1 SEDE NACIONAL Rua Dona Brígida, 299 - Vila Mariana – São Paulo/ SP Fone: (+ 55 11) 3105-0884 / Fax: (+ 55 11) 3107-0538 [email protected] www.os.org.br “Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades: Alcoa Alumínio S.A. em Utinga, em Santo André (São Paulo), e Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma (Pernambuco).” (Relatório da Segunda Fase) São Paulo Dezembro de 2013 Apoio 2 Instituto Observatório Social DIRETORIA EXECUTIVA Roni Anderson Barbosa (Presidente) Quintino Marques Severo João Antônio Felício Siderelei Silva de Oliveira (Diretor Administrativo Financeiro Maria Inês Barreto Carlos Roberto Horta João Vicente Silva Cayres CONSELHO DIRETOR Rosane da Silva Roni Anderson Barbosa Maria Aparecida do Amaral Godoi de Faria Quintino Marques Severo Artur Henrique da Silva Santos Siderlei Silva de Oliveira João Antônio Felício Valeir Ertle Maria Luzia Feltes João Vicente Silva Cayres Francisco José Carvalho Mazzeu Silvia Araújo TulloVigevani Maria Inês Barreto COORDENAÇÃO TÉCNICA Coordenadora de Pesquisas: Lilian Arruda Coordenadora Institucional: Sheila Fernandes COORDENAÇÃO DA PESQUISA Lilian Arruda EQUIPE TÉCNICA Juliana Sousa Rafaela Semíramis Suiron 3 Sumário “Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades: Alcoa Alumínio S.A. em Utinga, em Santo André (São Paulo), e Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma (Pernambuco). 2ª Fase.” Introdução.................................................................................................................................. 5 A. Informações gerais sobre a pesquisa e procedimentos da pesquisa de campo......... 6 1. A Alcoa Alumínio S.A. em Utinga, Santo André (SP) ......................................................... 8 1.1. Condições de trabalho na Alcoa Alumínio S.A. em Utinga (SP), conforme parâmetros do Trabalho Decente (OIT) .......................................................................................................... 10 1.1.1. Oportunidades de Emprego ............................................................................... 10 1.1.2. Trabalho Inaceitável .......................................................................................... 12 1.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo ........................................................ 13 1.1.4. Jornada Decente ................................................................................................ 15 1.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho ................................................................. 17 1.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar ........................................................ 18 1.1.7. Tratamento Digno no Emprego ......................................................................... 19 1.1.8. Trabalho Seguro ................................................................................................ 19 1.1.9. Proteção Social .................................................................................................. 21 1.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva) .......................... 21 2. A Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma, Pernambuco ......................................................... 23 2.1. Condições de trabalho na Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma (PE), conforme parâmetros do Trabalho Decente (OIT) .................................................................................. 26 2.1.1. Oportunidades de Emprego ............................................................................... 26 2.1.2. Trabalho Inaceitável. ........................................................................................ 28 2.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo ........................................................ 28 2.1.4. Jornada Decente .................................................................................................30 2.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho ................................................................. 32 2.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar ........................................................ 32 2.1.7. Tratamento Digno no Emprego ......................................................................... 32 2.1.8. Trabalho Seguro ................................................................................................ 33 2.1.9. Proteção Social .................................................................................................. 35 2.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva) ......................... 36 Considerações finais ............................................................................................................... 38 Referências consultadas ........................................................................................................................ 42 4 Lista de gráficos, quadros e tabelas: Tabela 1: Remuneração de horas extraordinárias na Alcoa em Utinga (SP), 2012-2014 ...... 16 Tabela 2: Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma (PE): produtos, destinação e capacidade de produção - 2012/2013 ............................................................................................................. 24 Tabela 3: Alcoa Alumínio S.A. no Brasil: distribuição do valor adicionado – 2011/2012 ... 25 Tabela 4: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos do Estado de Pernambuco (SINDMETAL-PE) – dados gerais ............................... 26 Tabela 5: Pisos salariais estabelecidos pela CCT 2012/2013 para trabalhadores das empresas metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico em Pernambuco ............................................ 28 Quadro: Benefícios oferecidos a trabalhadoras e trabalhadores da Alcoa (2012/2013) ........ 29 Tabela 6: Prorrogação da jornada de trabalho: pagamento de horas extras para trabalhadores das empresas metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico em Pernambuco (CCT 2012/2013) .............................................................................................................................. 31 5 Introdução Este documento apresenta os resultados da pesquisa realizada pelo Instituto Observatório Social (IOS) no período de março a junho de 2013, em segunda fase de estudo sobre o comportamento sociotrabalhista da Alcoa. A etapa abrangeu as unidades de Utinga, em Santo André, São Paulo, e de Itapissuma, em Pernambuco – a primeira fase envolveu as unidades Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), em São Luís; Alcoa World Alumina em Juruti, Pará, e Alcoa Alumínio S.A., em Poços de Caldas, Minas Gerais. Trata-se de um estudo preliminar e o objetivo central deste mapa de atuação da Alcoa no Brasil, nas unidades selecionadas, é, portanto, compor um panorama geral da empresa nessas localidades e avaliar suas práticas no que se refere ao respeito a direitos e princípios fundamentais no trabalho. A proposta para a realização do estudo partiu do Centro de Solidariedade da AFL-CIO, central sindical estadunidense. Com a pesquisa, pretendemos sistematizar uma ferramenta de luta com a finalidade de subsidiar aos dirigentes sindicais, trabalhadoras e trabalhadores da Alcoa o processo de formação e consolidação de uma rede sindical internacional. O IOS é uma iniciativa da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Brasil) em parceria com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e a Rede Interuniversitária de Estudos do Trabalho (Unitrabalho). O compromisso do instituto é organizar e analisar as informações sobre o desempenho social e trabalhista de empresas, tendo como referência os princípios e direitos fundamentais do trabalho definidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Nossos estudos abordam temas como liberdade sindical, negociação coletiva, trabalho infantil, trabalho forçado, discriminação de gênero e raça, segurança e saúde no trabalho, meio ambiente e responsabilidade social. Para a concretização desta pesquisa obtivemos apoio do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos de Santo André e Mauá, filiado à Força Sindical, e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos do Estado de Pernambuco (SINDMETALPE), filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), além das gerências de Recursos Humanos no Brasil e Relações do Trabalho da Alcoa na América Latina e Caribe, bem como das direções e gerências locais das unidades pesquisadas. Agradecemos à parceira AFL-CIO, financiadora da pesquisa. Aos dirigentes sindicais entrevistados e, sobretudo, às trabalhadoras e trabalhadores que contribuíram com a 6 narrativa de suas experiências cotidianas, bem como à Alcoa no Brasil, incluindo os gestores das unidades estudadas. A. Informações gerais sobre a pesquisa e procedimentos da pesquisa de campo: Para a realização desta pesquisa foram utilizados os Indicadores de Trabalho Decente desenvolvidos por toda a equipe de pesquisadoras e pesquisadores do IOS ao longo dos últimos anos. A construção destes indicadores teve como referência as convenções e recomendações elaboradas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), cujos textos foram integralmente concedidos pelo Escritório de Atividades para os Trabalhadores (ACTRAV), membro da OIT. A respeito da metodologia empregada, foi desempenhada pesquisa qualitativa em caráter de profundidade, com entrevistas conduzidas a partir da aplicação da técnica de grupos focais, em discussões norteadas por questionário elaborado tendo como referência o conceito de Trabalho Decente proposto pela OIT – procedimento condizente aos recursos financeiros e prazo previsto para a realização do estudo; em se tratando das fontes secundárias, foram consultados os sítios oficiais na internet da Alcoa e dos sindicatos, bem como materiais de divulgação destas entidades (como documentos corporativos e boletins sindicais) e notícias veiculadas pela imprensa. Trata-se, portanto, de uma abordagem analítico-descritiva, construída empiricamente a partir de observações diretas e das narrativas dos agentes envolvidos (pesquisa etnográfica), sobretudo, com a finalidade de compreendermos e interpretarmos suas percepções e experiências cotidianas relacionadas ao trabalho. As unidades pesquisadas, com as respectivas atividades desenvolvidas e os responsáveis entrevistados, foram: – Alcoa Alumínio S.A. em Utinga, Santo André (SP): 1. Entrevista com gestores da empresa: Perila Moreira (consultora de RH), Fernanda Oliveira (analista de RH), José Carlos Cattel (diretor da Divisão de Extrudados da Alcoa), Hermano Breckenfeld (gerente de RH) e Ruberval Valvassori (superintendente de EHS). Data: 13 de maio de 2013. Local: Alcoa Utinga. 2. Oficina sindical: Wilson Francisco. Data: 13 de maio de 2013. Local: Alcoa Utinga. 7 3. Entrevista com grupo focal de trabalhadoras e trabalhadores: 10 trabalhadores entrevistados (4 mulheres e 6 homens). Data: 13 de maio de 2013. Local: Alcoa Utinga. – Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma (PE): 4. Entrevista com gestores da empresa: Perila Moreira (consultora de RH), Ewerson Matos (gerente da fábrica de Extrudados em Itapissuma), Carlos Roberto Gregório (diretor da Divisão de Laminados em Itapissuma), Luciana Traeger (gerente de RH) e Gustavo Silva (Superintendente de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Sustentabilidade). Data: 16 de maio de 2013. Local: Alcoa Itapissuma. 5. Oficina sindical: Alberto Alves, o Betão, e uma ex-funcionária da unidade. Data: 16 de maio de 2013. 6. Entrevista com grupo focal de trabalhadoras e trabalhadores – 10 selecionados em sorteio aleatório a partir da lista de funcionários enviada pela empresa. Grupo focal: 7 trabalhadores entrevistados (2 mulheres e 5 homens). Data: 16 de maio de 2013. Local: Alcoa Itapissuma. 8 “Pesquisa sobre as condições sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades: Alcoa Alumínio S.A. em Utinga, em Santo André (São Paulo), e Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma (Pernambuco). 2ª Fase.” 1. A Alcoa Alumínio S.A. em Utinga, Santo André (SP) Localizada no bairro industrial de Utinga, em Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo, a unidade de extrudados da Alcoa foi adquirida em 1996 pela Alcoa Alumínio S.A., tendo sido criada em 1943 pela Alcan Alumínio do Brasil. A unidade destaca-se por possuir a maior prensa de extrusão da América Latina e é a sede administrativa da Divisão de Extrudados na região, abrigando também o Centro Tecnológico Alcoa. De acordo com a empresa, cerca de 400 trabalhadoras e trabalhadores estão atualmente empregados nesta unidade. Os produtos da fábrica são destinados principalmente ao mercado industrial, a serem utilizados pelos segmentos automobilístico, de transportes, equipamentos elétricos, máquinas e outros equipamentos e indústria de bens de consumo. 