ANÁLISE DINÂMICA DE UM SISTEMA ROTOR-MANCAL UTILIZANDO LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA Leandro da Costa Silva Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientadores: Marcelo Amorim Savi Alberto Paiva Rio de Janeiro Junho de 2011 ANÁLISE DINÂMICA DE UM SISTEMA ROTOR-MANCAL UTILIZANDO LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA Leandro da Costa Silva DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA. Examinada por: RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL JUNHO DE 2011 Silva, Leandro da Costa Análise Dinâmica de um Sistema Rotor-Mancal utilizando Ligas com Memória de Forma/ Leandro da Costa Silva. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2011. XII, 62 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Marcelo Amorim Savi Alberto Paiva Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Mecânica, 2011. Referências Bibliográficas: p. 57-62. 1. Análise dinâmica não-linear. 2. Materiais com memória de forma. 3. Caos. I. Savi, Marcelo Amorim et al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Mecânica. III. Título. iii À Juliene e Bárbara, meus grandes amores. iv Agradecimentos Aos meus orientadores Marcelo Amorim Savi e Alberto Paiva pela confiança e paciência. Estas duas pessoas vivem a dinâmica não linear de uma maneira tão intensa que contagia todos os alunos em sua volta. Aos meus familiares que não me abandonaram nunca, mesmo quando o mau humor era insuportável, permaneceram do meu lado e me dando forças para continuar. Agradeço especialmente à Juliene pelo amor e companheirismo ao longo de todo este tempo e à sua interminável paciência e bondade, mesmo nos dias mais difíceis de dúvida e apreensão. Obrigado por estar ao meu lado e ter me dado o maior presente da minha vida. E obrigado a minha maior e melhor criação, pela alegria que transmite e que seu bom humor continue contagiando todos à sua volta. Bárbara eu te amo. v Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ANÁLISE DINÂMICA DE UM SISTEMA ROTOR-MANCAL UTILIZANDO LIGAS COM MEMORIA DE FORMA Leandro da Costa Silva Junho/2011 Orientadores: Marcelo Amorim Savi Alberto Paiva Programa: Engenharia Mecânica A aplicação de ligas com memória de forma tem se mostrado uma alternativa promissora no controle de vibração de máquinas rotativas e estruturas, principalmente devido ao seu comportamento histerético não-linear que confere uma característica adaptativa às estruturas inteligentes que empregam esta classe de materiais. As nãolinearidades apresentadas pelos sistemas dinâmicos com memória de forma podem produzir respostas muito complexas ou irregulares e, muitas vezes, caóticas que, na área de Engenharia Mecânica, são por vezes indesejadas. Desta forma, o estudo da dinâmica de sistemas não-lineares tem motivado pesquisas em diferentes áreas do conhecimento. Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho é modelar e simular numericamente o comportamento de um sistema rotor-mancal, utilizando técnicas de análise não-linear. Os resultados apresentados mostram que a utilização de elementos com memória de forma no mancal modifica drasticamente a dinâmica do conjunto, propiciando a possibilidade de atuação/controle sobre o sistema. vi Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) DYNAMIC ANALISYS OF A ROTOR-BEARING SYSTEM USING SHAPE MEMORY ALLOYS Leandro da Costa Silva June/2011 Advisors: Marcelo Amorim Savi Alberto Paiva Department: Mechanical Engineering The use of shape memory alloys has become a promising alternative for vibration control of rotating machinery and structures, mainly due to their nonlinear hysteretic behavior that propitiates an adaptive characteristic to intelligent structures employing this class of materials. The nonlinear features presented by the shape memory dynamical systems may result in a very complex or irregular response, sometimes even chaotic, which in the Mechanical Engineering field is usually undesirable. For all these reasons, the study of nonlinear dynamics has been motivating researchers in different knowledge areas. Within this context, the purpose of this work is to model and numerically simulate the dynamical behavior a rotor-bearing system, using nonlinear analysis techniques. The results presented herein show that the application of shape memory elements to the bearing drastically affects the overall dynamics, offering the possibility to actuate/control the system. vii Sumário 1. Introdução ............................................................................................................... 01 1.1 Ligas com memória de forma............................................................................... 04 1.2 Organização do trabalho ...................................................................................... 05 2. Modelagem matemática .......................................................................................... 07 2.1 Sistema rotor-mancal ........................................................................................ 07 2.2 Sistema rotor-mancal com memória de forma ................................................... 09 2.2.1 Modelo constitutivo..................................................................................... 10 2.2.2 Equações do movimento ............................................................................ 12 2.2.3 Procedimento numérico ............................................................................. 13 3. Verificação do modelo ............................................................................................ 15 3.1 Sistema rotor-mancal unidimensional................................................................ 15 3.2 Sistema rotor-mancal com suporte descontínuo ............................................... 18 3.2.1 Sistema rotor-mancal com suporte elástico ................................................ 18 3.2.2 Sistema rotor-mancal com suporte de SMA ............................................... 20 4. Sistema rotor-mancal com memória de forma......................................................... 23 4.1 Vibração Livre ................................................................................................... 24 4.2 Vibração Forçada .............................................................................................. 29 4.3 Efeito da assimetria tração-compressão ........................................................... 43 4.4 Efeito do amortecimento externo....................................................................... 49 5. Considerações Finais ............................................................................................. 54 6. Referências Bibliográficas....................................................................................... 57 viii Lista de Figuras Figura 1 – Modelo físico do sistema rotor-mancal. ........................................................ 8 Figura 2 – Sistema de coordenadas do sistema rotor-mancal....................................... 8 Figura 3 – Modelo físico do sistema rotor-mancal com SMA....................................... 10 Figura 4 – Modelo de um oscilador não-suave com rigidez descontínua. ................... 16 Figura 5 – Espaço de fase e seção de Poincaré para γ = −0,124m . .......................... 17 Figura 6 – Evolução no tempo para (a) deslocamento em x para movimento de período dois, (b) velocidade em x para movimento de período dois e (c) deslocamento em x para movimento caótico e (d) deslocamento em y para movimento caótico. ......................................................................................................... 19 Figura 7 – Órbitas do espaço de fase (a) periódico e (b) caótico. ............................... 20 Figura 8 – Evolução dos parâmetros β n (a) na direção x e (b) na direção y. .............. 21 Figura 9 – Força vs. deslocamento (a) na direção x e (b) na direção y. ...................... 21 Figura 10 – Evolução no tempo para deslocamento e velocidade............................... 21 Figura 11 – Órbitas do espaço de fase (a) periódico e (b) caótico. ............................. 22 Figura 12 - Evolução no tempo do deslocamento (a) direção horizontal e (b) direção vertical. ......................................................................................................... 25 Figura 13 - Diagrama força x deformação para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. ......................................................................................................... 