LUCIENE YUKARI MORITA
INTER-RELAÇÃO DA PERIODONTIA COM A ORTODONTIA:
REVISÃO DE LITERATURA
Londrina
2014
LUCIENE YUKARI MORITA
INTER-RELAÇÃO DA PERIODONTIA COM A ORTODONTIA:
REVISÃO DE LITERATURA
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado ao Departamento de Medicina
Oral e Odontologia Infantil da Universidade
Estadual de Londrina, como requisito à
obtenção do título de Cirurgiã-Dentista.
Orientadora: Profª. Dra. Fernanda Akemi
Nakanishi Ito
Londrina
2014
LUCIENE YUKARI MORITA
INTER-RELAÇÃO DA PERIODONTIA COM A ORTODONTIA:
REVISÃO DE LITERATURA
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado ao Departamento de Medicina
Oral e Odontologia Infantil da Universidade
Estadual de Londrina, como requisito à
obtenção do título de Cirurgiã- Dentista.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Profª. Dra. Fernanda Akemi Nakanishi Ito
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Profª. Ms. Maria Beatriz Bergonse Pereira
Pedriali
Universidade Estadual de Londrina - UEL
Londrina, 14 de Novembro de 2014.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus, pela força concedida nesta
jornada, por esta conquista realizada, e por tudo ainda que ele irá ajudar em minha
vida.
A minha família, pelo amor e apoio incondicional para que eu
pudesse concluir mais esta importante etapa, e em especial ao meu avô Kaoru
Ishikawa (in memorian), que com certeza foi uma das pessoas que mais torceu e
sempre desejou que esse dia chegasse, obrigada meu avô, saudades eternas, “Na
continuidade da vida o exemplo de um grande Homem”.
A minha querida orientadora, que dedicou o seu precioso tempo e o
seu conhecimento para a realização desse trabalho. Agradeço não só pela
constante orientação neste trabalho, mas, sobretudo pela sua amizade.
Aos meus colegas de graduação que tornaram esse tempo de
convivência mais alegres e agradáveis.
Aos professores pelo apoio e valiosos conhecimentos passados a
mim no decorrer do curso.
Aos funcionários pela simpatia, dedicação e pelo trabalho prestado.
Aos pacientes, pela essencial cooperação em nosso aprendizado.
A todos, os meus sinceros agradecimentos.
Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem metas, os sonhos não têm alicerces. Sem
prioridade, os sonhos não se tornam reais. Sonhe, trace metas, estabeleça
prioridade e corra riscos para executar seus sonhos. Melhor é errar por tentar do que
errar por se omitir! Não tenhas medo dos tropeços da jornada. Não podemos
esquecer que nós, ainda que incompleto, fomos o maior aventureiro da história.
Augusto Cury
MORITA, Luciene Yukari. Inter-relação da periodontia com a ortodontia: revisão
de literatura. 2014. 35 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014.
RESUMO
A reabilitação oral do paciente muitas vezes necessita de uma inter-relação entre
várias especialidades para permitir uma melhora nas condições da saúde bucal.
Hoje, a procura cada vez maior de pacientes adultos para tratamento ortodôntico
torna a Periodontia e a Ortodontia duas áreas com relação muito estreita no intuito
de oferecer melhores resultados no tratamento odontológico do paciente, através de
benefícios advindos da atuação combinada dessas duas especialidades. Sendo
assim, o objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre algumas
questões relacionadas à inter-relação entre Periodontia e Ortodontia, mostrando
temas como o conceito de doença periodontal, as implicações que o tratamento
ortodôntico pode causar no periodonto como recessão gengival e aumento gengival
e quando se pode tratar o paciente comprometido periodontalmente. Conclui-se que
o tratamento ortodôntico somente poderá ser iniciado após efetivo controle da
doença periodontal e na ausência de inflamação, estabelecendo um programa
efetivo de manutenção da saúde dos tecidos, assegurando mínimos danos aos
mesmos durante a terapia ortodôntica. O tratamento é benéfico ao indivíduo e seus
riscos estão associados à falta de controle efetivo do biofilme bacteriano, assim
como a movimentação ortodôntica na presença de doença periodontal ativa. Apesar
das limitações encontradas, quando o tratamento ortodôntico é bem planejado e
executado, muitos benefícios podem ser alcançados, capazes de melhorar a
autoestima do paciente, sua higienização oral e estabelecer uma oclusão fisiológica,
proporcionando maior longevidade aos dentes mesmo comprometidos
periodontalmente.
Palavras-chave:
gengival.
Doença
periodontal.
Movimentação
ortodôntica.
Recessão
MORITA, Luciene Yukari. Interrelationship of periodontics to orthodontics:
literature review. 2014. 35 f. Completion of course work (Undergraduate Dentistry) State University of Londrina, Londrina, 2014.
ABSTRACT
Oral rehabilitation of the patient often requires an inter-relationship between many
specialties to allow an improvement in oral health conditions. Today, the growing
demand of adult patients for orthodontic treatment become the Periodontics and
Orthodontics two areas very closely, in order to better results in the patient`s dental
treatment, through the benefits provided by the collaborative work of both specialties.
Therefore, the aim of this work was a literature review on some issues related to the
interrelationship between Periodontics and Orthodontics, themes showing how the
concept of periodontal disease, the implications that orthodontic treatment can cause
the periodontal tissue and gingival increase gingival recession and when it can treat
periodontally compromised patient. It was concluded that orthodontic treatment can
only be initiated after effective control of periodontal disease and in the absence of
inflammation, establishing an effective program for health maintenance and assuring
minimal tissue damage during the orthodontic therapy. The treatment is beneficial to
the patient and risks are associated with the lack of effective control of the bacterial
biofilm as well as the orthodontic movement in the presence of active periodontal
disease. Despite the limitations encountered when orthodontic treatment is well
planned and executed, many benefits can be achieved, able to improve the selfesteem of the patient, oral hygiene and establish a physiologic occlusion, providing
greater longevity to periodontally compromised teeth even.
