EFEITOS DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA SOBRE O DESEMPENHO PRODUTIVO DAS EMPRESAS: O CASO DE PAÍSES DESENVOLVIDOS Nome: Bruno Leonardo Silva Tardelli Titulação: Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestrando em Economia Aplicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Afiliação Institucional: Estudante do Programa de Pós Graduação em Economia (PPGE) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected] Endereço: Avenida Coronel Lucas de Oliveira, 2448, AP. 403. CEP: 90460000 – Porto Alegre, RS - Brasil. Tel: (51) 82428287. ÁREA 7: MICROECONOMIA E ECONOMIA INDUSTRIAL 1 EFEITOS DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA SOBRE O DESEMPENHO PRODUTIVO DAS EMPRESAS: O CASO DE PAÍSES DESENVOLVIDOS RESUMO: Este trabalho busca analisar a relação entre gastos em P&D e o desempenho produtivo das empresas (medido pela produtividade do trabalho). É realizado um estudo empírico descritivo com 842 empresas pertencentes a cinco países (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e França) para os anos de 2002 a 2005 utilizando base de dados da European Commision. A literatura empírica permite dar robustez à existência de associação entre gastos em P&D e a produtividade do trabalho. A análise descritiva dos dados encontrou que a localização das empresas constituiu um fator importante na associação entre as variáveis-chave, quais sejam os gastos em P&D e a produtividade do trabalho, no sentido que no Japão os elevados gastos em P&D e em capital físico associaram-se com uma produtividade maior relativamente às outras regiões abordadas neste estudo. A posição de destaque do Japão foi seguida de modo decrescente pelos Estados Unidos e pelos países europeus – agrupados em uma única região -, respectivamente. Palavras-chaves: Gastos em P&D; produtividade; países desenvolvidos; intensidade tecnológica Classificação JEL: O30, R30. ABSTRACT: This paper analyzes the relation between spending on R&D and productive performance of firms (measured by labor productivity). It conducted a descriptive empirical study with 842 companies from five countries (USA, Japan, Germany, UK and France) for the years 2002 to 2005 using the database of the European Commision. The empirical literature provides robustness to the existence of association between spending on R & D and productivity at work. The descriptive analysis found that the location of the companies was a major factor in the association between key variables, which are spending on R & D and productivity at work, in the sense that in Japan the high spending on R & D and physical capital associated with higher productivity compared with other regions covered in this study. The leading position of Japan was followed by descending order by the United States and European countries - grouped in a single region -, respectively. Keywords: R &D investment; productivity; developed countries; technological intensity JEL Classification: O30, R30. 2 1. Introdução Os impactos das inovações tecnológicas sejam eles negativos, positivos ou neutros podem ser refletidos na rentabilidade, no fluxo de caixa, na participação de mercado, na competitividade, na produtividade, no meio ambiente, na qualidade do serviço e nas relações de trabalho. (MANUAL DE BOGOTÁ, 2001, p. 73). Segundo Manual de Oslo (1997), vários indicadores podem ser utilizados para mensurar o impacto das inovações no desempenho da empresa. Em primeiro lugar, pode-se utilizar a proporção das vendas devido a produtos tecnologicamente novos ou aprimorados, em que os dados podem ser obtidos através de pesquisa relacionada à parcela de vendas e exportações devida a produtos tecnologicamente inovadores; em segundo lugar, através da obtenção dos resultados do esforço de inovação, por meio de painéis de pesquisas, em que se tem a possibilidade de conseguir combinações interessantes das variáveis de inovação com outras variáveis da empresa para analisar os resultados da inovação; e, em terceiro lugar, obter o impacto da inovação no uso dos fatores de produção, por meio da inclusão de questões relacionadas, por exemplo, ao uso de mão-de-obra, ao consumo de materiais, ao consumo de energia e à utilização de capital fixo. Ao ser analisada a questão da inovação como um elemento significativo (ou não) para o aumento do desempenho produtivo da empresa pode-se considerar a existência de um intermediário entre inovação tecnológica e produtividade, qual seja, a concorrência. Segundo Ahn (2002), na visão shumpeteriana de poder de mercado e inovação se poderia esperar que a concorrência obrigasse as empresas a inovar para poder sobreviver. Segundo Rao e outros (2001) a moderna teoria do crescimento identifica três principais determinantes do crescimento da produtividade: a acumulação de capital físico; a acumulação de capital humano; e, taxa de inovação e mudança tecnológica. Não é necessário, no entanto, considerá-los como fatores separados, uma vez que interagem de formas complexas e são de natureza complementar. Além disso, o ambiente de negócios de um país, também, seria importante. Em determinadas condições estruturais, tais como a abertura ao comércio e ao investimento, o grau de concorrência na economia, o sistema financeiro, qualidade da gestão e proteção da propriedade intelectual são importantes fatores favoráveis à melhoria da produtividade. De acordo com Ahn (2002), em estudos empíricos, insumos inovadores são mais comumente medidos pela despesa ou por pessoal em P&D. Evidências baseadas em dados de firmas e da indústria sugerem uma relação positiva e forte entre a P&D e o crescimento da produtividade. No entanto, convém sublinhar que os dados de gastos em P&D também são suscetíveis a erros consideráveis de medição. No presente estudo, a literatura empírica permite dar robustez à existência de associação entre gastos em P&D e a produtividade do trabalho. A análise descritiva dos dados encontrou que a localização constituiu um fator importante na associação entre as variáveis-chave, quais sejam os gastos em P&D e a produtividade do trabalho, no sentido que no Japão os elevados gastos em P&D e em capital físico associaram-se com uma produtividade maior relativamente às outras regiões abordadas neste estudo, seguido dos Estados Unidos e dos países europeus – agrupados em uma única região -, respectivamente. O estudo está estruturado em quatro seções, além desta parte introdutória. Na segunda, uma revisão de literatura sobre estudos empíricos que abordam a relação entre gastos em P&D e produtividade; na terceira seção, será realizada a apresentação da base de dados desta pesquisa; na quarta seção, a análise descritiva dos dados; e, na última seção, as considerações finais. 