25 Figura 14 - Órbitas do espaço de fase (a) x × x ' e (b) y × y' . ..................................... 26 Figura 15 - (a) Evolução no tempo do deslocamento na direção horizontal, (b) Detalhe da evolução no tempo do deslocamento na direção horizontal para 4900 ≤ t (s) ≤ 5000 , (c) Evolução no tempo do deslocamento na direção vertical e (d) Detalhe da evolução no tempo do deslocamento na direção vertical para 4900 ≤ t (s) ≤ 5000 . .................................................................. 27 Figura 16 – Diagrama força x deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. ......................................................................................................... 28 Figura 17 - Órbitas do espaço de fase (a) x × x ' e (b) y × y' . ..................................... 28 Figura 18 - Evolução no tempo do deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. ............................................................................................. 29 Figura 19 – Diagrama força x deslocamento do elemento de SMA para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. .................................................................... 30 Figura 20 - Evolução no tempo do deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. ............................................................................................. 30 ix Figura 21 – Evolução no tempo do deslocamento no período de tempo 4941 ≤ t (s) ≤ 4954 para (a) direção horizontal, (b) direção vertical, Diagrama força x deslocamento do elemento de SMA para (c) direção horizontal, (d) direção vertical e Evolução dos betas no tempo para (e) direção horizontal e (f) direção vertical.......................................................................................... 32 Figura 22 – Órbitas do espaço de fase (a) x × x ′ , (b) y × y' , (c) x × y e (d) R × R ' . .. 34 Figura 23 – Evolução no tempo do deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. ............................................................................................. 35 Figura 24 – (a) Evolução no tempo do R e (b) Órbitas do espaço de fase. ................. 36 Figura 25 – Diagrama força x deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. ......................................................................................................... 37 Figura 26 – (a) Evolução no tempo para a direção x (b) Órbitas do espaço de fase para y × y' . ................................................................................................... 38 Figura 27 – Órbitas do espaço de fase e seção de Poincaré para o sistema com elemento elástico (a) para x × x ' , (b) para x × y , (c) y × y' e (d) x '× y' . ....... 39 Figura 28 – Órbitas do espaço de fase e seção de Poincaré para o sistema com elemento elástico (a) para x × x ' , (b) para x × y , (c) y × y' e (d) x '× y' . ....... 40 Figura 29 – Evolução no tempo (a) do deslocamento horizontal, (b) da velocidade na direção horizontal, (c) do deslocamento vertical, (d) da velocidade na direção vertical, (e) do centro do rotor e (f) da velocidade do centro do rotor............. 41 Figura 30 – Espectro da frequência para (a) direção x do sistema elástico, (b) direção x do sistema com SMA, (c) direção y do sistema elástico e (d) direção y do sistema com SMA. ........................................................................................ 42 Figura 31 – Evolução no tempo para deslocamento (a) em x e (b) em y.................... 44 Figura 32 – Evolução no tempo para deslocamento no intervalo 4950 ≤ t (s) ≤ 5000 (a) em x e (b) em y. ....................................................................................... 45 Figura 33 – Diagrama força x deslocamento do elemento de SMA para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. .................................................................... 45 Figura 34 – Evolução no tempo para deslocamento (a) em x e (b) em y..................... 47 Figura 35 – Órbitas do espaço de fase para (a) x × x ' e (b) x × y . ............................. 47 Figura 36 – Órbitas do espaço de fase e seção de Poincaré para (a) x '× y' e (b) y × y' . ...................................................................................................................... 48 Figura 37 – Espectros de frequência para (a) Resposta simétrica na direção x (b) Resposta assimétrica na direção x, (c) Resposta simétrica na direção y e (d) Resposta assimétrica na direção y. ............................................................... 49 x Figura 38 – Evolução no tempo do deslocamento para (a) direção x e (b) direção y. . 50 Figura 39 – Espaço de fase para (a) x × x ' e (b) x × y utilizando c = 0,002 N.s / m . ... 51 Figura 40 – Espaço de fase e seção de Poincaré para (a) y × y' utilizando SMA e (b) y × y' utilizando elemento elástico utilizando c = 0,002 N.s / m . ................ 51 Figura 41 – Espectro de frequência utilizando c = 0,002 N.s / m para (a) direção x utilizando elemento elástico e (b) direção x utilizando elemento de SMA. ..... 52 Figura 42 – Evolução no tempo do deslocamento em x utilizando c = 0,05 N.s / m para (a) direção x considerando regime transiente e (b) direção x considerando regime permanente. ...................................................................................... 52 Figura 43 – Evolução no tempo do deslocamento em y utilizando c = 0,05 N.s / m para (a) direção x considerando regime transiente e (b) direção x considerando regime permanente. ...................................................................................... 53 xi Lista de tabelas Tabela 1 – Parâmetros do sistema rotor-mancal unidimensional. ............................... 15 Tabela 2 – Propriedades das SMAs segundo SANTOS & SAVI (2009). ..................... 16 Tabela 3 – Parâmetros do sistema rotor-mancal......................................................... 18 Tabela 4 – Dados geométricos do sistema rotor-mancal. ........................................... 23 Tabela 5 – Propriedades das SMAs............................................................................ 24 Tabela 6 – Parâmetros do sistema rotor-mancal......................................................... 37 Tabela 7 – Parâmetros do sistema rotor-mancal......................................................... 43 Tabela 8 – Propriedades das SMAs com assimetria. .................................................. 43 Tabela 9 – Dados geométricos e estruturais do elemento de SMA. ............................ 46 Tabela 10 – Parâmetros do sistema rotor-mancal....................................................... 46 xii 1. Introdução Nos últimos anos, a indústria brasileira vem sofrendo uma grande transformação no seu parque industrial onde a grande maioria das empresas vêm investindo na modernização de máquinas e equipamentos. Os sistemas mecânicos rotativos, constituídos basicamente de eixos, rotores e mancais se destacam como um dos principais equipamentos. As interações rotor-mancal em máquinas rotativas têm atraído muita atenção dos pesquisadores desde o famoso trabalho de JEFFCOTT (1919), que propôs um modelo que, apesar de simples, é capaz de capturar de maneira consistente o comportamento dinâmico de sistemas deste tipo. O desbalanceamento de máquinas rotativas pode ser gerado na fase de montagem ou de operação do sistema. SUDHAKAR & SEKHAR (2011) fizeram um estudo para identificar o desbalanceamento de um sistema rotor-mancal utilizando duas abordagens distintas: método da minimização das cargas equivalentes e método da minimização de vibração. A primeira calculava a diferença entre as cargas estimadas equivalentes e a carga teórica, enquanto a segunda utilizava um algoritmo “de quadras” para minimizar a diferença entre as respostas de vibração medida e calculada. Estas forças de desbalanceamento podem ter consequências indesejadas como a quebra ou a fissura dos componentes. Mesmo um componente inicialmente bem balanceado tende a se deteriorar ao longo de sua vida útil. As formas de desbalanceamento são as mais diversas sendo um dos principais objetivos do controle de vibrações nas máquinas rotativas evitar que estes desbalanceamentos ocorram. Dentro deste contexto, um tema de especial relevância diz respeito aos contatos indesejáveis entre as partes dinâmicas e estacionárias de uma máquina rotativa. O fenômeno de rubbing, devido ao atrito ou toque entre o rotor e o mancal, é reconhecido como um dos principais modos de falha nos equipamentos rotativos (EDWARDS et al.,1999). As respostas decorrentes do impacto entre o rotor e o mancal foram estudadas em aplicações específicas como nas máquinas a vapor e as turbinas a gás estudadas por MUSZYNSKA & GOLDMAN (1995) e AL-BEDOOR (2000). Os impactos rotor-mancal introduzem não-linearidades no sistema que resultam em comportamentos complexos que podem variar de movimentos periódicos, quasi-periódicos, ou caóticos (ZHANG et al., 2002). Os impactos em sistemas rotativos são tão críticos que diversas alternativas são investigadas para evitar comportamentos indesejáveis, sendo o controle uma das alternativas mais exploradas na literatura. 