XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL FILOGENIA MOLECULAR E TAXONOMIA DE FUSCOPORIA MURRILL (FUNGI, BASIDIOMYCOTA) Nelson Correia de Lima Júnior1; Carla Rejane Sousa de Lira2; Elaine Malosso3; Tatiana Baptista Gibertoni3; Leonor Costa Maia3 1Doutorando/PPG-Ciências Biológicas CCB/UFPE; 2Doutoranda/PPG-Biologia de Fungos CCB/UFPE; 3Docente/pesquisador Deptº de Micologia CCB/UFPE. INTRODUÇÃO Fuscoporia Murrill é um gênero bem delimitado em Hymenochaetaceae (Fungi, Basidiomycota) e possui vasta distribuição geográfica (Kirk 2008). No entanto, algumas espécies apresentam ampla variação morfológica e são consideradas complexos taxonômicos. Wagner & Fischer (2001, 2002) comprovaram que Fuscoporia trata-se de um grupo monofilético, porém nenhum táxon neotropical foi incluído nessa análise. Recentemente, Insumran et al. (2012) ao estudar táxons asiáticos apontaram que Fuscoporia inclui espécies crípticas cujas diferenciações só podem ser observadas a partir de análises baseadas em sequências de DNA. Nesse tipo de abordagem, destacam-se as regiões do DNA ribossomal (Wagner & Fischer 2001, 2002; Insumran et al. 2012). No entanto, estudos moleculares baseados em Fuscoporia coletados no Brasil inexistem, sendo, portanto, fundamental que esse tipo de abordagem seja realizado em conjunto com a taxonomia clássica para a correta compreensão dos conceitos de espécies para a região. OBJETIVO O presente trabalho teve como objetivo analisar as relações filogenéticas a partir de sequências das regiões ITS e LSU (rDNA) de Fuscoporia originários de diferentes áreas do Brasil em combinação com a taxonomia clássica, a fim de elucidar possíveis táxons complexos do ponto de vista morfológico e permitir melhor compreensão do limite existente entre as espécies analisadas. METODOLOGIA Foram utilizados 27 espécimes de Fuscoporia que representam quatro espécies coletados em diferentes localidades do Brasil, sendo 13 de F. callimorpha (Lév.) Groposo, Log.-Leite & Góes-Neto (dois da Estação Ecológica de Cuniã, Porto Velho, RO; quatro do Parque Estadual Mata do Pau-Ferro, Areia, PB; um da Floresta Nacional de Caxuanã, Melgaço, PA; dois da Mata do Estado, São Vicente Férrer, PE; dois da RPPN Frei Caneca, Jaqueira, PE; um do Parque Estadual de Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ; e um do PARNA de Brasília, Brasília, DF), quatro de F. gilva (Schwein.) Wagner & Fischer (três da Serra das Confusões, Caracol, PI; e um do PARNA Tijuca, Rio de Janeiro, RJ), nove de F. paracallimorpha Lima-Júnior & Gibertoni sp. nov. (quatro do Sítio do Carro Quebrado, Triunfo, PE; dois do Crato, CE; um da Serra das Confusões, Caracol, PI; um da Mata do Estado, São Vicente Férrer, PE; e um da Serra da Jibóia, Santa Terezinha, BA) e um de F. wahlbergii (Fr.) Wagner & Fischer (Serra da Jibóia, Santa Terezinha, BA). Essas amostras foram utilizadas para extração de DNA, amplificação via PCR das regiões ITS e LSU (rDNA) e sequenciamento de acordo com Lima-Júnior et al. (2014). As sequências obtidas foram utilizadas para a busca de sequências similares depositadas no GenBank/NCBI, sendo assim adicionadas ao estudo 48 sequências ITS e 30 da região LSU. Em seguida, foram construídas árvores filogenéticas (método de máxima parcimônia, verossimilhança e inferência bayesiana) por região (ITS e LSU), além de uma análise concatenada (sequências ITS+LSU). 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir das reconstruções filogenéticas pode-se observar que Fuscoporia trata-se de um grupo monofilético com moderado/alto suporte estatístico. Estes resultados estão de acordo com Wagner & Fischer (2001, 2002) que, no entanto, não utilizaram dados neotropicais. Observou-se ainda a delimitação filogenética de quatro espécies para o Brasil (F. callimorpha, F. gilva, F. paracallimorpha e F. wahlbergii), todas distintas das demais espécies cujas sequências foram recuperadas do GenBank/NCBI. Fuscoporia wahlbergii diferencia-se da demais espécies estudadas pela presença de setas himeniais em forma de gancho (Ryvarden 2004). Uma espécie nova somente identificada com base em dados moleculares é proposta no presente estudo: F. paracallimorpha Lima-Júnior & Gibertoni sp. nov. Esta espécie que pode ser endêmica de matas de altitudes mais elevadas (entre 550m e 1200m) é macro-micromorfologicamente idêntica a F. callimorpha. Observou-se ainda que F. gilva possui caracteres macro-microscópicos muito similares a F. callimorpha e F. paracallimorpha, exceto em relação ao padrão de zonação da superfície abhimenial (píleo fortemente zonado em F. callimorpha e F. paracallimorpha). Historicamente, a não utilização do grau de zonação nas identificações fez com que vários espécimes de F. callimorpha fossem identificados como F. gilva (Vlasák et al. 2011; Insumran et al. 2012). Este estudo trata-se da primeira abordagem filogenética de Fuscoporia baseado em táxons neotropicais. Desse modo, é fundamental que abordagens moleculares sejam utilizadas em conjunto com a taxonomia clássica para permitir que a real diversidade em Fuscoporia seja catalogada. CONCLUSÕES No presente estudo, foi possível a delimitação morfológica e/ou filogenética de quatro espécies de Fuscoporia para o Brasil, incluindo uma espécie nova. Evidencia-se ainda que o padrão de zonação deve ser usado como um caracter taxonômico relevante para separar, pelo menos, F. gilva de F. callimorpha/F. paracallimorpha. (Esta pesquisa foi financiada pelo CNPq: Protax 562106/2010-3 e 562330/2010-0, Sisbiota 563342/2010-2 e PPBio Semi-Árido 558317/2009-0). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Kirk, P.M.; Cannon, P.F.; Minter, D.W.; Stalpers, J.A. 2008. Dictionary of the Fungi. 10º Ed, CAB International. Insumran, Y.; Klinhom, U.; Pramual, P. 2012. Variability of internal transcribed spacer ribosomal DNA sequences of Fuscoporia gilva and Fuscoporia sp. in Thailand. Czech Mycology 64(1): 55–64. Lima-Júnior, N.C.; Gibertoni, T.B.; Malosso, E. 2014. Delimitation of some neotropical laccate Ganoderma (Ganodermataceae): molecular phylogeny and morphology. Rev. Biol. Trop 62 (3): 1197-1208. Vlasák, J.; Kout, J.; Vlasák Jr, J.; L. New records of polypores from southern Florida. Ryvarden, L. 2011. Mycotaxon 118: 159-176. Wagner, T. & Fischer, M. 2001. Natural groups and a revised system for the European poroid Hymenochaetales (Basidiomycota) supported by nLSU rDNA sequence data. Mycol Res 105:773–782. Wagner, T. & Fischer, M. 2002. Proceedings toward a natural classification of the worldwide taxa Phellinus s.l. and Inonotus s.l., and phylogenetic relationships of allied genera. Mycologia 94: 998-1016. 2