1 Segundo periódico da região 2, a Divisão de Extrudados da Alcoa atua na comunidade por meio de diversos programas de ação comunitária e campanhas sociais. A fábrica possui um Comitê Interno de Sustentabilidade com representantes de todas as áreas da empresa, cuja função é analisar processos produtivos com base nos três pilares: social, econômico e ambiental. Na unidade há um programa de Coleta Seletiva, que desenvolve trabalho de conscientização entre seus funcionários e contratados, por meio da coleta de papel, plástico e madeira, além de estimular o plantio de árvores em toda a região do ABCD. A matéria jornalística também aponta que os objetivos da Alcoa no início de 2011 eram investir em novas linhas de esquadrias e ampliar portfólio de produtos. Na época também foi revelado pelo diretor da Divisão de Extrudados da Alcoa, José Carlos Cattel, a proposta de aumentar a presença regional da empresa por meio da rede de distribuição, a Alumínio & Cia, fortalecendo a liderança da empresa no segmento. Em entrevista concedida à equipe do Instituto Observatório Social, Cattel revelou que a Divisão de Extrudados passou por uma grande reestruturação produtiva entre 2006 e 2012, dividindo seus negócios em dois mercados principais: construção civil e 1 Fonte: Alcoa 2013. Disponível em: <http://www.alcoa.com/brasil/pt/info_page/Utinga.asp>. Acesso em: 02/5/2013. 2 Fonte: ABCD Maior. Disponível em: <http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=28205> (14/3/2011). Acesso em: 09/05/2013. 9 indústria. Durante esse período, houve elevada oferta de produtos mas o mercado não cresceu o esperado e a Alcoa teve de readequar seus negócios. Em 2012 houve mudança em todas as áreas, o que ainda está em curso. Atualmente a divisão de extrudados atua com expectativa otimista de mercado e possui como perspectiva a ampliação das áreas entre 2013 e 2014, com aquisição de equipamentos e elevação da produtividade, incluindo a contratação de mão de obra. Ainda segundo Cattel, em 2009 a Alcoa reduziu as jornadas de trabalho da fábrica, o que teria sido discutido entre trabalhadores e sindicato, em função da crise financeira mundial, na tentativa de que não houvesse demissões. Em relação às mudanças estruturais, houve a manutenção dos ativos da empresa no último ano, com investimentos e ampliação de capacidade (incluindo a inauguração de uma nova prensa em Tubarão, Santa Catarina), além do investimento em capacitação de mão de obra. Segundo Cattel, a unidade de Santo André baseia-se no modelo de produção toyotista, que utiliza, em princípio, o conceito de manufatura enxuta como estratégia para alavancar a competitividade e assegurar a sustentabilidade do negócio. Esse modelo empresarial está implementado há 14 anos na unidade. Na opinião de José Carlos Cattel, a modernização tecnológica das operações é vista “com bons olhos, pois com a entrada de uma tecnologia nova os trabalhadores se sentem valorizados. Esse modelo é permanente”. Nesta unidade, em decorrência de uma mudança na legislação brasileira, a qual passa a exigir que os automóveis fabricados no país saiam de fábrica com o sistema de freios ABS instalado, permitiu à Alcoa a criação de uma célula de produção destinada à fabricação de blocos de alumínio – insumo utilizado nesses sistemas automotivos. De acordo com a empresa, “Este tipo de investimento contribui significativamente para o desenvolvimento técnico dos operadores, pois se trata de uma nova tecnologia de produção” 3. Além disso, a empresa procura mudar as tecnologias nos processos fabris para que as mulheres também possam executar o trabalho “mais pesado”. Dado esse contexto, segundo o diretor da divisão de extrudados, os planos de expansão da unidade dependem da criação de valor percebido junto aos clientes. No segmento da construção civil, através da equipe de marketing, são desenvolvidos sistemas para esquadrias de alumínio, produzidos e distribuídos a partir de uma rede exclusiva de lojas: “Esta forma diferenciada de atuar junto a este mercado permite a criação de valor percebido 3 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 10 junto aos clientes” 4. Já em se tratando do segmento industrial, os produtos são projetados pelos clientes: “portanto, a diferenciação é obtida através de uma oferta de produtos e serviços de alto grau tecnológico, a partir da qual se disponibiliza aos clientes soluções em alumínio que possam atender aos requisitos técnicos de várias indústrias” 5. Além disso, a produção de perfis de alumínio possibilita a “fidelização” de grupos de clientes, segundo a empresa 6, pois se trata de um insumo utilizado por muitas indústrias de bens de consumo. Sobre as perspectivas de expansão da empresa para os próximos anos, Cattel acrescenta: “Oferecemos aos nossos clientes produtos e serviços diferenciados. Nosso plano para o negócio está baseado em uma taxa anual de crescimento de 5%. As perspectivas são de ampliação da nossa capacidade de produção, sendo que a primeira fase será concluída em setembro deste ano com a inauguração de uma nova prensa de extrusão localizada na planta de Tubarão” 7. Por fim, em relação aos subsídios governamentais e seus impactos sobre os planos de investimento da Alcoa, a entrevista com os representantes da empresa revelou que a legislação brasileira e alguns programas do Governo Federal favorecem os planos de ampliação dos negócios da empresa, como por exemplo, a obrigatoriedade de freios ABS nos automóveis nacionais saídos de fábrica a partir de 2014 e os programas “Minha Casa, Minha Vida”, que aquece o setor da construção civil, e “Bolsa Família” que proporciona renda básica, impulsionando o consumo. Representação Sindical: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Santo André e Mauá (SP), filiado à Força Sindical. 4 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. O documento da empresa complementa que a fim de que haja agregação de valor aos produtos junto aos clientes, “o engajamento de seus colaboradores (sic) para com a estratégia adotada é fator chave de sucesso para o negócio”. É relevante salientarmos que, diferentemente do documento que neste estudo utilizamos como uma de nossas referências, a Alcoa refere-se a sua força de trabalho como “colaboradores” ou “empregados”. Nossa abordagem, entretanto, constrói uma reflexão alicerçada em outros parâmetros analíticos, utilizando como categorias explicativas os termos “trabalhadora” e “trabalhador”, reforçando, dessa maneira, a tradição envolvida no histórico da luta de classes na sociedade contemporânea, bem como a vertente clássica do pensamento social e seus desdobramentos que têm se debruçado sobre o tema nos últimos séculos. 5 Idem. 6 Idem. 7 Idem. 11 1.1. Condições de trabalho na Alcoa em Utinga, Santo André (SP), conforme parâmetros do Trabalho Decente (OIT) 1.1.1. Oportunidade de emprego De acordo com o gestor de Recursos Humanos em Utinga, Hermano Breckenfeld, atualmente existem 429 trabalhadoras e trabalhadores diretos na unidade. O perfil dos trabalhadores da Alcoa Divisão de Extrudados localizada no município de Santo André foi elaborado a partir de dados fornecidos pela empresa e das oficinas realizadas junto aos trabalhadores e dirigentes sindicais, contemplando os seguintes aspectos: sexo e cargo/função. Com base nessas informações traçou-se um cenário comparativo de benefícios e condições de trabalho entre os trabalhadores diretos e indiretos nesta unidade. Durante a oficina realizada pela equipe do Instituto Observatório Social, houve a participação de 10 pessoas, dentre as quais havia 4 mulheres 8, ocupando tanto cargos administrativos como operacionais. No grupo entrevistado havia trabalhadores e trabalhadoras nos cargos de operadores de refusão e extrusão, auxiliar mecânico, auxiliar de manutenção, mecânico de manutenção, eletricista, técnico de qualidade e uma técnica de laboratório. Além destes, foram entrevistadas uma assistente administrativa de vendas e uma recepcionista. A contratação de terceirizados ou mão de obra temporária na unidade de extrudados é uma prática comum e ponto de divergência entre o que os representantes da empresa afirmam praticar e o que foi relatado durante as entrevistas com trabalhadores e representantes sindicais. Nota-se que parte dos trabalhadores entrevistados não diferencia os contratados temporariamente dos terceirizados, pois, segundo afirmaram, os trabalhadores temporários são contratados por intermédio de uma empresa de recrutamento terceirizada. Já os representantes da empresa ressaltam que os trabalhadores contratados temporariamente não são terceirizados, uma vez que são modalidades diferentes de contratação. Segundo o representante sindical entrevistado a Alcoa contrata uma agência que faz o recrutamento da mão de obra no setor de embalagem e prensa. Esses contratados trabalham por 3 meses com possibilidade de prorrogação por mais 3 meses. O posicionamento do sindicato é contrário à contratação de terceiros no setor de prensas, mas a empresa alega que está atendendo aos requisitos da legislação. O sindicato propõe como alternativa assegurar a contratação de mão de obra temporária somente se amparada pelo regime previsto 8 Segundo informações obtidas durante a entrevista realizada com gestores da empresa, atualmente as mulheres representam 15,4% do quadro de funcionários na unidade de Utinga. 12 na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), conforme elucida a cláusula 23 da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) 9, a seguir: a) “Na execução dos serviços de sua atividade produtiva fabril ou atividade principal, no segmento representado pela categoria profissional abrangida por esta Convenção Coletiva de Trabalho e, ainda, nos serviços rotineiros de manutenção mecânica e/ou elétrica, as empresas não poderão se valer senão de empregados por elas contratados sob o regime da CLT, salvo nos casos definidos na Lei nº 6019/74, e os de empreitada, cujos serviços não se destinem à produção propriamente dita; b) Nos casos de substituição de funcionários em decorrência da licença maternidade, o prazo previsto na Lei nº 6.019/74, a critério da empresa, poderá ser prorrogado pelo prazo do efetivo afastamento.” A carga ideológica do modelo toyotista de organização da produção é divulgada até mesmo entre os contratados temporariamente. De acordo com o sindicalista entrevistado, todos trabalhadores, diretos ou indiretos, são convocados a vestir a “camisa da empresa” 10 – a Alcoa já no primeiro dia dos trabalhadores transmite seu treinamento, bem como seu “mandamento interno” aos recém-contratados. Ainda segundo o sindicalista, caso os trabalhadores não cumpram tais normas, recebem advertências. Já segundo os trabalhadores entrevistados, a mão de obra terceirizada é utilizada nos setores de manutenção, recepção, embalagem e refusão (na parte do corte de tarugos). Em relação à diferenciação das condições de trabalho foram apontadas questões sobre a diferença de salários, benefícios (convênio médico apenas para trabalhadores diretos) e o uso vetado a terceirizados do transporte oferecido pela Alcoa, cabendo à empresa contratada a responsabilidade sobre o transporte. Segundo o grupo de trabalhadores entrevistados, além da contratação de terceirizados, há trabalho temporário contratado a partir de agências externas; contudo, os trabalhadores não souberam apontar o tempo previsto nesse tipo de contrato efetuado. Em esclarecimento, a direção da Alcoa confirma que os trabalhadores que atuam na recepção provêm de empresas contratadas e que “há contratação de funcionários temporários, cujo objetivo é atender a um aumento sazonal de volume de produção e funcionários afastados pelo INSS com data prevista de retorno. A contratação de temporários é absolutamente legal 9 Fonte: Convenção Coletiva de Trabalho- Força Sindical 2012-2014. Grupo XIX-III, p. 22. Sobre este aspecto, o relato do gerente de Recursos Humanos revelou que a Alcoa possui um processo de “integração estruturada” durante o qual há um acolhimento dos recém-contratados. Ademais, há o “programa de tutores”, destinado a funcionários “top talent”, que possibilita um acompanhamento na carreira de interessados, oferecendo orientações, esclarecendo dúvidas, enfim, um tutoriamento profissional. 10 13 para os casos de flutuação da demanda ou substituição temporária de empregados regulares” 11. Sobre este tema a empresa defende que para serem supridas eventualmente novas necessidades da produção, ou seja, aquelas relativas aos “picos de produção”, a Alcoa contrata mão de obra temporária, comunicando ao sindicato antecipadamente sobre as mudanças impactantes e que exijam alguma reestruturação na produção. 1.1.2. Trabalho Inaceitável De acordo com os trabalhadores entrevistados, a contratação de menores na Alcoa faz parte de uma medida corporativa apoiada no Programa Menor Aprendiz, além de estagiários de nível técnico. Geralmente esses menores, com idade superior a 16 anos, desempenham suas funções em laboratórios ou nos setores de manutenção e ferramentaria. Na manutenção são limitados somente a algumas atividades, sempre estão acompanhados, e não manuseiam equipamentos considerados perigosos. Segundo os representantes da empresa, a contratação e o trabalho dos aprendizes estão condizentes com o que a legislação permite. Os estagiários recebem de acordo com o nível de escolaridade e para, os aprendizes, é aplicada uma escala salarial. Atualmente a Alcoa tem feito uma parceria com os bombeiros da região, os quais são responsáveis por organizar e capacitar jovens nas áreas de manutenção e escritório. Ainda de acordo com o representante da empresa, atualmente há 14 aprendizes, 1 estagiário técnico e 7 estagiários universitários na unidade. 1.1.3. Salários adequados e trabalho produtivo A Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) em Santo André (5ª Cláusula) 12 estabelece que as empresas da categoria com quadro funcional acima de 350 (trezentos e cinquenta) trabalhadores tenham como salário normativo o valor de R$ 1.213,00. Contudo, segundo o sindicalista entrevistado, o salário médio praticado na unidade é de R$ 1.280,00. 