1 LUO & LV (2009) estudaram as respostas dos movimentos com impacto de um oscilador com dois graus de liberdade. A análise considerava um mapa de Poincaré em três dimensões com as variáveis de estado definidas nos instantes em que há o impacto. O controle de bifurcações e caos é realizado através de forças externas, controle de amortecimento e atraso na resposta. Este tipo de controle também foi estudado por MA et al. (2009) que analisaram um oscilador com dois graus de liberdade e apresentaram as repostas dinâmicas sob a influência da folga entre o oscilador e o dispositivo de impacto. Os movimentos caóticos originados do impacto são controlados pelo uso de forças externas aplicadas através de pulsos periódicos. ZENG et al. (1999) e YAO et al. (1999) estudaram uma forma de controle utilizando materiais inteligentes. Os primeiros criaram um modelo regulador de desbalanceamento eletromagnético impedindo o contato entre o rotor e o mancal através de forças eletromagnéticas que alteram o desbalanceamento gerando uma espécie de correção no peso das massas excêntricas. O segundo grupo de pesquisadores estudou o controle de vibrações de um rotor através de um amortecedor eletro-reológico aplicado a um modelo com seis graus de liberdade. Dentro deste contexto de controle de vibração através de materiais inteligentes, LEES (2011) realizou um estudo recente da dinâmica de um rotor sob o efeito de atuador piezo-elétrico que corrigia o comportamento do rotor. Outro modo de falha das máquinas rotativas se dá quando o rotor apresenta determinadas trincas ou fissuras por fadiga. PATEL & DARPE (2008) estudaram a resposta dinâmica de um sistema rotor-mancal onde o rotor apresentava uma trinca prévia. Nesse estudo, os autores investigaram as respostas das vibrações no rotor e os efeitos dinâmicos acarretados pelo desbalanceamento proveniente da rachadura e do contato entre o rotor e o mancal. WENHUI et al. (2008) fizeram uma análise de estabilidade de um sistema rotor-mancal com dois rotores desbalanceados e exploraram diversas respostas, incluindo caóticas, através da análise de diagramas de bifurcação, expoentes de Lyapunov e mapas de Poincaré. Para exemplificar a versatilidade do modelo proposto por Jeffcott, SCHWEIZER & SIEVERT (2009) estudaram as interações dinâmicas de uma turbina automotiva, modelando-a numericamente como se fosse um rotor-mancal e analisaram as respostas não-lineares provenientes de desbalanceamentos no rotor. Além disso, exploraram a influência de diversos parâmetros do sistema como a pressão e a temperatura do óleo. LAHA & KAKOTY (2011) apresentaram um estudo do comportamento nãolinear de um sistema composto de um rotor flexível suportado por um mancal lubrificado a óleo. Este trabalho tratava-se de uma análise de comportamento do 2 sistema com o rotor desbalanceado montado em mancais lubrificados a óleo, onde as equações do movimento são obtidas através do método de elementos finitos pela formulação de Timoshenko para vigas e discos. A equação não-linear do filme de óleo foi calculada pela equação de Reynolds modificada em conjunto com a equação de Darcy. Foi mostrado que variações de parâmetros como índice de esbeltez, propriedades dos materiais, massa e permeabilidade do material poroso do mancal causam efeitos profundos na resposta do sistema. Ao longo dos anos, a resposta dinâmica de sistemas não-suaves vem sendo estudada por vários pesquisadores. SAVI et al. (2007) estudaram as respostas dinâmicas contemplando comportamentos caóticos em um sistema com um grau de liberdade com um suporte descontínuo elástico. SANTOS & SAVI (2009) e SITNIKOVA et al. (2010) estudaram o mesmo sistema com um grau de liberdade onde o suporte do sistema secundário era composto por ligas com memória de forma (SMAs). Esses trabalhos mostram como a capacidade de dissipação intrínseca das SMAs pode ser explorada com o objetivo de obter respostas mais bem comportadas em sistemas com impacto. WIERCIGROCH et al. (2002) estudaram a dinâmica de um sistema rotormancal modelado a partir de um oscilador com dois graus de liberdade com suportes descontínuos e elásticos. O sistema físico foi representado por um rotor Jeffcott e o estudo revelou a riqueza dinâmica do problema, incluindo o caos. SHANG et. al. (2011) estudaram a resposta global do mesmo sistema rotor-mancal considerando os efeitos do atrito seco. Neste estudo foi mostrado que o atrito seco gera um giro para trás no rotor, oposto à direção do movimento. De uma maneira geral, este sistema é uma versão bidimensional do sistema descontínuo tratado por SAVI et al. (2007). O presente trabalho apresenta o comportamento dinâmico de um rotor Jeffcott submetido a impacto, onde o mancal é constituído por elementos com memória de forma. A motivação para este trabalho é explorar a capacidade de dissipação das SMAs para evitar comportamentos indesejados do sistema rotor-mancal. O comportamento termomecânico das SMAs é descrito através do modelo constitutivo proposto por PAIVA et al. (2005). Este modelo contempla os principais comportamentos fenomenológicos das SMAs, e apresenta uma boa concordância com resultados experimentais. O objetivo deste trabalho é fazer uma investigação qualitativa de um sistema rotor-mancal que explora as características das ligas com memória de forma na redução de vibrações. O comportamento desse sistema é comparado com o equivalente elástico mostrando como as SMAs podem ser utilizadas na redução de 3 vibrações de sistemas rotativos. Não é objetivo deste trabalho apresentar a concepção do sistema. 1.1 Ligas com memória de forma As ligas com memória de forma (do inglês: Shape Memory Alloy - SMA) são elementos metálicos capazes de recuperar elevados índices de deformação (em torno de oito por cento) devido a transformações de fase sofridas pelo material. É possível, ainda, restringir a recuperação do material, criando um campo de tensões que pode ser útil nas mais variadas aplicações. Neste contexto, tem se tornado cada vez maior a necessidade de modelos matemáticos capazes de descrever comportamento destes materiais de maneira adequada, visando uma correta análise e permitindo explorar todo seu potencial. A modelagem constitutiva do comportamento termomecânico das SMAs pode ser desenvolvida sob os pontos de vista microscópico ou macroscópico (BIRMAN, 1997). A primeira abordagem engloba, na verdade, os enfoques microscópicos e mesoscópico, onde o primeiro diz respeito aos aspectos metalúrgicos no âmbito molecular, enquanto o segundo leva em consideração informações sobre a estrutura cristalina (PAIVA & SAVI 2006). Esta abordagem é tratada por diversos autores incluindo: WARLIMONT (1974), NISHIYAMA (1978), ACHENBACH & MÜLLER (1982), FISCHER & TANAKA (1992), SUN & HWANG (1993), COMSTOCK et al. (1996), LU & WENG (1998), LEVITAS et al. (1998), GALL et al. (1999), SITTNER & NOVÁK (2000), MULLER & SEELECKE (2001), ENTCHEV & LAGOUDAS (2002); KLOUCEK et al. (2004), entre outros. Em contrapartida, a abordagem macroscópica apresenta uma preocupação com a resposta fenomenológica do material. Este tipo de modelagem também é amplamente explorado na literatura como, por exemplo, nos trabalhos apresentados por: TANAKA & NAGAKI (1982); FALK (1983); LIANG & ROGERS (1990); BERVEILLER et al. (1991); BRINSON (1993); ABEYARATNE et al. (1994); LECLERCQ et al. (1995); SILVA (1995); BOYD & LAGOUDAS (1996); FREMOND (1996); GOVINDJEE & KASPER (1997); AURICCHIO et al. (1997); SOUZA et al. (1998); ZHANG & MCORMICK (2000); PAIVA et al. (2005); HERZOG & JACQUET (2007), entre outros. As SMAs mais estudadas são: Níquel-Titânio (Ni-Ti); Cobre-Alumínio-Níquel (Cu-Al-Ni); Ferro-Manganês-Alumínio-Cromo (Fe-Mn-Al-Cr) e Cobre-Zinco-Alumínio (Cu-Zn-Al), com destaque para as ligas Ni-Ti, comercialmente conhecidas como 4 Nitinol, que são exploradas desde a década de sessenta, quando foram desenvolvidas pelo U.S. Naval Ordnance Laboratory – NOL (BUEHLER & WILEY, 1965). Basicamente, as SMAs apresentam duas fases cristalográficas