3 2. Considerações sobre estudos empíricos Segundo a OCDE (2008) existem várias razões para analisar a relação entre a inovação tecnológica e produtividade no nível da firma. Em primeiro lugar, são as firmas que inovam, não os países ou as indústrias; em segundo lugar, a análise agregada encobre heterogeneidades, no sentido de que o desempenho e características das firmas diferem tanto entre os países como nas indústrias. A questão da inovação tecnológica e sua relação com a produtividade já é tema de longa data na literatura, como em Griliches (1958), muitas vezes em busca de analisar o papel das atividades inovadoras no crescimento econômico, com base na produtividade total dos fatores (PTF). O desenvolvimento da questão envolvendo os esforços inovativos e o desempenho da firma envolve uma série de estudos empíricos por países que por diversas vezes partem de micro dados por empresa em conjunto com o auxílio da análise advindas da utilização de ferramentas estatísticas. Griliches (1998) estudou a relação entre gastos em P&D e produtividade analisando a elasticidade entre estas variáveis e reuniu uma grande amostra de empresas com o objetivo de confirmar a elasticidade encontrada em estudo anterior. A medição das variáveis levanta muitas questões conceituais, bem como dificuldade de ordem prática. O autor refletiu sobre a inclusão de defasagem nas variáveis a partir de uma taxa média de obsolescência dos gastos em P&D e do intervalo de tempo médio entre estes e o resultado na produtividade, mas os dados não se mostraram suficientemente informativos. Então, decidiu calcular uma medida para analisar os estoques inobserváveis de capital como medida do efeito de defasagem distribuída dos investimentos anteriores de gastos em P&D na produtividade. Deve-se a Crépon, Duguet e Mairesse (1998) o esforço em elaborar um sistema de equações que busca a explicação das relações entre P&D, inovação e produtividade, como também, funcionam na correção de problemas de endogeneidade e de viés de seleção na estrutura sistemática. Os modelos do tipo CDM são realizados em três estágios, sendo que no aspecto geral, o modelo procura responder não somente a relação entre gastos em P&D e produtividade, mas o processo como um todo. O processo considera as decisões de inovar da firma e o alcance dos investimentos a serem realizados em atividades inovativas, gastos em P&D são relacionados à constatação de patentes, inovações de produto e/ou processo e vendas articulados a novos produtos e a dimensão que isso pode trazer em termos de ganho de produtividade para a firma. Lööf e outros (2001) examinam a relação entre inovação e produtividade na Finlândia, Noruega e Suécia, ao nível da empresa, com os dados do internacionalmente conhecido na Europa como Community Innovation Survey (CIS) aplicando o modelo CDM. Ao considerar o crescimento da produtividade agregada do trabalho na manufatura, a Finlândia e Suécia apresentam as maiores taxas de crescimento entre os países da OCDE nos últimos anos, enquanto a Noruega mostrou uma taxa de crescimento muito baixo. Ao mesmo tempo, Finlândia e Suécia são altamente classificadas internacionalmente como investidoras em P&D e têm um elevado número de pedidos de patentes residencial per capita da população, enquanto na Noruega ranking é muito baixo em ambos. Isto sugere que os gastos em P&D e a performance de inovação são fatores que podem ser fundamentais na origem das diferenças de crescimento da produtividade entre os países. Lööf e outros (2001) ao analisar os dados ao nível da empresa revela-se, contudo, que a proporção de empresas inovadoras, do montante de investimento em inovação não é baixa na Noruega. Verificando-se, então, a relação entre inovação e produtividade pode ser visto que a 4 elasticidade estimada de produtividade com relação aos gastos em inovação é maior na Noruega do que em seus dois vizinhos neste estudo. Surpreendentemente não foi encontrada significativa relação entre inovação e produtividade para a média das firmas na Finlândia, um país com uma economia altamente produtiva. A conclusão principal que se chega é que a origem do forte desempenho da produtividade na Finlândia, e o fraco desempenho na Noruega pode ser encontrada mais nos sistemas nacionais de inovação nesses países, ao invés da relação entre inovação e produtividade. Na Suécia, no entanto, parece haver alguma correspondência entre micro e valores agregados. Parisi, Schiantarelli e Sembenelli (2002) apresentam evidências empíricas sobre o efeito de processos e produtos inovadores na produtividade, bem como sobre o papel desempenhado pelos gastos em P&D e de investimento em capital fixo no aumento da probabilidade de introdução de inovações no nível da empresa em firmas da Itália. O estudo pauta-se de uma análise econométrica que utiliza uma função de produção Cobb-Douglas aumentado por dummies de inovação, com dados de 1992-1994 e 1995-1997. Os resultados mostram que o processo de inovação tem um grande impacto sobre a produtividade. Além disso, a despesa em P&D é