Key words: Periodontal disease. Orthodontic movement. Gingival recession.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Aumento gengival ................................................................................... 16
Figura 2 – Recessões gengivais severas ................................................................. 20
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO .......................................................................................... 9
2
DESENVOLVIMENTO .............................................................................. 11
2.1
DOENÇA PERIODONTAL ................................................................................ 11
2.2
AVALIAÇÃO PERIODONTAL PARA O TRATAMENTO ORTODÔNTICO ..................... 13
2.3
AUMENTO GENGIVAL .................................................................................... 15
2.4
RECESSÃO GENGIVAL .................................................................................. 16
2.5
MOVIMENTO ORTODÔNTICO EM PACIENTES COM PERIODONTO REDUZIDO ...... 20
3
DISCUSSÃO ............................................................................................ 26
4
CONCLUSÃO .......................................................................................... 29
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 30
9
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, com o aumento da expectativa de vida e o poder de
compra, juntamente com as mudanças dos conceitos em estética, resultou no
aumento do número de adultos que procuram por tratamento ortodôntico,
combinando benefícios funcionais deste para a estética do sorriso. Devido a essas
mudanças, agora, é parte da rotina clínica dos ortodontistas tratar pacientes e lidar
com indivíduos com doença periodontal ou seqüelas desta doença (ALVES, 2012),
pois a incidência só aumenta com a idade.
Muitas destas sequelas podem ser atribuídas ao acúmulo de biofilme
devido à dificuldade de manutenção de higiene bucal adequada na presença de
bandas e brackets. Consequentemente, o controle de biofilme inadequado pode
promover alterações periodontais, que podem ser agravadas pelo tratamento
ortodôntico (MAIA et al., 2011).
A Periodontia e a Ortodontia se inter-relacionam procurando
favorecer os resultados no tratamento odontológico. A Periodontia propicia ao
tratamento ortodôntico um ambiente mais favorável à movimentação dentária,
prevenindo danos teciduais. Por sua vez, a Ortodontia atua como coadjuvante da
terapia periodontal, através da melhora da posição de dentes mal posicionados,
criando então um ambiente melhor para higienização bucal e consequentemente
para a saúde gengival e do aparato de inserção óssea. (MORAIS, 2008).
O tratamento ortodôntico é baseado na aplicação de uma força em
um dente, que irá produzir o movimento dentário, à medida que ocorre remodelação
das estruturas adjacentes. Dessa forma, nota-se que uma estrutura periodontal
sadia é extremamente importante para a movimentação dentária, para que se
obtenham resultados satisfatórios (CARRARO; JIMENEZ-PELLEGRIN, 2009).
As doenças periodontais estão entre as doenças crônicas mais
comuns nos seres humanos, afetando de 5 a 30% da população adulta de 25 a 75
anos de idade, sendo a causa mais frequente de perdas dentárias em adultos. Sabese também que na presença da doença periodontal a saúde geral pode ficar
comprometida (CURY et al., 2003). Existem evidências de que as periodontites
aumentam o risco de certas afecções sistêmicas, entre elas, algumas doenças
cardíacas (PRESSMAN et al., 2013), parto prematuro e baixo peso ao nascer
(RODRIGUES et al., 2004). Dessa forma, a prevenção e o tratamento da doença
10
periodontal devem ser necessários e fundamentais não apenas para a manutenção
da saúde do periodonto, mas também para evitar problemas de ordem geral (CURY
et al., 2003).
Sabe-se que após a remoção dos acessórios ortodônticos há
expressiva melhora na saúde gengival, ocorrendo uma redução na profundidade de
bolsa, o que sugere que as alterações periodontais têm caráter transitório, sem
danos permanentes aos tecidos (SALLUM et al., 2004). Porém em alguns casos,
embora o quadro inflamatório regrida após a terapia periodontal básica com a
remoção do aparato ortodôntico e a orientação de higiene bucal, o aumento gengival
pode persistir, comprometendo a estética e dificultando a higiene bucal (PEDRON et
al., 2008).
Para que a inter-relação entre a Periodontia e a Ortodontia seja
efetiva e traga resultados satisfatórios, é fundamental que o profissional realize um
bom exame clínico e uma boa anamnese no paciente que será submetido ao
tratamento ortodôntico/periodontal. Além disso, durante o transcorrer da correção
ortodôntica adequados padrões de higiene bucal devem ser mantidos. Dessa
maneira, avaliações do estado periodontal devem ser feitas no pré, no trans e após
a terapia ortodôntica (ONG; WANG; SMITH, 1998).
O tratamento ortodôntico pode contribuir significativamente para a
reabilitação geral (estética e funcional) do sistema estomatognático (ONG; WANG;
2002). E o plano de tratamento final deve ser individualizada e adaptada para
atender às necessidades, objetivos e expectativas do paciente em particular
(SPEAR; KOKICH; MATHEWS, 2006).
Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi revisar a literatura acerca
das principais questões relacionadas à inter-relação entre a Periodontia e a
Ortodontia combinando problemas clínicos periodontais junto com a Ortodontia e
abordar de forma resumida as informações básicas que podem ser usadas para
melhorar o plano de tratamento.
11
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 DOENÇA PERIODONTAL
A doença periodontal representa um dos grandes problemas de
saúde pública, pela sua incidência relativamente alta, até mesmo nos países
desenvolvidos. É considerada a doença crônica que mais afeta a dentição humana;
é a segunda afecção mais prevalente na cavidade bucal (BASTOS et al., 2011).
Para entender o que é a doença periodontal, é preciso saber o que
é o periodonto. O periodonto se divide em periodonto de proteção e de sustentação,
sendo o primeiro composto pela gengiva (gengiva marginal livre, inserida e
interdentária) e o segundo, pelo cemento, ligamento periodontal e osso alveolar. O
periodonto pode se apresentar de duas formas: saudável (ausência de sinais
clínicos inflamatórios) ou doente (presença de sinais clínicos inflamatórios).
A doença periodontal é uma doença infecto-inflamatória que
acomete os tecidos de proteção e de sustentação. Ela se manifesta através de dois
quadros clínicos: gengivite, periodontite (MARIN et al., 2012) ou da combinação de
ambas.
A gengivite é a inflamação do periodonto marginal, desencadeada
pelo acúmulo de biofilme supragengival (BOYD; BAUMRIND, 1992), e a periodontite
é a inflamação do periodonto de sustentação desencadeada pelo acúmulo de
biofilme subgengival (LINDHE, 1992).
Um dos primeiros sinais da doença periodontal começa com uma
gengivite e a persistência desta, fará com que a placa bacteriana subgengival
ganhe uma composição mais complexa, com a colonização secundária por
bactérias Gram-negativas anaeróbias, o que contribuirá para aumentar sua
patogenicidade. Assim, e também conforme as respostas imunológicas do
hospedeiro, podem se iniciar as variadas formas de periodontite (LINDHE, 1999).
