A Arquivologia como campo de
pesquisa:
desafios e perspectivas
José Maria Jardim
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
A indissociabilidade entre
ensino/produção/difusão do conhecimento
A distinção entre pesquisa em Arquivos (cientistas
sociais de maneira geral) e pesquisa em
Arquivologia (arquivistas indagam sobre as
diversas dimensões do fenômeno arquivística)
Alterações no cenário arquivístico internacional *
Novos modos de produção, conservação e uso dos documentos
arquivísticos em novas configurações organizacionais, científicas,
tecnológicas, políticas e culturais.
O conceito de “lugar” - ao menos de lugar físico - torna-se menos
epicêntrico na gestão dos arquivos.
Novas concepções sobre documento arquivístico
Novos contextos informacionais, marcados fortemente pelas TIC
A produção do conhecimento arquivístico passa a ser uma
tarefa também das universidades, relativizando o domínio
quase absoluto, ao longo de décadas, das instituições
arquivísticas como espaços de produção e legitimação do
conhecimento na área.
A pesquisa em Arquivologia se faz necessária para além das
motivações mais imediatas de gestão arquivística. *
A construção de agendas de pesquisa em Arquivologia
leva-nos discutir epistemologicamente o próprio campo,
seus objetos, seus métodos, seu universo empírico,
empírico até
porque esses objetos, métodos e universo empírico
encontram-se em transformação.
A vocação interdisciplinar da Arquivologia:
distintas visões
• A Arquivologia com um campo autônomo, com bases consolidadas
e, de certa forma, ciência auxiliar da História
• A Arquivologia como uma disciplina que constitui uma subárea da
Ciência da Informação (uma visão que ganha espaço especialmente
no Brasil, sem sequer maior veiculação internacional)
• A Arquivologia com uma disciplina científica em permanente
construção, dotada de autonomia, porém exercida (ou
potencialmente) exercida em diversos aspectos mediante relações
interdisciplinares com a História, a Administração, a Ciência da
Informação, a Biblioteconomia, a Museologia, a Sociologia, etc.
Essa é hoje a minha perspectiva.
A pesquisa científica *
O objeto da Arquivologia*
Getty Images
loiresafe.com
Os campos de pesquisa
Gracy (1994)
Os campos de pesquisa devem ser limitados: “objeto e finalidade da
Arquivologia, papel social do arquivista, situação da disciplina no campo
de conhecimentos, princípios e conceitos arquivísticos, gestão de serviços
de arquivos, funções arquivísticas, tecnologias e outros.“ Gracy destaca
em especial os documentos digitais.
Pederson (1994)
“1) Natureza da informação e dos documentos históricos 2) História social e
institucional 3) Arquivos e sociedade; 4) Ética, tecnologias da informação
e outros problemas colocados aos arquivos; 5) Funções arquivísticas; 6)
Gestão de programas e serviços de arquivos.”
Os campos de pesquisa da Arquivologia –
Couture Ducharme (1999)
Demandas de investigação num
cenário ibero-americano
Existe uma arquivística ibero-americana ? *
Fonte izquierdahispanica.wordpress.com
Possibilidades de uma
Arquivística Comparada Ibero-americana
• as estruturas arquivísticas nacionais: instituições arquivísticas
nacionais, regionais e locais;
• os serviços arquivísticos governamentais e privados;
• a legislação arquivística: sua concepção e níveis de
aplicabilidade;
• as políticas públicas arquivísticas;
• A formação profissional, o estatuto da profissão de arquivista
e suas práticas;
• A visão da sociedade sobre os arquivos e os arquivistas
Em torno de uma agenda de pesquisa
O perfil da atividade arquivística
•
Quais os profissionais que atuam no desenvolvimento de práticas
arquivísticas? Quantos têm formação universitária específica em
Arquivologia? Em quais universidades?
•
Qual tipo de formação contínua esses profissionais desenvolvem?
Quantos possuem pós-graduação lato sensu e stricto sensu? Em quais
áreas? Quais são suas fontes de informação profissional?
•
Qual a distribuição regional dessa comunidade profissional? Quais as
faixas salariais? Qual o gênero? Qual a idade? Quantos atuam no setor
público? Quantos atuam no setor privado? Que relações mantêm com as
associações profissionais?
Usos e usuários da informação arquivística
•
•
•
•
•
Quem são os usos e usuários dos
arquivos?
Como se estruturam esses usos
em diversos contextos? Qual o
grau de satisfação dos usuários
com os arquivos?
Quais as demandas dos usuários
em relação aos arquivos?
Quais as alterações no
atendimento ao usuário com o
acesso a informações
arquivísticas na internet?
Quem é o arquivista de referência
hoje?
