IDIOMA 23 ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA VISÃO HISTÓRICA Nícia de Andrade Verdini Clare (UERJ) Na qualidade de professora de Língua Portuguesa, com quarenta anos em sala de aula, nos ensinos fundamental, médio e superior, propusemo-nos a refletir sobre a trajetória e a qualidade desse ensino, como já o fizemos tantas vezes ao prepararmos nossas aulas. O ensino no Brasil foi, inicialmente, tarefa dos jesuítas da Companhia de Jesus, com a finalidade da catequização indígena. Foram os jesuítas, entre eles Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, credores de uma ação mais educadora, de base catequética, do que conversora (Houaiss: 1992, 147). A ação jesuítica se definia pela compreensão de que era a língua geral o caminho a seguir. Tal língua, considerada franca ou de intercurso, tinha por base o tupi, mais especificamente a língua dos Tupinambás, entre numerosas línguas indígenas espalhadas em território brasileiro, mas apresentava, também, vestígios de um português estropiado. Durante três séculos, foram os jesuítas os educadores no Brasil, sendo que o maior destaque coube ao Padre José de Anchieta, que, a respeito do tupi, legou-nos uma gramática: Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil. A língua portuguesa transplantada para o Brasil, inicialmente, sofreu forte concorrência da língua geral falada informalmente em todo o litoral brasileiro. Mas o português era a língua da escola, o falar polido e disciplinado em gramática, enquanto a língua geral carecia de prestígio, pois era um linguajar sem tradição e aprendido de outiva. Usava-se o português na administração e todos os instrumentos jurídicos eram escritos na língua dos colonizadores. Os livros, de ficção ou científicos, também eram escritos em português, língua oficial. Assim, no século XVIII, pode-se mesmo dizer que houve um período de bilingüismo no Brasil e o idioma luso, já transplantado, começava a receber os primeiros adstratos em solo americano. A instituição da língua portuguesa só se torna definitiva com a vinda de famílias de imigrantes portugueses, mas, principalmente, com o Diretório dos Índios, implantado após a expulsão dos jesuítas, em 3 de maio de 1757, pelo governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, com o aval do Marquês de Pombal e aplicado, a princípio, no Pará e no Maranhão e, no ano seguinte, em todo o Brasil. O Marquês de Pombal, sentindo a língua portuguesa ainda ameaçada pela língua geral, uma mistura da língua indígena com o português, tornou obrigatório, por instrumento legal, o ensino de português no Brasil. – um fato já consumado, apenas sancionado então por ele. A finalidade era abolir essa língua geral e impor a chamada “língua do Príncipe”, ou seja, o português de Portugal. Segue abaixo uma versão do Édito de Pombal: Sempre foi máxima inalteravelmente praticada em todas as nações que praticaram novos domínios introduzir logo nos povos conquistados o seu próprio idioma, por ser indispensável, que este é um meio dos mais eficazes para desterrar dos povos rústicos a barbaridade dos seus antigos costumes e ter mostrado a experiência que, ao mesmo passo se introduz neles o uso da língua do Príncipe, que os conquistou, se lhes radica também o afeto, a veneração e a obediência ao mesmo Príncipe. Observando, pois, todas as nações polidas do Mundo este prudente e sólido sistema, nesta conquista se praticou pelo contrário, 7 IDIOMA 23 que só cuidavam os primeiros conquistadores estabelecer nela o uso da língua, que chamamos geral, invenção verdadeiramente abominável e diabólica, para que privados os índios de todos aqueles meios que os podiam civilizar, permanecessem na rústica e bárbara sujeição, em que até agora se conservam. Para desterrar este perniciosíssimo abuso será um dos primeiros cuidados dos Diretores estabelecer nas suas respectivas povoações o uso da língua portuguesa, não consentindo por modo algum que os meninos e meninas, que pertencerem às escolas, e todos aqueles índios, que forem capazes de instrução nesta matéria, usem da língua própria das suas nações ou da chamada geral, mas unicamente da Portuguesa, na forma que S.M. tem recomendado em repetidas ordens, que até agora não se observam, com total ruína espiritual e temporal do Estado. (Cunha: 1985, 80). Entretanto, não foi apenas um decreto que tornou possível o restabelecimento da língua portuguesa tida como padrão. Este se deve a fatores de unificação, como a língua escrita culta e, ainda, a língua falada pelas elites e o ensino preconizado nas escolas. Além disso, o português era a língua do comércio utilizada nos portos, nas cidades e vilas e até mesmo no seio da família, “mas ainda aí aparecia o tupi, falado pelos fâmulos, quase todos índios ou de descendência índia” (Sampaio: 1928, 51). Os falares gerais, porém, foram, pouco a pouco, empurrados para os sertões. Nas cidades litorâneas, só se falava a língua dos colonizadores, que representava fator de status. Nas principais cidades, falava-se um português mais culto, “de onde as conhecidas escolas pernambucana, baiana e mineira das nossas histórias literárias” (Elia: 1979, 189). Enquanto isso, nos engenhos de açúcar, formava-se uma língua coloquial, resultante do contato entre brancos trabalhadores e negros escravos traficados da África para o Brasil, diretamente para Salvador, a partir de 1550. Nas cidades imperava a língua portuguesa; na zona rural agrícola, dava-se o mesmo fato, porquanto os falares crioulos ou semicrioulos não passavam de formas portuguesas alteradas na boca de aloglotas (Elia: 1979, 193) Vêm de longe os problemas relativos ao ensino de língua materna no Brasil. Até meados do século XVIII, esse ensino era restrito à alfabetização. Poucos educandos tinham acesso à escolarização mais prolongada. Esses, privilegiados, estudavam a gramática da língua latina, a Retórica e a Poética. (Soares: 1998, 54). A educação escolarizada não jesuítica iniciou-se nos meados do século XVIII e se dirigia a uma ínfima parcela da população, que foi aumentando aos poucos até que, com a chegada ao Brasil do príncipe regente D. João, em 1808, fossem criados centros de transmissão do saber. O Rio de Janeiro, agora capital do Reino, a partir de 1815, foi sede da Escola Médico-Cirúrgica, do Liceu de Artes, da Biblioteca Real, além de outras criações. Paralelamente, a língua literária, que se desenvolvia, ganhou, no século XIX, com José de Alencar, uma modalidade própria, aproveitando-se da cor local. Chegou-se a cogitar da formação de uma língua brasileira, quando, na verdade, estávamos diante de um “estilo brasileiro” (Melo: 1981, 131) – ou variedade brasileira, numa concepção mais atual –, que iria desenvolver-se, até o século XX, quando se afirma com o movimento modernista. Verdadeiramente, o desenvolvimento cultural foi maior no segundo reinado, 8 IDIOMA 23 quando se instalaram no Brasil institutos históricos e geográficos que superaram as academias do século XVIII. Todavia, ainda o saber se concentrava na Metrópole, em especial em Coimbra, para onde eram enviados os jovens de famílias abastadas do Brasil, a fim de seguir cursos de Direito, Teologia, Medicina e Engenharia. Os estudos lingüísticos no Brasil eram, todavia, ainda empíricos; faltava-lhes um método científico, que