A UCTL situa-se no Setor P-Sul de Ceilândia, junto à UILE, ocupando uma área de aproximadamente 880.000 m2, entre os córregos do VaIo e Grotão e o rio Melchior. Localiza-se no Imóvel Guariroba, desmembrado do município de Luziânia e incorporado ao Distrito Federal, na área para a Destinação Sanitária do Lixo de Brasília, designada pelo Decreto nº 8.522, de 14 de março de 1985, que homologou a Decisão nº 13/85 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal, que diz em seu Art. 1º: “Fica homologada a Decisão n.º 13/85 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal que definiu a criação de duas áreas, sendo uma para Destinação Sanitária do Lixo de Brasília e a outra destinada ao Tratamento de Esgotos Sanitários para a Região Administrativa de Taguatinga - RA III, consubstanciadas na planta do SICAD de número 149”. Os serviços operacionais da usina, que englobam a triagem, a reciclagem e a compostagem do lixo proveniente de parte do DF, têm por objetivos principais: • • • • • • Melhorar as condições de tratamento e disposição dos resíduos sólidos; Diminuir a quantidade de resíduos a serem aterrados; Gerar empregos através da criação de uma cooperativa de catadores. Representar uma economia de energia por meio da redução do desperdício; Diminuir a poluição do ar e das águas; Preservar os recursos naturais; O processo de triagem é realizado por catadores cooperados, que separam os resíduos secos do orgânico, por meio de peneiras que separam materiais de diferentes tamanhos ou granulometria, e por correias com eletroímã que selecionam os materiais metálicos. A usina utiliza o processo de reciclagem de lixo, ou seja, papel, papelão, plásticos, vidros, latas e alumínio são selecionados para serem reutilizados como matéria prima na manufatura de bens, feitos anteriormente com matéria-prima virgem. Em 1988, ocorreu a desativação do higienizador, ocasionando a substituição do processo de compostagem em meio confinado pelo processo a céu aberto, conhecido também por método windrow. A compostagem é um processo biológico aeróbico e controlado de transformação de resíduos orgânicos em resíduos estabilizados, com propriedades e características completamente diferentes do material que lhe deu origem. É normalmente realizada em pátios nos quais o material é disposto em montes de forma cônica, conhecidos como pilhas ou leiras de compostagem, gerando a partir da grande massa do lixo urbano, um composto orgânico com características padronizadas de imensa valia à agricultura no Cerrado, por serem seus solos pobres em nutrientes minerais e deficientes em matéria orgânica. Uma parte desse composto orgânico é vendida e a outra é doada. Hoje, todo o rejeito deste sistema de tratamento é destinado ao Aterro Controlado do Jóquei, que está com sua capacidade esgotada, sendo necessário o licenciamento de um novo local para disposição desses rejeitos. Estudos técnicos, econômicos e financeiros indicaram serem estas as melhores opções para o tratamento e a destinação final do lixo local, dentro das condições urbanas e mercadológicas, características de Brasília. 373 Processo de licenciamento O Órgão Ambiental licenciador é a antiga Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH. O responsável pelo requerimento da licença ambiental é o SLU. Processo N°191.000.884/92: Usina de Reciclagem e Compostagem de Lixo, localizada em área contígua à Usina de Incineração de Lixo Especial - P Sul - Ceilândia – DF. Titulariedade da propriedade A área localiza-se no imóvel GUARIROBA, desmembrado do município de Luziânia - GO e incorporado ao território do Distrito Federal, em Terras Desapropriadas e parte em Terras Desapropriadas em Comum, conforme Carta de Sentença passada a favor da COMPANHIA IMOBILIÁRIA DE BRASÍLLA – TERRACAP. Instalações e equipamentos do SOUCTL A empresa Enterpa Ambiental, hoje QUALIX, assumiu a gestão da usina em 2000, quando foram reformadas, adaptadas e melhoradas as instalações, com relação aos aspectos de infraestrutura, construção civil, redes elétricas e equipamentos mecânicos. Toda a área da usina é cercada com mourões de concreto e arame farpado. As fontes de abastecimento de água e energia elétrica para manter o funcionamento das instalações da usina são, respectivamente, CAESB e CEB. A partir de 2001, o Serviço de Operações da Usina Central de Tratamento de Lixo – SOUCTL sofreu modificações, adaptações e ampliações. Nesse sentido, pôde-se observar que as instalações de apoio existentes foram relocadas e ampliadas de modo a atender às necessidades e objetivos da Usina. Foram realizadas reformas, adaptações e melhorias nos seguintes itens: • • • • • • • • • • • • Escritórios/Administração; Balança Rodoviária; Portaria; Balança; Oficina mecânica; Refeitório; Sanitário/ Vestiário; Acessos; Enlonamento dos caminhões; Pavimentos; Abastecimento de água e combustível - foi construída uma nova caixa d’água para alimentação da Usina e uma cobertura para a bomba de abastecimento de combustível; Sistema de proteção contra incêndios - instalados hidrantes e extintores de água e gás carbônico. 374 Descrição do sistema operacional • Triagem e Reciclagem O lixo coletado chega à usina em sua forma bruta, apenas compactado nos caminhões transportadores ou já na forma de pré-composto (orgânico), proveniente da Usina de Tratamento de Lixo - UTL, na Asa Sul. Os caminhões são pesados na balança na entrada (Ilustração 218). O pré-composto é depositado diretamente nas leiras, para continuidade do processo de compostagem, que durará cerca de 60 dias. Ilustração 218 - Balança Fonte: PROGEA - 2005 O lixo bruto segue para a recepção (Ilustração 219), onde é depositado. Na recepção existem exaustores de gases ligados a filtros biológicos, que atenuam os odores produzidos pelo lixo (Ilustração 220 e Ilustração 221). Os filtros são compostos por tubulações perfuradas, cobertas por camadas de brita de granulometria decrescente, que retêm as partículas sólidas e com elas grande parte do mau cheiro. 375 Ilustração 219 - Recepção Fonte: PROGEA – 2005 Ilustração 220 - Saídas dos exaustores Fonte: PROGEA - 2005 376 Ilustração 221 - Filtros biológicos Fonte: PROGEA - 2005 Na recepção, o lixo é transportado por 2 esteiras mecânicas que servem de transporte e dosadores para o processo. O lixo é levado para a peneira primária (Ilustração 222), tirando materiais graúdos que podem danificar os equipamentos. Em seguida, elevado por meio de esteiras até a peneira menor, o lixo passa sob uma correia com eletroímã para a retirada de metais e, em seguida, vai para o triturador pneumático (Ilustração 223). Ilustração 222 - Peneira primária Fonte: PROGEA - 2005 377 Ilustração 223 - Eletroímã e triturador pneumático Fonte: PROGEA - 2005 O material metálico retido no eletroímã é depositado num silo que termina sobre uma prensa hidráulica (Ilustração 224), que compacta o material metálico em fardos (Ilustração 225), que são revendidos pela Cooperativa, Associação Pré-cooperativista dos Catadores e Recicladores de Resíduos Sólidos de Ceilândia - APCORC. Ilustração 224 - Prensa hidráulica Fonte: PROGEA - 2005 378 Ilustração 225 - Fardos com material metálico Fonte: PROGEA - 2005 Ao longo das esteiras ficam posicionados os catadores cooperados que fazem a catação manual de material reciclável (Ilustração 226). Ilustração 226 - Membros da Cooperativa dos Catadores Fonte: PROGEA - 2005 O material que não é retido pelo eletroímã segue para a peneira de afinagem, um cilindro rotativo com grades internas (Ilustração 227) que faz a separação do material mais fino, próprio para a formação do composto e do material graúdo que irá para o galpão de rejeitos (Ilustração 228). 379 Ilustração 227 - Interior da peneira de afinagem Fonte: PROGEA - 2005 Ilustração 228 - Galpão de rejeitos Fonte: PROGEA - 2005 O processo é todo controlado por uma central de comando localizada no primeiro pavimento da usina (Ilustração 229). 380 Ilustração 229 - Central de comando Fonte: PROGEA - 2005 O rejeito armazenado em galpões é transportado continuamente por caminhões até o Aterro Controlado do Jóquei. Compostagem O material próprio para compostagem é depositado em leiras (Ilustração 230) onde permanece por cerca de 60 dias para completar o processo. O pátio de compostagem possui uma área de 35.000 m2 pavimentada com concreto. Cada uma das 28 leiras possui 3 m de altura por 6 m de base e 55 m de extensão, e são reviradas diariamente por meio de pás carregadeiras. Após o término do processo, o composto é levado para o pátio de beneficiamento (Ilustração 231), onde é moído e peneirado, estando pronto para a venda ou doação, realizadas pelo SLU. Ilustração 230 - Aspecto da leira de compostagem Fonte: PROGEA - 2005 381 Ilustração 231 - Pátio de beneficiamento Fonte: PROGEA - 2005 Drenagem pluvial e de chorume no interior do SOUCTL A drenagem superficial de águas pluviais e do chorume produzido durante o processo é feita por canaletas a céu aberto (Ilustração 232, Ilustração 233 e Ilustração 234) e conduzido até poços de visita, e destes, seguem por gravidade através de tubulações enterradas para os seis tanques de armazenagem impermeabilizados ou lagoas de contenção, localizados nas proximidades. Ilustração 232 - Chorume proveniente das leiras de compostagem e canaleta de recolhimento Fonte: PROGEA - 2005 382 Ilustração 233 - Canaleta a céu aberto para recolhimento do chorume Fonte: PROGEA – 2005 Ilustração 234 – Idem anterior Fonte: PROGEA – 2005 383 Ilustração 235 - Tanque para armazenamento de chorume Fonte: PROGEA - 2005 O mesmo tanque da Ilustração anterior pode ser visualizado na Ilustração a seguir, agora com um nível maior de chorume, grades ao seu redor e um aerador. Ilustração 236 - Tanque para armazenamento de chorume com aerador Fonte: PROGEA - 2005 384 Ilustração 237 – Tanque para armazenamento de chorume Fonte: PROGEA - 2005 Existem ainda outros tanques de armazenagem construídos mais recentemente. Ilustração 238 - Idem anterior Fonte: PROGEA - 2007 385 Ilustração 239 - Seqüência de “lagoas” Fonte: PROGEA - 2007 Quando o tanque atinge seu limite de armazenamento, é realizada a coleta do chorume e seu transporte para o aterro controlado do Jóquei, com a utilização de caminhões (Ilustração 240). O transporte do chorume para o aterro controlado do Jóquei é necessário, pois não existe um sistema de tratamento de efluentes líquidos produzidos na usina. Com a desativação do Aterro do Jóquei, será imprescindível a construção de uma lagoa de tratamento de chorume no interior do SOUCTL, enviando somente efluentes tratados para a bacia do rio Melchior. Ilustração 240 - Coleta de chorume do tanque sendo feita por caminhão Fonte: PROGEA - 2005 Deficiências do sistema de drenagem A declividade do terreno da Usina e o excesso de chuvas em certos períodos do ano favorecem o escoamento superficial das águas da chuva em forma de enxurrada, “lavando” os pátios de compostagem e sobrecarregando o sistema de drenagem. 386 Com as chuvas, ocorridas durante o mês de março de 2005, houve um transbordamento das águas dos pátios de compostagem, com surgências de chorume em diversos pontos nas proximidades das estruturas do TRIGGAR desativado (Ilustração 241 e Ilustração 242). Ilustração 241 - Surgências de chorume Fonte: PROGEA - 2005 Ilustração 242 - Idem anterior Fonte: PROGEA - 2005 As chuvas foram de tal intensidade que, após a inundação do pátio de compostagem, as águas pluviais extravazaram sobre as bocas de lobo e foram lançadas para fora do perímetro da UCTL, lançando uma mistura de água e chorume nas proximidades das cabeceiras do córrego do Valo (Ilustração 243 e Ilustração 244), por meio de tubulação de concreto enterrada. 387 Ilustração 243 - Dejetos líquidos lançados a céu aberto, fora dos limites da UCTL Fonte: PROGEA - 2005 Ilustração 244 - Aspecto da área impactada por dejetos líquidos, fora dos limites da UCTL Fonte: PROGEA - 2005 A QUALIX, como solução emergencial, providenciou a remoção das leiras de compostos nos pátios atingidos e a lavagem do pátio, para que, na ocorrência de novas chuvas, somente água pluvial limpa fosse encaminhada para o córrego do Valo. Como precauções adicionais, providenciou o levantamento das paredes das bocas de lobo, instalou calhas coletoras de águas nos tetos dos galpões e construiu novas lagoas de contenção (Ilustração 245). 388 Ilustração 245 - Calha para recolhimento da água pluvial Fonte: PROGEA - 2005 Durante vistoria realizada nos meses de março e abril de 2007, constatou-se que os lançamentos de efluentes da UCTL nas proximidades das cabeceiras do córrego do Valo, identificados em 2005, ainda persistem. O primeiro lançamento identificado é realizado por meio de tubulação de concreto enterrada e corresponde a um caudal fétido e de cor marrom. 389 Ilustração 246 - Ponto de saída da UCTL, antes de cruzar a estrada que dá acesso às propriedades rurais. Detalhe em amarelo da “boca” da tubulação Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 247 - Aspecto do efluente Fonte: PROGEA - 2007 390 O segundo lançamento identificado, também realizado por meio de tubulação de concreto enterrada, possui um forte odor e coloração escura. Foi constatado que o mesmo é proveniente da drenagem das vias internas da UCTL. Ilustração 248 - Via interna da Usina Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 249 – Idem anterior Fonte: PROGEA - 2007 391 Ilustração 250 - Aspecto da via nas proximidades do pátio de recicláveis Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 251 - Detalhe da má conservação da limpeza no local Fonte: PROGEA - 2007 392 Ilustração 252 - Ponto de saída do efluente da usina, antes de cruzar por baixo da estrada que dá acesso às chácaras Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 253 - Tubulação de concreto após travessia da estrada que dá acesso às chácaras Fonte: PROGEA - 2007 393 Ilustração 254 - Vista de outro ângulo da Ilustração anterior. Notar a saída do efluente Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 255 - Empoçamento Fonte: PROGEA - 2007 394 Ilustração 256 – Área atingida por chorume Fonte: PROGEA - 2007 Recentes análises químicas (março de 2007) dos efluentes advindos do interior da UCTL mostram valores de DBO da ordem de 14.500 mg/l, indicando intensa poluição e a necessidade de um tratamento prévio antes de seu lançamento no córrego. O art. 17 da Resolução CONAMA 357 proíbe lançamentos de águas servidas em corpos hídricos contendo DBO acima de 5 mg/l. A descarga desses efluentes no córrego do Valo provoca a elevação da DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), isto é, o ar dissolvido na água, necessário às formas de vida aquáticas, passa a ser consumido pelos microorganismos durante a decomposição da matéria orgânica, tornando, assim, o ambiente impróprio para a sobrevivência de peixes e outros organismos que necessitam de oxigênio para desenvolverem suas atividades vitais. Capacidade de tratamento e comercialização do material reciclável A UCTL é responsável pelo tratamento do lixo domiciliar proveniente de Ceilândia, Taguatinga, Samambaia e Gama, atendendo cerca de 850.000 habitantes. Atualmente, realiza o tratamento de cerca 600 toneladas por dia, operando em 2 turnos. Por solicitação do SLU, a UCTL pode operar em três turnos, elevando sua capacidade para 800 ton/dia. Na UCTL trabalham cerca de 100 pessoas nos dois turnos. No período de um ano (julho de 2003 a junho de 2004) foram tratadas na UCTL mais de 170.000 toneladas de lixo domiciliar. Do total de lixo coletado, o rejeito corresponde a cerca de 67% em peso, o composto corresponde a cerca de 30% e o material reciclado contribui com 3%. 395 A Tabela 119 traz as produções mensais obtidas entre julho/2003 e junho/2004. Tabela 119 - Tratamento Mensal de Lixo na SOUCTL Data Dias de Operação 25 26 24 24 23 24 25 22 26 23 24 23 289 p/ dia de jul/03 ago/03 set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 TOTAL Média operação Fração do Total Lixo Tratado (ton) 15.623,75 13.657,69 14.178,09 11.649,14 14.557,06 11.718,56 16.050,17 16.589,03 15.486,23 13.773,77 15.128,03 13.471,37 171.882,89 594,75 Rejeito (ton) 8.775,37 8.216,10 8.481,22 7.538,73 10.413,48 8.258,46 12.422,91 10.099,55 11.664,95 11.163,11 7.719,02 9.425,68 114.178,58 395,08 Composto (ton) 6.383,03 4.955,96 5.266,20 3.674,29 3.739,70 3.122,31 3.045,15 5.834,00 3.285,00 2.188,56 6.769,91 3.606,42 51.870,53 179,48 Reciclados (ton) 465,35 485,63 430,67 436,12 403,88 337,79 582,11 655,17 536,28 422,10 639,10 439,27 5.833,47 20,19 100% 67% 30% 3% Fonte: QUALIX – 2004 Todo o material reciclável retirado por catação manual é de responsabilidade e propriedade da Cooperativa, que faz as tratativas comercias e de transporte direto com as empresas recicladoras, sem a interferência da QUALIX. A Cooperativa do SOUCTL conta hoje com cerca de 174 pessoas, que têm à sua disposição, dentro da usina, um pátio de recicláveis (Foto 30) composto por um galpão coberto para acondicionamento do material catado, além de ser utilizado para descarregar material que chega diretamente dos caminhões provenientes de coleta seletiva. Ilustração 257 - Galpão para acondicionamento do material reciclável Fonte: PROGEA – 2005 396 6.10.2.4 Serviço de Operações da Usina de Incineração de Lixo Especial - SOUILE Nome e razão social do empreendedor O órgão responsável pelo SOUILE é o SLU, ente autárquico distrital, com CGC/MF n° 01.567.525/0001-76, sediado no Edifício Venâncio 2000, 9º andar, Brasília – DF, representado por sua Diretora-Geral Maria de Fátima Có. Características gerais do empreendimento A usina denominada Usina de Incineração de Lixo Especial – UILE é uma das Unidades Operacionais do Sistema de Limpeza do Distrito Federal, instalada no DF no ano de 1985. Funciona junto à Usina Central de Tratamento de Lixo – UCTL, localizada na Área Especial do Setor P-Sul da Ceilândia, às margens da via P-5 Sul. A Usina possui um regime de funcionamento 24 horas e interrompe a operação apenas aos sábados, domingos e segundas para manutenção do sistema. O quadro de funcionários é composto por 35 funcionários da Qualix e 10 do SLU. O serviço de operação e manutenção da Usina é realizado pela empresa terceirizada da Qualix denominada Kompac. Tem como objetivo principal a incineração de todo o lixo especial gerado no DF. Nesse contexto enquadram-se como lixo especial os resíduos de serviços de saúde, documentos sigilosos, alimentos com prazos de validade vencidos, fitas cassetes e CD’s apreendidos, drogas entorpecentes e pequenos animais mortos. Os resíduos de serviços de saúde são aqueles gerados nas farmácias, clínicas veterinárias, laboratórios, postos de saúde, hospitais e clínicas médicas, entre outros. A ABNT, por meio das Normas NBR – 12.807 – Resíduos de Serviços de Saúde – Terminologia; NBR – 12.808 – Resíduos de Serviços de Saúde – Classificação; e NBR – 12.808 – Manuseio de Resíduos de Serviços de Saúde – Procedimento, normatizou providências relativas a esses resíduos, equacionando o problema. Resultou desse equacionamento que os resíduos de serviços de saúde, ou abreviadamente RSS, foram conceituados como “resíduos resultantes das atividades exercidas por estabelecimento gerador” e complementarmente, foi definido serviço de saúde como “estabelecimento gerador destinado à prestação de assistência sanitária à população”. A NBR – 10.004 – Classificação de Resíduos Sólidos enquadra os RSS de uma forma geral em resíduos classe I – perigosos, tendo em vista que suas propriedades infecto-contagiosas representam risco à saúde pública e ao meio ambiente, e em função de que se enquadram em um dos critérios que a mesma estabelece para caracterizar periculosidade, que é a patogenicidade. No SOUILE são incinerados os resíduos sólidos dos grupos “A” e “B”, conforme resolução CONAMA Nº 5, de 5 de agosto de 1993, a saber: GRUPO A: resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido a presença de agentes biológicos. 397 Enquadram-se neste grupo, dentre outros: sangue e hemoderivados; animais usados em experimentação, bem como os materiais que tenham entrado em contato com os mesmos; excreções, secreções e líquidos orgânicos; meios de cultura; tecidos, órgãos, fetos e peças anatômicas; filtros de gases aspirados de área contaminada; resíduos advindos de área de isolamento; restos alimentares de unidade de isolamento; resíduos de laboratórios de análises clínicas; resíduos de unidades de atendimento ambulatorial; resíduos de sanitários de unidade de internação e de enfermaria e animais mortos a bordo dos meios de transporte, objeto desta Resolução. Neste grupo incluem-se, dentre outros, os objetos perfurantes ou cortantes, capazes de causar punctura ou corte, tais como lâminas de barbear, bisturi, agulhas, escalpes, vidros quebrados, etc, provenientes de estabelecimentos prestadores de serviços de saúde. GRUPO B: resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido às suas características químicas. Enquadram-se neste grupo, dentre outros: • • • drogas quimioterápicas e produtos por elas contaminados; resíduos farmacêuticos (medicamentos vencidos, contaminados, interditados ou nãoutilizados); e demais produtos considerados perigosos, conforme classificação da NBR 10004 da ABNT (tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos). Localização e limites O SOUILE situa-se no Setor P-Sul da Ceilândia, dentro da área para a Destinação Sanitária do Lixo de Brasília. Localiza-se na sub-bacia hidrográfica rio Melchior, no Imóvel Guariroba, desmembrado do municipio de Luziânia e incorporado ao Distrito Federal. A área para a Destinação Sanitária do Lixo de Brasília foi designada pelo Decreto nº 8.522, de 14 de março de 1985, que homologou a Decisão nº 13/85 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal, que diz em seu Art. 1º: “Fica homologada a Decisão n.º 13/85 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal que definiu a criação de duas áreas, sendo uma para Destinação Sanitária do Lixo de Brasília e a outra destinada ao Tratamento de Esgotos Sanitários para a Região Administrativa de Taguatinga - RA III, consubstanciadas na planta do SICAD de número 149”. Processo de licenciamento O Órgão Ambiental licenciador é a antiga Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH. O responsável pelo requerimento da licença ambiental é o SLU. Processo n.º 191.000.341/2000: Usina de Reciclagem e Compostagem de Lixo, localizada em área contígua à Usina de Incineração de Lixo Especial - P Sul - Ceilândia – DF. Titularidade da propriedade A área localiza-se no imóvel GUARIROBA, desmembrado do município de Luziânia - GO e incorporado ao território do Distrito Federal, em Terras Desapropriadas e parte em Terras 398 Desapropriadas em Comum, conforme Carta de Sentença passada a favor da COMPANHIA IMOBILIÁRIA DE BRASÍLLA – TERRACAP. Aspectos de infra-estrutura e operacionais O perímetro da Usina é todo cercado por árvores que foram plantadas pela própria empresa, usando como adubo o composto produzido pela Usina Central de Tratamento de Lixo – UCTL. Esta vegetação torna mais ameno o microclima local. Fora do perímetro da Usina, há a presença de vegetação nativa. O SOUILE é envolvido por uma cerca onde se encontram: uma guarita, um prédio administrativo, um galpão de pequeno porte onde fica o incinerador e um refeitório com banheiros para os funcionários. Nos fundos da Usina, do lado de fora da cerca, estão localizados o tanque de decantação e as duas lagoas de estabilização. A Usina tem um sistema de drenagem pluvial onde toda água do seu perímetro é recolhida por bocas-de-lobo e por grelhas, e em seguida conduzida ao tanque de decantação e às lagoas de estabilização. Após tratamento, a água é reaproveitada pela Usina em outras lavagens. A água pluvial que cai fora do perímetro da Usina dirige-se, por gravidade, aos córregos do Valo e Grotão. Ilustração 258 - Aspectos do pátio e drenagem pluvial Fonte: PROGEA - 2005 399 Ilustração 259 - Aspectos do pátio e drenagem pluvial Fonte: PROGEA - 2005 O abastecimento de água é feito pela CAESB e é armazenado num castelo com capacidade para cerca de 5.000 litros. O hidrômetro é comum ao SOUCTL. O fornecimento de energia elétrica é feito pela CEB, através de uma rede primária de 13,8 kV, que é rebaixada dentro da Usina para 380 V trifásico. Os resíduos especiais são recolhidos pela QUALIX com a utilização de frota própria, composta de 4 caminhões coletores e 3 picapes do tipo Fiorino. Os resíduos são retirados nas diversas unidades hospitalares e seguem para a recepção do SOUILE, passando antes pela balança do SOUTCL para pesagem e controle do material. O lixo chega com guia de remessa preenchida com a quantidade e tipo de material a ser incinerado. A recepção do SOUILE funciona durante 24 horas por dia para o recebimento dos materiais. Os resíduos são descarregados dos caminhões coletores no Pátio de Recepção (Ilustração 260), estrutura coberta onde funcionam os dois fossos de armazenamento. Pode-se notar que não existe sistema de captação especial para chorume que eventualmente seja ali produzido. Embora durante as visitas ao local, não tenha sido constatada a existência de chorume proveniente dessas instalações, o risco de que efluentes provenientes da lavagem pela chuva do material armazenado atinjam a rede de águas pluviais é real durante o período chuvoso (Ilustração 261). O lixo é retirado dos fossos de armazenamento sem contato manual, com a utilização de um guindaste hidráulico e é levado para o alimentador automático (Ilustração 260). O alimentador leva o lixo para a câmara primária do forno, onde pode receber doses de mistura diesel+ar, para que a queima possa atingir temperatura suficiente para manutenção do processo. 400 Ilustração 260 - Pátio de recepção, com guindaste hidráulico Fonte: PROGEA - 2005 Ilustração 261 – Drenagem do pátio de recepção Fonte: PROGEA - 2005 401 Ilustração 262 - Tanque de diesel Fonte: PROGEA - 2005 O forno da usina opera numa temperatura que varia na faixa de 950° C a 1.000° C, podendo atingir o pico de 1.200° C, e é alimentado pela queima do material, desde que este possua propriedades caloríficas suficientes. Eventualmente, é necessária a queima de materiais de baixo poder calorífico, neste caso, são adicionados outros materiais com melhores características, ou ainda a mistura de diesel+ar, como descrito anteriormente. Existe na câmara primária um removedor de cinzas, que consiste numa esteira que retira os resíduos sólidos pelo fundo, e os conduz através de um fosso com água, com a finalidade de baixar a temperatura das cinzas e reter os vapores. A esteira (Ilustração 263) leva as cinzas para o exterior do forno e as deposita numa peneira vibratória, que faz a separação granulométrica (Ilustração 264). O material fino é separado num container para ser levado ao Aterro Controlado do Jóquei e o grosso (escória) cai num outro container, que será reconduzido novamente para a câmara primária. Ilustração 263 - Esteira de extração de cinza do forno Fonte: PROGEA - 2005 402 Ilustração 264 - Peneira vibratória para separação granulométrica das cinzas Fonte: PROGEA - 2005 Da câmara primária (Ilustração 265) o resíduo segue para a câmara secundária utilizada para a queima de pequenos animais, que são introduzidos por uma portinhola lateral (Ilustração 266). Por serem matéria orgânica, esses pequenos animais geram uma parcela muito pequena de cinzas, que ficam acumuladas no forno, sendo retiradas a cada 15 dias durante a manutenção periódica. Ilustração 265 - Câmara Primária Fonte: PROGEA - 2005 403 Ilustração 266 - Câmara secundária Fonte: PROGEA - 2005 Os gases gerados pela queima dos resíduos passam por uma câmara de sedimentação e em seguida são tratados através de lavagem com soluções alcalinas e ácidas, para neutralizar suas características ácidas e básicas. Na lavagem ácida, é feita a retenção inicial do material particulado inerte e a neutralização dos ácidos, com tecnologias específicas para remoção do mercúrio Hg(O), HCl, HF e óxidos, metais pesados classe I, II e III, além de controle das Dioxinas e Furanos (PCDD/PCDF). A lavagem alcalina neutraliza os poluentes ácidos e contribui para retenção de outros poluentes com reação em ambiente com pH alto. No final do processo passam por um filtro de manga, cuja função é retirar o material particulado fino ainda em suspensão. Não existem medições quantitativas nem tampouco qualitativas dos efluentes gasosos gerados. A água utilizada no processo circula num circuito fechado, havendo reposição apenas para as perdas ocorridas. Após ser utilizada no processo de lavagem dos gases, a água é reutilizada no fosso do removedor de cinzas, e em seguida segue para um tanque decantador, que diminui sua velocidade de circulação e provoca a sedimentação do material em suspensão. Após o tanque de decantação a água é armazenada em uma lagoa de estabilização e retorna ao sistema por intermédio de uma bomba. Na lagoa de estabilização é feito apenas o controle de pH, que segundo informações da QUALIX, fica em torno de 7,0 (neutro). No ano de 2006, a QUALIX realizou uma readequação da lagoa de estabilização, que consistiu na transformação em duas lagoas contíguas (Ilustração 267 e Ilustração 268), mudança na saída do decantador (Ilustração 269 e Ilustração 270), aplicação de manta impermeabilizante no fundo da lagoa e construção de mureta de contenção (Ilustração 271) para evitar o seu extravasamento e conseqüente lançamento das águas no talude próximo. Quando o nível d’água atinge níveis próximos à base da mureta de contenção, um caminhão coletor é acionado para que a água em excesso seja recolhida da lagoa e despejada na lagoa de chorume existente na Usina Central de Tratamento de Lixo. 404 Ilustração 267 - Lagoa de estabilização (antes da readequação) Fonte: PROGEA - 2005 Ilustração 268 - Lagoa de estabilização (após a readequação) Fonte: PROGEA - 2005 405 Ilustração 269 - Saída do decantador (antes da readequação) Fonte: PROGEA - 2005 Ilustração 270 - Saída do decantador (após a readequação) Fonte: PROGEA - 2005 406 Ilustração 271 - Lagoa de estabilização, com destaque para a manta impermeabilizante e a mureta de contenção Fonte: PROGEA - 2005 Capacidade de tratamento No período de um ano (julho de 2003 a junho de 2004), foram incineradas no SOUILE mais de 7.500 toneladas de lixo especial, gerando pouco mais de 820 toneladas de cinzas a serem depositadas no Aterro Controlado do Jóquei. Não existe controle qualitativo das cinzas produzidas (Ilustração 272). Ilustração 272 - Cinzas resultantes da incineração do lixo Fonte: PROGEA - 2005 407 A Tabela 120 mostra as produções mensais obtidas no período de julho/2003 a junho/2004.. Tabela 120 - Incineração Mensal de Lixo Especial no SOUILE Data Dias de Operação jul/03 25 ago/03 26 set/03 24 out/03 24 nov/03 23 dez/03 24 jan/04 25 fev/04 22 mar/04 26 abr/04 23 mai/04 24 jun/04 23 TOTAL 289 Média de lixo incinerado por dia de operação Lixo Incinerado (ton) 654,56 607,55 645,21 623,93 602,22 651,80 600,04 568,36 699,92 641,14 655,68 611,13 7.561,54 Cinza Produzida (ton) 56,22 49,95 38,04 73,62 66,98 83,30 76,37 57,85 89,57 79,36 79,98 76,96 828,20 26,16 ton Média de cinza gerada por dia de operação 2,87 ton % em peso de cinza sobre lixo incinerado 11% Fonte: QUALIX - 2005 6.10.3 Área de Influência Indireta (AII) Foi considerada como Área de Influência Indireta (AII) a bacia do rio Melchior com suas respectivas ocupações antrópicas, a saber: • • Regiões Administrativas de Taguatinga, Samambaia e Ceilândia Área de Relevante Interesse Ecológico Parque Juscelino Kubistchek (ARIE JK) A bacia do rio Melchior inclui as localidades de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia que, juntas, totalizam uma área total de 457,58Km2, o que equivale a 7,9% da área total do Distrito Federal e 36,6% de toda a população local, estimada em mais de 800 mil pessoas. Esta foi a bacia hidrográfica onde se verificou a maior taxa de adensamento populacional dos últimos anos no Distrito Federal, muito em função do surgimento de ocupações irregulares, a exemplo dos “condomínios” Pôr do Sol e Sol Nascente. 6.10.3.1 Região Administrativa de Taguatinga – RA III A Região Administrativa de Taguatinga possui uma população estimada em 260.000 habitantes, sendo apenas 0,6% residentes na zona rural, constituindo uma cidade predominantemente urbana. Taguatinga tem um total de 121,55 km2, dos quais 30,18 km2 compõem a área urbana e 91,37 km2 a área rural. A história de Taguatinga começou quando a Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante, já estava totalmente povoada e as invasões proliferavam diariamente. Naquela época, a migração para a futura capital era tão intensa que os caminhões de migrantes chegavam a ser interceptados 408 ainda na estrada, e as pessoas obrigadas a retornarem às suas cidades de origem. Exatamente nesta estrada, uma via de ligação entre a atual Taguatinga e o Núcleo Bandeirante, formou-se um núcleo habitacional, com aproximadamente mil pessoas, na maioria viajantes deixados à beira da estrada pelos motoristas que, impedidos de chegarem a Brasília, abandonavam seus passageiros entregues à própria sorte. Assim, em 05 de junho de 1958, surge Taguatinga, a primeira cidade criada no Distrito Federal, antes mesmo da inauguração do Plano Piloto. Esperava-se que a cidade viesse a se tornar um pólo de atração para os migrantes que chegavam diuturnamente ao Planalto, em busca de oportunidades de trabalho na futura Capital Federal. Diante do rápido adensamento populacional e da constatação de que os imigrantes e trabalhadores não iriam voltar às suas regiões de origem, decidiu-se criar Taguatinga, incentivando desde já o comércio local. Não por acaso, a cidade possui atualmente um comércio consolidado e referencial para todo o Distrito Federal. Apesar da tentativa de coordenar o crescimento de Taguatinga, as invasões sempre foram uma constante na cidade. Assim, surgiram inúmeras expansões. Na seqüência, em 1958, foi implantado o Setor Central, seguido dos Setores QNB, QNC, QSB e QSC. Em 1960, foram criados os Setores QNA, QSA, QSD, QND, QNE e QNF e parte do setor de indústrias. Em 1961, os Setores QNG, QNH, CSA, o setor automobilístico, a segunda parte do setor de indústrias (Quadras 10 a 25) e o Setor QSE. Em 1964, o Setor QNJ (construído pelo Sistema Financeiro de Habitação). Em 1966, o Setor QSF e em 1969, o Setor QNL. Já na década de 70 as expansões não cessam e em 1971 foi complementado o setor QSF e construídos os setores QNM, QNN, QNO e QNP, expansões essas que deram origem à cidade de Ceilândia. Em que pese Taguatinga ser referência comercial e econômica para o Distrito Federal, apresenta problemas relacionados à sua infra-estrutura. Com relação à água potável, os parcelamentos irregulares e áreas rurais ainda não são beneficiados. No que diz respeito à rede de esgoto, 86,5% dos domicílios particulares permanentes estão atendidos, enquanto 6,6% usam fossas sépticas e 6,1%, fossas negras. Considerando as três cidades situadas totalmente ou parcialmente na bacia do rio Melchior, Taguatinga é a que se encontra em pior condição infra-estrutural em relação à água e esgotamento sanitário. Tal fato explica-se certamente pelos múltiplos parcelamentos rurais transformados em áreas com características urbanas, sem o devido planejamento público, como é o caso da Colônia Agrícola Vicente Pires, hoje totalmente urbanizada. 6.10.3.2 Região Administrativa de Samambaia – RA XII Em 1989, surge Samambaia, quando 5.000 pessoas que viviam em 52 invasões dentro de Brasília foram transferidas para uma área que pertencia à Taguatinga. Atualmente ocupa área de 105,70 km2 e possui uma população de 195 mil pessoas, sendo a quarta maior cidade do Distrito Federal. Projetada para comportar cerca de 330.000 moradores, Samambaia foi dividida em duas grandes áreas de ocupação: a primeira, mais antiga, pertencia à Taguatinga e era ocupada por famílias de classe média e de classe média alta; a segunda, mais recente, se caracteriza pela presença de habitações para população de baixa renda. Na verdade, Samambaia deu início ao programa de assentamento populacional de baixa renda, colocado em prática a partir de 1989, no governo provisório de Joaquim Roriz. 