A Gestão de Projetos e a Inovação como Estratégias para a criação de uma vantagem Competitiva Sustentável dentro das Organizações em Mercados Turbulentos: Um Estudo do Caso da Gol Linhas Aéreas em seus primeiros 05 anos de vida no mercado aéreo brasileiro Ricardo Múcio da Silva Faria1 RESUMO: A construção de estratégias ancoradas na inovação, aliada a uma gestão de projetos eficientes, visando a inserção de empresas em mercados cada vez mais instáveis e turbulentos, pode ser um fator chave para a garantia de criação de um conjunto de estratégias que permitam a criação de uma vantagem competitiva sustentável no longo prazo, que garanta a sobrevivência das organizações. O presente artigo, analisa o caso da empresa GOL Linhas Aéreas, que utilizando-se, de um modelo de negócios inovador e ancorado em uma eficiente gestão de projetos, atingiu um patamar de excelência operacional e a vice liderança do mercado de aviação no Brasil em seus primeiros de 05 anos de existência. Palavras-Chave: Inovação Corporativa, Competitividade, Estratégia, Gestão de Projetos 1. Introdução Nos últimos anos a escolha de alternativas estratégicas ancoradas nos pilares da inovação (seja ela em processos e/ou ideias) e da gestão de projetos, tem merecido destaque no universo dos negócios, pelo fato das empresas serem praticamente obrigadas a atingir um nível de competitividade jamais visto na história do capitalismo moderno, principalmente em setores que utilizam, intensivamente, a tecnologia e o capital financeiro e intelectual. Atualmente, a inovação e a gestão de projetos encontram-se nos alicerces das estratégias das organizações consideradas mais competitivas em seus respectivos setores de atuação, podendo atingir tanto seu modelo de gestão e/ou sua cultura organizacional, quanto seus processos para geração de valor, pois estas empresas, estão inseridas em uma ambiência competitiva caracterizada pela globalização de mercados, hipercompetitividade com foco sobre o preço final dos serviços prestados, qualidade e satisfação do consumidor, ambiência esta, que força a busca constante por uma lucratividade capaz de garantir a sobrevivência destas organizações no médio e longo prazos. 1 Especialização em MBA - Gestão Estratégica de Negócios Especialização em Formação Política e Econômica Brasileira. Graduação em Ciencias Econômicas. A relevância deste estudo consiste, em tentar apontar, como a utilização combinada de estratégias inovadoras e uma gestão de projetos eficiente por uma organização podem permitir uma elevação de seu nível de competitividade, ajudando-na a operar em mercados, que se caracterizam por conter um elevado grau de incerteza, instabilidade, turbulência e grande nível concorrencial. A escolha de uma empresa do setor aéreo para balizar este estudo, deve-se ao fato do setor, ao longo dos últimos 20 anos, estar vivenciando uma conjuntura de profundas transformações estruturais, caracterizadas pela elevação no padrão concorrencial, entrada de novos competidores e mudança de marco regulatório. 2. Uma abordagem conceitual sobre o tema 2.1 Inovação no Ambiente Empresarial Diante de um ambiente econômico de extrema competição, que ocorre em mercados cada vez mais dinâmicos e instáveis, cresce em importância uma melhor delimitação dos conceitos de inovação trabalhados sob o olhar e abrangência dos diversos autores que tratam do tema. De acordo com a visão de Jakobiak, (1991) citado nos estudos de Junior, (2002), uma inovação consistiria na introdução, dentro do mercado, de algo que foi descoberto ou inventado, e que representaria um progresso sobre determinada base, mas é certo que a grande maioria dos estudos sobre o tema foca as atenções nos aspectos técnicos e tecnológicos relacionados a produtos e serviços. Mas existem, contudo, as inovações que ocorrem dentro do universo organizacional que estão relacionadas a criação de novos modelos de negócios, que aliados a novas praticas de gestão e de tomada de decisões, representariam a introdução de novos procedimentos administrativos, visando aperfeiçoar o funcionamento das organizações, tornando-as neste contexto, teoricamente, mais ágeis para atuar em mercados, cada vez mais, instáveis e turbulentos. Giraud, (1998) citado por Junior. (2002) afirma, entretanto, que a obtenção de uma definição precisa de inovação seria uma tarefa das mais complexas, devido a dificuldade de se identificar com precisão, dentro no universo corporativo os parâmetros aceitos universalmente sobre o tema e a sua abrangência, pois na visão do autor, a inovação corresponderia a um conjunto de