Uma das primeiras alterações clínicas causadas pela periodontite é a perda de
sustentação dos tecidos periodontais que suportam e protegem o elemento dental
com formação da bolsa. Com a superfície dentária livre do epitélio protetor, ocorre
acúmulo de placa bacteriana e destruição dos tecidos pela proliferação de
microrganismos patogênicos (NANCI; BOSSHARDT, 2006).
12
A doença periodontal grave afeta estruturas mais profundas,
causando reabsorção das fibras colágenas do ligamento periodontal, reabsorção do
osso alveolar, abscessos, aumento da profundidade das bolsas, maior mobilidade
dentária e perda de dentes (SCANNAPIECO, 2004), agravando a estética e a
função dentária do paciente. O comprometimento estético é o principal fator de
preocupação pelo qual o paciente procura por tratamento ortodôntico (HARFIN,
1999). Essas alterações podem contribuir para o desenvolvimento das más
oclusões, pois, com a diminuição do nível de inserção periodontal, o centro de
resistência dos dentes afetados desloca-se apicalmente, resultando em um
desequilíbrio da posição dentária. Isto leva a uma oclusão traumática que, se
associada à placa bacteriana, pode aumentar a destruição periodontal, e, portanto,
o tratamento ortodôntico neste caso estaria indicado. (BULGARELLI; FERREIRA,
2002).
A doença periodontal é uma infecção polimicrobiana multifatorial,
sendo considerada a manifestação patológica da resposta do hospedeiro contra o
desafio bacteriano do biofilme na interface dente/gengiva (SANZ, 2011). Evidências
atuais tem sugerido que é a resposta inflamatória e imune do hospedeiro, e não
uma bactéria específica ou seus fatores de virulência, que determinará o
desenvolvimento e a progressão da periodontite (BARTOLD, 2013), sendo ainda
influenciada por fatores de risco sistêmicos, ambientais e genéticos (KORNMAN,
2008).
De acordo com Lindhe (1992), o tratamento da doença periodontal
inclui a eliminação da placa e os fatores de retenção da mesma, bem como o
estabelecimento de uma morfologia na região dentogengival que facilite a
higienização dos dentes pelo próprio paciente. Bolsas gengivais profundas devem
ser eliminadas, e as superfícies radiculares devidamente polidas antes do início do
tratamento ortodôntico.
Zachrisson (1999) afirmou que o tratamento realizado pelo dentista
consiste na eliminação das placas bacterianas e cálculos através de raspagem e
alisamento radicular supra e subgengival e instrução de higiene bucal para controle
de placa bacteriana, prevenindo a recolonização dos microrganismos.
Segundo Masiero (2005), uma vez tratada a doença periodontal, os
tecidos não se recuperam integralmente, podendo ficar seqüelas, com exceção das
gengivites. A doença periodontal pode deixar como seqüela, alterações estéticas
13
como: deslocamento na posição do dente, recessão marginal tecidual com
conseqüente aumento no comprimento do dente.
Para Nascimento et al. (2001), existem vários métodos e técnicas
para o tratamento da doença periodontal. A escolha do melhor tratamento depende
da habilidade e experiência de cada profissional. No entanto, seja qual for a opção,
é necessário fazer o paciente entender a doença e aderir ao tratamento proposto.
Assim, modificar o comportamento do paciente é, muitas vezes, o maior desafio
para o cirurgião-dentista.
2.2 AVALIAÇÃO PERIODONTAL PARA O TRATAMENTO ORTODÔNTICO
De acordo com Zachrisson (1999) antes de se iniciar o tratamento
ortodôntico, os tecidos periodontais devem ser estabilizados com a criação de um
periodonto saudável, livre de doença inflamatória ativa.
Em decorrência da crescente demanda de pacientes adultos em
busca de tratamento ortodôntico corretivo, torna-se evidente a necessidade do
ortodontista em incluir, na consulta inicial, um exame das estruturas periodontais,
para que seja possível diagnosticar a doença e, nesse caso, encaminhar o paciente
a um periodontista. O encaminhamento é feito com o objetivo de obter um
diagnóstico mais detalhado do caso e também para que o paciente apresente um
periodonto saudável antes de iniciar a terapia ortodôntica (MENEZES et al., 2003).
Uma avaliação periodontal deve incluir um exame clínico com
verificação da aparência do tecido gengival (cor, textura e grau de plasticidade,
edema), índice de placa bacteriana, sondagem de todas as superfícies de cada
dente (profundidade de sulco, nível clínico de inserção, nível de sangramento e
supuração), anormalidade mucogengival (perda de gengiva inserida, inserção de
freio anormal), mobilidade dentária, grau de recessão gengival, higiene bucal, uma
avaliação da oclusão, além de um exame radiográfico (periapical de todos os
dentes, panorâmica e interproximais). Isto deve permitir a identificação de pacientes
que necessitam de alguma forma de intervenção ou cuidados periodontais
preventivos antes do tratamento ortodôntico (SANDERS, 1999).
Fatores de risco que possam indicar uma maior tendência de
desenvolvimento de doença periodontal e que devem ser determinados mediante
uma avaliação individual, permitindo desenvolver estratégias para a prevenção da
14
perda de inserção e a recessão gengival. Alguns dos fatores de risco são: stress
psicológico, fatores relacionados ao estilo de vida (dieta, álcool e fumo), deficiência
do sistema imunológico, presença de bactéria específica, gênero (a doença atinge
mais
mulheres),
diabetes
mellitus,
osteoporose,
alterações
de
leucócitos
polimorfonucleares e idade (ROCHA et al., 2005).
Segundo Lindhe (1992), quando o periodontista confirma a suspeita
inicial do ortodontista, com relação à presença de doença, inicia o tratamento
realizando a eliminação do biofilme e dos fatores de retenção do mesmo, a
eliminação de bolsas gengivais profundas e o polimento das superfícies radiculares.
Algumas
áreas
podem
necessitar
de
tratamento
cirúrgico
periodontal antes de iniciar o tratamento ortodôntico Um exemplo disso são as
áreas com quantidade reduzida de gengiva inserida, as quais devem ser analisadas
antes da colocação do aparelho ortodôntico, evitando assim que aumente a
recessão gengival durante a mecanoterapia (LEITE, 1994).
