CAPA FURNAS NO EXTERIOR Vocação texto Patrícia Melo e Souza internacional A sua trajetória de sucesso em projetos no exterior capacidade de FURNAS para hidrelétricas - La Sarapullo (50MW) e ultrapassar limites parece não La Alluriquín (178MW) - no Equador. ter fim: criada para atender à cons- Encontra-se em fase de negociação, trução de uma única hidrelétrica, em dependendo ainda da autorização da Minas Gerais, hoje ela possui 11 usi- Eletrobrás, a assinatura do Termo de nas em seis estados. Surgida para Compromisso para a participação em garantir o crescimento sustentável projeto pioneiro no Peru, que tem do Brasil, seu know-how ultrapassou como escopo a realização de estudos fronteiras e possibilitou a geração de de viabilidade para a exploração da energia em países como Equador, futura Central Hidrelétrica de Angola e China. E agora, com a apro- Inambari, com potência instalada de o 6 FURNAS consolida vação da Lei N 11.651, de 7 de abril 1.450 MW, além do sistema de trans- de 2008, esta vocação internacional missão da unidade e elaboração de será consolidada. Pelo texto, a um projeto para exportação de ener- Eletrobrás, empresa da qual FURNAS gia elétrica para o Brasil. é subsidiária, poderá associar-se em Em Honduras, já foi aprovada a consócios ou ter participação em proposta da Empresa para o trabalho sociedades que se destinem à pro- de atualização dos estudos de viabili- dução ou transmissão de energia dade e acompanhamento da constru- elétrica no exterior. É hora de prepa- ção das hidrelétricas Los Llanitos (98 rar as malas. MW) e Jicatuyo (173 MW), assim como Antes da aprovação da lei, a Em- a adequação e melhoramento do sis- presa já era procurada para partici- tema de transmissão do país. FURNAS par de diversos projetos como também deve atuar nos estudos de prestadora de serviço. À convite da viabilidade técnico-econômica para o empresa Caminosca, FURNAS vem Aproveitamento Hidrelétrico de estudando a possibilidade de partici- Baynes, com aproximadamente 500 par da licitação para prestação de MW, localizado na divisa de Angola serviços de engenharia do proprietá- com a Namíbia, na África. rio do projeto Toachi-Pilatón, fiscali- Os trabalhos desenvolvidos no ex- zando a construção de duas centrais terior pela Empresa como consultorias, Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 352 - Maio 2008 Moacir hoje, de volta ao Escritório Central de FURNAS, atua como gerente da Assessoria de Coordenação e Análise Financeira (ACA.F) treinamentos e fiscalização de obras, a altamente qualificado, tornam referência mundial de qualida- a credenciam como sinôni- de. E este renome ganhará peso com mo de competência, dando o credibilidade ao projeto e facilitando 11.651 abre uma nova perspectiva a conquista de investidores e finan- para FURNAS na busca de oportuni- ciamentos. a nova legislação em vigor. “A Lei N dades de negócios no exterior, sendo Ela explica que, na maior parte câmbio tecnológico, a experiência em que de forma bem mais competitiva dos casos, FURNAS recebe convite de contratos internacionais e relações na negociação de contratos de pres- empresas privadas para participar, diplomáticas com outros países. Ela tação de serviço”, explica a gerente em conjunto, da prestação de servi- aponta como as maiores dificulda- da Assessoria de Comercialização de ços e apresentar uma proposta para des, ao se iniciar uma parceria inter- Serviços, Marise Grinstein. o cliente. São várias as fases que en- nacional, o desconhecimento da le- volvem esta negociação, passando gislação do setor de energia elétrica sempre pela aprovação da diretoria que vai reger o projeto e a contratação da Empresa e da Eletrobrás. de mão-de-obra. Desafio Segundo ela, a experiência conquistada por FURNAS na construção Os serviços mais procurados são os de usinas, inclusive uma nuclear, e na de capacitação de