só começou a surgir no primeiro quartel do século XIX. A gramática normativa continuava entregue a amadores. Só em fins do século XIX, com o país já independente, os ensinos de Gramática, Retórica e Poética cedem seu lugar à disciplina chamada “Língua Portuguesa” (Soares: 1998, 55), que se baseava no estudo da gramática da língua e leitura de antologias que privilegiavam autores portugueses (e alguns brasileiros que mais se destacavam pela imitação dos clássicos), passando todos a formar o paradigma do “bem escrever” que os alunos deviam imitar. Isso porque predominavam na Lingüística as teorias histórico-evolutivas, segundo as quais o presente lingüístico se explicava pelo passado e a fase atual do idioma representava uma corrupção da fase passada. Assim, prestigiavam-se escritores lusitanos dos séculos XVI e XVII. Foi, ainda, essa preocupação historicista que norteou a reforma do ensino de línguas, especialmente da materna, no programa elaborado por Fausto Barreto, em 1887, de onde se originaram as primeiras gramáticas escritas por brasileiros: as de João Ribeiro (Gramática portuguesa, 21a ed., 1921), Pacheco da Silva Jr. e Lameira de Andrade (Gramática da língua portuguesa, 1887), Maximino Maciel (Gramática descritiva, 1910), Alfredo Gomes (Gramática portuguesa, 2a ed., 1930) e Ernesto Carneiro Ribeiro (Serões gramaticais, 106a ed., 1957). No século XIX, o ensino de língua materna relacionava-se a uma tradição de teoria e análise com raízes na filosofia grega, em que a linguagem era considerada expressão do pensamento. Só no início do século XX, com as novas teorias lingüísticas, ouviram-se os primeiros ecos de uma mudança, mas, ainda assim, o ensino de Língua Portuguesa se mantinha voltado à tradição gramatical, buscando-se a homogeneidade padronizada e desprezando-se a heterogeneidade dialetal. Essa preocupação com a boa escrita pôde ser comprovada, posteriormente, no início do século XX, pela análise dos manuais utilizados na época: a Gramática expositiva, de Eduardo Carlos Pereira (em dois volumes: curso elementar e superior), a Antologia nacional, de Fausto Barreto e Carlos de Laet (publicada em 1907 e consumida em 43 edições até os anos 60, baseando-se a modalidade culta em autoridades clássicas e apresentando sobre cada escritor sucinta biografia histórica e literária), além de O idioma nacional, de Antenor Nascentes; a Gramática normativa da língua portuguesa, de Francisco da Silveira Bueno, e a Gramática metódica da língua portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida. A gramática de Pereira (106a ed., 1957), por exemplo, era expositiva e se dedicava ao programa oficial dos três primeiros anos ginasiais. Procurava, seguindo a então orientação da Comissão de Programa de Línguas, fugir do excesso de terminologia e evitar as subdivisões que representariam um prejuízo para a clareza. No exemplário, foram selecionados autores clássicos e modernos seguidores dos clássicos, entre estes dandose preferência a Alexandre Herculano e Antônio Feliciano de Castilho. Apresentava Pereira uma noção mais larga de língua, cujas regras não se formulam a priori, ao sabor dos gramáticos, mas pelo uso das pessoas cultas. Ainda se tratava de uma visão elitista, mas já ampliada em relação a conceitos anteriores em que a língua era delineada em gabinetes. Dessa forma, citava escritores modernos para o abono das 9 IDIOMA 23 regras estabelecidas. A prática se fazia por meio de textos antológicos, em que estruturas lingüísticas eram submetidas à análise lógica, “que, levada ao exagero e a um vazio de só se servir a si mesma, passou a ser, entre muitos professores, o centro de preocupação de suas aulas” (Bechara: 1986, 37). Assim, textos do século XVI, como Os Lusíadas, de Camões, se constituíam objetos de “terror” do alunado, que eram obrigados a analisá-los. Entretanto, João Ribeiro (1921, 240), nas notas finais de sua Gramática, já se mostrava infenso às doutrinas gerais da análise lógica: “Nas minhas lições de português feitas no Pedagogium do Rio de Janeiro, a análise lógica foi completamente eliminada por inútil e insignificante.” Nas primeiras décadas do século XX, a concepção de língua que orientava o ensino de língua materna era a de sistema único, o que significava a não aceitação das variedades. Ensinar português representava levar os alunos ao reconhecimento do sistema lingüístico, com a aprendizagem das regras prescritas pela gramática normativa. Era função da escola transmitir e fixar a variedade culta da língua, garantindo-lhe a continuidade, para, dessa forma, atender aos interesses dos grupos dominantes. O trabalho de ‘fixação’ de uma variedade da língua acaba por levar a um compromisso com uma visão estática da língua e a conseqüentes assunções de crenças que ligam a mudança lingüística a conceitos negativamente avaliados pela escola. (Santos: 1996, 18) As primeiras idéias lingüísticas chegaram até nós veiculadas por Said Ali em suas gramáticas. Autodidata, Said Ali mantinha-se sempre em contato com os estudos europeus, a ponto de, em 1919, incluir em sua obra Dificuldades da língua portuguesa capítulos voltados para as doutrinas saussurianas, quando o Curso de lingüística geral, obra póstuma de Saussure, fora publicado apenas três anos antes, em 1916. Partindo do conceito de diacronia de Saussure, Said Ali criou sua Lexiologia do português histórico (1921), transformada em Gramática histórica, na 2ª edição, para atender ao programa oficial vigente na época. A obra de Said Ali inova, pois não parte do latim para chegar ao português, mas, antes, trabalha do português arcaico ao moderno, apresentando duas sincronias “tão válidas quanto a anterior” (Bechara: 1986, 52) – referindo-se à sincronia latina. Todavia, a inovação do mestre não foi acolhida na época e seu trabalho só se tornou reconhecido após a década de 60, com os novos estudos lingüísticos já valorizados. Na década de 40, ainda não havia um consenso sobre o que ensinar e como ensinar. Cada professor estabelecia o seu planejamento, selecionando, à sua moda, o que considerava importante para o estabelecimento de um programa de ensino. Nessa década, com base na dicotomia langue-parole de Saussure, abriu-se para nós o campo da Estilística. Pôde, assim, o professor distinguir estilística de gramática. Mas, desde 1923, Sousa da Silveira, em sua obra Lições de português, embora ainda não se dedicasse ao estudo da Estilística, já se preocupava em conceituá-las separadamente e, do todo, já se depreendia uma colocação, acima de tudo, estilística, numa visão larga em relação à época em que realizou seus estudos. A linguagem brasileira corrente infringe este preceito [Não se inicia período por variação pronominal átona] a cada momento e é força reconhecer que, em muitos casos, comunicando à expressão encantadora suavidade e beleza (1983, 253) 10 IDIOMA 23 É importante reconhecer o pioneirismo de Sousa da Silveira, que, desde a 1ª edição de sua obra, opôs-se ao “dogmatismo da corrente purista”, como afirmou em seu prólogo, e defendeu a necessidade de se recorrer a autores contemporâneos brasileiros, sem que, por esse motivo, se desprezassem os clássicos portugueses. Assim, por exemplo, Machado de Assis é mais citado do que Camões. Também reconheceu a variabilidade lingüística, atribuindo