Quando a doença periodontal é tratada sem cirurgia, uma redução
significante da inflamação gengival e do sangramento a sondagem é esperada após
2 a 4 semanas (isto em bolsas menores que 4mm). A resolução de bolsas
profundas (maiores que 6mm) torna-se mais longa, de 4 a 6 meses. Deve-se
esperar então este tempo para iniciar o tratamento ortodôntico, permitindo que
ocorra a cura dos tecidos periodontais e o estabelecimento de uma boa higiene
bucal (JOHAL; IDE, 1999). Uma avaliação da oclusão também deve ser realizada
antes da instalação do aparelho e as interferências oclusais devem ser controladas
durante a fase ativa do tratamento ortodôntico (WAGENBERG, 1988).
O plano de tratamento ortodôntico deve ser revisto e adiado na falta
de resposta do tratamento periodontal, como desconforto, persistência de
profundidade de bolsa, persistência do sangramento e supuração na sondagem,
aumento de recessão, mobilidade e perda de dente. Estes pacientes não são
candidatos a receber o tratamento ortodôntico (JOHAL E IDE, 1999).
O objetivo da manutenção periodontal durante o tratamento
ortodôntico é eliminar ou reduzir o acúmulo de placa bacteriana e a inflamação,
prevenindo o reaparecimento de áreas ativas da doença periodontal, reforçando a
higiene bucal e executando nova instrumentação quando necessário.
Durante as consultas do tratamento ortodôntico, os pacientes
devem ser motivados para remoção de placa bacteriana. Neste sentido é válida a
15
adoção de diversas medidas, como instrução de técnica de escovação bucal
associada ao uso de escovas especiais, o uso de fio dental com passa fio e
emprego de agentes químicos, como a clorexidina tópica, com finalidade de ajudar
no controle da placa bacteriana. Visitas de manutenção periodontal devem ser
realizadas a cada 2 a 3 meses, durante o tratamento ortodôntico, com raspagem
subgengival para manter tecido gengival saudável. Devem ser feitos exames
radiográficos em intervalos pré-determinados, durante o período do tratamento
ortodôntico, para assegurar a descoberta precoce de problemas, e para interceptar
efeitos colaterais indesejados.
Se os esforços para manter uma condição de higiene de excelente
a boa não tiverem êxito, o tratamento ortodôntico deve ser interrompido (ROCHA et
al., 2005).
2.3 AUMENTO GENGIVAL
O aumento gengival é uma condição que normalmente se
desenvolve durante o tratamento ortodôntico (BENOIST et al., 2007). Isso porque,
os aparelhos ortodônticos facilitam a retenção de biofilme e dificultam a
higienização oral pelo paciente. O aumento gengival (hiperplasia gengival) que
acomete pacientes ortodônticos caracteriza-se, geralmente, por crescimento de
tecido gengival generalizado ou localizado, iniciando-se pelas papilas interdentárias,
às quais adquirem consistência flácida e coloração eritematosa. Tais sinais são
compatíveis com o quadro de gengivite induzida por acúmulo de biofilme bacteriano
(KAMIN, 1991).
Além da inflamação induzida pelo acúmulo de biofilme, essa
manifestação pode estar associada também com resposta inflamatória induzida
pela corrosão dos aparelhos ortodônticos, principalmente pelo níquel. (GURSOY et
al., 2007). Armini et al. (2008) relataram não haver diferença na concentração de
cromo e cobalto nas células da mucosa oral de paciente com ou sem aparelhos
fixos. No entanto, uma concentração significativamente maior de níquel foi
encontrada. Nesse caso, o aumento gengival apresenta uma aparência gengival
fibrosa e espessa, sem tendência ao sangramento, diferente da gengiva frágil com
margem gengival avermelhada que é vista em lesões gengivais inflamatórias
(ZACHRISSON; ZACHRISSON, 1972) decorrentes da presença de cálculo e
16
biofilme
dentais.
Histologicamente
observa-se
uma
proliferação
epitelial
proeminente, suportada pelo aumento das fibras colágenas (GURSOY et al., 2007).
Os aumentos gengivais são tratados por meio da associação entre
a remoção do aparato ortodôntico, orientação de higiene bucal e terapia periodontal
básica. Entretanto em alguns casos, embora o quadro inflamatório regrida após a
terapia periodontal básica, o aumento gengival pode persistir, comprometendo a
estética e dificultando a higiene bucal. Nesses casos, tratamento periodontal
cirúrgico pode ser indicado, visando a remoção do tecido hiperplasiado e o
restabelecimento do contorno gengival anatômico (KAMIN, 1991; PEDRON et al.,
2008; KOURAKI et al., 2005). A intervenção cirúrgica no tratamento de aumento
gengival crônico associado a aparelho ortodôntico apresenta resultados previsíveis
e estáveis, desde que uma boa higiene bucal seja mantida e um programa de
manutenção adequado seja instituído (MAIA et al., 2011). (Figura 1) C e D.
Figura 1 – Aumento gengival: A e B) inicial, C e D) após gengivoplastia e gengivectomia.
Fonte: Maia et al., 2011.
2.4 RECESSÃO GENGIVAL
A recessão gengival figura como um dos principais problemas que
acomete os pacientes. Diversos fatores estão associados a sua etiologia, como
trauma de escovação inserção anômala de freios e bridas, mau posicionamento
dentário, restaurações impróprias e adaptação protética inadequada (LOE,
ANERUD E BOYSEN, 1992).
17
Além dessas causas, mais um possível fator predisponente para a
recessão gengival é a movimentação ortodôntica dos dentes, especialmente em
movimentos dentários vestibular ou lingual para fora do alvéolo, que podem levar à
formação de deiscências ósseas (JOSS-VASSALLI et al., 2010).
Para Zachrisson (1996), alterações na dimensão mucogengival
podem ocorrer durante o tratamento ortodôntico. No entanto, ao contrário do que
acreditava-se no passado, essas mudanças são independentes da extensão
apicocoronal da gengiva inserida e queratinizada. A integridade do periodonto pode
ser mantida durante a terapia ortodôntica mesmo em áreas que tenham uma zona
mínima de gengiva queratinizada. Em termos de mudanças na posição da margem
do tecido mole e nas dimensões gengivais, os fatores importantes a serem levados
em consideração são a direção do movimento dentário e a espessura
vestibulolingual da gengiva.
Essa hipótese foi corroborada em um estudo realizado em
macacos, no qual os autores não encontraram relação entre a extensão
apicocoronal inicial da gengiva queratinizada e a tendência ao desenvolvimento da
recessão gengival durante movimentação dentária ortodôntica (JOSS-VASSALLI et
al., 2010). Por outro lado, a presença do biofilme associada a um processo
inflamatório e a espessura vestibulolingual do tecido gengival reduzida caracteriza
os possíveis fatores determinantes para o desenvolvimento de recessão gengival e
perda de inserção durante o tratamento ortodôntico.