fortemente positiva associada com a probabilidade de introduzir um novo produto, considerando que as despesas de capital fixo aumentam a probabilidade de introduzir uma inovação de processo. O último resultado reflete o fato de que as novas tecnologias freqüentemente são incorporadas nos bens de capital novo. No entanto, o efeito do investimento fixo sobre a probabilidade da introdução de uma inovação de processo é ampliado em gastos com P&D interno à empresa. Isto implica que a investigação e desenvolvimento influenciam o crescimento da produtividade, facilitando a absorção de novas tecnologias. Os resultados encontrados por Parisi, Schiantarelli e Sembenelli (2002) revelam que o efeito da produtividade de uma inovação de processo é maior do que o de uma inovação de produto. Além disso, a despesa em investigação e desenvolvimento de atividades inovativas é fortemente associada positivamente com a probabilidade de introduzir um novo produto, mas não com a probabilidade da introdução de um novo processo. Encontraram evidência sobre o importante papel da pesquisa e desenvolvimento no estímulo à inovação de produto e para facilitar a absorção de novas tecnologias que aumentam a produtividade, o que segundo os autores é muito preocupante visto que a Itália é caracterizada por empresas com baixa despesa em investigação e desenvolvimento de atividades inovativas relativamente a outros países da OCDE. Mairesse e Mohnen (2003) estimam um modelo estrutural que conecta os gastos em P&D, inovação, produção e produtividade ao longo das linhas do modelo do tipo CDM, utilizando dados sobre inovação da França, Alemanha, Reino Unido e Espanha extraídos do Community Innovation Survey 2, CIS2, referente aos anos de 1994-1996. Os resultados obtidos são que a atividades inovativas por meio de gastos em P&D influenciam de modo positivo e significativo tanto as inovações de processo como as de produto, sendo que esta é a que tem impacto significante para a elevação da produtividade do trabalho. Além disso, as empresas francesas intensivas em atividades inovativas são mais produtivas que as espanholas e alemãs. As empresas alemãs são consideradas mais inovadoras do que a média européia, mas são menos produtivas. Licandro, Maroto e Puch (2003) investigam o papel da atividade de inovação na formação do comportamento do investimento e da produtividade do trabalho de empresas de fabricação espanhola 1990-2001. Para tanto, utilizou-se da estimação de dados em painel com efeitos fixos. Descobriram evidências de que as firmas inovadoras aumentam a sua produtividade após um pico de investimento, mas lentamente, exibindo curvas de difusão suave. No entanto, a produtividade não registrou grandes melhorias em empresas não inovadoras, após um pico de investimento. 5 Gu e Tang (2003) investigam o impacto na produtividade proveniente do P&D, das patentes, da adoção de tecnologias e de competências para o caso do Canadá. Segundo o autor em muitos estudos canadenses o uso de P&D como medida única de inovação trouxe poucas evidências de impacto positivo sobre a produtividade. Por meio de uma medida global de inovação que capta tanto a geração de tecnologias e adoção de tecnologia, Gu e Tang (2003) encontraram uma relação forte e positiva entre inovação e produtividade. Entretanto, o autor adverte que o tempo de duração que leva para que a inovação tem um impacto positivo e significativo sobre a produtividade difere entre as indústrias. Cameron, James e Reddingc (2003) analisam o crescimento da produtividade em um painel de indústrias de fabricação Reino Unido desde 1970. Assim, examinaram o papel desempenhado pelo P&D, pelo comércio internacional e pelo capital humano, no crescimento da produtividade. A abordagem aplicada para a produtividade é a produtividade total dos fatores (PTF). Entre as constatações, o estudo encontrou, por meio de análises econométricas, que os gastos P&D influenciam positivamente as taxas de crescimento da produtividade do Reino Unido, enquanto comércio internacional facilita a transferência de tecnologia. Arbache (2005) estuda o impacto da inovação tecnológica e exportações no tamanho e na produtividade de firmas brasileiras do setor manufatureiro. As análises realizadas apontam indícios de existência de associação entre inovação, exportação, tamanho e produtividade da firmas e de que a inovação e a exportação implicam em maior produtividade e em crescimento de firmas culminando, assim, no aumento de competitividade das firmas. Love e Roper (2005) examinam a dinâmica da inovação e performance empresarial para um painel de fábricas irlandesas. O impacto da inovação sobre a produtividade seria claro e dinâmico. De acordo com os autores, a inovação de produto reduz a produtividade contemporânea, mas tem um efeito positivo subseqüente sobre o valor acrescentado. Duas explicações para este último efeito são de que: em primeiro lugar, ela pode simplesmente refletir as perturbações causadas à produção devido à introdução de novos produtos; e, em segundo lugar, pode estar relacionada ao ciclo de vida do produto, e reflete um período inicial de produção ineficiente e em pequena escala antes de mais eficiente quando inicia a produção em massa. Em contrapartida, a inovação de processo aumenta a produtividade muito rapidamente, e não tem nenhum efeito defasado. Griffith e outros (2006) comparam o papel da inovação tecnológica na produtividade através dos mesmos países abordados por Mairesse e Mohnen (2003), utilizando dados ao nível da firma e harmonizados de acordo com o CIS3. Os autores aplicam o modelo do tipo CDM para obter a relação entre os gastos em P&D, a produção de inovação e produtividade. As conclusões são de que os sistemas de condução de inovação e produtividade são muito parecidos em toda a França, Alemanha, Espanha, e no Reino Unido, apesar da ocorrência de diferenças na variação da produtividade