OS TELEJORNAIS LOCAIS E O 2º TURNO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS Luciana de Souza Barbosa1 INTRODUÇÃO A Televisão ainda predomina como uma das mídias com o maior poder em todo o mundo. No Brasil, ela se torna um mito e tem autoridade para agendar a vida das pessoas e exercer influência na capacidade de pensamento e opinião. Nesta linha reflexão, podemos recorrer a Octavio Ianni quando compara a televisão ao príncipe de Maquiavel e Gramsci. Para ele, a televisão “transforma a realidade, seja em algo encantado seja em algo escatológico, em geral virtualizando a realidade em tal escala que o real aparece como forma espúria do virtual”. (IANNI, 2000, p. 149-140). O grau de importância da televisão acentuado e exemplificado pelo sociólogo se materializa em número de aparelhos receptores e audiência. Um estudo do IBGE, que utilizou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2008, mostra que a televisão ainda é a principal fonte de lazer do brasileiro. O levantamento aponta que mais de 40%2 das pessoas passam mais de três horas de seu tempo de lazer assistindo televisão. Ainda de acordo com a pesquisa, a porcentagem de lares com televisão é de 95,1%3. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República, (Secom),4 realizou uma pesquisa sobre os hábitos de informação dos brasileiros no mês de março de 2010, e na amostra, em que foram ouvidas 12 mil pessoas em todas as Unidades da Federação, constatou-se que 64,6% dos entrevistados consideram o telejornal o programa televisivo mais relevante. Em julho de 2010, o Instituto Datafolha5 divulgou o resultado de uma pesquisa sobre a preferência dos brasileiros para obter informações sobre os candidatos. Foram ouvidos 10.905 eleitores em 379 municípios de todo o país, 1 Graduanda do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina e pesquisadora de iniciação científica. 2 http://www.educacaofisica.com.br/noticias_mostrar.asp?id=8518 3 http://noticias.uol.com.br/ultnot/infografico/2009/09/18/ult3224u134.jhtm 4 http://www.secom.gov.br/ 5 http://www.nucleodenoticias.com.br/2010/07/28/eleitores-preferem-tv-para-obter-informacoes-sobrecandidatos-segundo-datafolha/ 2 exceto Roraima, em que foi constatado que 65% preferem a televisão, seguido do jornal impresso 12%, e rádio e internet com 7% cada um. Como se vê, o papel do telejornalismo na delimitação de assuntos e enfoques fomentadores de debate tem uma relevância muito grande no país. O impacto do telejornalismo em assuntos estratégicos, sem dúvida, também recai sobre o assunto política e especificamente sobre eleições. Dessa forma, pela tamanha abrangência e influência do veículo, principalmente em períodos eleitorais, é que se faz necessário um contínuo trabalho de monitoramento do teor que é transmitido. Sem um rigor analítico e com a certeza da desatenção do telespectador, muitas emissoras se aproveitam para dissipar um jornalismo parcial. Na maioria das vezes, a falta de neutralidade do jornalismo é tão sutil, que só transparece a quem, de fato, acompanha com minúcia o comportamento da mídia no período eleitoral. É diante das câmeras, expostos ao público, que se nota a intenção dos candidatos de sempre demonstrar seu melhor perfil, seja físico ou social. Uma grande equipe entendida das técnicas de relacionamento com a mídia prepara da melhor forma os candidatos para o front. Na corrida eleitoral vence quem tem melhor postura e mais empatia com o público. Caso típico e digno de exemplo de como se eleger um candidato está presente na primeira eleição direta do país depois do golpe militar (1964-1985), chamada de eleição “solteira”, por ter sido unicamente voltada para a presidência da República. O belo, esportista, intelectual e “caçador de marajás”, Fernando Collor de Melo, assim retratado pela TV, na época do PRN (Partido da Renovação Nacional), conquistou em pouco tempo a adesão de um grande número de eleitores por exibir suas estratégicas qualidades na telinha. A forma como a campanha foi conduzida deu tão certo que Collor venceu, no segundo turno, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva em quase todos os estados, com exceção de Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No entanto, o mais jovem político a assumir o cargo de presidência na história brasileira – Collor tinha apenas quarenta anos – teve por trás dele, não somente uma boa