11 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 12 Fonte: Convenção Coletiva de Trabalho- Força Sindical 2012-2014. Grupo XIX-III, p. 15. 14 Uma das problemáticas levantadas foi que ultimamente os funcionários com elevado tempo de casa, de 5 a 6 anos, recebem somente o aumento anual coletivo negociado com a entidade patronal, a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) – isto é, não há algum tipo de premiação monetária por tempo de serviço. Já a diretoria da empresa, no que se refere ao salário dos trabalhadores horistas (operadores) da unidade de Santo André, ponderou que o salário médio pago quando da realização das entrevistas era de R$ 2.545,40. Comentando a CCT, informou que “além do percentual de aumento previsto pela CCT, há a possibilidade de promoções mediante disponibilidade de vagas em aberto e atendimento das competências, habilidades e conhecimento para o exercício da função” 13. De acordo com a fala dos trabalhadores entrevistados constatou-se que não são oferecidos salários inferiores a dois salários mínimos (R$ 1.356,00), sendo que a maioria deles está compreendida na faixa entre 3 a 5 salários mínimos (R$ 2.034,00 a R$ 3.390,00). Ademais, os entrevistados reafirmam que possuem plano de saúde, auxílio funeral, seguro de vida, previdência privada, restaurante, vale farmácia, plano odontológico, transporte (van ou vale-transporte), confirmando o que empresa divulga em seu “pacote de benefícios”. A comissão de negociação do Programa de Participação nos Resultados (PPR) é formada, segundo o grupo de trabalhadores entrevistados, por um representante de cada área das unidades, chegando a ter entre 7 e 8 membros. Para socializar com os funcionários os critérios do PPR, a empresa organiza mensalmente uma reunião no setor administrativo, divulgando o processo de evolução das metas. Sobre essa questão há grandes divergências entre a posição do sindicato e a visão corporativa da empresa. Para o primeiro a comissão de PPR é omissa e o sindicato não participa desta comissão pois acredita que assim legitimaria a posição da empresa. Nesse sentido, o sindicato é contra a atual base de cálculo do PPR proporcional ao salário nominal de cada trabalhador(a) isoladamente. Ou seja, para os representantes sindicais o valor do PPR deveria ser igual (fixa) para todos e todas. Somado a este problema, o sindicato argumenta que a Alcoa impõe metas irreais e inatingíveis, incorporando o absenteísmo como um de seus indicadores. Já a direção da Alcoa argumentou que o processo de negociação do PPR é realizado através de uma comissão de representantes eleita pelos funcionários. A composição 13 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 15 da comissão envolve um representante da empresa (da área de Recursos Humanos e Finanças), dos trabalhadores e, formalmente, do sindicato. Desse ponto de vista, ainda de acordo com a empresa, os valores calculados para o PPR são “atrelados à capacidade financeira do negócio. Neste contexto, a Alcoa acredita que um percentual do salário ajusta a remuneração variável à classe salarial e responsabilidades de cada empregado definindo um programa mais efetivo que um pagamento fixo. Todos os indicadores que compõem um PPR estão acessíveis aos funcionários e fazem parte do modelo de monitoramento. As metas são factíveis e foram avaliadas e negociadas pelos funcionários através da comissão. Um exemplo disso são os atendimentos às propostas e reivindicações da comissão por trocas de indicadores e ajuste ou revisão das metas” 14 (ALCOA). Com base na fala do gerente de RH de Utinga, nota-se que o cálculo do PPR está alicerçado na seguinte visão corporativa: “a Alcoa acredita que a participação nos resultados deva ser variável de acordo com a responsabilidade de cada um”. Diante da denúncia do sindicato sobre a questão das metas inatingíveis que influenciam diretamente no cálculo do PPR, os representantes da Alcoa revelaram que os trabalhadores podem opinar sobre os indicadores possíveis ou não de serem concretizados através de acompanhamento diário com seus respectivos líderes. Alinhada a essa perspectiva, a Alcoa cria fóruns, diálogos diários, mesas redondas e outros canais para que o trabalhador possa se posicionar, inclusive com a possibilidade de manter-se em anonimato. Além disso, os representantes da empresa relataram que procuram envolver o sindicato em todas as negociações em torno deste tema, fato que na realidade é obstaculizado pela própria estrutura de debate, uma vez que o sindicado optou politicamente por não compactuar com a Alcoa através da recusa de sua participação nas negociações da comissão de PPR. Segundo as falas dos trabalhadores entrevistados, nota-se que a maioria dos entrevistados não considera o Plano de Cargos e Carreira (PCC) oferecido pela empresa como adequado. No caso específico do administrativo, existe uma avaliação anual, mas não é divulgado aos trabalhadores deste setor o que é necessário para pleitear um novo cargo num período estimado de dois anos, logo, na opinião dos trabalhadores, os requisitos objetivos para ascender profissionalmente não são “formais". No setor da produção, ocorre a promoção horizontal que começa como auxiliar A até o nível C, bem como as promoções verticais, que 14 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 16 dizem respeito às mudanças de cargos e funções. Para que os trabalhadores possam pleitear essas últimas posições, necessitam possuir nível técnico e superior. Em complemento ao tema do Plano de Cargos e Funções, foram relatados casos de desvio de funções, ou seja, os trabalhadores realizavam atividades para além das funções correspondentes ao seu cargo, isso porque as atividades foram acumuladas devido ao processo de demissões nos últimos anos. Mesmo diante da necessidade de mais pessoas atuando na produção, a empresa justifica a inviabilidade de novas contratações alegando que passa por um “momento difícil”. Segundo o grupo de trabalhadores entrevistados, a avaliação é realizada de acordo o com desempenho e as metas atingidas. O aumento salarial depende da avaliação individual (aumento por mérito) e desempenho das áreas (coletivo). As metas podem se referir a fatores comportamentais, ou seja, aqueles relacionados de acordo com seu posicionamento, relacionamento interpessoal, cumprimento do horário e redução do número de faltas. No administrativo as metas são individuais e na produção são comuns (nos casos dos trabalhadores mensalistas). Em complemento às falas dos trabalhadores, os representantes da Alcoa confirmaram que o modelo de gestão de desempenho aplicado na empresa é baseado num modelo de competência comportamental. Há também quatro objetivos que norteiam a evolução na carreira dos funcionários, relacionados às questões: financeiras, de pessoas, de clientes e de processos. Durante o ciclo de desempenho da Alcoa, há um planejamento no início do ano, uma avaliação intermediária nos meses de junho e julho e uma avaliação final de outubro a dezembro. Em relação à remuneração, a estratégia da Alcoa foi desenvolvida para garantir a visibilidade dos valores da empresa, os objetivos estratégicos de seus negócios, os processos de gestão de pessoas e as melhores práticas de mercado, cuja filosofia de pagamento é totalmente orientada à meritocracia. Deste modo, segundo representantes da empresa, “a política de remuneração da Alcoa foca na diferenciação de funcionários com alto desempenho, levando sempre em consideração a coerência dos resultados” 15. Isso é percebido frequentemente entre os mensalistas. Já entre os horistas, os trabalhadores que desempenham a mesma atividade são remunerados da mesma maneira; neste caso não há diferenças salariais entre pessoas que executam a mesma função. No caso dos mensalistas se segue uma linha de desempenho, por exemplo, dois funcionários podem ter o mesmo cargo, mas podem ter atribuições um pouco diferentes, portanto, a remuneração torna-se competitiva 15 Fonte: Entrevista com José Carlos Cattel, diretor da Divisão de Extrudados da Alcoa, em Santo André (SP), em 13 de maio 2013. 17 e o pagamento é por resultados. A estrutura de remuneração da Alcoa é formada por: saláriobase, remuneração variável de curto prazo (que é o PPR), o incentivo de longo prazo, que se refere aos cargos executivos na Alcoa, e o pacote corporativo de benefícios. Através dos relatos de trabalhadores(as) entrevistados(as), nota-se que a política de qualificação difere entre a área administrativa e a produção. Há um plano de desenvolvimento individual no administrativo (necessidade de fazer um curso de acordo com a função) e para os trabalhadores da produção há uma matriz de treinamento, destinada a oferecer cursos ou reembolso em cursos externos. Segundo os trabalhadores entrevistados, o pagamento (reembolso) de curso superior pode chegar a até 90% do valor mensal, mas em média é de 70%. 1.1.4. Jornada decente Quando questionados sobre a jornada de trabalho, os trabalhadores entrevistados afirmaram que os mensalistas realizam 40 horas semanais, enquanto os horistas trabalham 44 horas semanais, com turnos das 6h às 14h, das 14h às 22h e das 22h às 6h, com folga somente aos domingos. O setor operacional também pratica o “horário administrativo”, das 8h às 17h, folgando um sábado sim e outro não. Na manutenção o horário também é das 8h às 17h, trabalhando um domingo sim e outro não, com folga em todos os sábados. Os plantonistas trabalham em regime de turno ininterrupto, com folgas aos domingos e dependendo da equipe (se manhã, tarde ou noite), também trabalham aos sábados. Segundo os trabalhadores entrevistados, a realização de horas extras não ultrapassa o que estabelece a CLT (duas horas extraordinárias diárias). Contudo, muitos trabalhadores que folgam aos domingos necessitam trabalhar neste dia para aquecer as rampas de aquecimento dos fornos na área de refusão. Todas as horas são remuneradas e há possibilidade de recusar a realização caso seja necessário. Com base nos relatos, nota-se que há um forte descontentamento em relação à prática de horas extras, motivado, entre outros fatores, pela quebra dos equipamentos antigos (que possuem cerca 30 a 50 anos de uso), o que provoca atrasos na produção. Ademais, como o ramo de extrudados atende ao setor automobilístico, os(as) trabalhadores(as) são cobrados(as) a todo o momento para cumprir prazos de entrega a fim de que não prejudiquem a cadeia produtiva de seus clientes. 18 Para que sejam garantidos os direitos concernentes a este tema, a 6ª Cláusula da CCT esclarece que as horas extraordinárias devem ser remuneradas conforme a tabela 1 abaixo: Tabela 1: Remuneração de horas extraordinárias na Alcoa em Utinga (SP), 2012-2014 Horas extraordinárias (mensais) Regime de remuneração Até 25 horas 50% de acréscimo em relação à hora normal De 25 a 40 horas 60% de acréscimo em relação à hora normal De 40 a 60 horas 80% de acréscimo em relação à hora normal Excedente a 60 horas 100% de acréscimo em relação à hora normal Fonte: Convenção Coletiva de Trabalho. Força Sindical 2012-2014. Grupo XIX-III, p. 15. Elaboração: IOS. A 6ª Cláusula da Convenção Coletiva de Trabalho ainda prevê que: “As horas extraordinárias prestadas aos domingos, feriados e dias pontes já compensados, serão remuneradas com 100% (cem por cento) de acréscimo em relação à hora normal até o limite de 8 (oito) horas diárias, sendo as excedentes pagas com acréscimo de 150% (cento e cinquenta por cento), também em relação à hora normal”. (CCT, p. 16) Em relação à jornada noturna, todos os trabalhadores entrevistados afirmaram que a Alcoa disponibiliza transporte durante a noite, bem como oferece adicional noturno e serviço médico 24 horas. 1.1.5. Estabilidade e garantia no trabalho Do total de trabalhadores entrevistados, a maioria possui de 1 a 5 anos de tempo de trabalho na empresa, restando apenas uma pequena parcela daqueles que possuem mais de 10 anos. Vale ressaltar que no grupo entrevistado havia um ex-temporário contratado pela agência “Proativa” que recentemente foi contratado pela Alcoa. Diante da questão da estabilidade e garantia no emprego, as expectativas dos trabalhadores entrevistados de estarem empregados daqui a 1 ano na Alcoa está sujeita às oportunidades de cargos para desenvolvimento dentro da empresa e ao desgaste cotidiano 19 sofrido em função da distância geográfica, pois muitos trabalhadores moram no interior de São Paulo e na Baixada Santista. Ainda segundo a impressão do grupo entrevistado, sempre há reorganização referente aos processos de gestão na empresa. Sem precisar o período quando a última ocorreu, o grupo afirmou que houve há pouco tempo a demissão de um supervisor do setor de Qualidade e Processos. Ademais, o setor de Recursos Humanos passou por uma recente reorganização, admitindo um funcionário responsável pelo “desenvolvimento e capacitação, clima organizacional, diversidade e apoio à liderança da localidade” 16. O mesmo grupo acrescentou que recentemente houve a demissão de trabalhadores já aposentados em atividade e a negociação com alguns funcionários para que fossem mandados embora; em todos os casos citados a Alcoa ofereceu uma série de benefícios compensatórios. De modo geral, segundo os trabalhadores entrevistados, em todos os casos de mudanças de gestão descritos acima, há o anúncio antecipadamente por área para que somente depois ocorram as mudanças na fábrica. De acordo com um dos gestores da empresa, quando teve início a crise financeira mundial em 2008 houve redução de jornada laboral para que não houvesse demissões em massa a partir de 2009. Naquele primeiro momento, a unidade de Utinga não optou por “desligamentos” (demissões). A política de redução da jornada foi debatida com os funcionários e o sindicato, perdurando por 4 a 5 meses. Contudo, segundo o dirigente sindical, a situação não foi tão amena como a empresa relatou. Com a crise financeira mundial em 2008 a Alcoa não quis aplicar o aumento real de 3% que a categoria havia negociado com a FIESP, aplicando somente o reajuste da inflação de 7%. Além disso, em 2009 houve uma proposta de redução de 20% nos salários através de uma forte investida ideológica da gerência para que os trabalhadores aceitassem esse abatimento salarial durante três meses concomitante à redução de 25% da jornada de trabalho. Nessa época o sindicato estava negociando a participação nos resultados e foi iniciada uma greve de 7 dias corridos. Segundo relatos do dirigente sindical entrevistado, somente após a paralisação dos trabalhadores a Alcoa suspendeu a redução salarial e modificou o plano de redução da jornada previsto inicialmente pelo período de 6 meses para 3 meses. 