que está relacionado ao perfil das atividades inovadoras. Os resultados referentes à produtividade do trabalho são bastante variados entre os quatro países europeus. A inovação de processo somente está associada a uma maior produtividade na França, enquanto que nos outros países não se pode estabelecer esta conexão. No caso da inovação de produto, esta está vinculada a maior produtividade em França, Espanha e Reino Unido, mas não na Alemanha. Damijan, Kostev e Rojec (2008) analisam as implicações da teoria do crescimento endógeno sobre a relação entre empresa inovação, produtividade, bem como o crescimento da produtividade através da combinação de informações sobre a empresa e o nível de inovação por meio de dados da Community Innovation Survey (CIS) de uma grande amostra de empresas eslovenas no período 1996-2002. O autor empregou vários métodos de cálculo diferentes para controlar a endogeneidade da inovação do método do tipo CDM e as características 6 idiossincráticas empresa. Dentre os resultados encontrados destaca-se uma relação significativa e robusta entre os níveis de produtividade e a propensão da firma empresa inovar, enquanto que o resultado sobre a ligação entre a inovação e o crescimento da produtividade não foi robusto a diferentes abordagens econométricas. Além disso, cabe dizer que nestas distintas abordagens econométricas pouca evidência é encontrada em favor de inovações - seja de produto ou processo - que afetam positivamente o crescimento da produtividade. Criscuolo, Squicciarini e Lehtoranta (2010) construíram uma versão modificada do modelo CDM com a finalidade de investigar as relações entre a P&D, a produção de inovação e produtividade utilizando as bases de dados CIS3 e CIS4 para o caso de empresas finlandesas. Verificaram que o valor investido em P&D é positivamente relacionada ao tamanho da empresa (em termos de número de empregados) e à intensidade dos obstáculos enfrentados. Para a produção inovadora, os autores interpretaram que o investimento em P&D é positivamente relacionada com o aumento das vendas de produtos inovadores. Além disso, verificou-se que as inovações de processo parecem ser complementar inovação de produto e está positivamente correlacionada ao aumento de vendas inovadoras. Adicionalmente, as vendas inovadoras são positivamente correlacionadas com a produtividade. Benavente (2002) examinou o papel da inovação na promoção da produtividade das empresas, dando seqüência também, à linha de pesquisa empírica iniciada por Crépon, Duguet e Mairesse (1998) sobre o impacto da investigação e desenvolvimento de atividades inovativas na inovação e da inovação na produtividade das empresas, com dados referentes ao período de 1995 a 1998. Este é considerado o primeiro esforço em direção à análise da pesquisa e inovação e seus impactos sobre a produtividade em países menos desenvolvidos. Verificou-se que no caso do Chile a produtividade das empresas não é afetada por resultados inovadores nem por despesas em pesquisa em curto prazo. O estudo centrou-se na questão de as empresas investem em pesquisa e desenvolvimento visando novos produtos e/ou reduzir seus custos de produção. Estes se aceitos com sucesso pelo mercado poderiam ter um impacto sobre o desempenho da produção das empresas e na viabilidade econômica do projeto. As principais constatações encontradas na pesquisa são de que nem as despesas de investigação, nem a inovação têm impacto significativo sobre as vendas e a produtividade, respectivamente. Benavente (2002) associa uma explicação mais plausível a estas constatações com o fato de que a produtividade é medida como o valor acrescentado por trabalhador. Se a inovação é principalmente relacionada com a mudança técnica encarnada, este efeito não é captado pelo modelo utilizado. Jefferson e outros (2002) investigam a performance dos gastos em atividades inovativas no ramo comercial chinês. Analisam os determinantes do nível de intensidade de P&D nas empresas, o processo de produção do conhecimento e o impacto da inovação sobre o desempenho das empresas. Os autores chegam a algumas conclusões relacionadas às contribuições de gastos de P&D para a inovação de novos produtos, produtividade e rentabilidade. Encontrou-se forte relação entre a intensidade de gastos em atividades inovativas e as vendas de novos produtos, principalmente nos setores farmacêutico e de equipamentos de telecomunicações. Além disso, verificou-se que as empresas estatais apresentam baixa eficiência na produção de conhecimento, mas quando adquirem novos conhecimentos estas parecer ser capazes de utilizar as inovações tão eficazmente quanto as empresas privadas. Por fim, constatou-se a presença de retornos significativos em relação aos gastos em atividades inovativas, e que estes seriam superiores aos investimentos em ativos fixos. Goedhuys (2007) investiga o impacto de um vasto conjunto de atividades de inovação sobre a produtividade total dos fatores (PTF) de empresas do Brasil e seus efeitos subseqüentes sobre o crescimento dessas empresas, medidos através das vendas. Segundo Goedhuys (2007), as 7 atividades que possibilitam maiores níveis de produtividade são mudança organizacional, cooperação com clientes, desenvolvimento do capital humano, a utilização das TIC, inovação de produtos e de aprendizagem através da exportação, sendo o efeito de gastos em P&D presente apenas no longo prazo. As empresas com níveis de produtividade inicial mais elevados crescem mais rapidamente, assim como as empresas que conseguem aumentar os seus níveis de produtividade ao longo do tempo. As empresas jovens que conseguem sobreviver crescem relativamente com maior velocidade que as demais. Kannebley, Valeri e Araújo (2007) examinam os impactos de várias atividades ligadas à inovação sobre o desempenho e sobre a taxa de crescimento das firmas industriais brasileiras, nos período 