certa importância tanto às variedades diastráticas quanto às diatópicas. A própria literatura nossa regional exprime-se numa língua que, apesar de tudo, não deixa de ser a portuguesa; e o falar dialetal da nossa gente inculta é, na essência, língua portuguesa. (1983, 292) Também de Sousa da Silveira temos os Trechos Seletos, antologia cercada de comentários e precedida de um estudo da língua portuguesa em seus vários aspectos. Distingue língua falada de língua escrita, brasileirismos de arcaísmos, gramática de estilística. Dessa forma, Sousa da Silveira apresenta uma didática até os dias atuais respeitada: o estudo do texto, pelo texto, para o texto. Gramática [aqui, referindo-se à morfossintaxe], Semântica e Estilística são estudadas simultaneamente, pela sua proposta. E os professores que ainda não descobriram que o texto é o grande instrumento de ensino da língua, que leiam atentamente, repetidamente, exaustivamente, as anotações de Sousa da Silveira aos Trechos seletos e terão encontrado o rumo definitivo da sua Didática. (Melo, apresentação de Trechos seletos: 1963, 3) Mas não é apenas nos planos pedagógico e didático que distinguimos as duas metades do século, no que tange ao ensino em geral. Um problema de cunho político-social distancia frontalmente os anos pós-50 dos anteriores. A realidade é que, desde o início do século até os anos 50, o ensino destinava-se a uma elite. As camadas populares não tinham acesso à escola, pois as vagas eram escassas. Ora, esses alunos de uma classe privilegiada já chegavam à escola com um domínio razoável do dialeto de prestígio, a norma padrão culta, e seus professores eram teórica e didaticamente preparados com excelência. À escola cabia o ensino da gramática normativa. Textos literários compunham antologias, através das quais se desenvolviam nos educandos as habilidades de leitura e escrita. Além disso, a leitura tinha início, nessa época, em casa, no seio da família. Liam-se os contos de Andersen e dos Irmãos Grimm; as fábulas de Esopo e La Fontaine; as histórias de Monteiro Lobato no Sítio do Picapau Amarelo; os livros da Condessa de Ségur e da Sra. Leandro Dupré, entre outros. A gramática histórica já tinha adquirido, nesse período, nova dimensão, graças ao ensino universitário de língua materna, iniciado em 1939. Tinha como digno representante o filólogo Ismael de Lima Coutinho, que, desde sua obra mais relevante – Gramática histórica (1938) – praticava com rigor o método histórico-comparativo. Por outro lado, a Estilística começava a ocupar um espaço no ensino, com a publicação, em 1952, do livro Contribuição para uma estilística da língua portuguesa, de Mattoso Câmara, que enveredava por um caminho até então pouco explorado por nós. No campo da Lingüística, Mattoso Câmara publica, em 1956, o Dicionário de fatos gramaticais, depois Dicionário de filologia e gramática, hoje Dicionário de lingüís11 IDIOMA 23 tica e gramática, obra de consulta, compreendendo vários verbetes, através dos quais termos gramaticais novos e seus respectivos conceitos nos são apresentados. Nos ensinos primário e secundário (correspondentes, respectivamente, aos atuais ensinos fundamental e médio), nos anos 50, trabalhava-se, ainda, com a antologia. Mas a questão do ensino ainda se mantinha problemática. As nomenclaturas eram muito variáveis e cada professor seguia a sua linha, até que, diante do caos reinante, o governo federal incumbe um grupo de gramáticos da tarefa de compilar termos técnicos, relacionados à Língua Portuguesa, que deveriam ser empregados uniformemente em todo o país. Esse glossário foi publicado, em 1959, sob forma de portaria, com o título de Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), a fim de padronizar as referências descritivas sobre a língua, numa tentativa de redirecionamento de estudos. Até os dias atuais, a NGB encontra-se em vigor, embora submetida a várias críticas e já necessitando de uma revisão. A NGB não resolveu o problema do ensino, já que este não se restringe à nomenclatura empregada pelos professores. O objeto do ensino de Língua Portuguesa é variável o bastante para que se possa considerar que uma única doutrina dê conta dessas variáveis. Além do mais, entende-se que cada professor tem o direito ético de privilegiar essa ou aquela doutrina, sem que, por isso, seja condenado. Dessa forma, na década seguinte, estudos e pesquisas denunciam o fracasso escolar, a crise do ensino, que se mantém apesar de todas as tentativas. O alvo da alfabetização em massa, perseguido desde a Constituição de 1946, continua inatingível. Nasce, então, como mais uma tentativa de aperfeiçoamento do ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sob o número 4024/61. Esta lei determina que “a educação é direito de todos e será dada no lar e na escola” (Art.2º). Entretanto, em parágrafo único, admite a insuficiência de escolas e a possibilidade de encerramento de matrícula em caso de falta de vagas. Ainda com intenção de minimizar os problemas, a Lei 4024/61 cria os Conselhos Estaduais de Educação. Estes se propõem a tentar melhorar a qualidade do ensino. Levar-se-ão em conta, a partir da Lei, a variedade dos cursos, a flexibilidade dos currículos e a articulação dos diferentes graus. (Art. 12). Assim, a organização do ensino passa a obedecer às peculiaridades de cada região e de seus grupos sociais. Nessa fase, destaca-se a conferência realizada por Celso Cunha no MEC, em dezembro de 1964, sobre o tema “O ensino da língua nacional”. Publicada nesse mesmo ano, pela Livraria São José, a conferência prima por uma abordagem corajosa: a defesa da unidade da língua, contrária a uma uniformização arbitrária, dissociada da realidade lingüística. A situação começa a se transformar ainda na década de 60, quando se firma o processo de democratização da escola – em verdade, uma conseqüência de um novo modelo econômico: o povo, em geral, conquista o direito à educação sistemática. Mas não se trata, apenas, de uma mudança educacional. Surgem novas condições sociopolíticas. Todo o país vive uma metamorfose. Com a ditadura militar, a partir de 1964, passa-se a buscar, no país, o desenvolvimento do capitalismo, mediante expansão industrial, e o fim das ideologias socialistas e comunistas. Na busca incessante desse objetivo, fechamse escolas e diretórios acadêmicos de universidades; perseguem-se professores e alunos acusados de comunistas e acaba a liberdade de imprensa. A proposta educacional, agora, passa a ser condizente com a expectativa de se atribuir à escola o papel de fornecer recursos humanos que permitam ao Governo realizar a pretendida expansão industrial. 