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CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NO PÓLO TECNOLÓGICO DE SÃO
CARLOS
Maria Cristina Piumbato Innocentini Hayashi, Leandro Innocentini Lopes de Faria,
Wanda Aparecida Hoffmann, Carlos Roberto Massao Hayashi, Maria Cristina
Comunian Ferraz
[email protected],
[email protected],
[email protected],
[email protected], [email protected]
Universidade Federal de São Carlos
Departamento de Ciência da Informação
Rodovia Washington Luís, Km 235
13560-905 – São Carlos, SP
Resumo: Analisar atividades de CT&I é um desafio para a definição de políticas
públicas. O uso da bibliometria permite diagnosticar, analisar e construir indicadores de
CT&I mais consistentes. São Carlos foi escolhida como foco pois: a) há poucas
pesquisas sobre CT&I em sistemas locais e os processos inovativos são altamente
localizados; b) reúne conjunto significativo de empresas de alta tecnologia; c) é a sexta
cidade do país em número de publicações científicas, segundo a Web of Science. Os
Objetivo: desenvolver metodologia de produção de indicadores para a análise de
atividades de CT&I em sistemas locais. A metodologia inclui: a) revisão de literatura em
CT&I, bibliometria e sociedade da informação; b) caracterização do Pólo Tecnológico de
São Carlos; c) coleta de dados na Web of Science, Pascal e Plataforma Lattes; d) produção
de indicadores de CT&I do Pólo Tecnológico de São Carlos, com o auxílio de ferramentas
bibliométricas e estatísticas automatizadas. Resultados e Conclusões. A coleta de dados
realizada na Web of Science, no período 1996-2000, indicam 2907 registros de artigos
científicos de pesquisadores de São Carlos, os quais mostram a ênfase nas áreas de
química, ciência dos materiais e física e a evolução de 50% da produção no período
coletado.
1 Introdução
Neste artigo apresentamos elementos conceituais a respeito da construção de
indicadores de ciência, tecnologia e inovação e resultados parciais referentes à primeira
fase da pesquisa em andamento, "Indicadores de CT&I do Pólo Tecnológico de São
Carlos: contribuições para um sistema local de inovação", desenvolvida no âmbito do
Departamento de Ciência da Informação da UFSCar e que conta com o apoio do CNPq
através do Edital Universal. Esta pesquisa insere-se na área de Ciências Sociais
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Aplicadas, no campo da Ciência da Informação e neste contexto consideramos que é de
extrema relevância trazer os aportes teóricos desta área de conhecimento para a
construção de um referencial teórico consistente. Ademais, as inúmeras reflexões
propiciadas pelo desenvolvimento do tema “Indicadores de Ciência e Tecnologia”
expostas neste artigo são fruto de reflexões teóricas e de práticas de pesquisa que já vêm
sendo realizadas pelos autores nesta área.
O artigo está estruturado em cinco partes: na primeira parte realizamos uma
abordagem conceitual sobre a construção de indicadores de ciência, tecnologia e
inovação. Em seguida, apresentamos as abordagens teóricas empregadas na construção
destes indicadores e um breve balanço dos indicadores de CT&I existentes no país. Na
seqüência, abordamos a problemática da avaliação das atividades de ciência e
tecnologia, enfocando o uso da bibliometria para diagnosticar, analisar e construir
indicadores de CT&I. Finalmente, apresentamos resultados parciais de uma das etapas
da pesquisa em andamento, referente a indicadores bibliométricos do Polo Tecnológico
de São Carlos, extraídos de bases de dados bibliográficas e elaborados com o auxílio de
ferramentas bibliométricas automatizadas.
2 Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação: marcos conceituais
A elaboração de indicadores de ciência e tecnologia foi sustentada por marcos
teóricos provenientes de várias disciplinas. Polcuch (1999) cita o modelo linear de
inovação, oriundo de uma concepção economicista e de uma sociologia da ciência de
raiz mertoniana. Em sua argumentação, este autor assinala que habitualmente os
trabalhos acerca de indicadores de ciência e tecnologia consideram esta como uma
"caixa preta", que se nutre de insumos - inputs - e produz produtos - outputs.