distintas: a austenita (estável a alta temperatura) e a martensita (estável a baixa temperatura). Enquanto a austenita possui uma estrutura cúbica de corpo centrado bem ordenada que apresenta apenas uma variante, a martensita pode apresentar até vinte e quatro variantes para o caso mais geral (FUNAKUBO, 1987) e sua estrutura depende do tipo de transformação sofrida pelo material (OTSUKA & REN, 1999; WU & LIN, 2000). Esta martensita pode ser induzida por temperatura (dita maclada, ou em inglês, twinned) ou por tensão (chamada de não-maclada, ou em inglês, detwinned). A martensita maclada não possui direção preferencial para sua formação, podendo apresentar as vinte e quatro variantes possíveis. Já a martensita não-maclada, possui apenas as variantes que possuem um alinhamento favorável à direção do carregamento ao qual a amostra está submetida. Devido às suas características singulares, as SMAs têm atraído grande interesse tecnológico em diversos campos da ciência e da engenharia, da área biomédica à indústria aeroespacial, passando pela indústria do petróleo e gás e indústria automotiva. O sucesso das aplicações de SMA nas áreas médica e odontológica deve-se, fundamentalmente, à sua excelente bio-compatibilidade (em especial das ligas Ni-Ti) e à característica pouco invasiva das intervenções envolvendo instrumentos de SMA. Dentre as principais aplicações nestas áreas, é possível destacar: instrumentos cirúrgicos, dispositivos cardiovasculares e mecanismos ortopédicos e ortodônticos. MACHADO & SAVI (2002, 2003) apresentaram uma revisão bibliográfica detalhada acerca de aplicações das SMAs nestas áreas. 1.2 Organização do trabalho Este trabalho está dividido em cinco capítulos. Este primeiro capítulo apresenta uma breve introdução sobre o assunto a ser abordado, além de uma motivação à execução do trabalho e de seu objetivo. No segundo capítulo, é feita uma descrição da modelagem matemática do sistema rotor-mancal, incluindo a modelagem constitutiva das SMAs. O terceiro capítulo destina-se a uma verificação do modelo adotado partindo da verificação do sistema com uma dimensão e com suporte descontínuo elástico, passando pelo sistema unidimensional com suporte descontínuo utilizando ligas com 5 memória de forma. Os modelos unidimensionais são uma simplificação do movimento do sistema rotor-mancal nas duas direções. Utilizando um modelo bidimensional, primeiramente são verificados os resultados com mancal utilizando elementos elásticos. Estes resultados são comparados aos apresentados por WIERCIGROCH et al. (2002). Por fim, utilizando um sistema bidimensional a alta temperatura, são comparados os resultados do sistema com mancal com elementos elásticos aos resultados do sistema com mancal utilizando elementos com memória de forma trabalhando a alta temperatura, ou seja, onde as ligas de SMA não transformam de fase. Nesta situação o sistema rotormancal utilizando elementos de SMA se comporta de maneira idêntica ao sistema utilizando elementos elásticos, devido ao comportamento linear das ligas à alta temperatura. No quarto capítulo, apresentam-se os resultados obtidos para o sistema rotormancal utilizando elementos de ligas de memória de forma, destacando uma comparação com o sistema equivalente elástico. É explorado o comportamento histerético das ligas através de uma análise do movimento em vibração livre, onde é mostrado que os elementos de SMA dissipam energia do sistema enquanto que o sistema com elementos elásticos permanece sem apresentar perdas de energia. Após esta análise são apresentados os resultados do sistema rotor-mancal com a presença de vibração forçada e com isso é mostrado que o comportamento dissipativo das ligas representa uma melhora significativa quando comparado com o sistema utilizando elementos elásticos. Ainda no quarto capítulo é explorado o comportamento do sistema rotormancal com elementos de SMA sob o efeito da assimetria tração-compressão e por fim sob o efeito da variação do amortecimento viscoso do rotor. O sistema que utiliza elementos elásticos apresenta comportamento caótico e com a utilização dos elementos de SMA este comportamento não-linear apresentado se transforma de tal maneira que apresenta comportamento harmônico periódico. O quinto capítulo é destinado às considerações finais e sugestões para trabalhos futuros. 6 2. Modelagem matemática O objetivo deste capítulo é apresentar um modelo matemático para descrever a dinâmica de um sistema rotor-mancal. Inicialmente, apresenta-se o sistema rotormancal bidimensional e considera-se um mancal com comportamento elástico. Em seguida, passa-se a tratar um sistema onde o mancal é composto por ligas com memória de forma. O comportamento termomecânico das SMAs é descrito através do modelo proposto por PAIVA et al. (2005). 2.1 Sistema rotor-mancal Considere o sistema rotor-mancal mostrado na Figura 1. Trata-se de um rotor Jeffcott bidimensional que é excitado por uma massa rotativa desbalanceada m , que fica a uma distância ρ do centro do rotor. Durante a operação, o rotor de massa M toca intermitentemente as paredes do mancal. Na Figura 1 também estão representados o amortecimento e a rigidez do eixo do rotor, c e k 1 , respectivamente, e o amortecimento e a rigidez do mancal, cs e k 2 , respectivamente. A Figura 2 mostra um desenho esquemático do contato rotor-mancal. Nesta Figura, O s e Or representam a posição inicial do mancal e do rotor respectivamente; a excentricidade é representada por e x e e y , onde a primeira representa a distância horizontal entre os centros do mancal ( O s ) e do rotor ( O r ). Da mesma maneira tem-se que e y representa a excentricidade vertical do rotor. Considera-se, também, a folga γ entre o rotor e o mancal que deve respeitar a restrição física: (1) e 2x + e 2y ≤ γ 7 Figura 1 – Modelo físico do sistema rotor-mancal. Figura 2 – Sistema de coordenadas do sistema rotor-mancal. Assume-se que a massa do mancal é desprezível. Segundo modelos anteriores (GONSALVES et al., 1995 e WIERCIGROCH et al., 2002), a descontinuidade aparece através da intermitência no contato entre o rotor e o mancal, tornando o problema não-linear. Portanto as equações de movimento são: 8 k 2 (R − γ ) cos ψ, R ≥ γ 2 M &x& + cx& + k 1 x + = mρ Ω cos(ϕ + Ω t ) 0 , R < γ (2) k 2 (R − γ )sen ψ, R ≥ γ 2 M &y& + cy& + k 1 y + = mρΩ sen (ϕ + Ω t ) R<γ 0, (3) onde R= (x − e x )2 + (y − e y )2 cos ψ = senψ = (4) (x − e x ) (5) R (y − e ) y (6) R Observa-se que (R − γ ) é o movimento radial do mancal em relação à sua posição inicial, ϕ é o ângulo de fase inicial, Ω é a frequência angular de rotação do rotor e ψ é o ângulo que o módulo do deslocamento radial do rotor, R , faz com a direção horizontal. Para os resultados que são apresentados neste trabalho, são desconsiderados os efeitos da excentricidade da massa desbalanceadora e com isso e x = e y = 0 . 2.2 Sistema rotor-mancal com memória de forma Considere agora o sistema rotor-mancal mostrado na Figura 3. Trata-se mais uma vez de um rotor Jeffcott, bidimensional, excitado por uma massa rotativa desbalanceada. Durante a operação, o rotor toca intermitentemente as paredes do mancal que possuem elementos de SMA. O sistema apresentado possui as mesmas características do sistema tratado na seção anterior, diferindo apenas pelas características do mancal, representada por uma rigidez variável. A próxima seção apresenta uma discussão sobre o modelo constitutivo utilizado para descrever este comportamento termomecânico. 