409 A situação de infra-estrutura de Samambaia é considerada boa. Em 1985, havia água potável apenas na QR 406 e no Setor de Mansões Leste. No ano de 1989, o Governador Roriz, com o programa de assentamento das famílias de baixa renda, implantou o sistema de chafarizes, auxiliado por carros pipas nas demais quadras de Samambaia, permanecendo até 1992. Após essa data, foi disponibilizada em definitivo a água potável nas residências, com exceção das Quadras 513 a 523, que foram abastecidas por caminhão pipa até 1993. Atualmente, a água que abastece Samambaia vem da barragem do rio Descoberto e atende 99,94% da população. Pouco mais de 98% moram em área com rede de esgoto implantada. É importante lembrar que até pouco tempo na região, Samambaia era a única cidade que possuía estação de tratamento de esgoto (ETE) em funcionamento. Taguatinga e Ceilândia lançavam seus esgotos e águas pluviais nos córregos Taguatinga e Cortado. Essa água poluída seguia, in natura, para o rio Melchior. Atualmente, com a inauguração da ETE Melchior, ao lado da ETE Samambaia, essa situação não mais existe, uma vez que os esgotos de Taguatinga e Ceilândia passaram a ser tratados nessas ETEs. 6.10.3.3 Região Administrativa de Ceilândia – RA IX Criada em 1971, durante o período militar, a Campanha para Erradicação de Invasões (CEI) visava à remoção de cerca de 80.000 famílias moradoras de invasões na área do Núcleo Bandeirante e Taguatinga. Estas invasões que estavam basicamente na Vila Tenório, IAPI, Esperança, Bernardo Sayão e Morro do Querosene foram transferidas para uma nova área, que recebeu o nome de Ceilândia. Ceilândia, maior assentamento criado na história do Distrito Federal, já nasceu populosa, com um contingente de 85.263 habitantes. Dez anos depois, tinha 280.237, com um crescimento demográfico anual de cerca de 21%, entre 1971 e 1980. Atualmente, a população da RA é de 380.000 habitantes, sendo 3,8% na zona rural e 96,2% na zona urbana. Ceilândia possui 230,33 km2 dos quais 29,10 km2 constituem a área urbana e 201,23 km2 compõem a área rural. A cidade tem ao todo 91 quadras residenciais, intercaladas por áreas comerciais e especiais, que abrigam outros equipamentos comunitários (escolas e equipamentos de saúde). Como um importante pólo econômico do Distrito Federal, haja vista possuir cerca de 4.500 estabelecimentos comerciais (entre formais e informais) e 1.600 indústrias, Ceilândia possui uma População Economicamente Ativa (PEA) superior a 160 mil pessoas, o que equivale a 17,7% do total da PEA do Distrito Federal. Entre os setores da cidade, o Setor P-Sul é o maior em termos de concentração populacional. Lá vivem 18,1% da população de Ceilândia, o que equivale a cerca de 69.000 pessoas (Tabela 121). 410 Tabela 121 - Setores Urbanos de Ceilândia Setores Número de habitantes por domicílio População (%) Centro 4,18 5,4 Ceilândia Sul 4,08 9,5 Ceilândia Norte 4,01 10,2 Guariroba 4,14 10,8 Ceilândia Oeste 4,31 10,1 Nova Guariroba 3,84 0,8 Nova Ceilândia 4,16 1,1 Setor “O“ 3,91 10,3 Expansão 4,25 9,8 P Sul 4,03 18,1 P Norte 4,18 9,5 QNQ 4,23 3,4 QNR 4,77 1,0 Dois Núcleos Rurais e quatro Combinados Agrourbanos compõem a zona rural de Ceilândia, conforme descritos na Tabela 122. 411 Tabela 122 - Áreas Públicas Rurais de Ceilândia Localidades Área (ha) Total de Lotes Área Isolada Guariroba 175,90 4 Área Isolada Guariroba/Saltador 84,01 1 Área Isolada Saltador/Cachoeira 331,30 3 Área Isolada Laje ou Jibóia 100,00 1 Núcleo Rural Setor P Norte 1.103,31 137 Núcleo Rural Taguatinga – lotes 59 a 73 718,60 14 Total 2.513.12 160 Fonte: Anuário Estatístico do Distrito Federal, 2002 A área rural apresenta, além dos seus núcleos, córregos poluídos e habitações que avançam sobre a faixa de proteção do rio Descoberto, como o Condomínio Privê; ou sobre a linha de ruptura de relevo, com é o caso dos “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol. 6.10.3.4 Área de Relevante Interesse Ecológico Parque Juscelino Kubistchek (ARIE JK) Criada em janeiro de 1996, por meio da Lei Distrital n° 1002, a ARIE JK está localizada entre as Regiões Administrativas mais populosas do Distrito Federal (Samambaia, Ceilândia e Taguatinga), e contém os parques ecológicos e de uso múltiplo Saburo Onoyama, Três Meninas, Boca da Mata e Cortado, além da Área Remanescente do Núcleo Rural Taguatinga. O principal objetivo da ARIE JK é proteger a flora, a fauna, os sítios arqueológicos e as nascentes dos córregos Cortado e Taguatinga e do ribeirão Taguatinga. Sua importância histórica pode ser demonstrada pelo fato de ter sido originalmente pensada pelo Presidente Juscelino Kubistchek, para compor o cinturão verde de Brasília e preservar a qualidade de vida da cidade. Mas a presença humana na ARIE JK remonta a povos que habitavam a América do Sul antes da chegada dos europeus. Existem pelo menos cinco sítios pré-históricos, com características de acampamentos de caça, além de sítios históricos. Já no período moderno, a ocupação antrópica mais marcante na ARIE JK é concomitante à construção de Brasília. Em 1958, o então Presidente Juscelino Kubitschek, instala na área imigrantes japoneses que trabalhariam na produção de hortifrutigranjeiros. Nessa mesma época, foi criada a cidade de Taguatinga e o Núcleo Rural Taguatinga. A instalação destes dois núcleos pioneiros induziu a ocupação e gerou o “mosaico” de problemas enfrentados atualmente pela ARIE JK. Mais especialmente no decorrer das últimas quatro décadas, o processo de ocupação antrópica em torno da ARIE JK se intensificou, gerando o quadro de conflitos que hoje se apresenta. Na 412 verdade, qualquer Unidade de Conservação (UC) entremeada por grandes aglomerados urbanos, como é o caso da ARIE JK, sofre pressões advindas das políticas (espontâneas ou planejadas) de ocupação de espaço urbano, em detrimento dos espaços rurais ou de interesse ambiental. Para se ter idéia de como a pressão é significativa, basta verificar a evolução histórica da população que envolve a ARIE JK (Ilustração 273). 800.000 700.000 Taguatinga 600.000 PopulaçãoO 500.000 Ceilândia 400.000 Samambaia 300.000 Total 200.000 100.000 0 1960 1970 1980 1991 2000 Décadas Ilustração 273 – Número de população que envolve a ARIE JK Fonte: CODEPLAN, 1977, 1991, 1996, 2001 e IBGE, 1996 Núcleo Rural Taguatinga: um caso de pressão antrópica sobre a ARIE JK Não por acaso, as sucessivas expansões de áreas das cidades de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia limitaram a área do Núcleo Rural Taguatinga a cerca de 50% do que originalmente havia sido previsto. Paulatinamente, as áreas das chácaras foram também sendo reduzidas para dar espaço à urbanização. Houve uma sucessão de projetos de uso e ocupação do solo que incidiram sobre essa área, visando mudanças de destinação e propondo a instalação de obras públicas, como a construção de estradas, áreas industriais e outros empreendimentos que atendem às demandas do crescimento urbano e conseqüente valorização imobiliária. Exemplar, o Núcleo Rural Taguatinga encontra-se inserido entre as cidades de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia, no interior da poligonal da ARIE JK. Além disso, está em Área Rural Remanescente, que de acordo com o Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal – PDOT (1997), são “aquelas destinadas a abrigar usos compatíveis com a dinâmica rural, resguardando o uso agropecuário e agroindustrial, visando à preservação dos recursos naturais existentes.”; e onde são permitidas “atividades de suporte à atividade rural que não comprometam a preservação dos cursos de água, dos aqüíferos subterrâneos e das matas 413 originais remanescentes, de acordo com as diretrizes do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Distrito Federal.” O Núcleo Rural Taguatinga é o mais antigo do Distrito Federal, criado por imigrantes japoneses. É constituído por 55 chácaras, em regime de concessão de uso. São chácaras de aproximadamente vinte hectares, onde predomina a produção de plantas ornamentais, com pequenas produções de hortaliças. Como exemplos mais expressivos de produção de plantas ornamentais, destacam-se as chácaras Kireibara, onde existe o que se considera a primeira edificação de Taguatinga, e a chácara Onoyama, onde é desenvolvido, já há algum tempo, um projeto de recuperação ambiental e de pesquisas (Cf. Plano Diretor Local de Taguatinga, 1997). Contudo, e em detrimento do uso compatível da atividade rural com a preservação dos recursos naturais, atualmente chácaras do Núcleo Rural Taguatinga estão sendo parceladas, criando problemas ambientais como a contaminação e assoreamento de rios e nascentes, diminuindo as fontes de água para a população. Parcelamentos foram identificados, por meio de vistas de campo e entrevistas com moradores locais, nas seguintes chácaras: chácaras de 1 a 8 (RA Ceilândia); chácaras 22 a 28, localizadas na margem esquerda do córrego Taguatinga (RA Taguatinga) e chácaras 33 e 38, e vizinhas ao Parque Três Meninas, as de número 41, 42 e 43 (RA Samambaia). Não bastasse a presença dos parcelamentos, alterando a destinação do Núcleo Rural Taguatinga, verificam-se barracos, princípios de favelização e parcelamentos de baixa renda, em diversos pontos da ARIE JK, principalmente nas proximidades dos Parques Saburo Onoyama e Boca da Mata, nas proximidades do Setor P-Sul, na Ceilândia, e na expansão de Samambaia. Um fato que demonstra quanto a ARIE JK é objeto de especulação imobiliária, não apenas na área do Núcleo Rural Taguatinga, mas em toda a sua extensão, está no projeto de Lei Complementar nº 1.376/2001, apresentado à Câmara Legislativa do Distrito Federal, que procurava transformar as áreas rurais remanescentes, relativas às chácaras 22 e 28, em área de natureza urbana com fins residenciais. Além do Núcleo Rural Taguatinga, três parques estão situados no interior da ARIE JK, sendo um deles o Parque Boca da Mata, criado pelo Decreto nº 13.244, de 07/06/1991, com o objetivo de possibilitar o manejo adequado e a recuperação da vegetação das cabeceiras do rio Taguatinga, além do desenvolvimento de programas de pesquisas e atividades de educação ambiental. Todavia, a área do Parque, que havia sido anteriormente ocupada por uma invasão, removida em 1984, atualmente abriga barracos, focos de favelas, depósitos clandestinos de lixo, erosões e o despejo de esgoto in natura. Além disso, não existe qualquer infra-estrutura para o atendimento aos visitantes, o que dificulta a possibilidade de transformar esta área em ponto de pesquisas ou atividades de educação ambiental. Vizinho ao Parque se encontra uma fábrica da Coca-Cola, o Setor de Oficinas de Taguatinga e vias asfaltadas lhe percorrem todo o perímetro. Também adjacente ao Parque há o terminal rodoviário de Taguatinga Sul. Em suma, por todas essas características e problemas observados, a área do Parque Boca da Mata pode ser considerada como sendo, no contexto da ARIE JK, a que se verifica com maior 414 intensidade uma diversidade de atividades antrópicas, na maioria das vezes, contrárias aos seus objetivos. O Parque Saburo Onoyama está localizado na cidade de Taguatinga, no setor QSD, Área Especial s/n, Lote 10, e possui uma área de aproximadamente 38 hectares. Sua história começa em 1958, quando o botânico japonês Saburo Onoyama veio a Brasília, a convite do Presidente Juscelino Kubitschek, para realizar pesquisas sobre a possibilidade de cultivos nos solos ácidos da região dos cerrados. Após meses de pesquisa o botânico demonstrou que a viabilidade do cultivo de flores denotava a potencialidade para o cultivo de grãos. O botânico foi contemplado com 2,4 mil quilômetros de terra, dos quais hoje uma pequena parcela deste total corresponde ao referido Parque. Esta área foi utilizada para a criação de mudas e sementes de árvores utilizadas em diversas áreas de Brasília. Em 1989, com a morte do Sr. Onoyama, a área, que até então era de caráter particular, foi doada ao governo do Distrito Federal, que criou oficialmente o Parque, popularmente conhecido como "Vai-quem-quer". Em 1996, o Decreto n˚ 17.722 cria efetivamente o Parque, determinando como seus objetivos: a preservação das nascentes e do córrego Taguatinga; a preservação das matas de galeria, assim como da fauna associada a esse tipo de vegetação e a recuperação das áreas degradadas. O Decreto prevê ainda, dentre seus objetivos, proporcionar o desenvolvimento de programas de educação ambiental e de pesquisas sobre os ecossistemas locais, e proporcionar à população lazer e cultura visando o desenvolvimento de atividades que levem em conta a conservação do meio ambiente. O Parque Saburo Onoyama constitui uma área de lazer já consolidada e bastante conhecida pela comunidade local recebendo, segundo informações da Administração Regional de Taguatinga, cerca de 2.000 visitantes a cada fim de semana. O Parque conta com uma considerável infra-estrutura de atendimento ao público: cinco quadras polivalentes, duas de vôlei, uma de vôlei de areia e uma de peteca; um campo de futebol de areia, parque infantil, churrasqueiras, lixeiras, piscinas de adulto e de criança. As quadras são utilizadas não apenas pelos usuários de fim-de-semana, mas também pelos alunos da rede pública de ensino, os quais recebem cursos de formação de atletas, durante a semana. São cerca de 5.000 estudantes visitando o parque semanalmente. Um total de 26 nascentes foi catalogado em seu interior. O Parque também inclui matas ciliares em mal estado de conservação. O córrego, conforme mencionado anteriormente, encontra-se poluído por esgotos lançados in natura e pelo lixo que desce com as enxurradas. Além disso, parte da área foi totalmente degradada pela invasão “Saburo Onoyama”, uma favela que por diversas vezes foi removida e que continuamente se reinstala no local. Em maio de 2000 foi removida uma ocupação para o Recanto das Emas. Entretanto, é possível encontrar novos focos de favelização no interior do Parque. O Parque Três Meninas, criado por meio da Lei nº 576, de 26/10/93, situado nas Regiões Administrativas de Samambaia (RA XII) e Ceilândia (RA IX), abrange uma extensão de 66,53ha. De acordo com a lei, são objetivos desse Parque: “proporcionar à população de Samambaia condições de exercer atividades e promover eventos culturais e educativos em um ambiente 415 natural, equilibrado e saudável; favorecer condições para recreação, lazer e esporte em contato harmônico com a natureza; criar um núcleo de educação ambiental; reflorestar o Parque com espécies nativas da flora da região, recompondo áreas degradadas pela ação antrópica ao longo do tempo; proporcionar à comunidade uma área destinada à conservação local, visando à manutenção da viabilidade genética das espécies do cerrado e à garantia da qualidade dos recursos hídricos disponíveis”. Cercado, o Parque se divide em dois setores: um núcleo, com diversas construções remanescentes de um antigo sítio que existia na área; e outro com vegetação natural. As construções antigas existentes no Parque são utilizadas para desenvolvimento de diversas atividades comunitárias. Entre as construções estão as seguintes: • • • • • • • • Casa da Cultura, onde funciona a Escola Brincando com o Verde e uma exposição de artesãos da cidade de Samambaia; Escola Amigos da Gente, mantida pela Secretaria de Educação e pelo Centro de Desenvolvimento Social (CDS); Escola Profissionalizante, mantida pelo Serviço Nacional da Indústria (SENAI) e pela Federação das Indústrias de Brasília (FIBRA), onde adolescentes e adultos aprendem ofícios de pedreiro, pintor, ladrilheiro, serralheiro, encanador, etc; Biblioteca Comunitária que atende estudantes de Samambaia; Instituto de Saúde Integrada de Samambaia (ISIS), cujos médicos trabalham voluntariamente e, além do ambulatório, mantêm uma horta de plantas medicinais; Casas menores abrigam os escritórios da Administração Regional – as Divisões de Agricultura e de Cultura – e uma Representação do extinto IEMA; Destacamento da Polícia Florestal sediado no Parque; e Casa de Bonecas: três casas geminadas, numa alusão às três meninas que residiam no local. A área natural inclui parte da margem esquerda do córrego Melchior, onde são encontradas nascentes, buritizais e cerrados, estes consideravelmente alterados pela ocorrência de incêndios. A mata ciliar está praticamente extinta. A água das nascentes é limpa, mas as do córrego estão completamente poluídas pelo esgoto proveniente de Taguatinga, sendo impróprias para o banho. Há diversas trilhas, entre as quais as Trilhas dos Buritis e da Sucupira. A mais conhecida delas sai da parte alta do parque, onde estão as casas do antigo sítio, até o Melchior, e apresenta alto valor paisagístico, pois dela se avista o vale do córrego. No geral, pode-se avaliar que o estado de conservação e as condições críticas encontradas no Parque Três Meninas, em muito se assemelham aos demais parques existentes na ARIE JK. Apesar da importância reconhecida da ARIE JK, uma lista de problemas se apresenta nesta UC, todos diretamente relacionados com o modelo de ocupação antrópica que se verifica na região. Entre os principais problemas estão: • • A supressão da vegetação nativa, o uso do fogo em pastagens e incêndios, propositais ou acidentais; A incompatibilidade entre certas atividades rurais com o propósito de preservação ambiental; 416 • • • • • • • • • Mal estado de conservação dos parques existentes no interior da ARIE; O descaso de pessoas das comunidades das cidades com a preservação ambiental e deste patrimônio público; Vandalismo; Os parcelamentos irregulares das chácaras; Ocupações ilícitas e uso indevido do solo; A deposição de esgoto das cidades nos córregos; O escoamento e drenagem de águas superficiais, com o carreamento de lixo contendo todo tipo de resíduos; Os depósitos de lixo e entulho em diversos pontos marginais da poligonal (exemplo disso são as Quadras QNJ 33 a 47, de Taguatinga Norte, limítrofes à ARIE JK, conhecidas como a “rua do lixo”, tamanha a concentração de lixo depositado ao longo do corredor que separa as quadras daquela ARIE); e O risco de danos ao patrimônio arqueológico, devido à ausência de uma delimitação pública dos sítios e da proteção efetiva para os mesmos. A proposta da construção da rodovia de ligação entre Ceilândia e Samambaia, conforme previsto no PDOT e nos Planos Diretores Locais das Regiões Administrativas de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia (esta via se chamaria Corredor de Atividades) iria compor um anel viário de ligação entre os centros urbanos e a consolidação de novas áreas de uso urbano, a saber: as Áreas de Desenvolvimento Econômico (ADE) Oeste e Subcentro Leste em Samambaia, a ADE Centro-Norte e ADE do Descoberto (em Ceilândia), a Faixa Central de Integração, o Centro Regional e as Áreas Perimetrais Sul e Norte em Ceilândia, voltados para a implantação de equipamentos comunitários. Além destas, está prevista a criação de novas Áreas Especiais de Proteção e Áreas Perimetrais Verdes, estas últimas destinadas à transição entre as áreas de ocupação urbana e rural. Em suma, a ARIE JK destaca-se dentre as demais unidades de conservação do Distrito Federal no que se refere às dificuldades de manutenção dos limites da área (considerando-se a especulação imobiliária), a falta de fiscalização e a proximidade com o maior reduto urbano do Distrito Federal, com cerca de 800 mil pessoas. Por outro lado, a ARIE JK depende fundamentalmente da conscientização e participação da comunidade, de modo que autoridades públicas, escolas, associações, sindicatos e moradores possam promover parcerias múltiplas para garantir, dentro do possível, a integridade da área. Conclui-se que as cidades que circundam a ARIE JK (Taguatinga, Ceilândia e Samambaia) são responsáveis por problemas de poluição nesta UC, haja vista a falta de infra-estrutura e a deposição de lixo nos córregos. Vale lembrar que as tubulações de esgoto sanitário provenientes de Samambaia,Taguatinga e Ceilândia cortam a ARIE JK. No que diz respeito a águas pluviais, as cidades não apresentam suas redes implantadas, o que concorre para o assoreamento do leito dos rios, para a formação de erosões e para o acúmulo de lixo, em diversos pontos da ARIE JK. Em relação ao lixo, além daquele transportado para o interior da ARIE JK pelas águas superficiais, há depósitos de lixo e entulho ao longo de toda a UC, em especial nas proximidades do Setor P-Sul, na Ceilândia; nos fundos das quadras residenciais de Taguatinga (este último servindo muitas vezes como estratégias para futuras invasões, segundo depoimentos de moradores locais). Aqui se deve mencionar a ação de carroceiros e catadores 417 de lixo, que contribuem significativamente para o agravamento deste quadro, uma vez que os órgãos fiscalizadores não têm disciplinado sua atuação. 6.10.4 Patrimônio Arqueológico Os estudos do Patrimônio Arqueológico foram realizados pela Arqueóloga Mariza Barbosa, do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) da Universidade Católica de Goiás. O vale do ribeirão Taguatinga/ rio Melchior apresenta acentuada ocupação antrópica com pastagens e agricultura. A vegetação natural encontra-se bastante alterada, sendo que as matas ciliares, ao longo das drenagens, encontram-se bastante degradadas. O rio Melchior é afluente, pela margem esquerda do rio Descoberto (baixo curso), e afluente do rio Corumbá, compondo-se, assim, à grande bacia do rio Paranaíba. O ribeirão Taguatinga possui suas nascentes (córregos Taguatinga e Cortado) próximas à cidade-satélite de Taguatinga e desenvolve seu curso inicialmente na direção NE-SW, sofrendo uma flexão para NW próximo à confluência com seu tributário Guariroba. Este rio, até sua confluência com o rio Descoberto recebe vários afluentes, como o córrego do Valo, o Grotão, o do Meio, o Pasto e o da Lagoinha. Nos vales destes cursos d’água observa-se grande quantidade de depósitos tecnógenos. Estes depósitos são originados pela ação do homem (CHEMEKOV, 1982; TER-STEPANIAN, 1988), podendo ser construído (aterros, por exemplo), induzido (depósitos aluvionares resultantes do uso do solo, por exemplo) e modificado (lançamento de rejeitos tecnógenos como adubos, em depósitos naturais) (OLIVEIRA, 1994). O rio Melchor é um dos cursos d’água mais degradado dos Aglomerados Urbanos das Regiões Administrativas de Samambaia, Ceilândia e Taguatinga, conseqüência principal da ocupação urbana desordenada, do desmatamento e do lançamento de esgotos. Segundo a compartimentação geomorfológica de Novaes Pinto e Carneiro (1994), o vale em estudo instala-se em Região Dissecada de Vale, com relevo suave ondulado, conforme pode ser observado na ilustração abaixo. 418 Ilustração 274 – Compartimentação geomorfológica 6.10.4.1 Aspectos Gerais É bastante recente a preocupação com o patrimônio arqueológico urbano. Acreditava-se que diante da grande complexidade dos aglomerados urbanos não haveria possibilidades de preservação de vestígios arqueológicos. Ao contrário, o patrimônio edificado sempre foi objeto de ações preservacionistas, devido a sua visibilidade. Com o surgimento do conceito de Arqueologia Urbana, a cidade passa a ser compreendida como um sistema unificado e significante de recursos materiais, local de complexas ações antropogênicas, bem preservadas no registro arqueológico (JULIANI, 1997). A arqueologia em meio urbano, surge da necessidade de se pensar a cidade como um todo, ocupada por diferentes grupos sociais, econômicos ou étnicos, os quais interagem numa trama de relações expressas em modos distintos de apropriação do espaço, padrões de comportamento e representações simbólicas. Neste sentido, os testemunhos materiais de ações humanas constituem signos de outros tempos e constituintes de um processo dinâmico de construção de identidades coletivas, evocando memórias e sensações de pertencimento na qual os sujeitos presentes e passados estão implicados (COSTA; TOCCHETTO, 1999). Conforme esses autores, a cidade caracteriza-se por uma grande intensidade de usos de seus espaços, sofrendo, portanto, uma constante transformação de suas paisagens através de aterros, terraplanagens, construções, demolições, desfiguração do traçado inicial, entre outros. Mas, mesmo com todas estas ações, é comprovado que uma parcela considerável do subsolo ainda permanece preservada, contendo registros arqueológicos de ocupações pretéritas. 419 A legislação brasileira tem defendido a preservação dos recursos arqueológicos desde o início da década de 60 (Constituição da República, artigos 20, 23, 30, 216 e 223; Leis Federais nº 3.924, de 26/07/61, nº 6.766, de 19/12/79 e nº 6.938, de 31/08/81). No entanto, foi somente por meio da reformulação dessa legislação, com a Resolução CONAMA 001/86, que considerou entre os fatores componentes do meio sócio-econômico, os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade (art. 6, inciso I, alínea C), que as pesquisas arqueológicas passaram a ser exigidas, amparadas pela legislação, em áreas ameaçadas de impacto ambiental. A partir daí, arqueólogos começaram a ser chamados para participar das pesquisas científicas para fins de diagnósticos (EIA/RIMA), de levantamentos e de resgates do patrimônio cultural em áreas a serem impactadas por empreendimentos, tais como hidrelétricas, ferrovias, rodovias, linhas de transmissão, hidrovias, dutovias, empreendimentos urbanísticos, mineração, indústria, entre outros, com o objetivo de definir e avaliar os impactos dessas obras sobre os recursos arqueológicos regionais (CALDARELLI, 1997). No entanto, conforme Bastos et al (2005), não é raro encontrar EIA’s e RIMA’s que sequer mencionam o patrimônio arqueológico, executado em áreas tradicionalmente conhecidas e ricas em vestígios arqueológicos. Em 1998 foi sancionada a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605), que impõem sanções penais e administrativas a condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, sendo que o Capítulo 5, Seção 4, trata dos crimes contra o patrimônio cultural. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por exigência legal (Portaria nº 007/88), é o órgão brasileiro ligado ao Ministério da Cultura, responsável pela proteção, pela preservação e pelo gerenciamento dos bens e sítios arqueológicos, que por lei são patrimônios da União. Esse Instituto, ao tratar especificamente do patrimônio cultural arqueológico, ressalta que os impactos ao meio ambiente podem causar danos irreparáveis ao patrimônio cultural em geral e ao arqueológico em particular, quando há intervenções no solo, já que a maioria dos sítios encontra-se enterrada. Enfatiza que desmatamentos, serviços de terraplanagem, sondagens ou qualquer outro tipo de escavação podem descobrir objetos arqueológicos ou mesmo um sítio inteiro, causando sérios impactos ao patrimônio, uma vez que os recursos arqueológicos são finitos e não-renováveis. A atuação do Ministério Público (Federal e Estaduais) tem sido importante no que se refere ao patrimônio cultural. No 1º Encontro do Ministério Público em Defesa do Patrimônio Cultural, realizado em Goiânia, no mês de outubro de 2003, representantes do MP (Federal e M unicipal), IPHAN, UNESCO, ABRAMPA, AGEPEL, Prefeitura de Goiânia, elaboraram a Carta de Goiânia que considera, dentre outras, que o patrimônio cultural não deve limitar-se apenas à materialidade documental ou monumental de seus bens imóveis, mas também, e no mesmo grau de importância, na singularidade do imaterial, consubstanciado no acervo de ritos, crenças, tradições, costumes, fazeres e comportamentos. Considera que em todas as belas paisagens há evidências arqueológicas e a paisagem onde o homem viveu, morou e erigiu sua cultura, por vezes, é a única forma e o único testemunho de transmissão da cultura, sobretudo em casos de culturas extintas. Também considera que a promoção do desenvolvimento de Planos de Preservação de Sítios Históricos Urbanos, como instrumento de gestão compartilhada, voltada para a proteção, valorização e reabilitação urbana dessas áreas, deve ser fomentada e estimulada (http//www.mp.go.gov.br). Caldarelli (1997) e Martins (1997) apontam impactos associados a diferentes tipos de empreendimentos, ressaltando os urbanísticos, conforme tabelas abaixo. 420 Tabela 123 - Impactos associados a empreendimentos urbanísticos Tipo de Empreendimento Processo Tecnológico Cortes e aterros para implantação do sistema viário, quadras e lotes Empreendimentos Urbanísticos Implantação de cobertura vegetal Pavimentação asfáltica ou tratamento do leito viário com solo e material granular compactado Impacto Arqueológico Exposição, destruição e soterramento de estruturas arqueológicas/descaracterização do território pretérito de captação de recursos Mascaramento e perturbação de estruturas arqueológicas superficias/ descaracterização do território pretérito de captação de recursos Compactação de solos arqueológicos Destruição arqueológicas enterradas Edificações de estruturas superficiais e Fonte: Caldarelli (1997) baseado em Fornassari Fº. et al. (1992) Tabela 124 - Impactos associados a diferentes tipos de empreendimentos Tipos de Região Urbano Tipos de Empreendimentos Tipos de impactos ambientais Possíveis impactos sobre o patrimônio histórico/cultural Grandes obras de engenharia civil para instalação de projetos habitacionais, anéis viários, canalizações de córregos, distritos industriais, aeroportos, centros comerciais etc; metrôs; redes subterrâneas de telefonia, saneamento e energia Intensa pavimentação da superfície; terraplanagem de grandes áreas; movimentação do solo em obras subterrâneas; intensa ocupação das áreas ribeirinhas Destruição total ou parcial de sítios arqueológicos históricos, etnoarqueológicos e préhistóricos; descaracterização de monumentos arquitetônicos e artísticos; destruição ou descaracterização de paisagens urbanas tradicionais (ruas, bairros, praças, etc) Fonte: Martins (1997) baseado em Ab´Saber (1994) Juliani (1997) ressalta a importância de avaliar a possibilidade de ocorrência e o grau de preservação arqueológico do solo urbano, considerando as características físicas (os usos atuais do solo e os materiais resultantes desses usos). Os edifícios unifamiliares e multifamiliares, as áreas comerciais, as áreas industriais, as de uso público, as ruas e os vazios urbanos são categorias amplas de uso e ocupação do solo que auxiliam nessa avaliação. Segundo essa autora: • Os edifícios unifamiliares (casas) são solos que não apresentam perturbações significativas para qualquer tipo de registro arqueológico, sendo, portanto, propícios à ocorrência de vestígios arqueológicos. Nesses locais a preservação do solo arqueológico é considerada excelente. 421 • • • • • • Os edifícios multifamiliares (edifícios residenciais) são solos que apresentam perturbações intensas e com poucos espaços não construídos, sendo considerados de baixa possibilidade de preservação do solo arqueológico. As áreas de uso comercial, apesar de serem construções que alteram o subsolo, possuem grandes áreas livres que podem manter uma boa preservação arqueológica. As áreas de uso industrial são consideradas de maior grau de variação da intensidade de uso do solo e de perturbações do registro arqueológico, uma vez que se observam áreas com solos não impactados (reservas industriais) até completamente destruídos (áreas de exploração de recursos). As áreas de uso público (áreas de lazer e de escolas) são áreas originalmente não ocupadas, por essa razão possuem um alto grau de preservação do solo, mesmo em se tratando das escolas que apresentam áreas edificadas e espaços vazios destinados ao lazer e ao esporte. Assim, se possuírem potencial arqueológico, podem apresentar alta significância para propósitos educacionais. As ruas, com exceção das grandes vias apresentam pouca perturbação do solo original, podendo ser consideradas aptas à preservação de registro arqueológico. Os vazios urbanos são áreas que permanecem sem alteração em suas características originais, apresentando, portanto, excelente grau de preservação para vestígios arqueológicos. Portanto, há necessidade de realizar pesquisas científicas em áreas a serem impactadas, que visem não somente à identificação das potencialidades arqueológicas e históricas, mas também que proponham medidas mitigadoras que irão auxiliar no resgate do patrimônio cultural. Os projetos arqueológicos são mais visíveis em áreas urbanas pelo maior contato com o público, o que possibilita à valoração e à preservação desse patrimônio. Assim, o levantamento e o resgate de sítios arqueológicos em áreas de impacto ambiental são tendências irreversíveis na pesquisa arqueológica brasileira, que vêm aumentando progressivamente em virtude do constante desenvolvimento econômico do país (CALDARELLI; SANTOS, 2000). Em decorrência disso, o gerenciamento de bens culturais pela arqueologia de contrato vem-se tornando uma prática necessária e eficaz, tendo em vista que o patrimônio arqueológico não é um bem inesgotável e o sítio arqueológico, por sua vez, não é renovável; em outras palavras, ele não pode ser duplicado entre aqueles que restaram e nem tampouco pode ser reposto (LIPE, 1974). Desta forma, segundo Talboroff (1994), considerando que sítios e estruturas arqueológicas estão ameaçados de desaparecer, corre-se o risco de se perderem importantes testamentos para a criatividade da sociedade, bem como a base do conhecimento para a modelagem do futuro. É, portanto, incumbência da geração presente conservar o patrimônio cultural para as futuras gerações, por meio de produção de conhecimento científico. 6.10.4.2 Contexto Arqueológico Regional e Local A pesquisa arqueológica no Brasil Central brasileiro remonta à década de 1970, com trabalhos realizados pela Universidade Católica de Goiás, sendo referência as pesquisas desenvolvidas por Pedro Inácio Schmitz e equipe composta por membros do Instituto Anchietano de Pesquisa e Universidade Católica de Goiás, que elaboraram o Programa Arqueológico de Goiás. Essa parceria se estendeu até a década de 1980. Paralelamente, pesquisas arqueológicas também foram desenvolvidas pela Universidade Federal de Goiás, com o Projeto Anhangüera e Programa Paranã (MELLO; VIANA, 2006). 