Este modelo linear tem sido utilizado para explicar o vínculo entre conhecimento
e desempenho econômico e o documento liminar deste modelo pode ser considerado o
relatório Science: the Endless Frontier (1945), organizado por Vannevar Bush no fim
da Segunda Guerra Mundial, e que definiu os fundamentos de uma política da ciência
nos EUA. Transformou-se no documento marco que deu início à política científica,
porquanto a partir dele os governos começaram a articular políticas públicas em relação
à ciência. A visão exposta por Bush deu origem ao Modelo Linear de C&T, ou Modelo
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Linear de Inovação, desenhado a partir de dois aforismos: a) a Pesquisa Básica – termo
cunhado por Bush, que definia o conhecimento geral e um entendimento da natureza e
de suas leis – deveria ser conduzida sem a preocupação com fins práticos; b) a Pesquisa
Aplicada, converteria as descobertas da Pesquisa Básica em Inovações Tecnológicas
que fossem ao encontro das necessidades da sociedade.
Desde então e ao longo de vários anos, este modelo influenciou largamente
universidades, centros de pesquisa, laboratórios públicos e de empresas até que, com o
fim da Guerra Fria, o Modelo Linear de Bush, que estabelece a dicotomia entre pesquisa
básica e pesquisa aplicada, passa a ser questionado.
O modelo de reação em cadeia de inovação foi proposto por Kline e Rosenberg,
em 1986 (citados por Polcuch, 1999) com o objetivo de superar o modelo linear, que
vinha perdendo sua atualidade.
Em 1999, a Academia Americana de Ciências, endossa um documento
produzido por Donald Stokes, intitulado Harnessing Science and Technology for
America’s Economic Future (Estruturando Ciência e Tecnologia para o Futuro
Econômico dos EUA) como tendo mais poder explicativo do que o Modelo Linear, e ,
consequentemente, possibilitando uma nova interpretação de um novo paradigma
científico e tecnológico. O Modelo de Stokes de C&T, ou o Modelo Stokes de Inovação
atribui às pesquisas duas coordenadas: uma, que dimensiona o avanço do conhecimento
que a pesquisa propicia e outra que dimensiona a aplicação que dela decorre. Desta
maneira, uma pesquisa pode , ao mesmo tempo, contribuir significativamente para o
avanço do conhecimento e ter grandes perspectivas de aplicações práticas.
Do ponto de vista histórico, Brisolla (1999) assinala que na década de 70, uma
corrente de pensamento na América Latina levanta criticas e destaca as limitações da
aplicabilidade da literatura internacional sobre o funcionamento do sistema C&T e as
atividades de P&D na realidade dos países em desenvolvimento.
Considerando a evolução teórica e metodológica dos estudos sociais da ciência e
tecnologia Velho (1999) refere que nos anos 70, o "paradigma" da política científica
sofreu uma mudança significativa, passando de uma "racionalidade ofertista", que
caracterizou o período anterior, para uma "racionalidade de identificação de
prioridades". Sobre este aspecto, Polcuch (1999) também assinala que as metodologias
propostas pela OCDE e UNESCO neste campo refletem uma perspectiva notadamente
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ofertista, onde os atores sociais não cumpririam um papel dinâmico mas seriam meros
receptores da oferta de pesquisas.
Posteriormente, nos anos 90, surgem os indicadores de inovação, fruto da
evolução de estudos conceituais sobre a produção científica e seu relacionamento com a
atividade econômica-social, além daqueles destinados a medir a evolução da C&T. No
esforço de contribuir para a construção de indicadores de inovação, Brisolla (1999)
relaciona o que chama de "sete pecados capitais" que se podem cometer no trabalho
com indicadores: a) tomar a variável que representa o fenômeno (o indicador) como
idêntica ao fenômeno que se quer analisar; b) aplicar à América Latina estilos de
análises construídos para os países centrais, sem levar em conta a especificidade dos
fenômenos inovadores na região latino-americana; c) fazer uma ampla lista de variáveis
que não podem ser obtidas, ou que sejam pouco explicativas, ou ainda, que dificilmente
possam ser respondidas pelos entrevistados eleitos; d) processar a informação sem ter
desenvolvido um plano inicial que oriente toda a reflexão posterior; e) construir uma
pesquisa tão específica que não possa ser comparável ao nível regional ou internacional.
Perderia-se assim a capacidade de reflexão e o esforço seria desperdiçado; f) parar a
análise no nível das unidades produtivas e não fazer um estudo das variáveis relativas
aos ramos da indústria e às variáveis sistêmicas que intervêm no processo inovador das
empresas; g) não incorporar à análise de inovação suas características atuais, marcadas
por projetos em cooperação entre empresas, universidades e centros de pesquisa, e pela
realização de múltiplas inovações gerenciais, não somente no nível das empresas
industriais, senão no comércio e nos serviços.