12 IDIOMA 23 Com o povo conquistando o direito à educação sistemática, a clientela da escola pública começa a modificar-se fundamentalmente. As escolas primárias municipais não são mais freqüentadas pelos filhos das camadas mais privilegiadas da população. Aos poucos, o aspecto elitista da escola pública desaparece e sua clientela passa a ser constituída de camadas populares. Cria-se o critério de carência para o acesso às escolas públicas. Em conseqüência, o professor passa a ter uma nova preocupação em sala de aula: a heterogeneidade dialetal de seus alunos. Acostumados, até então, a uma camada de alunos distintos, a quem ministravam a norma padrão culta, agora os professores se sentiam despreparados para enfrentar esse problema. Mas não foram apenas os alunos que mudaram. Também os professores, nos primeiros sessenta anos do século, pertenciam a uma elite sócio-cultural. No Rio de Janeiro, formados pelas Escolas Normais – inicialmente o Instituto de Educação e a Escola Normal Carmela Dutra – eram a fina flor do Magistério Público. A nova lei acaba com o privilégio de o Município e o Estado formarem seus professores. O prestígio do Magistério começa a se desfazer com a nova política salarial. Os professores já não são os mesmos. As classes média e alta, que, antes, optavam pelo Magistério, por vocação ou interesse profissional, passam a interessar-se por outras profissões mais rendosas. Começa a evasão no Magistério e a mudança de perfil do professor. Nos anos 70, começa a mudar a clientela dos Cursos Normais. Antes, uma profissão que conferia status às moças de classe média e alta; agora, a ascensão social para os que pertencem à camada mais pobre da população. Em conseqüência dessa mudança, a qualidade do ensino se faz menos refinada, buscando-se uma adequação ao novo momento. E as classes média e alta começam a abandonar a escola pública e a procurar as instituições particulares, notadamente as de formação religiosa. As concepções de lingüística européia e norte-americana, que começaram a chegar ao Brasil principalmente na década de 40 foram, desde o início, mal interpretadas por professores da época, o que, como já se falou, resultou na comissão criadora da NGB (1957-1959). A partir de 1963, implantou-se a disciplina Lingüística no currículo mínimo dos Cursos de Letras. Segundo Uchôa (1991, 34), foi uma decisão precipitada que causou graves distorções, pois professores sem formação lingüística se tornaram responsáveis por seu ensino A mesma avaliação é feita por Kato: Em virtude da falta de formação específica da maioria dos professores de Lingüística da década de 1963-1973, muitas aberrações podem ter sido cometidas em nome dela. Assim, a ciência passa a ser questionada por culpa de uma legislação precipitada e dessa formação precária que levou muitos professores treinados nessa época, e também autores de livros didáticos, a proporem e utilizarem propostas pedagógicas em cima de conceitos e princípios mal compreendidos. (Kato: 1988, 52) Na mesma época, o governo militar, para fazer face à demanda, autoriza a instalação de faculdades particulares, sem planejamento ou fiscalização e, ao mesmo tempo, sem preocupar-se com a qualificação docente. Paralelamente, expande a rede de ensino público para receber a massa de analfabetos que iriam prestar serviço ao modelo industrial que estava sendo criado. A isso se considerou “democratização do ensino”. Os conteúdos curriculares, de valor imediatista, passam a ter características instrumentais. 13 IDIOMA 23 Nesse clima, é sancionada a Nova Lei de Diretrizes e Bases, a 5692/71, que estabelece a língua nacional como instrumento de comunicação e expressão da cultura brasileira. A partir de então, a disciplina Língua Portuguesa torna-se Comunicação e Expressão no que passou a ser considerado 1º segmento do 1º grau (1ª à 4ª série); Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa, no 2º segmento (5ª à 8ª série), só se configurando como Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no 2º grau. No ensino de 1º e 2º graus, dar-se-á especial relevo ao estudo da língua nacional, como instrumento de comunicação e como expressão da cultura brasileira. (Lei 5692/71, Art.1º, parágr. único) Diante da nova realidade lingüística dos alunos, os professores mantêm-se indecisos: nivelar por baixo ou reprovar em massa nas primeiras séries de cada curso. Não havia outras opções: ou se mantinha a qualidade do ensino e se tinha uma reprovação maciça nos anos iniciais ou se baixava o nível de ensino, permitindo a aprovação de alunos sem base. Nenhuma das hipóteses contentava aos professores e estes, no 2º grau, perguntavam-se como ensinar análise literária a um aluno que nem reconhecia um substantivo. O Brasil entra numa fase chamada de “milagre econômico”. O governo se concentra na área tecnológica e já não se importa com o humanismo. Em conseqüência, alterase a atribuição da escola. No final do curso de 2º grau, o cidadão deverá estar qualificado para o trabalho. O curso de 2º grau (atual ensino médio) passa, portanto, a ser profissionalizante, e as escolas, em geral, alteram seus currículos, forjando uma “qualificação profissional”, que, em verdade, jamais saiu do papel. A preparação para o trabalho, como elemento de formação integral do aluno, será obrigatória no ensino de 1º e 2º graus e constará dos planos curriculares dos estabelecimentos de ensino. (Lei 5692/71, Art.4º, parágr. 1º) Encarar a língua como instrumento de comunicação é uma concepção mecanicista, adequada aos fins pragmáticos do ensino. Trata-se de objetivo, no mínimo, abrangente e parcamente delimitado em termos curriculares. Não mais a língua é encarada como sistema único, o que a adequava a um ensino elitista. Para atender às camadas populares que, agora, assolam as escolas, urge um ensino utilitário com a língua voltada para a oralidade. Cada vez mais, o ensino torna-se menos normativo e, portanto, menos rigoroso, em relação aos padrões cultos da língua. Ensinar gramática passa a ser coisa ultrapassada. Em decorrência, esse ensino vem a configurar-se pela Teoria da Comunicação: o aluno deve ser capaz de “funcionar” como emissor e receptor de mensagens pela utilização de códigos verbais e não-verbais. Em outras palavras: de forma pragmática, a língua não é mais encarada como sistema único, o que propiciava um ensino elitista; agora, propunha-se o desenvolvimento das habilidades de expressão e compreensão de mensagens, um ensino compatível, portanto, com o uso da língua. Já não se trata mais de levar ao conhecimento do sistema lingüístico – ao saber a respeito da língua – mas ao desenvolvimento das habilidades da expressão e compreensão de mensagens – ao uso da língua. (Soares: 1998, 57) No ensino, essa alteração de objetivos se fez sentir no propósito de desvalorização 14 IDIOMA 23 da prática pedagógica de gramática normativa, através de regras. O professor que “ensinasse gramática” era considerado desprestigiado: “foi nesse período que surgiu a até então impensável polêmica sobre ensinar ou não ensinar gramática na escola fundamental.” (Soares: 1998, 58). A língua como sistema era relegada a segundo plano para que se passasse a valorizá-la como instrumento de comunicação. Ensinavam-se os elementos de comunicação e funções da linguagem. Dava-se, ainda, valor à expressão corporal como uma forma de linguagem. As gramáticas de Bechara, Celso Cunha e Rocha Lima, até então alvos de ensino, eram substituídas por outras, que ensinavam através da ilustração. As antologias desapareciam e, em seu lugar, surgiam livros didáticos mais atraentes em sua forma, explorando-se cores e recursos gráficos. Seu conteúdo – esse, sim – deixava a desejar. A interpretação dos textos não era mais elaborada pelo professor junto a seus alunos. As perguntas – em geral, tipo “cavalo branco”, perguntas de resposta óbvia, sem nenhuma reflexão – eram as mais comuns. Havia o livro do professor, com as