correlações, que ocorreriam em campos distintos tais como por exemplo na economia (como vermos mais a diante nos estudos de Schumpeter sobre o tema) e na política em uma ponta e no campo técnico e artístico na outra ponta, além de considerar em sua análise sobre o tema a complexidade dos fatores sociais envolvidos. Damanpour & Evan (1984) deram uma grande contribuição para o tema ao basear seus estudos no entendimento das estruturas de sistemas sócio-técnicos, tentando esclarecer as diferenças entre inovações técnicas e administrativas dentro dos resultados de uma organização. Assim, inovações técnicas na visão dos autores seriam definidas como as que ocorrem no sistema técnico da organização, estando relacionadas às suas atividades primárias, mas não menos importantes. Nesta linha de raciocínio uma inovação técnica segundo os autores poderia ser a implementação da idéia para um novo produto ou serviço ou ainda a introdução de novos procedimentos na organização que visariam dinamizar o seu processo produtivo. Já as inovações administrativas seriam as que ocorrem no sistema social da organização, influenciado as relações de poder na mesma e consequentemente a forma de sua gestão. Em uma outra vertente de pesquisa, Schumpeter (1984) debruça-se sobre o tema da inovação em momentos distintos de sua carreira acadêmica: em 1911 ao publicar sua obra A Teoria do Desenvolvimento Econômico e em 1941 ao publicar o livro Capitalismo, Socialismo e Democracia. Na visão de Schumpeter (1984) o capitalismo tem que ser visto como um processo evolutivo, que provoca nas empresas uma onda de criação contínua de “novos bens de consumo, novos métodos de produção ou transporte, de novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria” (Schumpeter, 1984, p.112). O desenvolvimento tecnológico ocorrido ao longo da história da humanidade, principalmente após a revolução industrial, que marca o nascimento do capitalismo como sistema econômico dominante leva ao que Schumpeter (1982) denomina de um processo de destruição criativa, que na sua visão, seria uma das principais molas propulsoras do capitalismo. A concorrência capitalista na visão do autor estaria centrada, fundamentalmente na inovação e este processo inovatório no âmbito das organizações, provocaria um processo de destruição criativa, onde as velhas estruturas produtivas seriam substituídas por novas, que teriam o poder de conduzir a economia a patamares mais elevados de renda e consequentemente de bem estar social. Já na visão de Porter (1998), o sucesso competitivo das empresas, dependeria, fundamentalmente, da capacidade que elas teriam em implementar ações inovadoras, que poderiam brotar a partir da criação de novas tecnologias, produtos, ou por meio do desenvolvimento de novas formas e modelos de gestão organizacional e até mesmo de um novo jeito de monitorar novas oportunidades dentro de mercados onde já opera ou em novos mercados que ofereçam condições de se obter retornos que justifiquem os investimentos. Este mesmo autor é enfático em afirmar que a inovação seria a única maneira que uma empresa teria de conquistar uma vantagem competitiva capaz de sustentar sua longevidade no médio e longo prazos. Esta linha de pensamento torna-se mais verdadeira, quando analisamos empresas que atuam com tecnologias de ponta e que competem em setores com elevado padrão de competitividade e sujeitos a grandes turbulências conjunturais, como acontece no setor aéreo. Os estudos de Kuczmarski (1998) citados em Junior (2002) “ indicam que, o aumento do valor das ações das empresas listadas em bolsa de valores, teriam uma relação direta com os números de inovações efetuadas aliadas ao seu grande poder de geração de resultados para seus acionistas”. Este fato se deve à um conceito perceptivo, desenvolvido pelo mercado, com relação às empresas inovadoras, sendo este um quesito altamente distintivo para diferencia-las no mercado. Mintzberg (2001) citado por Junior (2002), desenvolve uma linha de raciocínio alternativa ao afirmar que as organizações, para atingir um nível superior de desempenho, baseado na inovação, teriam que abdicar de seus padrões préestabelecidos. Assim sendo para o autor uma organização seria considerada inovadora se não dependesse de qualquer forma de padronização para coordenação de sua linha estratégica, precisando evitar todas as armadilhas existentes em sua estrutura burocrática, representada formalmente pela sua rígida divisão de pessoas (expressa através de organogramas), diferenciação extensa de unidades, comportamentos altamente formalizadores e grande