Além de evitar estes sete pecados capitais, Brisolla (1999) enfatiza a necessidade
construir um projeto de desenvolvimento para toda a nação latino-americana, onde cada
país encontre sua vocação cultural, econômica, científica e tecnológica no contexto
continental.
3 Construção de indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação: abordagens
teóricas
Existe uma relação entre a capacidade de produzir indicadores de ciência e
tecnologia e a capacidade, por parte de governos e instituições do setor público e
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privado, em realizar investimentos em ciência e tecnologia. Em muitos países latinoamericanos fatores relacionados aos processos econômicos de globalização, ajustes
fiscais, condições de pobreza e desigualdade aliadas aos baixos níveis de
desenvolvimento, têm motivado o interesse generalizado pelo tema da construção de
indicadores. Nos últimos anos, o desenvolvimento de políticas e estratégias para
execução de metas institucionais, conduziu os organismos de ciência e tecnologia e
setores públicos a elaborar instrumentos de medição que possibilitem uma gestão
otimizada e racional de seus recursos.
O conjunto das iniciativas da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico - OCDE e da UNESCO no desenvolvimento de
metodologias para elaboração de indicadores está consolidado nos manuais de
referência produzidos por estes órgãos, que se constituem em referências obrigatórias
para aqueles que se propõem a construir indicadores.
Estas obras, tão conhecidas da comunidade científica especializada, são o
Manual de Frascati, o Manual de Oslo e o Manual de Canberra, as quais oferecem os
procedimentos básicos para medir as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),
para determinar os recursos humanos dedicados à ciência e tecnologia (C&T) e para
interpretar a inovação tecnológica. O conjunto destes três manuais, apesar de proporem
formas para medir C&T, inovação tecnológica, recursos humanos de P&D, dedicam um
lugar secundário à publicação que é, segundo Spinak (1998), a forma mais característica
da comunicação e informação em ciência.
Como
já
assinalou
Hayashi
(2002a,
2000b),
especialistas
da
Rede
Iberoamericana de Indicadores de Ciencia y Tecnologia - RICYT coordenaram esforços
para construir um instrumental destinado a orientar a ação para a elaboração de uma
pesquisa de inovação, adequada à realidade latino-americana. Assim, em 1998 a RICYT
apresentou
os
Indicadores
de
Ciencia
y
Tecnología
Iberoamericanos
/
Internamericanos, que foram divididos em quatro grupos: indicadores de contexto,
indicadores de gasto em ciência e tecnologia, indicadores de recursos humanos e
indicadores de produtos, incluíndo tanto as patentes como os indicadores bibliométricos.
Os indicadores de contexto contêm informações sobre algumas dimensões
básicas dos países, tais como população, população economicamente ativa (PEA) e
produto interno bruto (PIB). Estes dados são úteis para permitir a construção de
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indicadores tais como gastos em P&D, porcentagem do PIB e número de pesquisadores
em relação à PEA.
Os indicadores de gastos em C&T, refletem o gasto realizado dentro de cada
país em atividades científicas e tecnológicas (ACT) e P&D, tanto pelo setor público,
como pelo setor privado. São compostos por um conjunto de indicadores, relacionados a
gastos em C&T, relacionados com o PIB, por habitante, por pesquisador, por setor de
financiamento, por setor de execução, por objetivo socio-econômico.
Os indicadores de recursos humanos em C&T, refletem os recursos humanos
ativos em P&D nos distintos países, incluíndo pessoal de C&T e pesquisadores,
pesquisadores em relação à PEA, pesquisadores por gênero.
O conjunto de indicadores de produtos de C&T são utilizados para estimar os
resultados das atividades de P&D. Segundo a norma do Manual de Frascatti, as patentes
representam em maior medida o produto da investigação tecnológica e empresarial, uma
vez que protegem os conhecimentos com potencial de interesse econômico. Com
relação à publicação de artigos científicos, representa com maior aproximação o produto
da pesquisa acadêmica. Os indicadores relacionados a este conjunto são os de
solicitação de patentes, de publicações em base de dados multidisciplinares e de
publicações em bases de dados temáticas.