profissionais, em implantação de sistemas de trans- geral a pedido de grandes empresas E quando FURNAS viaja, junto vai missão pioneiros no país, como o de e instituições interessadas na especia- a sua equipe. Técnicos altamente Itaipu, associada à sua infra-estrutu- lização de seu corpo técnico. Para qualificados que, sozinhos ou com a ra, que inclui tecnologia e corpo técnico Marise, participar do mercado inter- família, deixam o Brasil e colocam nacional trouxe ganhos fundamen- anos de suas vidas a serviço de proje- tais, possibilitando a divulgação das tos. Na volta, sobram histórias, lem- competências da Empresa e, conse- branças e a certeza do dever cumprido. qüentemente, o reconhecimento in- Foi assim com Moacir Araújo do ternacional, a oportunidade de inter- Espírito Santo, gerente da Assessoria Foto: Partrícia Melo Equipe de Coordenação e Análise Financeira (ACA.F). Ele trabalhou na construção Para a gerente da Assessoria de Comercialização de Serviços, Marise Grinstein, a Lei No 11.651 aumenta a oportunidades de negócios no exterior da hidrelétrica Capanda, em Angola, de 1990 a 1992, quando a guerra civil estourou com toda a força. Na recor- Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 352 - Maio 2008 7 CAPA FURNAS NO EXTERIOR dação, ficou a ida para o aeroporto, no regresso ao Brasil, to do Médio Kwanza (Gamek) para a construção de debaixo de bombas e intenso tiroteio. Cinco anos depois, Capanda previa o treinamento da mão-de-obra local, ele retornou, e como gerente, concluiu a obra, recomeça- construindo-se assim uma parceria com intensa transfe- da a partir do que restou da destruição causada pelo rência de conhecimento. “Formamos muitos angolanos, conflito. eles tinham uma vontade imensa de aprender. A atuação Quando voltou ao Brasil, em 2004, Moacir deixou a de FURNAS em Angola recoloca sua importância no cená- usina funcionando, com duas geradoras em atividade. Ele rio internacional. Foram muitos anos de acúmulo de uma ressalta a importância da integração de tecnologias no experiência substantiva, envolvendo um número expres- projeto, em particular com a empresa russa sivo de técnicos”, conclui Moacir. Technopromexport, fornecedora e montadora dos equi- América Latina para a melhoria do fornecimento de energia para um Na América Latina, FURNAS também possui vasta povo que passava por momentos difíceis é parte de sua história de parcerias. Um exemplo foi a participação da realização pessoal, indo além da profissão. empresa na construção da hidrelétrica San Francisco, na “O maior vínculo que estabeleci com Angola guarda Cordilheira dos Andes, a 220 km ao sul de Quito, capital do relação direta com as utopias que alimentam a busca de Equador. A Empresa foi contratada pela Hidropastaza um mundo mais justo e humano. Procuro, então, acompa- S.A, uma concessionária do Conselho Nacional de Eletrici- nhar as transformações do país no pós-guerra e alimento dade do Equador, para realizar a fiscalização da obra. a esperança de Angola encontrar os melhores caminhos para seu desenvolvimento”, conta Moacir. O contrato firmado com o Gabinete de Aproveitamen- Diferente de Capanda, que sofria com a guerra civil e a conseqüente escassez de recursos, neste empreendimento o principal desafio era o fato do projeto ser total- O Rio Kwanza, onde foi instalada a hidrelétrica Capanda 8 Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 352 - Maio 2008 Foto: Arquivo pessoal - Moacir Araújo do Espírito Santo pamentos eletromecânicos. Mas, para ele, ter contribuído Foto: Arquivo pessoal - José Francisco Farage mente subterrâneo – inclusive a subestação – e não ter um reservatório próprio de água. A geração de energia de San Francisco acontece a partir da captação da água interceptada nos túneis de descarga de outra hidrelétrica, Agoyan, distante 11 km e construída na década de 80. Para a