equipe de profissionais da área do marketing pessoal, mas um apoio incondicional da Rede Globo, maior rede de televisão nacional. Desde o famoso episódio do último debate entre os presidenciáveis na rede Globo, em que se constatou uma considerável valoração ao candidato 3 Fernando Collor de Melo em detrimento de Lula, felizmente uma grande gama de pesquisadores tem se empenhado em acompanhar o desenrolar do processo eleitoral para analisar em que medida a televisão pode influir no resultado do pleito. Tendo em vista que um jornalismo tendencioso pode influir significativamente no resultado das eleições que este trabalho se propôs a estudar e discutir qual o papel dos telejornais locais na cobertura eleitoral do segundo turno em Londrina. Como bem lembra Lima (2004, p. 204): Com relação aos telejornais, cabem duas observações específicas: como se sabe, o maior poder dos noticiários está em omitir e/ou pautar informações. Isso obrigará o analista a permanentemente comparar os telejornais veiculados em diferentes emissoras de TV e outros meios (revistas, jornais, rádio) para buscar eventuais omissões e/ou agendas deliberadas. De forma especial, nos atemos às eleições municipais de 2008 para aferir que tipo de cobertura jornalística as emissoras TV Tarobá e RPC TVCoroados deram aos candidatos no 2º turno das eleições nos telejornais 2ª edição Paraná TV e Jornal da Tarobá. Para avaliar a forma como cada emissora abordou os candidatos no segundo turno das eleições, apoiamos na metodologia dos principais núcleos de pesquisa em mídia e política das universidades brasileiras. Do DOXA6 (Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública) utilizamos o método de qualificação do conteúdo, no qual se faz uma avaliação qualitativa da matéria segundo as valências que são atribuídas a ela. As valências se dividem em positiva, negativa, neutra e equilibrada. Na valência positiva tem-se uma determinada matéria sobre um candidato e nela se reproduz suas promessas, programas de governo, declarações ou ataques a concorrentes. Inclui também matérias que destacam os resultados favoráveis de pesquisas de intenção de voto. Valência negativa é quando a matéria reproduz ressalvas, críticas ou ataques de candidatos concorrentes de terceiros ao candidato, entra também destaques na matéria dos resultados desfavoráveis de pesquisa de intenção de voto. 6 http://doxa.iuperj.br/ 4 Valência neutra se restringe a apresentar a agenda do candidato ou citações sem avaliação moral, política ou pessoal sobre os candidatos e, finalmente, na valência equilibrada, matérias sobre o candidato que apresentem conteúdos positivos e negativos com pesos relativamente iguais. Além das valências, observamos também a metodologia dos grupos de pesquisa NEMP7 e NEAMP,8 chamada de enquadramento. A definição de “enquadramento” (framing) da notícia, usado pelos pesquisadores dos núcleos já citados é fundamentada no conceito de enquadramento voltado e caracterizado na hegemonia midiática de Entman.9 Para o pesquisador, enquadrar é selecionar certos aspectos da realidade percebida e torná-los mais salientes no texto da comunicação de tal forma a promover: a definição particular de um problema, de uma interpretação causal, de uma avaliação moral, e/ou a recomendação de tratamento para o tema descrito. (ENTMAN, 1993, p. 52). DADOS DA PESQUISA Para o desenvolvimento da pesquisa, foram gravados os telejornais, Paraná TV e Jornal da Tarobá, segunda edição, das duas emissoras respectivas, RPC TV Coroados e TV Tarobá, no período que compreende o 2º turno das eleições, de 06/10/2008 até 24/10/2008. Nestas três semanas, os dois candidatos mais votados, Antônio Belinati (PP) e Luiz Carlos Hauly (PSDB) puderam novamente se valer do espaço dos telejornais para tentar alcançar os votos que haviam sido dados a outros candidatos no primeiro turno. Para análise foram gravados 15 telejornais da TV Tarobá e 17 da RPC (contando dois sábados, já que a emissora também veicula seu TJ neste dia). A média de duração destes programas nas duas emissoras é de 14´30´´. Multiplicado pelos dias de gravação, chegamos ao total de horas de cada emissora: TV Tarobá foram 3h57min, e RPC 4h10min. Somado o tempo das duas emissoras, obtivemos 8h08min de telejornais para estudo. 