Lindhe (1999) afirmou que o movimento dentário ortodôntico por si
só não causa a recessão gengival. Entretanto, o movimento ortodôntico vestibular
dos dentes pode resultar em deiscência óssea favorecendo a diminuição tanto da
espessura como da largura do tecido gengival, criando um ambiente em que a placa
bacteriana e/ou o trauma pela escovação possam causar a recessão gengival. Por
outro lado, se o tecido gengival permanecer espesso, esta alteração mucogengival
raramente se estabelece.
As forças ortodônticas produzindo movimentos de corpo e de
inclinação dos dentes fora do alvéolo, dentro das circunstâncias citadas
anteriormente resultam em recessão gengival (BREZNIAK; BEN-YEHUDA;
SHAPIRA, 1993) (Figura 2). Contudo, os movimentos de lingualização e mesmo os
de retrusão dentária, reposicionando o dente no interior do alvéolo, não alteram
18
como podem aumentar a largura de gengiva queratinizada e a sua capacidade
funcional (MORIARTY, 1996).
Alguns estudos sugerem que, independente da direção da
movimentação ortodôntica, a presença de tecido gengival delgado pode atuar como
um local de mínima resistência para o desenvolvimento de defeitos no tecido mole.
Isso significa que, nessas regiões, o paciente deve ser orientado a realizar um
controle adequado do biofilme bacteriano, porém, sem ocasionar um trauma
mecânico no local (JOSS-VASSALLI et al., 2010).
Segundo Sanders (1999), a avaliação clínica da condição
periodontal do paciente a ser submetido ao tratamento ortodôntico deve ser
realizada por uma íntima colaboração entre o ortodontista e o periodontista,
estabelecendo um efetivo programa de manutenção periodontal e assegurar danos
mínimos aos tecidos durante a terapia ortodôntica. Analisa-se o aspecto do tecido
(cor, textura, forma e grau de plasticidade), a severidade de inflamação
(sangramento na sondagem e espontâneo, presença de supuração) e as mudanças
condizentes ao nível de inserção dos tecidos moles (recessão gengival,
profundidade da bolsa periodontal e nível de inserção).
A quantidade de gengiva inserida deve ser analisada antes da
colocação ao aparelho ortodôntico evitando que aumente a recessão gengival
durante a mecânica (LEITE, 1994).
De acordo com Nahás et al. (2000), existem atualmente duas
filosofias de tratamento na prevenção e manuseio das recessões gengivais
presentes em casos ortodônticos:
• Tratamento conservativo - Os escandinavos alegam que se houver
um controle rigoroso e adequado da placa bacteriana, fornecido
por um programa profilático, associado à ausência de trauma por
escovação, a quantidade de gengiva queratinizada não é
necessariamente um fator importante na prevenção da recessão
gengival (MCCOMB, 1994).
• Cirurgia mucogengival - Os americanos abordam uma terapia mais
radical ao problema. Uma vez que o controle da placa bacteriana é
supercrítico durante o tratamento ortodôntico e que a presença
dos aparelhos utilizados dificultam esse controle, desenvolveram-
19
se os procedimentos cirúrgicos visando a estabelecer ou aumentar
a gengiva inserida (SEELY, 1993).
A cirurgia mucogengival consiste em aumentar a quantidade de
gengiva por meio de procedimentos de enxerto gengival anterior ao início da terapia
ortodôntica. Isto baseia-se na crença da facilidade e previsibilidade do enxerto antes
da perda de inserção do que reparar um defeito após o seu desenvolvimento
(PRATO; CLAUSER; CORTELLINI, 1995). O procedimento cirúrgico mucogengival
de escolha é o enxerto gengival autógeno livre (LEITE, 1994), ou dependendo do
caso realiza-se enxertos de tecido conjuntivo para o recobrimento radicular
formando gengiva inserida (NAHÁS et al., 2000).
Segundo Lindhe (1999), o tratamento cirúrgico de escolha a ser
realizado dependerá da classificação de Miller dos defeitos de recessão:
• Classe I: Recessão do tecido marginal que não se estende até a
junção mucogengival. Não há perda de osso ou de tecido mole
interdentais.
• Classe II: Recessão do tecido marginal se estendendo até ou além
da mucogengival. Não há perda de osso ou de tecido molde
interdentais.
• Classe III: Recessão do tecido mole se estendendo até ou além da
junção mucogengival. A perda de osso ou tecido mole interdentais
é apical em relação à junção cemento-esmalte, porém coronária à
extensão apical da recessão do tecido marginal.
• Classe IV: Recessão do tecido marginal se estendendo além da
junção mucogengival. A perda de osso interdental se estende até
um nível apical em relação à extensão da recessão do tecido
marginal.
O resultado com sucesso do tratamento ortodôntico a longo ou a
curto prazo será influenciado pela condição periodontal do paciente antes, durante e
após o período ativo (MANSCHOT, 1991). O controle da placa bacteriana e a
ausência de inflamações gengivais, bem como as cirurgias de aumento de tecido
gengival reagem primariamente o prognóstico completo dos casos ortodonticamente
tratados (NAHÁS et al., 2000).
20
Figura 2 – Recessões gengivais severas.
Fonte: Nahás et al., 2000
2.5 MOVIMENTO ORTODÔNTICO EM PACIENTES COM PERIODONTO REDUZIDO
Diversos estudos têm sido realizados no intuito de avaliar se a
movimentação ortodôntica pode ter efeitos deletérios sobre os tecidos periodontais.
Em geral, os resultados observados mostram que, desde que a saúde periodontal e
um padrão de higiene oral adequados sejam mantidos durante a fase da terapia
ortodôntica, nenhuma injúria ou apenas injúrias insignificantes nos tecidos de
suporte irão ocorrer (BOYD et al., 1989). Entretanto, se a higiene oral é menos
efetiva e a inflamação periodontal está presente durante o tratamento ortodôntico,
os estudos têm indicado um risco aumentado de efeitos adversos no periodonto
(WENNSTROM et al., 1993).