ênfase em planejamento e controle. Mintzberg (2001) 2.1.2 Tipos e amplitudes da Inovação Hall menciona Zaltwan, Duncan E Holbek (1973), no trabalho de Junior (2002) que identificam três formas de inovação: a inovação programada, que aconteceria de tempos em tempos, a partir de um cronograma, previamente estabelecido, a inovação planejada que ocorreria a partir de um planejamento voltado para a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos, modelos de gestão, processos produtivos e a inovação por constrangimento, que seria forçadamente, imposta a uma organização em decorrência de uma necessidade urgente de um reposicionamento em virtude de resultados insatisfatórios obtidos. Os autores ainda trabalham com o conceito da inovação não-programada, que seria implementada pelas organizações em situações específicas em uma visão oportunista, onde sobras de caixa seriam canalizadas para a aquisição de determinadas capacitações que possibilitariam a obtenção de uma vantagem em relação aos seus concorrentes diretos e indiretos. É importante mencionar que nem todas as formas de inovação irão causar impactos com a mesma linearidade nas empresas que as implementam. Esta situação decorre das especificidades inerentes a cada um dos conjuntos de inovação que atinge as empresas. Kuzmarski (1998) Desta forma, podemos distinguir duas amplitudes: inovações radicais ou de ruptura, e inovações incrementais ou progressivas. As Inovações radicais na visão do autor são aquelas que causariam grandes alterações nos padrões até então vigentes levando as empresas a um outro patamar de atuação. Segundo a visão de Retourna (1995) citado por Junior. (2002), uma inovação radical exigiria a construção de um novo padrão de conhecimento e competências, principalmente quando se lida com novas tecnologias, onde se exigiria um novo olhar sobre os caminhos a serem seguidos pelo novo padrão adotado. Já as inovações incrementais são aquelas onde não é exigido das empresas a construção de algo novo, pois elas constituem-se, fundamentalmente, em melhorias contínuas baseadas nos parâmetros de referência existentes e que em alguns casos ainda resultam em produtos e serviços de qualidade superior ao original que sofreu o processo de melhoria. 2.2 Projetos no Ambiente Empresarial Segundo Guia PMBOOK (3ª Ed) – “Um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. Todos os projetos possuem um início e um final definidos. O final é alcançado quando os objetivos do projeto não serão ou não poderão ser atingidos ou quando não existir mais a necessidade do projeto e ele for encerrado” De acordo com Heldman (2005) projetos: “destinam-se a dar origem a um serviço ou produto único, que não foi produzido antes. Têm prazo limitado e sua natureza é temporária. Isto quer dizer que projetos têm início e fim definidos”. Este conceito nos remete a previsibilidade de se mensurar o real esforço para a realização de um determinado projeto, mas deve-se sempre levar em consideração que este esforço mensurado pode não ser exato, devido a existência de inúmeros fatores que poderão influenciar diretamente no cumprimento dos prazos estabelecidos em seu escopo inicial. Atualmente os conceitos de gerenciamento de projetos têm sido utilizados por diversas organizações na implementação de estratégias com vistas ao desenvolvimento de vantagens competitivas sustentáveis no médio e longo prazos. De acordo com Maximiano (2009): “Nos últimos anos, o gerenciamento de projetos vem se tornando um domínio do conhecimento cada vez mais estudado e utilizado, tendência que tem como marcos iniciais a fundação do Project Management Institute (PMI), em 1969, e a subseqüente publicação do Project Management Body of Knowledge (PMBOK)”. É durante a fase de execução de um projeto empresarial é que ocorrem as variações que podem levar ao fracasso parcial ou total do projeto que esta sendo implementado. Estas fases são resumidas na figura abaixo . 3 EXECUÇÃO 4 CONCLUSÃO 2 Planejamento NÍVEL DE ATIVIDADE 1 CONCEPÇÃO/ INICIAÇÃO TEMPO Figura 1 – Gráfico com as Fases na Execução de um Projeto Empresarial Fonte: Guia PMBOOK (3ª Ed) – adaptado pelo autor Ainda segundo Rodrigues (2013) planejamento é a palavra de ordem de todos os envolvidos no gerenciamento de projetos empresariais, o problema é que alguns gestores tem uma visão distorcida dos processos de planejamento, o que leva a tomada de decisões de forma equivocada ocasionando com isso erros fatais como: Má definição de Escopo, má gerenciamento de Risco, má definição de Custos; Má gerenciamento de Pessoas e Comunicação são muito. 