16 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 20 Por fim, o representante sindical afirmou que atualmente o cenário na Alcoa é outro, pois muitos jovens não pretendem ficar muito tempo trabalhando na empresa, enquanto os mais velhos pretendem permanecer até se aposentarem. Segundo ele, entre os anos 2007 e 2008 houve um corte significativo, em torno de 90 trabalhadores, devido à “reestruturação de cargos de funcionários”. Nesse período o sindicato não foi formalmente avisado e acredita-se que não houve critérios refinados durante a escolha das demissões, pois posteriormente houve muitos processos judiciais e reintegrações. 1.1.6. Equilíbrio entre trabalho e vida familiar Do total de trabalhadores entrevistados, somente três pessoas declararam que são pais e mães de família. Destes, nenhum tem oportunidade de acompanhar os filhos ao médico, pois o setor administrativo da empresa não aceita atestado de acompanhante, contudo, afirmaram que é possível conversar com os gestores de cada área antecipadamente para que possam ser liberados. De modo geral, a dedicação ao lar e aos afazeres domésticos é feita de acordo com a folga de cada um. O tempo de locomoção de casa ao local de trabalho e vice-versa varia muito entre os entrevistados. Alguns deles moram em outra cidade, como no interior paulista ou na Baixada Santista, levando cerca de 3 a 5 horas para se locomoverem. Por outro lado, alguns entrevistados gastam em torno de 30 minutos a uma hora e meia para chegarem ao local de trabalho. 1.1.7. Tratamento digno no emprego Em relação à discriminação, os entrevistados afirmaram que desconhecem casos deste tipo praticados no interior da empresa. Os trabalhadores entrevistados afirmaram que não há casos de assédio moral e assédio sexual e explicaram que existe acesso direto aos gerentes e canais abertos com outros departamentos para que possam reportar. Ainda segundo os trabalhadores e trabalhadoras entrevistadas não há discriminação quanto a nenhum critério (gênero, raça/etnia, participação sindical ou política, doença, orientação sexual ou religiosa) para se candidatar a uma vaga interna na Alcoa. 21 1.1.8. Trabalho seguro As queixas dos trabalhadores quanto às condições de trabalho variam de acordo com área, cargo e função que desempenham. Na manutenção há excesso de funções e todos os meses aumenta o número de metas, mesmo com o número de pessoas reduzido, e a tendência prevista é de piora. De modo geral, nota-se pela fala dos trabalhadores que há muito estresse e a maioria se sente sobrecarregada. Durante a oficina com trabalhadores, havia um trabalhador que já tinha sofrido acidente no local de trabalho. O acidente, um corte no dedo após manusear um perfil de alumínio no setor de embalagens, aconteceu há menos de três anos. Logo após o ocorrido o trabalhador ficou restrito a atividades dentro da mesma função. Ele completou que a princípio sentiu que seria difícil o dia a dia no trabalho, mas depois conseguiu se adaptar. Segundo os trabalhadores e trabalhadoras entrevistadas a Alcoa emite CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) para todos os acidentes, pois a parte de segurança é bem rígida. Tem um grupo off the job que registra os acidentes externos. Em relação às doenças apresentadas relacionadas à atividade de trabalho, os entrevistados relataram muitos casos de LER/DORT. Dentre os entrevistados, há um caso de rompimento do tendão do ombro. Nesse caso, o trabalhador afirmou que evita realizar alguns movimentos que exercia antes, preferindo pedir ajuda aos demais companheiros de trabalho. Além desse caso, o estresse apareceu dentre as doenças mais comuns relacionadas à atividade de trabalho, contudo, para a maioria dos entrevistados, pode ser “administrado”. Houve apenas dois casos de afastamento dentre os entrevistados, o primeiro em função do acidente de trabalho, durante 6 meses, e o segundo, devido a uma cirurgia de apêndice, no qual o entrevistado permaneceu afastado durante 14 dias. Segundo a avaliação dos trabalhadores e trabalhadoras entrevistadas, a atuação da CIPA varia de acordo com cada gestão. Esse ano a CIPA tem focado na TV-CIPA, apresentando vídeos de segurança e planejamento. Mensalmente há uma reunião para assuntos de segurança. Além disso, há os DDS (Diálogos Diários de Segurança). Ainda na opinião dos trabalhadores e trabalhadoras da Alcoa, todos os EPIs e EPCs são adequados. O macacão da área elétrica é usado coletivamente e está adequado. Para aqueles que trabalham com solventes e soda cáustica há o uso de luvas e luvex (creme para proteger as mãos). Segundo os informantes, além dos equipamentos de proteção citados, a empresa disponibiliza os seguintes itens: diphoterine (onde a soda cáustica é utilizada para a limpeza das ferramentas), protetor solar (nas áreas de exposição à radiação), óculos, avental, 22 perneira, capacete, balaclava, luva, bota, meião, chuveiro lava-olhos e chuveiros convencionais. De todos os EPIs e EPCs relacionados pela equipe de pesquisa, apenas a camisa resistente a meios ácidos e álcalis não é utilizada, pois o manuseio de soda cáustica ocorre em pequenas proporções, ou seja, apenas para a limpeza de equipamentos. Quanto ao uso de soda cáustica, contudo, a direção da empresa nega que haja limpeza de equipamentos com este produto mas completa que “Há soda no processo de limpeza de matrizes e, para esta atividade, não é necessário o uso de camisas resistentes a produtos químicos. Todas as atividades são avaliadas e são definidos EPIs e/ou EPCs para eliminar ou reduzir os riscos de acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais”. Na opinião do sindicalista entrevistado os EPIs e EPCs são bons. Entretanto, há reclamações por falta de higiene no refeitório e a quantidade de comida oferecida também é questionada. Por sua vez, a direção da empresa afirma realizar anualmente uma “Pesquisa de Satisfação”, assim como reuniões trimestrais com os representantes de cada área com a finalidade de identificar oportunidades de melhoria, sugestões e críticas relacionadas ao restaurante e à comida. A pesquisa de 2013 apontou que “o índice de satisfação foi de 81% de favorabilidade e o resultado foi considerado muito positivo (“ótimo”: 30%, “bom”: 51%, “regular”: 15% e “ruim”: 4%). Há um plano de ação em que constam todas as oportunidades de melhoria observadas pelos funcionários e que é acompanhado constantemente” 17. Em relação à segurança das máquinas, o sindicalista relatou que se trata de equipamentos muito antigos e que por isso o trabalhador que opera as serras não pode se descuidar. Ainda sobre este tema, o representante dos trabalhadores revelou que os acidentes ocorriam mais durante os anos da década de 1990. Contudo, recentemente houve um caso de um trabalhador que fez uma cirurgia na coluna cervical, ficando restrito em suas funções, mas ao executar uma operação no setor de refusão sofreu uma queda e ficou vários meses na cadeira de rodas. Na época, cerca de nove anos atrás, a empresa alegou que ele não respeitava a restrição e anos mais tarde ele se aposentou por invalidez. Em contrapartida, a direção da empresa observou que: “Embora os equipamentos sejam antigos, a Alcoa investe na instalação de proteções de máquinas, como barreiras físicas e barreiras fotoelétricas para reduzir e/ou eliminar riscos de acidentes 17 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 23 nos equipamentos. Em relação ao funcionário que sofreu a queda, ele era Mecânico de Manutenção com 15 anos de experiência e não possuía restrição em função da cirurgia de coluna realizada antes do acidente. Ele desceu no poço de vazamento de tarugos com altura aproximada de 6 metros, sem utilizar escada e cinto de segurança que estavam disponíveis. Nunca alegamos que ele não respeitava a restrição. Durante a análise do acidente, o próprio funcionário informou que desceu no poço utilizando um tubo de água de quatro polegadas preso na parede da caixa. Embora tenha sido alertado por outro operador sobre o risco, realizou uma atividade de manutenção e, ao tentar subir utilizando o tubo novamente, caiu e sofreu lesão na coluna cervical. Ele não ficou em cadeira de rodas, a lesão na coluna causou limitação de movimentação no braço e perna esquerdos.” 18 (ALCOA) Segundo o dirigente sindical entrevistado, a emissão de CAT (Comunicado de Acidente de Trabalho) pela empresa não é regular, pois “quando esta pode ocultar, oculta”, principalmente em relação às doenças profissionais. Já a empresa contesta, registrando que “emite CAT para todos os acidentes. Com relação às doenças, a empresa emite CAT se a doença for caracterizada como ocupacional” 19. Um dos problemas que o sindicato enfrenta hoje é com os trabalhadores afastados. Segundo o dirigente sindical, recentemente um trabalhador foi afastado e encaminhado ao INSS. No entanto, o órgão rejeitou o pedido de licença e o trabalhador voltou para a empresa, recebendo somente uma parcela do salário, pois não tem condição de trabalhar. Ainda de acordo com ele, o trabalhador citado já pensou em cometer suicídio em virtude desta situação. 1.1.9. Proteção social na empresa De acordo com os trabalhadores e trabalhadoras entrevistadas a empresa adota licença maternidade de 180 dias e 5 dias para licença paternidade, embora os trabalhadores tenham lembrado que a empresa não oferece auxílio-creche. Para ambos os casos de licença, segundo trabalhadores e sindicalista entrevistados, há garantia de retorno ao emprego após esse prazo. Ainda segundo o grupo entrevistado, a empresa respeita o direito dos trabalhadores afastados por acidente de trabalho, mas se houver prática de algo errado, ou 18 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 19 Idem. 24 seja, se algum trabalhador burlar as normas de segurança, será advertido. Todo trabalhador recebe da empresa um cartão denominado “PARE”, que serve para chamar a atenção e interromper qualquer trabalhador que esteja oferecendo risco a si próprio ou aos demais. Nesse sentido, o engajamento de segurança é muito forte; todas as áreas comunicam os riscos de atuação implicados. 1.1.10. Diálogo Social (Negociação Coletiva e Liberdade Sindical) Segundo o dirigente sindical Wilson Francisco, o total de sindicalizados em toda a base é de 7.486 trabalhadoras e trabalhadores. Quando questionados sobre a filiação sindical, apenas quatro dos trabalhadores entrevistados afirmaram positivamente. Uma trabalhadora lembrou a possibilidade de associar-se a sindicatos da categoria relacionada à profissão desempenhada, como o Sindicato dos Administradores no Estado de São Paulo, além do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Santo André e Mauá (SP). Segundo os trabalhadores entrevistados, a participação em atividades sindicais dentro da empresa ocorre através de assembleias e também mencionaram a participação em negociação de PPR ou dissídio. De acordo com os relatos, houve greve em 2010 e 2011 em função do PPR. Durante o período de três dias os trabalhadores não puderam entrar fábrica, com exceção do pessoal da manutenção em função do aquecimento dos fornos da área de refusão. Ainda segundo os trabalhadores, durante a greve houve desconto em folha e reposição dos dias em paralisação. Segundo o grupo de trabalhadores entrevistados, parte do pessoal do administrativo foi realocado para outro prédio distante das manifestações e trabalharam normalmente. Na opinião dos trabalhadores e trabalhadoras entrevistadas, o sindicato assume uma postura de confronto com a empresa quando as negociações são conturbadas, principalmente em relação ao PPR oferecido pela Alcoa. De acordo com os boletins sindicais e os relatos do dirigente sindical entrevistado, a Alcoa assume práticas antissindicais, tendo instalado um equipamento de filmagem de última geração durante as assembleias com o intuito de vigiar os trabalhadores que se posicionam contra as propostas da empresa. Ainda de acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Cícero Martinha, “alguns exemplos de práticas antissindicais adotadas pela empresa são: exigir que grupos de trabalhadores gravem 25 declarações de apoio à direção da fabricante, filmar as assembleias para retaliar quem votar contra os interesses da companhia e atrapalhar os atos realizados pela entidade sindical na porta da fábrica” 20. Em contrapartida, a empresa alega que: “A companhia reconhece e respeita o sindicato. Ter e defender uma posição diferente não significa prática antissindical e nem que não respeitamos o interlocutor. Entretanto, não podemos deixar de esclarecer que a Alcoa não aceita e se posiciona diante de qualquer tipo de manifestação contrária à lei, como por exemplo: violência e impedimentos físicos ao acesso a sua propriedade. Nunca houve exigência de declarações dos empregados por parte da empresa para obter depoimentos elogiosos ou com fins publicitários, tampouco uso do sistema de CFTV interno para vigiar opiniões e manifestações em assembleias sindicais.” 