Os estudos têm mostrado que em dentições com periodonto
reduzido, na ausência de biofilme, a movimentação ortodôntica não induz a
gengivite. Entretanto, na presença de biofilme, forças ortodônticas podem causar
defeitos ósseos angulares e perdas de inserção periodontal (ERICSSON et al.,
1977). O fator mais importante no início, progressão e recorrência da doença
periodontal no periodonto reduzido, é a presença do biofilme bacteriano. Os estudos
têm demostrado que com o controle de placa, dentes com periodonto reduzido
podem ser submetidos com sucesso à terapia ortodôntica sem ocasionar um
comprometimento das estruturas periodontais (ELIASSON et al., 1982).
Em uma avaliação clínica longitudinal, 20 pacientes adultos e 20
adolescentes foram monitorados quanto à condição periodontal durante todo o
tratamento ortodôntico (BOYD et al., 1989). Dentre os pacientes adultos, dez
apresentavam saúde periodontal e dez receberam diagnóstico de periodontite
crônica generalizada, sendo que para esse segundo grupo, o tratamento periodontal
foi realizado previamente ao início do tratamento ortodôntico. Adicionalmente, todos
21
os pacientes foram submetidos a um programa de manutenção periodontal em
intervalos de três meses durante o tratamento ortodôntico. Ao final do estudo, os
autores mostraram que: a) o controle de placa pelos pacientes adultos foi mais
eficiente especialmente nas fases mais avançadas do tratamento ortodôntico; b) em
relação à perda de suporte periodontal, a movimentação dentária em adultos com
periodonto reduzido, porém sadio, não resultou em significativa perda de inserção
(nenhum dos adultos teve perda de inserção adicional de mais de 0,3 mm); c)
pacientes com periodonto reduzido, mas sadio, poderiam receber tratamento
ortodôntico após controle da doença periodontal e mediante acompanhamento da
higienização realizado pelo paciente, e de revisão trimestral das condições
periodontais.
Menezes et al. (2003), ressaltaram algumas considerações com
relação à movimentação dentária nesses pacientes com periodonto reduzido:
1. As forças ortodônticas mantidas dentro de limites biológicos não
causam inflamação gengival em regiões dentárias com tecido
periodontal de suporte reduzido, mas não inflamado;
2. O controle do índice de biofilme é fundamental, uma vez que o
fator mais importante na determinação, início, progressão e
recorrência da doença periodontal é a presença do biofilme
microbiano no sulco gengival;
3. A movimentação ortodôntica não resulta em perda de inserção
significativa em pacientes com periodonto reduzido, mas em
dentes sem saúde periodontal pode ocorrer progressão da perda
de inserção, abscessos e até a inviabilidade de permanência na
cavidade bucal;
4. Procedimentos de verticalização de molares podem ser
realizados em situações de colapsos de furca nos pacientes com
periodontite moderada, desde que forças leves intrusivas sejam
aplicadas e o periodonto esteja livre de inflamação;
5. Forças de extrusão devem ser cuidadosamente controladas para
prevenir a destruição do ligamento periodontal;
6. Forças de intrusão devem ser realizadas sob rigoroso controle de
biofilme para não deslocá-lo de uma localização supragengival
22
para uma posição subgengival, predispondo a uma periodontite e
ao surgimento de um defeito ósseo vertical;
7. Dentes com giroversões são mais suscetíveis a sofrerem
recessão gengival, por isso é importante o controle da mecânica
ortodôntica, bem como do biofilme bacteriano;
8. O movimento dentário ortodôntico não tem efeito nos níveis de
inserção
tecidual
conjuntiva
quando
dentes
são
movidos
ortodonticamente em direção e através da área original do defeito
ósseo;
9. A cooperação com relação à higiene oral é crítica para minimizar
perda
adicional
de
suporte
ósseo
periodontal
durante
o
alinhamento de dentes que migraram patologicamente;
10. Dentes com altura normal de suporte periodontal podem ser
movidos ortodonticamente para uma área de altura óssea
marcadamente reduzida com manutenção da altura das estruturas
de suporte.
Alguns ensaios pré-clínicos foram realizados com o intuito de avaliar
a resposta do tecido conjuntivo periodontal durante a movimentação ortodôntica de
dentes com bolsas infraósseas e inflamação periodontal ativa. Os resultados desses
estudos mostraram que quando os dentes eram movimentados em direção ao
defeito ósseo angular, a taxa de perda de inserção periodontal poderia aumentar.
Contudo, nos casos onde a inflamação periodontal foi controlada anteriormente à
movimentação ortodôntica, nenhuma perda adicional de inserção conjuntiva foi
observada. Em pacientes que possuíam bolsas infraósseas com processo
inflamatório ativo, as observações clínica e radiográfica revelaram que, a
movimentação ortodôntica em direção às bolsas periodontais infraósseas não se
mostrou prejudicial quanto à perda de inserção conjuntiva nos elementos dentais
periodontalmente tratados antes do início da terapia ortodôntica (THILANDER,
1996).
Bassani, Silva e Caphapcz (2001), relataram que seqüelas de
periodontite, como mudanças de posição, migrações, extrusões, inclinações e
mesmo perdas dentárias, podem beneficiar-se da Ortodontia como coadjuvante da
terapia periodontal. Entretanto, deve-se estar atento, sempre, ao equilíbrio do
23
processo saúde-doença e às conseqüências da movimentação dentária induzida
através da utilização de aparelhos ortodônticos. Também observaram que:
1. O plano global de tratamento para um paciente portador de
doença
periodontal
avançada
envolve,
quase
sempre,
realinhamento ortodôntico dos dentes, a fim de restabelecer
satisfatoriamente a oclusão, a estética e o conforto na mastigação.
2. Mudanças favoráveis do ponto de vista clínico, radiográfico e
histológico podem surgir nos tecidos de suporte como resultado da
extrusão ortodôntica, como em alguns casos de invasão do
espaço biológico.
3. O aumento da largura de gengiva queratinizada pode ocorrer em
alguns
dentes
durante
o
curso
da
terapia
ortodôntica,
especialmente em incisivos inferiores, quando os mesmos são
movimentados para lingual.
4. O movimento dentário ortodôntico é um fator estimulador da
aposição óssea.
5. A intrusão favorece a reinserção de fibras do ligamento
periodontal às superfícies radiculares previamente contaminadas.
6. A verticalização de molares em regiões de defeitos ósseos
contribui para restauração do plano oclusal normal, reduz a
profundidade dos defeitos periodontais e promove mudanças
altamente favoráveis na arquitetura gengival.