422 O cenário de ocupação pré-histórica do estado de Goiás foi construído com base na perspectiva teórica da escola histórico-culturalista, que classificou três grandes horizontes culturais: Período Paleoíndio, Período Arcaico e Período Formativo (SCHMITZ, 1999). O Período Paleoíndio é o mais antigo e sua cultura material, composta basicamente por objetos líticos lascados, insere-se na Tradição Itaparica, cujas datações mais antigas ocorrem nos sítios de Goiás entre cerca de 11.000 a 9.000 anos antes do presente. A indústria lítica tem por referência instrumentos plano-convexos normatizados e tradicionalmente denominados de “lesmas” e considerados tão singulares no Brasil Central, a ponto de serem considerados, no passado, como marcadores crono-culturais de sítios arqueológicos pré-cerâmicos da referida Tradição. O período Arcaico é considerado um período intermediário, com datação por volta de 6.000 a 8.000 anos antes do presente. A indústria lítica desse período se modifica substancialmente, os instrumentos líticos são menos normatizados, mais espessos e tecnologicamente menos elaborados do que o período anterior. O Período Formativo é mais recente, cuja data de ocupação mais antiga na região é por volta de 2.500 anos antes do presente, representado pela Tradição Una. A cultura material desse horizonte se destaca pela presença de cerâmica e instrumentos líticos polidos e lascados sobre suportes volumosos. Em períodos posteriores, por volta de 1.000 anos atrás, a região passa a ser ocupada por grupos maiores e os sítios característicos são as grandes aldeias que comportavam mais de 2.000 pessoas. Esse horizonte cultural é representado principalmente pelas Tradições Aratu, Uru e Tupiguarani. Os grupos mais antigos de caçadores-coletores já encontrados no estado de Goiás datam do início do Holoceno, evidência encontrada tanto em sítios a céu-aberto quanto em abrigos. Na região do Distrito Federal, dois sítios com esta configuração já se encontram registrados e divulgados em publicação recente (MORAES et al, 2001). Segundo Miller (1993a), a ocupação pré-histórica do planalto goiano iniciou por volta de 11.000 anos atrás, com grupos de caçadores-coletores. Eram populações que utilizavam instrumental lítico lascado, cujas características foram identificadas como provenientes de duas culturas diferentes: da Tradição Itaparica, fases Paranaíba e Paranã, que ocuparam o território goiano até cerca de 8.000 anos atrás; e da Tradição Serranópolis, fase Serranópolis, que sucedeu a anterior, perdurando até cerca de 1.000 anos antes do presente. A partir desta data, grupos agricultores passam a ocupar os territórios do Planalto Central. A fase Jataí, da Tradição Una, começa a substituir a fase Serranópolis e caracteriza-se pela introdução da cerâmica no cotidiano desses grupos e pela prática de uma agricultura ainda rudimentar. São populações oriundas do norte do país, da Região Amazônica, que se espalharam por todo território goiano. Para o Planalto Central brasileiro, em relação ao patrimônio arqueológico de grupos ceramistas, já foram identificados vestígios materiais relacionados a três tradições distintas. Remanescentes relacionados à Tradição Aratu, a mais antiga da região, datando aproximadamente dois mil anos antes do presente, foram localizados nas bacias dos rios Araguaia, Tocantins e Paranaíba. A Tradição Uru também está presente em ocorrências no Planalto Central, nas bacias dos rios Araguaia e Tocantins, sendo consideradas as mais recentes, datando a partir do século XII. Porém, em relação às evidências de grupos ceramistas no Distrito Federal, ainda há um grande vazio para a região. 423 Em relação aos sítios de arte rupestre foram localizados vestígios nas proximidades do Distrito Federal, precisamente na cidade de Formosa, onde sete grutas de calcário apresentam pinturas, com motivos predominantemente geométricos, enquadradas como representantes da Tradição Geométrica. No ano de 1979 realizou-se uma das primeiras pesquisas arqueológicas da região do Planalto Central, em Brasilinha, cidade-satélite de Brasília, no sítio de mesmo nome, por Martins. Tratase de um sítio lítico, com grande quantidade de material resgatado e com datação de 10.600 anos antes do presente. A partir de 1980, localidades do entorno do Distrito Federal foram pesquisadas por Schmitz e Barbosa que cadastraram, no município de Formosa, 29 pequenas grutas, sendo sete com pinturas rupestres (BERTRAN, 2000). Outra região vizinha com alto potencial arqueológico é a da Chapada dos Veadeiros e do Vão do Paraná, onde já foram cadastrados cerca de 90 sítios antigos, alguns com petroglifos. Em Unaí, a sudoeste do Distrito Federal, também há registro de pelo menos dois abrigos rupestres. Na década de 1990, Miller pesquisou o potencial arqueológico da região do Distrito Federal, especialmente da região do Gama. Em 1991, um sítio com evidências cerâmicas e líticas foi registrado por este pesquisador nas cabeceiras do córrego Ipê, onde atualmente localiza-se a Universidade Holística e Cidade da Paz (BERTRAN, 2000). Na região conhecida por Ponte Alta, vários sítios arqueológicos cerâmicos e pré-cerâmicos foram descobertos, incluindo duas aldeias. Até o ano de 1993, Ceilândia e Taguatinga nunca tinham sido objeto de pesquisa arqueológica quando então, Miller fez um levantamento na região e registrou cinco sítios arqueológicos précerâmicos. Essa mesma área foi pesquisada por Costa e Barbosa, nos anos de 2004 e 2005. Em 1994, na região do rio Descoberto, outros 16 sítios arqueológicos foram levantados por Miller, sendo nove pré-cerâmicos, dois cerâmicos e cinco históricos. No vale do rio Ponte Alta, Miller ainda identificou mais quatro sítios históricos. No que se refere às ocupações do período histórico para a região do Distrito Federal, pode-se inferir inúmeras possibilidades a partir dos diferentes tipos de vestígios materiais que podem ocorrer na região. A primeira delas é a ocupação por bandeirantes que percorreram o CentroOeste em busca de riquezas minerais por séculos. Essa região é em boa parte constituída pela chamada “área de mineração”, em conseqüência, surgem os primeiros arraiais, no século XVIII, atraindo uma população de colonos brancos e escravos, vindos de diversos pontos do país como São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro (WÜST et al, 2001). As mais antigas sesmarias do Distrito Federal foram concedidas entres 1741 e 1745, com maior concentração na região do atual Gama e do ribeirão Ponte Alta. No município de Santo Antônio do Descoberto, na divisa entre Goiás e Distrito Federal, existia uma mina de ouro importante para a região. Já o arraial de Formosa dos Couros surgiu como uma espécie de ponto de apoio para as sesmarias que se assentavam em seu entorno. Foi comercialmente um dos pioneiros da região, tendo como principal produto peles de animais. No final do século XVIII, com o declínio da mineração, uma nova leva populacional é atraída pela agricultura e, especialmente, pela pecuária. Outra evidência importante, que ainda pode ter seus remanescentes materiais preservados na região, é uma Casa de Contagem, na estrada para Sobradinho que, pela situação, controlava estradas importantes da época. Atualmente, a região em que este sítio encontra-se é conhecida 424 como Posto Colorado e Academia Nacional de Polícia, mas sua localização exata ainda é desconhecida. A probabilidade de serem encontrados remanescentes do período histórico em toda a região do Distrito Federal é grande. Um bom exemplo da diversidade do material arqueológico histórico existente na região são as pontes de Luziânia, registradas por um viajante como totalizando 42 ainda no ano de 1783. Elas saíam do povoado de Luziânia em todas as direções de estradas da época, construídas para atender aos carros-de-boi e nem sempre eram necessárias (BERTRAN, 2000). A densidade de sítios arqueológicos para a região do Distrito Federal está acima de 20, conforme pode ser observado na ilustração abaixo. Ilustração 275 - Ocorrência de sítios arqueológicos em Goiás e Tocantins Fonte: Wüst, pág. 16, 2001 (sem escala) 425 Atualmente, existem registrados, no Sistema de Gerenciamento de Sítios Arqueológicos (SGSA) do IPHAN, 22 sítios arqueológicos na região do Distrito Federal (para mais detalhe ver www.iphan.org.br). Sabe-se, ainda, que existem sítios arqueológicos em processo de cadastramento que não foram tabulados. Tabela 125 - Sítios Arqueológicos Identificados na Região do Distrito Federal Sítio Localização Cartográfica Pesquisador Categoria DF-PA-11 Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Pré-Histórico DF-PA-12 Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Pré-Histórico DF-PA-13 Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Pré-Histórico DF-PA-14 Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Pré-Histórico DF-PA-15 Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Pré-Histórico DF-PA-16 Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Histórico Amarelinho Goiânia SE-22 Miller e Mello Sítio Histórico Caboclo Goiânia SE-22 Miller e Mello Sítio Histórico Cantinho Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Histórico Capão da Onça Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Pré-Histórico IPHAN Sítio Histórico Miller e Mello Sítio Pré-Histórico Vergne Sítio Pré-Histórico Miller e Mello Sítio Histórico Miller Sítio Pré-Histórico Catetinho Ipê Brasília SD-23 Jundiaí Marica Goiânia SE-22 Parque Nacional de Brasília Prainha I Sem registro de dados Recanto Goiânia SE-22 Miller e Mello Sítio Pré-Histórico Retiro Goiás SD-22 Miller e Mello Sítio Histórico Rio Guapara Uchoa e Garcia Sítio Pré-Histórico Tapera I Schmitz Sítio Pré-Histórico Miller e Mello Sítio Pré-Histórico Zico Goiânia SE-22 O sítio DF-PA-11, localizado na região da ETE Melchior, apresenta maior significância arqueológica, na medida em que, até o presente, é o único remanescente cultural de comunidades de caçadores-coletores no Distrito Federal, apresentando potencial informativo de sociedades ainda não pesquisadas nesta região. Ele está situado no Parque das Três Meninas, Região Administrativa de Samambaia, na chamada Área de Relevante Interesse Ecológico Juscelino Kubtschek - ARIE JK. Este sítio foi, sem dúvida, o mais pesquisado da região, por meio do Programa de Avaliação de Potencial Arqueológico e Resgate dos Sítios DF-PA-11 a DF-PA-15 (FOGAÇA; JULIANI, 1997a e 1997b), do Projeto de Levantamento e Monitoramento do Patrimônio Arqueológico da ADA pela Implantação do Receptor e Emissário de Esgotos do 426 Sistema Melchior, em Taguatinga, Ceilândia e Samambaia, no Distrito Federal (BARBOSA; COSTA, 2004), do Programa de Resgate do Patrimônio Arqueológico e Gestão do Patrimônio Cultural da ADA pela Implantação do Receptor e Emissário de Esgotos do Sistema Melchior, no Distrito Federal (BARBOSA; COSTA, 2005) e do Monitoramento do traçado da Galeria Localizada no Sítio Arqueológico Pré-Histórico DF-PA-11 (BARBOSA; COSTA, 2006). Com as pesquisas realizadas por Barbosa e Costa (2004 e 2005) concluiu-se que: • • • o sítio arqueológico DF-PA-11 tem uma área de abrangência bem maior que a delimitada anteriormente por Fogaça e Juliani (1997); no local indicado por Miller e Mello (1998) como sendo o sítio arqueológico DF-PA-12 não foi encontrado vestígio arqueológico; foi registrado por Barbosa e Costa (2005) o sítio arqueológico histórico Pedra Velha. Para a região da ARIE JK e entorno foi realizado um projeto de avaliação do potencial arqueológico. Seu principal objetivo era identificar a quantidade de sítios e como foram implantados na paisagem, a fim de avaliar os danos causados pelo crescimento das áreas urbanas de Taguatinga e Ceilândia ao patrimônio material da região. Essa pesquisa concluiu que a substituição da vegetação nativa por pastagens e gramíneas acabou por prejudicar o estudo da superfície do solo. Este fato, associado à atividade agrícola praticada atualmente na área, dificultou a localização de sítios arqueológicos; as matérias-primas líticas apropriadas para lascamento, como calcedônia, quartzito, quartzo entre outras, ocorrem principalmente no entorno do córrego Taguatinga e de seus afluentes; as demais rochas da área de entorno, como areias e argilas, são exploradas intensamente para a construção civil na região; os solos próprios para agricultura de coivara, que consiste na derrubada e na queima, ocorrem nas partes baixas, junto às drenagens naturais; a ocorrência de mata ciliar, com alta umidade relativa e com diversidade de fauna e flora nativas para a subsistência de grupos caçadorescoletores, ocorre especialmente no chamado ótimo climático, junto à rede de drenagem com ênfase no córrego Taguatinga; as áreas mais altas da região apresentam potencial hidro-biótico aquém do necessário para a subsistência humana, mesmo considerando-se a ocorrência de pequenos grupos, em sítios tipo acampamento; as fontes etno-históricas escritas pesquisadas especificam que a presença de indígenas (Caiapó) ocorre longe da área em estudo, a mais de cem quilômetros da região (MILLER, 1993b). A região em estudo vem sofrendo impactos ambientais, em decorrência de atividades antrópicas, desde meados do século XX. A constante expansão das áreas urbanas de Taguatinga, Samambaia e Ceilândia acabam por gerar várias atividades extrativas, econômicas, públicas e particulares; estas alteraram profundamente a paisagem local, ocasionando grandes crateras que perturbaram de certa maneira a estratigrafia em pontos aleatórios da área em estudo. A fauna e a flora do local foram dizimadas em decorrências de atividades agro-pastoris e das indústrias de olarias, sem esquecer a quantidade de resíduos poluentes que são despejados diretamente no leito dos córregos, provenientes do cotidiano urbano destas cidades (MILLER, 1993b). Ressalta-se que apesar do intenso processo de antropização que afeta a região, pode haver sítios arqueológicos sob o tecnógeno. Com relação ao status do resgate dos sítios identificados ao longo do traçado do interceptor e emissário do sistema Melchior, apresenta-se a seguir, uma síntese descritiva. 427 6.10.4.3 Status do Resgate dos Sítios Identificados ao Longo do Traçado do Interceptor e Emissário do Rio Melchior” As pesquisas realizadas no âmbito do “Programa de Resgate do Patrimônio Arqueológico e Gestão do Patrimônio Cultural da Área Diretamente Afetada pela Implantação do Interceptor e Emissário de Esgotos do Sistema Melchior”, no Distrito Federal, contribuíram com novos dados satisfatórios e questionamentos sobre a arqueologia na região do Distrito Federal. O sítio arqueológico pré-histórico DF-PA-11 a céu-aberto, ocupa uma área de 182.155 m², localizado na UTM 8244018 / 0809584, desde um terraço fluvial até os patamares presentes na margem direita do córrego Taguatinga, a 1.110 m de altitude. Nas adjacências deste sítio, o vale do córrego Taguatinga é assimétrico, com terraços em sua margem direita e encostas com declividade média em sua margem esquerda, apresentando vegetação natural degradada e ausência de mata-galeria, sendo a vegetação atual caracterizada por pastagem. Conforme pesquisas anteriormente realizadas (BARBOSA; COSTA, 2004 e 2005), esta área é caracterizada como um sítio-acampamento ocupado por um grupo indígena de cultura précerâmica, portadora de indústria lítica lascada. O sítio foi identificado através de restos de carvão encontrados na estratificação da barranca do dique marginal, junto ao córrego Taguatinga. Foi registrada também a presença de artefatos líticos lascados ao longo de uma voçoroca transversal ao córrego Taguatinga. A metodologia aplicada na área teve como principal objetivo realizar uma avaliação de potencial e delimitação do sítio. Para isto, primeiramente foram realizados caminhamentos assistemáticos, seguidos de coleta de superfície, abertura de poços-testes, realização de sondagens e exploração do depósito arqueológico através da delimitação de uma área de escavação. O sítio arqueológico pré-histórico DF-PA-15 a céu-aberto, ocupa uma área de 28.085 m², localizado na UTM 8245205/ 0811229, a 1.130 m de altitude, apresentando, além de afloramentos rochosos em quartizito, uma área de planície com grande quantidade de matéria orgânica, em espesso pacote sedimentar. Na outra margem do córrego Taguatinga, vê-se remanescentes de mata-galeria e de vegetação antrópica. Conforme pesquisas anteriores (BARBOSA; COSTA, 2004 e 2005), este local foi caracterizado como um sítio-acampamento com ocupação por uma pequena comunidade indígena de cultura pré-cerâmica, portadora de indústria lítica lascada. O sítio foi identificado pelos níveis pouco definidos de carvão, que transparecem na estratificação da barranca do dique marginal do córrego Taguatinga, entre 40 cm e 80 cm abaixo da superfície atual. Porém, após as pesquisas de resgate, o sitio caracterizou-se por ser uma área de extração de matéria-prima junto aos afloramentos rochosos de quartzito e por isso foi dividido em duas áreas de estudo, denominadas “área A” e “área B”. A “área A” foi explorada como sendo o local de ocorrência da camada escura e a “área B” como a área de ocorrência dos afloramentos. A metodologia aplicada neste sítio teve como principal objetivo realizar uma avaliação de potencial e delimitação do sítio. Para isto, primeiramente foram realizados caminhamentos assistemáticos, seguidos de coletas de superfície, abertura de poços-testes, realização de trincheiras, sondagens e exploração do depósito arqueológico através de uma área de escavação. 428 O sítio arqueológico histórico Pedra Velha a céu-aberto, ocupa uma área de aproximadamente 24.636 m², localizada na UTM 8245205 / 0811229, na margem direita do córrego Taguatinga em uma encosta com declividade suave. O perfil sedimentar foi observado ao longo de sulcos de erosão que interceptam o sítio, que apresenta sedimentos de textura areno-argilosa, com níveis de cascalho e coloração marrom-avermelhada. O sítio foi identificado devido à ocorrência de material arqueológico histórico em superfície, pertencente ao final do século XIX e início do século XX (BARBOSA;COSTA, 2004 e 2005) e também pela ocorrência, na área, de duas estruturas construtivas e seis estruturas de extração, identificadas e pesquisadas. A metodologia aplicada na área teve como principal objetivo realizar uma avaliação de potencial e identificação do sítio. Para isto, primeiramente foram realizadas a caracterização das estruturas e a abertura de poços-testes para exploração do depósito arqueológico. Este estudo abordou o conjunto de informações descritivas referentes às características físicas das estruturas construtivas e estruturas extrativistas. As estruturas tiveram suas paredes evidenciadas e desenhadas para posteriores estudos comparativos entre as técnicas construtivas e extrativistas. Os sítios arqueológicos pré-históricos DF-PA-11 e DF-PA-15 constituem oficinas líticas a céuaberto, portadoras da tradição Itaparica, fase Paranaíba, correspondente à ocupação paleoíndia, entre 9.000 AP e 11.000 AP, no Planalto Central brasileiro. A tradição Itaparica surge no Centro-Oeste e nordeste brasileiro com os trabalhos realizados por V. Calderón e P.I. Schimitz, que pretendiam congregar todas as indústrias líticas, com raspadores e retoques unifaciais, com ausência de pontas de projétil. “Calderón estabeleceu a presença de lesmas como fóssil-guia de seu horizonte antigo” (FOGAÇA, 1995, p.146). Algumas características gerais distinguem esta tradição em duas fases, Paranaíba e Serranópolis, porém “os sítios estudados são todos localizados em abrigos. Havendo raras notícias de sítios abertos, cujo estudo ainda não foi feito” (PROUS, 1992, p.168-169). A fase Paranaíba ocorre em Goiás entre 11000 AP e 9000 AP, conforme pesquisas realizadas por P.I. Schimitiz e O. Dias e caracteriza-se por objetos plano-convexos em quartizito, retocados, particularmente raspadores, uns ogivais e outros de gume arredondado. “Particularmente típicos da fase são os grandes raspadores sobre lascas espessas retocadas lateralmente, geralmente denominadas lesmas” (PROUS, 1992, p.178). Segundo E. Fogaça (1995, p.147), o universo de sítios pesquisados relacionados à tradição Itaparica compõe-se de uma generalização macro-regional com base em resultados específicos alcançados em Goiás, sendo também, segundo o autor, que o contexto pré-histórico quase em toda a sua totalidade é reconstituído com estudos em abrigos, que, por sua vez, apresentam uma visão parcial do sistema de implantação destas sociedades, composto também por sítios a céu-aberto, como é o caso dos sítios estudados. A especificidade dos sítios pré-históricos DF-PA-11 e DF-PA-15 encontra-se na característica absoluta destes locais enquanto oficinas líticas a céu-aberto, representativos não somente pelos afloramentos com retiradas presentes no local, os quais afirmam a área dos sítios como de extração de matéria-prima, mas também pela presença do produto final, caracterizado em grande número pelos instrumentos plano-convexo (lesmas), apresentados em seu estágio final de confecção, o que permite estabelecer uma correlação direta com a fonte de matéria-prima, e assim obter as atividades seqüenciais executadas na produção e na identificação das opções tomadas. 429 Também há particularidades em certas peças, que apresentam retomadas em sua confecção, propriedade presente em instrumentos que, após sua produção e uso, tiveram uma reativação de sua funcionalidade através de ajustes em suas partes. Desta forma, diferente da colocação de Binford de que “é mais provável que instrumentos de pedra sejam consertados e mais intensamente reutilizados em sítios onde o acesso às fontes de matéria-prima é mais difícil do que em sítios próximos a essas fontes“ (TRIGGER, 2004, p.350). Os sítios pesquisados no âmbito deste programa oferecem novos dados a serem interpretados apresentando a especificidade de uma oficina paleoíndia a céu-aberto relacionada à fase Paranaíba da tradição Itaparica no Distrito Federal. O sítio arqueológico histórico Pedra Velha, por sua vez, apresenta características singulares sobre a coleta e o uso da pedra, em uma área onde se pode evidenciar a utilidade desta matéria-prima na sociedade atual, produzindo, desta forma, um entendimento diacrônico da exploração e do emprego do quartzito, desde tempos pré-históricos até o presente, ficando evidenciada, por um lado, uma exploração centrada nos afloramentos rochosos, diferentemente do executado atualmente nas lavras com o uso de ferramentas, enquanto por outro lado, registra-se o empregado desta matéria-prima que em tempos pré-históricos foi objeto de transformação em instrumentos e hoje é aplicada na construção civil. Aponta-se desta forma, a importância destes sítios arqueológicos como testemunhos da arqueologia no vale do córrego Taguatinga e, conseqüentemente, do Distrito Federal e do Centro-Oeste brasileiro. Assim, a eminência de processos destrutivos como a execução de obras no espaço destes sítios requer ações mitigadoras e preservacionistas do seu valor científico e cultural para sociedades futuras. 6.10.5 Aspectos de Infra-estrutura O Diagnóstico da Infra-estrutura do empreendimento tem por objetivo determinar a qualidade ambiental da área de interesse, na situação atual, conforme constatado “in loco”, isto é, o abastecimento de água potável, o esgotamento sanitário, a drenagem de águas pluviais, os resíduos sólidos, a energia elétrica e a telefonia fixa (Vide Mapa PRG-BRD-18). Para o desenvolvimento dos trabalhos foram utilizados diferentes métodos, a saber: • Visitas de campo – com o objetivo de confeccionar o diagnóstico da área e avaliar cenários futuros de ocupação; • Pesquisa bibliográfica – com o intuito de reunir informações técnicas sobre a área e os sistemas em operação nas regiões contíguas, como abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos, drenagem pluvial, energia elétrica e telefonia fixa; • Reuniões com técnicos das concessionárias – com o objetivo de obter informações e discutir alternativas tecnológicas para o empreendimento em estudo; • Reuniões com técnicos do presente Estudo Ambiental – com o intuito de levantar informações conexas relevantes e uniformizar e mitigar impactos ambientais negativos. No Tomo 3 serão apresentados estudos referentes às alternativas técnicas de implantação dos sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, resíduos sólidos, 430 energia elétrica e telefonia fixa para o empreendimento em estudo, a partir dos estudos urbanísticos. A definição da projeção futura do traçado urbano, dos principais usos a serem desenvolvidos no local em tela e a população de saturação são fundamentais para o estudo das alternativas tecnológicas para os referidos sistemas de infra-estrutura. Por conseguinte, tanto as alternativas tecnológicas, quanto as propostas de infiltração das águas pluviais, conforme exigido no Termo de Referência, serão abordados, somente, no Capítulo de Prognóstico. 6.10.5.1 Abastecimento de Água Para o desenvolvimento dos estudos sobre o sistema de abastecimento de água foi definida a Área de Influência Indireta como sendo as localidades envolvidas com o sistema de abastecimento de água em funcionamento pela CAESB, pois a inserção do empreendimento proposto implicará em um impacto no consumo de água atual. O perímetro proposto de ocupação urbana e o seu entorno imediato, cidade de Ceilândia, foram definidos como Área de Influência Direta No cenário nacional, o índice médio de atendimento urbano de abastecimento de água, para o ano de 2005, é de 96,3%, segundo informações disponibilizadas pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, 2006). O Distrito Federal é abastecido por 5 sistemas produtores de água, os quais atendiam aproximadamente 98,8% da população total do DF no ano de 2005 (última informação oficial da CAESB). Os sistemas produtores são: São Sebastião, Brazlândia, Sobradinho/Planaltina, rio Descoberto e Santa Maria/Torto (inseridos dentro do Parque Nacional de Brasília). Segundo o relatório Siágua, elaborado pela CAESB (CAESB, 2005), a produção total de água pelos referidos sistemas foi de 6.169 l/s. O sistema existente, operado e mantido pela CAESB, mais próximo do empreendimento em epígrafe, é o que atende à cidade de Ceilândia, sendo o sistema integrado Rio Descoberto. O Sistema Descoberto abastece, atualmente, cerca de 61% da população atendida do Distrito Federal. É composto pelas captações no rio Descoberto, maior manancial utilizado para o abastecimento do DF, correspondendo a 97 % da produção do sistema Descoberto, e em outros 8 mananciais (Catetinho Baixo 1 e 2, Crispim, Alagado, Olho D’Água e Ponte de Terra 1, 2 e 3). A Captação Descoberto abastece as áreas urbanas das RA’s de Taguatinga, Sítio do Gama, Novo Gama, Ceilândia, Samambaia, Gama, Núcleo Bandeirante (SMPW), Santa Maria, Recanto das Emas, Riacho Fundo (I e II), Candangolândia, Guará (I e II). A captação Alagado, Ponte de Terra 1, 2 e 3, Olho D’Água e Crispim complementam o abastecimento do Descoberto na Região Administrativa do Gama e as captações Catetinho Baixo 1 e 2 abastecem o Setor de Mansões Park Way (Núcleo Bandeirante). É importante esclarecer que a captação no rio Descoberto é por barragem de acumulação e que as demais captações possuem barragem de elevação de nível. Devido às grandes pressões oriundas das atividades antrópicas (atividades rurais, uso de agrotóxicos, movimentação do solo e a progressiva ocupação urbana, especialmente nas margens do lago Descoberto no estado de Goiás), as águas do reservatório Descoberto têm reduzido a sua qualidade ao longo do tempo. Nesse contexto, a ETA Descoberto trata as suas 431 águas captadas no manancial de mesmo nome e no ribeirão Pedras. A água é tratada pelo processo de filtração direta com pré-floculação e com capacidade nominal de 6,0m³/s (sendo utilizado alto índice de mecanização). Já as águas captadas do Catetinho, Ponte de Terra, Olho D’Água, Alagado e Crispim, por processo convencional, com restrições nos períodos chuvosos, quando podem ser temporariamente desativadas. A captação Olho D’Água encontra-se desativada, desde 1999, por problemas operacionais. A distribuição de água pelo Sistema Descoberto tem operado de forma satisfatória, porém a sua disponibilidade hídrica tem sofrido grandes pressões por elevações da demanda, em virtude da existência de captações para a irrigação e da implantação de diversas áreas novas (Setor Noroeste, Complexo de Diversões, Cultura e Lazer de Taguatinga, Expansão do Guará II, Pólo de Modas no Guará, Placa das Mercedes, ADE de Águas Claras, Expansão do Areal, adensamento de Águas Claras etc.). Segundo informações oficiais da CAESB (Sinopse do Sistema de Abastecimento de Água), o Sistema Descoberto possuiu um aproveitamento de 57,9% com relação a sua disponibilidade hídrica no ano de 2005, indicando folga hidráulica. De forma complementar, é apresentado o sistema Santa Maria/Torto, sendo o segundo maior sistema produtor no Distrito Federal, responsável pelo abastecimento de aproximadamente 17% da população atendida do Distrito Federal. O ribeirão Santa Maria localiza-se na bacia hidrográfica do rio Paranoá e está nos limites do Parque Nacional de Brasília. As águas têm apresentado qualidade satisfatória, excetuando-se a presença eventual de algas. Com referência à estrutura dos barramentos, o ribeirão Santa Maria possui barragem de acumulação e o Torto, de elevação de nível. O sistema em tela abastece as RA’s de Brasília, Paranoá, Cruzeiro, Lago Sul (MUD – Mansões Urbanas Dom Bosco), e Lago Norte (incluindo a Vila Varjão), sendo composto por duas captações de maior porte (Santa Maria e Torto), por 6 poços tubulares que abastecem o Itapoã (EPO’s IT1, IT2, IT4, IT6, IT7 e IT8), 2 poços no Paranoá (EPO-PR1 e EPO-PR2). Esse sistema possui outros 3 pequenos mananciais, responsáveis por um reforço na vazão produzida, sendo o Taquari, o Cachoeirinha e o Cabeça do Veado, constituído por sete pequenas captações. O Taquari abastece somente uma parcela da RA do Paranoá e constitui-se de duas barragens de nível. O Cachoeirinha, juntamente com reforço do Santa Maria/Torto, completa o abastecimento do Paranoá, sendo a captação realizada por meio de uma barragem de elevação de nível. O Taquari abastece somente uma parcela da RA do Paranoá e constitui-se de duas barragens de nível. O Cachoeirinha, juntamente com reforço do Santa Maria/Torto, completa o abastecimento do Paranoá, sendo a captação realizada por meio de uma barragem de elevação de nível. As qualidades físico-químicas e bacteriológicas das águas captadas nos mananciais citados são consideradas de “Muito Boa a Ótima”, segundo o IQA médio levantado pelo laboratório de Controle de Qualidade de Água da CAESB, salientando-se que o Lago Santa Maria, o maior desse sistema, estando situado dentro do Parque Nacional de Brasília e protegido pelo IBAMA, apresenta água de excelente qualidade sob o enfoque bacteriológico e com índices bastante aceitáveis no que diz respeito aos parâmetros físico-químicos. Vale ressaltar que as águas provenientes de todos esses mananciais são adequadamente tratadas nas respectivas unidades de tratamento do sistema. A Unidade de Tratamento Simplificado Taquari processa a desinfecção e fluoretação das águas daquela captação, exceto nos períodos chuvosos, em que se verifica a piora na qualidade da água e a captação é, então, temporariamente desativada. As águas do sistema Santa Maria/Torto são tratadas na ETA Brasília por processo convencional, a qual está em operação desde 1967 e que, após diversas reformas, possui uma 432 capacidade nominal de 2.800 l/s. Está prevista a alteração no processo de tratamento atualmente empregado nessa ETA, visando sua adequação frente à qualidade liminológica do Lago Santa Maria. Para tanto, a obra de recuperação, melhoria e ampliação da capacidade da ETA-Brasília encontra-se em andamento, que irá, além de modificar o processo de tratamento ali empregado, dotar a Unidade de mecanismos de controle mais modernos, nos moldes da ETA-Rio Descoberto. Salientado que, em 2002, deixou-se de aplicar o orto-polifosfato, tendo em vista a mudança de coagulante (cloreto férrico para policloreto de alumínio), que eliminou a necessidade de aplicação do produto. As ETA’s do Paranoá e do Lago Sul tratam as águas captadas no Cachoeirinha e Cabeça do Veado 1, 2, 3 e 4, respectivamente. O processo utilizado na ETA Paranoá é o convencional, enquanto a filtração direta é aplicada na ETA Cabeça do Veado, no Lago Sul. Por outro lado, as águas captadas no Taquari são tratadas por uma UTS, que devido a problemas existentes em épocas de grande pluviometria, será substituída por uma ETA com processo de filtração ascendente. A distribuição de água pelo sistema Santa Maria/Torto tem apresentado, no aspecto geral, comportamento normal, ressalvando-se a alimentação do Lago Sul (adutora a partir do RAPPP2) e à própria rede daquela localidade, que tem indicado problemas (ocorrência de incrustações e deficiente setorização). Segundo informações oficiais da CAESB (Sinopse do Sistema de Abastecimento de Água), o sistema Santa Maria/Torto possuiu um aproveitamento de 50,6% com relação a sua disponibilidade hídrica no ano 2005, indicando folga hidráulica. Com relação às unidades físicas, a cidade de Ceilândia é atendida por quatro reservatórios distintos, sendo: • • • • Reservatório Apoiado RAP-CE1 – capacidade total de 40.000 m3 em quatro câmaras e atende uma parcela das cidades de Ceilândia e Taguatinga; Reservatório Elevado REL-CE1 – capacidade total de 500 m3 em única câmara e atende a parcela da cidade de Ceilândia com cota altimétrica mais elevada; Reservatório Apoiado RAP-MN1 – capacidade total de 45.000 m3 em quatro câmaras e atende Taguatinga Centro, parte de Taguatinga Norte e Ceilândia (parcela do Setor “O” e P Norte), Águas Claras, Guará e Lúcio Costa; Reservatório Apoiado RAP-MN2 – capacidade de 30.000 m3 em quatro câmaras e atender uma parcela da cidade de Taguatinga Norte e de Ceilândia (QNO). Foram realizadas visitas técnicas na área em tela e consultas verbais aos técnicos da CAESB, sendo averiguada que a referida Companhia já abastece uma grande parcela da população existente nos parcelamentos Pôr do Sol e Sol Nascente, com água proveniente do reservatório RAP-MN1. As unidades domiciliares que não estão interligadas ao sistema da CAESB encontram soluções provisórias como cisternas rasas (com consumo de água sem prévio tratamento) e ligações clandestinas. Tal situação merece um especial destaque, em virtude do risco de proliferação de doenças de veiculação hídrica. Com relação ao posicionamento da CAESB, informamos que no Ofício nº. 042/2008 – TMAE/TMA/DT/CAESB, a Gerente Solange Cordeiro declara que “com relação ao sistema de abastecimento de água, para evitar problemas de saúde pública, a CAESB implantou redes de abastecimento de água em praticamente toda a área e tão logo o urbanismo definitivo esteja concluído, o sistema será reavaliado e adequado à nova realidade”. 433 É possível afirmar a existência de interferências da área em estudo com unidades do sistema de abastecimento de água operado e mantido pela CAESB, notadamente no parcelamento Sol Nascente. Acredita-se que tais interferências são de pequeno porte e, provavelmente, seja possível o remanejamento das unidades com problemas. Com referência à revisão do Plano Diretor de Água e Esgotos do Distrito Federal, elaborado pela CAESB e finalizado em 2003, o objetivo principal do estudo foi expandir a área de atuação da CAESB e atender a crescente demanda por abastecimento de água e esgotamento sanitário, tanto em áreas públicas quanto em áreas particulares. Sendo assim, esse Plano avaliou um horizonte de projeto de 25 anos (início no ano de 2005 e finalização em 2030) e foi dividido em três grandes grupos, isto é: i) a ampliação do sistema de abastecimento de água de todo o Distrito Federal (implantação de novas captações de água em: Corumbá IV, São Bartolomeu e Sal e Palma no rio Maranhão); ii) o atendimento em demandas pontuais em áreas prioritárias (como a cidade de Águas Lindas de Goiás, Vila Estrutural e Itapuã); e iii) obras de médio prazo para a ampliação do mercado da CAESB (atendimento a condomínios). O referido Plano Diretor da CAESB previu uma população total de 12.000 habitantes para o parcelamento Pôr do Sol e 50.000 habitantes para Sol Nascente, considerando o ano de 2030. 6.10.5.2 Esgotamento Sanitário Para o desenvolvimento dos estudos sobre o sistema de esgotamento sanitário foi definida a Área de Influência Indireta como sendo a área com influência do rio Descoberto. Para a Área de Influência Direta, foi definida a unidade hidrográfica do rio Melchior, o qual é um tributário do rio Descoberto pela sua margem esquerda e a jusante da barragem de regularização de vazão do Descoberto. Segundo os dados disponibilizados pelo SNIS (2006), o atendimento urbano com coleta de esgotos em todo o Brasil é bastante precário. O índice médio nacional para o ano de 2005 é de apenas 47,9 % e somente quatro prestadores de serviços de abrangência regional atendem a mais de 50% da população urbana dos setores habitacionais a que servem (CAESB/DF, SABESP/SP, COPASA/MG E SANEPAR/PR). Em relação ao tratamento dos esgotos, os resultados são ainda mais preocupantes. Tomando-se por referência a índice de tratamento dos esgotos gerados, a média nacional é de somente 31,7%. Nesse cenário, o sistema de esgotamento sanitário no Distrito Federal, sob a responsabilidade da CAESB, atende, atualmente, com coleta de esgotos, aproximadamente 93% da população total, sendo que 100% do volume coletado de esgotos recebe depuração em 17 (dezessete) Estações de Tratamento de Esgotos (ETE’s) em plena carga. Dos sistemas de esgotamento sanitário, existentes e operados pela CAESB no Distrito Federal, o mais próximo da área em estudo é aquele que atende as cidades da Ceilândia e Taguatinga, denominada ETE Melchior (CAESB, 2004). A ETE Melchior, inaugurada em 15/09/2004, atende as cidades de Taguatinga, Ceilândia, Águas Claras (futuro) e parte de Samambaia, com uma vazão projetada de 1.465 L/s e vazão média anual de 754.75 L/s, e atendimento a uma população de 1.005.045 habitantes. 