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TRAJETÓRIA E ASCENSÃO SOCIAL DE JOSÉ MARIA DA SILVA
PARANHOS: o jornalismo como estratégia (1850-1851)
Brenda Coelho Fonseca
(mestranda no Programa de Pós-Graduação
em História Social da UFRJ; Bolsista CAPES)
Resumo: Com o objetivo de compreender como se deu a ascensão social de
José Maria da Silva Paranhos, o futuro visconde do Rio Branco, durante o II
Reinado, conquistando um espaço privilegiado junto ao Imperador, além de
ocupar os principais cargos do Império, este artigo analisa as especificidades de
sua trajetória e sua entrada no clube político. Acreditamos que as crônicas
publicadas por Paranhos, anonimamente, no Jornal do Commercio, durante os
anos de 1850 e 1851, intituladas Ao amigo ausente, bem como sua mudança
do Partido Liberal para o Conservador, serviram de estratégia para sua
ascensão social e política.
“Ainda não conheci pessoa
mais inteligente e perspicaz”
Pedro II, sobre Paranhos
Um cronista na Corte
Paranhos nasceu na Bahia, em 16 de março de 1819, filho de
Agostinho da Silva Paranhos, comerciante português, e Josefa Emerenciana
Barreiros Paranhos, de família de militares. O pai morreu na infância de
Paranhos, ficando sua herança comprometida por dívidas, cobradas por um
parente e sócio de Agostinho.1
1
Josefa Emerenciana separou-se do primeiro marido João da Silva Telles, que retornara a
Portugal, e se uniu a Agostinho da Silva Paranhos. José Maria da Silva Paranhos e seus dois
irmãos mais velhos, Agostinho e Antônio, só receberam o sobrenome do pai quando este
morreu em 1822. Após a morte do segundo marido, Josefa teve ainda uma filha, chamada
1
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Com a morte de sua mãe, Paranhos partiu para o Rio de Janeiro, em
1836, onde ingressou na Escola da Marinha com a ajuda do tio materno,
Eusébio Barreiros, militar do Corpo de Engenheiros e professor de Matemática
da Escola Militar. Em 1841, na conclusão do curso, foi promovido a GuardaMarinha. Em seguida, matriculou-se na Escola Militar, tornando-se dois anos
depois tenente do Corpo de Engenheiros; é ainda designado, na mesma
ocasião, para ensinar Artilharia na Escola da Marinha. Logo, se tornou – na
Escola da Marinha e também na Escola Militar – professor de Matemática.
No ano de 1842, casou-se com a D. Teresa de Figueiredo Faria, irmã
de um amigo seu da Marinha, nascida no Rio de Janeiro e filha de um
negociante português. Com D. Teresa teve nove filhos: José Maria da Silva
Paranhos, posteriormente o Barão do Rio Branco; Maria Luísa, que fugiu de
casa para se casar com José Bernardino da Silva, de origem humilde; Amélia,
que se casou, em 1875, com Pedro Afonso Ferreira, bacharel em direito; Maria
Honorina; Pedrinho, que era paralítico; Augusta Amélia, casada com Luís
Cavalcanti, ambos morrem de tuberculose; João Horácio, que entrou para o
exército em 1880; Luisa que também morreu de tuberculose; e Alfredo,
boêmio, foi morar com a mãe em Paris em 1894, morreu de congestão
pulmonar.2
No Partido Liberal, Paranhos foi eleito deputado provincial no Rio de
Janeiro, em 1845. Contribuindo para sua eleição a atividade jornalística,
desenvolvida desde o ano anterior, quando se tornara redator do Novo Tempo,
folha liberal da época. Seguiu, a despeito da imersão na política, com suas
atividades docentes na Escola Militar, lecionando Matemática.