passagem das águas foi construído um túnel de adução, com extensão de 11,099 Km e diâmetro de 7,50 m. Do total, nove quilômetros foram executados com uso do Túnel Boring Machine (TBM), um equipamento que escava o solo sem utilização de explosivos e com avanço médio diário que a chega a ser três vezes superior aos métodos convencionais. Sem saber falar espanhol fluentemente, o engenheiro civil José Francisco Farage do Nascimento abraçou a dupla tarefa de coordenar a equipe de fiscalização das obras civis e supervisionar a implantação das estruturas de concreto. Farage morou no Equador de maio de 2004 a julho de 2006. “Como meus filhos estavam na escola, decidi que O engenheiro civil José Francisco Farage do Nascimento, um expert em concreto, supervisionou as obras civis da hidrelétrica San Francisco. Na equipe, brasileiros e equatorianos trabalharam juntos deveria ir só. O idioma oficial do projeto era o espanhol. A equipe teve que aprendê-lo de forma rápida, para estreitar relacionamentos. O idioma não é tão complicado e, além disso, os companheiros de equipe, equatorianos, sempre gentis, a todo tempo nos ajudavam, principalmente na emissão de relatórios técnicos”, lembra. Foto: Arquivo FURNAS O engenheiro já havia travado contato com o país em 1996, quando prestou serviço de consultoria na área de concreto para o Centro de Estudos e Desenvolvimento para a Província de Guayas (Cedege), no projeto Ocipse, com a construção de um canal de adução, tratamento e distribuição de água potável para algumas cidades da costa do Equador, como Santa Elena, Libertad e Salinas. Em 1998, novamente em serviço prestado à Cedege, o engenheiro ajudou na construção da Barragem de San Vicent, destinada a suprir a carência de água em região árida do país. O tempo passou rápido. Em junho de 2007, San Francisco iniciou sua geração comercial. Feliz pela experiência vivida, Farage fala da importância do projeto: “Essa energia, cerca de 1.453,9 GWh/ano, vai ajudar a reduzir de Equipe de técnicos de FURNAS, na vila residencial do projeto Capanda. Paulo Formiga, de blusa amarela e óculos, no centro do grupo maneira substancial o déficit energético do Equador. O empenho de todos contribuiu para o bom resultado do trabalho e a satisfação total do cliente”. Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 352 - Maio 2008 9 CAPA FURNAS NO EXTERIOR Família A decisão de participar de um pro- passarinhos, artesanato por totalmente diferente e a transfor- jeto internacional não altera apenas estilingues. Desta interação, o filho mação da mão-de-obra angolana, a vida do profissional mas, muitas de Alan, Adriano Rangel, hoje com 30 após os treinamentos ministrados, vezes, de toda a família. Que o diga anos, guarda os laços de amizades trazia uma satisfação que amenizava Roberto Alan Kardec de Barros, 55 feitos e ainda mantidos, através de e- as saudades do Brasil. “Até hoje te- anos, administrador e advogado, atu- mails. “O que vivi foi decisivo para eu nho afilhados vivendo em Luanda. O almente trabalhando no escritório de escolher minha faculdade, Geogra- povo angolano adora os brasileiros e FURNAS em São Paulo. Após ser apro- fia. Trabalho hoje com remanescen- nunca se deixou abater pelas agruras vado em seleção interna, em 1986, tes de quilombos, onde tenho conta- da guerra, comemorando cada mar- para atuar no projeto Capanda, ele e to com descendentes da etnia banto, co no avanço do empreendimento com a família – incluindo os filhos, então o mesmo grupo etnolingüístico dos música e dança folclórica”, lembra. com 9 e 7 anos – foram para a Angola. meus amigos de infância. Angola foi Ele considera a experiência positiva. Em volta da vila residencial, em um dos países que mais contribuíram “Tive um crescimento profissional e Luanda, destinada aos empregados para a formação do que conhecemos pessoal muito grande. As