434 Devido à localização do Sistema Melchior, na bacia do rio de mesmo nome, o corpo receptor escolhido para receber os esgotos tratados da localidade é o próprio rio Melchior, em ponto localizado a jusante da confluência com o córrego Gatumé. Devido às características impostas, optou-se pelo uso de um sistema de tratamento utilizando digestores anaeróbios de fluxo ascendente, seguido de um sistema de lodos ativados de aeração prolongada, clarificadores, flotadores e um sistema de desidratação mecânica do lodo. A remoção de nitrogênio se dará pelo processo de nitrificação e desnitrificação no reator de lodos ativados, através da utilização de zonas aeradas e anóxicas no mesmo e a remoção de fósforo se dará por via biológica, através da inclusão de uma zona anaeróbia no reator, processo que vai ser suplementado através da adição de coagulante metálico. Especificamente na cidade de Ceilândia, o sistema de esgotamento sanitário possui duas áreas de esgotamento constituídas de rede coletora, dois interceptores, uma estação elevatória e a própria estação de tratamento (ETE) Melchior, que lança os efluentes líquidos depurados no rio Melchior. Para atender a população da cidade de Taguatinga existe um terceiro interceptor interligado à ETE Melchior, o qual tem trajeto próximo do leito natural do ribeirão Taguatinga. Na cidade de Ceilândia, verifica-se a existência de dois interceptores em operação, sendo denominados de QNM 10 e QNO/SIC/QNP. Esses interceptores foram implantados em conjunto com as redes coletoras, quando da execução do sistema de esgotamentos sanitário da área urbana. O Interceptor QNM 10 é responsável pela condução dos esgotos produzidos nas Quadras QNM 7, 9, 10 e 17 a 26, até o interceptor Cortado, margem direita em Taguatinga. O Interceptor QNO/SIC/QNP apresenta bacia de drenagem constituída pelos demais setores da cidade de Ceilândia, incluindo também o condomínio Privê. O interceptor QNO/SIC/QNP encaminha os efluentes líquidos desses setores até o lançamento no interceptor que vem da cidade de Taguatinga até a ETE Melchior. Por último, tem-se o interceptor Melchior, que conduz os esgotos sanitários coletados até a ETE Melchior. A Ilustração 276 apresenta uma visão geral do sistema coletor da cidade de Ceilândia, principalmente com destaque para os interceptores, os quais interferem diretamente com a área em estudo e são de grandes dimensões. 435 Ilustração 276 - Sistema de Esgotamento Sanitário da Cidade de Ceilândia 436 A resposta da Carta-Consulta da CAESB (Nº 0028/2007 – DT) informou que foram detectadas interferências da localidade em estudo com redes de esgotos dessa concessionária. A CAESB apresentou uma tabela com as faixas de servidão em função da profundidade e diâmetro da tubulação. No presente estudo ambiental, como os interceptores de esgotos são as tubulações de maior porte na área e com maiores dificuldades de remanejamentos, optou-se por adotar a faixa de servidão para diâmetros até 1.500 mm e profundidades de 3,5 m a 5,0 m. Assim, tem-se uma faixa de servidão de 6,0 m para cada lado do eixo das tubulações, notadamente os interceptores. A CAESB também informa em sua resposta da Carta-Consulta, que o remanejamento das referidas redes interferentes é muito difícil, pois as condições topográficas não são favoráveis e as tubulações possuem grandes diâmetros. Portanto, essa concessionária sugere que os projetos de urbanismo elaborados para o local respeitem as faixas de servidão das tubulações de esgotos que atravessam a área. As 65 edificações localizadas nas faixas de servidão dos interceptores de esgoto sanitário estão ilustradas na Tabela a seguir e no Mapa PRG-BRD-22. Tabela 126 – Coordenadas das edificações localizadas na faixa de servidão dos interceptores de esgoto sanitário EDIFICAÇÃO COORDENADA LESTE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 NORTE 161866,95 161867,75 161875,42 161898,31 161907,17 161922,65 161950,56 161961,23 162080,21 162113,55 162125,58 162150,72 162175,33 162186,04 162205,62 162385,27 162248,22 162273,49 162296,37 162310,79 162368,60 162409,35 162437,40 162616,12 8249464,03 8249455,04 8249449,61 8249430,30 8249422,63 8249410,85 8249384,92 8249376,72 8249281,87 8249253,56 8249240,33 8249220,75 8249199,32 8249189,53 8249173,26 8249619,74 8249133,57 8249110,02 8249090,71 8249078,67 8249024,82 8248990,69 8248964,23 8248812,23 437 EDIFICAÇÃO COORDENADA LESTE 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 NORTE 162842,74 163129,81 163293,99 163302,32 163318,33 163345,58 163371,91 163439,51 163452,08 163494,14 163725,66 163812,97 163802,78 163650,65 163745,76 163821,70 163838,24 163856,89 163922,64 163931,77 163941,16 163976,08 164010,88 163685,44 163425,62 163411,46 163426,28 163523,12 163652,76 163743,51 164013,39 164515,04 164530,12 165468,91 165533,52 165634,82 165636,00 165801,12 165883,68 166247,73 166336,32 8248697,00 8248681,13 8248571,59 8248559,69 8248493,14 8248461,13 8248442,08 8248441,95 8248442,34 8248453,06 8248508,75 8248543,81 8248564,71 8248960,66 8249005,77 8249047,18 8249052,08 8249056,71 8249085,68 8249090,57 8249092,82 8249110,95 8249115,97 8248308,60 8248120,61 8247699,52 8247668,70 8247536,94 8247406,36 8247305,82 8247068,89 8246081,06 8246051,56 8244352,71 8244310,77 8244251,80 8244242,23 8244173,96 8244146,17 8244341,96 8243557,50 Segundo a CAESB, os empreendimentos Sol Nascente e Pôr do Sol são privados e não existe projeto urbanístico aprovado para a área. Alguns lotes da área estão locados sobre a rede de esgotos, impedindo o acesso das equipes de manutenção, além de colocar em riscos os futuros moradores das residências. 438 A CAESB esclareceu que a área em estudo está localizada na bacia de esgotamento da ETE Melchior, a qual possui a capacidade de atender, em sua configuração atual, uma população de 896.800 habitantes. De acordo com os estudos do Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT, as ocupações previstas para esta bacia de esgotamento já ultrapassaram a capacidade do sistema instalado. Não existe previsão, em curto e médio prazos, de expansão desse sistema, dessa forma, é necessário um estudo de expansão de toda a bacia de contribuição da ETE Melchior, no sentido de garantir que os limites da capacidade desse sistema não sejam extrapolados. A ETE Melchior lança seus efluentes tratados à montante do Reservatório de Corumbá IV. Esse reservatório possui restrições de aporte de nutrientes. Qualquer aumento de carga para este reservatório deverá ser objeto de estudos de toda a sua bacia de contribuição. Em sua resposta, a CAESB também esclarece: • • • • Por se tratar de empreendimento privado, a solução de esgotamento sanitário da área cabe ao interessado; Via de regra, a CAESB atende aos parcelamentos privados com sistemas de esgotamento sanitários nos seguintes casos: situações de viabilidade econômica e ambiental do sistema; capacidade disponível dos sistemas de esgotamento existentes; reconhecimento do GDF que tais “condomínios” são parte integrante do urbanismo oficial da região e a ocupação ter relevante interesse social e de saúde pública; Qualquer posicionamento da CAESB depende da existência de projetos urbanísticos aprovados; O projeto do sistema de esgotamento sanitário é de responsabilidade do interessado e a CAESB verifica se o mesmo atende aos padrões técnicos aplicáveis, desde que a pedido do órgão ambiental. Compete ao órgão ambiental informar as alternativas de corpo receptor, as características da qualidade do recurso hídrico, nível de tratamento requerido (qualidade dos efluentes finais), localização relativa às unidades de preservação ambiental; bem como outros parâmetros e restrições ambientais aplicáveis. Contrastando com a resposta oficial da CAESB, as informações disponibilizadas pela TERRACAP indicam que a área em estudo possui áreas desapropriadas, desapropriadas em comum e adquiridas e incorporadas ao patrimônio dessa empresa do Distrito Federal. Por conseguinte, o proprietário da área é o Governo do Distrito Federal e não ente particular (físico ou jurídico), ficando sob a responsabilidade da CAESB a instalação da infra-estrutura dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário. As alternativas tecnológicas, presentes no Prognóstico do presente Estudo Ambiental, estão analisadas sob aspectos técnicos, econômicos e ambientais de propostas de coleta, tratamento e disposição final dos esgotos sanitários produzidos na área em tela. Tais análises foram submetidas a uma avaliação da CAESB, que, obviamente, deverá rever a sua posição quanto a titularidade da terra. Atualmente, a área possui um cenário de ausência total de planejamento de sistema de esgotamento sanitário, com a presença de fossas negras e escoamento superficial de águas servidas. Esse panorama preocupa com a possibilidade de contaminação do solo e de riscos de veiculação de doenças para a população local. 439 Informamos que no Ofício nº. 042/2008 – TMAE/TMA/DT/CAESB, a Gerente Solange Cordeiro declara que “a CAESB já elaborou o projeto de esgotamento sanitário da área, com base no urbanismo existente, que será adaptado ao novo urbanismo, tão logo esteja definido. A implantação será viabilizada por recursos do PAC, em negociação”. Ilustração 277 - Esgoto a céu aberto no Pôr do Sol Fonte: PROGEA – 2007 440 Ilustração 278 - Esgoto a céu aberto no Sol Nascente Fonte: PROGEA – 2007 6.10.5.3 Energia Elétrica A Área de Influência Indireta para a análise do sistema de distribuição de energia elétrica abrange todo o Distrito Federal, porque a sua operação é integrada. Para a Área de Influência Direta foi definido o perímetro proposto de ocupação urbana e áreas limítrofes. O sistema de distribuição de energia elétrica do Distrito Federal, sob a responsabilidade da CEB, consumiu um total de 3.569 GWh no ano de 2004, havendo uma redução de 0,5% com relação ao ano anterior. O uso residencial no Distrito Federal é preponderante em comparação a outras classes, como industrial, comercial e público, pois representou aproximadamente 39,8% do total do consumo de energia elétrica. O sistema completo possui um total de 14.533 km de linhas de distribuição de energia elétrica no Distrito Federal. O suprimento de energia ao Distrito Federal é realizado por FURNAS Centrais Elétricas, atualmente, através das subestações de Brasília Sul - 345/138 kV e Brasília Geral 230 / 34,5 kV, com capacidades de 750 MVA e 180 MVA, respectivamente. A subestação de Brasília Sul alimenta também cargas da CELG da região de Marajoara. O sistema de subtransmissão da CEB constitui-se atualmente de 29 subestações, sendo 9 alimentadas em 138 kV, 4 441 alimentadas em 69 kV e 16 em 34,5 kV. Para alimentação destas subestações, dispõe-se de um sistema de subtransmissão constituído de linhas de 138, 69 e 34,5 kV. Durante vistoria recente na área de estudo, foi observado que grande parcela da população local não paga pelos serviços oferecidos pela CEB e há a presença de ligações clandestinas. Ilustração 279 - Gambiarras de energia elétrica Fonte: PROGEA – 2006 Com relação à energia elétrica no local, principalmente relacionada ao atendimento dos “condomínios” Pôr do Sol e Sol Nascente, descreve-se a seguir, as informações prestadas pela CEB, conforme Carta Nº 064/1161/2007, anexada ao Volume III - ANEXOS. “A CEB tem condições técnicas para fornecer energia elétrica ao citado setor. Atualmente a CEB conta com duas subestações para o fornecimento de energia na Ceilândia, as Subestações Ceilândia Sul e Ceilândia Norte. A CEB tem planejada, ainda, a construção de mais duas subestações, Samambaia Oeste e Taguatinga Norte, que dividirão carga com as duas subestações existentes acima citadas, além de outras; Conforme informações cadastrais em anexo, existem redes elétricas no local, interferindo com a área em estudo, as quais passíveis de serem remanejadas. Para tanto, logo que solicitados, emitiremos os projetos e orçamentos de remanejamento após a aprovação da URB, a qual deverá ser encaminhada à CEB em meio digital, georeferenciada DATUN 45, extensão dxf. Segue em Anexo, CD contendo planta de localização das redes de distribuição elétrica existentes na poligonal informada; É importante citar ainda, no tocante à interferência de redes, a existência de uma linha de transmissão de energia na tensão de 230 kV, LT Brasília Sul x Barro Alto, de propriedade de FURNAS Centrais Elétricas, cortando trecho da área em estudo, próximo a seus limites a sudoeste. Informações mais precisas deverão ser obtidas junto à concessionária proprietária da linha; Sob o aspecto de fornecimento de energia elétrica, informamos que a CEB tem condições de atender a uma densidade populacional e também às unidades imobiliárias com atividades 442 semelhantes às existentes em Ceilândia e Samambaia. A densidade populacional e o uso das unidades imobiliárias projetadas influenciarão no dimensionamento da rede elétrica para o local; A solicitação para implantação da infra-estrutura de energia elétrica junto a CEB deverá ocorrer com a antecedência de 12 meses da data prevista para sua entrada em operação, sendo que os custos desta infra-estrutura serão atribuídos ao loteador, de acordo com a legislação vigente; O projeto relativo à infra-estrutura de energia elétrica deverá ser encaminhado à CEB para analise e aprovação, acompanhado do respectivo memorial descritivo, consumo, demandas, cálculos elétricos e também do projeto urbanístico com seu memorial descritivo com a destinação, atividade, potencial de ocupação das unidades a serem implantadas e ainda cronograma de implantação; Destacamos a observação das distâncias mínimas de segurança entre as edificações e redes, conforme anexos, e ainda a observância de espaços suficientes que permitam a implantação das redes em obediência à Lei de Acessibilidade. Ao se optar pela implantação de redes de distribuição subterrâneas deverão ser contempladas áreas destinadas às subestações de distribuição; O projeto a ser apresentado à CEB deverá conter faixas não edificantes destinadas a implantação da infra-estrutura básica de distribuição de energia elétrica, que permitam observar as faixas de segurança com relação à tensão de uso; e “Solicitamos atentar para que antes da aprovação do Decreto criando o setor seja aprovado o projeto elétrico junto a CEB, de forma a se verificar o atendimento às orientações aqui apresentadas”. A resposta da Carta-Consulta da CEB indicou a presença de interferência da área em tela com as seguintes unidades principais: • Linha de distribuição aérea em baixa tensão para o fornecimento de energia elétrica para chácaras e para a maioria das residências dos parcelamentos Pôr do Sol e Sol Nascente; e • Linha de transmissão na tensão de 230 kV de propriedade de FURNAS Centrais Elétricas. Apesar da CEB não ter indicado a faixa de servidão dessa linha de transmissão, o presente estudo ambiental sugere uma faixa mínima de segurança de 20,0 m para cada lado do eixo da linha. 6.10.5.4 Drenagem Pluvial Para o desenvolvimento dos estudos sobre o sistema de drenagem pluvial foi definida a Área de Influência Indireta como sendo a área com influência do rio Descoberto. Para a Área de Influência Direta, foi definida a unidade hidrográfica do rio Melchior, o qual é um tributário do rio Descoberto pela sua margem esquerda e a jusante da barragem de regularização de vazão do Descoberto. Os sistemas de drenagem urbana existentes no Distrito Federal foram implantados utilizando bases conceituais de um sistema tradicional, sendo constituído de: sarjetas, canaletas, bocas de lobo, galerias, poços de visitas e lançamento final. No que se refere à captação, a NOVACAP tem adotado ao longo do tempo uma padronização, objetivando otimizar a eficiência 443 da mesma quanto ao volume de água captado e à redução dos custos. Quanto às redes já implantadas, são compostas de condutos circulares, variando de 400 a 1.500 mm de diâmetro e de galerias quadradas, construídas em concreto armado, com lados de 1,65 a 3,00 m. Essa padronização tem a finalidade de facilitar a execução das mesmas e de reduzir custos. As cidades regularizadas no Distrito Federal possuem sistemas de drenagem tradicionais, os quais não minimizam adequadamente os impactos ambientais negativos provenientes do lançamento de descargas nos cursos d’água com elevada velocidade e com grande quantidade de particulados. Tal fato implica, dentre outros, a erosão de base e o assoreamento de corpos hídricos. Em visita técnica na área em estudo, foi verificada a total inexistência de sistema de drenagem pluvial, com a conseqüente aceleração de processos erosivos, atingindo até o estágio de voçorocas de grandes dimensões. As vias de acesso locais não possuem revestimento, como também qualquer sistema de drenagem pluvial. Assim, a conseqüente impermeabilização do solo pela ocupação urbana e a ausência de sistema de drenagem têm provocado o aceleramento de processos erosivos, chegando a atingir o nível de voçorocas. Foi verificada a presença de lançamentos de drenagem pluvial da cidade de Ceilândia, como também alguns piquetes para o futuro lançamento de drenagem pluvial da ADE Centro Norte. Os lançamentos existentes da NOVACAP da cidade de Ceilândia foram implantados, em sua maioria, na década de 70 do século passado, e não possuem dispositivos de redução da vazão de pico e de velocidade, como bacias de detenção e dissipadores do tipo impacto. Por conseguinte, muitos lançamentos pluviais existentes, provenientes de águas coletadas na cidade de Ceilândia, associados com o escoamento superficial sem controle, oriundo da ocupação urbana irregular (área em estudo), estão acelerando processos erosivos na região das bordas (áreas com topografia mais acentuada). Ilustração 280 – Processo erosivo instalado em terreno declivoso Fonte: PROGEA – 2007 444 A resposta da Carta-Consulta da NOVACAP informou sobre os traçados das galerias de águas pluviais da área de estudo, os quais estão locados no Mapa de Infra-estrutura (PRG-BRD-18). 6.10.5.5 Telefonia Com mais de 10,5 milhões de linhas instaladas e quase seis mil funcionários, a Brasil Telecom S.A. é a principal empresa de telecomunicações das Regiões Sul, Centro-Oeste e dos Estados do Acre, Rondônia e Tocantins. A sua área de atuação corresponde a 33% do território nacional. Cerca de 40 milhões de pessoas - 23% da população brasileira - vivem nessas regiões, que possuem quatro áreas metropolitanas com população acima de um milhão de habitantes. Elas são responsáveis por 25% do PIB (aproximadamente R$ 276 bilhões em 2001). Outra empresa de telefonia fixa é a GVT, operadora de telefonia fixa brasileira que cresce 40% ao ano como provedora completa de serviços integrados de voz local e de longa distância (25), dados, Internet e VoIP. Com 1.800 funcionários e uma margem crescente de lucratividade operacional, próxima a 30%, a companhia investiu aproximadamente R$ 4 bilhões em quatro anos na atuação em todo território nacional. Nas Regiões Sul, Centro-Oeste e Norte do país, atende a pequenas e médias empresas, mercado residencial e grandes corporações. Na Grande São Paulo, Rio de Janeiro e em Belo Horizonte atende com soluções corporativas. O crescimento progressivo da GVT é baseado na inovação em produtos e serviços, qualidade de atendimento e expansão inteligente. A resposta da Carta-Consulta da Brasil Telecom (15/02/2007) informou a interferência da área em tela com unidades existentes de rede telefônica. Dentre as unidades informadas por essa empresa, destacam-se: • • • • • Cabos telefônicos que acompanham a linha de transmissão de energia elétrica da CEB; A Estação Telefônica Ceilândia Sul, nas proximidades do “condomínio” Pôr do Sol; A Estação Telefônica Ceilândia Norte, entre as chácaras 115 e 616 (Cond. Residencial Nova Morada); A Estação Telefônica Ceilândia, na QNP 23 conjunto A; e Canalizações nas quadras QNP. Na mesma resposta, a Brasil Telecom alerta para o cuidado da preservação de tais unidades existentes, principalmente quando das obras de terraplanagem e escavações em geral. Atualmente, uma grande parcela das chácaras é atendida por sistema de telefonia fixa. Entretanto, os “condomínios” Pôr do Sol e Sol Nascente não possuem uma grande abrangência desse sistema. O presente estudo ambiental esclarece que, no cadastro disponibilizado pela Brasil Telecom não constam coordenadas ou amarrações detalhadas e seguras da localização de suas unidades. Assim, é importante a realização de um levantamento topográfico-cadastral na rede telefônica com interferência com a área em tela, a fim de evitar problemas de rompimentos ou mesmo danos para a população que utiliza tal serviço em operação e para a empresa responsável. 445 6.10.5.6 Resíduos Sólidos A Área de Influência Indireta para a análise do sistema de resíduos sólidos abrange todo o Distrito Federal, porque a sua operação consiste em atividades integradas. Para a Área de Influência Direta foi definido o perímetro proposto de ocupação urbana e áreas limítrofes. Em toda aglomeração urbana concebida nos moldes da civilização ocidental, a destinação dos resíduos urbanos (lixo e esgoto) constitui um dos sérios problemas, cujas soluções demandam emprego maciço de capital e de energia, provocando indesejáveis alterações ambientais, tanto pela contaminação direta dos solos e das águas, quanto pelo seu não reaproveitamento no ciclo natural. De acordo com sua origem, há quatro tipos de lixo: residencial, comercial, público e de fontes especiais. Entre os últimos se incluem, por exemplo, o lixo industrial, o hospitalar e o radioativo, que exigem cuidados especiais em seu acondicionamento, manipulação e a disposição final. Juntos, os tipos residencial e comercial constituem o chamado lixo domiciliar que, com o lixo público (resíduos da limpeza de ruas e praças, entulho de obras, etc.) representam a maior parte dos resíduos produzidos nas cidades. Muito se tem discutido sobre as melhores formas de tratar e eliminar o lixo gerado pelo estilo de vida da sociedade contemporânea. Todos concordam, no entanto, que o lixo é o espelho fiel da sociedade: quanto mais rica e consumista maior será a quantidade de lixo gerado. Qualquer tentativa de reduzir a quantidade de lixo ou alterar sua composição pressupõe mudanças no comportamento social. Segundo dados do IBGE (2.000), dos resíduos gerados diariamente no Brasil, apenas 79,9% são coletados, com pior índice no Nordeste do País, onde cerca de 40,03% do total gerado não é coletado, e o melhor no Sudeste, com cerca de 9,9% sem coleta. Do total apenas 28% têm um destino adequado, sendo 23% em aterros (nem todos sanitários), 3% em sistemas de compostagem e 2% reciclados. Pesquisas mostram que a situação de coleta e destinação do lixo não melhorou nesta década, sendo a geração atual estimada em cerca de 125.000 toneladas de resíduos domiciliares e públicos por dia. Considerando os valores operacionais, temos que aproximadamente 25.000 toneladas de resíduos não são coletadas a cada dia e 90.000 toneladas são lançadas em lixões ou em cursos de água, diariamente. Hoje, o país se defronta com dados preocupantes em relação à geração dos resíduos sólidos urbanos. As mudanças nos padrões de consumo, o desenvolvimento industrial e os avanços tecnológicos têm provocado alterações na composição e na quantidade do lixo gerado, notadamente nas cidades maiores. Pode se observar que, enquanto em cidades de pequeno porte a produção diária, em média, é de meio quilo/habitante, nas grandes cidades este valor atinge a 1,2 quilos, com preponderância de lixo inorgânico, em função do grande número de embalagens de produtos, exigindo que a prestação dos serviços seja intensificada, ampliada, diversificada e adotadas soluções integradas para a gestão desses resíduos. O lixo coletado pode ser processado, isto é, passar por algum tipo de beneficiamento a fim de reduzir custos de transporte e inconvenientes sanitários e ambientais. As opções de tratamento do lixo urbano, que podem ocorrer de forma associada, são: compostagem, a reciclagem, a 446 compactação, que reduz o volume inicial dos resíduos em até um terço, a trituração e a incineração. A compostagem consiste no aproveitamento do material orgânico para a fabricação de adubo. A reciclagem exige uma seleção prévia do material, a fim de aproveitar os resíduos dos quais ainda se pode obter algum benefício, como é o caso do vidro, do papel e de alguns metais. Esses dois processos associados constituem a mais importante forma de recuperação do lixo. Boa opção do ponto de vista sanitário, a incineração, no entanto, é condenada por acarretar poluição atmosférica. A solução defendida por muitos especialistas envolve a redução do volume de lixo produzido. Isso exigiria tanto uma mudança nos padrões de produção e consumo, quanto a implantação de programa de coleta seletiva de lixo. Nesse caso, os diversos materiais recicláveis devem ser separados antes da coleta com a colaboração da comunidade. Segundo o IBGE, a composição gravimétrica do lixo no Brasil apresenta os seguintes índices percentuais: • • • • • • Papel, papelão 21,6 %; Plástico 7,4%; Metais 3,8%, Vidro 2,4%; Matéria orgânica 64,7%; Outros 1%. Comparando-se a composição do lixo do DF com a do Brasil, pode-se observar uma porcentagem menor de matéria orgânica. Plástico e metais no DF apresentam menores valores do que a média brasileira. Os países industrializados são os que mais produzem lixo e também os que mais reciclam. O Japão reutiliza 50% de seu lixo sólido e promove, entre outros tipos de reciclagem, o reaproveitamento da água do chuveiro no vaso sanitário. Os Estados Unidos recuperam 11% do lixo que produzem e a Europa Ocidental, 30%. A taxa de produção de lixo per capita dos norte-americanos, de 1,5 quilo por dia, é a mais alta do mundo. Equivale ao dobro da de outros países desenvolvidos. Nova York é a cidade que mais produz lixo, uma média diária de 13 mil toneladas. São Paulo produz 12 mil toneladas. Entre os líderes mundiais da reciclagem de latas de alumínio destacam-se Japão (70%), EUA (64%) e Brasil (61%), conforme dados de 1996 da Associação Brasileira de Alumínio. Resíduos Sólidos no Distrito Federal A coleta, tratamento e a destinação final dos resíduos sólidos no Distrito Federal estão sob a responsabilidade do SLU. De acordo com a Política Ambiental do Distrito Federal, a SEMARH (hoje extinta) deve estabelecer normas e padrões de qualidade ambiental, inclusive fixando padrões de emissão e condições de lançamento e disposição para resíduos, rejeitos e efluentes de qualquer natureza, bem como estabelecer normas relativamente à reciclagem e reutilização de materiais, resíduos, subprodutos e embalagens, em geral resultantes diretamente de atividades de caráter industrial, comercial e de prestação de serviços. 447 Os resíduos coletados no Distrito Federal podem ter os seguintes destinos: • Serviço de Operação da Usina Central de Tratamento de Lixo – SOUCTL, na cidade de Ceilândia, onde o lixo, após triagem para separação dos materiais recicláveis, passa por um processo de compostagem, transformando-se em composto utilizado como fertilizante de solo. A fabricação de fertilizantes ou adubos, a partir de resíduos sólidos consiste na degradação da matéria orgânica por microorganismos aeróbicos. O húmus resultante contém de 1% a 3% de nitrogênio, fósforo e potássio. • Serviço de Operação da Usina de Tratamento de Lixo – SOUTL, localizado na Asa Sul, com o mesmo tratamento da anterior. • Serviço de Operação da Usina de Incineração de Lixo Especial – SOUILE, situada na Ceilândia, destina-se à incineração dos lixos especiais, como hospitalar, animais mortos, psicotrópicos, remédios vencidos, etc. Os incineradores convencionais são fornos, nos quais se queimam os resíduos. Além de calor, a incineração gera dióxido de carbono, óxidos de enxofre e nitrogênio, dioxinas e outros contaminantes gasosos, cinzas voláteis e resíduos que não se queimam. Caso os dejetos não sejam queimados de forma correta, produzem fumaça tóxica ou não são eliminados completamente e continuam a contaminar o meio ambiente. • Unidade Central de Coleta Seletiva – UCCS, nas proximidades da SOUTL, tendo a finalidade de receber o lixo seco coletado nas Asas Sul e Norte do Plano Piloto. • Unidade Experimental de Compostagem e Reciclagem de Brazlândia – UECRBR, situada em Brazlândia, trabalha na produção de compostos orgânicos e materiais recicláveis, em parceria com a Associação de Catadores de Lixo de Brazlândia. • Estações de Transferência de Lixo - são locais onde os caminhões coletores transferem sua carga para veículos com carrocerias de maior capacidade que seguem até o destino final. Têm como objetivo reduzir o tempo gasto de transporte e conseqüentemente os custos com o deslocamento do caminhão coletor, desde o ponto final do roteiro até o local de disposição final do lixo. Existem quatro Estações de Transferência de Lixo no Distrito Federal, a saber: Sobradinho, Gama, Asa Norte e Asa Sul. Esta solução foi empregada no Distrito Federal, considerando as longas distâncias entre os pontos de coleta e as usinas de tratamento. O lixo é transferido para carretas especialmente projetadas e construídas com capacidade para 70 m³ de lixo solto, o que possibilita a diminuição dos custos operacionais. • Aterro Controlado do Jóquei – local de disposição de 1.500 t/dia de lixo, situado às margens da via Estrutural, entre o SCIA e o córrego Cabeceira do Valo. Resíduos Sólidos nos “Condomínios” Pôr do Sol e Sol Nascente O SLU foi consultado sobre a possibilidade de atendimento ao novo Setor, com relação à coleta de lixo, por meio da CARTA PRG-013/2007, de 19 de março de 2007, mas não se pronunciou a respeito até o fechamento do Relatório. 448 O SLU já dispõe de serviços de coleta de resíduos sólidos nas áreas próximas do empreendimento em estudo, como a cidade de Ceilândia. De acordo com informações obtidas junto ao SLU, o setor urbano da Ceilândia é atendido por serviço de coleta de resíduos e de limpeza urbana. As atividades de limpeza urbana incluem a coleta, varrição, capina manual, rastelagem, pintura de meio-fio e catação de papel. Segundo dados do SLU, na localidade de Ceilândia, foi coletado um total de 130.395 toneladas de resíduos sólidos residenciais/comerciais no ano e um total de 49.904 km da atividade de varrição de vias, segundo dados do ano de 2004. Os resíduos coletados são levados para a Usina Central de Tratamento de Lixo da Ceilândia – UCTL e uma parcela segue para o destino final no “Aterro Controlado” da Estrutural. Atualmente, não existe uma gestão de resíduos sólidos na área em estudo, ou seja, foram observados os seguintes aspectos: • • • • • • Ausência de coleta regular de resíduos sólidos domiciliares; Ausência de locais determinados para o lançamento de resíduos de obras (refugo de obra); Destinação inadequada de resíduos sólidos domiciliares, com a presença de “lixos” em processos erosivos, terrenos vazios, etc.; Presença de grande concentração de resíduos a céu aberto, com a presença de vetores de doenças (insetos, roedores, etc.); Presença de catadores de lixo sem organização; e Depósitos clandestinos aterrados e com residências construídas sobre esses aterros. Ilustração 281 - Lixo depositado em contêiner a espera de coleta Fonte: PROGEA – 2007 449 Ilustração 282 - Lixo nas ruas do “Condomínio” Pôr do Sol Fonte: PROGEA – 2007 A marcante presença de carroceiros e catadores de lixo está diretamente associada ao processo de formação dos “condomínios” e pode ser notada em várias partes do Pôr do Sol e Sol Nascente (Ilustração 283). Ilustração 283 – Catadores de lixo Fonte: PROGEA – 2007 • Tipologia do Lixo Caso os “condomínios” sejam ocupados ao máximo, prevê-se uma população de aproximadamente 84.800 pessoas. Partindo dessa população de saturação para os parcelamentos, considerando-se uma produção média de lixo “per capita” de 0,65 kg/pessoa/dia, ter-se-á uma produção da ordem de 55 t/dia. 450 Pode-se, para efeito comparativo, estimar a tipologia do lixo a ser produzido como sendo semelhante ao lixo do Distrito Federal, que já possui coleta seletiva incipiente e alguma reciclagem de lixo urbano, podendo-se adotar, portanto, os dados da Tabela 127 para a avaliação da composição deste parâmetro para os “condomínios”. Tabela 127 - Composição Gravimétrica do Lixo Coletado no DF (%) Plástico fino Plástico duro Papel Papelão Trapos Vidros Latas Alumínio Sucata Matéria Orgânica Borracha Madeira Cerâmica Rejeito 7,91 5,89 17,82 9,30 0,95 1,45 1 1,75 1,45 46,11 1,17 1,80 1 2,40 Fonte: ASPLA/BELACAP - 2004 O presente estudo ambiental enfatiza que, quando da finalização dos serviços de infra-estrutura no local em estudo (pavimentação e sistema de drenagem, principalmente), tem-se a necessidade da previsão de atividades de limpeza urbana na área de influência direta, a fim de reduzir o aporte resíduos sólidos, bem como de particulados e sedimentos, para o sistema de drenagem pluvial e, conseqüentemente, para o corpo hídrico receptor (poluição hídrica). 