Maria Luísa, com o juiz de órfãos Luis Paulo de Araújo Bastos, o Barão de Fiais. Enquanto o
filho mais velho, Agostinho, “se perdeu” na vida boêmia em Salvador, Antônio fez carreira no
exército e acompanhou José Maria em sua missão ao Prata, sobre Maria Luísa, a única a
informação é que José Maria providenciou seu enterro, além de nunca ter freqüentado a casa
do irmão, cheia de figuras ilustres do Império. Ver: MOURA, Cristina Patriota de. Herança e
metamorfose: a construção de dois Rios Brancos. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro,
CPDOC/FGV, n. 25. Ano: 2000/2001. p. 6, 9 e 11.
2
Ibidem. p. 11 e 12.
2
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Foi designado ao cargo de secretário da Província do Rio de Janeiro,
e em 1847, nomeado vice-presidente da mesma província, porém o presidente
Visconde de Sepetiba, eleito senador, deixou a presidência e Paranhos acabou
assumindo a província de maio a setembro. Contava ele 26 anos de idade. Já
em 1848, entrou para o Correio Mercantil, jornal também ligado ao Partido
Liberal. Nesse mesmo ano, é nomeado Catedrático da cadeira de Artilharia e
Fortificação da Escola Militar.
Nota-se, que Paranhos rapidamente ascende de deputado a
presidente da Província do Rio de Janeiro, fato destacado ironicamente anos
mais tarde por Quintino Bocaiúva afirmando que Paranhos não subiu, mas sim
escorregou para cima.3
A década de 1840 – após o período da Regência, marcado por
revoltas – foi apontada por Justiniano José da Rocha, jornalista conservador,
como reação monárquica. Conhecido como o regresso conservador, esse
período devolveu ao governo central os poderes perdidos com a legislação
descentralizadora da Regência, principalmente o Ato Adicional de 1834 e o
Código de Processo Criminal de 1832. 4 Afirma o jornalista que “tal foi a obra da
reação monárquica, tão completa como havia sido a da ação democrática; uma
partira do medo e da suspeita contra o poder e o aniquilara; a outra, do medo
da turbulência e do horror ao tumulto e à anarquia, e aniquilara a liberdade”.5
3
BESOUCHET, Lídia. José Maria da Silva Paranhos – Visconde do Rio Branco. Ensaio históricobiográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 62.
4
Em 1840 foi interpretado o Ato Adicional, em 1841 foi reformado o Código. Assim, as
assembléias estaduais deixaram de ter jurisdição sobre os funcionários do governo central; o
funcionalismo da Justiça e da polícia passou a ser controlado pelos ministros da Justiça e do
Império, entre outras mudanças. Com a maioridade em 1840, voltou o Poder Moderador e o
Conselho de Estado. CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política
imperial. Teatro de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p.
249-256.
5
ROCHA, Justiniano José da. Ação, reação e transação. In: MAGALHÃES JR, Raimundo. Três
Panfletários do Segundo Reinado. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1956. p. 211.
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Em 1842, os liberais revoltaram-se contra as leis de interpretação do
Ato Adicional de 1840 e a reforma do Código Criminal de 1841 promovidas
pelos conservadores. No entanto, ao assumirem o poder, em 1844, perceberam
a utilidade para o exercício do governo. Em quatro anos no poder, os liberais
continuaram seguindo os mesmos princípios do regresso conservador. Em
1848, ocorreu o último recurso às armas por parte dos liberais, com a revolta
da Praia em Pernambuco, promovendo o domínio completo dos conservadores
por meio de seu grupo mais representativo, os saquaremas do Rio de Janeiro.
Honório Hermeto Carneiro de Leão, o futuro Marquês de Paraná, em 1848,
presidiu a província de Pernambuco após a derrota dos liberais e percebeu a
necessidade de promover um entendimento entre os partidos, dadas as
possíveis conseqüências do monopólio do poder pelos conservadores, tendo em
vista os conflitos anteriores.