7 http://vsites.unb.br/ceam/nemp/ http://www.pucsp.br/neamp/ 9 Robert Entman foi o responsável pela integração do conceito original de enquadramento com a noção de hegemonia midiática, por meio de sua famosa definição de framing. 8 5 Tabela 1 – Telejornais gravados e analisados Telejornais Telejornais gravados analisados Horas analisadas RPC TV Coroados 17 17 4h10min TV Tarobá 15 15 3h57min Total 32 32 8h08min Fonte: elaborada pela pesquisadora A importância destes números se revela quando os confrontamos com o tempo dedicado em cada emissora às eleições e, em particular, a cada um dos candidatos. A RPC TV Coroados, do universo de 4h10min, abordou por 17´38´´o assunto eleições, nesse tema contamos somente as matérias, sonoras e notas cobertas e ao vivo em que aparece Belinati e/ou Hauly. A TV Tarobá, do total de 3h57min, abordou a cobertura eleitoral – também contabilizado somente as matérias nas quais envolviam Hauly e/ou Belinati – em um tempo de 20´58´´. Quanto ao tempo exclusivamente dedicado somente a um dos candidatos temos na RPC, para Belinati 5´41´´e para Hauly 6´02´´. Na TV Tarobá, Belinati esteve exposto por 7´55´´ e Hauly por 5´39´´. As tabelas abaixo nos ajudam a visualizar com mais clareza os números já citados. Tabela 2 - Tempo dedicado às eleições pelos dois telejornais Tempo de Telejornais Tempo em que Hauly e/ou gravados Belinati aparecem RPC TV Coroados 4h10 17´38´´ TV Tarobá 3h57 20´58´´ Fonte: elaborada pela pesquisadora Tabela 3 – Tempo dedicado a cada candidato 6 TV Tarobá RPC TV Coroados Belinati 7´55´´ 5´41´´ Hauly 5´39´´ 6´02´´ Fonte: elaborada pela pesquisadora Além das matérias produzidas por repórteres10 em cada telejornal, os dois candidatos no segundo turno também participaram de entrevistas “ao vivo” nos estúdios das emissoras RPC e Tarobá. O candidato Luiz Carlos Hauly foi o primeiro a ser entrevistado na RPC e falou por 5 minutos. O mesmo tempo foi dado ao candidato Antônio Belinati. A proposta das entrevistas foi dar espaço para cada um expor seus planos de governo. Na TV Tarobá, o tempo de entrevista também foi de 5 minutos para cada um dos candidatos, e o primeiro deles a comparecer foi Belinati. No outro dia, Hauly esteve na emissora para responder às perguntas dos jornalistas. Com base nos dados coletados, e estudo quantitativo, foi desenvolvida também a análise qualitativa de acordo com a metodologia da valência, já citada. Classificamos cada uma das matérias em que Hauly e/ou Belinati aparecem, nas duas emissoras, de acordo com as valências e enquadramentos atribuídos a elas. As tabelas abaixo demonstram os números: Tabela 4 – Valência (Belinati) Belinati Valência Valência Valência Valência positiva negativa neutra equilibrada RPC 1 0 5 5 Tarobá 0 2 5 1 Fonte: elaborada pela pesquisadora Tabela 5 – Valência (Hauly) Hauly 10 Valência Valência Valência Valência Consideram-se matérias, para efeito de análise, todas as entrevistas, reportagens, notas cobertas, notas ao vivo (peladas) e notas retorno, exibidas no período. 7 positiva negativa neutra equilibrada RPC 2 1 7 2 Tarobá 1 0 5 1 Fonte: elaborada pela pesquisadora INTERPRETAÇÃO DOS DADOS COLETADOS Tendo em vista o apanhado de informações até agora exposto, fazse necessário um estudo sobre o que cada um desses números representa na pesquisa. Tanto no Jornal da Tarobá como no Paraná TV, a pesquisa verificou um alto número de matérias com valências neutras e equilibradas, o que, de imediato, pôde configurar-se como uma cobertura eleitoral imparcial. Mas, algumas brechas nessa cobertura, nos apontam para um outro entendimento. Na TV Tarobá foram constatadas durante a pesquisa duas valências negativas a Belinati. Uma delas aconteceu no dia 06 de outubro, quando a emissora procurou os candidatos derrotados no primeiro turno para questionar para quem iria o apoio de seus partidos no segundo pleito. Na matéria, foram entrevistados Vilson Machado (PSOL), André Vargas, (PT), Marcos Colli (PV) e Luiz Eduardo Cheida (PMDB). Os partidos ainda não haviam definido seus apoios, mas André Vargas enfatizou que ele, pessoalmente, não votaria em Antônio Belinati, por isso, uma valência negativa foi dada ao pepista. A outra valência negativa de Belinati aconteceu já no dia seguinte, 07 de outubro. Na ocasião foi divulgada uma matéria sobre a opinião dos antigos e recém-eleitos vereadores sobre a renovação de 70% na Câmara, em seguida, o apresentador Fernando Brevilheri fez um comentário a respeito do assunto e citou Belinati, para