KORNIS, Mônica Almeida – Imagens do
autoritarismo em tempos de democracia:
estratégias de propaganda na campanha
presidencial de Vargas em1950. CPDOC/FGV.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 34, 2004
Neste texto a autora analisa a construção da narrativa
dos filmes”Uma vida a serviço do Brasil” “E ele voltou”,
realizados em 1950 como propaganda da campanha de
Getúlio Vargas à presidência da República. Os filmes
são construídos basicamente por imagens produzidas
durante o Estado Novo (1937-1945). Mas, os conteúdos
são ressignificados, nessa conjuntura, por essas
produções.
O primeiro filme: ”Uma vida a
serviço do Brasil”(A. Botelho)
Algumas questões:
• O filme assinalado usa imagens produzidas durante o
Estado Novo referentes a situações diversas. A autora
se propõe investigar em que termos se deu a
“migração dessas imagens”, produzidas em outros
contextos históricos e narrativos > e a ressignificação
dos conteúdos primeiros, para a construção do perfil
do candidato Vargas, concorrente às eleições
presidenciais de 1950. A pergunta é: como essas
imagens se coadunam com o espírito democrático
desse período?
As questões teóricas no uso das imagens
• Ou seja, como tais imagens podem se adequar a um
espírito democrático e servir a objetivos políticos tão
distintos? Antes de responder a questão a autora
volta-se aos seus fundamentos ao afirmar que
• “a imagem pode ser usada para qualquer fim,
valendo-se, sobretudo, de sua dimensão ilusória de
fiel reprodução do real”. Dessa forma > o exercício
crítico de desconstrução do discurso contido em
ambos os filmes pressupõe, não o exame isolado das
imagens, mas, ao contrário, a análise de suas
estratégias narrativas, distintas entre si.
O uso das imagens fílmicas
• Trabalhar com as imagens desses filmes do período
autoritário > significa entendê-las não como
expressão de uma propaganda autoritária – forma
como aprendemos a vê-las, no interior do contexto
político que as produziu – mas, neste caso, como
produtoras de uma imagem positiva para um
candidato à presidência da República em campanha
democrática. Ou seja, trata-se de examiná-las como
formuladoras de novos significados, apontando para
questões referentes à história política republicana
brasileira, examinada tradicionalmente através de
documentos escritos (p. 3).
1. A campanha personalista em “uma vida e
serviço do Brasil”
• Para efeito de análise, a autora subdivide o filme em
três partes e esclarece que o mesmo foi produzido a
partir de imagens oriundas dos cinejornais do DIP.
• Mônica Kornis esclarece que “as duas questões
centrais do filme são colocadas nos seus primeiros
momentos: a identificação de Vargas com a nação e
com o povo brasileiro” (p. 4).
• Após os letreiros da produção e do título > o filme
mostra Vargas com bandeira nacional, tendo ao fundo
um coral que canta o hino à bandeira, seguido de
uma revoada de pássaros, e novamente a volta a
imagem de Vargas erguendo a bandeira.
Análise do filme “Uma vida a serviço do
Brasil”- cont.
• Na Primeira parte > marca o compromisso de Vargas com
a Nação brasileira > ou seja, o caráter popular de sua
candidatura > estreita relação entre ele e o povo > em
concentrações públicas e nas ruas.
• A segunda parte > se volta para as realizações de seu
governo e para sua atuação política
• Por último > retomada a relação entre Vargas e as massas
populares > agora na campanha eleitoral.
• Configuram-se dois tempos no filme: parte-se do mito – na
identificação de algo que foge à ordem do real e se apóia
na emoção manifestada em toda parte e em qualquer
tempo – e chega-se a história – momento no qual realiza-se
a campanha eleitoral -, passando pelas realizações de
governo > sem uma preocupação com a datação histórica.
•
2. O olhar petebista em “E ele voltou”
(Aristeu Santana)
• Outra perspectiva da propaganda eleitoral > é
exposta pelo filme “E ele voltou” > vincula-se a
uma peça de propaganda partidária que possui
uma narrativa distinta > registro da campanha
eleitoral. O caráter personalista permanece,
mas trata-se agora de um filme com uma
ligação partidária explicitada desde a abertura
> cuja trilha sonora é o hino do PTB.
• Não há linearidade cronológica no filme >
montagem também obedece a outros critérios.
Cont. da análise de “E ele voltou”
• A autora divide o filme, para efeito de análise, em
quatro partes a saber:
• 1. a apresentação do filme como uma contribuição do
PTB, tendo em vista a campanha presidencial de
Vargas;
• 2. a trajetória do ex-presidente a partir do fim do
Estado Novo;
• 3. a comparação entre o momento em que Vargas
assumiu o poder e a época em que ele já cumpriu dez
anos de mandato;
• 4. e, finalmente, a campanha eleitoral” (p.13).
Cont. da análise de “E ele voltou”
• Após o hino do PTB , a informação “O solitário
de Itu” > define o marco temporal da narrativa
(do período pós Estado Novo)> e do expresidente na fazenda Santos Reis,em
Borja/Rs.
• Além das imagens de políticos visitando-o, é
uma constante a presença de Ademar de
Barros, que indica a aliança formalizada entre o
PTB/PSP visando as eleições presidenciais de
1950.
Considerações gerais
• Nas considerações finais a autora retoma algumas
questões gerais que aparecem nos dois filmes.
• É possível dizer que: o personalismo de Vargas >
bastante marcado no Estado Novo e na campanha
presidencial de 1950. Mesmo no filme “E ele voltou” >
Vargas é mostrado como um líder que extrapola os
limites do partido criado por ele próprio, o PTB.
• O foco é sua ligação imediata com as massas e não
os trabalhadores organizados em sindicatos.
• O povo e a defesa dos interesses nacionais > são os
pilares dessa candidatura (p. 17).
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Apresentação - Mônica Kornis– Imagens do