6.10.5.7 Sistema Viário e de Circulação Caracterização atual do sistema viário e de circulação da área de estudo As ocupações irregulares dos “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol estão situadas em área bastante privilegiada no que se refere a acessibilidade e ao transporte no Distrito Federal. Na área de influência do estudo, destacam-se as seguintes rodovias BR-070, DF-180 e VC-311. A BR-070, Rodovia Federal situada ao norte da Área de Estudo, se conecta diretamente a DF095, ou Via Estrutural, formando um dos principais corredores de transporte do DF. A Via Estrutural tem características de via expressa e funciona com um esquema operacional que consiste no fechamento de uma das pistas para liberar o tráfego de sentido oposto no período de maior carregamento, de forma que: • • No período de 6:45 às 9:00, as duas pistas operam no sentido Taguatinga - Plano Piloto; e No período de 17:45 às 20:45, as duas pistas operam no sentido inverso, Plano Piloto – Taguatinga: A DF-180 é uma Rodovia Distrital que se desenvolve no sentido norte-sul na porção oeste do Distrito Federal. Ao norte esta rodovia coincide com a BR-080, no trecho intermediário ela se conecta as BR-070 e BR-060, e termina ao sul no entroncamento com a DF-290. Na área de 451 influência do Estudo esta rodovia serve de acesso às áreas rurais das Regiões Administrativas de Ceilândia e Samambaia. A VC-311 é uma rodovia vicinal do Sistema Rodoviário do Distrito Federal. É a rodovia de maior influência na Área de Estudo, uma vez que passa por dentro das ocupações do Sol Nascente tendo seu início junto ao sistema viário da cidade de Ceilândia, na altura da Quadra QNP 11 e finaliza no entroncamento da DF-180. Esta vicinal foi construída para dar acessibilidade aos lotes rurais de Ceilândia e Samambaia e está implantada sem pavimentação. Além das rodovias, destacam-se as principais vias urbanas de acessibilidade à Área de Estudo, como sendo a Av. Hélio Prates, A Av. Elmo Serejo, a Via de Ligação Samambaia – Taguatinga , a Via NM 3 e as vias transversais de Ceilândia NM 3, NM 1 e N3. A Av Hélio Prates se configura como via arterial com características urbanas interligando Ceilândia e Taguatinga. No trecho entre os limites da cidade de Ceilândia até a Av. Comercial de Taguatinga esta via possui duas pistas com 3 faixas de tráfego por sentido, separadas por um canteiro central com largura de 18 metros. Ao longo do canteiro central existem diversos retornos e as interseções com as principais vias perpendiculares (Via N2, Via MN2, Via M2, Via JL2) são semaforizadas, com 2 (duas) fases de forma que não são permitidos os movimentos de giro à esquerda, supridos pelos retornos. O centro de Ceilândia , na altura das Vias M1 e M2, é ocupado pela Feira de Ceilândia, que atualmente é invadido pelas barracas que ocupam todo o canteiros central, as calçadas e pontos de parada de ônibus. De acordo com o Programa de Transporte Urbano do Distrito Federal - PTU/DF, a Av. Hélio Prates passará por diversas intervenções viárias para se consolidar como um dos principais Corredores do Sistema de Transporte Coletivo. Serão implantadas vias exclusivas para ônibus junto ao canteiro central da avenida, com baias e pontos de parada de ônibus que passarão a operar com porta esquerda. Este corredor terá início no futuro Terminal de Integração a ser construído junto à Estação 25 do Metrô/DF e depois irá se conectar às Av. Comercial e Samdu de Taguatinga. Cabe ressaltar que este corredor está a apenas 1.000 metros de distância do “condomínio” Sol Nascente . A Av. Elmo Serejo, também conhecida como Av. do Estádio, faz parte de um dos principais eixos de transporte do DF. Este eixo envolve a Av. Elmo Serejo, a Av. Central de Taguatinga, a EPTG (DF-085) e a EPIG já no Plano Piloto. Esta via proporciona acessibilidade da porção sul de Ceilândia e nela se encontra implantado o Terminal Rodoviário de Taguatinga e o traçado do Metrô/DF. O Terminal Rodoviário de Taguatinga além de servir a algumas linhas interestaduais do DF também é ponto final de diversas linhas do entorno. Está previsto para este terminal a integração com a Estação 22 do Metrô/DF. Neste local estava prevista a implantação do Centro Metropolitano de Taguatinga, e atualmente está sendo estudada a possibilidade da implantação de um novo Centro Administrativo para o Distrito Federal. De acordo com o PTU/DF, a Av. Elmo Serejo também passará por algumas intervenções viárias, mais direcionada à sinalização viária no sentido de priorizar o transporte coletivo por ônibus e resolver alguns gargalos como a interseção com a Via de Ligação Samambaia – Taguatinga. Ressalta-se que esta via serve de acesso direto ao “condomínio” Pôr do Sol . A Via de Ligação Samambaia – Taguatinga , segundo os Planos Diretores Locais, tem como função a integração entre os núcleos de Ceilândia, Samambaia e Taguatinga. Apesar de ser 452 uma via mais recente, apresenta elevados volumes de tráfego e é fundamental para a integração da região sudoeste. Paralela a esta via foi projetada a Via de Ligação Samambaia – Ceilândia interligando a via N 3 de Ceilândia à 2ª Av. Leste de Samambaia. Esta via ainda não foi implantada devido ao fato de ter sido descoberto sitio arqueológico na área de influência de seu traçado. A implantação desta nova via será de grande importância para integração entre os núcleos urbanos de Ceilândia e Samambaia e terá como benefício imediato a redução do tráfego na via de Ligação Samambaia – Taguatinga. Esta nova via irá aumentar a acessibilidade das ocupações das Bordas de Ceilândia, sobretudo o “condomínio” Pôr do Sol. A Via NM 3 é uma das principais via de Ceilândia e sobretudo importante para as ocupações do “condomínio” Sol Nascente. O principal acesso ao Trecho 1 do Sol Nascente se conecta diretamente a esta via, gerando alta acessibilidade à área urbanizada da cidade. Outro sistema de transporte que deve ser destacado na Área de Estudo é o Metrô/DF, cujo traçado em Ceilândia passa junto à via N1 com trechos em nível e outros subterrâneos, e segue pela Av. Elmo Serejo. Para as ocupações estudadas, as estações mais próximas são 22 (Centro Metropolitano), 23 (Ceilândia Sul), 24 (Guariroba), 25 (Ceilândia Centro) , 26 ( Ceilândia Norte) e 27 (Ceilândia). As obras do metrô ainda estão em andamento e o sistema atualmente está operando até a Estação 23 (Ceilândia). Quando as obras do Metrô/DF forem planamente concluídas e todas as estações de Ceilândia estiverem em operação, haverá um grande impacto na acessibilidade das populações residentes na cidade e nos “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol. A Ilustração 284 apresenta o sistema viário e de transporte de maior influência para as ocupações estudadas, bem como indica a localização dos terminais de ônibus e garagens existentes. 453 Ilustração 284 - Sistema Viária de Influência da Área de Estudo Fonte: PROGEA - 2007 Na área que corresponde à ocupação irregular, observa-se que o sistema viário não dispõe de hieraquização viária. Este fato é o resultado do surgimento de loteamentos concebidos isoladamente, sem integração com as ocupações vizinhas. Este modelo gerou uma malha viária irregular e com diversas vias sem continuidade. A maior parte das vias apresentam larguras que variam entre 6 e 8 metros, independentemente da função que desempenham. No Sol Nascente salienta-se a existência de 3 vias com larguras maiores, que são: o prolongamento da Via NM 3, junto à Quadra QNR; a Vicinal VC-311, cujas faixa de domínio foram relativamente preservada; e a via de prolongamento da Av. Hélio Prates. • Faixas de Domínio das Rodovias A rodovia de maior influência na Área de Estudo, e cuja faixa de domínio interfere diretamente nas ocupações é a VC-311. De acordo com o Decreto Nº 19.577, de 8 de setembro de 1998, que fixa as faixas de domínio do Sistema Rodoviário do Distrito Federal – SRDF, esta rodovia vicinal está classificada no Grupo IV, cuja faixa de domínio é de 40 metros de largura divididos simetricamente em relação ao eixo da rodovia. 454 Avaliação operacional do sistema viário • Avaliação Operacional do Sistema Viário Implantado A partir dos dados coletados pelo Programa de Transporte Urbano do Distrito Federal PTU/DF, pode-se verificar os volumes de tráfego nas principais vias da área de influência do estudo. Estes dados são resultados de pesquisas de campo realizadas em outubro de 2004, em dia útil típico, e estão apresentadas nas Tabelas a seguir. Tabela 128 - Volumes de Tráfego – Pico da Manhã (7:30 às 8:30) Rodovia/Via DF-095 BR-070 Av. Hélio Prates Sam/Taguatinaga Av. Elmo Serejo Sentido Auto/Util Caminhão Moto Van Micro-Ônibus Ônibus Articulado TOTAL Taguatinga - Plano Piloto 9.499 186 385 36 6 128 0 10.240 Plano Piloto - Taguatinga 0 0 0 0 0 0 0 0 Águas Lindas - DF 581 32 96 2 0 118 0 829 DF - Águas Lindas 110 23 14 1 0 35 0 183 Ceilândia - Bordas 801 32 43 123 2 124 1 1.126 Bordas - Ceilândia 1.719 58 166 134 5 132 1 2.215 Taguatinga - Samambaia 1.472 127 168 15 0 51 0 1.833 Samambaia - Taguatinga 1.828 103 245 19 4 65 0 2.264 Taguatinga - Ceilândia 1.910 101 161 127 0 84 1 2.384 Ceilândia - Taguatinga 2.532 122 336 87 4 142 0 3.223 Tabela 129 - Volumes de Tráfego – Pico da Tarde (17:30 às 18:30) Rodovia/Via DF-095 BR-070 Av. Hélio Prates Sam/Taguatinaga Av. Elmo Serejo Sentido Auto/Util Caminhão Moto Van Micro-Ônibus Taguatinga - Plano Piloto 0 0 0 0 0 Plano Piloto - Taguatinga 5.479 196 379 47 2 250 23 27 0 1 Águas Lindas - DF Ônibus Articulado TOTAL 0 0 119 0 6.222 45 0 346 DF - Águas Lindas 465 42 67 0 0 83 0 657 Ceilândia - Bordas 1.110 77 182 223 2 210 1 1.805 Bordas - Ceilândia 1.273 27 82 133 3 89 0 1.607 Taguatinga - Samambaia 1.432 108 230 23 0 53 0 1.846 Samambaia - Taguatinga 1.611 129 190 32 4 52 0 2.018 Taguatinga - Ceilândia 2.450 86 340 92 0 75 0 3.043 Ceilândia - Taguatinga 2.346 116 195 108 5 144 0 2.914 A partir destes dados, estima-se o Volume Médio Diário de Veículos em cada via ou rodovia, tendo como referência que o volume da hora de pico no sentido predominante corresponde a 12% do total do tráfego diário. A Tabela a seguir apresenta a estimativa diária para cada sentido de tráfego e a estimativa geral para os dois sentidos de tráfego. 455 Tabela 130 - Volumes de Tráfego Diário Rodovia/Via DF-095 BR-070 Av. Hélio Prates Sam/Taguatinaga Av. Elmo Serejo Sentido Total Total Diário Total Diário Hora Pico Sentido 2 Sentidos Taguatinga - Plano Piloto 10.240 85.333 Plano Piloto - Taguatinga 6.222 51.850 Águas Lindas - DF 829 6.908 DF - Águas Lindas 657 5.475 Ceilândia - Bordas 1.805 15.042 Bordas - Ceilândia 2.215 18.458 Taguatinga - Samambaia 1.846 15.383 Samambaia - Taguatinga 2.264 18.867 Taguatinga - Ceilândia 3.043 25.358 Ceilândia - Taguatinga 3.223 26.858 137.183 12.383 33.500 34.250 52.217 Neste contexto, a rodovia mais carregada corresponde à DF-095 ou Via Estrutural, que é responsável por dar suporte à grande parte dos deslocamentos entre Plano Piloto e Taguatinga. A BR-070, no local onde foram realizadas as contagens, próximo à divisa com Goiás, os volumes de tráfego representam os deslocamentos de Águas Lindas no entorno do Distrito Federal. Com relação às principais vias urbanas, observa-se que existe um equilíbrio dos volumes de tráfego em ambos os sentidos pesquisados que pode ser observado nos primeiros quadros. A via urbana de maior fluxo é a Av. Elmo Serejo, que faz parte do corredor de transportes da EPTG. A Av. Hélio Prates e a via de Ligação Samambaia – Taguatinga apresentam patamares semelhantes de tráfego. Os dados apresentados no presente Estudo Ambiental correspondem às pesquisas de campo realizadas em outubro/2004 para dar subsídio ao Programa de Transporte Urbano do Distrito Federal – PTU/DF. Na época, as vans operavam com a anuência do DFTRANS sob o regime de concessão do STPA ( Sistema de Transporte Público Alternativo) e do STPAC (Sistema de Transporte Público Alternativo de Condomínios). A Portaria nº 37, de 20/04/2007, publicada em 23/04/2007, revogou todas as permissões outorgadas para o STPAC, alegando irrregularidades jurídicas e o fato de que o Transporte Público Alternativo de Condomínios não estava atendendo às suas funções de alimentação e distribuição dentro do sistema. Nesta data foram cassadas as licenças de cerca de 838 vans, incluíndo aquelas que atendiam os “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol, e outras que circulavam no sistema viário da área de influência do estudo. Desta forma, ao serem analizados os dados citados, deve-se considerar uma diminuição de 70% no volume de tráfego correspondente às vans. 456 • Avaliação da Demanda de Transportes Gerada pela Ocupação A ocupação urbana nas Bordas de Ceilândia apresenta, segundo pesquisa sócio-econômica realizada pela PROGEA junto às associações de moradores, uma população total de 75.000 habitantes, sendo 65.000 hab. no “condomínio” Sol Nascente e 10.000 no “condomínio” Pôr do Sol. As necessidades de deslocamento diários desta população interferem diretamente no sistema viário do entorno e nos sistemas de transporte e circulação das vias e acessos à região. Para estimativa deste tráfego gerado apresenta-se como base a Pesquisa Domiciliar de Transportes, realizada pela CODEPLAN no ano de 2000. Apesar de que, naquela época, estas ocupações ainda estavam em formação, a pesquisa retratou os hábitos de deslocamento da população de Ceilândia apresentando padrões bem semelhantes aos da população das novas ocupações. Segundo esta pesquisa, o índice de mobilidade da população do Distrito Federal por todos os modos (motorizados e não motorizados) correspondia a 1,41 viagem/ dia/habitante, e para Região Administrativa de Ceilândia, esta mobilidade correspondia a 1,25 viagem/dia/habitante. A mesma pesquisa demonstrou que o total de viagens motorizadas na RA IX – Ceilândia apresentavam as seguintes repartições modais: Tabela 131 – Participação de Viagens Motorizadas e não Motorizadas MODO MOTORIZADOS Automóvel/Utilitário Ônibus / Transporte Escolar e Fretado Lotação Outros (Bicicleta e Moto) NÃO MOTORIZADO TOTAL • PARTICIPAÇÃO 62,64 16,64% 40,75% 3,35% 1,90% 37,36 100,0% “Condomínio” Sol Nascente Estes parâmetros adotados para as estimativas de deslocamentos da população do “condomínio” Sol Nascente são apresentados na tabela a seguir. Tabela 132 – “Condomínio” Sol Nascente – Estimativas de Viagens/dia População “Sol Nascente” 75.000 Viagens Geradas (Viag/dia/hab.) 93.750 Viagens Motorizadas (Viag/dia/hab.) 58.725 Viagens Não Motorizadas (Viag/dia/hab.) 35.025 Os percentuais dos “modos motorizados” permitem estimar as viagens por modo da população do “condomínio” Sol Nascente, conforme apresentado a seguir. 457 Tabela 133 - “Condomínio” Sol Nascente – Participação de Viagens Motorizadas por Modo MODO Automóvel/Utilitário Ônibus / Transporte Escolar e Fretado Lotação Outros (Bicicleta e Moto) Total PARTICIPAÇÃO 26,56% 65,05% 5,35% 3,04% 100,0% Nº Viag/Dia/Hab 15.598 38.200 3.142 1.785 58.725 Considerando-se a capacidade média de transporte por ônibus correspondente a 80 passageiros / veículo, de Van (Lotação) de 14 passageiros / veículo e a taxa média de ocupação por automóvel no Distrito Federal de 1,6 passageiros / veículo, estima-se na tabela a seguir, o tráfego gerado diariamente pela população do “condomínio” Sol Nascente. Tabela 134 - “Condomínio” Sol Nascente – Estimativa de Tráfego / Dia Automóvel / Dia 9.748 • Ônibus / Dia 478 Lotação/ Dia 224 “Condomínio” Pôr do Sol Os parâmetros adotados para as estimativas de deslocamentos da população do “condomínio” Pôr do Sol”, são apresentados na tabela a seguir. Tabela 135 - “Condomínio” Pôr do Sol – Estimativas de Viagens/dia População “Sol Nascente” 9.800 Viagens Geradas (Viag/dia/hab.) 12.250 Viagens Motorizadas (Viag/dia/hab.) 7.674 Viagens Não Motorizadas (Viag/dia/hab.) 4.676 Os percentuais dos “modos motorizados” permitem estimar as viagens por modo da população do “condomínio” Pôr do Sol, conforme apresentado a seguir. Tabela 136 - “Condomínio” Pôr do Sol – Participação de Viagens Motorizadas por Modo MODO Automóvel/Utilitário Ônibus / Transporte Escolar e Fretado Lotação Outros (Bicicleta e Moto) Total PARTICIPAÇÃO 26,56% 65,05% 5,35% 3,04% 100,0% Nº Viag/Dia/Hab 2.038 4.992 410 234 7.674 Considerando-se a capacidade média de transporte por ônibus correspondente a 80 passageiros / veículo, de Van (Lotação) de 14 passageiros / veículo e a taxa média de ocupação por automóvel no Distrito Federal de 1,6 passageiros / veículo, estima-se na tabela a seguir, o tráfego gerado diariamente pela população do “condomínio” Pôr do Sol. 458 Tabela 137 - “Condomínio” Pôr do Sol – Estimativa de Tráfego / Dia Automóvel / Dia 1.274 Ônibus / Dia 62 Lotação/ Dia 30 6.10.6 Aspectos Urbanísticos 6.10.6.1 Caracterização da Ocupação Urbana Atual A área de estudo, denominada Bordas de Ceilândia, está situada a oeste da cidade de Ceilândia, dentro dos limites da Região Administrativa IX – Ceilândia. Segundo o PDOT/97, trata-se de área inserida parte em Zona Urbana de Dinamização e parte em Zona Rural de Uso Diversificado, sobreposta por Área Especial de Proteção com Restrição Físico Ambiental, cujas características ou proximidade com Zonas de Conservação Ambiental justificam cuidados especiais quanto ao seu uso e ocupação. A região compreende os vales do rio Melchior e de seu afluentes que se formam a partir da área urbanizada da cidade de Ceilândia. Entre os vales dos córregos afluentes formam-se platôs de topografia mais plana que até a década de 90 eram ocupados predominantemente por chácaras e pequenas fazendas com produção agro-pecuária. Por volta de 1998, a ocupação urbana nas Bordas de Ceilândia teve seu início marcado pelo surgimento de diversos focos de assentamentos irregulares originados de famílias de carroceiros, que passaram a habitar em áreas próximas aos currais comunitários. Com o passar do tempo, a área que era ocupada predominantemente por lotes de uso rural (chácaras e fazendas) sofreu um processo de parcelamento de lotes de carácter habitacional. Esse processo ocorreu de forma segmentada, onde cada chácara parcelada deu origem a pequenos “condomínios” estruturados de forma independente. Atualmente o que se observa é que a área está ocupada parte por “condomínios” irregulares e parte por chácaras que ainda resistem à forte pressão por desmembramento em lotes habitacionais. Os dados dos processos em trâmite nos órgãos públicos relacionados às principais ocupações na área serão apresentados assim que as respostas às cartas-consultas enviadas para Defesa Civil, Novacap, SEDUMA, IBRAM e outros, forem recebidas. A área objeto do presente estudo está delimitada: • • • • ao norte pelas Quadras QNQ e QNR de Ceilândia; a leste pela Quadra QNP, que vai do Setor P Norte contornando o Setor P Sul de Ceilândia; ao sul tendo como referência o ribeirão Taguatinga; e a oeste pela rio Melchior. Esta área apresenta cerca de 3.000 hectares e seus limites são apresentados na Ilustração 285, a seguir. 459 Ilustração 285 - Localização da ocupação atual – Bordas de Ceilândia Fonte: PROGEA – 2007 A avaliação da ocupação urbana atual da área de estudo foi feita com base em imagem de satélite (março de 2007) disposta sobre as Bases do Sicad, escala 1: 10.000. Dessa forma, foram cadastradas as novas vias formadas pelo surgimento dos “condomínios”, com o objetivo de subsidiar a avaliação do processo de ocupação urbana da área. Na Área de Estudo existem dois “condomínios” formados conhecidos como Sol Nascente e Pôr do Sol. A Lei Complementar 330/2000 criou oficialmente o “Núcleo Habitacional Parque Sol Nascente”. Confrontando-se a poligonal definida pela Lei Complementar nº. 330/2000 com a ocupação atual, por meio de análise da cena obtida por sensores de alta resolução do satélite Quickbird (março de 2007), conclui-se que as ocupações irregulares do “condomínio” Sol Nascente avançaram 262 hectares sobre os limites definidos pela poligonal regulamentada. Essas ocupações encontram-se destacadas em cor azul no croqui a seguir. O Sol Nascente abrange toda a área compreendida ente as Quadras QNQ e QNR ao norte e os limites das Quadras QNP do Setor P-Sul de Ceilândia, onde as ocupações urbanas se concentram nos platôs formados pelos vales dos córregos afluentes do rio Melchior. 460 O Pôr do Sol acontece a partir do limite sul do Setor P-Sul de Ceilândia, em faixa de terra entre a área urbanizada de Ceilândia e o rio Melchior. A partir da imagem de satélite foi possível deli mitar as áreas ocupadas por parcelamentos irregulares, onde se esti ma que a área do Sol Nascente corresponde a cerca de 845 ha e a área do Pôr do Sol a cerca de 120 ha, conforme apresentado na Ilustração 286. Ilustração 286 - Levantamento das áreas ocupadas Fonte: PROGEA 2007 Sol Nascente O “condomínio”ou Setor Habitacional Sol Nascente apresenta áreas de características distintas que podem ser assim identificadas, conforme ilustração acima: • • • Trecho 1, situada no platô formado pelos córregos do Pasto e Lagoinha ao sul e o córrego do Embira Branco a oeste; Trecho 2, situada no platô entre o córrego do Pasto e o córrego do Meio que corresponde ao divisor de águas onde se desenvolve a VC-311; e Trecho 3, em área situada entre o córrego do Meio e o Setor P-Sul de Ceilândia. 462 O Trecho 1 corresponde à área ocupada de maior densidade. Se desenvolve a partir da prolongamento da Via NM 3 junto às Quadras QNQ e QNR de Ceilândia. A via principal de acesso ao parcelamento tem uma largura de aproxi madamente 20 metros e se conecta diretamente com a via NM 3. A ocupação lindeira nesta via já é caracterizada pelo uso misto de comércio e residência, onde existem bares mercearias, pequenas oficinas e outras atividades comerciais de pequeno porte. Nesta via existe um ponto para o Transporte Alternativo de Condomínios operado por vans que reforça o caráter de centralidade do assentamento. Ilustração 287 - Via Principal do Sol Nascente – Trecho 1 – Ponto de Van Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 288 - Via Principal do Sol Nascente – Trecho 1 Fonte: PROGEA - 2007 A partir da via principal, surgem as quadras residenciais formando um traçado viário em forma de “espinha de peixe”, cuja proporção e lógica têm como origem as chácaras lindeiras a esta via, que deram origem aos parcelamentos irregulares. 463 Ilustração 289 - Via Perpendicular a Via Principal do Sol Nascente – Trecho 1 Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 290 - Sol Nascente – Trecho 1 – Referência de Chácara reparcelada Fonte: PROGEA - 2007 Esta ocupação se caracteriza predominantemente por habitações construídas em alvenaria, com alta incidência de muros e portões de aço. Dentro de um mes mo lote, observa-se, por vezes, a existência de mais de uma unidade familiar. Nenhuma via encontra-se asfaltada e já estão sendo realizadas obras de terraplanagem na via principal do trecho. O endereçamento é confuso, não havendo placas com nome de ruas. De vez em quando, encontram-se placas com nomes de condomínios e referências da chácara de origem, como o caso apresentado na Ilustração anterior. A ocupação deste trecho se encontra em acelerado processo de adensamento, com diversas obras em andamento. As vias internas passam a assumir larguras variáveis e sem conexão com outras vias, formando diversas ruas sem saída e sem áreas para manobra “cul de sac”, conforme apresentado na Ilustração a seguir. 464 Ilustração 291 - Sol Nascente – Trecho 1 – Casas em construção Fonte: PROGEA - 2007 O Trecho 2 corresponde à área situada no platô formado pelos córregos do Pasto e do Meio. É uma ocupação menos densa, se comparada ao Trecho 1, onde ainda coexistem chácaras com alguma produção pecuária convivendo com os “condomínios” residenciais em formação. O acesso principal ocorre pela estrada vicinal VC-311 que tem início no sistema viário da Quadra QNP 1 e termina no entroncamento com a DF-180. A ocupação lindeira da estrada é caracterizada pela existência de condomínios isolados, ainda em processo de formação e lotes de uso rural. Apesar dos condomínios existentes nesta área ainda não estarem plenamente ocupados, verifica-se a formação de outros parcelamentos em lotes rurais. Nas margens da rodovia já ocorrem, em alguns locais, o uso misto de residência e comércio de pequeno porte. Na altura do km 1,5 está instalada uma escola pública. Ilustração 292 - Sol Nascente – Trecho 2 – VC-311 Fonte: PROGEA - 2007 465 Ilustração 293 - Sol Nascente – Trecho 2 – VC-311 – Placa do DER/DF Fonte: PROGEA – 2007 Ilustração 294 - Sol Nascente – Trecho 2 – VC-311 – Uso comercial Fonte: PROGEA – 2007 466 Ilustração 295 - Sol Nascente – Trecho 2 – VC-311 – Uso Residencial e Rural Fonte: PROGEA - 2007 As residências que estão sendo construídas são predominantemente em alvenaria com telhas de amianto e esquadrias de aço. Algus lotes estão sendo cercados por muro em alvenaria, mas a tendência no local é de formação de “condomínios” abertos. Ilustração 296 - Sol Nascente – Trecho 2 – VC-311 – “Condomínios” em formação Fonte: PROGEA - 2007 467 Ilustração 297 - Sol Nascente – Trecho 2 – VC-311 – “Condomínios” em formação Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 298 - Sol Nascente – Trecho 2 – VC-311 – Escola Pública Fonte: PROGEA – 2007 468 Ilustração 299 - Sol Nascente – Trecho 2 – VC-311 – “Condomínio” em formação Fonte: PROGEA - 2007 O Trecho 3 corresponde à área situada entre o córrego do Meio e o Setor P-Sul de Ceilândia. A via principal de acesso à área segue no prolongamento da Av. Hélio Prates após a Feira do Produtor e Atacadista da Ceilândia. Nesta área existem várias situações em relação à forma de ocupação. No limite norte do trecho, as ocupações encontram-se em área de risco devido às erosões do córrego Grotão, causadas, em parte, por problemas de drenagem no seu lançamento final. A parte intermediária apresenta uma densidade maior de ocupação por “condomínio”, cuja característica é bem marcante. São condomínios cercados por muro, com único acesso vedado por portão. Internamente formam-se ruas internas que dão acesso aos lotes, que por sua vez, também são vedados por grandes muros em alvenaria. Na parte mais a oeste, no final do platô que se forma entre o córrego do Meio e o córrego Grotão, a ocupação urbana é menos densa em virtude dos condomínios que ainda estão se formando e que estão situados entre lotes rurais. Ilustração 300 - Sol Nascente – Trecho 3 – Acesso a Feira do Produtor e Atacadista de Ceilândia Fonte: PROGEA - 2007 469 Ilustração 301 - Sol Nascente – Trecho 3 – Acesso Principal prolongamento da Av. Hélio Prates Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 302 - Sol Nascente – Trecho 3 – “Condomínios” em formação Fonte: PROGEA – 2007 470 Ilustração 303 - Sol Nascente – Trecho 3 – “Condomínios” Fechados Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 304 - Sol Nascente – Trecho 3 – Lotes rurais remanescentes Fonte: PROGEA - 2007 Pôr do Sol O “condomínio” ou Setor Habitacional Pôr do Sol se desenvolve a partir do limite sul do Setor P Sul de Ceilândia. Apesar de se desenvolver em área menor que o “condomínio” Sol Nascente, encontra-se em estágio mais avançado de consolidação apresentando maior densidade. Na área ocupada existem ainda quatro lotes de uso rural que ainda não foram parcelados, e o restante está todo ocupado por loteamento urbano. Esta ocupação tem como acesso principal o prolongamento da Av. Elmo Serejo, a partir da qual se desenvolvem vias transversais de acesso à ocupação. Nestas vias transversais, já ocorre o uso misto de residência e comércio de pequeno porte. A ocupação se caracteriza pela predominância de casas construídas em alvenaria, com grandes muros cercando o lote, gerando espaços públicos de alta vulnerabilidade para segurança pública, ou seja, sem iluminação, sem pavimentação e calçadas, além de mato crescendo junto às vias que não estão pavimentadas. 471 O endereçamento no local também é praticamente inexistente, não havendo referências de vias ou quadras. Ilustração 305 - Via Transversal à Av. Elmo Serejo – Pequeno Comércio Fonte: PROGEA - 2007 Ilustração 306 - Via Interna, lotes com muros Fonte: PROGEA - 2007 472 Ilustração 307 - Via Interna, residências em construção Fonte: PROGEA – 2007 Ilustração 308 - Via Interna, lotes com muros Fonte: PROGEA - 2007 6.10.6.2 Diretrizes de uso e ocupação da área As Diretrizes de Uso e Ocupação da área de estudo deverão considerar a legislação urbana pertinente para o local, os índices e indicadores urbanísticos recomendáveis e os anseios da população local. Legislação Urbanística Apresentam-se neste item os aspectos legais relativos à área de estudo. Trata-se das disposições que deverão nortear as propostas de parcelamento para as Bordas de Ceilândia. • Lei Federal nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979 O projeto de urbanização deverá seguir as disposições deste diploma legal, chamando-se atenção para o seguinte: 473 As áreas destinadas ao sistema de circulação, a implantação de equipamentos urbanos e comunitários, bem como os espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupação prevista para a gleba; Segundo o inciso II do art. 4º, os lotes terão área míni ma de 125 m2 (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando a legislação estadual ou municipal determinar maiores exigências, ou quando o loteamento se destinar à urbanização específica ou edificações de conjuntos habitacionais de interesse social, previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes; Segundo o inciso III do art. 4º, ao longo das águas correntes e das faixas de domínio das rodovias, ferrovias e dutos, será obrigatória a reserva de faixa “non aedificandi” de 15 metros; As vias do loteamento deverão articular-se com o sistema viário adjacente oficial, — vias existentes ou projetadas — e harmonizar-se com a topografia local; A percentagem de áreas públicas (sistema viário, equipamentos sociais, públicos e comunitários), no caso de loteamentos urbano-residenciais, não poderá ser inferior a 35% da gleba (Alterada pela Lei 9.785/99 apresentada a seguir); O Poder Público competente poderá complementarmente exigir, em cada loteamento, a reserva de faixa non aedificandi destinada a equipamentos urbanos. • Lei Federal nº 9.785, de 29 de janeiro de 1999 Trata-se de Lei Federal, que entre outras altera a Lei Nº 6.766, com nova redação, para alguns artigos, onde se destacam os seguintes: Art. 3º A Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 2º ........................................................................” § 6º A infra-estrutura básica dos parcelamentos situados nas zonas habitacionais declaradas por lei como de interesse social (ZHIS) consistirá, no mínimo, de: I - vias de circulação; II - escoamento das águas pluviais; III - rede para o abastecimento de água potável; e IV - soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar." "Art. 3º Somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal." "Art. 4º ....................................................................... “ “I - as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano e comunitário, bem como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se situem." “§ 1º A legislação municipal definirá, para cada zona em que se divida o território do município, os usos permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo, que 474 incluirão, obrigatoriamente, as áreas mínimas e máximas de lotes e os coeficientes máximos de aproveitamento." • Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal – PDOT/97 De acordo com a Lei Complementar Nº 17, de 28 de janeiro de 1997, que instituiu o PDOT, a área de estudo situa-se em duas zonas distintas e em três áreas especiais de proteção deste plano, a saber: Zona Urbana de Dinamização – Abrange o “condomínio” Pôr do Sol. Zona Rural de Uso Diversificado – Abrange o “condomínio” Sol Nascente. Área Especial de Proteção: o o o • Área com Restrição Físico Ambiental “Bordas de Ceilândia” – Área sobreposta à Zona Rural de Uso Diversificado; Área Rural Remanescente “Taguatinga” – Área sobreposta à Zona Urbana de Dinamização e que abrange a ARIE JK; e Área de Lazer Ecológico “Três Meninas” - Área sobreposta à Zona Urbana de Dinamização e que abrange a ARIE JK. Plano Diretor Local de Ceilândia – PDL-Ceilândia A Lei Complementar Nº 314, de 1º de setembro de 2000, que instituiu o Plano Diretor Local de Ceilândia RA-IX, cita que a área de estudo, tal como cita o PDOT/97, está inserida em Área de Restrição Físico Ambiental. Cita ainda a criação das Áreas Peri metrais Sul, Norte e Verdes, conforme destacam os artigos a seguir. “Art. 6° Sobrepõem-se às zonas objeto do macrozoneamento de Ceilândia, conforme o disposto no PDOT, as seguintes áreas de diretrizes especiais, indicadas nos mapas 1 e 3 do anexo I: I - Área do Centro Regional; II - Áreas Especiais de Proteção. Parágrafo único. Entende-se por áreas de diretrizes especiais as porções territoriais que exigem parâmetros e diretrizes de uso e ocupação do solo diferenciados e preponderantes sobre os das zonas nas quais se inserem.” “Seção III -Das Novas Áreas de Uso Urbano Art. 12. Ficam estabelecidas as seguintes áreas de uso urbano, na zona urbana da RA IX, indicadas no mapa 3 do anexo I, que serão objeto de projetos urbanísticos especiais: I - Áreas de Desenvolvimento Econômico - ADE; II - Área Perimetral Sul; III - Área Perimetral Norte; IV - Áreas Perimetrais Verdes. Art. 14. A Área Perimetral Sul consiste numa faixa de terra localizada a sul e a oeste do Setor "P" Sul, destinada à implantação de equipamentos comunitários. 475 Art. 15. A Área Perimetral Norte consiste numa faixa de terra localizada a oeste do Setor "P" Norte e da QNR, destinada à implantação de equipamentos comunitários. Art. 16. As Áreas Perimetrais Verdes consistem em estreitas faixas de terra que estabelecerão a transição entre as áreas de ocupação urbana e rural, localizando-se: I - no interior das poligonais da ARIE Parque Juscelino Kubitschek e da Área Rural Remanescente - ARR Taguatinga; II - no interior da poligonal da Área com Restrição Físico-Ambiental; III - entre as quadras QNO e a Rodovia BR-070. § 1° A largura da Área Perimetral Verde será variável, de acordo com as peculiaridades físicas de cada local, e será definida por projeto específico. § 2° Os contratos de arrendamento da ARR Taguatinga coincidentes com a Área Perimetral Verde observarão a garantia de disponibilidade destas faixas, quando solicitado pelo Poder Público. § 3° Ficam asseguradas e preservadas as ocupações urbanas e rurais existentes nas faixas de que trata o caput, bem como a participação dos interessados na elaboração do projeto específico correspondente.” A Ilustração 309 apresenta o zoneamento do PDL de Ceilândia envolvendo a Área de Estudo. Ilustração 309 - Zoneamento PDL Ceilândia Fonte: PROGEA - 2007 476 • MINUTA do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal – 2007 Trata-se da Minuta de nova Lei Complementar a ser votada, que irá instituir o PDOT/2007. Em 02 de junho de 2007, houve uma audiência pública para que esta lei seja encaminhada para votação na Câmara Legislativa do Distrito Federal. De acordo com o novo PDOT, a área de estudo das Bordas de Ceilândia passa a se inserir na Zona Urbana de Expansão e Qualificação, conforme apresentado na Ilustração 310. Ilustração 310 - Zoneamento Minuta PDOT/2007 Fonte: PROGEA - 2007 Para a Zona de Expansão e Qualificação Urbana, a minuta da nova lei cita os artigos a seguir. Subseção V - Da Zona Urbana de Expansão e Qualificação Art.84. A Zona Urbana de Expansão e Qualificação é composta por áreas propensas à ocupação urbana e que possuem relação direta com áreas já implantadas, sendo também integrada por assentamentos informais que necessitam de qualificação. Parágrafo único. Integram esta zona as áreas e os assentamentos informais situados ao longo da rede viária estrutural, nas rodovias DF-001, DF-140, DF-180, DF-250, DF-280 e BR-040, em Vicente Pires, Arniqueira, Ceilândia e Sobradinho. ‘ Art.85. Esta Zona deve ser planejada e ordenada para o desenvolvimento equilibrado das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, de acordo com as seguintes diretrizes: I - estruturar e articular a malha urbana de forma a integrar e conectar as localidades existentes; 477 II - aplicar o conjunto de instrumentos de política urbana adequado para qualificação, ocupação e regularização do solo; III - qualificar as áreas ocupadas para reversão dos danos ambientais e recuperação das áreas degradadas; IV - constituir áreas para a atender às novas demandas habitacionais; V - priorizar a ocupação dos vazios urbanos nas Áreas de Regularização. A minuta do PDOT/2007 também indica em seu Anexo V - Mapa das Estratégias de Expansão e Regularização, as Áreas de Regularização 21 e 23, que correspondem as áreas atualmente ocupadas pelos “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol. Ilustração 311 - Anexo V – Minuta PDOT/2007 Fonte: PROGEA - 2007 • Estatuto da Cidade Trata-se da Lei Federal Nº 10.257, de 10 de Julho de 2001, que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal e estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. No que concerne à área de estudo, esta lei deve ser considerada quanto às diretrizes gerais que estabelece a regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda e quanto ao instrumentos de política urbana que disponibiliza para este fim. Neste contexto destacam-se os artigos a seguir: 478 “Art. 2° A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I – garantia do direito da cidade sustentável, entendido como o direito a terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, á infra-estrutura urbana, ao transporte a aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; II - ...... XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais”; “Art. 4°Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos: I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e do desenvolvimento econômico social; II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microregiões; III – planejamento municipal, em especial: a) plano diretor b) ........ IV – institutos tributários e financeiros: ... V – institutos jurídicos e políticos: a) ... f) instituição de zonas especiais de interesse social; ....... § 1° Os instrumentos mencionados neste artigo regem-se pela legislação que lhes é própria, observado o disposto nesta Lei. § 2° Nos casos de programas e projetos habitacionais de interesse social, desenvolvidos por órgãos ou entidades da Administração Pública com atuação específica nesta área, a concessão real de uso de imóveis públicos poderá ser contratada coletivamente. § 3° Os instrumentos previstos neste artigo que demandem dispêndio de recursos por parte do Poder Público municipal devem ser objeto de controle social, garantida a participação de comunidades, movimentos e entidades da sociedade civil.” Os instrumentos presentes no Estatuto referem-se na sua maioria à dimensão jurídica da regularização fundiária, sendo a única menção a um instrumento de regularização urbanística a instituição de Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS como um dos institutos jurídicos e políticos listados no inciso V do artigo 4. A concepção básica do instrumento das ZEIS é incluir, no zoneamento da cidade, uma categoria que permita, mediante plano específico de urbanização, o estabelecimento de um padrão urbanístico próprio para o assentamento. Vale ressaltar que a minuta do PDOT/2007 já considerou esta estratégia com a criação das Áreas de Regularização apresentadas no Anexo V. A possibilidade legal de se estabelecer um plano próprio, adequado às especificidades locais, reforça a ideia de que as ZEIS compõe um universo diversificado de assentamentos urbanos 479 passíveis de tratamentos diferenciados, assi m agregando uma referência de qualidade ambiental para a requalificação do espaço habitado por populações de baixa renda. O estabeleci mento de ZEIS também significa o reconhecimento da possibilidade de construção de uma legalidade que corresponda a esses assentamentos e, portanto, da extensão do direito de cidadania a seus moradores. O estabeleci mento de ZEIS tem como objetivos: - permitir a inclusão de parcelas marginalizadas da cidade, por não terem tido possibilidades de ocupação do solo urbano dentro das regras legais; - permitir a introdução de serviços e infra-estrutura urbanos nos locais que antes não chegavam, melhorando as condições de vida da população; - regular o conjunto de mercado de terras urbanas, reduzindo as diferenças de qualidade entre os padrões de ocupação urbana; - aumentar a arrecadação, pois as áreas regularizadas passam a poder pagar impostos e taxas; e - aumentar a oferta de terras para os mercados urbanos de baixa renda. Análise da Legislação Concluindo, da avaliação da legislação urbanística pertinente para o local, ou seja PDOT/97 e PDL de Ceilândia, a regularização das áreas ocupadas pelos “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol ficaria restrita àquelas que estão dentro da poligonal de Zona Urbana de Dinamização (PDOT/97), ficando a maior parte dos assentamentos impossibilitados de regularização, conforme citam as prerrogativas para Áreas com Restrição Físico Ambiental e Áreas Rurais Remanescentes. Com a minuta de lei do novo Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF - PDOT/2007 , as áreas ocupadas passam a se inserir em Zona Urbana de Expansão e Qualificação, o que possibilita a regularização dos loteamentos, seguindo as diretrizes específicas da lei. Neste contexto, o Sol Nascente e Pôr do Sol passam a ser consideradas Áreas de Regularização com embasamento na Lei Federal Nº 10.257 (Estatuto da Cidade), que apresenta como instrumento de regularização urbanística a instituição de Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS, aplicável ao caso destas ocupações irregulares. Neste contexto é que serão desenvolvidos os cenários de ocupação da área na avaliação ambiental do presente estudo. 480 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL EIA AVALIAÇÃO DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES NAS BORDAS DA CIDADE DE CEILÂNDIA VOLUME I - TEXTO TOMO 3 JANEIRO DE 2009 GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL GDF SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E MEIO AMBIENTE SEDUMA COMPANHIA IMOBILIÁRIA DE BRASÍLIA TERRACAP Antônio Raimundo Gomes Silva Filho PRESIDENTE Elme Terezinha Ribeiro Tanus DIRETORA DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS Anselmo Rodrigues Ferreira Leite DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO Luís Antônio Almeida Reis DIRETOR TÉCNICO E DE FISCALIZAÇÃO GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL COMPANHIA IMOBILIÁRIA DE BRASÍLIA TERRACAP PROGEA ENGENHARIA E ESTUDOS AMBIENTAIS ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL EIA AVALIAÇÃO DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES NAS BORDAS DA CIDADE DE CEILÂNDIA VOLUME I - TEXTO TOMO 3 JANEIRO DE 2009 COMISSÃO DE ANÁLISE Gabriel Tenório Ramos Executor do Contrato TERRACAP Altamiro Freide Pavanelli Executor substituto do Contrato TERRACAP Juliana Capra Maia Técnica Especialista - Socióloga GEMAM/TERRACAP Maria Otilia Viana IBRAM Izabel Torres Cordeiro Arquiteta SEDUMA Ester Lea Silva Martins Engenheira Florestal SUDESA Juliana Ferreira Freitas Analista Ambiental IBAMA/DF Solange Cordeiro Silva Rocha Engenheira CAESB EQUIPE TÉCNICA COORDENAÇÃO Coordenador Geral Antônio Valério Geólogo CREA-SP 20288/D Coordenador Técnico Cristiano Goulart S. Gomes Geólogo CREA-DF 10854/D Coordenador Técnico Adjunto Rodrigo Mello de Vasconcelos Eng. Ambiental CREA-DF 13008/D MEIO BIÓTICO Carolina Esteves da Cunha Lobo Bióloga CRBio 44765/04-D Cleidemar Batista Valério Bióloga CFB 04576/87 Rodrigo Luiz Gomes Pieruccetti Eng. Florestal CREA-DF 11875/D MEIO FÍSICO Marcelo Pedrosa Pinelli Geólogo CREA-DF 11084/D Maria Luisa Musarra Bióloga Jéferson da Costa Eng. Civil CREA-DF 8.843/D Waldo Duarte de Matos Eng. Civil CREA-SP 25.743/D Wellington Mesquita de Carvalho Eng. Ambiental CREA-DF 15.310/D Júnia de Oliveira Porto Engª. Ambiental CREA-DF 16.033/D MEIO ANTRÓPICO Ana Cecília Parisi Arquiteta CREA-DF 7.703/D Claudia Jeanne de Barros Socióloga Mariza de Oliveira Barbosa Arqueóloga Marly Santos da Silva Geógrafa CREA-DF 10895/D Paulo Cavalcante Arquiteto CREA 12.807/D ÍNDICE GERAL TOMO 3 7 CENÁRIOS DE GESTÃO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO 481 METODOLOGIA E E TAPAS DO P ROCESSO DE CENARIZAÇÃO 482 7.1 7.1.1 IDENTIFICAÇÃO DE CONDICIONANTES DO SISTEMA 482 7.1.2 OS MODELOS E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO 483 7.1.2.1 Modelo Burocrático 483 7.1.2.2 Modelo Sistêmico 484 7.1.2.3 Modelo Sistêmico - Contingencial 485 7.2 QUADRO ATUAL DE REFERÊNCIA E SEU PASSIVO AMBIENTAL – CONDICIONANTES E P ROGNÓSTICOS 485 7.2.1 ASPECTOS DA VEGETAÇÃO LOCAL 487 7.2.2 ASPECTOS DA FAUNA LOCAL 489 7.2.3 ASPECTOS DO MEIO FÍSICO 490 7.2.3.1 Ar 490 7.2.3.2 Água 491 7.2.3.3 Solo 491 7.3 CONSTRUÇÃO DOS CENÁRIOS DE OCUPAÇÃO 7.3.1 CENÁRIO 1 - CENÁRIO TENDENCIAL SEM INTERVENÇÃO 491 493 7.3.1.1 Aspectos Urbanísticos e Sócioeconômicos 495 7.3.1.2 Impactos do Cenário 1 496 7.3.2 CENÁRIO 2 – CENÁRIO COM FOCO NA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E URBANÍSTICA NOS SEUS ASPECTOS MAIS RESTRITIVOS (REMOÇÃO DOS “CONDOMÍNIOS”) 498 7.3.2.1 Aspectos Urbanísticos e Sócioeconômicos 498 7.3.2.2 Aspectos Legais e Ambientais Aplicáveis ao “Condomínio” Pôr do Sol 502 7.3.2.3 Aspectos Legais e Ambientais Aplicáveis ao “Condomínio” Sol Nascente 502 7.3.2.4 Restrições ao Desenvolvimento do Cenário 2 503 7.3.2.5 Impactos do Cenário 2 504 7.3.3 CENÁRIO 3 - CENÁRIO SOCIAL COM RESTRIÇÃO DE 100M DA LINHA DE RUPTURA DO RELEVO 507 7.3.3.1 Aspectos Urbanísticos e Sócioeconômicos 509 7.3.3.2 Aspectos Ambientais e Geotécnicos 516 I 7.3.3.3 7.3.4 Impactos no Cenário 3 548 CENÁRIO 4 - CENÁRIO SOCIAL COM RESTRIÇÃO DE 30 M DA LINHA DE RUPTURA DO RELEVO 549 7.3.4.1 Aspectos Urbanísticos e Sócioeconômicos 553 7.3.4.2 Aspectos Ambientais e Geotécnicos 560 7.3.4.3 Impactos no Cenário 4 593 7.4 SÍNTESE DOS CENÁRIOS ESTUDADOS 594 7.4.1 CENÁRIO 1 - MANUTENÇÃO DAS CONDIÇÕES ATUAIS 594 7.4.2 CENÁRIO 2 - REMOÇÃO DOS “CONDOMÍNIOS” 595 7.4.3 CENÁRIOS 3 E 4 – SOCIAL - URBANIZAÇÃO PLANEJADA 595 7.4.4 CONCLUSÃO 596 7.5 ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS PARA OS CENÁRIOS 7.5.1 SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA 596 597 7.5.1.1 Situação Proposta 597 7.5.1.2 Alternativas de Abastecimento 598 7.5.1.3 Análise das Alternativas de Abastecimento de Água 600 7.5.2 SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO 601 7.5.2.1 Situação Proposta 601 7.5.2.2 Alternativas para o Sistema de Esgotamento Sanitário 603 7.5.2.3 Análise das Alternativas de Esgotamento Sanitário 604 7.5.3 SISTEMA DE DRENAGEM PLUVIAL 606 7.5.3.1 Situação Proposta 606 7.5.3.2 Análise de Drenagem Pluvial 611 7.5.4 RESÍDUOS SÓLIDOS 613 7.5.5 ENERGIA ELÉTRICA 613 7.5.6 TELEFONIA FIXA 614 8 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS E MEDIDAS MITIGADORAS 615 8.1 ROTEIRO M ETODOLÓGICO 615 8.2 MATRIZ DE IMPACTOS E QUADROS -SÍNTESE 617 8.3 ANÁLISE DOS IMPACTOS E DEFINIÇÃO DAS MEDIDAS MITIGADORAS 632 8.3.1 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA 633 8.3.2 POLUIÇÃO SONORA 633 8.3.3 ASPECTOS GEOLÓGICO – GEOTÉCNICOS 634 II 8.3.4 IMPACTOS SOBRE AS ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS 636 8.3.4.1 Poluição das Águas 636 8.3.4.2 Impermeabilização do Solo 639 8.3.4.3 Superexplotação 639 8.3.4.4 Análise Multitemporal do córrego Grotão 640 8.3.5 DEPÓSITOS ANTIGOS DE LIXO E ENTULHO NO “CONDOMÍNIO” PÔR DO SOL 651 8.3.5.1 Material 651 8.3.5.2 Método 652 8.3.5.3 Resultados 652 8.3.6 ASPECTOS DE VEGETAÇÃO E FAUNA 660 8.3.7 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E CULTURAIS 663 8.3.7.1 Expectativas da População 665 8.3.7.2 Recomendações 666 8.3.8 ASPECTOS ARQUEOLÓGICOS 666 8.3.9 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E URBANÍSTICA E SUAS INCOERÊNCIAS 669 8.3.9.1 Lei Federal nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979 669 8.3.9.2 Código Florestal (Lei 4.771/65) 670 8.3.9.3 PDOT 97 670 8.3.9.4 PDL de Ceilândia 670 8.3.9.5 Lei Distrital 330/2000 671 8.3.9.6 Poligonal da ARIE JK 671 8.3.9.7 Plano de Manejo da ARIE JK 672 8.3.9.8 Recomendações para a regularização dos “condomínios” 672 8.3.10 DEMANDA HABITACIONAL NO DISTRITO FEDERAL E A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA 676 8.3.11 IMPACTOS COM RELAÇÃO AOS PROJETOS DE RELOCAÇÃO DAS OCUPAÇÕES 681 8.3.12 OBRAS DE REURBANIZAÇÃO – CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES 683 8.4 RISCO NAS B ORDAS DA CIDADE DE CEILÂNDIA 8.4.1 M ATRIZ DE RISCO 686 686 8.4.1.1 Severidade 686 8.4.1.2 Freqüência 687 8.5 ÁREAS OBJETO DE F UTUROS PRADS 689 8.5.1 SOLOS CONTAMINADOS 689 8.5.2 VOÇOROCAS 691 8.5.3 ÁREAS DE EMPRÉSTIMO 694 III 8.5.4 ÁREAS DE VEREDA 699 8.5.5 RETIFICAÇÃO DO CÓRREGO GROTÃO 700 9 SÍNTESE DAS PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES 701 9.1 QUALIDADE DO AR E DA P OLUIÇÃO SONORA 701 9.2 ASPECTOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS 701 9.3 ASPECTOS DA F AUNA, F LORA E SUA RELAÇÃO COM A ARIE JK 702 9.4 ATIVIDADES CHACAREIRAS 703 9.5 ASPECTOS DE INFRA -ESTRUTURA B ÁSICA 703 9.6 POLUIÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS 707 9.6.1 ÁGUAS SUPERFICIAIS 707 9.6.2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 707 9.7 PREVENÇÃO NOS EMPREENDIMENTOS COM POTENCIAL DE POLUIÇÃO 708 9.8 ASPECTOS URBANÍSTICOS 708 9.8.1 ÁREAS COM RESTRIÇÃO AO USO E OCUPAÇÃO 709 9.8.2 ÁREAS PASSÍVEIS DE PARCELAMENTO URBANO 710 9.8.3 PRINCIPAIS CONDICIONANTES E RECOMENDAÇÕES URBANÍSTICAS 713 9.8.3.1 Condicionante: Áreas de Preservação Permanente - APPs e de vulnerabilidade ambiental 713 9.8.3.2 Condicionante: Área de Relevante Interesse Ecológico – ARIE - JK 713 9.8.3.3 Condicionante: Depósitos de lixo nas ruas e em aterros clandestinos 714 9.8.3.4 Condicionante: Infra-estrutura 714 9.8.3.5 Condicionante: Redimensionamento da Malha Viária 715 9.8.3.6 Condicionante: Melhoria da qualidade de vida 716 9.8.3.7 Condicionante: Equipamentos Públicos Comunitários- EPC’s 716 10 COMPENSAÇÕES AMBIENTAIS 719 10.1 COMPENSAÇÃO AMBIENTAL 719 10.2 COMPENSAÇÃO POR DANOS AO MEIO AMBIENTE CAUSADOS PELA EXECUÇÃO DAS OBRAS DE INFRA- ESTRUTURA 719 10.3 COMPENSAÇÃO F LORESTAL 720 10.4 PROGRAMAS AMBIENTAIS 720 IV 11 PLANO DE MONITORAMENTO E DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 11.1 PROGRAMA DE MONITORAMENTO E F ISCALIZAÇÃO 722 723 11.1.1 SUBPROGRAMA QUALIDADE DA ÁGUA 723 11.1.2 SUBPROGRAMA QUALIDADE AMBIENTAL 724 11.2 PROGRAMA DE CONTROLE DE EROSÃO 725 11.3 PROGRAMA DE PAISAGISMO/RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS 726 11.4 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO SOCIAL 727 11.5 PROGRAMA DE INCLUSÃO SOCIAL DOS CATADORES DE RECICLÁVEIS 728 12 CONCLUSÕES 732 13 BIBLIOGRAFIA 735 V ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 312 - Áreas Passíveis de Regularização – Cenário restritivo................................................... 501 Ilustração 313 - Área com ocorrência de lixo............................................................................................... 517 Ilustração 314 - Ocupação de APP................................................................................................................. 518 Ilustração 315 - Ocupação de APP................................................................................................................. 518 Ilustração 316 - Ocupação de APP................................................................................................................. 519 Ilustração 317 – Ocupação em APP de borda de chapada representada por círculo verde. .................. 520 Ilustração 318 – Ocupação em APP de borda de chapada representada por círculo verde. .................. 520 Ilustração 319 – Ocupação em APP de borda de chapada representada por círculo verde. .................. 521 Ilustração 320 - Área com lançamento de efluentes (chorume) da estação de tratamento de lixo....... 522 Ilustração 321 - Áreas de vereda..................................................................................................................... 522 Ilustração 322 – Aspecto da vereda. Notar a presença dos Buritis (Mauritia flexuosa). ....................... 525 Ilustração 323 – Idem anterior. Notar a presença de tronco de buriti submerso na água. ..................... 525 Ilustração 324 – Aspecto do solo na vereda.................................................................................................. 526 Ilustração 325 – Local de nascentes da área de vereda. .............................................................................. 527 Ilustração 326 – “Vertedouro”. ....................................................................................................................... 528 Ilustração 327 – Detalhe do “vertedouro”. Notar precariedade. ................................................................ 529 Ilustração 328 – Residência no entorno da lagoa......................................................................................... 529 Ilustração 329 – Idem anterior. ....................................................................................................................... 530 Ilustração 330 – Vereda localizada a nordeste. ............................................................................................ 530 Ilustração 331 – Idem anterior. Notar Buriti (Mauritia flexuosa) à esquerda.......................................... 531 Ilustração 332 – Perfil de solo na área da vereda. Notar presença de gleissolo. ..................................... 531 Ilustração 333 – Lagoa existente na área de vereda..................................................................................... 532 Ilustração 334 – Chácara usuária de água proveniente da vereda. ............................................................ 533 Ilustração 335 – Aspecto da vereda................................................................................................................ 533 Ilustração 336 – Captação de água da vereda. .............................................................................................. 534 Ilustração 337 – Manilha que transporta água da vereda em direção ao ponto 2.................................... 534 Ilustração 338 – Placa colocada por morador da região indicando a importância ambiental da área.. 535 Ilustração 339 – Ocupação urbana no Parque Ecológico e de Uso Múltiplo da Lagoinha.................... 536 Ilustração 340 – Ocupação urbana na Área de Conflito - 1........................................................................ 537 Ilustração 341 - Ocupação urbana no interior da faixa de segurança de 100m. “Condomínio” Por do Sol. .............................................................................................................................................................................. 541 Ilustração 342 - Ocupação urbana no interior da faixa de segurança de 100m. “Condomínio” Pôr do Sol. .............................................................................................................................................................................. 542 Ilustração 343 - Ocupação urbana no interior da faixa de segurança de 100m. ...................................... 542 Ilustração 344 - Ocupação urbana no interior da faixa de segurança de 100m. ...................................... 543 Ilustração 345 - Área com presença de processo erosivo deflagrado por fluxo superficial concentrado... .............................................................................................................................................................................. 544 Ilustração 346 - Área com restrição geotécnica (atualmente sem ocupação), próxima à estação de tratamento de lixo (SOUCTL). ....................................................................................................................... 545 Ilustração 347 - Ocupação urbana em área com restrições urbanísticas. ................................................. 546 Ilustração 348 – Desenho esquemático do Círculo de Mohr demonstrando o raio de 30m (faixa de 30m da linha de ruptura do relevo) do desabamento em forma de cunha .............................................................. 550 Ilustração 349 – Situação do Círculo de Mohr interceptando solo e rocha.............................................. 550 Ilustração 350 - Área com ocorrência de lixo............................................................................................... 561 Ilustração 351 - Ocupação de APP................................................................................................................. 562 Ilustração 352 - Ocupação de APP................................................................................................................. 562 Ilustração 353 - Ocupação de APP................................................................................................................. 563 VI Ilustração 354 - Ocupação em APP de borda de chapada representada por círculo verde. ................... 564 Ilustração 355 - Ocupação em APP de borda de chapada representada por círculo verde. ................... 564 Ilustração 356 - Ocupação em APP de borda de chapada representada por círculo verde. ................... 565 Ilustração 357 - Área com lançamento de efluentes (chorume) da estação de tratamento de lixo....... 566 Ilustração 358 - Áreas de vereda..................................................................................................................... 566 Ilustração 359 – Aspecto da vereda. Notar a presença dos Buritis (Mauritia flexuosa). ....................... 569 Ilustração 360 – Idem anterior. Notar a presença de tronco de buriti submerso na água. ..................... 569 Ilustração 361 – Aspecto do solo na vereda.................................................................................................. 570 Ilustração 362 – Local de nascentes da área de vereda. .............................................................................. 571 Ilustração 363 – “Vertedouro”. ....................................................................................................................... 572 Ilustração 364 – Detalhe do “vertedouro”. Notar precariedade. ................................................................ 573 Ilustração 365 – Residência no entorno da lagoa......................................................................................... 573 Ilustração 366 – Idem anterior. ....................................................................................................................... 574 Ilustração 367 – Vereda localizada a nordeste. ............................................................................................ 574 Ilustração 368 – Idem anterior. Notar Buriti (Mauritia flexuosa) à esquerda.......................................... 575 Ilustração 369 – Perfil de solo na área da vereda. Notar presença de gleissolo. ..................................... 575 Ilustração 370 – Lagoa existente na área de vereda..................................................................................... 576 Ilustração 371 – Chácara usuária de água proveniente da vereda. ............................................................ 577 Ilustração 372 – Aspecto da vereda................................................................................................................ 577 Ilustração 373 – Captação de água da vereda. .............................................................................................. 578 Ilustração 374 – Manilha que transporta água da vereda em direção ao ponto 2.................................... 578 Ilustração 375 – Placa colocada por morador da região indicando a importância ambiental da área.. 579 Ilustração 376 – Ocupação urbana no Parque Ecológico e de Uso Múltiplo da Lagoinha.................... 580 Ilustração 377 – Ocupação urbana na Área de Conflito - 1........................................................................ 581 Ilustração 378 - Ocupação urbana nas proximidades da linha de ruptura do relevo. “Condomínio” Por do Sol........................................................................................................................................................................ 586 Ilustração 379 - Ocupação urbana nas proximidades da linha de ruptura do relevo. “Condomínio” Pôr do Sol........................................................................................................................................................................ 586 Ilustração 380 - Ocupação urbana nas proximidades da linha de ruptura do relevo. “Condomínio” Pôr do Sol........................................................................................................................................................................ 587 Ilustração 381 - Ocupação urbana nas proximidades da linha de ruptura do relevo. ............................. 587 Ilustração 382 - Situação da Usina de Incineração de Lixo próxima à linha de ruptura do relevo. ..... 588 Ilustração 383 - Área com presença de processo erosivo deflagrado por fluxo superficial concentrado... .............................................................................................................................................................................. 589 Ilustração 384 - Área com restrição geotécnica (atualmente sem ocupação), próxima à estação de tratamento de lixo (SOUCTL). ....................................................................................................................... 590 Ilustração 385 - Ocupação urbana em área com restrições urbanísticas. ................................................. 591 Ilustração 386 – Foto aérea de 1991............................................................................................................... 640 Ilustração 387 – Localização do “condomínio” Sonho Verde ................................................................... 641 Ilustração 388 - Situação do córrego em 2003 ............................................................................................. 642 Ilustração 389 - Início do trecho retificado há 3 meses atrás. .................................................................... 644 Ilustração 390 - Detalhe do desbarrancamento da parede da valeta.......................................................... 644 Ilustração 391 - Resíduos sólidos despejados no trecho retificado. .......................................................... 644 Ilustração 392 - Lançamento de águas servidas da garagem da Viação Planeta..................................... 644 Ilustração 393 - Sulco aberto na parede da valeta........................................................................................ 645 Ilustração 394 - Trecho retificado, antes da bacia de detenção.................................................................. 645 Ilustração 395 - Bacia de detenção................................................................................................................. 645 Ilustração 396 - Placa da Defesa Civil ao lado da bacia de detenção indicando “área de risco”.......... 645 Ilustração 397 - Residências do Condomínio Sonho Verde próximas à bacia de detenção. ................. 646 Ilustração 398 - Trecho retificado, após a bacia de detenção, que segue em direção à galeria de águas pluviais pré-existente às obras realizadas recentemente. ............................................................................ 646 VII Ilustração 399 - Rede pluvial pré-existente com dissipador de energia. .................................................. 646 Ilustração 400 - Idem anterior. ........................................................................................................................ 646 Ilustração 401 - Fim da rede pluvial em direção à galeria de águas pluviais subterrânea. .................... 647 Ilustração 402 - Vista da galeria subterrânea................................................................................................ 647 Ilustração 403 - Voçoroca nas margens do córrego Grotão ....................................................................... 648 Ilustração 404 – Esquema das obras .............................................................................................................. 648 Ilustração 405 - Aspecto da trincheira. Ausência de resíduos nas paredes.............................................. 652 Ilustração 406 – Croqui de localização dos pontos...................................................................................... 653 Ilustração 407 - Resíduos presos às paredes da trincheira.......................................................................... 654 Ilustração 408 - Pilha de resíduos................................................................................................................... 655 Ilustração 409 - Aspecto dos resíduos. Notar o avançado estado de decomposição. ............................. 655 Ilustração 410 - Aspecto da trincheira. Notar a grande quantidade de resíduos nas paredes................ 656 Ilustração 411 - Fechamento da trincheira. ................................................................................................... 657 Ilustração 412 – Croqui da poligonal da área de aterro de resíduos.......................................................... 659 Ilustração 413 - Efluente da UCTL semelhante a chorume diluído, lançado no entorno da usina. ..... 690 Ilustração 414 - Outro lançamento no entorno da usina. ............................................................................ 690 Ilustração 415 - Processo de voçorocamento próximo à UCTL. ............................................................... 691 Ilustração 416 - Aspecto do interior da voçoroca. ....................................................................................... 692 Ilustração 417 - Nascente localizada a jusante da voçoroca....................................................................... 692 Ilustração 418 - Nota-se a presença de casas nas proximidades da voçoroca (córrego do Meio). ....... 693 Ilustração 419 - Parte da área do antigo “areal” sendo investigada por escavação. Notar a presença de residências próximas. ....................................................................................................................................... 695 Ilustração 420 - Parte da área do antigo “areal”, localizada nos fundos do condomínio “Pôr do Sol”.695 Ilustração 421 - Cascalheira nas margens da VC-311................................................................................. 696 Ilustração 422 - Placa no acesso à cascalheira. ............................................................................................ 697 Ilustração 423 - Detalhe do lodo da ETA...................................................................................................... 697 Ilustração 424 - Pilhas de lodo dispostas recentemente sobre o solo........................................................ 698 Ilustração 425 - Área da cascalheira em que o lodo foi disposto há mais tempo.................................... 698 Ilustração 426 - Poço de monitoramento....................................................................................................... 699 Ilustração 427 – Áreas de vereda.................................................................................................................... 699 Ilustração 428 – Área de Conflito 1, conforme Plano de Manejo da ARIE JK....................................... 714 VIII ÍNDICE DE TABELA Tabela 138 - Projeção de crescimento populacional – 2010 (Aqui pode ser 2015, mas com a rapidez com que as ocupações aconteceram já em 2010 eles devem estar totalmente ocupados, num cenário tendencial) .............................................................................................................................................................................. 495 Tabela 139 - Coordenadas da proposta de poligonal para a ARIS Pôr do Sol ........................................ 512 Tabela 140 - Coordenadas da proposta de reformulação da poligonal da ARIE JK .............................. 538 Tabela 141 – Estimativa do número de residências a serem relocadas em função de restrições ambientais, geotécnicas e urbanísticas ................................................................................................................................ 547 Tabela 142 - Coordenadas da proposta de poligonal para a ARIS Pôr do Sol ........................................ 556 Tabela 143 - Coordenadas da proposta de reformulação da poligonal da ARIE JK .............................. 582 Tabela 144 – Estimativa do número de residências a serem relocadas em função de restrições ambientais, geotécnicas e urbanísticas ................................................................................................................................ 592 Tabela 145 - Vazões de Projeto para Abastecimento de Água Potável.................................................... 598 Tabela 146 - Vazões Estimadas de Esgotos Sanitários ............................................................................... 603 Tabela 147 - Parâmetros Adotados para as Bordas da Ceilândia – Drenagem Pluvial .......................... 609 Tabela 148 - Parâmetros Adotados para as Bordas da Ceilândia – Drenagem Pluvial (Continuação) 609 Tabela 149 - Parâmetros Adotados para as Bordas da Ceilândia – Drenagem Pluvial (Continuação) 610 Tabela 150 - Parâmetros Adotados para as Bordas da Ceilândia – Drenagem Pluvial (Continuação) 610 Tabela 151 - Tabela Simplificada de Caldarelli (1997) baseado em Fornassari Fº. et al. (1992)......... 667 Tabela 152 - Tabela Simplificada de Martins (1997) baseado em Ab´Saber (1994) ............................. 667 Tabela 153 - Projeção de desconstituição de lotes urbanos........................................................................ 681 Tabela 154 - Residências a serem relocadas ao se adotar o Cenário 3 ..................................................... 682 Tabela 155 – Estimativa do número de residências a serem relocadas em função de restrições ambientais, geotécnicas e urbanísticas ................................................................................................................................ 682 Tabela 156 – Indicação da Severidade........................................................................................................... 687 Tabela 157 – Indicação da Freqüência........................................................................................................... 687 Tabela 158 – Matriz de Risco ......................................................................................................................... 688 Tabela 159 - Dimensionamento dos EPC’s para o Sol Nascente .............................................................. 717 Tabela 160 - Dimensionamento dos EPC’s para o Pôr do Sol................................................................... 718 IX 7 CENÁRIOS DE GESTÃO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Cenários são imagens de futuro configuradas a partir da “combinação coerente de hipóteses” sobre os prováveis comportamentos de variáveis determinantes de um sistema. Trata-se da descrição de um futuro – possível imaginável ou desejável – para um objeto e seu contexto, e do caminho ou trajetória que o conecta com a situação de origem. Como toda reflexão sobre futuro, os estudos prospectivos tratam de eventos e processos incertos, ocupam-se dos riscos e das eventuais surpresas e imprevisibilidades, representando uma ferramenta importante para tomar decisões, na medida em que lida com antecipações. Mas não podem, nem pretendem eliminar a incerteza, predizer o que vai acontecer com segurança, pois isto é impossível. O desenho de cenários se inscreve entre as técnicas de prospecção de futuro, visando antever os possíveis comportamentos de uma determinada realidade. A antevisão do futuro, por sua vez, possibilita o traçado de estratégias e ações, tanto no âmbito do planejamento, quanto na antecipação a situações de crise. Assim, eles devem ser imagens plausíveis e possíveis do futuro e também suficientemente ricos em indicadores para contribuir na tomada de decisões. Os cenários oferecem antecipações que preparam governos, empresas, organizações e a sociedade para fazer face aos desafios do futuro. São particularmente úteis para o planejamento estratégico, a gerência estratégica em tempo real, a antecipação de crises, estudos de mercado, apoio a processos decisórios, referência para negociações, análises de projetos, aprendizagem organizacional e gerenciamento de mudanças. O desenvolvimento dessa técnica ocorreu como conseqüência dos processos de mudanças e rupturas que conduziram a realidade para uma nova direção, diferente daquela que se poderia extrapolar a partir do comportamento do passado. Estas configurações e situações, nas quais a trajetória de determinada realidade muda de sentido ou de direção, são denominadas tecnicamente de ponto de ruptura. É importante salientar que os cenários constituem apenas um referencial de planejamento, oferecendo uma descrição qualitativa de possíveis realidades futuras do objeto de estudo. Dentre as vantagens da técnica de cenários podem-se citar: • Possibilidades de incorporação de efeitos de fenômenos do ambiente externo; • Possibilidades de estabelecer políticas de desenvolvimento em maior sintonia com o ambiente externo; • Flexibilidade dos planos resultantes das incertezas do futuro; • Incorpora diferentes pontos de vista; • Estimula o monitoramento de tendências e eventos importantes; • Permite ao tomador de decisões preparar o presente para o futuro; e • Estimula o desenvolvimento de uma postura estratégica. 481 7.1 M etodologia Cenarização e Etapas do Processo de O presente estudo toma como base identificar os diferentes atores sociais envolvidos, seus interesses, ora harmônicos, ora conflitantes, as forças propulsoras e as oportunidades de desenvolvimento urbano e os riscos ou ameaças que possam obstar o desenvolvimento. Estes são representados pelo descumprimento das leis urbanísticas e ambientais ou pela inadequação desses instrumentos à realidade dos sistemas. Conforme acordado no âmbito da equipe técnica, a metodologia descrita a seguir, adotada para desenvolver a cenarização das ocupações irregulares nas bordas da cidade de Ceilândia, buscou diminuir as incertezas quanto ao futuro, respeitando a complexidade e organização da situação atual. 