2.2.1 Escopo e suas Implicações na Má Definição de um Projeto Carvalho & Rabechini Jr (2005) definem o escopo de um projeto como sendo o guia na consecução dos objetivos a serem alcançados, definindo claramente o que fazer e o que não fazer no desenvolvimento de um projeto empresarial. Saber definir, verificar e controlar o escopo torna-se, desta forma, fator chave de sucesso ou fracasso de qualquer projeto na visão dos autores. É através do escopo e com a utilização dos processos de definição, verificação e controle, que o gerente do projeto se balizará para efetuar suas entregas e encerrar o projeto cumprindo seus objetivos, atendendo assim as expectativas do seu sponsor e seus stakeholders. PMBOOK (3 Ed) Heldman (2005) afirma que o gerenciamento do escopo leva a organização a determinar e controlar as variáveis que estarão incluídas ou não no projeto. O insucesso na interpretação exata das necessidades do cliente produzirá uma definição equivocada do escopo do trabalho, podendo gerar retrabalho e esforços adicionais, que poderão ter implicações nos prazos e custos do projeto. O gerenciamento do escopo também irá delinear como o projeto será gerenciado, como será monitorado o progresso, como será reportado e controlado, determinando as fronteiras entre determinadas tarefas, atividades, contratos e projetos. PMBOOK (3 Ed). É durante a definição de escopo que se descreve ou/e lista as restrições especificas (e fundamentais) como orçamento pré-definido e datas impostas (prazos). Pode-se ressaltar o orçamento como uma restrição descrita no escopo que pode impactar em todas as outras fases do projeto. A figura abaixo extraída do Guia PMBOK (3 Ed) mostra como o gerenciamento do escopo ocorre dentro de uma organização em suas diversas fases, auxiliando o gestor do projeto no atingimento dos objetivos delineados na estratégia empresarial. Figura 2 – Fases do Gerenciamento de Escopo em um Projeto Fonte: Guia PMBOOK (3ª Ed) – adaptado pelo autor 2.2.2. Risco e as suas Implicações dentro de um Projeto Segundo de Valeriano (2001), “risco é algo que pode impedir o atingimento dos objetivos anteriormente delineados”. O autor ainda afirma que o risco configurase em uma probabilidade de um acontecimento apresentar um resultado negativo ou até mesmo catastrófico, traduzindo-se em perdas financeiras para a organização. O risco também representaria alguém ou algo que cria ou sugere um perigo. Segundo Guia PMBOOK (3 Ed) “ O gerenciamento de riscos do projeto inclui os processos que tratam da realização de identificação, análise, respostas, monitoramento e controle e planejamento do gerenciamento de riscos em um projeto; a maioria desses processos é atualizada durante toda a vigência do projeto”. Neste contexto pode-se afirmar que os objetivos do gerenciamento de riscos dentro de um projeto empresarial relacionam-se com a probabilidade crescente de se atingir os objetivos delineados anteriormente e em paralelo minimizar a probabilidade e o impacto dos eventos adversos ao projeto. Os processos de gerenciamento de riscos do projeto incluem os seguintes componentes principais PMBOOK (3 Ed). • • • • • Planejamento do gerenciamento de riscos; Identificação de riscos; Análise quantitativa e qualitativa de riscos; Planejamento de respostas a riscos; Monitoramento e controle de riscos; Esses processos interagem entre si e também com processos de outras áreas de conhecimento dentro da organização. ‘’Cada processo pode envolver o esforço de uma ou mais pessoas ou grupos de pessoas, com base nas necessidades do projeto”. PMBOOK (3 Ed) Valeriano (2001), afirma que o gerenciamento de riscos dentro de um projeto traz benefícios como: • • • Redução das situações de crise e ocorrências de surpresas; Alavancagem dos resultados positivos; Aumenta a probabilidade de sucesso do projeto. Além disso o esforço no gerenciamento de risco deve ser apropriado ao tamanho e complexidade do projeto a ser tocado pela empresa, bem como, a experiência e nível de capacidade do projeto. PMBOOK (3 Ed) Figura 3 – Gerenciamento de Riscos dentro de uma Empresa Fonte: Fonte: Guia PMBOOK (3ª Ed) – adaptado pelo autor A figura acima extraída do Guia PMBOK (3 Ed) mostra como o gerenciamento de riscos ocorre dentro de uma organização em suas diversas fases, auxiliando o gestor do projeto no atingimento dos objetivos delineados na estratégia empresarial da organização. 