O ano de 1850 foi um marco decisivo. Estava no governo, desde
1848, um ministério solidamente conservador. Além de Araújo Lima (depois
Marquês de Olinda), pela segunda vez a “trindade saquarema” da província do
Rio – Euzébio de Queiroz, Paulino José Soares de Souza (depois Visconde do
Uruguai) e Joaquim José Rodrigues Torres (depois Visconde de Itaboraí). A
Câmara era praticamente unânime: um liberal entre 110 conservadores.
Nesse ano, Paranhos passou para o Jornal do Commercio, e a seguir,
começou a publicar, anonimamente, as crônicas semanais, intituladas Ao amigo
ausente. Segundo Joaquim Nabuco, “Paranhos era um homem de talentos e
faculdades diversas. (...) Como jornalista mostrara-se natural, simples,
preferindo a lucidez do pensamento ao ornato litterario.”
6
As crônicas, em forma de cartas, saíam na segunda página do jornal
com o título Comunicado e narravam a vida da Corte brasileira na década de
maiores transformações para o II Reinado. Nelas, Paranhos versava sobre
6
NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império – Nabuco de Araújo – sua vida, suas opiniões,
sua época, por seu filho Joaquim Nabuco. Rio de Janeiro: H. Garnier, [1897]-1927. p. 167.
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assuntos como economia, política interna e externa, modernização, progresso
material, industrialização, vida social, literatura, entre outros. Ressaltando a
grande preocupação com o crescimento do Brasil, incluiu nas propostas de suas
cartas todos os problemas materiais mais importantes discutidos na imprensa e
tratados na tribuna do Parlamento. Nesse sentido, diz Paranhos em uma das
crônicas:
Enquanto uns sonham com a reforma desta ou daquela
instituição política, e outros não dormem para vigiá-la e só
cuidam de pôr-lhe bons contrafortes, os agricultores dão-se
aos diabos porque as chuvas lhes embargam os gêneros nas
estradas, os consumidores porque compram por dez o que lhe
custaria cinco se não fôra aquêle motivo; (...) os costumes e
sentimentos do povo se corrompem por falta de educação; a
nossa mocidade não tem escolas e mestres hábeis que
formem o seu coração, que cultivem o seu espírito, que lhe
façam conhecer e amar o país, que enfim a leve pela senda da
civilização com a rapidez das gerações européias. 7
Alguns autores que estudam as relações entre jornalismo e literatura
no Brasil do século XIX afirmam que Francisco Otaviano de Almeida Rosa8 foi o
“primeiro a cultivar entre nós o folhetim caracterizado pela leveza de estilo e
variedade de assunto”.9 Suas crônicas publicadas sob o título de A Semana no
Jornal do Commercio, entre 1852 e 1854, tinham como tema o dia-a-dia da
cidade do Rio de Janeiro, retratado de forma peculiar pelo autor que ficou
conhecido como “pena de ouro”.
10
7
PARANHOS, José Maria da Silva. Carta n. 23, 17 de maio de 1851, p. 128.
Francisco Otaviano de Almeida Rosa (1826-1889) foi um importante político do II Reinado e
que se tornou conhecido no meio literário por seus textos jornalísticos e poesias. Em 1896, foi
escolhido pelo Visconde de Taunay como patrono da cadeira de número 13 da Academia
Brasileira de Letras. Ver EWALD, Ariane. Crônicas Folhetinescas – subjetividade, modernidade e
circulação da notícia. Trabalho apresentado no Seminário História e Imprensa, promovido pela
UERJ em junho de 2003. p. 9.
9
FARIA, João Roberto. Alencar: A semana em revista. In: A crônica: o gênero, sua fixação e
suas transformações no Brasil. São Paulo: Editora da UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa
de Rui Barbosa, 1992. p. 304.
10
EWALD, Ariane, 2003. Op. cit., p. 9.
