empresas são feitos em um contexto em que está a busca de uma melhor organização, melhor gestão, inovações tecnológicas, menos desperdícios, melhor emprego dos recursos, maior segurança no trabalho, maior motivação dos trabalhadores, menor impacto ambiental, menores preços dos produtos construídos e menores custos de operação ao longo da vida útil, ou seja, esses pontos constituem o objetivo que deve ser perseguido por todos os agentes do processo construtivo. Conclusão A reestruturação organizacional do canteiro de obras é parte da nova realidade da indústria da construção civil, em que a redução das perdas de material e o treinamento eficaz da mão-de-obra permitem melhorar a competitividade das empresas, fator fundamental para sua própria sobrevivência. Sobretudo em uma conjuntura econômica na qual as técnicas de produção até então tradicionais dão lugar a novas metodologias que convergem com gestões mais condizentes com a realidade. Evidencia-se que nesse processo de renovação há a predominância da produção nas estratégias das empresas e a busca da eficiência na integração da empresa, e não mais no posto de trabalho. A integração tem como premissa uma organização empresarial em que o saber técnico responde de modo ágil às solicitações. A gestão deve ser cada vez mais profissional e profissionalizada, os objetivos claramente estabelecidos, os planos cuidadosamente elaborados; a execução deve ocorrer em níveis adequados de eficiência operacional e as avaliações de desempenhos e resultados precisam apontar para a contribuição efetiva que cada produto, serviço e gasto trazem para a consolidação de um desenvolvimento econômico saudável da empresa, mesmo diante de um histórico brasileiro de insustentabilidade econômica, em que esta meta se torna um desafio constante. Esta visão do novo cenário de negócios é válida para empresas de todos os portes (micro, pequenas, médias e grandes), pois a eficácia empresarial é requisito básico para a sobrevivência e crescimento das entidades econômicas, principalmente aquelas cujo lucro de forma perene é seu maior objetivo social. Apesar dos empreendimentos imobiliários serem únicos, os processos necessários para o seu desenvolvimento e gestão são, na prática, basicamente os mesmos. O importante é que a empresa defina o seu método de gestão baseado em sua cultura técnica, estágio de organização e recursos disponíveis, ou seja, vise sempre adequar as possibilidades da empresa à realidade da obra, em que o tripé homem-equipamento-material deve ser gerido cada qual com suas habilidades específicas, convergindo para um aumento real da produtividade. As empresas da construção civil precisam agregar os valores já tão elogiados do setor de projetos de obras, no que tange à qualidade das metodologias empregadas, buscando acompanhar os avanços tecnológicos para execuções competitivas e rentáveis. O desafio maior do setor da construção civil é fazer certo logo na primeira vez, princípio clássico da qualidade. Em outras palavras, é fundamental que haja eficácia nos procedimentos empregados, isto é, saber escolher com responsabilidade o caminho certo para alcançar os melhores resultados e implantá-los com sucesso. Esta é a conclusão final deste artigo, na esperança de que o binômio certo-eficaz faça parte do cotidiano das empresas de construção civil (setor de edificações), para que estas possam despontar como um setor realmente produtivo, digno da dimensão da perenidade das grandes obras de engenharia que produzem e da responsabilidade pelas vidas que abrigam. SOBRE O AUTOR 1 - Engenheiro Civil, Mestrando em Engenharia Civil pela UFF, professor e coordenador do curso de Engenharia Civil da UNISUAM. 2 - Engenheiro Civil, Mestre em Ciências pela PUC-Rio, Doutor em Ciências pela COPPE/UFRJ, professor dos cursos de Engenharia Civil da UNISUAM e FTESM. 3 - Engenheiro Industrial Mecânico, Mestre em Engenharia de Produção pela PUC-Rio, Ph.D em Business School pela University of North Carolina,U.N.C., Estados Unidos, professor do curso de Pós-graduação Stricto Sensu da UFF. referÊncias bibliogrÁficas AGOPYAN, V. Alternativas para a redução do desperdício de materiais no canteiro de obras. – Relatórios de volumes 01 a 05. São Paulo: 1998. CARDOSO, F. F. Importância dos Estudos de preparação e da logística na organização dos sistemas de produção de edifícios: Alguns aprendizados a partir da experiência francesa. In: 1º SEMINÁRIO INTERNACIONAL LEAN CONSTRUCTION, 1997. FERREIRA, E. A. M. Metodologia para elaboração do projeto do canteiro de obras de edifícios. São Paulo: EPUSP, 1998 (Tese de doutorado). HIROTA, E. H. O Processo de Aprendizagem na Transferência dos Conceitos e Princípios da Produção Enxuta para a Construção. – Papers – UEL – Campus Universitário – Londrina – Paraná - 2000. LIMMER, C.V. Planejamento, orçamento e controle de projetos e obras. Rio de Janeiro, LTC, 1997. 225p. PICCHI, F. A. Sistemas de Qualidade: uso em empresas de construção de edifícios. São Paulo, 1993. 462p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. SOUZA, R. e MEKBEKAIN, G. 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