3. Algumas Considerações Sobre o Mercado de Aviação no Brasil O mercado Brasileiro de aviação comercial apresenta a seguinte divisão de negócios segundo dados extraídos dos anuários da ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil: ANAC (2004) • Empresas que operam linhas aéreas domésticas, fornecendo serviços de transporte regular dentro do país com grandes aeronaves servindo aos maiores centros econômicos do país; • Empresas que operam linhas aéreas regionais, fornecendo serviços de transporte regular, dentro do país, conectando cidades menores com os grandes centros econômicos do país. Este segmento de mercado é operando tipicamente por empresas que operam aeronaves menores, principalmente turboélices; • Empresas que operam linhas aéreas de vôos fretados (charter), que fornecem serviços de transporte não regular, ligando cidade dentro do país e ao exterior; • Empresas que operam linhas aéreas internacionais, que fornecem serviços de transporte regular internacional de dentro do país para o exterior e do exterior para dentro do país. O mercado de aviação doméstica no Brasil em tamanho, situa-se na 5ª colocação no ranking mundial segundo dados da ANAC, cobrindo uma área maior que os Estados Unidos e possuindo no inicio da década de 2000 uma população potencial de usuários da ordem de 180 milhões de pessoas IBGE (2003). O crescimento do mercado de aviação comercial no país apresenta uma forte correlação com o crescimento do PIB nacional, sendo que em 2004, as empresas do setor transportaram mais de 32 milhões de passageiros no mercado doméstico ANAC (2004). O mercado Brasileiro doméstico, ainda segundo a ANAC, compreende dois tipos básicos de passageiros: Os passageiros em viagens de negócios e passageiros em viagens de lazer. O segmento de viagens de negócios é o mais lucrativo segmento do setor aéreo no Brasil, representando 70% de toda a demanda doméstica do país ANAC (2010). Os passageiros em viagens de negócios, geralmente dão valor a fatores como freqüência dos vôos, confiabilidade, pontualidade, disponibilidade de vôos diretos, extensão da área servida e diferencial dos serviços e são cada vez mais sensíveis a preços. Já os passageiros em viagens de lazer geralmente tendem a dar maior importância ao fator preço, tendendo apresentar uma flexibilidade maior ao programar suas viagens. 4. Estudo do Caso Gol Linhas Aéreas Para dar início ao nosso estudo de caso iremos compilar uma reportagem de Boechat, extraída da Gazeta Mercantil (2001) que sintetiza muito o que era o setor aéreo no Brasil anteriormente à entrada da GOL neste mercado. Rolim Amaro, presidente da TAM, não tem sangue correndo pelas veias. As medulas de Otto Ernest Meyel; criador da Varig, e de Ozires Silva, atual presidente da companhia, tampouco produzem glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas. O coração do fundador da Transbrasil, Omar Fontana, bombeava um líquido amarelado, inflamável e de cheiro forte. Suas aortas e carótidas transportam – ou transportavam, no caso de Fontana e Meyer querosene. Ao menos é o que diz o folclore da aviação brasileira. Nas lendas que circulam por aeroportos, hangares e oficinas é preciso ter nas veias o combustível que faz toneladas de aço com asas decolarem para criar e comandar uma companhia aérea. Este era um mito antigo, cultivado por décadas pelos aviadores brasileiros e até mesmo pelas empresas que operavam em um setor altamente fechado e cartorial. Mas este mito, assim como vários outros que existiam no mercado, começou, ainda que lentamente, a perder força com a entrada no setor aéreo brasileiro de empresários que nada têm a ver com turbinas, trens de pouso ou manches. Nos últimos anos, em especial em 2000, uma nova leva de companhias aéreas ganhou os ares brasileiros, tendo como idealizadores homens que nem mesmo sabem distinguir o cheiro de gasolina do de querosene, mas sabiam farejar uma oportunidade de negócio onde outros enxergavam apenas problemas. Boechat (2001) Essa reportagem mostrava o início de revolução silenciosa que foi imposta pela empresa GOL no transporte aéreo brasileiro a partir de sua criação em 2001, quando inicia suas atividades, importando o modelo Low Cost, Low Fare (custo baixo, preço baixo vide figura 1) adotado pioneiramente na década de 70 pela empresa Norte-americana Southwest Airlines e posteriormente, também imitado, pelas empresas JetBlue americana, a inglesa EasyJet , a Irlandesa Ryanair e a também brasileira BRA que hoje já não existe mais. PREÇO BAIXO Serviço Limitado Sem refeições Sem marcação de assento Uso limitado de agencias de viagens e uso de Quiosques para emissão Rotas Curtas Cidades Médias Aeroportos Secundários Sem Conexões Sem Transferência de Bagagens Aviões mais tempo voando Equipe Produtiva Melhor Remuneração