8
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No entanto, Ariane Ewald acredita ser José Maria da Silva Paranhos o
precursor da crônica social no Brasil. Nesse sentido diz a autora:
O Visconde do Rio Branco usa a forma de correspondência
para narrar, às vezes em detalhes surpreendentes, a Corte
brasileira no fim do ano de 1850 e durante o ano de 1851. O
texto ainda não é “descontraído” como os de José de Alencar,
em Ao correr da Pena, (1854-1855), e nem nos faz rir pela
ironia como os de Machado de Assis, nos Commentarios da
Semana e em Ao Acaso, mas já antecipa a forma que será
empregada por Francisco Otaviano de Almeida Rosa em A
Semana (1852-1854).11
Através das cartas abertas a um amigo fictício distante da Corte,
Paranhos comentava, de forma bastante pessoal, o cotidiano da cidade e os
principais acontecimentos da semana. A idéia de cronista que enviava cartas
estava ligada à tarefa de historiar, mas sob o olhar de quem as escrevia e
muitas vezes, podia se comportar como cronista-historiador
Paranhos se intitulou – um “historiador de fatos”.
12
, como o próprio
13
O autor das cartas Ao amigo ausente explicou a razão de utilizar
esse meio para publicar suas crônicas no jornal. Segundo ele, surgiu a partir de
um artigo do Jornal dos Debates, cuja tradução foi publicada no Brasil, onde
“alguns britânicos espertos, para escaparem à finta do correio, em vez de
cartearem-se, correspondem-se por meio dos jornais em anúncios de tal sorte
redigidos, que são para os profanos verdadeiros enigmas”.
14
As cartas Ao amigo ausente, além de fragmentos, são elementos do
social que tornam perceptíveis as mudanças ocorridas no Rio de Janeiro e no
Império em meados do século XIX. Esse período foi apontado por Capistrano de
11
EWALD, Ariane P.. Crônicas Folhetinescas; o renascimento da vida moderna no Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Museu da República, 2005. p. 49.
12
Ver LOPEZ, Telê Porto Ancona. A crônica de Mário de Andradre: impressões que historiam.
In: A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. São Paulo: Editora da
UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. p. 176.
13
PARANHOS, José Maria da Silva. Op. cit. Carta n. 1, p. 1.
14
Idem.
6
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Abreu como o marco da história do II Reinado. A década de 1850, não
assinalou no Brasil somente a metade do século, mas foi também o ano de
inúmeras transformações que alteraram a fisionomia do país, no sentido de
uma modernidade, com características centralista, imperialista e industrial.15 De
acordo com Lilia Schwarcz, foi a década da estabilidade financeira e momento
de paz no país e, com isso, crescendo a popularidade de D. Pedro II e do
Império.16
A chegada do vapor, o fim do tráfico de escravos, o incremento da
imprensa, as divergências partidárias, as questões sobre política externa, a
aprovação do Código Comercial, a promulgação da Lei de Terras, a
centralização da Guarda Nacional e o desenvolvimento das indústrias, foram as
principais preocupações do momento, constantemente debatidas por Paranhos
em suas crônicas. Assim, em contraste com o período anterior da Regência,
bastante conturbado, teve início no Brasil uma nova era de relativa
prosperidade. Pode-se dizer, como afirma o historiador Caio Prado Jr., que foi
nesta época que o Brasil tomou conhecimento, pela primeira vez, do progresso
moderno e uma certa riqueza e bem-estar material.
17
Nesse contexto, além de caracterizar uma fonte primordial para o
conhecimento de um momento tão específico do Império, as cartas revelam
também as idéias e o perfil de José Maria da Silva Paranhos ainda no início de
sua carreira política. Mostram o seu interesse em discutir projetos de Brasil,
com um discurso muito influenciado pela formação técnica que possuía.
Para Besouchet18, a entrada no principal jornal conservador, refletiu
sua consolidação política no Partido Conservador.19 A posição política de
15
ABREU, Capistrano de. Fases do Segundo Império. Ensaios e Estudos, 3ª série. Rio de
Janeiro: Sociedade Capistrano de Abreu, 1938.