respostas às questões formuladas para que o professor nem precisasse pensar. Era uma “parafernália didática” (Geraldi: 1997, 93), que ia das respostas nos manuais do professor até vídeos destinados ao ensino de determinados tópicos. Esses livros vinham adequados aos novos professores que ingressavam no Magistério sem grande preparação prévia. Dava-se ênfase, então, apenas a textos jornalísticos e publicitários, praticamente ignorando-se os literários (desses, só o gênero crônica era utilizado, em geral). Havia, ainda, destaque para textos não-verbais, charges e histórias em quadrinhos, com seus códigos especiais, que passam a figurar na quase totalidade dos manuais didáticos. Não são um mal, certamente, mas não devem ser a exclusividade, como também não o devem ser os textos literários. Pela primeira vez, exercícios de expressão oral tornam-se parte dos manuais didáticos. Os textos literários de estilo mais elaborado somem desses manuais. São substituídos por crônicas, onde se explora a língua coloquial. Há, portanto, uma inversão. Os autores da maioria dos livros didáticos se preocuparam exclusivamente com a língua oral, visando à comunicação, e se esqueceram de que é objetivo do professor de português trabalhar também a língua escrita (especialmente, a padrão, desconhecida, em geral, dos alunos) para ampliar os recursos de expressão de seus alunos. Assim, alguns professores “da velha guarda” preocupavam-se em procurar livros didáticos que ainda atendessem às suas expectativas, como os de Magda Soares, Domício Proença, Maria Helena Silveira, Carlos Maciel e outros. Desde o final dos anos 70, diante do caos que se estabelecera no ensino, decidiuse pela inclusão de redações em provas e exames vestibulares, acreditando-se em que se teria nessa atitude uma solução para a crise do ensino. Esqueceu-se, todavia, de que, para a melhoria da expressão de nossos alunos, não basta o domínio da técnica de redação. Fazer uma boa dissertação não consiste em estar ciente de que se devem utilizar quatro a cinco parágrafos, sendo um de introdução, dois ou três de desenvolvimento, um de conclusão, num espaço de vinte e cinco a trinta linhas. Urge, tão-somente, uma mudança de atitude do professor quanto às atividades de produção textual de seus alunos e como avaliar essa produção. O que se cobrava nas redações era a obediência ao padrão culto da língua, nessa época já tão afastado da realidade culta corrente. Assim, corrigia-se o emprego passivo do verbo assistir, o uso do pronome reto em entre eu e você, o emprego do oblíquo em para mim ver e se esquecia de que o grande problema da produção textual é a interlocução. Uma carta a um amigo era, por exemplo, escrita de forma cerimoniosa, para aten15 IDIOMA 23 der às normas prescritivas da língua. O aluno é levado a reproduzir estereótipos ou generalidades sobre os mais variados assuntos, compondo, então, a redação (e não a produção de um texto) com base na imagem que ele assimilou do gosto e da visão de língua do professor. (Uchôa: 1991, 65). Essa atitude perdurou durante a década de 70 e início de 80. Nesse período de mudança, já na segunda metade dos anos 80, alguns professores, em fase de pósgraduação, cursando mestrado e doutorado, apresentam alternativas para a melhoria do ensino de Língua Portuguesa (Souza: 1983) e publicam suas dissertações e teses, questionando o ensino a partir da gramática normativa. Grandes nomes da Lingüística e da Gramática também se manifestam, como poderemos ver no primeiro capítulo. Algumas editoras criam coleções que buscam o questionamento e a reflexão, como é o caso da coleção Princípios, da Ática. Tentando minimizar o problema, no final da década de 70, as escolas normais, como o Instituto de Educação do Rio de Janeiro, criam disciplinas extraordinárias, como TEOTI (Técnica de Estudos e Organização do Trabalho Intelectual) e EOE (Expressão Oral e Escrita) para servirem de ponto de apoio ao Curso Normal e, portanto, aos futuros professores do ensino fundamental, que, a essa altura, ainda sentiam dificuldades de expressão e organização lógica do pensamento. Do programa de TEOTI, constavam a organização de resumos, quadros sinóticos, tabelas, técnica de sublinhar um texto, enfim tudo que pudesse facilitar o estudo e orientar a pesquisa dos alunos. EOE era uma disciplina instrumental. Parte dos “erros” comuns cometidos pelos alunos era revista e, através de uma bateria de exercícios, dúvidas do tipo mas ou mais, por que, porquê, por quê ou porque, há, à ou a passavam a ser esclarecidas. Pretendiase, pois, oferecer subsídios para uma melhor expressão escrita, mas o ensino ainda se limitava ao conceito de que escrever bem era escrever corretamente. Tomava-se por base unicamente o padrão culto da língua. E, ainda nesse momento, os alunos eram obrigados a decorar, por exemplo, que a locução adjetiva “de tia” corresponde ao adjetivo “avuncular”. Pergunta-se: para quê? Por quê? Em que momento irão empregar essa forma? Vale lembrar que esse tipo de ensino sem propósito, vez por outra, era questionado até na imprensa, como por exemplo numa deliciosa crônica de Rubem Braga, intitulada “Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim”. O livro-base de estudo era a Nossa gramática, de Luiz Antonio Sacconi, inteiramente calcado na gramática normativa, tradicional. No início dos anos 80, ainda preocupadas com a defasagem dos alunos, escolas tradicionais, como o Instituto de Educação do Rio de Janeiro, aumentam em duas horas a carga horária de Português no primeiro ano do 2º grau (hoje, de novo, ensino médio), para maior aproveitamento em redação. Mas também as “aulas de redação” eram, em geral, artificiais. O professor escolhia um tema e os alunos escreviam sobre ele. Sentindo a necessidade de rever seu planejamento, também o Colégio Pedro II reavalia seus objetivos e propõe, na década de 80, um novo conteúdo programático para os ensinos fundamental e médio. Com relação a este conteúdo, dá-se ênfase à morfossintaxe. As classes de palavras são estudadas dentro da oração em suas relações sintáticas. Todo o ensino é sugerido a partir da leitura expressiva de um texto. A finalidade maior do ensino de Português, no primeiro grau, continua sendo a utilização adequada 16 IDIOMA 23 da norma culta do idioma. Todavia, a composição oral, em suas nuanças, será recomendada. O ensino da gramática terá por fundamento a prática oral e escrita da língua portuguesa, visando à gradual transposição da língua transmitida para a língua adquirida. (PGE: 1986, 49) Paralelamente, são criados projetos de integração entre as séries 4ª e 5ª, visando a que, ao ingressar na 5ª série, os alunos sintam não uma quebra, mas, ao contrário, a continuidade de um ensino voltado ao aprimoramento da expressão oral e escrita. É de extrema preocupação o incentivo à leitura e à produção textual, que será sempre avaliada, inclusive como parte integrante das provas únicas, realizadas no meio e no fim de cada período escolar. Por seu lado, as editoras, tentando colaborar com os novos planejamentos e, ao mesmo tempo, orientar os professores, lançam inúmeros manuais de redação e os distribuem entre professores, esperando que os adotem. Entre esses, destaca-se a série Criatividade, de Samir Curi Meserani, que realmente explorava e estimulava