4 Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil : um breve balanço
A tomada de decisões no campo da ciência e tecnologia é tarefa complexa, que
envolve aspectos políticos, sociais, econômicos e técnicos, e tem sido simplificada a
partir do desenvolvimento de indicadores de ciência e tecnologia, propostos como
ferramentas para auxiliar no planejamento, monitoramento e avaliação de resultados
científicos das nações.
A temática e a produção de indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação
(CT&I) faz parte da agenda científica de organismos e instituições demonstrando a
importância do tema. O uso desses indicadores como subsídio para a construção de
políticas em ciência e tecnologia, com foco na informação (Ferraz & Basso, 2003;
Brisolla, 1998b), é um dos exemplos da importância de trabalhos nessa área.
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No Brasil, o tema CT&I tem recebido o aporte de diversas abordagens teóricas, a
partir de inúmeros pesquisadores, entre eles Cassiolato & Lastres (1999, 2000, 2004),
Matesco & Hasenclever (1998), Velho (1997, 1999, 2001), Lemos (2000); Sanchez &
Paula (2001); Caldas (1997); Brisolla (1998a, 1998b, 1999, 2004), Erber (1999),
Albagli & Brito (2004) Albuquerque (2001, 2002).
No contexto nacional o CNPq foi a primeira instituição que realizou esforços
para gerar indicadores de C&T. Outras iniciativas de construção de indicadores provém
do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) do Ministério da
Ciência e Tecnologia - MCT e no campo do ensino superior, da Capes/MEC.
Segundo informações divulgadas pelo MCT em seu site, este Ministério passou
a assumir, de forma centralizada, a responsabilidade pela organização e divulgação das
informações de C&T do país.
Os indicadores construídos pelo MCT passaram por duas fases: no início,
concentravam-se no que passou a se denominar indicadores de insumo, isto é, no
dimensionamento dos recursos financeiros e humanos investidos em C&T. A
mensuração se limitava à identificação dos recursos aplicados à pesquisa, permitindo a
construção do que se chamou “Dispêndio Interno em P&D”, e aos recursos humanos – e
sua capacitação – dedicados a tais atividades. Estes indicadores de insumo, seguindo a
tendência daqueles dos demais países, possuem as séries mais longas e detalhadas.
Como menciona o MCT na apresentação dos Indicadores de C&T,
tradicionalmente estes indicadores de insumo são desagregados segundo três dimensões:
a) a natureza da pesquisa: básica, aplicada e atividades científicas e técnicas correlatas;
b) os setores que executam ou financiam estas atividades – simplificadamente: governo,
instituições de ensino superior e empresas; c) a classificação dos recursos de cada um
destes setores, obedecendo a critérios específicos para o governo (segundo objetivos
sócio-econômicos), as instituições de ensino superior (segundo áreas de conhecimento)
e as empresas (segundo setores de atividade econômica).
Mais recentemente, esclarece o MCT (2001), foram desenvolvidos os chamados
indicadores de resultados, de início, limitados à produção científica e, posteriormente,
incorporando a produção de patentes e a transferência de tecnologia entre países
(Balanço Tecnológico).
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Refere ainda o MCT (2001), que são ainda incipientes as tentativas de
construção de indicadores de impacto, isto é, formas de mensurar como determinado
resultado científico ou tecnológico afeta as várias dimensões das condições de
existência dos indivíduos, seja no campo científico e tecnológico, seja na dimensão
econômica, seja na dimensão social. A rigor, prossegue o MCT (2001),
(...) os indicadores de impacto na dimensão científica e tecnológica são
os atualmente mais desenvolvidos, em especial aqueles construídos no
campo da bibliometria. Nas demais dimensões são ainda incipientes,
freqüentemente centrados em estudos de caso e, sobretudo os mais
abrangentes, têm sido objeto de discussão entre os especialistas, muitos
dos quais são bastante céticos quanto à possibilidade de construí-los.
Neste sentido, o MCT considera que, ao observar os indicadores de C&T
disponíveis atualmente, pode-se constatar que “à medida que se caminhe dos
indicadores de insumo para os de resultados e destes para os de impacto, mais escassos
se tornam, constituindo-se, em si, um resumo de sua própria história”. Esta
compreensão remete à análise dos indicadores que ora se disponibilizam no Brasil, os
quais, segundo o MCT (2001), acompanham esta descrição.