16
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador – Pedro II, um monarca nos trópicos. 2ª
ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 104.
17
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1961. p.
113-235.
18
Ver BESOUCHET, Lídia. Op. cit., p. 67.
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Paranhos, concernente ao seu liberalismo e conservadorismo causou polêmicas
durante sua vida pública e sua aproximação com o Partido Liberal, enquanto
jovem, foi bastante cobrada posteriormente. “Paranhos, entretanto, forja um
liberalismo muito seu, aliás muito típico do conservador da época”20. Estava
preocupado em buscar os progressos materiais, sociais e políticos para o seu
país. Esses avanços, porém, deviam ser convenientemente ajustados, de forma
segura e por meio de uma liderança nacional demarcada. “Mas ao mesmo
tempo possui um conservantismo natural, de infância”21. Esta inclinação
espontânea pela moderação política, posições desenraizadas de qualquer
regionalismo e uma visão, sobretudo, nacional, o atraiu irremediavelmente para
o Partido Conservador. Diante disso, Besouchet afirma que:
Num artigo de Paranhos, datado de 1844, isto é, quando
contava exatamente 25 anos, vamos encontrar tôda a
linguagem típica do romantismo da época: exagêro
sentimental das imagens, adjetivação excessiva e exaltada,
mas já apresenta uma certa dose de comedimento, certa
prédica de meio têrmo, fornecendo base para a formação de
uma nova corrente de idéias até então desconhecida no Brasil,
expressamente dividido por lutas partidárias. (...) Desde a
época do “Correio Mercantil”, do “Novo Tempo”, até a do
“Jornal do Comércio”, muda Paranhos de Partido, porém não
de atitude. 22
A inserção de Paranhos no Jornal do Commercio pode ser vista como
uma estratégia de ascensão política e social, numa sociedade cujos caminhos
19
Existem divergências quanto à mudança de Paranhos do Partido Liberal para o Conservador.
Segundo o Visconde de Taunay, essa transferência se deu após sua entrada no Ministério da
Conciliação (1853-1857), enquanto que Besouchet afirma que teria sido já durante seu trabalho
junto ao Jornal do Commercio (1851-1853). BESOUCHET, Lídia. Op. cit., p. 67; TAUNAY,
Visconde de. O Visconde do Rio Branco (Glória do Brasil e da Humanidade. Rio de Janeiro:
Academia Brasileira de Letras, 1988. (Coleção Afrânio Peixoto). p. 82.
20
BOAVENTURA, Tomás de Aquino Silveira. A política externa brasileira na concepção do
Visconde do Rio Branco. Dissertação de Mestrado (Mestrado em História) – Instituto de Ciências
Humanas, UnB, 1986. p. 8
21
Idem.
22
BESOUCHET, Lídia. Op. cit., p. 59.