7.1.1 Identificação de Condicionantes do Sistema Para descrever os futuros possíveis foi necessário identificar o sistema a ser adotado como referência. Para análise do quadro atual do sistema, foram consideradas as variáveis internas e externas da área de estudo. Para se constituir o quadro interno do sistema, foram compilados e analisados os dados do Diagnóstico e avaliadas de forma integrada nas Cartas de Sensibilidade a Danos, que levaram à indicação dos principais problemas e potencialidades da área. Tendo em vista a evolução passada e a situação atual, foram identificados fatores (ou variáveis condicionantes) que deverão direcionar as tendências de um cenário futuro. Foram avaliadas as variáveis mais relevantes, as incertezas críticas, as tensões, os estrangulamentos, as tendências e os fatos geradores de futuro. A identificação destas variáveis é uma etapa-chave em todo o processo de cenarização, pois a partir delas se determina o modelo de desenvolvimento havido até o momento atual. Com a descrição destes dados e informações, é possível especular em relação às correspondentes hipóteses explicativas dessa realidade, dessa situação tal como ela é, visando o seu conhecimento e entendimento. Particularmente e, coerentemente com o que vem sendo colocado, foi dada especial atenção à formalização de dados e informações em relação a vários aspectos, a saber: • Análise crítica das bases institucionais para o planejamento e o ordenamento jurídico vigente e proposição de novas bases mais representativas e eficientes; • Avaliação das estruturas organizacionais da Administração Regional e seu potencial na condução do processo de gestão e planejamento; • Formulação de diferentes projeções com base em parâmetros demográficos (visando ter uma idéia da quantidade de população potencialmente envolvida); de demanda (com relação a equipamentos sociais, infra-estrutura urbana e posse da terra); e socioeconômicas (compreendendo estudos de renda, identificação de oportunidades e impactos sobre as finanças públicas); 482 • Levantamento da situação fundiária / situação de ocupação, visando subsidiar as decisões com relação ao custo/benefício do assentamento de pessoas e/ou a desconstituição dessas ocupações, levando em consideração a prioridade ambiental; • Avaliação do estado de conservação dos biomas presentes nas bordas da cidade de Ceilândia. A variável é representada pelo estado de conservação dos biomas, considerando a variação dos diferentes tipos de cobertura vegetal ao longo do tempo e respectiva superfície ocupada, a dimensão e distribuição dos espaços territoriais sob a forma de áreas protegidas. Considera-se ainda, a ocorrência de fauna e práticas de uso dos recursos naturais associadas aos diferentes biomas; e • Reconhecimento da diversidade social e o respeito às particularidades de suas reivindicações, considerando o grau de conscientização da sociedade, suas formas de organização e como pressionam e auxiliam a tomada de decisões. As principais condicionantes legais, urbanísticas, ambientais e sociais são discutidas nos itens 7.2, 7.3, 8 e 10, dentre outros. 7.1.2 Os Modelos e os Instrumentos de Gestão O desenvolvimento das sociedades modernas tem levado especialistas da administração a buscarem estratégias avançadas e flexíveis para a estruturação das instituições e o uso de instrumentos de gestão compatíveis com a crescente complexidade de seus problemas. O uso dos instrumentos de gestão depende do desempenho das instituições que atuam no processo, da forma como estão estruturadas, da complexidade dos problemas enfrentados e do “capital social” das comunidades envolvidas, aqui entendido como seu padrão cultural, seus anseios, expectativas e suas múltiplas formas de organização. Neste contexto, o modelo de estruturação das instituições envolvidas tem um papel significativo na busca de soluções, já que permite explicar a diferença entre o que funciona bem e o que não funciona. No documento “Avaliação de Impacto: Agentes Sociais, Procedimentos e Ferramentas”, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente e publicado pelo IBAMA, foram analisadas as características de três modelos estruturais de gestão das organizações: o Modelo Burocrático, o Modelo Sistêmico e o Modelo Sistêmico - Contingencial, cujos aspectos considerados pertinentes à gestão da Estrutural são transcritos a seguir. 7.1.2.1 Modelo Burocrático O Modelo Burocrático há bastante tempo, têm dado suporte para a gestão das organizações, em especial as organizações públicas. Com a evolução da sociedade e as demandas mais recentes, a burocracia tem se mostrado inadequada como paradigma para direcionar a estruturação das organizações frente aos seus diferentes públicos. Entre as razões que justificam a afirmação feita, podem ser lembradas: • A visão fragmentada do processo de trabalho e acomodação do funcionário, decorrente da limitação e da partição das tarefas que lhe são atribuídas; não tendo a visão do processo no seu todo, o funcionário exacerba a importância da parte que lhe cabe: não desenvolve comportamentos de colaboração com os demais, pois desconhece suas necessidades e não se sente comprometido com o resultado final que não conhece; 483 • Desempenho restrito ao cumprimento das normas, do qual resulta uma falsa idéia de segurança, na medida que o acerto, que decorre da rotina conhecida e por demais repetida, passa a ser percebido como padrão de especialização desejada; • A distorção decorrente da intransigência na aplicação de normas e regulamentos que, muitas vezes, perdem a característica de meios e passam a funcionar como fim ou objetivos; • A centralização do poder decisório nos escalões mais altos da organização, geralmente distantes do local em que ocorre a demanda da decisão, gerando demoras desnecessárias e descompromisso da parte de quem recebe as demandas, mas não tem poder para atendê-las; e • A pouca ou nenhuma importância dada ao ambiente, que possui demandas nem sempre percebidas pela organização; as pressões externas, quando acentuadas, são vistas como ameaças indesejáveis e não como estímulos ao desenvolvimento e à inovação. O Modelo Burocrático mostra-se apropriado para a gestão de atividades altamente rotineiras, em que prevaleça o interesse pela produtividade. Por outro lado, desaconselha-se a sua aplicação nas organizações que devem ser flexíveis, que têm como objetivos atividades não rotineiras, realizadas para atender clientes com características e expectativas próprias. 7.1.2.2 Modelo Sistêmico Segundo a abordagem sistêmica, o funcionamento de uma organização não pode ser compreendido sem consideração explícita das demandas e limitações impostas pelo meio. Toda organização apresenta uma configuração interna que define limites entre a esfera de ação do sistema e o ambiente. Dessa definição decorre o grau de abertura do sistema em relação ao ambiente. Organizações com baixo grau de abertura aproximam-se do modelo de sistema fechado. Estas organizações buscam atingir suas finalidades - seus resultados a partir de trocas constantes com o ambiente, do qual recebem os insumos que demandam para seus processos. A análise das organizações, segundo o Modelo Sistêmico, permite identificar que: • A organização retira do ambiente os insumos de que necessita para sua operação, na forma de recursos humanos, tecnológicos, de informação, demandas de trabalho e outros; • Após realizar os processos necessários ao cumprimento de seus objetivos, exportam serviços, bens e produtos para o ambiente, na forma de pareceres, autorizações, orientações, benfeitorias, obras e outras; • A troca entre a organização e o ambiente assume caráter cíclico; os serviços e produtos oferecidos ao ambiente vão alimentar a imagem de que a organização existe e está apta para atender esse ambiente, o que estimula novas demandas; • Se o que é oferecido atende às expectativas dos clientes ou usuários, a organização é considerada efetiva. Caso contrário, sua imagem sofre pressões e desgaste os mais variados; a organização usa a informação recebida do ambiente para corrigir seu desempenho, quando necessário, e para redefinir novos rumos de atuação; e 484 • A organização tende a assumir a estrutura que melhor lhe permita atender as demandas ambientais e a organizar-se em funções adequadas para o cumprimento dos papéis que assume, visando sua missão ou razão de ser. 7.1.2.3 Modelo Sistêmico - Contingencial Embora a abordagem sistêmica permita um conhecimento amplo do funcionamento da organização, a visão oferecida é relativamente abstrata para servir como suporte para a solução de problemas contigenciais, ou seja, o ambiente mutável em que as organizações estão situadas exige flexibilidade para adaptações das mais diversas. A Teoria da Contingência enfatiza o ambiente, suas demandas sobre a dinâmica da organização e a rede de relações formada em decorrência das demandas surgidas e dessas respostas emitidas. Procura esclarecer o que ocorre nas relações entre e intersistemas. Evidencia que a estrutura interna e o funcionamento das organizações guardam relação direta com o ambiente externo. Quanto maior o grau de abertura para com o ambiente, maior a probabilidade de alterações internas decorrentes dos insumos e da dinâmica ambiental externa. Quanto menor o grau de abertura, menor também será o suprimento de energia ou insumos e será maior a probabilidade de entropia, em decorrência da falta de alimentação externa. Em sintonia com os princípios estabelecidos pela legislação vigente, conclui-se, portanto, que as atuais políticas de governo para o desenvolvimento urbano e a regularização fundiária sustentável deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos moradores e da sociedade civil organizada. A participação informa e educa os atores sociais, contribuindo para a capacitação e organização social. Isto tende a gerar organizações que reconhecem as mudanças e incertezas, que compreendem as forças que podem decidir o futuro e que se adaptam melhor a estas contingências. Permite, ainda, a incorporação dos conhecimentos, das experiências e dos anseios sociais na tomada de decisão, incrementando a confiança nas instituições públicas e a redução de conflitos entre atores sociais. Com base nestes fundamentos, os cenários são definidos e selecionados com a participação dos atores sociais, cabendo à equipe técnica gerar subsídios para o processo de negociação com a sociedade, para os pactos políticos e para as decisões a serem tomadas. Os cenários conformam um ponto de partida para a formulação das proposições, que compreendem a última etapa do trabalho, proposições estas que procuram responder aos objetivos que derivam em ações, estratégias e fases de implementação. 7. 2 Qu ad ro Atu al d e Referên ci a e seu Passi vo Amb i en tal – Co n d i cio n an tes e Pro g nó sti co s Ao observar o projeto original da cidade de Ceilândia (sem invasões), pode-se perceber claramente que o aspecto ambiental foi abordado e considerado. A sua instalação foi efetuada apenas sobre o platô (área plana) reservando uma “faixa” entre a cidade e a área de vales (com grandes declividades), com a finalidade de atuar como área de tampão ou de amortecimento. 485 Assim, nesta área foi determinado o estabelecimento de lotes maiores e com uso rural (chácaras), que serviriam como uma barreira de proteção a invasões, inclusive das APP’s, além de um uso menos impactante, com a manutenção de parte do local com vegetação e solo natural, Portanto, já no início da ocupação da área foi verificada a necessidade da proteção da área próxima à linha de ruptura do relevo, extremamente sensível do ponto de vista ambiental, onde se encontram parte das nascentes dos córregos que compõem a bacia do rio Melchior/Taguatinga e suas respectivas matas de galerias. Entretanto, o aumento da pressão por moradia no Distrito Federal, aliado à falta de fiscalização e à atuação do governo, fez com que parte desta área fosse irregularmente substituída por lotes residenciais de forma desordenada, descontrolada e gradativa ao longo dos últimos anos, mudando completamente as características físicas e ambientais da região. Esse processo de urbanização iniciou-se lentamente com invasões de áreas vazias e foi acelerado nos últimos 10 anos, com o parcelamento dos lotes rurais (chácaras). Atualmente, essa urbanização desenfreada da zona rural tem avançado até as áreas com grande declividade, causando grandes danos ambientais como relatado no diagnóstico, inclusive sobre as nascentes dos córregos tributários do rio Melchior e suas matas de galerias (APP’s). Também já é possível perceber o avanço deste processo nas áreas do vale da bacia do rio Melchior, principalmente ao longo da VC-311, onde várias chácaras estão sendo parceladas em pequenos lotes para moradias de baixa renda. Os fatores que hoje atuam no sistema continuam a induzir o parcelamento do solo urbano sem a devida urbanização, o que traz à Administração Pública um pesado encargo que penaliza a todos os cidadãos, seja na distribuição dos investimentos, seja na deteriorização da qualidade de vida e ambiental ou na redução do crescimento econômico. A crescente demanda por espaço urbano, como conseqüência do crescimento populacional ou pelo declínio da produtividade nas áreas rurais, proporcionalmente menos lucrativa do que a transformação do solo rural em urbano, desestabiliza o equilíbrio das relações do mercado imobiliário e os princípios do desenvolvimento sustentável. A oferta de lotes urbanizados, por parte do estado, sempre esteve aquém da demanda, para todas as classes de renda. O preço do terreno, ao agregar a valorização movida pela ocupação, aliado às mudanças na estrutura urbana e à expectativa de melhores condições de mercado, alimenta a especulação imobiliária, gerando novas pressões, realimentando-a. Dada a extrema desigualdade de distribuição de renda, a parcela da população que fica excluída desse mercado inflacionado, procura formas alternativas de atendimento às suas necessidades por meio de parcelamentos irregulares ou ilegais. A expansão da ocupação urbana, motivada pelo baixo preço dos lotes, fica direcionada para áreas consideradas inadequadas para a urbanização, que compreendem áreas de preservação permanente, áreas inundáveis ou com riscos de desabamento. Considerando que o objeto da avaliação deste estudo de impacto ambiental é uma atividade que se encontra em implantação, ou seja, parcelamento irregular do solo, a metodologia adotada foi identificar, analisar e a propor medidas de correção, mitigação e compensação ambiental para os impactos existentes denominados neste trabalho de passivo ambiental. Os impactos que ocorrerão ou possíveis de ocorrerem quando houver a consolidação do empreendimento em análise foram denominados de impactos efetivos e potenciais, respectivamente e abordados com mais detalhes no Item 8. Avaliação de Impactos e Medidas Mitigadoras. 486 Utilizaram-se para identificação e análise dos impactos ambientais existentes, potenciais e efetivos métodos da lista de checagem (check list), avaliando-se os parâmetros, natureza, duração, abrangência, reversibilidade e significância para classificação dos impactos ambientais. 7.2.1 Aspectos da vegetação local O passivo ambiental da flora é representado atualmente pelos espaços em que a cobertura vegetal original nativa foi suprimida para implantação de vias de acesso, lotes, edificações e outras intervenções onde atualmente existe vegetação exótica ao Cerrado ou solos expostos sem vegetação. A vegetação exótica ao Cerrado foi introduzida pelos cidadãos que ocupam a área, com plantações de mangueiras, bananeiras, mamoeiros, goiabeiras, limoeiros, jaqueiras, abacateiros, laranjeiras, eucaliptos e outras espécies. A substituição da vegetação natural por tais espécies exóticas pode prejudicar a flora nativa remanescente das seguintes formas: • fonte ou meio de propagação de pragas e doenças. Esse processo pode ocorrer pela introdução de uma planta contaminada por alguma praga ou agente patogênico que tenha seu ciclo de vida em alguma espécie autóctone, prejudicando o desenvolvimento ou ciclo de vida das espécies nativas afetadas. • ocasionando a competição por luz, água e nutrientes, o que reduz ou impede a regeneração das espécies nativas. Esse processo ocorre porque a planta introduzida recebe tratamento adequado em detrimento das regenerações de espécies nativas. Os espécimes exóticos são plantados, em geral, sobre terrenos “limpos” e, periodicamente, têm seu raio de proteção (coroa) capinado, quando as demais formas de vegetação são removidas, inclusive as regenerações naturais das espécies pré-existentes no local. Assim, a planta exótica desenvolve seu sistema radicular e a parte aérea sem qualquer tipo de competição, permitindo-lhe explorar os recursos naturais, como luz, água e nutrientes, necessários ao seu desenvolvimento e, por outro lado, evitando que as regenerações naturais das plantas nativas explorem tais recursos por não terem seus órgãos plenamente desenvolvidos. Quando as plantas exóticas adquirem maior porte, sombreiam o solo e reduzem a incidência direta de luz sobre as espécies nativas heliófilas, prejudicando seu surgimento e desenvolvimento. As plantas exóticas competem com as espécies nativas que toleram sombra por água e nutrientes, desenvolvendo-se melhor que as nativas por possuírem nesse estágio de vida um sistema radicular melhor adaptado para explorarem esses recursos. • diminuindo a população de algumas espécies da flora nativa pelas alterações promovidas no hábito alimentar dos animais silvestres. A mudança dos hábitos alimentares da fauna silvestre, que possui a função ecológica de agente polinizador e dispersor, pode ser induzida pela apreciação dos novos alimentos fornecidos pelas plantas exóticas. Assim, alguns desses animais podem até deixar de utilizar a flora nativa como fonte nutricional ao adquirirem novos hábitos alimentares, reduzindo as taxas de polinização e de dispersão de frutos e sementes, condição que causa 487 o declínio da taxa natural de propagação das espécies autóctones afetadas e de outras que possuam alguma relação ecológica. Por outro lado, a vegetação exótica ao Cerrado que foi plantada também promove benefícios à sociedade, a saber: • a promoção da cobertura dos solos que estavam anteriormente expostos, evitando, minimizando e até eliminando efeitos adversos das intempéries, como processos erosivos, insolação e aumento das partículas em suspensão no ar. • a utilização de frutos, sementes e outros órgãos como fonte complementar de nutrientes para população. Considerando ser a quase totalidade da população local composta por cidadãos com baixo poder aquisitivo, dos quais muitos se encontram desempregados e possuem pouca escolaridade, a existência de plantas que forneçam alimentos pode complementar a necessidade nutricional dessa comunidade, sem gerar ônus financeiro, reduzindo problemas de saúde correlacionados à desnutrição. • a utilização de frutos, sementes e outros órgãos para diversas finalidades, gerando emprego e renda. A utilização de frutos, sementes, raízes, flores, folhas e outros, para a confecção de artesanatos e outros usos, podem contribuir para a geração de trabalho, quando tais materiais forem empregados. Nos locais em que a vegetação foi removida para implantação de estradas, lotes, edificações e demais benfeitorias houve a perda da retenção de parte da água da chuva que precipita sobre as folhas. No sistema ecológico natural, essa interceptação reduz a energia das gotas de chuva que caem de grandes altitudes, propiciando o gotejamento no solo da água em menor dimensão e velocidade, o que contribui para a infiltração de água no subsolo e regular o escoamento superficial. Portanto, nas áreas em que essa interceptação foi eliminada, as gotas de água precipitam diretamente sobre o solo, compactando sua camada superficial, condição que causa a redução da infiltração de água no subsolo e o aumento do escoamento superficial. Como conseqüência dessas alterações, têm-se: • a redução da recarga das águas subterrâneas, com conseqüente rebaixamento do nível do lençol freático. • o surgimento de processos erosivos. Esse evento ocorre devido ao carreamento de partículas de solo desagregadas pela energia cinética das águas excedentes do escoamento superficial e se processa de duas formas: erosão laminar e erosão em sulcos, causadores das voçorocas ativas ou estabilizadas que ocorrem na área. • processo de assoreamento de corpos d’água. Esse processo ocorre devido à deposição dos sedimentos carreados pelas águas pluviais no fundo das calhas naturais, por onde escoam as águas surgentes e os cursos d’água, intermitentes e perenes. Esse processo de degradação contribui para redução da 488 profundidade do leito natural do rio Melchior e dos córregos do Pasto, Lagoinha, do Meio, Buriti Sereno, do Valo e Grotão. • a ocorrência de enchentes. Esse fenômeno ocorre devido à redução da profundidade das calhas causada pelo assoreamento e à manutenção dos índices pluviométricos, ocasionando o extravasamento das águas pluviais, principalmente durante as precipitações de alta intensidade. • instabilidades próximas à linha de ruptura do relevo e taludes. A ausência de cobertura vegetal sobre o solo próxima à linha de ruptura do relevo e taludes compromete a estabilidade dos solos locais, tornando-os suscetíveis à ocorrência acelerada dos processos erosivos. • a perda de diversidade florística. Esse impacto negativo decorre da eliminação de espécies que possuíam baixas freqüência e densidade. • a perda da proteção dos corpos d’água. A supressão da vegetação estabelecida nas áreas de preservação permanente de corpos d’água expõe esses mananciais à poluição física (assoreamento) e química das águas por não haver mais barreira que impeça o aporte de sedimentos e poluentes para suas calhas. Classificação: impacto negativo, efetivo, temporário/permanente, local, reversível e significativo. • a redução de habitat para fauna silvestre. A perda de parcela da vegetação reduz o espaço utilizado pela fauna silvestre como fonte de abrigo, água e alimentos, tornando o ambiente mais competitivo e causando o afugentamento dos animais. Como conseqüência, ocorrem alterações na cadeia alimentar e tem-se o início do desequilíbrio ecológico local, podendo proliferar diversas pragas que não mais encontram seus mecanismos naturais de controle populacional. 7.2.2 Aspectos da Fauna Local O atual estágio de urbanização da área rural das Bordas de Ceilândia já apresenta um alto comprometimento na manutenção da fauna silvestre local. Os principais impactos diretos advindos desse processo de urbanização descontrolada são a perda, degradação e fragmentação dos habitats naturais (desvegetação, introdução de vegetação exótica, erosão), a coleta de animais, tanto para alimentação (caça) quanto para o comércio (tráfico de animais) e a competição com os animais domésticos e exóticos introduzidos. Além desses, ainda existem outros impactos que também afetam a fauna de forma indireta, como a poluição e contaminação do ar, do solo e dos recursos hídricos, devido a falta de saneamento básico, como coletas de esgoto e de lixo e deficiências nos processos de condução das águas pluviais, etc. Portanto, como resultado desse processo de urbanização ocorrerá uma substituição total da fauna silvestre local, decaindo drasticamente em riqueza, diversidade e abundância, por uma fauna de característica urbana constituída apenas por espécies exóticas invasoras ou domésticas e com poucas espécies silvestres generalistas e comuns de áreas abertas. 489 Além disso, a continuidade e avanço dessa urbanização irão agravar ainda mais essa situação, com o aumento da velocidade, magnitude e amplitude destes impactos, atingindo fortemente também a comunidade faunística silvestre regional, que sofrerá uma forte e rápida depauperação nos próximos anos. Esse avanço sobre a área rural se dará principalmente ao longo da VC-311, que por apresentar um relevo mais suave permite mais facilmente essa expansão, como foi verificado na fase de diagnóstico. Em pouco tempo, somente algumas áreas de mata de galeria (APP) em locais de grande declividade permanecerão, e mesmo assim o grau de degradação e fragmentação não permitirá a manutenção de comunidades faunísticas silvestres nativas nesses locais. Essa situação, inclusive, irá afetar a viabilidade ambiental da ARIE PARQUE – JK, que já apresenta sinais de recuperação no aspecto faunístico, com a melhoria da qualidade da água do rio Melchior/Taguatinga nos últimos anos. 7.2.3 Aspectos do Meio Físico A remoção da vegetação para implantação de estruturas urbanas dos “condomínios” Pôr do Sol e Sol Nascente provocarão impactos sobre o ar, o solo e a fauna, conforme descrito a seguir: 7.2.3.1 Ar • redução da produção de oxigênio (O2). Processo decorrente da diminuição conseqüentemente, da fotossíntese. • índice de área foliar da vegetação e, redução da absorção de gás carbônico (CO2). Processo decorrente da diminuição conseqüentemente, da fotossíntese. • do do índice de área foliar da vegetação e, alteração no micro-clima. Essa alteração ocorre devido ao aumento da insolação, da evaporação e eliminação da evapotranspiração, causando elevação da temperatura e redução da umidade relativa do ar, refletindo diretamente na saúde respiratória da população. • aumento das partículas em suspensão no ar (poeira) durante a estação seca. A substituição da vegetação por outras formas de ocupação do solo aumenta a geração de partículas finas e reduz as barreiras físicas que impedem a sua livre dispersão, causando problemas respiratórios na população. • aumento das partículas em suspensão no ar (poeira) durante as obras de ocupação do parcelamento. O trânsito de máquinas e equipamentos, a ausência de pavimentação asfáltica e a movimentação de solo para execução de obras de engenharia civil elevam a quantidade de partículas finas em suspensão, causando problemas respiratórios na população. 490 7.2.3.2 Água • redução da recarga de aqüífero subterrâneo. Essa interferência decorre da impermeabilização do solo, processo causado pelo desmatamento e pela ocupação do espaço territorial. Dessa forma, as águas pluviais não conseguem infiltrar no solo como antes ou têm a taxa de infiltração significativamente reduzida, fato que também reduz o volume de água que reabastece os aqüíferos poroso e fraturado, podendo causar o rebaixamento gradativo do nível natural desses aqüíferos. • degradação da qualidade física e química das águas superficiais. Com o aumento do escoamento superficial, devido à supressão da vegetação, há um incremento no lançamento de águas pluviais da área de ocupação urbana nos mananciais. Como essas águas não recebem prévio tratamento e escoam por locais onde existem lixo, além das partículas finas, diversos tipos de resíduos sólidos, carreiam tais substâncias poluentes para o leito dos corpos receptores, poluindo-os. 7.2.3.3 Solo • aumento da suscetibilidade às intempéries. A remoção da cobertura vegetal desprotege o solo do impacto direto das gotas de chuva, da insolação e dos efeitos dos ventos, que em todos os casos ressecam-no e contribuem para desagregar suas partículas, tornando-as carreáveis pelas águas e pelo vento. Como conseqüência, podem surgir processos erosivos e assoreamento dos recursos hídricos. • eliminação da proteção do solo mantida pela vegetação das áreas passíveis de ocupação. • compactação e impermeabilização do solo pelas obras de infra-estrutura e pela ocupação residencial. Essas intervenções reduzem ou impedem a infiltração de água no solo e o abastecimento do aqüífero subterrâneo. 7. 3 Co n stru ção d o s Cen ári o s d e Ocu p ação O desenho dos cenários tem como ponto inicial a cena de partida, construída a partir da análise retrospectiva dos dados do diagnóstico, que estabelece as condições de contorno da realidade atual, os caminhos que deram origem a essa realidade, como também identifica as limitações e potencialidades existentes. A análise retrospectiva constitui, também, em fonte básica de informação para a seleção das condicionantes de futuro. O processo de cenarização resultou da interação dos seguintes fatores principais: • As Políticas / Legislação / Estrutura Administrativa – foi avaliada a adequação e os conflitos entre os diversos instrumentos das políticas ambientais, de desenvolvimento urbano e de regularização fundiária, representados pela estrutura político-administrativa e pelo arcabouço legal vigente ou em processo de consolidação; • Os atores sociais – O papel dos agentes, considerados como público-alvo, representados pelos setores públicos (Secretaria de Desenvolvimento Urbano, de 491 Meio Ambiente do Distrito Federal, TERRACAP, dentre outros), setores privados (cooperativas e empreendedores regulares ou irregulares) e, finalmente moradores de áreas urbanas e rurais (regulares, em processo de regularização e irregulares); • As condicionantes do sistema – Referem-se às inter-relações das variáveis previamente identificadas como condicionantes do futuro, especialmente aquelas que têm comportamento mais estável, ou de menor variabilidade - condicionante de baixa incerteza; • Os pontos de ruptura – As possíveis descontinuidades inerentes ao futuro, ou sejam, os pontos de ruptura da evolução da trajetória de cada um dos cenários; • As tendências e a importância das mudanças desencadeadas. Como elementos de análise da situação externa foram consideradas as seguintes condicionantes que atuam no sistema: • • • • • A legislação ambiental, urbanística, de parcelamento e regularização fundiária; Os modelos e os instrumentos de gestão das instituições envolvidas. As demandas por unidades habitacionais no Distrito Federal; A regularização fundiária; e A revisão do PDOT – 2007, em tramitação na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Quanto às possibilidades de ocupação da Área de Estudo, foram considerados quatro Cenários de Ocupação, assim discriminados: CENÁRIO 1 - Cenário Tendencial sem Intervenção Correspondente à permanência da situação atual na hipótese do “nada a fazer” em relação às formas de ocupação presentes nas Bordas de Ceilândia. CENÁRIO 2 - Cenário com Foco na Legislação Ambiental e Urbanística nos seus Aspectos mais Restritivos (Remoção dos “Condomínios”) Correspondente a um cenário condicionado à proteção exclusiva da legalidade e da ordem jurídica vigente, que implicará na remoção das ocupações urbanas em lotes de caráter rural, estabelecido pelo PDOT-1997. Não levará em conta as alterações previstas na revisão do PDOT- Versão 2007, em processo de elaboração e discussão com a sociedade e não adotará os instrumentos alternativos de regularização fundiária preconizados pela Constituição e pelo Estatuto da Cidade. CENÁRIO 3 - Cenário Social com Restrição de 100m da Linha de Ruptura do Relevo Corresponde à aplicação de instrumentos de regularização fundiária aplicáveis às Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS, respeitando as restrições ambientais da área, definidas numa faixa de 100m da linha de ruptura do relevo, estabelecidos sob o ponto de vista da precaução, levando-se em consideração os parâmetros urbanísticos e o novo zoneamento preconizado pelo PDOT-2007 em sua versão preliminar, em tramitação na Câmara Legislativa. 492 CENÁRIO 4 - Cenário Social com Restrição de 30m da Linha de Ruptura do Relevo Corresponde a um cenário que se diferencia do Cenário 3 apenas no que se refere ao nível de restrição para ocupação a partir da linha de ruptura do relevo. Foi definida uma faixa de 30m da linha de ruptura do relevo, estabelecidas sob o ponto de vista de risco geotécnico. Esta faixa de 30m foi estabelecida com base nas condições geotécnicas da área, descritas no Capítulo Aspectos Geológico-Geotécnicos (Tomo I). Os solos locais (latossolos) apresentam parâmetros geotécnicos, descritos a seguir, que permitiram o estabelecimento dessa faixa de risco. Trata-se de um solo composto por areias, siltes e argilas, que lhes conferem uma coesão média em torno de 2 kg/cm2 e um ângulo de atrito médio da ordem de 240, de acordo com o resultado dos ensaios de granulometria realizados no laboratório da Universidade de Brasília e apresentados no item 6.3.2 (Tomo I). A partir desses dois parâmetros, pôde-se inferir que a única forma de ruptura que pode ocorrer neste tipo de solo é o desabamento em forma de cunha, representado graficamente pelo Círculo de Mohr, com raio igual a 30m, que corresponde à espessura do solo local. Como todas as sondagens a percussão realizadas para a caracterização da espessura deste tipo de solo para os projetos executivos do Metrô de Brasília, para o Centro Administrativo de Taguatinga, para o Setor Habitacional Mangueiral e inspeções visuais em voçorocas, indicaram profundidades nunca superiores a 30m, esta espessura de 30m foi tomada como representativa para toda a área. Abaixo dessa profundidade, posicionam-se os solos de alteração de rocha ou rocha alterada, com estabilidade muito maior do que a dos solos superiores. Desta maneira, a faixa de risco geotécnico se situa somente em latossolos localizados desde a linha de ruptura, até uma distância de 30m, no máximo. Deve-se levar em consideração que a equipe responsável pelos estudos geotécnicos, não detectou nenhum desabamento em toda a região estudada, o que demonstra a estabilidade dos solos da área. A ocorrência de qualquer deslizamento ou desabamento além desses 30m é geotecnicamente improvável, haja vista que além do solo superficial, a cunha de deslizamento deveria ser também responsável pela ruptura do maciço rochoso subjacente. 