1996-2002. Verificaram que as inovações tecnológicas geram impactos positivos e significativos sobre: a quantidade de pessoal ocupado, a receita líquida de vendas, a produtividade do trabalho, a produtividade do capital e o market share das firmas. Além disso, encontraram, também, que a aplicação conjunta de inovações em produto e em processo, em relação a outros tipos de inovação, gera impacto maior sobre desempenho das firmas. Em comparação aos modelos semelhantes elaborados para países desenvolvidos, devemse ressaltar especificidades existentes nas análises realizadas a partir de modelos CDM para países em desenvolvimento, tais como, a relação mais fraca entre os resultados inovativos e o desempenho dos agentes, mensurado através da produtividade do trabalho. Esta dificuldade seria proveniente das dificuldades de captação das relações entre variáveis numa análise de curto prazo e da importância das técnicas incorporadas em novos ativos fixos, não sendo incorporadas de forma satisfatória no modelo CDM básico. Além disso, existem algumas modificações realizadas para adequar o modelo básico de forma a captar especificidades da dinâmica inovativa local. Em resumo, dos 15 estudos analisados, apesar de suas distinções objetivas e metodológicas verificou-se a presença de alguma correspondência relevante entre inovação tecnológica – seja de processo ou de produto - e produtividade, exceto no estudo de Benavente (2002). 3. Apresentação da base de dados Este estudo tem por objetivo verificar a existência de padrões que regem as relações entre gastos em P&D e produtividade. Buscar-se-á entender estas através de um banco de dados intitulado R&D industrial investment Scoreboard proveniente do sítio European Commission para o período compreendido entre 2002 e 2005 (período de disponibilidade de dados completos) no qual serão examinados os setores industriais a serem utilizados na pesquisa. Os setores industriais serão abordados em sua dimensão tecnológica por meio de distinção de intensidade tecnológica e territorial por uma divisão continental. O conceito de P&D pode ser compreendido pelo “trabalho criativo realizado numa base sistemática, a fim de aumentar o estoque de conhecimento, inclusive do homem, cultura e sociedade, e o uso desse estoque de conhecimento para novas aplicações” (MANUAL FRASCATI, 2002, p. 30). No que diz respeito à segunda variável-chave, qual seja, a produtividade, esta será medida pela relação entre receita líquida de vendas (em euros) e o número de funcionários. Usualmente, a produtividade do trabalho é mesurada como a razão entre o valor adicionado e o número de funcionários. Entretanto, a variável “valor adicionado” não está disponível para o banco de dados desta pesquisa. Mesmo assim, pode-se dizer que a receita líquida de vendas é uma proxy satisfatória do “valor adicionado”, pois se apresenta como um resultado do acréscimo de valor no 8 produto analisado. A utilização da produtividade apenas a partir do insumo trabalho se deve ao fato de haver indisponibilidade de dados suficientes para considerar os demais fatores de produção. O banco de dados da European Commission que será apresentada é composta por 21 setores industriais. São eles: biotecnologia, hardware, serviços de computadores, equipamentos de cuidados de saúde e serviços, internet, farmacêutico, software, aeroespacial e defesa, automóveis e peças, produtos químicos, equipamentos e componentes elétricos, equipamentos eletrônicos, indústrias gerais, artigos domésticos, máquinas industriais, os bens pessoais, eletricidade, telecomunicação de linha fixa, construção e materiais, indústria de metais e indústria de transportes. Nesta pesquisa estão presentes cinco países: os Estados Unidos, representantes das Américas; o Japão, da Ásia; e, Reino Unido, Alemanha e França, da Europa. A escolha dos países pautou-se pela quantidade de dados disponíveis e pela expressividade econômica destes. Antes de qualquer investigação serão apresentadas algumas questões relacionadas à base de dados no que se refere às suas particularidades. A base de dados foi elaborada a partir de relatórios anuais das empresas com data de referência de 01 de agosto de cada ano. A fim de maximizar a integridade e evitar dupla contagem, as contas são consolidadas em grupos de empresas-mãe e, assim, as empresas que sejam filiais de uma outra empresa não são listados separadamente (EUROPEAN COMMISION). Segundo o European Commission, os dados utilizados para o painel de avaliação são diferentes dos dados fornecidos pelos institutos de estatística. O painel de avaliação refere-se a gastos em P&D como aquilo que foi financiado por uma empresa particular de seus próprios fundos, independentemente de onde essa atividade de é executada. Já as estatísticas de gastos em P&D oficiais referem-se a todas as atividades inovativas realizadas por empresas do mesmo setor e ao país, independentemente da localização da sede da empresa e da origem das fontes de financiamento. Além disso, o painel de dados utilizado nesta pesquisa coleta dados de auditoria de contas e relatórios financeiros. As estatísticas oficiais de gastos em inovação, ao contrário, são compiladas com base em levantamentos estatísticos, em geral, que abrange o conhecido R & D performer. (EUROPEAN COMMISION). Outras diferenças referem-se à utilização das classificações setoriais. As estatísticas convencionais de gastos em P&D seguem a classificação das atividades econômicas na Comunidade Européia, a NACE Rev.1.1., enquanto a base elaborada pela European Commision aloca as empresas de acordo com a classificação setorial, tal como definido pelo Financial Times Stock Exchange Index (classificação ICB) e depois converte em NACE Rev.1.1. (EUROPEAN COMMISION). Os gastos em P&D envolvem as despesas em a pesquisa e o desenvolvimento da pesquisa realizada. A definição consta do International Accounting Standard (IAS) 38 e baseia-se no Manual Frascati da OCDE. A pesquisa é definida como a investigação original planejada com a perspectiva de adquirir conhecimentos científicos ou técnicos e compreensão. As despesas com pesquisa são reconhecidas como gastos quando incorridas. Já o desenvolvimento é visto como a aplicação dos resultados da investigação ou de outros conhecimentos a um plano ou projeto para a produção de materiais novos ou substancialmente melhorados, aparelhos, produtos, processos, sistemas ou serviços antes do início da produção comercial ou uso. Os custos de desenvolvimento são capitalizados quando atender a certos critérios, e quando se possa demonstrar que o ativo gerará prováveis benefícios econômicos futuros (EUROPEAN COMMISION). 