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da mobilidade social eram dominados pelo patronato e empenho, ou seja, os
espaços da política eram, sobretudo, restritos aos que pertenciam a famílias
influentes do período, onde os laços familiares favoreciam a entrada nos altos
círculos da Corte. Algumas vezes, esse acesso se dava através do casamento
com mulheres possuidoras de um bom dote, ligadas a famílias importantes.23
Para José Murilo de Carvalho, além do casamento, o talento
jornalístico era um dos recursos “mobilizados por pobres inteligentes para furar
as barreiras sociais. (...) Um jornalista bom de briga era indispensável aos
partidos numa época em que a imprensa era tão importante, se não mais que a
tribuna”.24
As crônicas evidenciam as propostas de Paranhos e suas idéias em
relação ao Brasil. Seu discurso, fortemente influenciado pela sua formação
técnica em Matemática e Engenharia, o diferia dos juristas, pois o curso de
Direito era voltado à formação de homens encarregados de aplicar leis e
defender os interesses da ordem. Desse modo, Paranhos afirma que:
Se com efeito os nossos políticos, em vez de questionarem
sôbre metafísica social, discutirem as necessidades da
agricultura e da indústria do país, se, em vez da educação
política exclusivamente ocuparem-se da educação moral do
nosso povo, se, em vez de andarem à cata de um progresso de
legislação que é muito contestável, emprenharem-se no
progresso material do Brasil, ó! quanto não ganhará nossa
pátria em paz, riqueza, ilustração e força!25
Paranhos prossegue dizendo que:
De tôdas as partes do Império ouço vozes que gritam:
“Deixemos de regular a administração pública pelos conselhos
23
Ver o caso de Antônio Nicolau Tolentino. CARVALHO, José Murilo. Veredas do Poder. Folha de
São Paulo. Jornal de Resenhas, São Paulo, p. 10, 13 abr. 2002. Resenha do livro CANDIDO,
Antonio. Um Funcionário da Monarquia – ensaio sobre o segundo escalão. Rio de Janeiro: Ouro
Sobre Azul, 2002.
24
Idem.
25
PARANHOS, José Maria da Silva. Op. cit. Carta n. 18, 12 de abril de 1851, p. 94.
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das paixões e pelas exigências dos interêsses pessoais; vamos
promover a colonização, fomentar a indústria, explorar as
imensas riquezas naturais com que a providência nos dotou,
facilitar a exportação dos produtos do interior e as relações
das províncias entre si!” 26
A maior parte da elite imperial tinha formação jurídica, já os
indivíduos com menor poder aquisitivo podiam escolher a carreira eclesiástica, a
Escola Militar, para seguir a carreira militar, ou a Escola de Minas para uma
carreira técnica. Nenhuma dessas escolas cobrava anuidade, a Escola de Minas
dava bolsa a alunos pobres e a Escola Militar pagava pequeno soldo. Paranhos
se formou pela Escola Militar não obstante, atuou na área jurídica ao longo de
sua carreira.
27
De acordo com John Schulz, a Escola Militar era uma ilha de instrução
em uma sociedade constituída por uma maioria analfabeta.28 A educação militar
salientava tanto a formação profissional quanto a formação técnica, formando
oficiais, mas também engenheiros capazes de construir pontes e estradas.29 Os
estudantes estavam em sintonia com os acontecimentos internacionais.
Instruídos por engenheiros percebiam a importância da indústria e das
ferrovias, além de verem a escravidão como obstáculo para a modernização e
progresso do país.
As discussões presentes nas crônicas de José Maria da Silva
Paranhos, sobretudo as de política externa, levaram Honório Hermeto Carneiro
Leão, em 1851, até a redação do Jornal do Commercio para convidar Paranhos
26
Idem.
Paranhos ocupou o cargo de consultor do Ministério dos Negócios Estrangeiros (1862-1864),
e emitia pareceres de cunho, sobretudo, jurídico. MELLO, Fernando Figueira de. O Visconde do
Rio Branco: Entre a biografia estabelecida e a reconstrução da biografia. In: FRANCO, Alvaro da
Costa. (Org.) Com a palavra, o Visconde do Rio Branco: a política exterior no Parlamento
Imperial. Rio de Janeiro: CHDD; Brasília: FUNAG, 2005. p. 15.
28
SCHULZ, John. O Exército na Política: origens da intervenção militar (1850-1894). São Paulo:
Edusp, 1994. p. 31.
29
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de
sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 75.
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a compor, como secretário, a missão especial ao Rio da Prata, segundo o
biógrafo Visconde de Taunay.30
A partir daí, sua carreira política e diplomática foi ascendente,
passando a fazer parte, em 1853, do Gabinete da Conciliação31 como ministro
dos Negócios da Marinha.32 Nas cartas Ao amigo ausente, nota-se que a
discussão de Paranhos, quase sempre, gira em torno da necessidade de um
acordo entre os partidos, em benefício dos melhoramentos técnicos e materiais
do país. Assim, confirmando as expectativas do cronista, no período da
conciliação o Império apresentou significativos progressos materiais, com a
construção de estradas de ferro, multiplicação das linhas de navegação a vapor,
etc.