exemplificar que mesmo quando não há trânsito em julgado, um determinado candidato pode ser avaliado tanto negativamente quanto positivamente pelo eleitor. Segue o comentário para uma melhor compreensão: A legislação brasileira só considera culpado quem tem sentença judicial com trânsito em julgado, ou seja, quando não cabe mais recurso. Mas para a população a lei é outra, é a percepção de cada um. Muitos devem sair ilesos deste escândalo, porém, o dano já foi causado e o prejuízo é políticoeleitoral. Até o presidente da câmara declarou a TV Tarobá no início das 8 investigações que a renovação seria de 70% e ele acertou, inclusive ele próprio não se reelegendo. Não vale a justificativa de que a culpa é da imprensa, pois se fosse assim, o senhor Antônio Belinati, por exemplo, não estaria no 2º turno, lá em 2004. A RPC TV Coroados não apresentou nenhuma matéria com tal valor ao candidato do PP. Ao contrário, a emissora procurou balancear suas matérias, o que fica constatado, de acordo com a pesquisa, com as cinco valências equilibradas atribuídas a Belinati, isso quer dizer que, nas matérias em que o pepista apareceu, foram apresentados conteúdos positivos e negativos, com pesos relativamente iguais sobre ele. Na TV Tarobá, Antônio Belinati não obteve nenhuma valência positiva. Na RPC TV Coroados, a única valência positiva atribuída a Belinati aconteceu no dia da divulgação da pesquisa de intenção de voto, encomendada pela própria emissora ao Ibope. Belinati estava na frente com 48% dos votos, enquanto Hauly estava com 46%. A valência atribuída a Belinati, na matéria em que ele foi entrevistado no estúdio na RPC foi equilibrada, pois, as perguntas dos jornalistas focavam nas propostas de governo, mas o candidato, muitas vezes, não as respondia, esquivava-se delas e mantinha-se sempre com o discurso voltado para o “povo”. O trecho descrito abaixo nos ajuda a compreender melhor: Repórter: Por que o senhor acha que é a melhor opção para a prefeitura de Londrina? Belinati: Não, não. Quem tem que fazer esse julgamento é a maior estrela da eleição, que é o povo. Que, aliás, quem decide a eleição não são os patrícios, coronéis da política, aqueles políticos graúdos não. Quem decide a eleição é o povo. Repórter: Mas, porque o senhor acha que o senhor é a melhor opção? Belinati: Não, quem tá achando é o povo que, de maneira generosa está me colocando em primeiro lugar no seu coração. Se eu ficar falando que eu sou melhor, isso é arrogância, o povo não gosta disso não. O povo gosta que a gente tenha humildade. Configura-se como equilibrada a valência, pois ao mesmo tempo em que Belinati ganha as massas com seu discurso popular, ele pode afastar o público mais escolarizado, que percebe as esquivas do candidato às perguntas. 9 Fábio Silveira (2004) relembra que o discurso de Belinati é predominantemente coloquial, ele tem uma fala corriqueira que se aproxima bem do povo. Algo típico de políticos populistas, que atraem com mais facilidade as massas, mas em contrapartida afastam determinados setores da burguesia. Belinati, vencedor em duas oportunidades, embora tenha origem na classe operária e tenha facilidade de interlocução com alguns setores dessa classe, é um populista. E como lembra Francisco Wefort, os políticos populistas tentam tutelar as massas, tirando-as da discussão política e evitando a participação das mesmas de forma autônoma. No final, os populistas acabam por trair as massas e governam na defesa dos interesses da burguesia. É o caso de Belinati. [...] Belinati não é bem visto por setores da burguesia - particularmente os setores em nome dos quais 11 Moreira fala -, mas é útil para outros setores. Ele tem o que o grupo de Moreira não tem: votos”. (SILVEIRA, 2004, p. 180). Na entrevista de estúdio que o candidato Belinati concedeu à TV Tarobá, a valência foi considerada equilibrada e pelo mesmo motivo. Nesta ocasião, o candidato usou o resultado da pesquisa Ibope a seu favor, fez duras críticas às administrações anteriores da cidade e se esquivou novamente de muitas perguntas, principalmente das que se referiam a seu problema com a justiça. Apresentador: Candidato, nós estamos no segundo turno e até depois da eleição do primeiro turno é que o Tribunal Superior Eleitoral decidiu pela sua candidatura, não indeferiu a sua candidatura. Mas ainda tem um recurso pendente lá. O senhor acha que isso