a capacidade criadora do aluno, de forma inteiramente espontânea e gradual. Havia uma quantidade de manuais, mas quase todos se baseavam na conhecida obra de Othon Moacir Garcia, Comunicação em prosa moderna, cuja leitura deveria ser recomendada a todo professor porque ensina a escrever aprendendo a pensar (Garcia: 1975, 275). Sua obra divide-se em dez partes e abrange todos os conhecimentos necessários a quem pretende aprimorar-se na arte de escrever e de ensinar a escrever. Seus três primeiros capítulos são fundamentais, uma vez que estudam a frase, o vocabulário e o parágrafo, norteando-se sempre pelas relações semânticas e sintáticas. A partir de 1985, uma nova realidade preocupa o ensino: os exames vestibulares constatam o despreparo dos vestibulandos, que, apesar de todos os esforços, redigem mal e não entendem o que lêem. Matérias jornalísticas apresentam os erros ortográficos dos candidatos a uma vaga nas universidades. Percebe-se que a preocupação maior ainda é com a ortografia, esquecendo-se de que a expressão é o ponto nevrálgico da produção escrita. Ninguém comenta, por exemplo, a falta de coesão e coerência num texto escrito, mas riem dos erros ortográficos. De qualquer maneira, urge a volta da redação. Em busca de uma solução, leitura e redação passam a ser exigidas em provas. Paralelamente, os alunos lêem livros impostos pelos professores e, na maioria das vezes, inadequados à sua faixa etária e grau de cultura. Vêem-se alunos de 6ª e 7ª séries sendo obrigados a ler, por exemplo, romances de José de Alencar e de Machado de Assis. Alguns professores tradicionais condenam os colegas que adotam livros, como os de Lígia Bojunga Nunes e Ana Maria Machado, por serem escritos em linguagem coloquial. Esquecem-se dos belíssimos recursos de expressão que permeiam tais livros, esses, sim, adequados à faixa etária do ensino do então 1º grau. Uma cobrança inadequada força os alunos a decorarem a história narrada para, logo após, essa “leitura” ser avaliada em provas. Em cursos pré-vestibulares, cria-se a disciplina Técnica de Redação, cujo objetivo é preparar os alunos para as dissertações dos exames vestibulares, dissertações essas que devem apresentar coesão e coerência, além de parágrafos definidos com o propósito de se estabelecer introdução, desenvolvimento e conclusão. À criatividade, sobrepõe-se a apologia pura e simples da forma. Observando as dificuldades de expressão até mesmo dos estudantes de Letras, cursos superiores de Letras passam a oferecer disciplinas de apoio, como é o caso de 17 IDIOMA 23 TECOE (Técnica de Comunicação Oral e Escrita) na UERJ. Enfim, pensava-se que se ensinava; os alunos pensavam que aprendiam. Mas o resultado era, ainda, apesar de todos os esforços, uma expressão pobre, calcada , apenas, em modelos pré-concebidos. É nesse momento de crise que se faz ouvir a voz de Evanildo Bechara. Destacamos como de alta importância no momento histórico de reflexão sobre ensino de língua materna a obra Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? (1986), que sempre provocou muita discussão em torno dos temas focalizados, desencadeando uma série de outras produções, de diferentes autores. Nesse trabalho, após um levantamento histórico do comportamento pedagógico, em relação ao ensino de gramática normativa, nas décadas de 60 e 70, o autor conclui que a “perseguição” à gramática normativa, tradicional, é tão errada quanto o privilégio dedicado ao código oral, coloquial, em detrimento do dialeto padrão. Segundo o mesmo, ambas as atitudes “são de natureza monolíngüe” e desprezam o fato de que “cada falante é um poliglota na sua própria língua” (Bechara, 1986, 12-3). O filólogo alinha-se com os postulados preconizados por Coseriu (1980). Assim, observa que “toda língua funcional tem a sua gramática como reflexo de uma técnica lingüística que o falante domina e que lhe serve de intercomunicação na comunidade a que pertence” (1986, 13). O falante dispõe, portanto, de várias línguas funcionais: a que usa com mais freqüência e faz parte do seu cotidiano e as que costuma decodificar, em diferentes situações de discurso. Nesse caso, o papel do professor se resume em incentivar o aluno a escolher a língua funcional adequada a seu momento de expressão. Isso pressupõe liberdade, possibilitada pela capacidade de entender a língua como um diassistema, que abrange variedades diatópicas, diastráticas e diafásicas. Posiciona-se o autor, pois, contrário ao glotocentrismo, à doutrina de uma única língua – no caso, a língua padrão. Quando a questão é “gramática e ensino”, propõe que se extraiam da linguagem todos os recursos que “podem significar”, como diz o lingüista inglês Halliday (1974, 274-87). Essa mudança proposta no ensino requer, sem dúvida, uma reforma de currículo e de atividades didáticas. É preciso não esquecer que a língua “não é um rol de nomenclaturas” (Bechara: 1986, 23) e que seu ensino deveria seguir um método natural, quer dizer, diretamente proporcional ao desenvolvimento lingüístico dos alunos. Com esse pensamento, defende que, nas aulas de gramática, dever-se-á previamente determinar que língua funcional será objeto de descrição e, simultaneamente, contrastá-la com outras línguas funcionais, sempre que for possível. Findas essas considerações, observa-se que o autor discute politicamente o ensino de gramática. Em outras palavras: direciona seu pensamento para uma determinada ideologia em que a sociedade brasileira deve participar como um todo na luta pela educação, “pois o destino da educação se confunde com o próprio destino dessa mesma sociedade” (1986, 23). É a partir daí que pergunta se ensinar gramática significaria opressão. Interrogase, ainda, em relação aos limites da liberdade. Nesse momento, embora reconheça e admita a língua coloquial como um dos usos lingüísticos (como uma língua funcional, portanto), não aceita o privilégio que alguns autores lhe dão e, conseqüentemente, o “ensino” dessa modalidade de língua. Que a língua coloquial esteja presente no ensino da língua estrangeira, 18 IDIOMA 23 compreende-se...mas no tocante à língua materna... (Bechara: 1986, 60). Entretanto, reconhece que “o ensino lingüístico na escola deverá partir da atividade oral” (p. 46), o que significa que a gramática internalizada – aqui entendida como o repertório lingüístico que todo falante possui – será o ponto de partida do ensino. Contextualizando no tempo a obra em análise, observamos que ela já representa uma evolução, pois conclama a que outros autores escrevam sobre o mesmo tema - ensino da gramática e, inclusive, comecem a propor uma metodologia de ensino. “Escrevam, discutam, polemizem! ” – constitui a “chamada”, embora breve, para a reflexão e conseqüente posicionamento em torno da questão ensino. A coleção Princípios, em que se insere a obra, caracteriza-se, entre outros objetivos, por lançar idéias a serem desenvolvidas/debatidas no meio acadêmico. .Resumindo, o autor posiciona-se contra a opressão lingüística, contra o glotocentrismo e o ensino metalingüístico e defende a liberdade de expressão. Fazendo do estudo da gramática um fim em si mesma, pôde-se facilmente observar que tal atividade nem ministrava aos alunos, através do conhecimento das normas gramaticais, o conhecimento da língua, nem tampouco