Paranhos ocupou, durante sua carreira pública, inúmeros cargos de
grande importância, como o de conselheiro de Estado e senador, entre outros.
Chegou em 1871, à posição de presidente do Conselho de Ministros e ministro
do Império, quando foram instituídas a Lei de Reforma Judiciária e a Lei do
Ventre Livre33, tornando-se – nas palavras de José Murilo de Carvalho – “o mais
brilhante diplomata do Império e um típico conservador modernizante, cujo
plano político era esvaziar o programa liberal realizando suas reformas”.34
O futuro visconde do Rio Branco ganhou a simpatia de D. Pedro II a
partir de sua ação frente à Guerra do Paraguai e, principalmente, após a
aprovação da Lei do Ventre Livre, contrariando a opinião de seu partido.
“Transformou-se no reformador de confiança do Imperador”35. Diante disso,
30
TAUNAY, Visconde de. Op. cit., p. 71.
Os partidos, liberal e conservador, após anos de desentendimentos, chegam,
temporariamente, a um acordo nacional, expresso no Ministério da Conciliação que tem início
em 1853, presidido pelo Marquês de Paraná, e dura até 1857.
32
José Murilo de Carvalho ao falar dos caminhos para entrar no clube da política durante o
Império, aponta o Ministério da Marinha como uma forma de treinamento para outros
Ministérios. CARVALHO, José Murilo. 2003, Op. cit., p. 125.
33
O Gabinete Rio Branco foi o mais longo do Império (1871-1875). Ibidem. p. 59.
34
Idem.
35
CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II – Ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras,
2007. p. 59.
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Pedro II em sua primeira viagem à Europa, no ano de 1871, confiou o governo
ao Visconde.
Conclusão
Este artigo é fruto de uma pesquisa de mestrado que está em
andamento, portanto, ainda não se estabeleceu uma investigação muito
aprofundada sobre as fontes primárias, ainda assim, as informações levantadas,
a partir de um estudo prévio para a elaboração do projeto e durante o primeiro
semestre do mestrado, nos levam a crer que a trajetória de Paranhos
apresentou algumas peculiaridades, quando comparadas a outras histórias de
vida da elite imperial. Por exemplo: sua origem familiar e sua formação técnica.
Diante disso, o presente artigo, ao contrário de conclusões, se propõe a
levantar algumas hipóteses, já mencionadas acima, para a discussão da
ascensão social de Paranhos na sociedade do século XIX:
a) Paranhos utilizou-se de algumas estratégias, já que não possuía
laços familiares importantes. Certamente, era um homem bastante ambicioso e
almejava mais do que se inserir, se fixar e crescer no clube político, cuja
entrada era restrita a poucos, sobretudo, por meio do patronato. b) As crônicas
fizeram parte dessa estratégia, pelo próprio conteúdo, onde ele podia falar de
forma livre sobre vários assuntos, combinando o leve e o sério, para expor sua
opinião. c) Paranhos nas crônicas utiliza um discurso eminentemente nacional,
marcado pela sua formação técnica, que visava o crescimento do Brasil, como
forma de estratégia, pois o Jornal do Commercio, como principal folha
conservadora da época, seguramente era lido pelos principais políticos. d) A
mudança de partido político, do Liberal para o Conservador, no momento de
sua entrada no Jornal do Commercio, fez parte da estratégia para a fixação de
Paranhos no jogo político do momento, já que o Partido Conservador era a
principal força política de seu tempo.
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TRAJETÓRIA E ASCENSÃO SOCIAL DE JOSÉ MARIA DA SILVA