21 (ALCOA) Para os trabalhadores entrevistados, o acesso às informações sindicais se dá por boletins, pelo contato com dirigentes sindicais ou através do carro de som durante as assembleias. Segundo o grupo, há apenas um quadro informativo localizado perto do vestiário masculino, onde são afixados os informes do sindicato. Segundo o representante sindical, a localização do mural foi uma condição imposta pela empresa, e reconhece que dificulta que mais mulheres possam ter acesso ao material produzido pelo sindicato. De modo geral, não há comissão de fábrica na Alcoa. Os sindicalistas têm acesso ao local de trabalho e não houve demissão de trabalhadores cipeiros e sindicalistas, nem descumprimento de cláusula da Convenção Coletiva de Trabalho. Por fim, na opinião do representante sindical entrevistado, a gerência da Alcoa pressiona para que os trabalhadores não se sindicalizem. Contudo, segundo os representantes da empresa, todas as discussões de informativos do sindicato podem ser feitas na unidade, bem como as assembleias na frente da fábrica, com a liberação prévia dos funcionários: “A Alcoa reconhece e respeita o sindicato e trata todos os seus funcionários dentro dos mesmos valores e com as mesmas políticas, independentemente de que sejam ou não associados ao sindicato” 22. 20 Fonte: Força Sindical. Disponível em: <http://www.fsindical.org.br/portal/noticia.php?id_con=20245 >. Acesso em: 15/6/2013. 21 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 22 Idem. 26 2. A Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma (PE) A unidade da Alcoa em Itapissuma, Pernambuco, consiste num dos mais importantes complexos industriais da Alcoa na América Latina e no Caribe, integrando a Alcoa Alumínio S.A. desde 1981, quando foi adquirida da ASA-Alumínio S.A. A fábrica é responsável pela produção de perfis extrudados 23 e laminados 24, endereçados a inúmeros mercados. Com relação aos perfis laminados, um dos produtos da planta é a folha asséptica, utilizada em embalagens, que tem como um de seus principais clientes a Tetra Pak; outra aplicação industrial dos produtos envolve a fabricação da telha amazonas, ondulada e de alumínio, produzida no Brasil pela Alcoa em Itapissuma, que pode ser enrolada e é utilizada por populações ribeirinhas pela maior facilidade de transporte da telha e de mobilidade 25. De acordo com dados da Alcoa, a unidade atualmente possui cerca de 1.050 funcionários 26 – em 2012, eram 476 trabalhadores diretos 27 –, dos quais 71% são horistas e 29%, mensalistas 28. Estimativas dos gestores de Recursos Humanos entrevistados ao longo desta pesquisa apontam que as mulheres trabalhadoras representam cerca de 33% dos quadros administrativos e 14% da mão de obra das áreas operacionais na fábrica. Segundo a gestora, a respeito da infraestrutura da unidade, o número de banheiros femininos vem sendo ampliado nas áreas produtivas e acrescentou que, quando a unidade foi adquirida, não havia banheiros femininos na fábrica. A planta localiza-se a 35 quilômetros da capital pernambucana, Recife, e às margens do Canal de Santa Cruz, importante área de manguezal do estado 29 – é a maior 23 Perfil extrudado: trata-se do resultado do processo de transformação denominado extrusão, pelo qual tarugos (cilindros) de alumínio são transformados em perfis sólidos, tubulares ou semitubulares. O processo realiza-se na prensa de extrusão: sob alta temperatura e pressão, o tarugo passa por um molde de aço para ganhar a forma desejada. Fonte: ALPEX. Disponível em: http://www.alpex.com.br/alpex-produtos-extrudados. Acesso em: 18/4/2013. 24 Laminado: os produtos laminados abrangem planos de alumínio e suas ligas (compreendendo chapas grossas ou folhas estreitas) que, em formato de seções transversais e retangulares, são submetidos a um processo de transformação mecânica (redução) por compressão do metal, por meio da passagem entre dois cilindros de aço ou ferro fundido com eixos paralelos que giram em torno de si mesmos. Fonte: Associação Brasileira do Alumínio (ABAL). Disponível em: <http://www.abal.org.br/aluminio/processos_laminacao.asp>. Acesso em: 18/4/2013. 25 Fonte: Entrevista com a gestora de RH da Alcoa Luciana Traeger, na unidade de Itapissuma, em Pernambuco, em 16 de maio de 2013. Participou Perila Moreira, consultora de RH da Alcoa. 26 Fonte: Entrevista com a gestora de RH da Alcoa Luciana Traeger, na unidade de Itapissuma, em Pernambuco, em 16 de maio de 2013. Participou Perila Moreira, consultora de RH da Alcoa. 27 Fonte: Entrevista com o gestor de RH da Alcoa Hermano Breckenfeld, na unidade de Utinga, em Santo André, em 13 de maio de 2013. 28 Fonte: Entrevista com a gestora de RH da Alcoa Luciana Traeger, na unidade de Itapissuma, em Pernambuco, em 16 de maio de 2013. Participou Perila Moreira, consultora de RH da Alcoa. 29 Fonte: Alcoa 2013. Disponível em: <http://www.alcoa.com/brasil/pt/info_page/Itapissuma.asp>. Acesso em: 18/4/2013. 27 área de conservação administrada pela Alcoa, com 69 hectares (ha), abrigando ampla biodiversidade 30. Tabela 2: Alcoa Alumínio S.A. em Itapissuma (PE): produtos, destinação e capacidade de produção - 2012/2013 Capacidade de Produtos Destinação Produção (em toneladas) Perfis extrudados (prensados) Laminados (chapas e folhas) Setores de transporte, máquinas e equipamentos, elétrico, bens de consumo e construção civil. Setores de farmacêutico, alimentício, da construção civil, automobilístico, naval, têxtil, eletrodoméstico, de embalagens e bicicletas. 21.600 45.000 Fontes: Alcoa (2013); PE Desenvolvimento (2012). Em março de 2011 a Alcoa anunciou investimento de R$ 23 milhões na fábrica instalada em Itapissuma. O aporte destinou-se à ampliação da produção de perfis anodizados, chapas e folhas de alumínio. A filial acrescentou que já realizou investimentos de R$ 118 milhões nas operações industriais em Pernambuco no decorrer dos últimos cinco anos. O investimento, segundo José Carlos Cattel, diretor da Divisão de Extrudados da Alcoa, justificou-se pelo contexto de crescente demanda interna e estabilidade econômica à época – aquecimento na construção civil e das indústrias automobilísticas e de embalagens no Brasil. A expectativa no anúncio era de que os recursos permitissem ampliar em cerca de 42% a fabricação de perfis anodizados (produto empregado na construção civil), com a expectativa de que a produção se elevasse de 700 para 1.000 toneladas mensais. No que concerne à produção de chapas e folhas de alumínio (utilizadas pela indústria de embalagens), a expectativa era de expansão de 8%. 31 Em outubro de 2012 a empresa comunicou outro investimento na unidade, de US$ 4 milhões, a serem empregados na modernização dos processos e dos fornos e na automação das prensas da indústria. Num cenário de crise econômico-financeira mundial, repercutindo em redução da demanda e derrubada dos preços, bem como na ampliação dos estoques, a expectativa era de que o aporte favorecesse a competitividade da empresa. A 30 Fonte: Alcoa. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 21. Fonte: Valor Econômico. “Alcoa investe R$ 23 milhões na fábrica de Pernambuco” (27/5/2011). Disponível em: <http://www.valor.com.br/search/apachesolr_search/alcoa%20pernambuco?solrsort=created%20desc&filters=type%3Avalor_international_conteudo>. Acesso em: 18/4/2013. 31 28 construção civil e a construção pesada alavancam o Produto Interno Bruto (PIB) em Pernambuco, possibilitando a manutenção dos patamares de vendas da Alcoa no estado, a despeito da retração da demanda de mercados em geral. 32 Alcoa Alumínio S.A. no Brasil: desempenho financeiro Em 2012 a Alcoa Alumínio S.A. no Brasil apresentou patrimônio líquido consolidado de R$ 5,5 bilhões, obtendo receita líquida consolidada de R$ 2,6 bilhões, equivalente à elevação de 10,6% em relação a 2011. O EBITDA 33 foi de R$ 265 milhões, superando em 311% o registrado em 2011. As receitas operacionais foram de R$ 3,2 bilhões, com custo operacional de R$ 1,7 bilhão (acompanhe na tabela 3). De acordo com a Alcoa, os resultados observados foram decorrentes do aumento do volume de vendas em 2012. 34 Tabela 3: Alcoa Alumínio S.A. no Brasil: distribuição do valor adicionado (em milhares de Reais) Receitas das operações 2011 2012 2.890.772 3.179.398 Custo operacional 1.813.614 1.721.940 Funcionários 247.953 276.421 Governo 525.963 541.900 Remuneração de capital de terceiros 438.283 284.576 (124.038) (52.008) Valor adicionado gerado a distribuir total 1.113.396 994.154 Lucros/prejuízos retidos Fonte: Balanço Anual Alcoa (2012), p. 1. Representação Sindical em Pernambuco: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos do Estado de Pernambuco (SINDMETAL-PE), filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT). 32 Fonte: PE Desenvolvimento. “Alcoa investe US$ 4 mi na fábrica de Itapissuma” (10/10/2012). Disponível em: <http://pedesenvolvimento.com/2012/10/10/alcoa-investe-us-4-mi-na-fabrica-de-itapissuma/>. Acesso em: 18/4/2013. 33 EBITDA: Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). 34 Fonte: Balanço Anual Alcoa 2012, p. 1. 29 Tabela 4: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos do Estado de Pernambuco (SINDMETAL-PE) – dados gerais Números aproximados Número de trabalhadores(as) na base do sindicato Número de trabalhadores(as) na empresa Total de sindicalizados(as) na base Número de trabalhadores(as) sindicalizados(as) da empresa 34 mil a 40 mil 1 mil 5 mil 100 a 150 Fonte: Dirigentes sindicais (oficina realizada em 16/5/2013). 2.1. Condições de trabalho na Alcoa em Itapissuma, Pernambuco, conforme parâmetros do Trabalho Decente (OIT) 2.1.1. Oportunidades de Emprego A Convenção Coletiva de Trabalho 2012/2013 (CCT 2012/2013) 35, assinada pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco, ao qual a Alcoa Alumínio S.A. é associada, e o Sindicato de Trabalhadores da categoria (Sind. Trab. Ind. Met. Mec. M. El. Rec. Ol. Pa. Ig. Sl. Mata. Jab. Cab.), estabelece diretrizes de um Programa de Formação Profissional. Este programa prevê que, com a finalidade de incentivar o primeiro emprego, a empresa poderá contratar trabalhadores ingressantes no mercado de trabalho, com piso inicial (conferir na tabela 5 a seguir), num prazo máximo de 90 dias, correspondente a 80% do piso da categoria da empresa – referente ao não qualificado ou ao qualificado. Essas contratações, em regime especial, não poderão incluir casos de substituição da mão de obra – para as funções de trabalhadores demitidos a menos de 30 dias – e o número de funcionários sujeitos a este regime não poderá exceder a 10% do efetivo da empresa 36. Em oficina com trabalhadoras e trabalhadores da unidade de Itapissuma 37, houve relatos que apontaram a presença de terceirizados em praticamente todas as áreas operacionais representadas na entrevista: manutenção mecânica, elétrica, refusão, extrusão, 35 A CCT 20012/2013 da categoria analisada possui vigência no período de 1º de setembro de 2012 a 30 de setembro de 2013 – a data-base da categoria ocorre em 1º de setembro. 36 Fonte: CCT 2012/2013, pp. 5-6. 37 A oficina (entrevista realizada em grupo focal) com trabalhadores ocorreu no dia 16 de maio de 2013, na fábrica de Itapissuma, e contou com a presença de 7 pessoas – 2 trabalhadoras e 5trabalhadores – representantes das áreas operacionais de manutenção mecânica, elétrica, qualidade, refusão, extrusão, mecânica e embalagem. Os trabalhadores, de maneira geral, foram muito concisos em suas narrativas e demonstraram certo receio com a entrevista, sobretudo no início, inclusive não autorizando a gravação. Procuramos contornar a situação comentando brevemente sobre a tradição do IOS na condução de pesquisas de campo e, especialmente, em entrevistas com trabalhadores e sindicalistas, em parcerias com diversas instituições ligadas ao movimento sindical nacional e internacional, e fornecendo cartões de visita institucionais. 