Participação Acionária Contratos de Trab. Flexíveis Motivação Envolvimento de todos Frota Padronizada Facilidade de Treinamento Estoque Reduzido Melhor Controle Manutenção Padronizada Tempo reduzido dos aviões nos aeroportos Saídas Freqüentes BAIXO CUSTO Figura 1 – Premissas do Modelo Low Cost, low fare Fonte: Serra, etal 2003 – adaptado pelo autor 4.1 - A criação da empresa – cronologia O projeto de criação da GOL Transportes Aéreos foi concebido e estruturado em oito meses, apresentando um investimento da ordem de R$ 30 milhões e sua estratégia foi desenvolvida visando operar com custos baixos, de modo a oferecer tarifas extremamente reduzidas (em média 50% mais baixas que a concorrência) e seu modelo de negócios, foi fortemente ancorado em inovações, que permearam praticamente todo seu processo de criação e operacionalização. A GOL Transportes Aéreos iniciou as suas operações em 15 de janeiro de 2001, atendendo as cidades de Porto Alegre, Florianópolis, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Salvador. Sua frota inicialmente contava com seis aeronaves do tipo Boeing 737-700, passando até o fim de 2001 para 10 aeronaves visando atender também as cidades Campinas, Curitiba e Recife. “Nossa maior virtude, é saber realizar uma forte gestão de custos. Somos do ramo de transporte de ônibus.” Afirmava Constantino de Oliveira Júnior, presidente da empresa no início de suas atividades (HSM Nov-dez 2005). O interesse da família Constantino no mercado aéreo iniciou-se em 1998, e sua primeira iniciativa foi propor a compra da Transbrasil, projeto este que não se concretizou (HSM Nov-dez 2005). Wilson Maciel Ramos, ex-vice-presidente de informática da Vasp, foi contratado como vice-presidente de tecnologia da GOL. Em junho de 2000, o consultor José Carlos Mel foi chamado para compor o estudo de viabilidade e o plano de negócios. A partir daí, foram realizados os diagnósticos sobre o mercado, as previsões de custos, determinados os objetivos e feitas as simulações em relação ao tamanho ideal da empresa. (HSM Nov-dez 2005) Após 40 dias de trabalho a equipe responsável pela gestão do projeto de abertura da empresa, apresentou o escopo do modelo de negócio a ser seguido, que foi desenvolvido, com base na análise de modelos de negócios de empresas aéreas de baixo custo dos Estados Unidos e da Europa. (HSM Nov-dez 2005) Das empresas Norte Americanas Southwest Airlines e Jet Blue desenvolveuse os projetos de uma frota padronizada, que ofereceria um baixo custo de treinamento, de manutenção e de estoque de peças, além do serviço de bordo bastante simplificado e os voos diretos. Além disso foram desenvolvidos projetos de automação das operações de emissão de bilhetes e controle operacional. Das empresas Européias, a EasyJet e Ryanair desenvolveu-se o projeto de terceirização de uma série de serviços não essenciais. (Exame Fev 2001) . O processo de inovação foi fortemente adotado na emissão dos bilhetes aéreos, quando a empresa optou por criar uma solução, até então inovadora, no mercado brasileiro, pois neste modelo, não existiria a emissão dos bilhetes e o passageiro teria que ligar para uma central de atendimento terceirizada, reservar assento em um vôo, pagar com cartão de crédito e no dia marcado para a viagem de lazer ou negócios ele receberia apenas um recibo no check-in. Este modelo também pressupunha o fato da internet ser usada como o canal principal para a comercialização das passagens, pois a empresa ao contrário de suas concorrentes não teria lojas próprias. O nome da empresa precisava ser definido; segundo Constantino Jr.: (Exame Fev 2001) Veio de consenso. Ele deveria ser simples e ter três letras. Pensei em PAX e TAS. Tinha de ser fácil, como GOL. Meu pai, então, passou a perguntar: Como GOL. Meu pai, então, passou a perguntar: Como vai a GOL? Até que, em um almoço, ele mesmo sugeriu: "Por que não GOL, mesmo? Em 10 de agosto de 2000 foi assinado o contrato social da GOL Transportes Aéreos Ltda. Dez dias depois entrou-se com o pedido da constituição da empresa no Departamento de Aviação Civil (DAC), o qual foi aprovado duas semanas depois. (Exame Fev 2001) Logo após o início da operacionalização do projeto a empresa realizou uma operação de leasing com quatro aparelhos da General Electric Capital Aviation Services e com dois da Boullioun Aviation Services totalizando a frota inicial de 06 aeronaves para o início de suas operações. (Exame Fev 2001) Em outubro de 2000 iniciaram-se as contratações dos funcionários para preencher as vagas definidas no escopo do projeto sendo que inicialmente foram