a habilidade expressiva. (Bechara: 1986, 39). Mais uma vez, sobressai o nome de Celso Cunha, dessa vez aliado ao de Lindley Cintra. Ambos conjugam, em sua Nova gramática do português contemporâneo (1985), o normativismo e o descritivismo, numa tentativa de conciliação. Pela primeira acepção, apresentam, de maneira didática, as regras relativas à norma culta do português atual, tomando por base não apenas escritores clássicos, mas também brasileiros, africanos e portugueses a partir do Romantismo, no século XIX. Já numa posição descritiva, os autores ainda apresentam aspectos da língua coloquial, além de variedades diatópicas. Houve, inclusive, a intenção de valorizar os recursos expressivos do idioma, tornando sua gramática uma “introdução à estilística do português contemporâneo” (1985, 15). Celso Pedro Luft foi, também, um nome de destaque na década de 80. Com a publicação, em 1985, de Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna, o autor foi tido como revolucionário no tocante ao ensino de Língua Portuguesa, daí a necessidade de incluí-lo nessa relação. Nessa obra, aqui referida pela 3a edição, de 1994, Luft afirma que, ao contrário do que muitos pensam, não é contra a gramática, “pois esta é imanente às línguas” (1994, 11). O que, na verdade, o preocupa é o ensino opressivo de língua materna. Propõe, então, uma mudança radical nesse ensino, em que se passe a usar, como ponto de partida, a gramática que o aluno domina, ou seja, a gramática internalizada a que outros autores irão referir-se posteriormente. Segundo Luft, o que falta ao educando é liberar o que “já sabe” (ou seja, sua gramática internalizada) e, certamente, ampliar suas capacidades através de uma “prática sem medo, um ensino sem opressão” (1994, 12). Com essa observação, antecipa-se à posição posteriormente assumida por Franchi (1987), Travaglia (1995/1998), Possenti (1996/1998) e Geraldi (1991;1996/1998), defendendo o desenvolvimento das aptidões dos alunos através da prática. O que os distingue, todavia, é o fato de o autor em foco não chegar a precisar em que consiste essa “prática sem medo” (Luft: 1994, 12) a que se refere. Discute o problema, mas não chega a apresentar alternativas em termos pragmáticos. 19 IDIOMA 23 Para o autor, “quem fala sabe a gramática da língua”, logo a escola não necessita de informar teoria gramatical aos alunos, pois não é por esse meio que teremos escritores habilidosos e leitores proficientes. O que importa, portanto, é a ampliação de vocabulário, o desenvolvimento dos recursos expressionais, enfim a possibilidade de o aluno tomar consciência da língua e, a partir daí, ser capaz de dominar a escrita. Assim, o autor destaca o papel da liberdade referida no título de sua obra. Seu desejo é formar “cidadãos lúcidos e livres, senhores de sua linguagem” (1994, 12). Luft relaciona o ensino de língua ao conceito universal de liberdade, pois “a gramática mal ensinada incute servilismo” (1994, 93). Partindo desse princípio, espera que o ensino conduza à liberdade - ponto comum com o filólogo Bechara (1986), já referido. Estabelece, também, distinção entre “teoria artificial”, que ele chama de Gramática (com G maiúsculo) e “teoria natural”, gramática (com g minúsculo) - respectivamente, o que Coseriu (1980) chama de “gramática 1” e “gramática 2” Em outras palavras, Luft distingue a gramática explícita, metalingüística, da gramática tomada como objeto, a gramática interiorizada. Defende a idéia de que o estudo da Gramática, unicamente como metalinguagem, não é indispensável ao domínio da comunicação. Chegarse-á, pois, à comunicação através da prática e não da teoria. Podemos nos mover sem saber que músculos, nervos, ossos estão em funcionamento; sem saber as regras da locomoção. Quanto pianista toca de ouvido, sem conhecer teorias de notas, de acordes ou harmonização, sem saber explicitamente as regras – a gramática – da música. (Luft, 1994, 18) Assim, ao invés de regras gramaticais, as aulas de Português devem abranger leitura com comentário, análise e interpretação de “bons” (grifo nosso) textos e produção constante de textos “bons” – comentário subjetivo, pois depende de critérios variáveis. O autor ainda esclarece que muitos professores, rejeitando a gramática tradicional, de natureza metalingüística, se valem dos conhecimentos teóricos de Lingüística. Esta passa a ser a “tábua de salvação”. Mas a teorização moderna, de base lingüística, não deve substituir a teoria gramatical, de caráter tradicional. O que se procura, em termos de ensino, não é uma teoria “melhor” e, sim, uma prática mais eficiente. Por conseguinte, cabe ao professor o embasamento teórico que irá guiá-lo em suas aulas práticas. Essa posição se afina com a de Franchi (1987) e já a definia Georges Mounin: É o docente quem deve saber Lingüística e Gramática para bem ensinar esse manejo, e não forçosamente o discípulo, muito menos a criança. (apud Luft: 1994, 97) Diante dos protestos da área educacional, o Conselho Federal de Educação decide estabelecer a medida de retorno da disciplina “Português”, eliminando as denominações relativas à Comunicação. Esse caráter vacilante de denominar a disciplina referente ao ensino da língua materna , alás, sempre foi uma constante. Nas décadas de 40 e 50, usava-se Linguagem para o antigo primário. Tal atitude traduz a falta de consenso, não só na referência, mas também no que ensinar. Entretanto, não se trata somente de substituir uma denominação, mas de encetar uma nova atitude que se esperava obter frente ao ensino de língua materna. Paralelamente, novas ciências lingüísticas – a Sociolingüística, a Psicolingüística, a Pragmática, as teorias do discurso e do texto – desenvolvidas nesse período, come20 IDIOMA 23 çam, inclusive, a influenciar no ensino de língua portuguesa. Chega-se, portanto, a mais um momento de questionar que gramática queremos ensinar: a gramática entendida como um sistema único ou a gramática como um diassistema? Valoriza-se a língua escrita, a língua oral, ou ambas? Qual a função do texto? Ensina-se redação ou trabalha-se com produção textual? Cobra-se ou incentiva-se a leitura? Parece-nos já se ter chegado a um consenso: ensina-se a gramática como diassistema, valorizando-se todas as modalidades lingüísticas, adequadas a cada situação em particular; o texto é estudado em suas potencialidades expressivas; trabalha-se com produção textual; incentiva-se sempre a leitura. Diversos lingüistas começam a escrever artigos e publicar livros sobre o ensino de língua portuguesa. Destacamos os nomes de Carlos Franchi, Mário Perini, Sírio Possenti, Luiz Carlos Travaglia, João Wanderley Geraldi, Luiz Percival Leme Britto, Rodolfo Ilari, Carlos Eduardo Falcão Uchôa, Magda Soares, Luiz Marques de Souza, Marcos Bagno, entre outros. Se perguntássemos a qualquer professor secundário por que se ensina gramática, ele responderia provavelmente que o conhecimento da gramática, devidamente assimilado, é um pré-requisito da expressão correta. Se entendo bem, afirmações como esta querem dizer que o indivíduo que conhece gramática tem melhores condições para controlar sua própria expressão, evitando assim incorreções (...) Esse projeto, que poderia ser chamado de ‘boa expressão como subproduto da gramaticalização’, é problemático. Primeiro, porque