Embora o país possua longa tradição na produção de indicadores, em especial os
de insumo, como enfatiza o MCT (2001), ainda há lacunas importantes a serem
preenchidas, mesmo no que diz respeito a estes. Por exemplo, não se dispõe de dados
abrangentes sobre os recursos aplicados em C&T pelas empresas, o que impede a
mensuração mais acurada dos Esforços Nacionais em C&T e os próprios investimentos
públicos da União neste campo estão subdimensionados em função das dificuldades
metodológicas existentes.
Considerando a complexidade que envolve a construção de indicadores, o MCT
apresenta um conjunto de indicadores de C&T para o Brasil, ressalvando que estes serão
continuamente enriquecidos à medida que as dificuldades metodológicas, já
mencionadas, forem superadas.
Os esforços do MCT em produzir indicadores de C& T resultou na produção de
séries históricas que reúnem um conjunto de informações que foram organizados por
temas (Recursos Aplicados em C&T; Recursos Humanos, Bolsas de Estudo, Produção
Científica, Patentes, Balanço Tecnológico) e configuram indicadores de insumo e de
resultado.
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Ainda no âmbito federal, desde fins de 1999, com a constituição e implantação
da Plataforma Lattes, iniciativa conjunta do MCT, CNPq, Capes e Finep, integrada
pelos sistemas Currículo Lattes e Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil, os quais
apresentam a opção “Indicadores de Produção de C&T”, fornecem uma visão
quantitativa dos itens de produção científica e tecnológica cadastrados no Currículo e
Diretório, permitindo consultar as distribuições das diferentes variáveis cadastradas.
Com relação aos dados do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, foi
organizada pelo CNPq uma hierarquização dos grupos de pesquisa vinculados às
instituições de ensino superior, classificando-os em cinco estratos. Esta classificação
tomou como indicador
a densidade de pesquisadores qualificados por dois sistemas de
avaliação já consagrados no Brasil, baseados em julgamentos
desenvolvidos pelos próprios pares, de forma relativamente
independente em relação ao Diretório entre si: o sistema de avaliação
ex-ante dos projetos de pesquisa e dos currículos dos pesquisadores
candidatos às bolsas de pesquisa concedidas pelo CNPq e o sistema de
avaliação dos programas de pós-graduação empreendido pela Capes.
(CNPq, 2004).
A hierarquização dos grupos de pesquisa realizada pelo CNPq coloca em
evidência as concentrações geográfica e institucional da pesquisa desenvolvida no
âmbito das IES; ordena as instituições sob a ótica da pesquisa científica por Grande
Área de Conhecimento, tendo em conta os quantitativos de grupos de pesquisa
classificados nos diferentes estratos, em termos absolutos e relativos e ao final, averigua
a existência de correlação entre o grau de qualificação e a produtividade técnicocientífica dos grupos de pesquisa. O indicador de produtividade considera a produção de
C&T (artigos, livros e capítulos de livros publicados, produção tecnológica
desenvolvida, teses e dissertações defendidas sob orientação de pesquisadores
pertencentes ao grupo) dos pesquisadores doutores, cadastrada com o auxílio do Sistema
de Currículo Lattes.
Na esfera estadual, a FAPESP organizou os Indicadores de Ciência e
Tecnologia em São Paulo (1998 e 2001), relativos à situação e à evolução da ciência e
tecnologia em São Paulo na década de 90, os quais foram desenvolvidos, conforme
Cruz (1998, p.7) para “municiar as instituições de C&T paulistas bem como os
legisladores e planejadores com indicadores que lhes permitam tornar cada vez mais
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efetivo o sistema paulista de C&T”. Estes indicadores de C&T em São Paulo, foram
organizados e agrupados da seguinte maneira: a) visão panorâmica; b) governo; c)
empresas; d) universidades; e) produção científica; f) avaliação dos cursos de pósgraduação; g) produção tecnológica; h) importação de tecnologia; i) perfil do
pesquisador. O tipo de agrupamento de informações adotado sugere que os indicadores
de C&T do Estado de São Paulo construídos pela FAPESP, podem ser considerados
como indicadores de insumo, indicadores de resultado e indicadores de impacto.
Outra iniciativa de construção de indicadores, no âmbito estadual, partiu da
Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo que promoveu, em 1999, o Fórum São
Paulo Século XXI (SEADE, 2000), que se propôs a construir um indicador para medir o
desenvolvimento humano e social do Estado de São Paulo, destacando que o
desenvolvimento econômico e social está associado aos conhecimentos gerados no
campo da C&T.