pode resultar em um revés para a sua candidatura? Belinati: Nós estamos acostumados Fernando (apresentador). Toda eleição vocês têm notícia aqui de gente que quer nos derrubar não conquistando o povo e tá errado, eleições se ganha, volto a repetir, conquistando o povo, apresentando propostas, ganhando o coração do nosso povo. Nós estamos numa campanha humilde e modesta e o nosso povo está nos apoiando, nos ajudando. Para que querer me tirar da disputa no tapetão, na violência, meu Deus do céu. Então eu prefiro acreditar naquilo que eu aprendi muito cedo com o meu falecido pai. Quer ganhar eleição, ande, trabalhe, veja o que deve ser melhorado na cidade, não ataque o adversário, não faça campanha suja, não faça campanha de baixaria. É o que nós estamos fazendo, uma campanha de nível alto, com propostas, conquistando o povo. É uma pena que toda eleição que chega a TV Tarobá tem notícia, querem derrubar o Belinati no tapetão [...] Quanto ao candidato Luiz Carlos Hauly, o número de valências positivas atribuídas a ele foi maior do que as de Belinati, tanto na RPC TV Coroados 11 Moreira, cujo autor cita, é Wilson Rodrigues Moreira, eleito prefeito de Londrina em 1982, pelo PSDB. 10 quanto na TV Tarobá, sendo duas valências positivas no Paraná TV e uma no Jornal da Tarobá. Na observação da entrevista de estúdio da RPC e da TV Tarobá, Hauly obteve valência positiva. Nas duas emissoras, o tucano se saiu bem e respondeu com coerência às perguntas dos jornalistas, que também fizeram um questionário isento de opinião ou ataques para o candidato, dando a ele a oportunidade de dizer quais eram suas propostas para diversas áreas da cidade. Uma outra valência positiva que Hauly teve na RPC TV Coroados aconteceu no dia 07 de outubro. Em uma matéria pequena, cujo foco central era a decisão do TSE de manter a candidatura de Belinati para disputar o segundo turno, Hauly foi entrevistado para comentar a decisão. Nesta pequena aparição, o recorte dado ao candidato foi, de acordo com a pesquisa, considerado positivo. Hauly aparecia pedindo o voto do eleitor e mostrava as mãos, dando a entender que com ele não havia problemas com a justiça. O trecho transcrito nos ajuda na compreensão: Apresentador: Partidários de Antônio Belinati comemoram a decisão do TSE, que conteve a candidatura dele a prefeitura de Londrina. Repórter: O deputado estadual Antônio Belinati está em Curitiba onde comentou a decisão. A.Belinati: Agora nós estamos muito mais tranquilos para poder gastar muita sola de sapato, percorrer toda a cidade e tentar conquistar o coração inclusive daqueles que não votaram em nós no 1º turno. Repórter: O deputado federal Luis Carlos Hauly, que disputa o 2º turno com Belinati, disse que a decisão do TSE não interfere na campanha dele. Hauly: O problema do seu Antônio Belinati é com a justiça, o meu problema é com o eleitorado de Londrina, é com eles que eu quero tá pedindo voto, apoio, comigo ó aqui ó (mostra as mãos) não tem problema nenhum. A única valência negativa de Hauly no segundo turno ocorreu no dia 16 de outubro, dia da divulgação da primeira pesquisa Ibope, encomendada pela RPC TV Coroados e divulgada pela emissora, como já citado acima. Em 1´10´´, com a ajuda de um grafismo, o telejornal apresentou Belinati com 48% das intenções de voto e Hauly com 46%. Neste mesmo dia, a emissora veiculou uma nota coberta12 de 30 segundos sobre o debate dos dois candidatos no Hospital Universitário de Londrina, com valência neutra para cada candidato. 12 Nota coberta, no jargão jornalístico, é a apresentação de imagens sobre um determinado evento e a narração do acontecimento em OFF pelo apresentador. 11 As duas emissoras noticiaram o apoio do então prefeito da cidade, Nedson Micheleti (PT), ao candidato Hauly. Nesta ocasião o tucano recebeu valência equilibrada, pois ao mesmo tempo em que há setores que consideram relevante o apoio do ex-prefeito a Hauly, há também aqueles que não acreditam que Nedson foi um bom prefeito e seu apoio a Hauly pode não acrescentar na disputa à prefeitura. Excetuando as entrevistas em estúdio e os apoios dos outros políticos a um ou outro candidato, a maioria das matérias do segundo turno apresentou as agendas dos candidatos, onde eles estariam debatendo com a sociedade as propostas de governo, como na ACIL, no HU, na rádio Alvorada, e nessas aparições atribuiu-se valência neutra a