9 Figura 3 – Modelo físico do sistema rotor-mancal com SMA. 2.2.1 Modelo constitutivo O modelo constitutivo a ser adotado neste trabalho é uma simplificação do modelo proposto por PAIVA et al. (2005) que, por sua vez, é baseado no modelo com restrições internas proposto por FREMOND (1987; 1996). O modelo desenvolvido por PAIVA et al. (2005) é unidimensional e considera quatro fases macroscópicas, sendo capaz de descrever os comportamentos de pseudoelasticidade, efeito de memória de forma, transformação de fase induzida por variação de temperatura, plasticidade clássica, assimetria no comportamento à tração e à compressão, acoplamento entre os fenômenos de plasticidade e transformação de fase, e sub-laços internos devidos a transformações de fase incompletas. Neste trabalho, desconsidera-se o fenômeno de plasticidade. As equações constitutivas para o modelo são apresentadas a seguir: ( ) σ = E ε + α Chβ 2 − α Thβ1 + α Cβ 2 − α Tβ1 − Θ (T − T0 ) 10 (7) { ( ) 2 1 β& 1 = α T ε + Λ + β 2 α Ch α T + α Th α C + Eα Th α Ch − β1 2α Th α T + Eα Th − η1 ( ) (8) } − α [E ε − Θ (T − T0 )] − ∂ β 1 J π + ∂ β& 1 J χ T h ( ) 2 1 β& 2 = − α C ε + Λ + β1 α Th α C + α Ch α T + Eα Ch α Th − β 2 2α Ch α C + Eα Ch − η2 { ( ) } (9) − α [E ε − Θ (T − T0 )] − ∂ β 2 J π + ∂ β& 2 J χ C h 1 1 C T β& 3 = − (E A − E M ) ε + α h β 2 − α h β1 η3 2 ( ) 2 + Λ3 + [ ] } (10) + (Θ A − Θ M ) (T − T0 ) ε + α β 2 − α β − ∂ β 3 J π + ∂ β& 3 J χ C h T h 1 onde σ é a tensão axial, ε é a deformação axial, T é a temperatura absoluta, β1 e β2 são frações volumétricas associadas às variantes martensíticas associadas à tração e à compressão, respectivamente e β3 é a fração volumétrica associada à fase austenítica. Além disso E = E M + β3 (E A − E M ) é o módulo de elasticidade, Θ = Θ M + β3 (Θ A − Θ M ) está relacionado ao coeficiente de expansão térmica e T0 é uma temperatura de referência, para a qual só se tem deformação nula. Os índices subscritos A e M se referem às fases austenítica e martensítica, respectivamente. Além disso, diferentes parâmetros são assumidos para considerar a assimetria traçãocompressão, onde os índices superiores " T" se referem às propriedades de tração e " C" às de compressão. Os parâmetros Λ = Λ (T ) e Λ 3 = Λ 3 (T ) são parâmetros associados às transformações de fases induzidas por tensão. E A e E M são os módulos de elasticidade da austenita e da martensita, respectivamente, assim como Θ A e Θ M são parâmetros relacionados aos coeficientes de expansão térmica da austenita e da martensita, respectivamente. O parâmetro α está relacionado à altura do laço de histerese, enquanto α h está relacionado à sua largura. Os termos ∂ n J π (n = β1 , β 2 , β3 ) são as sub-diferenciais da função indicatriz J π com respeito a βn (n = 1,2,3) . Esta função indicatriz refere-se às restrições internas relacionadas a coexistência das fases do modelo. ( ) Os termos ∂ n J χ n = β& 1 , β& 2 , β& 3 , por sua vez, são sub-diferenciais da função indicatriz J χ com respeito a β n (n = 1,2,3) . Esta função indicatriz está associada às 11 condições para a correta descrição de sub-laços internos devido a transformações de fase incompletas. Estas restrições, além de auxiliarem a correta descrição dos sublaços internos, também evitam o surgimento de transformações fisicamente inexistentes, ou seja: M + ⇒ M e M − ⇒ M . Os parâmetros Λ e Λ 3 são funções da temperatura, definidas a seguir: L (T − TM ) se T > TM − L 0 + TM Λ = 2Λ M = ; − L se T ≤ T M 0 (11) A LA (T − TM ) se T > TM − L 0 + TM Λ 3= Λ M + Λ A = ; − LA se T ≤ T M 0 (12) onde TM é a temperatura abaixo da qual a fase martensítica é estável; L 0 , L , LA0 e LA são parâmetros associados às tensões críticas para a transformação de fase. De forma a contemplar diferentes características da cinética de transformação de fase para o processo de carregamento e descarregamento, é possível considerar diferentes valores para o parâmetro ηn (n = 1,2,3) que, por sua vez, está relacionado à dissipação interna. Para maiores detalhes do modelo, sugere-se consultar PAIVA et al. (2005) e SAVI & PAIVA (2005). 2.2.2 Equações do movimento Esta seção apresenta a formulação das equações de movimento para um sistema rotor-mancal utilizando elementos de ligas com memória de forma no mancal. Admite-se que a dissipação de energia diferente da histerética é descrita a partir de um amortecimento viscoso linear. Para contemplar a força axial FSMA desenvolvida no elemento de SMA considera-se esse elemento ora submetido à tração ora à compressão tal que: FSMA = σ A , onde σ é a tensão no elemento de SMA, enquanto A é a área equivalente da seção transversal. Portanto, reescrevendo as equações (2) e (3), tem-se: 12 σ x A + c s x& , M &x& + cx& + kx + 0, R ≥ γ 2 = mρΩ cos(ϕ + Ω t ) R<γ (13) σ y A + c s y& , M &y& + cy& + ky + 0, R ≥ γ 2 = mρΩ sen (ϕ + Ω t ) R < γ (14) ∆l , onde l é o comprimento inicial do l é o alongamento. Portanto, ∆ l = ( R − γ ) cos ψ e A deformação pode ser avaliada como ε = elemento de SMA e ∆ l ∆l = (R − γ ) senψ , para as direções x e y respectivamente. 2.2.3 Procedimento numérico De posse das equações de movimento, é necessário integrá-las numericamente. A técnica da partição do operador associada a um procedimento iterativo permite uma solução adequada do problema não-linear. Esta técnica consiste em dividir o espaço de estado em subespaços que podem ser resolvidos separadamente. O resultado de um subespaço é utilizado como entrada para a solução do outro subespaço e com isso pode-se utilizar algoritmos clássicos para avaliar cada sub-parte do sistema. Esta técnica foi aplicada por SAVI e colaboradores. Num primeiro caso, SAVI et al. (1997) empregaram uma liga com memória de forma como elemento restituidor, onde foi utilizado o modelo de FREMOND (1987). Posteriormente SAVI et al. (2005) consideraram um elemento restituidor elastoplástico com efeito de endurecimento isotrópico e cinemático. Para aplicar a técnica, avalia-se a dinâmica do sistema assumindo que não ocorrem transformações de fase. A seguir, avaliam-se as equações constitutivas da SMA. O procedimento deve seguir até que seja atingida a convergência das variáveis de interesse. O sistema rotor-mancal com memória de forma possui ao todo sete graus de liberdade e com a técnica de partição do operador este sistema será dividido em duas partes. Isto permite tratar o problema acoplado a partir de problemas desacoplados. Uma parte representa o espaço de fase, que engloba as variáveis x , x ′ , y e y′ . O outro é o espaço das variáveis internas do modelo da liga, β1 , β2 , e β 3 . Este procedimento permite que a primeira parte do sistema, referente ao espaço de fase do sistema rotor-mancal, seja resolvido pelo algoritmo de Runge Kutta de 4ª ordem, enquanto a solução da segunda parte, referente às variáveis internas do modelo, 13 emprega-se novamente a técnica de partição do operador (ORTIZ et al., 1983) associada a um procedimento iterativo. Inicialmente, o procedimento isola as subdiferenciais e utiliza o método de Euler implícito para calcular as frações volumétricas. Um algoritmo de projeção ortogonal garante que as frações volumétricas de cada fase obedecerão às restrições de coexistência. A integração das equações de movimento do oscilador é realizada considerando as variáveis internas do modelo da liga ( β1 , β2 , e β3 ) parâmetros conhecidos. Assim, uma primeira estimativa para o valor da deformação (ou deslocamento) é obtida, mantendo-se constantes os valores das variáveis internas da liga em relação ao instante de tempo anterior. O valor de deformação (ou deslocamento) obtido é utilizado como argumento de entrada para a avaliação do modelo constitutivo, atualizando então os valores das suas variáveis internas, obtendo por consequência um novo valor de σ . Desta maneira, retorna-se às equações do espaço de fase do oscilador, integrando-as utilizando os novos valores de β , e este procedimento é repetido até que se obtenha a convergência, que é definida pela diferença do valor da iteração anterior da deformação pelo valor da iteração atual. Esta diferença é comparada com um valor de tolerância definido. Portanto, para lidar com as não linearidades das equações de movimento, um procedimento iterativo baseado na técnica da partição do operador é empregado. O método de Runge-Kutta é utilizado em conjunto com Euler Implícito e um algoritmo de projeção ortogonal proposto por SAVI et al. (2005) para solução das equações constitutivas. Desta forma, os espaços de estado das equações dinâmicas do oscilador e das equações constitutivas da liga são desacoplados, permitindo o uso das técnicas convencionais adotadas para solução de cada subespaço do problema. 14 3. Verificação do modelo Este capítulo tem por objetivo apresentar uma verificação do modelo matemático proposto considerando primeiramente uma simplificação do sistema para uma direção, ou seja, um rotor-mancal unidimensional com suporte descontínuo utilizando SMA e depois, considerando um sistema rotor-mancal bidimensional com suporte descontínuo constituído por elementos lineares. A verificação é feita a partir de simulações numéricas para o sistema rotormancal bidimensional utilizando ligas com memória de forma a altas temperaturas, ou seja, onde a SMA apresenta características lineares. Sendo assim, as respostas do sistema devem ser idênticas às encontradas na seção onde o suporte descontínuo é de material elástico. 