O movimento de intrusão ortodôntica de dentes tem sido
recomendado para a diminuição da coroa clínica de dentes isoladamente e para o
tratamento de dentes com bolsas infra-ósseas ou perda óssea horizontal. Por meio
da intrusão ortodôntica obtém-se nivelamento das margens gengivais até a posição
desejada, para que posteriormente o dente seja restaurado. Já no periodonto
comprometido com sequelas da doença periodontal, estudos utilizando movimento
ortodôntico intrusivo para realinhar incisivos centrais superiores extruídos em
pacientes com doença periodontal avançada e defeitos infraósseos, mostraram
significante redução na profundidade de sondagem e ganho no nível clínico de
inserção. Corrente et al. (2003) relataram ainda uma redução dos defeitos ósseos
em ambas as dimensões radiológicas, horizontal e vertical. O ganho de inserção
clínica excedeu a redução na profundidade de sondagem, com uma diminuição da
24
retração gengival provavelmente associada com o movimento intrusivo. Em todos
os estudos, o tratamento ortodôntico foi iniciado após terapia periodontal básica e
cirurgia a retalho para raspagem.
Zachrisson (2005), afirmaram que a extrusão ortodôntica pode ser
indicada para diminuir defeitos infra-ósseos e aumentar o tamanho da coroa clínica
de um dente isolado. Segundo os autores, o movimento de extrusão dentária leva a
um posicionamento coronário do tecido conjuntivo de inserção intacto e os defeitos
ósseos se tornam mais rasos.
A indicação para o tratamento ortodôntico varia conforme a opinião
do profissional. É essencial diferenciar a Ortodontia como uma alternativa de
tratamento e a Ortodontia como componente do tratamento, sem a qual o resultado
estaria seriamente comprometido (MELSEN; AGERBAEK, 1994).
Existe um consenso entre os autores pesquisados de que se deve
iniciar a movimentação ortodôntica somente após o controle da doença periodontal,
caso contrário, o processo da doença periodontal será acelerado, mesmo com boas
condições de higiene bucal, acelerando-se, assim, a perda de inserção. Até mesmo
pacientes com condição periodontal satisfatória podem sofrer perdas dentárias se
não realizarem a manutenção da higiene bucal durante o tratamento ortodôntico
(VANARSDALL JUNIOR, 2002).
O tratamento ortodôntico deve ser iniciado na ausência total de
inflamação e com um nível adequado de higiene bucal. O cuidado constante
durante o tratamento é a base de um resultado favorável, sendo assim, a terapia
periodontal deve ser realizada antes da movimentação ortodôntica.
O tratamento ortodôntico em indivíduos com periodonto reduzido
pode ter como objetivo corrigir a má oclusão de forma ampla, melhorando a estética
dentofacial e a função do sistema estomatognático, alcançando uma oclusão
normal. Quando isto não for possível, o planejamento será somente a
movimentação dentária para melhorar um aspecto particular da oclusão, para
permitir uma abordagem multidisciplinar necessária ao controle da doença e
restauração da função oclusal (JOHAL; IDE, 1999).
Não existem parâmetros que definam a máxima profundidade de
bolsa periodontal ou de perda de inserção, na qual seja possível realizar a
movimentação ortodôntica. Os trabalhos pesquisados demonstraram que um
adequado conhecimento ortodôntico e periodontal, por parte do profissional, deva
25
sempre existir na avaliação da relação da quantidade de suporte ósseo
remanescente e do movimento a ser realizado (CARRARO; JIMENEZ-PELLEGRIN,
2009).
Um
planejamento
ortodôntico
inadequado
e
executado
em
pacientes com doença periodontal ativa pode certamente contribuir para o futuro
colapso dos tecidos periodontais. Em particular, a associação de inflamação com
forças ortodônticas e trauma oclusal pode produzir uma destruição mais rápida
comparada à provocada pelo processo inflamatório isoladamente (KESSLER,
1976). Desta maneira, a saúde periodontal constitui-se um dos fatores fundamentais
para garantir um bom prognóstico do tratamento ortodôntico em longo prazo,
permitindo, até mesmo, a realização de movimentação dentária extensa em
pacientes adultos com periodonto reduzido, porém sadio (ZACHRISSON, 1996).
Clinicamente, isso implica em grande ênfase nas instruções de higiene oral, terapia
periodontal de suporte realizada pelo periodontista durante o tratamento ortodôntico
e um correto planejamento do aparelho ortodôntico a ser instalado (BARBOSA et
al., 2012).
26
3 DISCUSSÃO
De acordo com o que foi descrito nessa revisão de literatura, a
questão do movimento ortodôntico ter ou não ter efeitos prejudiciais sobre os tecidos
periodontais foi avaliado em diversos estudos. Estes estudos revelaram que a
instalação de aparelhos ortodônticos fixos aumenta a possibilidade de acúmulo de
biofilme, principalmente, nos dentes posteriores bandados, podendo provocar
alterações adversas nos tecidos periodontais. Estas alterações, em grande parte dos
casos, são temporárias e reversíveis, desde que os princípios biológicos da
movimentação ortodôntica sejam respeitados, bem como o controle de biofilme seja
executado de forma adequada pelo paciente, por meio de boas técnicas de higiene
bucal (PÉRET; PACHECO, 1998).
Menezes; Quintão e Sampaio, (1999), concordaram com o citado
acima, afirmando que quando a higiene oral durante o tratamento é boa, pouco ou
nenhum dano é causado ao periodonto. A longo prazo, o tratamento é benéfico aos
tecidos periodontais devido à melhora que permite em relação à higiene e função.
Porém, quando a higiene durante o tratamento ortodôntico é pobre, um dano mais
definido ocorre. Inicia-se um processo destrutivo irreversível dos tecidos periodontais.
Proffit (2002) relatou que no exame clinico inicial deveria incluir uma
avaliação periodontal completa e qualquer doença periodontal em estado ativo
deveria ser tratada antes de entrar no tratamento ortodôntico.
Concordando plenamente no que diz respeito ao início do tratamento
ortodôntico com plena saúde periodontal podem-se citar vários autores como Harfin,
(2000); Zachrisson.(1999); Melsen, (1991); Lindhe,.(1999); Carranza, (1997); Janson
e Ferreira (1997) e outros neste critério todos os autores pesquisados são unânimes,
ortodontia somente em pacientes com periodonto saudável, mesmo que reduzidos.
Após a instalação de aparelhos ortodônticos é muito comum a
ocorrência de inflamação gengival, indicada pela presença de sangramento à
sondagem
e aumento gengival, devido
principalmente, às dificuldades
de
higienização frente ao novo aparato instalado intraoralmente. Assim, quando o
paciente se adapta e adquire novos hábitos de higiene bucal, muitas vezes ocorre
uma regressão do quadro inflamatório, o que foi observado em muitos estudos
(RISTIC et al., 2007).