Estas iniciativas são resultados da preocupação de amplos setores da sociedade
com a avaliação dos resultados científicos, econômicos e sociais das atividades de
CT&I. Embora o país possua longa tradição na produção de indicadores, em especial os
de insumo, ainda há lacunas importantes a serem preenchidas.
5 O uso de indicadores bibliométricos nas análises das atividades de Ciência,
Tecnologia e Inovação
Como qualquer outra atividade humana, é possível analisar a atividade científica
e tecnológica em função dos produtos que desenvolve, e Ventura (1998) cita como
exemplos de avaliações as análises econômicas de custo/benefício, análises da relação
entre os recursos financeiros investidos na pesquisa científica e os benefícios
econômicos dela derivados, assinalando que estas formas de análises, apesar de serem
factíveis e já terem sido realizadas em muitos casos, não encontram aceitação unânime
no mundo científico.
O termo avaliação inclui várias acepções que se costumam identificar com
finalidades diferentes: julgar, controlar, fiscalizar etc. Algumas delas acarretam,
inclusive, conotações negativas, pois algumas vezes a avaliação tem sido utilizada com
estas finalidades. Em muitos casos, a avaliação tem sido entendida como um processo
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de recompilação de informação que analisada e interpretada à luz de um marco
referencial, possibilita a emissão de juízos de valor que conduzem à tomada de decisão
no âmbito institucional. Sob este aspecto, é preciso estabelecer a distinção entre
avaliação e medição. A medição não é avaliação, é somente uma parte dela associada ao
processo de recompilação da informação. Se a informação recompilada é quantitativa,
ela pode ser objeto de medição, o que permitirá maior precisão na apresentação dos
dados e na construção de indicadores e parâmetros comparativos.
Inúmeros trabalhos apontam que a sociedade está passando por várias
transformações que colocam desafios do tipo: informação e comunicação na sociedade
do conhecimento, batalha por uma economia forte e sustentável, globalização, com a
regionalização como contrapartida e melhora da qualidade de vida (Cf. entre outros,
Castells, 1999).
Como referem Hayashi e Hayashi (2002c) “no âmbito de um processo em
mudança não podemos focar só nas novas competências que são estáveis, mas também
na atitude para a mudança e na capacidade para integrar e criar novos contextos
significativos.”
Neste cenário, Brisolla (1998a) argumenta que o dilema que se coloca na
atualidade é o do compromisso social do cientista, quando solicita da intelectualidade
respostas aos problemas que afetam a vida das populações, levando os países a se
perguntarem sobre o tipo de pesquisa que necessitam, onde estão as oportunidades para
o país no contexto internacional e como as demandas por conhecimento e oportunidades
de pesquisa podem ser encaminhadas a longo prazo de modo mais eficiente.
Estas questões conduzem ao uso de indicadores de C&T e à eleição de quais
indicadores usar. São questões políticas que não somente auxiliam àqueles que
enunciam as políticas, como também devem informar ao público, os contribuintes que,
em definitivo, apoiam os programas de ciência e tecnologia nos países, pois como já
mencionou Holbrook (1997), “os governos, sejam nacionais ou regionais, devem
desenvolver conjuntos de indicadores para quantificar o progresso de seus programas de
C&T e para fazer esses programas mais transparentes aos contribuintes em seu próprio
direito, e não somente um acessório a outras iniciativas políticas".
Segundo Macias-Chapula (1998), o foco da produção de indicadores de CT&I
esteve por muitos anos voltado para a medição dos insumos e apenas mais recentemente
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aumentou o interesse em medir os resultados dos atividades científicas e tecnológicas.
Os indicadores bibliométricos, que indicam resultados a partir dos dados sobre a
publicação científica e tecnológica, têm despertado grande interesse (Spinak, 1998).
Conforme Rostaing (1997) a bibliometria se permite estabelecer relações e
análises a partir de contagens estatísticas de publicações ou de elementos extraídos
destas publicações e tem por objetivo medir as produções (“output”) da pesquisa
científica e tecnológica, através de dados originados não somente da literatura científica
mas também das patentes.
Na visão de Okubo (1997, p.10), as abordagens bibliométricas que permitem
descrever a ciência através de seus resultados repousam sob a idéia de que o essencial
da pesquisa científica é a produção de conhecimentos e que a literatura científica é a sua
manifestação constitutiva.