3.1 Sistema rotor-mancal unidimensional Para iniciar o procedimento de verificação dos resultados, considera-se o sistema rotor-mancal unidimensional com apenas um suporte descontínuo. A verificação do modelo é feita seguindo o mesmo procedimento proposto por SANTOS & SAVI (2009), que compara os resultados para um oscilador não-suave elástico e outro com SMA. Os parâmetros do sistema rotor-mancal para movimento unidimensional são apresentados na Tabela 1 e as propriedades das SMAs estão apresentadas na Tabela 2. Tabela 1 – Parâmetros do sistema rotor-mancal unidimensional. m (kg) cs (N.s/m) 0,838 0,6 γ (m) F (N) -0,124 4,5 ω (rad/s) k (N/m) 2,3 15 8,47 k s (N/m) A (m2) 1350 2,5 x 10-8 Tabela 2 – Propriedades das SMAs segundo SANTOS & SAVI (2009). E A (GPa) E M (GPa) α C (MPa) α T (MPa) 54 42 150 150 L (MPa) LA0 (MPa) LA (MPa) L 0 (MPa) 4,0 6,3 165 0,15 εR T0 (K) Θ M (MPa/K) Θ A (MPa/K) 0,17 0,74 0,055 298 η U (MPa.s) η LA (MPa.s) η UA (MPa.s) η L (MPa.s) 2,0 0,5 1,0 0,5 Figura 4 – Modelo de um oscilador não-suave com rigidez descontínua. A Figura 4 apresenta a versão unidimensional do sistema que está associada ao sistema rotor-mancal com rigidez descontínua, devido ao impacto contra um suporte cujo comportamento é elástico linear. Este sistema é composto por uma massa m , conectada a dois elementos elásticos lineares com rigidez k . O processo de dissipação de energia não-histerético é representado por um amortecimento viscoso linear c. Além disso, é considerado um suporte sem massa, composto por um elemento elástico linear k s e amortecimento viscoso linear cs . O deslocamento da 16 massa m é denotado por x e contado a partir da sua posição de equilíbrio. A força de excitação se caracteriza por uma força cossenoidal F cos(ωt ) . A distância entre a massa e o suporte, chamada de folga, também é um parâmetro do modelo, representado por γ . Neste ponto, vale destacar que valores negativos para o parâmetro γ , observados mais adiante, devem ser entendidos como uma condição inicial de pré-compressão do suporte contra a massa. O parâmetro A está associado ao elemento de SMA e representa a área equivalente do elemento. A Figura 5 apresenta as órbitas no espaço de fase e a seção de Poincaré, para os casos com suporte descontínuo elástico e de SMA. A Figura 5.a mostra a resposta do sistema com suporte elástico apresentando um comportamento complexo, aparentemente caótico. A Figura 5.b apresenta a resposta do sistema com suporte de SMA, onde se observa um comportamento regular, representado por um único ponto na seção de Poincaré, indicando um comportamento periódico de período-1. Comparando-se os dois casos, pode-se afirmar que a utilização do suporte descontínuo com SMA tende a reduzir a complexidade da resposta do sistema. (a) modelo com suporte linear (b) modelo com suporte SMA Figura 5 – Espaço de fase e seção de Poincaré para γ = −0,124m . Esses resultados estão coerentes com os resultados disponíveis na literatura (SANTOS & SAVI, 2009) e servem para ilustrar a aplicabilidade das ligas com memória de forma, visando a atenuação/controle de vibrações em sistemas dinâmicos. 17 3.2 Sistema rotor-mancal com suporte descontínuo A verificação do modelo rotor-mancal bidimensional é baseada nos resultados de WIERCIGROCH et al. (2002) que trata o sistema com suporte elástico. Numa primeira etapa, compara-se as respostas para o sistema com suporte elástico, e posteriormente, considera-se que o suporte possua elementos compostos por ligas com memória de forma. A verificação desta última etapa se torna mais complexa visto que os resultados de um sistema rotor-mancal SMAs ainda não estão disponíveis na literatura. Neste contexto, consideram-se casos a altas temperaturas, de tal forma que as transformações de fase não ocorram. 3.2.1 Sistema rotor-mancal com suporte elástico O trabalho de WIERCIGROCH et al. (2002) apresenta os resultados de um sistema rotor-mancal, apresentando uma descontinuidade devida à presença de uma folga radial entre o rotor e o mancal. O comportamento deste sistema se apresenta de maneira linear sem a presença da folga radial, porém, com a presença desta folga, o rotor toca intermitentemente no mancal, tornando o problema não-linear. Tabela 3 – Parâmetros do sistema rotor-mancal. m (kg) c (N.s/m) γ (m) ρ (m) 0,17 26 1 70 Ω (rad/s) k (N/m) 2,6 100 k s (N/m) A (m2) 3000 5,55 x 10-8 Além dos dados apresentados na Tabela 3 é considerado que o amortecimento viscoso do mancal ( cs ) é nulo. A dinâmica do sistema rotor-mancal é muito rica e essa riqueza pode ser verificada a partir da simulação apresentada na Figura 6 na forma de evolução no 18 tempo. Para c = 26 N.s / m tem-se uma resposta de período-2 mostrada na Figura 6.a e 6.b. A resposta do sistema passa a ser caótica considerando c = 22 N.s / m , conforme pode ser visto na Figura 6.c e Figura 6.d. (a) (b) (c) (d) Figura 6 – Evolução no tempo para (a) deslocamento em x para movimento de período dois, (b) velocidade em x para movimento de período dois e (c) deslocamento em x para movimento caótico e (d) deslocamento em y para movimento caótico. A Figura 7 mostra o comportamento das órbitas do espaço de fase. A Figura 7.a mostra a resposta de período-2 enquanto a Figura 7.b mostra a reposta caótica, onde se observa uma complexidade do comportamento, quando comparado ao comportamento da Figura 6.a. Estes resultados atestam a sensibilidade qualitativa que sistemas não lineares possuem, tanto à variação de parâmetros, quanto à variação de condições iniciais. Estes resultados estão coerentes com aqueles apresentados em WIERCIGROCH et al. (2002). 19 (a) (b) Figura 7 – Órbitas do espaço de fase (a) periódico e (b) caótico. 3.2.2 Sistema rotor-mancal com suporte de SMA Nesta etapa, é feita uma verificação do modelo a alta temperatura (T = 493K ) . Nessa condição, a austenita é estável para qualquer campo de tensão aplicado e, portanto, não ocorrem transformações de fase. Desta forma, os resultados do sistema rotor-mancal com SMA devem ser iguais aos do sistema com suporte elástico apresentados no trabalho de WIERCIGROCH et al. (2002). Serão utilizados os mesmos parâmetros da seção anterior, além da área da seção transversal do elemento de SMA igual a A = 5,55 × 10 −8 m ² . A ausência das transformações de fase é representada por valores constantes das diversas frações volumétricas para ambas as direções, mostrada na Figura 8. 20 (a) (b) Figura 8 – Evolução dos parâmetros β n (a) na direção x e (b) na direção y. Outra forma de verificar o comportamento do sistema é através da curva forçadeslocamento. A Figura 9 mostra essas curvas nas direções x e y. Observe que o comportamento do sistema elástico é igual ao sistema com SMA. (a) (b) Figura 9 – Força vs. deslocamento (a) na direção x e (b) na direção y. (a) (b) Figura 10 – Evolução no tempo para deslocamento e velocidade. 21 A Figura 10 mostra a evolução no tempo para deslocamento e velocidade na direção horizontal para uma resposta de período dois. Com a variação do amortecimento ( c ), o sistema migra de um resultado periódico para um caótico como já foi exposto na seção anterior. A Figura 11 mostra as órbitas do espaço de fase tanto para o movimento periódico quanto para o movimento caótico. Essas Figuras correspondem às simulações realizadas para o caso elástico. (a) (b) Figura 11 – Órbitas do espaço de fase (a) periódico e (b) caótico. Desta seção, conclui-se que o modelo com memória de forma apresenta resultados similares aos apresentados na literatura disponível, tanto na versão unidimensional com suporte elástico, quanto na versão bidimensional também com suporte elástico. A partir deste ponto, desenvolvem-se simulações explorando as transformações de fase o que introduz uma nova fonte de não-linearidade ao problema. 