cabe perguntar se uma prática, um hábito, qualquer que ele seja, deve sempre resultar de uma opção consciente; segundo, porque parece claro que o esforço de abstração exigido para adivinhar o que está por trás de certas definições das gramáticas escolares vai além da capacidade do aluno médio [vai além da capacidade de boa parte dos lingüistas não-dogmáticos]. (Ilari: 1997, 54-5). A década de 90 já representa uma evolução. Encabeçado pela UFRJ e pela UNICAMP, começa a mudar o Vestibular. As provas, não mais de múltipla escolha, revelam amadurecimento na elaboração e preocupação com a expressão escrita dos candidatos, em questões que exigem reflexão e conhecimento da língua. As redações, nos exames vestibulares, começam a mudar de feição. Diante do exame de textos variados, em diferentes linguagens, em torno de um mesmo núcleo temático, o aluno é incitado a produzir seu próprio texto. Deve o professor fomentar permanentemente o contato do aluno com a múltipla variedade de situações e logo com a pluralidade de discursos daí recorrentes. (Uchôa: 1991, 66) Nessa década, as principais universidades brasileiras começam a discutir o tema “ensino de língua materna”. Congressos e Simpósios são realizados em vários pontos do país. Na UERJ, por exemplo, instituiu-se por iniciativa da professora Maria Teresa Gonçalves Pereira, em 1996, o I Fórum de Estudos Lingüísticos para debater o ensino de Língua Portuguesa. O evento tem se repetido ano após ano, trazendo novas contribuições e ganhando o apoio de novas figuras representativas da UERJ, como os professores André Valente, Cláudio Cezar Henriques e José Carlos de Azeredo. Na UFF, o professor Carlos Eduardo Falcão Uchôa cria, em 1998, durante a implantação do curso de 21 IDIOMA 23 Doutorado, uma linha de pesquisa em estudos lingüísticos voltados para o ensino de língua materna. Foi sob sua orientação que a tese de que se origina este artigo começou a amadurecer. Há vários anos, Uchôa vem defendendo que o “ensino de língua materna deve cuidar de modo prioritário (não absoluto) da língua escrita” (1991, 35) daí advindo, também, sua recomendação de que se inclua, nos cursos de Letras, uma ementa voltada para a Lingüística Aplicada ao ensino de língua materna. Não será, com certeza, a criação de uma nova gramática da língua, em bases descritivas modernas, a redenção do ensino. O que lhe parece fundamental é a “preocupação com a criação de atitudes críticas do futuro professor em relação à língua e ao seu ensino” (p. 37). De pouco adiantará tal gramática, esperada por tantos como redentora com vistas à renovação do ensino, se o professor persistir em falar ou em defender uma “boa linguagem” em termos absolutos, continuando a orientar o seu ensino na base da rigidez normativa e de atitudes sem fundamento – sem saber colocar-se, digamos, ante uma ocorrência como a gíria, recriminando-a simplesmente como linguagem pobre, vulgar, ao invés de procurar caracterizá-la e mostrar a sua expressividade e adequação a certos contextos.(UCHÔA: 1991, 36). Crendo, pois, na importância da visão crítica do professor de Língua Portuguesa, Uchôa propõe que se cuide “com maior atenção e maior realismo” dessa formação, aproximando Universidade e ensinos fundamental e médio, de tal forma que o futuro professor não apresente uma atitude preconceituosa face à variedade dialetal de seus alunos, o que já se tornou uma realidade desde o momento em que as diferentes classes sociais tiveram acesso à escola. Nos últimos anos, nota-se uma maior preocupação com a formação dos professores de Letras. O governo incentiva e cobra a pós-graduação. Criam-se os PCNs (Planejamento de Currículo Nacional), visando a orientar e padronizar o ensino segundo os mais modernos parâmetros. Algumas instituições adotam o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) como base de ingresso nas Universidades, compondo a primeira fase do exame vestibular. A LDB nº 9394, de 20/12/1996, em seu Art.36, estabelece que a língua portuguesa será encarada como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania, contemplando, assim, todas as modalidades expressivas, sem encará-las de forma privilegiada ou não. Os ensinos de 1º e 2º graus são rebatizados, respectivamente, de ensino fundamental e médio. Mas, ainda assim, o Magistério permanece mal remunerado e sem condições de trabalho. Falta-lhe, inclusive, muitas vezes, o giz e o apagador. E o professor, verdadeiro artista, é obrigado a fazer malabarismos no palco da sala de aula para dar conta, com seriedade, de um trabalho realizado em mais de uma escola como condição de sobrevivência. Tentativas de resolver a questão do ensino continuam. No Governo Fernando Henrique Cardoso, o Ministério da Educação implantou, em nível nacional, o chamado “Provão”, com a finalidade de avaliar o aproveitamento dos alunos formados pelas universidades brasileiras, de norte a sul. Os atuais governantes resolveram aperfeiçoar o modelo, inserindo outros critérios que vêm recebendo críticas nos meios políticos e acadêmicos, mas persiste a idéia de que é preciso avaliar o ensino ministrado nos cursos superiores. 22 IDIOMA 23 Condenado por uns, aprovado por outros, o “Provão“ se mantém e revela, pelo menos, um mérito: apontar as Universidades que apresentam grandes falhas no ensino. Toda a sociedade letrada toma conhecimento, pelos órgãos de divulgação de massa, dos conceitos atribuídos às universidades brasileiras. Sentindo-se expostas, essas Universidades voltam a atenção a seus currículos e reavaliam seu corpo docente, preocupandose, a partir daí, em contratar novos professores com formação em mestrado e doutorado. Nada disso, porém, é definitivo. Educação será sempre um processo de questionamento. Temos consciência de que nunca chegaremos a uma plenitude, mas o mais importante, nesse momento, é a nova concepção de língua que começa a delinear-se. Língua, agora, não é apenas instrumento de comunicação, mas, principalmente, enunciação, discurso, que estabelece relações de intercomunicação. Os processos de leitura e escrita passam, portanto, a ser resultantes da interação autor-texto-leitor. De acordo com a nova concepção, altera-se o papel desempenhado pelo aluno. Este passa a ser ativo e construtor de suas próprias habilidades e conhecimentos, através de um processo contínuo de interação com outros receptores e com a própria língua, que funciona como código. A criatividade não é mais considerada um fator isolado, dependente de um dom inato e especial. Criativo é todo ato de fala, porque a linguagem é criação e re-criação de si mesma. Referências Bibliográficas: ALI, M. Said. Gramática histórica da língua portuguesa. 2a ed. São Paulo: Melhoramentos, 1931. BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática: opressão? liberdade? 2a ed. São Paulo: Ática, 1986. ------. Moderna gramática portuguesa. 37a ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. BRITTO, Luiz Percival Leme. A sombra do caos: ensino de língua x tradição gramatical. Campinas-SP: Mercado de Letras, 1997. CUNHA, Celso. A questão da norma culta brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985. ELIA Silvio. A unidade lingüística do Brasil. Rio de Janeiro: Padrão, 1979. FRANCHI, Carlos. 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