A bibliometria pode ser aplicada em campos diversos, entre eles: a) a história
das ciências, para traçar a evolução das disciplinas; b) nas ciências sociais, para
descobrir as motivações e as redes de pesquisadores; c) na documentação, para
recenseamento de publicações científicas; d) na política científica, para fornecer
indicadores de produtividade e de qualidade científica e tecnológica tendo em vista a
avaliação dos esforços em pesquisa e desenvolvimento.
Uma das vantagens do uso de indicadores bibliométricos é a possibilidade de
análise e síntese de grandes conjuntos de dados, uma vez que o processo de criação
desses indicadores por ser automatizada através do uso de bases de dados e softwares
adequados.
A produção de indicadores também tem se concentrado em nível nacional,
institucional ou com enfoque em áreas do conhecimento específicas e ainda são
escassos os indicadores das atividades de CT&I em níveis regionais e locais.
6 Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação no Polo Tecnológico de São
Carlos: primeiras aproximações
A análise das atividades de CT&I é um desafio para organizações envolvidas em
definição de políticas públicas. O uso de indicadores bibliométricos, baseados em dados
sobre publicações científicas e tecnológicas, mostra-se cada vez mais freqüente.
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Mas, em geral, considera-se o país ou os estados como unidade de análise,
havendo carência de estudos sobre sistemas locais.
A análise das atividades de CT&I em sistemas locais é importante, já que os
processos inovativos são altamente localizados. Neste aspecto, Cassiolato & Lastres
(1999) referem-se, inclusive, a sistemas locais de inovação e Lemos (2000) enfatiza a
noção de que o processo inovativo e o conhecimento tecnológico são altamente
localizados.
São Carlos foi escolhida como foco da pesquisa pois a cidade reúne um conjunto
significativo de empresas de alta tecnologia, é a 6ª cidade do Brasil em número de
publicações científicas, segundo a Web of Science, e há muitos estudos sobre esse Pólo
Tecnológico, embora nenhum aborde especificamente os indicadores de CT&I.
Utilizando ferramentas bibliométricas e estatísticas automatizadas realizou-se
uma pesquisa exploratória na Web of Science, com a finalidade de coletar dados sobre a
produção científica de pesquisadores de São Carlos. Os dados obtidos referem-se ao
período 1996-2000 e indicaram a existência de 2.907 registros de artigos científicos, os
quais mostram a ênfase nas áreas de química, ciência dos materiais e física e a evolução
de 50% da produção no período coletado.
Destacamos o caráter preliminar destes resultados, que foram encarados na etapa
em que a pesquisa se encontrava, como demonstradores não só da potencialidade desta
base de dados como um dos campos da pesquisa (ao lado de outras como a Pascal e a
Derwent Innovation Index) mas principalmente porque podem permitir análises a
respeito do perfil do pesquisador (instituição a que pertence, por exemplo); padrões de
publicação dos autores (trabalho individual ou co-autoria), entre outros. Posteriormente
a coleta de informações sobre os recursos humanos e dispêndios em CT&I do Pólo
Tecnológico de São Carlos será ampliada recorrendo-se a outras fontes de informação,
como a Plataforma Lattes e os indicadores de CT&I produzidos pelo MCT, Fapesp, CNPq e
Capes.
7 Considerações Finais
Retomando os aspectos abordados no presente artigo, consideramos que o
mapeamento das atividades científicas, tecnológicas e de inovação em nível local,
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através do levantamento e arrolamento de dados concernentes à produção científica e
tecnológica e aos pesquisadores locais são fundamentais para a construção e
disponibilização de fontes de informação científica e tecnológica e para o
estabelecimento de indicadores de CT&I como ferramenta crítica de gestão e
retroalimentação das atividades científicas, tecnológicas e de inovação, especialmente
aquelas do Pólo Tecnológico de São Carlos, objeto da pesquisa que se encontra em
desenvolvimento.
No contexto deste artigo esperamos ter deixado claro que o avanço do
conhecimento produzido pelos pesquisadores tem de ser transformado em informação
acessível para a sociedade, o que coloca os indicadores das atividades de CT&I no centro
dos debates. No entanto, as principais questões envolvidas neste âmbito, dizem respeito à
caracterização e construção destes indicadores que devem ser discutidos e analisados a
partir do contexto de produção das atividades científicas, sem deixar de considerar as
limitações e dificuldades para o seu desenvolvimento.
8 Referências
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http://www.sebraece.com.br/dts/arranjos%20produtivos.PDF. Consulta em abril de 2004.
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15
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