escolhidos 600 funcionários entre os quais 100 comissárias e 50 pilotos e co-pilotos provenientes da Vasp e da Transbrasil, com 12.000 horas de vôo em média. Cento e cinco dos contratados foram enviados para treinamento em Berlim, Amsterdã, Palma de Mallorca, Seattle e Salt Lake City. %. (HSM Nov-dez 2005) Na primeira semana de dezembro, o antigo DAC atual ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil concedeu o e autorizou a concessão das linhas em 2 de janeiro de 2001. No início do mesmo mês a GOL transferiu a sua rede para o prédio da Transportes Breda, em São Bernardo do Campo. Ainda sem o contrato de aluguel firmado nos aeroportos, a Embratel começou a Instalar os cabos ópticos para os balcões de check-in. A conexão entre o painel de distribuição de energia da Infraero e o check-in em Brasília ficou pronta em 14 de janeiro, na véspera da inauguração, que estava prevista para as 6h26min da manhã. (HSM Nov-dez 2005) O primeiro vôo partiu com nove passageiros pagantes; a taxa média de ocupação dos 52 vôos, no primeiro dia, foi de 32%, subindo para 44% no terceiro dia e para 51,7% no quarto -aproximando-se do seu objetivo de 60%. (Exame Fev 2001) 4.2 - A estratégia da Gol Desde o desenvolvimento do projeto e da sua criação a Gol trabalhou com uma estratégia de posicionamento de mercado, ancorada no oferecimento de baixas tarifas ao seu público alvo, posicionamento este viabilizado pelo custo baixo conseguido em grande parte pela adoção das estratégias inovadoras que posteriormente iriam ser copiadas pelas demais empresas do setor. Serra (2003). • Os gastos menores de combustíveis (o Boeing 737-700 é considerado o avião mais moderno e econômico de sua classe, consumindo de 8 a 11% menos combustível); • A racionalização da manutenção de aeronaves; • O serviço de bordo sem refeições quentes e bebidas alcoólicas • Grande automação dos processos internos e no relacionamento com os clientes. O público alvo delineado no escopo do projeto era a classe C, que nesta época, não tinha ainda o hábito de se deslocar, utilizando o avião como meio de transporte. Serra (2003). 4.3. As metas de desempenho A meta inicial da empresa delineada em seu projeto era atingir a marca de 120 mil passageiros/mês ao longo do seu primeiro ano de operação. Para 2002 a meta era atingir 5 milhões de passageiros/ano e dobrar o faturamento, alcançando 13% de participação do mercado, aumentar mais o espaço na classe C, colocando nos aviões da empresa mais de 300 mil pessoas que nunca viajaram por este meio de transporte, subir a venda de passagens pela Internet dos iniciais 7% para 15% e explorar novas fontes de receita, como a publicidade interna no avião Serra (2003). 5 - Resultado após um ano de operação Com a saída da Transbrasil do mercado em 2001, a GOL ganha um novo impulso ao suprir esta lacuna e atinge uma participação de 8,05% do mercado ao final do ano com um volume de passageiros transportados da de 2,2 milhões de pessoas, uma taxa de ocupação média de 65% e uma malha aérea que abrangia 17 cidades Serra (2003). A empresa também constatou, a partir de uma pesquisa feita entre seus passageiros, que 4% destes nunca haviam viajado de avião. Ao contrário das previsões de Constantino Jr., apresentadas anteriormente, 53% dos passageiros da GOL viajaram a lazer e 47% a trabalho, e 67% tinha nível superior completo (HSM Nov-dez 2005). Em função dos resultados, a frota de 10 aviões foi elevada progressivamente e no final de 2002 já atingia a 20 aeronaves. Serra (2003). Após um ano de operação, a GOL detinha 1.034 funcionários, quase o dobro em relação aos 600 empregados do início da operação. Ela ampliou sua linha de serviços ao entrar no serviço de vôos charter e no transporte de cargas, que representou, no início de 2002, 4% da receita total da empresa, correspondendo a 800 toneladas por mês Serra (2003). 6 – Resultados da Empresa após os primeiros 05 anos de operação Nos primeiros 05 anos de operação a empresa GOL colheu os frutos de seu modelo de negócio inovador e da adoção de processos de inovação em toda sua estrutura produtiva como seu projeto de criação estipulava apresentando os seguintes resultados consolidados. Fonte: Dados Corporativos GOL Fonte: Dados Corporativos GOL No final de 2005 a taxa de utilização dos aviões da empresa atingiu a 13,9 horas por dia, constituindo-se na maior taxa de utilização de aeronaves no mercado brasileiro da ANAC (2006). A idade média da frota de aviões da empresa atingiu ao longo de 2006 a 8,7 anos, sendo uma das mais baixas do mundo (DADOS CORPORATIVOS GOL) Fonte: Dados Corporativos GOL O lucro líquido em 2005 atingiu a R$513,2 milhões, apresentando um crescimento anual de 33,4%, e representando margem sobre o lucro líquido de 19,2%. 