dificuldades do empreendimento, havia peque- hoje como o povo brasileiro”, explica. A que enfrentamos, devido à situação de nos casebres – chamados musseques família voltou ao Brasil em julho de 1991. guerra, nos deram um jogo de cintura -, onde também moravam crianças. E, Já o funcionário Paulo Sergio Van imenso. Faria tudo de novo”, garante. como num filme, pela cerca da vila as Erven Formiga, que morou 10 anos na Até hoje, ele revê com emoção fotos da crianças brasileiras e angolanas se vila, optou por não levar a família. Ele época e tem em seu local de trabalho comunicavam, trocavam biscoitos por conta que o convívio com uma cultura objetos de arte trazidos do país. Serviços que FURNAS disponibiliza para contratação e parcerias: Gerenciamento da implantação de empreendimentos de geração e de telecomunicações; A Lei no 11.651, de 07/04/08, possibilita à Eletrobrás, direta ou transmissão de energia elétrica, in- Suporte e capacitação técnica nas indiretamente, através de suas cluindo estudos de inventário, de vi- áreas de geração e transmissão de subsidiárias ou controladas, as- abilidade, projeto básico e executivo, com energia elétrica. Servem como exem- sociar-se, com ou sem aporte de ênfase em planejamento energético, plo, no segmento de suporte técnico, recursos, para constituir consócios gestões ambiental e fundiária e enge- estudos hidráulicos em modelos re- ou participar de sociedades, com nharia do proprietário; duzidos, simulação digital em tempo ou sem poder de controle, no Operação e manutenção de usi- real de sistemas elétricos, tecnologia Brasil ou no exterior, desde que nas hidrelétricas, termelétricas, além do concreto e recuperação de usinas. O se destinem à exploração de pro- da treinamento em construção de linhas dução ou transmissão de energia de transmissão e subestações tem gran- elétrica, sob regime de conces- de destaque nos serviços prestados. são ou autorização. manutenção de linhas e subestações; Gerenciamento da implantação, 10 operação e manutenção de sistemas O que diz a nova lei Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 352 - Maio 2008 Conheça mais sobre os principais projetos que FURNAS desenvolveu no exterior: Moçambique Angola Equador Iniciado em julho de 2005 Iniciado em fevereiro de 1984 Iniciado em Abril de 2000 Após ser vencedora da licitação FURNAS foi convidada a assessorar A partir de um convite da empresa realizada pela Empresa Electricidade autoridades angolanas na estruturação equatoriana Hidropastaza, FURNAS, de Moçambique (EDM), com financia- do Gabinete de Aproveitamento do associada à empresa de consultoria mento do Banco Africano de Desen- Médio Kwanza (Gamek), órgão criado equatoriana Integral, participou da volvimento (BAD), FURNAS mobilizou para administrar as obras da usina de concorrência para fiscalização da cons- 30 funcionários por um ano para mi- Capanda. Após o primeiro trabalho, a trução da Usina Hidroelétrica San nistrar treinamentos para gerentes participação de FURNAS cresceu Francisco, no Equador. A execução do e técnicos em assuntos como Planeja- gradativamente, garantindo a presen- serviço era uma exigência do BNDES, mento Estratégico e Operacional para ça da Empresa em Angola por mais de financiador do empreendimento. O o Desenvolvimento da Empresa, Se- 20 anos. O principal contrato firmado foi trabalho, que durou 44 meses, foi en- gurança de Redes de Transmissão e o de cessão de pessoal, abrangendo di- cerrado em 2007. Distribuição de Energia e Capacitação versas atividades de gerenciamento das em Gerenciamento de Distribuição obras. Mais de 200 técnicos angolanos Elétrica. Também foram definidas as foram capacitados para a ope- especificações necessárias à implanta- ração e manutenção do ção do Centro de Treinamento da EDM. empreendimento. Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 352 - Maio 2008 11