7.3.1 Cenário 1 - Cenário Tendencial sem Intervenção O Cenário Tendencial prevê a permanência e expansão desordenada das ocupações urbanas denominadas “condomínio” Sol Nascente e “condomínio” Pôr do Sol. Estas ocupações surgiram já em condições bastante precárias na periferia de Ceilândia, e ao longo dos últimos anos foram tomando proporções maiores, degradando as condições de habitabilidade da população local e do meio ambiente natural. Os fatores que hoje atuam no sistema continuariam a induzir novos parcelamentos do solo urbano, sem a necessária urbanização, o que traria à Administração Pública um pesado encargo que penalizaria toda a comunidade, seja na distribuição de investimentos, seja na deterioração da qualidade de vida e ambiental, ou na redução do crescimento econômico. O descumprimento dos preceitos constitucionais e legais ou das normas de segurança ficam evidentes quando se detectam na área situações como as descritas a seguir: 493 • Intenso processo de ocupação para fins de moradia, em áreas desprovidas de infraestrutura de saneamento básico; • Contaminação das nascentes, das águas superficiais e subterrâneas por coliformes fecais, colocando em risco a saúde da população. Os coliformes têm sua origem associada ao lançamento de esgoto in natura ou às fossas existentes na região; • Concentrações elevadas de nutrientes (fósforo, nitratos, nitritos e amônia) nas águas superficiais, relacionadas com a utilização de fertilizantes, à deposição irregular de lixo nas áreas urbanas e ao lançamento de efluentes da usina Central de Tratamento de Lixo e das águas servidas das ETEs Samambaia e Melchior; • Processo intensivo de transformação da paisagem, cujos vetores de ocupação avançam em direção às encostas e fundos dos vales sujeitos a processos erosivos; • Substituição progressiva da vegetação nativa por espécies invasoras como bambu e capim braquiária; • Ocupação de áreas ribeirinhas com riscos de inundação e destruição de matas ciliares, importantes corredores da fauna silvestre, servindo como refúgio, abrigo e fonte de alimento; • Invasões e desmatamentos de APPs, de Reservas Legais, de Unidades de Conservação e de Áreas de Proteção de Mananciais, provocando a redução da biodiversidade e a extinção de espécies nativas raras ou de distribuição restrita; e • Processos erosivos ativos instalados nas cabeceiras dos rios e em manchas de solo exposto pela extração mineral, contribuindo para ampliar o passivo ambiental da área de estudo. Assim, neste cenário, ficariam mantidas as ocupações existentes nas matas ciliares em toda a extensão dos cursos d’água e nos 50m ao redor das nascentes, contrariando os dispositivos do Código Florestal. As ocupações de encostas mais íngremes com alto poder erosivo, permanecerão em franco processo de expansão, intensificando os processos erosivos e o assoreamento dos cursos d’água. As populações, que hoje ocupam irregularmente a área, continuariam sob a ameaça da remoção. Não poderiam constituir e ter posse de suas habitações definitivas, o que contraria o preceito constitucional de direito à moradia. Sem a posse, o ocupante não investe em benfeitorias no terreno o que contribui para a progressiva degradação dessas áreas irregularmente ocupadas. A expectativa da posse (e até da propriedade) existe, e é isso que favorece a apropriação irregular. Os ocupantes conhecem a real dimensão desse processo. A cada versão do PDOT as “áreas objeto de regularização” se sucedem e se incorporam à legislação. Além destes, outros problemas, não menos importantes, continuariam sem solução, podendo-se citar, dentre outros: • Extração mineral em áreas com alta sensibilidade a danos; 494 • Controle da ocupação e fiscalização ambiental insatisfatórios pela inadequação da estrutura administrativa e pela carência de recursos humanos e orçamentários; • Problemas graves de segurança pública potencializados pelas desigualdades socioeconômicas, pela carência de moradia e de serviços básicos e pela falta de controle efetivo do estado na coibição da violência; • Precariedade dos serviços de transporte, de saúde e de educação pela escassez de recursos financeiros e orçamentários; • Carência de áreas para recreação, esporte e lazer; • Descontinuidade espacial do tecido urbano, de um loteamento para outro e de vias estruturais de relevância para a região; • Impedimento de averbação dos imóveis de loteamentos informais em cartório; • Falta de técnicos em número e qualificação para controlar e fiscalizar o processo de crescimento urbano e a deteriorização da qualidade de vida e ambiental; e • Falta de uma definição clara das responsabilidades e atribuições dos diversos órgãos reguladores das questões urbanas e ambientais. 7.3.1.1 Aspectos Urbanísticos e Sócioeconômicos O “condomínio” Sol Nascente está localizado nas proximidades das quadras QNP da Ceilândia, em direção à VC-311 e aos córregos do Meio, Grotão e do Valo. Possui 15.000 unidades domiciliares, o que totaliza uma população de 67.000 pessoas. Das 15.000 unidades domiciliares ou lotes, como chamam os moradores, cerca de 10% se encontram desocupados, o que permite afirmar que uma vez consolidada a ocupação, de acordo com o atual modelo implementado no “condomínio”, a população final chegaria a 75.000 pessoas. Assim, o Sol Nascente seria o “bairro” mais populoso da Ceilândia, ultrapassando inclusive o Setor P-Sul, que tem população atual de 69.000 pessoas. O “condomínio” Por do Sol possui 28 quadras, 1.983 lotes e 1.422 unidades domiciliares, o que totaliza uma população aproximada de 7.100 pessoas. Dos lotes atualmente existentes, 541 estão desocupados, o que sugere que uma vez consolidada a ocupação, de acordo com o atual modelo implantado no “condomínio”, a população final chegaria a 9.800 pessoas. Evidente que essa projeção populacional considera tão somente a ocupação dos lotes atualmente existentes, lembrando-se que são ocupados em geral por apenas uma unidade familiar, o que demonstra o pouco predomínio de relações de parentesco e a pequena tendência de parcelamento de lotes. Tabela 138 - Projeção de crescimento populacional – 2010 (Aqui pode ser 2015, mas com a rapidez com que as ocupações aconteceram já em 2010 eles devem estar totalmente ocupados, num cenário tendencial) “Condomínio” Sol Nascente Pôr do Sol Total População Atual 67.000 7.100 74.100 População Estimada 75.000 9.800 84.800 495 As condições de ocupação nos “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol são problemáticas e apresentam pendências fundiárias e infra-estruturais, além de sobreposição com áreas que possuem restrições ambientais e legais. Resultado deste modelo de ocupação são as inúmeras voçorocas, ao longo dos “condomínios”. As questões de saúde constituem também sérios problemas locais, uma vez que estão diretamente relacionadas à falta de saneamento básico. Ocorrem com freqüência infecções na pele e nos olhos das crianças, problemas respiratórios, verminoses, diarréias e rotavirose. Nos “condomínios” falta planejamento urbano, visto que são invasões. Falta esgotamento sanitário, há presença de lixo em todas as quadras, má qualidade da água consumida, presença de pocilgas, excesso de poeira e, devido à ausência da rede de canalização das águas pluviais em setores da Ceilândia, as enxurradas “descem” no período de chuvas, passam pelos “condomínios” e vão desaguar nos córregos tributários do rio Melchior. No modelo atual de ocupação há uma correlação de fatores que caracterizam o local: ocupações desordenadas, degradação ambiental, ausência de saneamento e saúde pública, conivência governamental e desigualdade social. A combinação destes fatores cria legiões de pessoas fadadas aos riscos ambientais, próprios de comunidades pobres, desinformadas e em ambientes com latente desequilíbrio ecológico. Além destes, outros problemas são elencados para esta população: baixa renda e pouca escolaridade; dificuldade no acesso a transporte coletivo; baixo padrão construtivo e baixo índice de associativismo que poderia, teoricamente, facilitar a conquista coletiva dos direitos cidadãos (individuais, sociais e políticos). Neste cenário, verifica-se que a condição de ilegalidade destes parcelamentos favorece a expansão desordenada em áreas ainda não ocupadas, a ocupação em áreas de preservação ambiental e o reparcelamento de chácaras rurais remanescentes em lotes de habitação unifamiliar. 7.3.1.2 Impactos do Cenário 1 Neste contexto a permanência dos assentamentos na condição atual de ocupação gera diversos impactos negativos à população local e ao Distrito Federal, como um todo. Não há indícios de que os fatores indutores deste tipo de ocupação irregular nas Bordas da Ceilândia tenham desaparecido. Entende-se por fatores indutores a necessidade de casa própria, a fuga do aluguel e a pressão por parcelamento urbano que descaracterizou as áreas rurais outrora existentes onde hoje estão os “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol. Neste Cenário Tendencial predominam os aspectos negativos, de um imenso passivo ambiental representado pelos assentamentos presentes, configurados de forma desordenada, fora dos padrões urbanísticos do Distrito Federal, e que carecem de infraestrutura e de serviços públicos urbanos. Esta situação gera uma condição de insalubridade para a população local, bem como a baixa qualidade de vida promovendo a exclusão social e o aumento da criminalidade. A permanência dos “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol nas condições atuais de ocupação, e de ilegalidade, não é recomendada, uma vez que existe uma tendência à expansão urbana, podendo resultar em uma futura situação de falta de controle, e ausência do Estado no local. 496 São considerados impactos negativos para o Cenário 1: • Intenso processo de ocupação para fins de moradia, em áreas desprovidas de infraestrutura de saneamento básico; • Reparcelamento de chácaras rurais remanescentes em lotes de habitação unifamiliar; • Desobediência ao estabelecido na Lei Federal nº. 6.766, por meio do parcelamento de lotes com áreas inferiores a 125 m2; • Conflitos de vizinhança entre atividades rurais (ainda existentes) e os parcelamentos nos “condomínios”; • Contaminação das nascentes, das águas superficiais e subterrâneas por fertilizantes, lixos, esgotos e efluentes (Usina Central de Tratamento de Lixo – UCTL), colocando em risco a saúde da população; • Substituição progressiva da vegetação nativa por espécies invasoras como bambu e capim braquiária; • Ocupação de áreas ribeirinhas com riscos de inundação e destruição de matas ciliares, importantes corredores da fauna silvestre, servindo como refúgio, abrigo e fonte de alimento; • Invasões e desmatamentos de APPs e de Unidades de Conservação, provocando a redução da biodiversidade e a extinção de espécies nativas raras ou de distribuição restrita; • Ocupação em APPs e em áreas de risco; • Instalação e intensificação de processos erosivos nas cabeceiras dos rios, em encostas íngrimes, em fundos de vales e em manchas de solo exposto pela extração mineral, contribuindo para o assoreamento dos cursos d’água; • Ausência de investimentos em benfeitorias nos terrenos por parte do ocupante, o que contribui para a progressiva degradação dessas áreas irregularmente ocupadas; • Continuidade das atividades de extração mineral em áreas com alta sensibilidade a danos; • Problemas graves de segurança pública potencializados pelas desigualdades socioeconômicas, pela carência de moradia e de serviços básicos e pela falta de controle efetivo do estado na coibição da violência; • Precariedade dos serviços de transporte, de saúde e de educação pela escassez de recursos financeiros e orçamentários; • Impedimento de averbação dos imóveis de loteamentos informais em cartório; • A configuração de um tecido urbano desordenado, com a existência de diversos condomínios fechados, gerando ruas sem saída e sem integração com o restante da rede viária, dificultando a acessibilidade do local, sobretudo para os serviços públicos de transporte, coleta de lixo e segurança; 497 • A geração de espaço urbano, com áreas públicas e vias sub-dimensionadas, e com uma quase total ausência de Equipamentos Públicos Comunitários. Este fato não só degrada a qualidade do espaço urbano como mantém a população local dependente dos equipamentos de Ceilândia para os atendimentos dos serviços de saúde, educação, cultura, esporte e lazer; • Ocupação urbana irregular do Parque Ecológico e de Uso Múltiplo da Lagoinha; • Carência de infra-estrutura urbana, principalmente com relação ao esgotamento sanitário, drenagem pluvial e sistema viário; e • Tendência à invasões na faixa de domínio da estrada vicinal VC-311. 7.3.2 Cenário 2 – Cenário com Foco na Legislação Ambiental e Urbanística nos seus Aspectos mais Restritivos (Remoção dos “Condomínios”) Esse cenário tem como critério o cumprimento rigoroso dos parâmetros preconizados na legislação urbana e ambiental, sobremodo no que tange ao PDOT/97. Serão incorporadas à elaboração destes cenários as propostas do MPDFT expressas no Termo de Recomendações 041/2004. Salienta-se que as recomendações do MPDFT referem-se ao Núcleo Habitacional Sol Nascente que ocupa uma Zona Rural de Uso Diversificado, cujos limites e restrições estão estabelecidos no PDOT-97 e no PDL de Ceilândia. A regularização das áreas ocupadas pelos “condomínios” Sol Nascente e Pôr-do-Sol ficaria restrita àquelas dentro da poligonal da Zona Urbana. No entanto, o PDOT-97 está em pleno processo de revisão. De acordo com o novo PDOT a área de estudo das Bordas de Ceilândia passa a se inserir na Zona Urbana de Expansão e Qualificação e, portanto, passível de regularização. Desta forma, fica evidente que um novo cenário de ocorrência muito mais provável, está se delineando a partir da aprovação da Lei Complementar que instituirá o PDOT-2007. Trata-se, por outro lado, do cenário mais improvável, na medida em que o poder público deverá exercer seu poder de controle da ocupação de forma incisiva. Pondera-se, por exemplo, que a reversão do quadro atual, mediante a desconstituição de lotes menores que 2 ha, deverá gerar conflitos jurídicos a um custo político difícil de suportar. 7.3.2.1 Aspectos Urbanísticos e Sócioeconômicos Este Cenário Restritivo prevê para as Bordas da Cidade de Ceilândia a aplicação de condicionantes legais, urbanísticos e ambientais na sua forma mais restritiva. Neste cenário, parte do “condomínio” Pôr do Sol e praticamente todo o “condomínio” Sol Nascente deverão ser desconstituídos. Há uma lista de condicionantes legais e ambientais à ocupação das áreas onde se encontram esses “condomínios”, e cumpre aqui fazer breve histórico. 498 Segundo o PDOT/97, a área ocupada do “condomínio” Sol Nascente se encontra em Área com Restrição Físico Ambiental, onde se destaca o artigo a seguir. “Art. 32. As Áreas com Restrições Físico-Ambientais são aquelas cujas características ou proximidade com Zonas de Conservação Ambiental justificam cuidados especiais quanto ao seu uso e ocupação. § 1º As Áreas com Restrições Físico-Ambientais compreendem as faixas de tamponamento no entorno de unidades de conservação, bem como as áreas com restrições físicas e bióticas nas imediações de zonas urbanas. § 2º A aprovação dos tipos de uso estará condicionada à análise do órgão gestor da unidade e às recomendações contidas nos Planos Diretores Locais”. No que se refere ao § 2º do art 32, o Plano Diretor Local de Ceilândia reafirma o zoneamento da Área de Restrição Físico Ambiental, sem nenhuma indicação quanto à possibilidade de ocupação urbana. O PDL cria a Área Perimetral Verde, dentro da poligonal da Área de Restrição Físico Ambiental, como uma faixa de largura variável, de acordo com as peculiaridades físicas do local a ser definida por projeto específico. Esta faixa deverá estabelecer a transição entre as áreas de ocupação urbana e rural, de onde se conclui que a ocupação na área do Sol Nascente deverá ser rural. A Área Perimetral Norte, destinada à implantação de equipamentos comunitários, também é criada pelo PDL no Sol Nascente. Nessa área destaca-se o Parque da Lagoinha, integralmente ocupado por residências urbanas, conforme croqui a seguir. Conforme já mencionado no presente estudo, em 2004, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, autuou a TERRACAP por intermédio da Recomendação 041/2004, onde aludiu que esta, juntamente com outros órgãos de administração direta e indireta do GDF, deveriam promover ações de desconstituição dos parcelamentos nas bordas de Taguatinga e Ceilândia, em especial os “condomínios” Por do Sol e Sol Nascente, de modo que a área retornasse às características típicas de zona rural. Com relação ao “condomínio” Pôr do Sol, também de acordo com o PDOT/97, parte deste assentamento encontra-se em Zona Urbana de Dinamização, sendo possível a sua regularização urbana e a outra parte encontra-se concomitantemente na Área Rural Remanescente de Taguatinga e na ARIE JK. Esta parte do Pôr do Sol é definida no Plano de Manejo da ARIE JK como Área de Conflito 1. 499 160500 162000 163500 8250000 8250000 Legenda Parque Ecológico e de Uso Múltiplo - LAGOINHA Área de Estudo 8248500 8248500 N Escala: 1:15.000 300 0 300 600 Metros PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR DATUM - ASTRO CHUÁ ZONA 23 L PROGEA Engenharia e Estudos Ambientais 160500 162000 Fonte: Imagem QUICKBIRD (cena de 03/03/2007). Mapa Ambiental 2006 - SEMARH-DF 163500 Parque Ecológico e de Uso Múltiplo - Lagoinha Além disso, o “condomínio” Pôr do Sol, de acordo com o ordenamento territorial do Plano Diretor Local de Ceilândia, aprovado pela Câmara Legislativa por meio da Lei Complementar nº. 314, de 1 de setembro de 2000, encontra-se localizado na Área Perimetral Sul, que “consiste numa faixa de terra localizada a sul e a oeste do Setor P Sul, destinada à implantação de equipamentos comunitários” em área contígua à ARIE JK. A ocupação no “condomínio” Pôr do Sol, como já relatada neste relatório, começou em 2000 num processo que se pode dizer, impulsionado pelo crescimento do “condomínio” Sol Nascente, por um lado e pela demanda por moradia de parte considerável da população de Ceilândia, Taguatinga e Samambaia, por outro lado. Existiam chácaras rurais parceladas e vendidas a moradores nas proximidades que buscavam alternativa ao aluguel. Na verdade, há chácaras no local com placa indicativa de que ali se tratava do 3º acréscimo do Núcleo Rural Taguatinga, ou seja, uma área rural, contígua ao Núcleo Rural Taguatinga. Assim, se as condições de ocupação dos “condomínios” Sol Nascente e Por do Sol têm problemas fundiários e infra-estruturais, também são recorrentes as questões de sobreposição com áreas que apresentam restrições ambientais, legais e de destinação do solo. Em suma, se considerada a legislação sob o enfoque deste Cenário, a regularização dos “condomínios” Sol Nascente e Pôr do Sol só poderia ocorrer em Zona Urbana de Dinamização – PDOT/97, conforme assinalado na ilustração a seguir. Ilustração 312 - Áreas Passíveis de Regularização – Cenário restritivo Esta condição indica que dos 845 ha ocupados pelo “condomínio” Sol Nascente, apenas 72 ha, ou seja, 8% da área total poderão ser regularizados, enquanto que no “condomínio” Pôr do Sol, que ocupa uma área de aproximadamente 120 ha, somente 43 ha, ou seja, 36% poderiam ser regularizados na mesma situação. 501 Isso significa que 92% da área ocupada pelo Sol Nascente deverão ser desconstituídos, o que representaria a remoção de cerca de 15.400 famílias, e no Pôr do Sol 64% da área ocupada também deverão ser desconstituídas, representando a remoção de aproximadamente 1.136 famílias. 7.3.2.2 Aspectos Legais e Ambientais Aplicáveis ao “Condomínio” Pôr do Sol De acordo com a Lei 6.766/79, serão mantidos todos os padrões de urbanização exigidos, os recuos mínimos e os índices de ocupação. É o cenário que adota os critérios mais restritivos da legislação e o que resultará em maiores custos de implantação, consagrando o controle ambiental e a regularização fundiária como critérios primordiais de orientação da ocupação do solo. A consolidação desse cenário passa inexoravelmente pela regularização fundiária, valendose dos institutos jurídicos vigentes. Não serão adotadas, nesse contexto de regularização, experiências pilotos ou propostas de inovações legislativas. O sistema jurídico brasileiro contém inúmeros instrumentos que por si só suscitam acalorados debates e controvérsias. É imperioso admitir que a regularização de posses e construções não prescinde da urbanização de áreas informais e do fornecimento à população de infra-estrutura básica de serviços públicos essenciais. O parcelamento do solo para fins urbanos somente será admitido no “condomínio” Pôr do Sol, situado parcialmente em Zona Urbana de Dinamização, de acordo com o PDOT-1997 e deverá ser precedido da implantação de infra-estrutura básica, nos termos do art. 2, §§3º, 4º e 5º e do art. 4°, da Lei 6.766/79. Ressalte-se que a porção “sul” do “condomínio” que se encontra no interior da ARIE JK (Área de Conflito1) deverá ser totalmente desconstituída por exigência do seu Plano de Manejo. Pela Lei nº. 6.766/79, os lotes terão área mínima de 125m2, salvo se a legislação especifica determinar maiores exigências. Esta definirá ainda, nesta zona, os usos permitidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo, que incluirão obrigatoriamente as áreas mínimas e máximas de lote e os coeficientes máximos de aproveitamento. A regularização fundiária dos loteamentos urbanos dar-se-á nos termos do que determina a força-tarefa do Ministério Público do Distrito Federal, criada para estudar alternativas de regularização e que defende a licitação como a única forma de legalização dos condomínios e lotes irregulares. Para a consecução das medidas administrativas em questão, não poderá ser esquecida a previsão das dotações orçamentárias indispensáveis à execução dos programas de regularização e fornecimento de infra-estrutura básica. O Poder Público, com sua capacidade de investimento multiplicada, numa perspectiva otimista de cenário, deverá fazer investimentos necessários para efetivação dos objetivos, diretrizes e metas do Plano Diretor. 7.3.2.3 Aspectos Legais e Ambientais Aplicáveis ao “Condomínio” Sol Nascente As ocupações urbanas existentes nas matas ciliares ao longo dos cursos d’água e num raio de 50m ao redor das nascentes e as pastagens em encostas íngremes, acima de 20%, com alto potencial erosivo, serão substituídas por vegetação florestal. Uma redução significativa da produção de sedimentos poderá ser obtida com a substituição de pastagens e ocupações em APPs por vegetação nativa. As áreas sensíveis deverão ser ocupadas com atividades comunitárias (hortas comunitárias, fruticultura, floricultura, agricultura orgânica), com projetos experimentais de revegetação ou de recuperação de áreas degradadas, mantendo-se o equilíbrio ecológico através da não 502 utilização de agrotóxicos ou de qualquer outro elemento que possa vir a prejudicar o meio ambiente. Quando constatada a ausência de Reserva Legal nos empreendimentos rurais, o órgão ambiental orientará o empreendedor para a regularização da situação. A averbação de Reservas Legais em áreas rurais não está ainda incorporada aos processos de licenciamento. Imprecisão na delimitação dos lotes, burocracia excessiva para tramitação dos processos e indefinição das responsabilidades e competências dos órgãos envolvidos têm praticamente inviabilizado o processo de averbação das Reservas Legais. Prevê-se, portanto, que no desenvolvimento deste cenário, mesmo numa visão otimista, este requisito não será contemplado em toda a sua abrangência. As vertentes escarpadas, com declividades entre 10 e 20%, serão ocupadas por lotes individuais, com atividades do novo rural brasileiro. Os planos e programas de desenvolvimento deverão incentivar a regularização fundiária das propriedades beneficiárias, aplicando os instrumentos da legislação vigente. A regularização das áreas rurais será feita em articulação com as associações rurais de chacareiros, definindo-se áreas de desapropriação por interesse rural, áreas destinadas à concessão de uso especial para fins de moradia e à concessão real de uso. Deverão ser assinados com os órgãos ambientais e licenciadores e com o Ministério Público Termos do Ajustamento de Conduta – TAC, onde estarão previstos os prazos, metas, etapas e as condicionantes do processo de regularização. Os proprietários em cumprimento às condicionantes estabelecidas nos TACs, comprometem-se a manter intactos os remanescentes de vegetação nativa e a proceder à recuperação da cobertura vegetal em áreas degradadas. 7.3.2.4 Restrições ao Desenvolvimento do Cenário 2 Uma das restrições ao desenvolvimento desse Cenário refere-se ao enorme passivo social e ambiental deixado pela forma como foi conduzida a maior parte dos últimos assentamentos realizados na área, isto é, com a única preocupação de distribuir lotes, sem um planejamento cuidadoso da infra-estrutura local. Trata-se do passivo sócio-ambiental causado pela falta de regulamentação do poder público, disciplinando, coibindo ou regularizando os usos que há anos acontecem na região. Existe um enorme descontentamento em relação à Lei 6.766/79 e a revisão que foi feita (Lei 9.785/99). A revisão acabou não resolvendo uma série de questões que ainda estão pendentes, uma delas diz respeito à regularização de novos parcelamentos e sua relação com os novos instrumentos presentes no Estatuto da Cidade. Como tratar a questão de baixa renda, dos loteamentos populares e dos condomínios fechados que não existem no ordenamento jurídico e urbanístico? O Projeto de Lei 3.057/00, em discussão no Congresso Nacional desde o ano 2000, propõe alterações na Lei 6.766/79, e a nova lei, quando aprovada, oferecerá ao Poder Público uma maior capacidade de intervir e enfrentar os desafios de constituir cidades sustentáveis. Outro óbice para a consolidação desse cenário diz respeito à incapacidade dos órgãos do GDF em se estruturar em curto prazo para atender às demandas geradas pelas novas formas de ocupação e arcar com todos os custos de fiscalização, regularização fundiária, indenizações, relocações e prestação de serviços. 503 7.3.2.5 Impactos do Cenário 2 Positivos • Adequação aos padrões de urbanização exigidos pela Lei 6.766/79 (recuos mínimos, índices de ocupação, implantação de infra-estrutura básica, dentre outros); • Preservação da qualidade ambiental; • Recuperação ambiental do Parque Ecológico e de Uso Múltiplo da Lagoinha; e • Regularização fundiária de toda a área. Negativos • Inexistência de áreas passíveis para instalação da população a ser relocada; • Custos elevados para implantação da nova cidade como fiscalização, regularização fundiária, indenizações e implantação de infra-estrutura, como abastecimento de água, tratamento de esgotos, obras de drenagem pluvial, instalação de redes de energia e telefonia, etc.; • Necessidade de recuperar toda a área atualmente ocupada pelos “condomínios” com remoção de entulhos e recuperação da área; • Necessidade de delimitar uma nova área e novos estudos de impacto ambiental no DF para depositar todo o entulho produzido; e • Remoção de 16.536 famílias, sendo 15.400 no Sol Nascente e 1.136 no Pôr do Sol, incluindo as 2.500 ocupações irregulares estimadas no Parque Ecológico e de Uso Múltiplo da Lagoinha. A remoção das famílias causará conflitos sociais a exemplo do que aconteceu no Parque da Vaquejada em janeiro e novembro de 2007. No Parque da Vaquejada situavam-se predominantemente loteamentos sem a cessão da posse do terreno e sem a garantia de infra-estrutura básica para a sobrevivência em condições dignas. De propriedade da TERRACAP, a área foi cedida à iniciativa privada, durante o governo Roriz, para a realização de eventos. No entanto, o terreno acabou nas mãos de grileiros, que parcelaram e venderam os lotes, com promessas de que a área seria regularizada. No dia 23/01/2007, o Parque da Vaquejada sofreu uma operação de derrubada de 145 barracos e quatro galpões, que abrigavam 174 famílias. O início da operação foi marcado por conflitos entre 500 policiais militares e moradores. Na tentativa de evitar as derrubadas, os moradores fizeram um paredão humano e queimaram pneus para impedir a passagem de tratores, e alguns entraram em suas casas e se recusaram a sair. Teve como resultado dez prisões e três policiais feridos. Além dos militares, participam da operação o Batalhão de Operações Especiais (Bope), um pelotão de polícia montada, policiais da Ronda Ostensiva Tático Metropolitana (Rotam) e agentes do antigo Siv-Solo. Ao todo são 800 pessoas envolvidas. Em 29/11/2007, seis grileiros de terras foram presos quando ocupavam a área do Parque da Vaquejada, na tentativa de tentar reaver a terra desocupada pelas autoridades no dia 504 23/01/2007. No local estavam armadas cerca de 70 barracas de camping com aproximadamente 140 pessoas, além de uma construção em andamento de 30 metros quadrados que estava sendo erguida no local. Cerca de 40 pessoas da Polícia Civil, Polícia Militar, Terracap, SLU, Sufis e Sudesa participaram da retirada que foi pacífica. Após saída dos invasores, os seis grileiros foram encaminhados para a 19ª DP do P Sul. Todos os seis tem passagem pela polícia e vão responder em liberdade pelos crimes de incitação a prática de crime (Art 286) e por esbulho possessório (Art 161), que corresponde a invasão de imóvel alheio, e se condenados podem passar até um ano na prisão. Os detidos assinaram um termo circunstanciado se comprometendo a comparecer perante o juiz quando chamados e foram liberados. Como conseqüência dessa derrubada parcial, a área do Parque ficou dividida em duas porções distintas, conforme se observa no croqui apresentado a seguir: • Uma área (A), ao norte do Parque, sem habitações, apenas com entulho das obras provenientes das derrubadas; e • Uma área (B), ao sul, totalmente invadido por residências irregulares que não foram derrubadas. Conforme pode ser comprovado pela análise do zoneamento da região (Mapa de Restrições Físico-Ambientais - PRG-BRD-19) que delimitou as áreas com baixa fragilidade ambiental e, portanto, com potencial para ocupação urbana, estas áreas são passíveis de urbanização, uma vez que apresentam atributos físicos favoráveis à ocupação, tais como, relevos planos, ausência de APPs, como nascentes, córregos, sem vegetação, dentre outros atributos. No local da área A, haja vista a inexistência de fator ambiental limitante, recomenda-se a elaboração de um projeto urbanístico para a instalação de equipamentos urbanos com toda a infra-estrutura necessária, como rede de esgoto, rede elétrica, distribuição de água, rede de águas pluviais, coleta de lixo, asfalto, etc. Para a área B, atualmente ocupada por invasões, recomenda-se a regularização dos lotes, desde que obedecidas todas as recomendações de ordem urbanística e de infra-estrutura propostas neste relatório. 505 163500 164000 8250000 8250000 ÁREA - A 8249500 8249500 Legenda ÁREA DE ESTUDO ÁREA - A e B, DO PARQUE DA VAQUEJADA HIDROGRAFIA ÁREA - B N 8249000 8249000 Escala: 1:3.000 40 0 40 80 120 160 Metros PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR DATUM - ASTRO CHUÁ ZONA 23 L PROGEA Engenharia e Estudos Ambientais 163500 164000 CROQUI PARQUE DA Fonte: Base Catográfica SICAD-DF (Codeplan). Elaboração temática em ambiente ArcView 3.2. VAQUEJADA 7.3.3 Cenário 3 - Cenário Social com Restrição de 100m da Linha de Ruptura do Relevo È um cenário intermediário entre os dois primeiros alternativos, onde será permitida a permanência dos moradores em parte da área invadida e a remoção dos que estiverem em APPs ou em áreas com restrições de uso e ocupação. O Cenário Social com Restrição de 100m da Linha de Ruptura do Relevo prevê a aplicação de novos instrumentos legais de regularização das ocupações aplicáveis às Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS, respeitando as restrições ambientais e os riscos à saúde e segurança da população moradora nas Bordas da Cidade de Ceilândia. No presente cenário, as regiões adjacentes à linha de ruptura do relevo, ainda que não atinjam a declividade de 100% e caracterizem “borda de chapada” conforme Resolução CONAMA 303/2002, possuem uma área de segurança, sem edificações e revegetada, em faixa de 100m estabelecida a partir da linha de ruptura do relevo, sob o ponto de vista da precaução. Apresenta-se a seguir um croqui da faixa de 100m medida a partir da linha de ruptura do relevo. Para tanto, está sendo apresentado um zoneamento da região em termos da fragilidade ambiental, considerando os aspectos legais físicos e bióticos. Esse Mapa de Restrições Físico-Ambientais (PRG-BRD-19) delimita as áreas com potencial de ocupação urbana (baixa fragilidade ambiental), excluindo as áreas situadas na faixa de 100m da linha de ruptura do relevo, sobre antigos depósitos de lixo e as Áreas de Preservação Permanentes (APPs), como margens dos córregos (30m), áreas de nascentes (50m), veredas (50m), borda de chapada (100m), reservatórios e declividades maiores ou iguais do que 45º. A área considerada com potencial de urbanização deverá sofrer uma reestruturação e ordenamento urbanístico, levando em consideração também as questões e requisitos ambientais. Neste local deverá ser elaborado e implementado um projeto urbanístico com toda a infra-estrutura necessária, como rede de esgoto, rede elétrica, distribuição de água, rede de águas pluviais, coleta de lixo, asfalto, etc. As áreas “vazias” dentro da região redefinida como urbanizável poderão ser utilizadas para a relocação dos lotes que serão removidos ou para instalação de equipamentos urbanos obrigatórios (vide Mapa PRG-BRD10). Tais áreas apresentam atributos físicos e bióticos favoráveis à ocupação, tais como, relevos planos, ausência de APPs, dentre outros. Este cenário incorpora os princípios e diretrizes adotadas na elaboração da proposta de Revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal, que resultará na Proposta de Lei Complementar, em discussão em várias instâncias políticas, administrativas e empresariais. Além dos preceitos legais que determinaram a revisão do PDOT, outros pontos justificam a premência de se consolidar esta revisão: • • • • A adequação do plano às novas leis, como por exemplo, o Estatuto da Cidade e às medidas que apresentam forte impacto no território; A necessidade de atender as demandas da comunidade de forma integrada; A necessidade de novas diretrizes de uso e ocupação do solo para diversas áreas; e A necessidade de compatibilizar as diretrizes e normas ambientais, especialmente as que se referem às APPs e às Unidades de Conservação, aos novos critérios de uso e ocupação do espaço. 507 162000 164000 166000 168000 CEILÂNDIA Có . rr i ze ui q e P ro a s Có r La go in h a P rr . d rtado Co a Córr. Embi ra r. . rr ó C co B ran to 8248000 8248000 C ó rr . das Córr . B urit i Ser en o Co ru ja s 8250000 8250000 ó M e C LEGENDA o 100m DA LINHA DE RUPTURA rr . d io DO RELEVO - CENÁRIO 3 HIDROGRAFIA P-SUL Gr ot ão 8246000 Co 8246000 CURVAS DE NÍVEL rr . ÁREA URBANA ÁREA DE ESTUDO d o C ó o al V Có rr . R io ga in at u Tag Melchio r 8244000 R ib e i o rã 8244000 rroz al 160000 N Escala: 1:32.000 1 0 1 Km Gatumé PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR DATUM - ASTRO CHUÁ PROGEA rr. Có . Córr Bu rit i ZONA 23 L SAMAMBAIA Engenharia e Estudos Ambientais 160000 162000 164000 166000 168000 CROQUI 100m DA LINHA DE RUPTURA Fonte: SICAD-DF (Codeplan) . Elaboração temática em ambiente ArcView 3.2. DO RELEVO 7.3.3.1 Aspectos Urbanísticos e Sócioeconômicos De acordo com a minuta do PDOT/2007, que ainda não foi aprovada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, as áreas ocupadas pelo Sol Nascente e Pôr do Sol deverão estar situadas em Zona de Expansão e Qualificação Urbana e, mais especificamente, em Áreas de Regularização, conforme já apresentado no presente estudo. Com a aprovação do Estatuto das Cidades, Lei Federal Nº. 10.257/2001, o Distrito Federal e demais municípios da federação passam a ser responsáveis por promover a regularização da moradia no local de posse, fazendo com que a cidade cumpra a sua função social. Por meio do instrumento urbanístico definido como Zona Especial de Interesse Social - ZEIS, são flexibilizadas normas urbanísticas e ambientais, permitindo a regularização de assentamentos de população de baixa renda. A possibilidade legal de se estabelecer um plano próprio, adequado às especificidades locais, reforça a idéia de que as ZEIS compõem um universo diversificado de assentamentos urbanos, passíveis de tratamentos diferenciados, agregando uma referência de qualidade ambiental para a requalificação do espaço habitado por populações de baixa renda. O Governo do Distrito Federal já está tomando iniciativas neste sentido por intermédio da criação de Projeto Integrado de Regularização, que se encontra amparado legalmente pelo Estatuto da Cidade, na Lei de criação da ZEIS do Sol Nascente e Pôr do Sol, e no Termo de Ajustamento de Conduta Nº 002/2007 assinado em 28/05/2007 junto ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – MPDFT. Este Termo busca ajustar os procedimentos de regularização dos parcelamentos do solo para fins urbanos implantados de forma irregular no território do Distrito Federal e as medidas de fiscalização e repressão destinadas a coibir a grilagem de terras e a ocupação desordenada do solo no DF. A Lei Complementar nº. 785, de 14 de novembro de 2008, cria o Setor Habitacional Sol Nascente e a Área de Regularização de Interesse Social – ARIS Pôr do Sol, na Região Administrativa de Ceilândia – RA IX. De acordo com o Art. 5º, a Área de Regularização de Interesse Social – ARIS Sol Nascente e a Área de Regularização de Interesse Social – ARIS Pôr do Sol são declaradas Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS. As poligonais da ARIS Pôr do Sol e da ARIS Sol Nascente, de acordo com a Lei Complementar nº. 785, estão apresentadas nos croquis a seguir. 509