7 – Considerações Finais O presente artigo procurou oferecer um panorama geral de como a utilização de processos inovadores, por uma organização aliado a uma eficiente gestão de projetos, pode permitir uma elevação de seu nível de competitividade, ajudando-a a operar em mercados que se caracterizam por conter um elevado grau de incerteza, instabilidade, turbulência e grande nível concorrencial. Primeiramente, procedeu-se uma abordagem conceitual sobre o tema apontando alguns dos principais benefícios da utilização de processos inovatórios e da gestão de projetos por parte das organizações. Em seguida, fez-se uma breve análise sobre o mercado de aviação no Brasil, apontando suas principais características, por fim procedeu-se com o estudo do caso Gol em seus primeiros 05 anos de operação. O estudo de caso da GOL linhas Aéreas em seus primeiros 05 anos de vida, apesar das limitações existentes, na coleta e análise dos dados sobre sua estratégia, permite ao leitor compreender, mesmo de forma limitada, o processo de criação de uma empresa, sua inserção em um mercado altamente competitivo e como a inovação, mesmo que nas pequenas coisas, pode ser utilizada dentro de uma estratégia visando obter vantagens competitivas, que possibilitem uma atuação dinâmica no mercado, transferindo para os clientes os ganhos de produtividade obtidos por uma melhor gestão de sua estrutura operacional. O estudo de caso da GOL linhas Aéreas, apesar das limitações existentes, na coleta e análise dos dados sobre sua estratégia, permite ao leitor compreender, mesmo de forma limitada, o processo de criação de uma empresa, sua inserção em um mercado altamente competitivo e como a inovação, mesmo que nas pequenas coisas, pode ser utilizada dentro de uma estratégia visando obter vantagens competitivas, que possibilitem uma atuação dinâmica no mercado, transferindo para os clientes os ganhos de produtividade obtidos por uma melhor gestão de sua estrutura operacional. Podemos tirar algumas lições do caso estudado, uma delas e talvez a principal é que a adoção de um processo de inovação, por parte de qualquer corporação, tem que ser ancorado em uma filosofia e visão de continuidade, fazendo com que um processo de inovação dentro das corporações não seja tomado apenas como um modismo passageiro, mas sim, como um processo contínuo de construção de novas capacitações e aprendizagem, capaz de tornar as organizações cada vez mais competitivas. E quando se alia a inovação a uma gestão de projetos eficaz a probabilidade de acerto eleva-se consideravelmente. A adoção de estratégias inovadoras e uma gestão de projetos eficiente por si só não tem o poder de garantir a manutenção de resultados sustentados no médio e longo prazos devido as caracteristicas específicas inerentes do setor aéreo, mas podem ser um indício da vitalidade das organizações na busca por soluções pouco convencionais para problemas recorrentes. 8 - Limitações da Pesquisa e Sugestões para Estudos Futuros As limitações deste estudo estão relacionadas a aspectos tais como: • O tempo escasso para identificação e seleção de mais dados sobre o tema. • Acesso a dados sobre a estratégia da GOL e seus resultados na utilização de processo inovatórios. Uma sugestão para estudos futuros seria a elaboração de um estudo mais aprofundado sobre os impacto das empresas “low fare low cost” no mercado de aviação civil no Brasil e seus resultados operacionais no mercado brasileiro. Para um aprofundamento da análise seria interessante elabora estudos que possam comparar os resultados atingidos pela empresa em seus primeiros 05 anos de existência com os resultados dos últimos 05 anos para compararmos as estratégias inovadoras utilizadas e seus resultados práticos. 9 – Referências Bibliográficas ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil. Brasília. www.anac.gov.br acesso em 22.01.2013 Carvalho e Rabechini Jr - Construindo Competências para gerenciar projetos. Ed Atlas., 2005 DAMANPOUR, Fariborz, EVAN, William M. Inovação organizacional Desempenho. v. 29, n. 3, 1984 Guia PMBOK 3 Ediçao, 2004 HELDMAN, Kim. Gerencia de Projetos: Fundamentos. Um guia prático para quem quer certificação em gerencia de Projetos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005 – 4 Edição. JUNIOR, Constantino de Oliveira. Redesenhando a Aviação. HSM Management, n. 53, p. 34-40, nov./dez. 2005. 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