22 4. Sistema rotor-mancal com memória de forma Este capítulo tem por objetivo apresentar os resultados do sistema rotormancal com suporte não-suave de SMA, explorando o comportamento pseudoelástico destas ligas. Os dados geométricos e estruturais do conjunto rotor-mancal são apresentados na Tabela 4 e as propriedades das SMAs estão apresentadas na Tabela 5. Visando uma análise mais realista, propõe-se um elemento de SMA que possui uma área equivalente similar a rigidez de uma mola (SHIGLEY,2006). Desta forma, o elemento de SMA pode ser uma pastilha, uma mola de flexão ou uma mola de traçãocompressão. A Tabela 4 apresenta as características de uma mola utilizada como referência para o elemento de SMA. Nessa Tabela, D representa o diâmetro do elemento de SMA, d representa o diâmetro do fio do elemento, N o número de espiras ativas, k S representa a rigidez do elemento na fase estável da austenita, d eixo representa o diâmetro do eixo do rotor, M representa a massa do rotor, J p representa o momento de inércia e k representa a rigidez do eixo do rotor. Para o problema dinâmico é utilizada a temperatura ambiente ( T = 298 K ) o amortecimento do eixo do rotor e do mancal são desprezados, a folga entre o rotor e o mancal é de 0,002m ( γ ), as condições iniciais para o deslocamento nas duas direções é de 0,0001m, a distância da massa desbalanceada ao centro de giro do rotor é de 0,055m ( ρ ) e a frequência angular de forçamento é de 1,8 rad / s . Dados como condição inicial em velocidade e excentricidade do centro de giro do rotor são desprezados ( v 01 = v 02 = 0 e e x = e y = 0 ). Tabela 4 – Dados geométricos do sistema rotor-mancal. D (m) d (m) N k s (N/m) 0,008 0,0003 10 2,867 J p (m4) k (N/m) d eixo (m) M (kg) 9,81 x 10-10 3,92 0,01 15 23 Na Tabela 5, G A representa o módulo de cisalhamento da SMA que é utilizado para o cálculo da rigidez do elemento de SMA. Tabela 5 – Propriedades das SMAs. E A (GPa) E M (GPa) α T (MPa) α C (MPa) εR G A (GPa) 54 42 50 50 0,0555 14,5 L 0 (MPa) L (MPa) LA0 (MPa) LA (MPa) Θ A (MPa/K) Θ M (MPa/K) 0,15 4,0 6,3 165 0,74 0,17 η L (MPa.s) η U (MPa.s) η LA (MPa.s) η UA (MPa.s) TM (K) T0 (K) 5,0 5,0 2,0 2,0 201,4 298,0 Em todos os resultados apresentados neste capítulo, são utilizados os dados e parâmetros acima, salvo quando expresso em contrário no texto. 4.1 Vibração Livre Esta seção tem por objetivo apresentar os resultados do comportamento de um rotor idealizado com movimento nas direções vertical e horizontal com suporte nãosuave de SMA e que não apresenta vibração forçada. Com isso, pretende-se demonstrar que o material com memória de forma apresenta dissipação de energia devido ao seu comportamento histerético. Para simular o caso com vibração livre considera-se que a massa desbalanceadora é nula ( m = 0 ), visando eliminar a força desbalanceada. Também se despreza o amortecimento do rotor e do mancal. Desta forma a condição inicial em deslocamento para ambas as direções deve ser maior do que a folga entre o rotor e mancal ( s 01 = s 02 = 0,004m ), para que os elementos de SMA do mancal sejam acionados e, consequentemente, haja transformação de fase e dissipação de energia. A Figura 12 mostra a evolução no tempo do deslocamento do rotor tanto na direção horizontal (x) quanto na vertical (y). Pode-se observar que o movimento vai reduzindo a amplitude até que se atinja a amplitude do deslocamento do rotor, tanto 24 na direção x quanto na direção y, de aproximadamente 0,0017m. A dissipação de energia está associada, portanto, ao comportamento histerético das ligas de memória de forma. (a) (b) Figura 12 - Evolução no tempo do deslocamento (a) direção horizontal e (b) direção vertical. A Figura 13 mostra a curva força-deslocamento evidenciando o comportamento histerético das ligas. O regime permanente do movimento está associado a uma resposta elástica da fase matriz (austenítica). (a) (b) Figura 13 - Diagrama força x deformação para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. Observando o diagrama força-deslocamento vê-se que quando o movimento se inicia, com amplitude do deslocamento 0,004m (mostrado na Figura 12), tem-se o laço mais externo tanto na compressão quanto na tração do elemento de SMA e com a sucessiva perda de energia ao longo do movimento tem-se a presença dos sublaços 25 internos, o que mostra que o sistema está dissipando energia. Após essa fase transiente, o sistema se estabiliza com amplitude de deslocamento do elemento de SMA de aproximadamente 0,0003m. A Figura 14 mostra espaço de fase representado por uma espiral que tende para uma órbita estável, que apresenta nas duas direções uma amplitude de deslocamento do rotor de 0,0017m. (a) (b) Figura 14 - Órbitas do espaço de fase (a) x × x ' e (b) y × y' . Quando se compara o comportamento do sistema rotor-mancal utilizando elementos elásticos com o sistema utilizando elementos de SMA, nota-se que a característica dissipativa do material com memória de forma reduz a amplitude de vibração, tendendo para um comportamento de período 1. A resposta dos elementos com memória de forma está intimamente ligada à temperatura de trabalho e, portanto, propõe-se uma variação da temperatura para observar o comportamento do conjunto em três diferentes temperaturas: 298K , 320K e 373K . Considera-se que a temperatura ambiente é igual a 298K . Primeiramente, é mostrada a evolução no tempo do deslocamento, tanto na direção vertical, quanto na direção horizontal (Figura 15). Nota-se que para um sistema cujo conjunto é totalmente composto por elementos de características elásticas lineares, a resposta no tempo é harmônica, oscilando entre 0,004m e 0,004m. No sistema com elementos de ligas com memória de forma existe uma perda de energia que segue até t = 4500s aproximadamente, atingindo o regime permanente, oscilando entre 0,002m e -0,002m aproximadamente. Assim, a partir do ponto onde o sistema entra em regime permanente, observa-se que à medida que a temperatura aumenta a tensão crítica para a transformação de fase martensítica (que define a região elástica da fase matriz) também aumenta. Em regime permanente, o 26 sistema apresenta uma amplitude de oscilação ligeiramente crescente com a temperatura, conforme as Figuras 16.b e 16.d. Com isso na temperatura ambiente o sistema dissipa mais energia quando comparado com o caso elástico e com os demais casos utilizando SMA. (a) (b) (c) (d) Figura 15 - (a) Evolução no tempo do deslocamento na direção horizontal, (b) Detalhe da evolução no tempo do deslocamento na direção horizontal para 4900 ≤ t (s) ≤ 5000 , (c) Evolução no tempo do deslocamento na direção vertical e (d) Detalhe da evolução no tempo do deslocamento na direção vertical para 4900 ≤ t (s) ≤ 5000 . As Figuras 16.a e 16.b mostram os diagramas força-deslocamento tanto para os elementos de SMA quanto para o elemento elástico, para as duas direções, (x) e (y). Neste ponto, verifica-se que com o aumento da temperatura as ligas apresentam maiores tensões críticas para a transformação de fase, afastando o laço de histerese da origem. Para este caso em particular, se o sistema utilizar as SMAs na temperatura ambiente, a perda de energia é maior e isto se deve ao aumento da frequência com que a liga passa pela região do laço de histerese, e com isso tem-se o sistema 27 oscilando a uma amplitude menor quando comparada ao caso elástico e com SMA às temperaturas de 320K e 373K. (a) (b) Figura 16 – Diagrama força x deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. O mesmo comportamento observado na Figura 16.a pode ser observado na Figura 16.b e com isso pode-se dizer que o sistema oscila, para este caso, da mesma maneira nas duas direções e não há influência de uma direção sobre a outra. A Figura 17 mostra que os sistemas utilizando SMAs apresentam órbitas internas àquela do sistema utilizando elementos puramente elásticos e que quando a temperatura de trabalho é a ambiente, a órbita do espaço de fase é a mais interna, apresentando menores amplitudes de oscilação e, também menores velocidades. (a) (b) Figura 17 - Órbitas do espaço de fase (a) x × x ' e (b) y × y' . 28 4.2 Vibração Forçada Esta seção tem por objetivo apresentar os resultados da resposta forçada do sistema rotor-mancal com suporte não-suave de SMA quando comparado a um sistema utilizando a descontinuidade com material elástico. Para isso o amortecimento do rotor e do mancal são desprezados ( c = cs = 0 ), assim como a excentricidade do centro de giro do rotor ( e x = e y = 0 ). A folga entre o rotor e o mancal é de 0,002m e a distância da massa desbalanceada ao centro de giro é de 0,055m. A frequência angular de forçamento é de 1,8 rad/s. Inicialmente, apresenta-se a resposta do rotor ao longo do tempo. Na Figura 18.a nota-se que existe um regime transiente até t = 2300s aproximadamente, e depois disso o sistema entra em regime permanente. O mesmo ocorre na Figura 18.b, onde é mostrada a evolução no tempo do deslocamento na direção vertical, porém, neste caso, o regime transiente perdura até que o sistema atinja t = 2500s aproximadamente. (a) (b) Figura 18 - Evolução no tempo do deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. A Figura 19 mostra o comportamento das ligas com memória de forma. Observe que existe transformação de fase completa dos elementos de SMA ( M − ⇒ A ⇒ M + ⇒ A ) e que existe perda de energia representada pelos sublaços de histerese, tanto na compressão quanto na tração dos elementos. 