Literatura paraibana além-mar Políbio Alves lança livro de contos em Lisboa Linaldo Guedes [email protected] A Literatura paraibana está descobrindo Portugal. E isso acontece graças ao talento do escritor Políbio Alves. No próximo dia 14 de maio, às 18h30, ele lança na Biblioteca Camões, em Lisboa, a segunda edição do seu livro de contos “Os ratos amestrados fazem acrobacias ao amanhecer”, obra vencedora do Prêmio Literário Augusto dos Anjos, da Fundação Espaço Cultural (Funesc). Políbio Alves disse à reportagem de A União que o convite para lançar a obra em Portugal foi algo inusitado. “Não esperava, tampouco estava nos meus planos imediatos de escritor e poeta. Na verdade, um encontro inesperado, agora em 2015, na Livraria do Luiz, com o fotógrafo João Lobo foi o começo de tudo”. Em Lisboa, João Lobo enviou um e-mail a Políbio comunicando da possibilidade do lançamento do seu livro “Os ratos amestrados fazem acrobacias ao amanhecer”, em terras lusitanas. Os contatos foram inúmeros. Um deles, resultou bastante favorável. A apresentação do autor e do livro no lançamento será do programador cultural da Biblioteca Camões, Lhitales Soares, e de Bruna Lobo, pesquisadora e curadora de Artes. Na ocasião do lançamento, haverá, também, a exibição de um documentário sobre a obra de Políbio Alves. O documentário faz parte do Projeto Memória: Autor Vivo, de Ricardo Peixoto, fotógrafo, e Molina Ribeiro, jornalista e também da Academia de Letras de Campina Grande. No vídeo, há depoimentos das seguintes pessoas: Roselis Batista Ralle, professora da Université de Raims Champagne – Ardenne, França; Elizabeth Marinheiro, professora da UFPB, crítica literária; Carlos Alberto Azevedo, escritor; William Costa, jornalista; Carlos Aranha, jornalista, poeta, compositor; Oliveira de Panelas, poeta repentista; José Mário da Silva, professor da UEPB, crítico literário e membro da Academia Paraibana de Letras; Milton Marques Júnior, professor da UFPB e crítico literário; Linaldo Guedes, poeta e jornalista. A propósito, a obra de Políbio Alves desperta cada vez mais interesse no exterior, além de ser motivo de estudo. “Varadouro”, seu livro de poesias, foi considerado, em seminário na Universidade de Poitiers, França, o percursor do novo épico, segundo informa Políbio. Já “O que resta dos mortos”, teve sua estrutura textual e linguagem elogiada pela teoria literária, na opinião de intelectuais italianos. Ele diz que esse reconhecimento começou em 1994, quando a professora Elizabeth Marinheiro indicou seu texto para um Congresso Internacional de Literatura em Lisboa. Na ocasião, Lisboa foi escolhida capital cultural da Europa. O evento em si agregava mais de 400 doutores e pós doutores de literatura da América Latina, Estados Unidos, Europa e Países Africanos, além de Portugal, claro. Nesse evento participaram, também, os professores e doutores Milton Marques Junior e Sonia van Dijck, da UFPB. A partir desse evento, começaram os convites. Como da Casa de las Américas, em Cuba, onde o livro “Varadouro” faz parte do seu acervo cultural. Foi quando começou o seu contato com a Ilha de Fidel. Em 1996, foi convidado para integrar a ala dos escritores estrangeiros com a finalidade de homenagear o funeral de Ernesto Che Guevara. Dois anos depois, em 1998, os seus livros “O que resta dos mortos”, contos e “Varadouro”, poesia, foram traduzidos para o espanhol e publicados em Cuba. Em seguida, no mesmo ano, foi premiado em Trento, Itália, como escritor do ano, pelo conjunto da obra. Alguns anos depois, quando o “Correio das Artes” instituiu um prêmio literário, foi vencedor em dois anos consecutivos: melhor escritor e melhor livro do ano. Estava presente na solenidade da entrega dos prêmios na Casa José Américo de Almeida, o saudoso jornalista Oduvaldo Batista, acompanhado de sua filha Roselis Batista Ralle, nascida em São Paulo, cidadã francesa, professora e crítica literária da Université de Raims Champagne – Ardenne – França. “Durante sua passagem em João Pessoa, Oduvaldo mostrou o meu livro “O que resta dos mortos”. Foi a partir dessa leitura que a professora Roselis passou a se interessar pela minha poesia e ficção. Atualmente ela concluiu a tradução para o francês do meu livro “O que resta dos mortos”, que será publicado ainda este ano pela Université de Raims Champagne – Ardenne, França”. Sobre o livro “Os ratos amestrados fazem acrobacias ao amanhecer” Políbio esclarece que a obra é, antes de tudo, um texto instigante. “Demolidor de consciências, dizem”, afirma. Segundo ele, o livro memoriza um país tropical. “Em uma de suas províncias, a população é considerada pela ONU, nada exemplar. Vejamos então, um povo sem identidade, memória e cidadania. Os habitantes são considerados deveras perigosos: vigaristas, estupradores, vagabundos, pistoleiros, evangélicos, cartomantes, videntes, prostitutas, malfeitores, loucos-hospícios, garotos de programa, loucos-beleza, drogados, velhos palhações e crianças assassinas, políticos sem nenhuma ética e padres que não obedecem aos cânones do Vaticano”. E Políbio assim define sua forma de ver a Literatura; “Continuo a espantar o leitor. Nunca me preocupei em criar um texto convincente. Como autor, estou mais engajado em expor as diferenças de nós mesmos. Claro, essas, que não são tão aconchegantes”. (Matéria publicada no jornal A União, em 14 de março de 2015)