9 As despesas de capital compreendem as despesas realizadas por uma empresa com o intuito de adquirir ou atualizar ativos físicos. Segundo a introdução da base de dados da European Commission, em relação à receita líquida de vendas, a definição de contabilidade das vendas tem sido seguida, de modo a excluir os impostos sobre vendas e ações de vendas de joint ventures e associadas. O número de funcionários é contabilizado como o número médio de empregados ou o número de empregados no final do período de referência, caso a média anual não está disponível. Como neste estudo é desejada a obtenção de uma inferência da relação dos gastos em P&D na produtividade (do trabalho) utilizar-se-á uma proxy para o cálculo da produtividade, qual seja, a relação entre as receitas líquidas de vendas e o número de funcionários das empresas. A Tabela 1 aponta os países participantes desta pesquisa, bem como à divisão continental que pertencem e o número de empresas que representam. Fica claro pela quantidade de empresas com dados disponíveis para pesquisa no caso dos Estados Unidos (384 empresas no total) o porquê de admitir sua presença, bem como a do Japão (com 124 empresas) e dos três países europeus com maior poder econômico. Tabela 1 - Classificação dos países e Número de empresas Classificação dos Países por Região Países Número de Empresas % do Total Américas Estados Unidos 384 46% Ásia Japão 124 15% Europa Alemanha França Reino Unido 334 40% TOTAL 842 Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission A Tabela 2 apresenta os setores participantes, bem como a divisão por intensidade tecnológica utilizada pelo The 2009 EU Industrial R&D Investment Scoreboard European Commission. Entende-se que, dada à existência de algumas distintas formas de classificação setorial por intensidade tecnológica – como o da OCDE e a de Pavitt –, o mais conveniente seria basear-se na classificação da própria base de dados utilizada, a fim de não causar imprecisões metodológicas. Esta classificação separa os setores em quatro grupos: de alta tecnologia, média-alta tecnologia, média-baixa tecnologia e baixa tecnologia. Os setores que compõem o grupo de empresas de alta tecnologia são: biotecnologia, hardware, serviços para computadores, equipamentos de cuidados de saúde e serviços, internet, farmacêutico e software; o setor de média-alta tecnologia é formado por: aeroespacial e defesa, automóveis e peças, produtos químicos, equipamentos e componentes elétricos, equipamentos eletrônicos, indústrias gerais, artigos domésticos, máquinas industriais e os bens pessoais. Os setores de média-baixa e baixa tecnologia foram integrados a um mesmo grupo neste estudo, dado o menor número de dados disponíveis e relativo grau de proximidade tecnológico, sendo eles compostos por: eletricidade, telecomunicação de linha fixa, construção e materiais, indústria de metais e indústria de transportes. 10 Tabela 2 – Classificação por Intensidade Tecnológica, setores e Número de empresas Classificação setorial por intensidade Tecnológica Setores de Alta Tecnologia Setores de Média-Alta Tecnologia Setores de Média Baixa e Baixa Tecnologia Setores Biotecnologia Hardware Serviços para computadores Equipamentos de cuidados de saúde e serviços Internet Farmacêutico Software TOTAL Número de Empresas % do Total 67 42 28 17% 11% 7% 47 9 72 127 392 12% 2% 18% 32% Aeroespacial e defesa Automóveis e peças Produtos químicos Equipamentos e componentes elétricos Equipamentos eletrônicos Indústrias gerais Bens domésticos Máquinas industriais Bens pessoais TOTAL 20 55 83 5% 15% 22% 32 73 12 28 62 13 378 8% 19% 3% 7% 16% 3% Eletricidade Telecomunicação de linha fixa Construção e materiais Indústria de metais Indústria de transportes TOTAL 13 17 22 14 6 72 18% 24% 31% 19% 8% TOTAL 842 Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission A seguir será realizada uma análise descritiva dos dados encontrados com a utilização de gráficos. 11 4. Análise Descritiva Nesse momento será feita uma análise dos dados incluindo o ritmo de evolução ao longo do tempo das variáveis e comparações entre os valores encontrados em relação à intensidade tecnológica e às regiões. O Gráfico 1 apresenta a produtividade do trabalho durante o período de 2002 a 2005 mostrando as diferenças produtivas entre estes anos e em relação às intensidades tecnológicas (setores de alta, média-alta, e média-baixa e baixa tecnologia). Observa-se que nos setores de alta tecnologia há, relativamente, uma menor produtividade em todos os anos que o estudo aborda. Uma razão para isto, é que o número elevado de pessoal ocupado em empresas de alta tecnologia pode ter sido suficientemente elevado para fazer a relação entre receita líquida de vendas e pessoal ocupado cair. Além disso, a produtividade na maioria dos anos, exceto em 2004, foi maior nos setores classificados como de média-alta tecnologia quando comparado aos demais, apesar de haver equilíbrio entre os dados de média-alta tecnologia e de média-baixa e baixa tecnologia, sendo que este equilíbrio pode ser explicado pelo mesmo motivo de uma menor produtividade média do trabalho no caso do grupo