27
Mesmo apresentando caráter reversível, a inflamação gengival
observada em pacientes durante o tratamento ortodôntico pode ocasionar um
aumento gengival, de caráter inflamatório (KOURAKI et al., 2005) ou por alergia de
contato (GURSOY et al., 2007), que não regride apenas com tratamento periodontal
básico, sendo necessária intervenção cirúrgica através de técnicas de gengivoplastia
e gengivectomia, as quais apresentam resultados estáveis.
No que diz respeito às recessões gengivais e ao tratamento
ortodôntico, muito se discute ainda na literatura sobre a influência da quantidade de
gengiva queratinizada no desenvolvimento dessas alterações. Alguns autores
afirmam que a altura da gengiva inserida é a responsável pelas mudanças na
dimensão
mucogengival
que
podem
ocorrer
com
a
terapia
ortodôntica
(WENNSTROM, 1990). Por outro lado, alguns estudos têm mostrado que essas
alterações no tecido gengival independem da quantidade de gengiva queratinizada,
devendo ser levadas em consideração como fator de risco para possível ocorrência
de recessão gengival durante o tratamento ortodôntico, a direção do movimento
dentário e a espessura do tecido gengival (ZACHRISSON, 1996).
Segundo Nahás et al. (2000), existem duas filosofias de tratamento
na prevenção e manuseio das recessões gengivais: um tratamento conservador
defendido pelos escandinavos, alegando que se houver um controle rigoroso e
adequado de placa bacteriana associado à ausência de trauma por escovação, a
quantidade de gengiva queratinizada não é um fator importante na prevenção da
recessão gengival. A segunda forma de tratamento seria a cirurgia, defendida pelos
americanos, onde procedimentos cirúrgicos são feitos visando a estabelecer aumento
da gengiva inserida antes do início da terapia ortodôntica.
Mathews e Kokich (1997), argumentaram que se alguma área
apresentar recessão ou quantidade de gengiva inadequada, menos que 2 mm de
gengiva inserida, os procedimentos cirúrgicos, como enxerto gengival, podem ser
feitos antes ou durante a terapia ortodôntica. Prato; Baccetti; Giogetti, (2000),
relataram que uma determinada quantidade de tecido queratinizada é necessária
para realizar movimentação ortodôntica. Esses autores defendem a realização de
cirurgia mucogengival antes do reposicionamento do dente pelo movimento
ortodôntico.
Janson (2005), afirmou que se houverem recessões, mas estas
estiverem relacionadas com o mau posicionamento dentário que será corrigido, ou
28
estiverem margeadas por gengiva inserida, o risco de aumentá-las é pequeno. Então,
segundo Nahás et al. (2000), antes de indicar a cirurgia mucogengival deve-se avaliar
o tipo de movimento que o dente irá realizar.
Com relação ao tratamento em pacientes com periodonto reduzido,
ficou demonstrado que a movimentação ortodôntica nesses pacientes somente será
benéfica na ausência de doença periodontal ativa e desde que exista um controle de
placa bacteriana adequado, respeitando-se os limites biológicos do individuo. O
tratamento ortodôntico não é contra-indicado quando executado em conjunto com o
periodontista. Contudo, um maior risco de efeitos adversos, sobre o periodonto, pode
ser esperado quando movimentos ortodônticos são executados de maneira
indiscriminada, na presença de inflamação periodontal e higiene bucal menos efetiva
(FRANÇA, 2001).
Os autores Santos e Tibério (2005), concordam que o tratamento
ortodôntico de pacientes adultos deve utilizar uma abordagem direcionada para
eliminar a queixa do paciente e estabelecer uma relação oclusal fisiológica. Pois o
ideal ortodôntico nem sempre é possível de ser atingido em adultos com periodonto
de sustentação reduzido, uma vez que esses indivíduos já possuem limitações
biológicas antes mesmo do início da movimentação dentária e que a manutenção dos
resultados obtidos é mais efetiva com a utilização de aparelhos de contenção
permanentes e com a manutenção da boa condição de saúde periodontal.
De acordo com Lupi, Haldeman e Sadowsky (1996) o tratamento
ortodôntico não confere melhor condição periodontal a longo prazo, sem que o
paciente mantenha uma terapia periodontal de suporte adequada. Para Janson
(2005) é possível alterar os níveis ósseos e gengivais positivamente. Boyer et al.
(2011) considera que o tratamento ortodôntico não é prejudicial ao periodonto e não
traz perdas ósseas significativas. Maia et al. (2011) acredita que a ortodontia bem
planejada é capaz de diminuir defeitos ósseos causados por problemas periodontais.
Sendo assim, diante do exposto, vale ressaltar a importância da
conscientização e da motivação do paciente submetido ao tratamento ortodôntico
quanto ao controle do biofilme bacteriano, a fim de obter um resultado satisfatório do
tratamento, sem prejuízo aos tecidos periodontais (BARBOSA et al., 2012).
29
4 CONCLUSÃO
Com base na revisão apresentada, é possível concluir que o
tratamento ortodôntico em pacientes que apresentam problemas periodontais, pode
e deve ser realizado. Sempre lembrando que os tecidos periondontais estejam
saudáveis e que haja um controle com um periodontista antes, durante e após o
tratamento ortodôntico, assim a movimentação dentária pode ser realizada sem
comprometer os tecidos periodontais. Quando bem planejado e executado traz
inúmeros benefícios aos pacientes e aumentam a longevidade desses dentes.
Para se obter um diagnóstico correto, o primeiro passo a ser
realizado é uma anamnese, anotando a queixa principal e o estado global de saúde
do paciente. O próximo passo é verificar o estado de saúde bucal, realizando com
isso um diagnóstico preciso da condição periodontal atual do paciente, através de
um exame clínico e radiográfico.
O profissional deve sempre estar atento aos níveis de inserção
óssea, e a presença de sangramento gengival não deve existir durante todo
tratamento ortodôntico. Portanto, a colaboração do paciente com a higienização oral
é indispensável.
Os ganhos estéticos e funcionais trazidos por um tratamento
ortodôntico bem executado melhoram muito a oclusão e autoestima dos pacientes,
e devem ser mantidos com o uso de contenção fixa e com uma terapia periodontal
de suporte bem realizada.
30
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