30 mecânica e embalagem, à exceção, portanto, do setor de qualidade, no qual não há atuação de trabalhadores terceirizados. Os entrevistados observaram que há diferenças, entre trabalhadores diretos e terceirizados, com relação ao tratamento oferecido por chefias e os trabalhadores terceirizados sentem-se incomodados em virtude desta discriminação. Um dos trabalhadores entrevistados, atualmente funcionário direto da Alcoa, mencionou ter iniciado suas atividades na empresa como terceirizado e acrescentou que, assim como acontecia com ele, de maneira geral, os terceirizados desempenham os piores serviços, como as atividades mais pesadas, auferindo, no entanto, salários inferiores. Citou o trabalho em altura, na ponte rolante, como exemplo – desde julho de 2012 a unidade possui uma equipe própria para a execução desta atividade. Na oficina sindical, ocorrida em 16 de maio de 2013, foram entrevistados o presidente do SINDMETAL-PE, Alberto Alves, o Betão, que também é vice-presidente da CUT estadual, e uma ex-funcionária da unidade de Itapissuma, que trabalhou durante 5 anos na Alcoa onde também foi dirigente sindical, tendo saído da empresa em 2011, por motivos pessoais, segundo ela, porém se sentindo perseguida por sua militância. A ex-funcionária atuava como operadora de empilhadeira, embora em sua carteira de trabalho constasse “operador multifunção”, e mencionou ter protagonizado diversas discussões porque, conforme relatou, havia chefias que tratavam “funcionários como máquinas”. De acordo com a ex-dirigente sindical há muitos trabalhadores terceirizados desempenhando suas atividades inclusive em setores produtivos da empresa, atuando como embaladores e operadores de empilhadeira, e um dos regimes convencionais de contratação da unidade envolve o ingresso a partir de empresa terceirizada, com trabalhadores permanecendo por até um ano como terceirizados, para posteriormente serem contratados diretamente pela Alcoa. Foram apontadas algumas diferenças entre diretos e terceirizados, quanto ao tratamento e envolvimento em atividades que visam à promoção do entrosamento e socialização entre trabalhadores, além do engajamento na corporação – por exemplo, em eventos, como festas de fim de ano, para os quais os terceirizados não são convidados a participar. A respeito da contratação de mão de obra terceirizada, a CCT 2012/2013 estabelece que as empresas somente poderão efetuar a terceirização de serviços na hipótese prevista na legislação (Enunciado Nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho), comprometendo-se no empenho de que as empresas terceiras cumpram a legislação trabalhista, inserindo este preceito nos contratos de prestação de serviços. Além da terceirização, outra forma de contratação utilizada pela empresa é o emprego temporário, por 31 três meses, com a possibilidade de renovação por mais três meses, geralmente em situações de pico de produção – no momento da realização da pesquisa de campo, há um contingente expressivo de trabalhadores temporários nas áreas operacionais centrais, refusão e extrusão. 2.1.2. Trabalho Inaceitável De acordo com entrevistados, há menores de idade trabalhando na unidade de Itapissuma, contratados como menores aprendizes, em estágios pela escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Os estagiários não desempenham atividades perigosas ou insalubres e, nos setores de manutenção e programação, atuam apenas para suporte e sempre acompanhados por um técnico responsável. Quanto a esse tema, a Alcoa esclareceu que os aprendizes têm idade entre 18 e 24 anos e fazem parte do Programa Jovem Aprendiz do MTE: “A empresa está em conformidade com o número de aprendizes como prevê a cota estabelecida. Na ocasião da visita [entrevista], os aprendizes não eram do SENAI, mas sim do Colégio Dom Bosco” 38. 2.1.3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo A CCT 2012/2013 previu reajuste salarial de 8%, a partir de 1º de setembro de 2012 – com relação aos pisos salariais estabelecidos para a categoria abrangida, vide tabela 5. Tabela 5: Pisos salariais estabelecidos pela CCT 2012/2013 para trabalhadores das empresas metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico em Pernambuco (Em Reais) Profissional empregado em: Funções não qualificadas (Ajudante) Funções qualificadas (Profissional*) Porte da empresa Até 70 funcionários Mais de 70 funcionários 716,97 739,20 1.009,07 1.137,96 *Por profissional qualificado compreende-se aquele que exerce função para o qual foi capacitado em curso regular oferecido pelo SENAI, nas escolas profissionalizantes, ou tenha sido classificado como tal na Carteira Profissional pela Empresa Empregadora (CCT/2012/2013, p. 2). Fonte: Convenção Coletiva de Trabalho 2012/2013, pp. 1-3. 38 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 32 Quanto aos salários mensais recebidos, dentre os trabalhadores entrevistados, as 2 trabalhadoras afirmam que recebem valores compreendidos na faixa de 1,01 a 2 salários mínimos nacionais (R$ 678,00 a R$ 1.356,00) vigentes em 2013; 4 trabalhadores auferem entre 2,01 e 3 salários mínimos nacionais (R$ 1.356,01 a R$ 2.034,00) e apenas 1 trabalhador recebe remuneração na faixa de 3,01 a 5 salários mínimos nacionais (R$ 2.034,01 a R$ 3.390,00) – a esse respeito, a direção da Alcoa detalha que a menor remuneração da unidade é de R$ 783,20 39. Além dos salários, os funcionários diretos são contemplados com o pacote de benefícios oferecidos pela Alcoa: Quadro: Benefícios oferecidos a trabalhadoras e trabalhadores da Alcoa (2012/2013): Transporte – coparticipação Auxílio farmácia – alguns medicamentos, em farmácias cadastradas Assistência Médica – coparticipação Plano de previdência Refeição Assistência Odontológica – coparticipação (percentual descontado do salário, limite 10%) Seguro de vida Kit escolar Orientação jurídica, social, psicológica e financeira – acesso voluntário (Programa Conte Comigo) Cesta de Natal Programa Viva Vida (Trabalho, saúde, meio ambiente e segurança, cultura, esporte, lazer) Fonte: Manual de Benefícios da Alcoa. O Programa de Participação nos Resultados (PPR) oferecido pela Alcoa é negociado por comissão cujos membros são representantes de todas as áreas – operacionais/fabris, administrativa (controladoria, RH, aquisição e logística) e de apoio (manutenção e engenharia), sendo um representante de cada área – da unidade, eleitos pelos trabalhadores após campanha interna. O montante é anual, dividido em valores pagos semestralmente, de no mínimo 1 salário ao máximo potencial de 2,5 salários mensais, composto por metas atreladas a patamares de produção – indicadores de produtividade, como volume e qualidade, negócios (financeiros ou não), absenteísmo, qualidade, entre outros – e segurança, que podem ser atingidas ou não. A área de laminados possui um quadro de indicadores, enquanto a área de extrudados possui um quadro de indicadores para cada área produtiva e de apoio – “Todos os indicadores e metas foram negociados com uma comissão 39 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 33 de empregados” 40. Para lideranças empresariais existe um programa corporativo de PPR, com componentes individuais de cálculo e valores atrelados aos salários. A gestora de RH qualificou as metas como “desafiadoras” e, na percepção dos trabalhadores, são pressionados a trabalharem “no limite” para alcançá-las. Particularmente no último ano, a área de laminados atingiu cerca de 95% da meta estabelecida (após rebaixamento do indicador considerando os resultados históricos recentes efetivamente apresentados), enquanto na área de extrudados, subdividida em setores, a manutenção atendeu a 23% da meta estipulada. A direção da empresa completou afirmando que as metas são desafiadoras, porém, “factíveis” e que: “Não houve rebaixamento de indicadores para chegar a 95% de resultado. As metas para o PPR 2012 de Laminados foram estabelecidas conforme plano operacional e no segundo semestre o resultado foi de 95,47% de ‘atingimento’. O comentário sobre a avaliação dos resultados históricos refere-se ao processo de estabelecimento de metas do PPR Laminados” 41. O sindicato não participa das negociações em reuniões de discussão dos procedimentos, também porque não está bem inserido na organização de base, contudo defende que o montante a ser pago deveria ser dividido em valores iguais entre todos os trabalhadores, a serem recebidos independentemente da faixa salarial ou do escalão funcional. Sobre o Plano de Cargos e Salários, a Alcoa aplica uma mesma metodologia em todas as unidades no Brasil. Segundo a gestora de RH da empresa, na área de extrudados está em exercício a carreira horista pautada em habilidades e as promoções são obtidas a partir de certificações e tempo de experiência na função; em se tratando da área de laminados, contudo, ainda estão sendo estabelecidas as matrizes de habilidade para a implementação da carreira horista. Já os trabalhadores destacaram que o Plano de Cargos e Salários existe apenas em teoria. Na prática, são escassas as oportunidades de promoção: a ascensão para os horistas requer pontuações elevadas em inúmeras provas e o cumprimento de determinadas metas. Já a ex-dirigente sindical enfatizou a complexidade do programa oferecido e observou que os percursos profissionais dependem basicamente de relacionamentos interpessoais e da contingência relacionada à possibilidade de se dar bem, ou não, com as chefias. Esta seria, em sua opinião, a maior insatisfação dentre a mão de obra empregada na unidade de Itapissuma. As avaliações de desempenho, ainda de acordo com os trabalhadores, repercutem de maneira muito limitada sobre o aumento salarial e as oportunidades de 40 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 41 Idem. 34 promoção – as notas influenciam sobre o percentual de reembolso das mensalidades em cursos de graduação, no máximo de 90% do valor pago, para o trabalhador que obtém nota máxima na avaliação de desempenho. Um dos entrevistados afirmou já ter obtido nota máxima (5) num desses processos, porém até o momento não foi contemplado com aumento salarial. Sobre cursos de qualificação oferecidos em Itapissuma, os trabalhadores comentaram que recebem comunicações de gestores, informando a disponibilidade de cursos em áreas de interesse e necessidade da empresa. Os homens trabalhadores afirmaram já terem realizado alguns cursos, pelo conhecimento e possibilidade de aprimoramento no exercício do trabalho, sendo que um deles foi promovido no emprego em decorrência da qualificação. As mulheres trabalhadoras, no entanto, afirmaram que nunca realizaram qualquer curso de qualificação oferecido pela Alcoa porque não foram informadas. Quanto a isso, a direção da empresa alegou que: “O calendário de cursos é divulgado mensalmente no mural principal da fábrica” 42. 2.1.4. Jornada Decente As empresas cujos contratos de trabalho são regidos pela CCT 2012/2013 comprometem-se a remunerar as horas noturnas (entre as 22 horas e as 5 horas) prestadas por seus funcionários com acréscimo de 40% sobre o valor da hora diurna 43. E, em se tratando das horas extras, o documento prevê: Tabela 6: Prorrogação da jornada de trabalho: pagamento de horas extras para trabalhadores das empresas metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico em Pernambuco (CCT 2012/2013) Dias úteis Dias de repouso obrigatório, feriados civis e religiosos Dias de folga resultantes de compensação 60% 100% Horas trabalhadas + acréscimo de 60% (limite de 16 horas por mês). Demais: acréscimo de 100%. Fonte: CCT 2012/2013, pp. 17-18. Os trabalhadores entrevistados comentaram que as horas extras são desempenhadas a depender das necessidades de produção das áreas. São remuneradas, isto é, 42 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 43 Fonte: CCT 2012/2013, p. 17. 35 não existe banco de horas. Sobre a possibilidade de recusa ao desempenho, ressaltaram que não pode haver indisponibilidade frequentemente, mas se houver algum problema pontual que impeça a realização da hora extra, podem negociar com a chefia imediata. A gestora de RH entrevistada salientou que as gerências de área são orientadas a não requisitarem horas extras em dias de folga e os supervisores têm de explicar, caso haja, a necessidade da realização de hora extra nesses dias. A ex-dirigente, por sua vez, acentuou que os trabalhadores, de modo geral, sentem-se “praticamente obrigados” a desempenhar as horas extras quando convocados, com receio de serem enquadrados pela recusa e serem prejudicados nas avaliações periódicas, embora também haja aqueles que aceitam e desempenham porque simplesmente querem e ficam satisfeitos pela possibilidade de incrementar seus salários. A fábrica opera a partir de três sistemas de turnos: • 6X2: 6 dias trabalhados e 2 dias consecutivos de folga. Sistema de revezamento de horários – 2 dias das 6h às 14h, 2 dias das 14h às 22h e 2 dias das 22h às 6h, sendo 7 horas diárias de trabalho e uma hora de almoço e descanso –, com operação ininterrupta. São 4 turmas de trabalhadores, com uma destas sempre de folga. Está em execução nos setores de manutenção e plantão; • 6X1: 6 dias trabalhados e folgas aos domingos. Também são 7 horas diárias trabalhadas e uma hora de almoço, abrangendo 3 turmas de trabalhadores operacionais. Empregado na área de extrudados; • Horário administrativo. Aos trabalhadores em jornada noturna, a Alcoa disponibiliza, além do transporte (ônibus da empresa) oferecido ao conjunto de funcionários, departamento médico aberto 24 horas por dia, com a presença de um(a) enfermeiro(a). 2.1.5. Estabilidade e Garantia do Trabalho Questionados acerca da expectativa de estarem empregados na Alcoa daqui a um ano, trabalhadores entrevistados salientaram não estarem seguros, por condições enfrentadas no mercado pela empresa. Acrescentaram que por vezes colegas são demitidos com a alegação de baixa performance. As oscilações nos patamares de vendas já resultaram em férias coletivas: na área de laminados, há um ano e meio, e na área de extrudados, há cerca de três anos. A unidade de Itapissuma, conforme declararam os entrevistados, passou por reorganização nos processos de gestão, com a substituição de gestores. Houve melhorias em 36 decorrência das mudanças, pois as lideranças anteriores não interagiam de maneira eficiente com os operadores – “atualmente a comunicação é mais ampla”. Comentaram que a área de laminados passará por expansão, com a aquisição de maquinário novo (separadeira e ponte rolante, por exemplo) e possivelmente haverá contratação de pessoal. 2.1.6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar Trabalhadoras e trabalhadores afirmaram que podem acompanhar filhos e cônjuges durante a realização de consultas e exames médicos. Quanto à participação em atividades escolares de filhos, a liberação é condicionada a maior ou menor envolvimento pessoal com supervisores. 