•
Quais as características da relação
arquivistas-usuários em variados
contextos institucionais?
•
Quais os usuários potenciais, porém
não atendidos pelos arquivos? Por
que e como tal situação ocorre?
•
Quais as ações desenvolvidas pelos
arquivos públicos, associações
profissionais e universidades para
ampliar o uso social dos arquivos?
•
Quais os obstáculos e aspecto
favoráveis ao uso social dos arquivos?
•
O uso das redes sociais pelos arquivos
e vice-versa.
Gestão de serviços e instituições arquivísticas
Padrões de governança, estruturas organizacionais, grau de autonomia financeira,
gestão de pessoas, tecnologia, conservação, respaldo legal, infra-estrutura física,
tecnológica e humana, programas arquivísticos, etc
Arquivos privados
Tipologias, enquadramento legal, padrões de gestão arquivística, mecanismos de
acesso e divulgação, relações com políticas públicas, etc
Preservação
Planejamento e políticas, reformatação de acervos, documentos “convencionais”,
documentos digitais, degradação de suportes, impactos e alternativas à
obsolescência tecnológica, digitalização, etc
Documentos digitais
Produção, gestão, autenticidade, classificação, acessibilidade, avaliação,
transferência, recolhimento, preservação, etc
Normalização: quadro atual de normatividade, uso das normas, seu
impacto e perspectivas futuras.
Políticas arquivísticas: elaboração, formulação e avaliação de políticas
arquivísticas: métodos, atores, obstáculos e elementos
facilitadores. Entrecruzamento com outras políticas públicas no
campo da informação.
Percepção social dos arquivos, da Arquivologia e dos arquivistas
Como são visualizados os arquivos e os arquivistas pela sociedade?
Quais as ações desenvolvidas pelos arquivos públicos, associações
profissionais e universidades para ampliar a percepção social dos
arquivos, da Arquivologia e dos arquivistas?
Associativismo
Quantas são, como estão distribuídas regionalmente e
como funcionam as associações profissionais da
área?
Quantos são os associados?
Qual o perfil dos associados e dos quadros dirigentes?
Quais a atividades desenvolvidas?
Produção e difusão de conhecimento arquivístico
Qual é a produção de conhecimento arquivístico da universidade e das
instituições arquivísticas? Quais os temas mais pesquisados? Quais
os mecanismos de difusão desse conhecimento?
Quais são a quantidade e o universo temático de trabalhos finais de
graduação, dissertações, teses, anais de congressos, artigos de
periódicos, livros, etc.?
Qual a atuação das agências governamentais de apoio à pesquisa em
relação à produção de conhecimento arquivístico?
Docência e docentes em Arquivologia
Quantos são? Desde quando atuam na docência? Quantos
possuem graduação em Arquivologia ou em outras áreas?
Quantos possuem pós-graduação? Em quais áreas? Quais
as experiências prévias no campo dos arquivos? Qual a
distribuição regional dessa comunidade profissional? Quais
as faixas salariais? Qual o gênero? Qual a idade? Quais as
linhas de pesquisa?
Quais os temas arquivísticos com maior ou menor incidência
de professores? Como e em quais unidades acadêmicas se
inserem os cursos de Arquivologia? Qual a relação
acadêmica desses cursos de Arquivologia com cursos de
Biblioteconomia, História, Administração, etc.?
Prospecção
(construção de cenários e identificação de tendências com base em pesquisas)
Como desenharmos hoje nossos programas de gerenciamento arquivístico,
considerando as tendências emergentes e o cenário arquivístico atual?
Quais as perspectivas concretas de ampliação da formação de
arquivistas em níveis de graduação e pós-graduação?
Quais as tendências na pesquisa na área?
Quais as tendências do associativismo?
Quais as tendências na forma pela qual os arquivos são visualizados pela
sociedade?
Considerações finais
• a construção de agendas de pesquisa (e as práticas daí
decorrentes) é uma tarefa da universidade, mas pode e deve
envolver diálogos com as instituições e serviços arquivísticos
• o insulamento da universidade e das instituições arquivísticas
pode ser extremamente nocivo à pesquisa em Arquivologia
• a qualidade da formação básica e de pós-graduação em
Arquivologia
• a configuração e a qualidade científica dos nossos congressos e
revistas
• ausência da produção arquivística em bases de dados referenciais
Sugestões
• Mecanismos de indução a projetos de
pesquisa envolvendo instituições
arquivísticas e universidade iberoamericanas
• Construção de um periódico com padrões
científicos
• Atores: ALA, instituições arquivísticas,
associações profissionais e universidades
íbero-americanas
http://www.reparq.arquivistica.org/
http://reparq2011.blogspot.com/
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