ambos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o estudo desenvolvido neste artigo, seja no material coletado e analisado e nas leituras afins, pudemos observar muitos exemplos de como a forma de fazer notícia no telejornal pode, por vezes, tender ao favorecimento ou desfavorecimento a um determinado candidato. No entanto, para se alcançar uma profundidade de análise do produto final que chega à televisão do brasileiro, ou seja, das matérias, é sabido que o olhar deve estar atento a esta fábrica de produção de informação que é o telejornalismo diário. Sobretudo em períodos eleitorais, o cuidado com o que se quer noticiar deve ser redobrado. Jornalistas, editores, pauteiros, todos juntos contribuem, para de alguma forma, dar sentido à informação. Pôde-se concluir com base nas valências que, no segundo turno, houve de forma sutil uma abordagem favorável ao candidato Luis Carlos Hauly, na TV Tarobá. O tucano não obteve nenhuma valência negativa na emissora enquanto Antônio Belinati obteve duas valências negativas e nenhuma positiva, no Jornal da Tarobá. Seja por medo do que seria a política londrinense, caso Antônio Belinati vencesse as eleições, seja por qualquer outro motivo, o telejornalismo da emissora deu ao telespectador recortes melhores de Luiz Carlos Hauly. Na RPC TV Coroados, no entanto, nota-se maior empenho em dar aos dois candidatos o mesmo tratamento. Isso se comprova com a grande 12 quantidade de valências equilibradas e neutras que os dois candidatos obtiveram na emissora. A RPC TV Coroados e a TV Tarobá mostraram, no entanto, um contrasenso, pois, em muitas situações citaram a decisão da justiça de manter ou cassar a candidatura de Antônio Belinati, contudo, não informavam sobre os motivos que levaram o pepista a responder ao Tribunal Superior Eleitoral. Se o telejornal não explica o motivo das eleições estarem na justiça, o espectador, que só se informa sobre eleições pelos telejornais, não saberá dos motivos que levaram a tal situação. Informar ao cidadão o motivo que levou o prefeito a estar sub judice é dever da imprensa e não o fazer é de acordo com Silveira (2004, p. 83) uma forma de manipular um fato social e político, uma vez que se percebe um esvaziamento do conteúdo político da notícia e com isso há imediatamente uma barragem na leitura crítica que o receptor da informação possa fazer da realidade. Mas, Antônio Belinati, apesar da pouca empatia com as emissoras, aproveitou o espaço que lhe era concedido para desempenhar sua habilidade de fala popular e simples, que atinge diretamente seu público alvo: a população de baixa renda. E esse tenha sido talvez o motivo dele ter vencido as eleições. Quanto a abordagem quase imparcial dos telejornais da RPC e Tarobá, pode-se dizer que é resultado de um país que já presenciou no telejornalismo nacional situações escancaradas de apoio a políticos. Depois do episódio Fernando Collor de Melo, nas eleições de 1989, outras barbaridades continuaram a acontecer, mas sempre com mais cautela, de forma mais velada, para não deixar tão explícita a parcialidade. A notícia é um produto posto à venda (MEDINA, 1978), para isso deve ser atrativa, mas somente atrativa e não indecente ou tendenciosa. Sabendo disso, as empresas de comunicação tomam mais cuidado ao abordar o tema “eleições”. Recursos, como sempre entrevistar os dois candidatos dando a falsa ideia de imparcialidade, podem até conquistar a confiança do telespectador, mas se há de fato uma predisposição, ainda que sutil de estar do lado de um ou outro candidato, o resultado transparece num trabalho meticuloso de análise como este. REFERÊNCIAS 13 ABREU, Alzira Alves de; LATTMAN – WELTMAN, Fernando; KORNIS, Mônica Almeida. Mídia e Política no Brasil: Jornalismo e Ficção. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. CHAIA, Vera. CHAIA, Miguel. (org). Mídia e Política. Cadernos do Neamp. São Paulo: Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC, 2000. ENTMAN, Robert. Framimg: toward classification of a factures paradigm. Journal of Communication. New York:1993. IANNI, Octávio. Enigmas da modernidade-mundo, 2000. LIMA, Venício A de. Mídia: teoria e política. 2. ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. ______. Mídia – Crise Política e Poder no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006 ______. 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