2.1.7. Tratamento Digno no Emprego Instigados a abordar casos de discriminação, os entrevistados citaram a participação sindical e o fato de “ser mulher” como motivos a partir dos quais foram desencadeadas situações discriminatórias. Relataram que, há alguns anos, um colega dirigente sindical, trabalhando na manutenção, recebia tratamento desigual na empresa, não sendo contemplado com aumento salarial a despeito de seus méritos – este trabalhador acabou sendo demitido, juntamente a outros funcionários, cerca de 35 no total, em virtude da circulação, na lista de endereços institucional, de um e-mail com conteúdo pornográfico. Uma das trabalhadoras, única mulher de determinada área operacional à época do fato narrado, comentou já ter sofrido discriminação de gênero: um colega de trabalho, também operador, disse que ela estava “com moleza” quando ela precisava erguer um perfil. A trabalhadora então comunicou ao gestor, que o advertiu verbalmente, e ele teve de desculpar-se. O preconceito contra mulheres também foi mencionado pela ex-dirigente sindical entrevistada, que destacou que o imaginário na categoria, desde lideranças da empresa a colegas no chão de fábrica, ainda é composto por percepções segundo as quais “por ser mulher, [a trabalhadora] não sabe fazer [determinadas atividades], principalmente em funções como [direção e operação de] empilhadeiras”. Ela também já ouviu frases, tais como: “Não sabe que mulher não aguenta peso? Por que vem? Vocês não dizem que sabem tudo?”. A respeito de casos de assédio moral, os entrevistados afirmaram que já ocorreram e a empresa afastou os acusados após investigação de denúncia anônima no serviço 0800 (Linha Direta de Conduta Ética) oferecido pela empresa. A ex-dirigente citou o caso de 37 uma chefia, já demitida, que riu de um funcionário quando este solicitou aumento salarial e afirmou: “Eu tenho culpa que você tem esses filhos todos?”. Em se tratando de assédio sexual, comentaram um caso acontecido há aproximadamente 4 anos, quando um técnico de mecânica teria assediado (“cantado”) uma estagiária que também denunciou à empresa pelo canal corporativo e o rapaz acabou sendo demitido. 2.1.8. Trabalho Seguro O ritmo de trabalho exigido em alguns setores, de acordo com trabalhadoras e trabalhadores entrevistados, pode ser prejudicial à saúde. Situações de acidentes de trabalho foram mencionadas, como o caso de um funcionário que trabalhava na serra e teve o dedo preso na esteira, sofrendo um corte profundo. Outro caso, ocorrido na área de refusão, setor de laminados, resultou no decepamento de três dedos de um trabalhador, que está recuperado e retornou à empresa. Outro trabalhador foi atingido por uma empilhadeira e permaneceu em afastamento por 2 anos – a empilhadeira estava sendo operada por uma trabalhadora novata que pouco depois pediu demissão. De acordo com a ex-dirigente os próprios trabalhadores por vezes ocultam acidentes de trabalho com receio de serem demitidos. As doenças ocupacionais mais frequentes dentre trabalhadores da unidade de Itapissuma são: doenças de coluna, LER/DORT (Lesão por Esforços Repetitivos/Doenças Ortomoleculares Relacionadas ao Trabalho) e estresse; a ex-dirigente também incluiu doenças respiratórias nessa relação. O superintendente de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Sustentabilidade (SSMA) em Itapissuma, Gustavo Silva, afirmou que são realizados exames toxicológicos para a devida proteção respiratória: quem manipula determinadas substâncias que podem trazer riscos ao trato respiratório (como a sílica) é submetido à espirometria e outros exames mais aprofundados para verificar se são aptas ou não ao cargo, previamente à designação para atuarem nessas funções. Esse grupo é monitorado anualmente pela empresa para acompanhar a exposição; em paralelo, segundo o representante da corporação, ocorrem medidas de engenharia para eliminar ou reduzir ao máximo a exposição. Ainda em se tratando da saúde dos trabalhadores, particularmente no setor de anodização, onde se faz o uso de alicates, já houve mudanças na ferramenta, que se tornaram mais flexíveis há cerca de 2 a 3 anos. A propósito de afastamentos, a ex-dirigente assinalou que é comum, quanto a trabalhadores com atestado médico, sua permanência em restrição, ou seja, realocação em outro setor na empresa, com chefias questionando trabalhadores e criando constrangimentos: “Você acha que precisa ficar afastado da empresa? Dá pra ficar em outro 38 setor?”. Ela lembrou que os índices de absenteísmo compõem o Programa de Participação nos Resultados (PPR), o que também cria atritos e pequenos conflitos entre os próprios trabalhadores que querem evitar reduções de valores. A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) é composta por 9 membros titulares e 7 suplentes, em igual número de eleitos por trabalhadores e indicados pela empresa; a gestão atua pelo prazo de um ano, encontrando-se em reuniões ordinárias mensais. O superintendente de SSMA da Alcoa em Itapissuma observou que a CIPA realiza atividades preventivas em inspeções de segurança, sobretudo quanto à operação de equipamentos móveis (como empilhadeiras ou ponte rolante), e outras orientadas para algum assunto ou “elemento crítico”, com campanhas, por exemplo, para chamar atenção ao cuidado de mãos e dedos. Segundo trabalhadores, no entanto, o organismo mostra-se presente ocasionalmente em eventos. Avaliam que o órgão poderia ser mais atuante em defesa dos funcionários. Os equipamentos de proteção individual (EPI) e os equipamentos de proteção coletiva (EPC) 44 foram, de maneira geral, avaliados positivamente quanto à eficiência, disponibilidade e regularidade do uso, pelos trabalhadores e dirigentes sindicais entrevistados – de acordo com a gerente de RH entrevistada, a unidade oferece botas específicas para as trabalhadoras, de material mais macio e leve, uma medida que poderia ser estendida aos trabalhadores por certamente se tratar de um equipamento de segurança mais confortável. A ex-dirigente, contudo, observou que às vezes ocorrem deslizes na implementação das medidas de segurança e completou citando uma situação ocorrida com ela, ao receber ordem de um supervisor para manusear, com a empilhadeira, um material à temperatura de 120°C – a temperatura limite em sua função, segundo apontou, seria 40°C. Ela foi reclamar ao chefe de segurança e o supervisor, por quem se sentia perseguida, foi advertido. Quanto aos impactos socioambientais gerados na unidade, Gustavo Silva pontuou que, na extrusão, existe uma etapa de anodização (processo eletrolítico), que dará coloração aos perfis (utilizados na fabricação de portas e janelas, por exemplo), com a exposição desses perfis a alguns produtos químicos, e pode haver impacto significativo caso haja derramamento, algum problema de transbordo ou mesmo durante o transporte do produto no caminhão. Destacou que a fábrica foi recertificada, na semana anterior, na norma ISO 14001, que define medidas a fim de estabelecer um padrão de Sistema de Gestão Ambiental (SGA) efetivo. Já na área de laminação, há o consumo de óleo de laminação, que é um 44 Um exemplo de EPC citado foram os exaustores, usado em setores onde são realizadas soldas elétricas, das quais resultam fumos metálicos como materiais particulados. 39 composto bastante fino, fluido, o que requer procedimentos regulados para evitar, por exemplo, derramamento e espalhamento por alguma canaleta. Trata-se de um óleo reutilizável: é encaminhado para uma estação onde passa por processo de destilação em circuito fechado, até cumprir sua vida útil, sofrendo também evaporação. O órgão público de defesa ambiental comparece com frequência, de 3 a 4 vezes por ano, à planta para inspecionar a fábrica. Gustavo Silva também informou que, na semana anterior à entrevista, a Alcoa Itapissuma doou 500 mudas (todas de árvores nativas da mata Atlântica) para a prefeitura de Abreu e Lima. Também foi promovido um plantio com 4.500 mudas doadas pela Alcoa, mais outras 500 mudas doadas pela fábrica vizinha, para o replantio da mata ciliar do rio Botafogo, em parceria entre Alcoa, usina São José e prefeitura de Igarassu (município da região metropolitana de Recife). 2.1.9. Proteção Social A Alcoa Itapissuma oferece licença-maternidade e licença-paternidade a trabalhadoras e trabalhadores, nos períodos previstos pela CLT, bem como garante o emprego após o retorno dessas licenças. As trabalhadoras, tampouco os trabalhadores, não souberam precisar se a licença-maternidade concedida prevê 120 ou 180 dias 45 de benefício – em Utinga o período estabelecido é de 180 dias. No entanto, conforme identificado em outras plantas pesquisadas nesta etapa e na etapa anterior, já mencionadas no primeiro relatório do IOS, a Alcoa não oferece, como benefício a trabalhadoras e trabalhadores que venham a se tornar mães ou pais, creche ou auxílio-creche (reembolso creche), em descumprimento à legislação trabalhista – o artigo 389 da CLT prevê que as empresas que empreguem pelo menos 30 mulheres com mais de 16 anos de idade são obrigadas a disponibilizar creche às trabalhadoras pelo período da amamentação, que vai do nascimento aos 6 meses do bebê. 2.1.10. Diálogo Social (Liberdade Sindical e Negociação Coletiva) A condução da pesquisa de campo pelo IOS em Itapissuma contribuiu, no âmbito do diálogo social, com as negociações coletivas na unidade, proporcionando as 45 A adesão à licença-maternidade de 6 meses garante à empresa cadastrada no programa o abatimento, no Imposto de Renda, dos valores dos dois salários pagos às trabalhadoras referentes aos dois meses de acréscimo do benefício. As empresas que aderem a esta licença recebem do governo federal, por meio de um programa, o título de “Empresa Cidadã”, sendo que os quatro primeiros meses de licença continuam sendo pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Fonte: Central Única dos Trabalhadores (CUT). 40 apresentações entre o presidente do SINDMETAL-PE, Alberto Alves, o Betão, e a consultora de RH da Alcoa, Perila Moreira, que até o momento não se conheciam. Quanto aos trabalhadores entrevistados, relacionaram ser informados a respeito das atividades e assuntos sindicais lendo panfletos e outros materiais de divulgação do sindicato, conversando com chefes e gerentes em períodos de negociação ou dissídios e por carros de som. Destacaram que não existem murais ou painéis onde sejam afixados materiais informativos do sindicato. Também não há qualquer tipo de comitê de organização de trabalhadores no local de trabalho. A gestora de RH, a este propósito, destacou que a Alcoa não possui, em geral, comitês de trabalhadores nos locais de trabalho e o trabalhador pode procurar pessoalmente o pessoal de RH para tratar de problemas ou encaminhar reclamações anônimas pelos canais corporativos “Eu queria saber” – recepcionado pelos gerentes de RH e de produção da unidade – ou “A palavra é sua” – direcionado diretamente ao presidente da Alcoa. Segundo um dos trabalhadores entrevistados, o sindicato nunca consegue paralisar as atividades da unidade de Itapissuma, ou organizar greves (nunca houve uma greve na unidade), porque o pessoal fica apreensivo: as chefias inclusive vão à portaria para acompanhar as movimentações, o que certamente pode intimidar interessados em constituir mobilizações. E, embora não haja punições a trabalhadores que compareçam a determinada atividade promovida pelo sindicato, quando há algum movimento organizado pelo coletivo existem chefias que se deslocam junto aos trabalhadores nos trajetos de ida e volta nos ônibus da empresa, numa tentativa de dificultar a aproximação de dirigentes sindicais. Por sua vez, a Alcoa informou que: “Os ônibus fretados da empresa são usados por funcionários e líderes para transporte ao trabalho durante todo o ano. A presença dos líderes no ônibus não muda em função de ações promovidas pelo sindicato e não visa dificultar a aproximação com dirigentes sindicais” 46. O sindicalista Betão confirmou que a base sindical dentro da Alcoa Itapissuma está desorganizada, visto que não existe, no presente momento, nenhum dirigente sindical que trabalhe na empresa – são cerca de 10% a 15% a proporção de sindicalizados dentre a força de trabalho da unidade 47 –, tendo o último dirigente no local de trabalho renunciado ao cargo e 46 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 47 A proporção de pessoas sindicalizadas na região Nordeste, dentre o total de ocupados em 2009, era de 19,3%, enquanto a média das regiões, para o Brasil, era de 17,7%. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE-PNAD). Elaboração: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). 