de alta tecnologia. As taxas de variação média da produtividade média por intensidade tecnológica mostram que durante o período 2002 e 2005, são bastante semelhantes entre os setores, estando em torno de 4,5% de crescimento. Gráfico 1 – Produtividade Média por intensidade Tecnológica (2002-2005) Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission Constata-se pelas informações do gráfico 2 que a produtividade média dos Estados Unidos (representante das Américas), após uma queda relativa em 2003 apresentou crescimento em 2004 e uma forte alta em 2005. O mesmo quadro pode ser verificado na Ásia (Japão) e na Europa (Alemanha, Reino Unido e França), exceto com a questão de queda de produtividade média entre 2002 e 2003 que não foi verificada no caso europeu. Este panorama indica uma tendência mais ampla da produtividade, e, portanto, é um indicativo que a evolução da produtividade pode ter uma explicação de nível mundial, ou pelo menos unívoca no caso dos países desenvolvidos. Entretanto, cabe ressaltar o destaque de produtividade média da Ásia (Japão), bem acima do patamar apresentado pelas outras regiões. 12 Gráfico 2 – Produtividade Média por Região (2002-2005) Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission No que diz respeito aos gastos em P&D durante o período 2002 a 2005, pode-se verificar pelo Gráfico 3 que os gastos em P&D, como era de se esperar, se concentram em maior valor naqueles setores classificados como de maior intensidade tecnológica. Adicionalmente, visualizase que os gastos em P&D, em geral, foram maiores em 2002 e 2005, comparativamente aos outros anos, independentemente do nível tecnológico dos setores industriais abordados. A taxa de crescimento dos gastos em P&D entre 2004 e 2005 foi mais intensa nos setores de alta tecnologia com crescimento médio aproximado de 15%, seguidos dos setores de médiaalta tecnologia com aumento de 11% e dos de média-baixa e baixa tecnologia com elevação em torno de 5%. Gráfico 3 – Gasto Médio em P&D por Intensidade Tecnológica (2002-2005) Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission A média de gastos em P&D podem se diferenciar de acordo com a localização das empresas. As empresas presentes no Japão – o representante da Ásia –, em geral, investem mais em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, seguidas pelas dos Estados Unidos – as Américas – e, por fim, os países europeus. É importante notar, que este quadro está presente independentemente do ano tomado como base (GRÁFICO 4). A taxa de crescimento de gastos médios em P&D entre 2004 e 2005 no caso da classificação por região mostra que ela foi mais elevada – e com enorme vantagem – nos Estados 13 Unidos (Américas) com expansão média próxima de 23%. Em seguida vem o Japão (Ásia) com aumento médio aproximado de 4%, sendo esta, bem inferior aos norte-americanos. Apesar do resultado evolutivo do Japão ser considerado bem inferior, deve-se salientar que o nível de gastos médios é relativamente bem superior tendo alcançado mais de 400 milhões de euros apenas nos setores analisados nesta pesquisa. Por último, observa-se um crescimento relativamente insignificante dos gastos em P&D, na Europa, com crescimento aproximado de apenas 0,7%. Gráfico 4 – Gasto Médio em P&D por Região (2002-2005) Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission Em relação às despesas em capital físico pelas empresas, o que inclui máquinas e equipamentos, poder-se-ia dizer que pelos resultados encontrados nesta pesquisa, maiores despesas não estariam associadas com elevado nível tecnológico. Entretanto, a inclusão de um número relativamente pequeno de empresas do setor de média-baixa e de baixa tecnologia pode ter influenciado na inferência O gráfico 5 mostra como essa distribuição se apresenta ao calcular as médias das despesas em capital físico. Observa-se que os setores de média-baixa e de baixa tecnologia apresentaram despesas em capital físico mais expressivos que os demais setores. Enquanto, em média, em relação a todo o período, as despesas em capital físico as empresas que compõem os setores de média-alta tecnologia foram de, aproximadamente, 271 milhões de euros, as despesas das empresas de média-baixa e baixa tecnologia foram próximas de 472 milhões de euros. As médias das despesas das empresas de alta tecnologia tiveram resultado intermediário, com despesas por volta de 354 milhões de euros. Entre o ano de 2004 e 2005 as taxas de variação média das despesas médias em capital físico foram bem expressivas no caso das empresas de alta e média-alta tecnologias em torno, respectivamente, de 23% e de 21%. No mesmo intervalo, estas despesas das empresas de médiabaixa e baixa tecnologias registraram queda de 4,5%. 14 Gráfico 5 - Média de Despesas de Capital Físico por Intensidade Tecnológica (2002-2005) Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission Ainda sobre as despesas de capital físico, nota-se que, assim como as outras variáveis, o fator localização parece realmente influenciar. No caso destas despesas médias, constatou-se que a região asiática (o Japão) tem, comparativamente, elevado nível independentemente do ano dentro do período de 2002 a 2005. Gráfico 6 – Média de Despesas de Capital Físico por Região (2002-2005) Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission Para tornar mais evidente, durante o período estudado as despesas médias de capital físico no Japão foram de, aproximadamente, 732 milhões de euros. Já os Estados Unidos e os países europeus tiveram uma média de despesas por volta de 226 e 291 milhões de euros, respectivamente (GRÁFICO 6). Este resultado dá uma indicação de que a produtividade do trabalho elevada da Ásia pode se dar pela elevada despesa de capital físico em conjunto com os gastos médios em P&D desta região (GRÁFICO 4). Os dados apresentados estão presentes no apêndice ao final do trabalho. 5. Considerações Finais Diversos trabalhos empíricos verificaram significativa relação entre gastos em P&D e o desempenho produtivo das empresas e a literatura sobre esta questão têm crescido continuamente. 15 O presente trabalho buscou analisar a relação entre gastos em P&D e o desempenho produtivo das empresas (medido pela produtividade do trabalho), através de um estudo empírico descritivo com 842 empresas pertencentes a cinco países (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e França) com intuito de compreender a relação entre as variáveis-chave, compostos da base de dados da European Commision. A análise descritiva dos dados evidenciou que a localização das empresas constituiu um fator importante na associação entre as variáveis-chave, quais sejam os gastos em P&D e a produtividade do trabalho, no sentido que no Japão os elevados gastos em P&D e em capital físico associaram-se com uma produtividade maior relativamente às outras regiões abordadas neste estudo. A posição de destaque do Japão foi seguida de modo decrescente pelos Estados Unidos e pelos países europeus – agrupados em uma única região -, respectivamente. O fato dos dados de produtividade do trabalho em relação à intensidade tecnológica não ter confirmado com a hipótese convencional encontrada na maioria dos trabalhos empíricos apresentados de que em setores mais intensivos em atividades P&D apresentam maior produtividade do trabalho abre a discussão para possíveis argumentações. Em primeiro lugar, o número elevado de pessoal ocupado em empresas de alta tecnologia pode ter sido suficientemente elevado para fazer a relação entre receita líquida de vendas e pessoal ocupado cair. Em segundo lugar, o número relativo inferior de empresas participantes da pesquisa setores de média baixa e baixa tecnologia pode ter contribuído para esta distorção. Apesar da inferência direta de significância entre atividades em P&D e desempenho produtivo não ser ter sido verificado diretamente, os argumentos apresentados para tal revelação e a literatura empírica dão sustentação para associação entre estas variáveis. Além disso, deve-se salientar que o fator localização representou um dado importante juntamente às despesas em capital físico para servir de ponte para a relação entre gastos em P&D e produtividade do trabalho, pois a ordem decrescente das regiões que apresentaram maior desempenho produtivo – Ásia, América e Europa, respectivamente - foi exatamente a mesma estabelecida entre as que tiveram maiores gastos médios em P&D e despesas médias em capital físico em todos os anos analisados, exceto nas despesas médias em capital físico em relação à ordenação entre América e Europa, mas houve relativo equilíbrio entre as duas regiões, o que faz com que as inferências apresentadas não sejam suficientemente prejudicadas. 6. Referências ANH, S. 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Analyseinstitut for Forskning: The Danish Institute for Studies in Research and Research Policy. 18 APÊNDICE - Classificação Setorial por Intensidade Tecnológica e Classificação dos Países por Região: Média de Produtividade, Gastos em P&D, Despesas em Capital Físico (2002-2005) Classificação Setorial por Produtividade Intensidade Média 2002 Tecnológica Alta Tecnologia 0,228781983 Média-Alta 0,250328949 Tecnologia Média Baixa e Baixa 0,244079187 Tecnologia Classificação dos Produtividade Países por Região Média 2002 América 0,247 Europa 0,190 Ásia 0,351 Classificação Gastos Médios Setorial Por em P&D 2002 Intensidade (mi €) Tecnológica Alta Tecnologia 314,2826548 Média-Alta 204,7041532 Tecnologia Média Baixa E Baixa 102,2990529 Tecnologia Gastos Médios Classificação dos em P&D 2002 Países por Região (mi €) América 279,7963841 Europa 146,318949 Ásia 418,5251355 Classificação Setorial Por Intensidade Tecnológica Alta Tecnologia Média-Alta Tecnologia Média Baixa e Baixa Tecnologia Produtividade Produtividade Produtividade Produtividade Média 2003 Média 2004 Média 2005 Média 2002-05 0,216870402 0,221340516 0,256942897 0,23098395 0,23828417 0,247488912 0,2841586 0,255065158 0,231271166 0,249355367 0,277617318 0,25058076 Produtividade Produtividade Produtividade Produtividade Média 2003 Média 2004 Média 2005 Média 2002-05 0,226 0,230 0,284 0,246794503 0,191 0,205 0,225 0,202782408 0,332 0,335 0,354 0,342925764 Gastos Médios Gastos Médios Gastos Médios Gastos Médios em P&D 2003 em P&D 2004 em P&D 2005 em P&D 2002-05 (mi €) (mi €) (mi €) (mi €) 300,5675362 302,371692 347,2344643 316,1140868 179,4988659 176,7461501 199,3478307 190,07425 95,79211145 91,01514486 95,54986111 96,16404259 Gastos Médios Gastos Médios Gastos Médios Gastos Médios em P&D 2003 em P&D 2004 em P&D 2005 em P&D 2002-05 (mi €) (mi €) (mi €) (mi €) 250,9273009 249,7466393 308,5641623 272,2586216 141,7740908 143,6513784 148,6892857 145,108426 395,8044685 388,8932185 407,4021774 402,65625 Média das Média das Média das Média das Média das Despesas de Despesas de Despesas de Despesas de Despesas de Capital Físico Capital Físico Capital Físico Capital Físico Capital Físico em 2002-05 em 2002 (mi €) em 2003 (mi €) em 2004 (mi €) em 2005 (mi €) (mi €) 370,0489753 351,6990425 311,714733 382,622449 354,0212999 296,0246625 242,8245994 247,4003568 300,5396825 271,6973253 550,7847342 431,7422288 463,1752439 442,5416667 472,0609684 Média das Média das Média das Média das Média das Despesas de Classificação dos Despesas de Despesas de Despesas de Despesas de Capital Físico Países por Região Capital Físico Capital Físico Capital Físico Capital Físico em 2002-05 em 2002 (mi €) em 2003 (mi €) em 2004 (mi €) em 2005 (mi €) (mi €) América 251,8011284 200,717928 199,3283396 255,6927083 226,8850261 Europa 281,6851351 294,750759 273,7235528 317,8383234 291,9994426 Ásia 853,5367192 687,2316598 653,970796 734,766129 732,376326 Fonte: Elaboração própria. R&D industrial and investment Scoreboard European Commission