41 pedido demissão da empresa no ano passado, alegando motivos pessoais. Betão enfatizou que a relação entre a empresa e a entidade sindical não é conflituosa, afirmando que desconhece as causas que teriam culminado nessa representatividade esvaziada. Entretanto, o dirigente ressaltou os elevados índices de pobreza da região, que rebaixariam perspectivas de melhores oportunidades de emprego assim como a disposição à combatividade dentre aqueles que estão atualmente empregados, sobretudo em empresas multinacionais como a Alcoa. Os representantes sindicais salientaram que os maiores impedimentos ao desempenho da atuação do sindicato, sobretudo quanto à participação de trabalhadores em atividades sindicais, são o medo da demissão, de serem desfavorecidos nas avaliações periódicas da empresa e de sofrerem retaliações em eventuais oportunidades de promoção ou de aumento salarial. Relataram que no início de 2013, em época de campanha salarial, não obtiveram êxito em negociar com a gerência da unidade a realização de assembleias com todos os trabalhadores. Como a empresa não permitiu que a assembleia fosse realizada, os sindicalistas recorreram ao bloqueio, com o uso de pneus, da rodovia que dá acesso à unidade, conseguindo dialogar apenas com alguns trabalhadores que decidiram sair dos ônibus. A direção da empresa, em contrapartida, afirmou que: “Não houve qualquer contato do sindicato solicitando realização de assembleia” 48. A gerente de RH assinalou que os dirigentes comparecem periodicamente à fábrica para tratar dos acordos de compensação de horas dos feriados do ano para o pessoal administrativo e assinar os termos relativos à PPR. A distribuição de informativos sindicais é realizada dentro dos ônibus da empresa, do lado de fora da fábrica, em cancelas da portaria e após permissão concedida pelo RH, sendo que os dirigentes devem descer do ônibus ainda do lado de fora da empresa. Os dirigentes sindicais afirmaram que não há nenhum tipo de desincentivo explícito a filiações ao sindicato, no entanto, a ação sindical é desestimulada porque a Alcoa “disputa ideologicamente com o sindicato quanto à compreensão do trabalhador”. 48 Fonte: ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro/2013. 42 Considerações finais Nossa análise pode apontar, a despeito das dificuldades de organização particulares do SINDMETAL-PE, conforme assumiu o próprio sindicalista em exercício entrevistado, a existência de práticas antissindicais nas unidades de Itapissuma e Utinga da Alcoa. Evidentemente trata-se de práticas implícitas, veladas, que não se caracterizam pelo confronto tácito e direto com os sindicatos, mas que certamente, sobretudo no que concerne à planta de Itapissuma, resultam na desmobilização de trabalhadores e conduzem à inviabilização da ação sindical. A realidade observada durante a pesquisa de campo em Itapissuma, quanto à representatividade sindical inexpressiva na planta, nos intrigou 49. No esforço de obter um controle mais efetivo da força de trabalho, a empresa busca a implementação de mecanismos para o envolvimento de trabalhadores e sua inserção “consensual” nos processos de administração participativa – e nos projetos de eliminação de desperdícios e de controle de qualidade, que integram o modelo Toyotista praticado, dentre outras empresa, também pela Alcoa 50. Esses mecanismos incluem discursos motivacionais exercidos por lideranças administrativas nos cotidianos fabris: estimulando trabalhadores a engajarem-se e agirem colaborativamente por interesses da administração da empresa. Com a finalidade de incentivar esse maior envolvimento de trabalhadores, são desenvolvidas práticas discursivas de exaltação à participação e ao entusiasmo, com a organização do ambiente de trabalho em equipes ou times cujas tarefas precisam estar identificadas aos objetivos da corporação (a Participação dos Lucros e Resultados constitui, nesse sentido, um dos mais eficazes mecanismos de incentivo à cooperação), equiparando, assim, os interesses da empresa ao interesse coletivo. Na unidade da Alcoa em Itapissuma, promove-se, para ilustrar, o envolvimento de trabalhadores horistas (operadores), na área de laminados, no projeto de “organização por times” – organização interna em times de 49 Dificultando inclusive a coleta mais ampla de depoimentos e uma análise mais minuciosa de diversos temas. Os 7 trabalhadores falaram pouco, não permitiram a gravação da entrevista, o que revela também desconfiança, mesmo tendo-nos identificado como uma instituição que realiza pesquisas e é vinculada ao movimento sindical. Já a oficina sindical foi realizada com apenas dois dirigentes: ela já não está mais na empresa desde 2011 e ele, que é originário de outra empresa da região (Musashi), assinalou os desafios de organizar a representação de trabalhadores no local de trabalho na Alcoa Itapissuma. 50 O modelo Toyota, ou Sistema Lean, adota um sistema de gestão que se fundamenta na busca por eliminar desperdícios, reduzir custos, proporcionar ganhos de produtividade, elevar a competitividade, o lucro e a satisfação dos clientes. O modelo toyotista/ohnista de produção, além das estratégias de eliminação dos desperdícios – originárias do Japão e apropriadas por empresas no Ocidente –, envolveu o controle de qualidade total e a administração participativa, com exploração das capacidades subjetivas dos trabalhadores, visando à disciplinarização da força de trabalho, portanto, a ruptura da resistência, a partir de estratégias ideológicas empregadas em discursos motivacionais de lideranças da empresa. Fonte: VIEIRA, Rodrigo Moreira. “Liderança e Motivação Profissional: Estratégia Política e Representatividade Trabalhista”. Revista Aurora. Ano V, número 8 – Agosto de 2011. Unesp Marília. 43 responsabilidade por qualidade, segurança e produção. São equipes ou times convocados a “vestir a camisa” da empresa, no entanto sem questionar hierarquias funcionais de poder tampouco acentuadas assimetrias salariais. A rigor, pode-se interpretar (numa hipótese explicativa que aqui propomos) esse cenário como a configuração de um mascaramento do conflito social – entre capital e trabalho: a liderança da empresa incorpora a responsabilidade de mediar e solucionar possíveis descontentamentos, que devem ser contidos no interior da empresa, apresentando-se como um aliado dos trabalhadores e como representante dos interesses destes, deslegitimando e enfraquecendo (e este é o principal aspecto que pretendemos salientar) a representação sindical: A intenção é desconstruir a legitimidade e a autoridade das ações sindicais [e do sindicato] enquanto representantes dos interesses dos trabalhadores e tentar sublinhá-la como retrógrada e ineficiente. (VIEIRA, 2011, p. 71) Para tanto, deve-se criar um ambiente de trabalho aparentemente democrático, bem como um tom conciliador pelos líderes motivacionais. A realização de pesquisas de clima, que na Alcoa ocorrem globalmente uma vez ao ano e devem contar com 100% de participação do quadro funcional, é um dos exemplos de aplicação desse ideário. Realizada em setembro de 2012 em Itapissuma, a pesquisa de clima possibilitou mensurar 10 dimensões: engajamento; eficácia do supervisor; credibilidade da liderança e visão; segurança; valores (dimensão incorporada em 2012); qualidade dos produtos; valorização dos funcionários; diversidade e inclusão; compromisso com a comunidade; acompanhamento da pesquisa (se teve acesso aos resultados das pesquisas anteriores). Na empresa também se destacam iniciativas de comunicação: o programa “Olhar de um alcoano” 51 colhe depoimentos “espontâneos” dos funcionários sobre práticas da empresa, com a divulgação dos resultados. A estratégia de envolvimento e estímulo à administração participativa também promove programas de incentivo a propostas de sugestão e melhorias no local de trabalho por trabalhadores, prevendo premiações. A empresa disponibiliza múltiplos canais de comunicação direta, como mesas redondas com diretores, reuniões por teleconferência com o presidente da Alcoa na América Latina e no Caribe, entre 51 Todos trabalhadores quando ingressam na Alcoa, os alcoanos, passam por uma fase de integração, durante uma semana, com a finalidade de conhecer a estrutura da empresa. Na área de atuação, recebe integração funcional e é informado acerca de todos os riscos aos quais estará exposto em sua área de trabalho (ruído, produtos químicos, choque com equipamento móvel, queda de mesmo nível, espaço confinado), procedimento readequado se eventualmente houver mudanças internas de função. 44 outros. O intuito é gerar proximidade entre lideranças da empresa com pessoal operacional e assim conquistar a confiança dos trabalhadores a fim de que busquem esses líderes para manifestar queixas e encontrar “consensualmente” resoluções. Essas medidas corporativas atuam no sentido de promover a substituição do papel desempenhado pelos sindicatos, inviabilizando a ação sindical e classista. O direito à representação sindical, além do mais, constitui um dos direitos fundamentais dos trabalhadores, conforme prevê a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em convenções tais como a 87 (Liberdade Sindical e Proteção ao Direito de Sindicalização), 98 (Direito de Sindicalização e de Negociação Coletiva, ratificada pelo Brasil em 1952) e 135 (Proteção de Representantes de Trabalhadores, ratificada pelo Brasil em 1990). A propósito, a Conferência Internacional do Trabalho, em 1998, aprovou a Declaração dos Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, estabelecendo quatro princípios relativos aos direitos fundamentais: 1. A liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; 2. a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; 3. a abolição efetiva do trabalho infantil e 4. a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação. (Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, 1998) A gestão participativa e o diálogo com trabalhadores podem efetivamente contribuir para aprimorar as relações de trabalho, contudo, desde que alicerçadas nos princípios da negociação coletiva e liberdade sindical. Ademais, a Constituição Federal Brasileira (CFB) estabelece que: “Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promoverlhes o entendimento direto com os empregadores” (Artigo 11 da CFB). Assim como as entidades patronais, os sindicatos de trabalhadores ou comitês de representação nos locais de trabalho (vinculados ou não às instituições sindicais) são as instâncias por excelência da organização de classe em nossa sociedade, assegurando a capacidade de negociação e a força política dos trabalhadores. A “responsabilidade social autêntica” 52, além de iniciativas de diálogo e participação, requer comprometimento social por parte das empresas, o que perpassa pelo incentivo concreto à organização coletiva dos trabalhadores. Sobretudo em se tratando de 52 Fonte: JAKOBSEN, Kjeld Aagaard. Responsabilidade Social das Empresas, Diálogo e Participação: a visão dos trabalhadores. Instituto Observatório Social. Março de 2002. 45 empresas que, tais como a Alcoa, divulgam em seus Relatórios de Sustentabilidade anuais o compromisso em “Garantir que os líderes tenham acesso às informações e à cadeia de ajuda para aprimorar a gestão e a prática trabalhista e sindical” (Alcoa. Estratégias das Relações de Trabalho. Relatório de Sustentabilidade 2011, p. 7. Grifos meus.). A definição do conceito de Responsabilidade Social Corporativa, com efeito, proposto pelo Instituto Ethos, estabelece, no item “Relação com os sindicatos”, que “a empresa socialmente responsável favorece a organização de seus [‘]empregados[’] e busca o alinhamento de seus interesses aos dos trabalhadores. Além de estabelecer negociações com as entidades sindicais visando a solução de demandas coletivas”. (Instituto Ethos, 2011, p. 15 apud JAKOBSEN, 2002, p. 4) Em consonância com o discurso da responsabilidade social promovido por empresas em todo o mundo, e também a Alcoa, o Instituto Ethos enumera uma série de indicadores de gestão corporativa para “Negócios Sustentáveis e Responsáveis” – que devem ser transformados em medidas práticas efetivas a fim de impactarem a sociedade, isto é, tornarem-se reais –, tendo como referência a Norma de Responsabilidade Social ABNT NBR ISO 26000, dos quais salientamos os estágios 2 e 3: “Iniciativas e práticas. Estágio 2: A empresa não somente permite a atuação dos sindicatos no local de trabalho como também fornece informações sobre as condições de trabalho e se reúne periodicamente com os sindicatos para ouvir sugestões e negociar reivindicações. Políticas, procedimentos e sistemas de gestão. Estágio 3: A empresa possui uma pessoa responsável pela relação com o sindicato e procedimentos para adequação às solicitações, além de manter canais de comunicação com sindicatos de forma sistemática.” (INSTITUTO ETHOS. Indicador 25: Relações com Sindicatos. Versão para consulta pública, 27/mai a 14/jun de 2013. Grifos meus.) 46 Referências Consultadas: ALCOA. Demonstrações Financeiras. Relatório Anual 2012. ALCOA. Relatório de Sustentabilidade 2011. ALCOA ALUMÍNIO S.A. Caderno de EHS para Expansão da Refinaria ALUMAR. 2007. ALCOA. “Contribuições da Alcoa ao relatório preliminar da segunda fase da ‘Pesquisa sobre as Condições Sociotrabalhistas da Alcoa no Brasil – unidades Alcoa Alumínio S.A., em Utinga, Santo André (São Paulo), e Itapissuma (Pernambuco).” São Paulo. Outubro de 2013. ALCOA ALUMÍNIO S.A. Demonstrações financeiras consolidadas e individuais em 31 de dezembro de 2011 e relatórios dos auditores independentes. São Luís, abril de 2012. INSTITUTO ETHOS. Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis. 3ª Geração. Versão para consulta pública. 27/mai a 14/jun de 2013. JAKOBSEN, Kjeld Aagaard. Responsabilidade Social das Empresas, Diálogo e Participação: a visão dos trabalhadores. Instituto Observatório Social. Março de 2002. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho. Genebra, 1998. SIND. TRAB. IND. MET. MEC. M. EL. REC. OL. PA. IG. SL. MATA. FAB. CAB.; SINDICATO DAS INDÚSTRIAS METALÚRGICAS, MECÂNICAS E DE MATERIAL ELÉTRICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Convenção Coletiva de Trabalho 2012/2013. VIEIRA, Rodrigo Moreira. “Liderança e Motivação Profissional: Estratégia Política e Representatividade Trabalhista”. Revista Aurora. Ano V, número 8 – Agosto de 2011. UNESP Marília.