29 (a) (b) Figura 19 – Diagrama força x deslocamento do elemento de SMA para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. A seguir é explorado o comportamento pseudoelástico das SMAs onde se observa uma reposta periódica associada ao regime permanente do movimento do sistema rotor-mancal. Considera-se que o sistema está à temperatura ambiente ( T = 298 K ) e que a frequência angular de forçamento é Ω = 0,5112 rad / s . Para as condições iniciais em deslocamento são considerados nas duas direções, valores de 0,0001m, enquanto condições iniciais em velocidade são nulas. (a) (b) Figura 20 - Evolução no tempo do deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. Observa-se nas Figuras 20.a e 20.b um regime transiente até aproximadamente o instante de tempo t = 3000s , tanto na direção horizontal quanto na vertical e um regime permanente periódico. Porém, na faixa de tempo onde existe o regime transiente, o comportamento na direção x é diferente do comportamento na direção y, o que indica que há uma pequena interferência de uma direção sobre a outra, caso contrário as curvas deveriam ser idênticas para ambas as direções. 30 Considerando-se um período de tempo onde exista transformação de fase, o regime seja permanente e para o qual se tenha um trecho que represente de maneira completa um período do comportamento do sistema dinâmico ao longo do tempo, foi arbitrada a faixa de tempo 4941 ≤ t (s) ≤ 4954 . Nas Figuras 21.a e 21.b são mostradas as curvas de deslocamento no tempo com pontos importantes que são explicados em detalhe ao longo do texto. Já nas Figuras 21.c e 21.d são mostradas as curvas força-deslocamento dos elementos de ligas com memória de forma, para as direções (x) e (y), respectivamente. Por último, nas Figuras 21.e e 21.f são mostradas as curvas de evolução das frações volumétricas das fases constituintes das ligas, representadas por β n ( n = 1,2,3,4 ). O elemento de SMA está a uma temperatura acima da qual a austenita é uma fase estável. Na Figura 21.c, tem-se o ponto A ( t = 4941s ) que representa o início do intervalo de tempo analisado. Para este instante de tempo, o elemento de SMA da direção (x) se encontra numa faixa onde só existe a presença da fase M + , ou seja, martensita induzida por tração. Com o início do descarregamento das tensões chegase ao ponto B ( t = 4943,02s ) que ainda corresponde à fase M + até que se atinja o ponto C que representa o início da transformação de fase M + ⇒ A . Ao chegar ao ponto D ( t = 4943,96s ), a liga só possui a fase austenítica, ( A ), e com o descarregamento, chega-se ao ponto E, que representa o ponto no qual o anteparo de SMA se encontra na posição de equilíbrio (sem deformação). A partir deste ponto, o elemento começa a ser comprimido, passando pelo ponto F ( t = 4944,48s ), alcançando, finalmente, o ponto G ( t = 4944,59s ) que representa o início da transformação de fase A ⇒ M − . No intervalo de tempo entre os pontos G e H existe a presença das duas frações volumétricas que representam as fases austenita e martensita induzida por compressão ( β3 e β 2 , respectivamente). A partir do ponto H ( t = 4945,37s ), devido à presença do campo de tensões, a fase M − é estável até atingir o ponto I, onde se dá o início do descarregamento compressivo, até que se atinja o ponto J ( t = 4949,34s ) que representa o início da transformação inversa M − ⇒ A , passando pelo ponto L ( t = 4950,04s ), onde existem as fases martensita induzida por compressão e austenita ( β 2 e β3 , respectivamente). 31 (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 21 – Evolução no tempo do deslocamento no período de tempo 4941 ≤ t (s) ≤ 4954 para (a) direção horizontal, (b) direção vertical, diagrama força x deslocamento do elemento de SMA para (c) direção horizontal, (d) direção vertical e evolução dos betas no tempo para (e) direção horizontal e (f) direção vertical. Assim o ciclo se repete, e com o início do carregamento de tração atinge-se o ponto M ( t = 4950,71s ) que é o início da transformação de fase A ⇒ M + passando 32 pelo ponto N ( t = 4951,44s ) onde há a coexistência de fases (austenita e martensita induzida por tração) até atingir novamente um ponto próximo do ponto A. A mesma análise pode ser feita para a direção vertical do movimento do rotor (direção y). Considere as Figuras 21.b e 21.d. O movimento para o intervalo de tempo escolhido se inicia no ponto A’ ( t = 4941s ), onde o elemento de SMA para a direção (y) se encontra na fase A . À medida que o deslocamento diminui (em módulo), o sistema alcança o ponto de equilíbrio, B’ ( t = 4941,14s ), chegando ao ponto de início da transformação de fase A ⇒ M + , representado pelo ponto D’ ( t = 4941,49s ). Esta transformação de fase se dá até que se atinja o ponto E’ ( t = 4942,35s ) e com o aumento do campo de tensões chega-se ao ponto F’ ( t = 4944,25s ) que corresponde ao ponto de máximo deslocamento positivo – associado à fase M + . A partir deste ponto, inicia-se o descarregamento até atingir o ponto G’ onde se dá o início da transformação inversa, M + ⇒ A , até atingir o ponto C’ relativo ao fim da transformação M + ⇒ A e continuando-se com a descarga até que se atinja o ponto B’ de equilíbrio do elemento de SMA. A partir do ponto de equilíbrio, se inicia a compressão e a fase austenítica é predominante até que se atinja o ponto I’ ( t = 4947,69s ), que indica o início da transformação de fase A ⇒ M − . Esta transformação se inicia em I’ e ocorre até o ponto J’. O carregamento compressivo ocorre até o ponto L’ que corresponde ao ponto de máximo deslocamento negativo – associado à fase M − . A partir de então, inicia-se o descarregamento até atingir o ponto M’ que representa o início da transformação de fase inversa, M − ⇒ A , que ocorre até que se atinja novamente a fase austenítica (ponto H’), passando pelo ponto N’ ( t = 4947,69s ). Os pontos apresentados anteriormente podem ser acompanhados (através do tempo em que ocorrem) nas Figuras 21.e e 21.f as frações volumétricas para confirmar os fenômenos físicos expostos. As letras que representam cada fase são: β1 = M + , β 2 = M − , β 3 = A e β 4 = M . A Figura 23 mostra as órbitas do espaço de fase para o intervalo de tempo considerado ( 4941 ≤ t (s) ≤ 4954 ), destacando os pontos apresentados na explicação anterior. As Figuras 22.a e 22.b mostram as órbitas do espaço de fase x × x ′ e y × y' , respectivamente. Estas órbitas mostram que o sistema oscila, para este intervalo, em torno de um ponto de equilíbrio estável (0,0). 33 A Figura 22.c mostra o espaço de fase x × y que representa o deslocamento do centro do rotor, onde o rotor toca no mancal ao longo de toda a trajetória de giro. Utilizando, mais uma vez, as letras para identificar a posição do elemento de SMA, a trajetória se inicia no ponto A e segue em sentido anti-horário. O lado direito da linha que corta o ponto x=0 representa a parte trativa do movimento (o que pode ser confirmado na Figura 21.c) pois englobam todos os pontos que estão associados a este movimento físico do elemento. Já o lado esquerdo da linha que corta x=0 representa a parte da compressão do elemento. O ponto E representa a transição entre tração e compressão. A Figura 22.d mostra o comportamento da trajetória radial do rotor. Esta trajetória é representada pela letra R e mostra o comportamento, em termos de deslocamento, do centro do rotor. (a) (b) (c) (d) Figura 22 – Órbitas do espaço de fase (a) x × x ′ , (b) y × y' , (c) x × y e (d) R × R ' . Quando a frequência de vibração forçada do sistema é igual à frequência natural do sistema, tem-se o fenômeno da ressonância. Um sistema oscilando na 34 frequência de ressonância vibra em grandes amplitudes devido ao armazenamento de energia vibracional. Quando um sistema tem frequência natural bem próxima da frequência de vibração da força existe uma superposição de frequências, causando o fenômeno de batimento. Considerando que o sistema rotor-mancal gire com frequência bem próxima da frequência natural, tem-se para o sistema puramente elástico o comportamento de batimento, o que se confirma nas Figuras 23.a e 23.b, para as direções (x) e (y) respectivamente. Já nos casos onde o sistema possui elementos de SMA, pela característica dissipativa deste material o batimento não ocorre para a mesma frequência. As Figuras 23.a e 23.b mostram a evolução no tempo do deslocamento nas direções horizontal e vertical, na faixa de tempo 4700 ≤ t ( s ) ≤ 5000 . São simuladas situações com diferentes temperaturas de trabalho para as ligas com memória de forma, onde, em comparação com o sistema puramente elástico, a amplitude do deslocamento é menor. Observa-se que com o aumento da temperatura de trabalho o sistema rotor-mancal trabalha numa faixa elástica e com isso a resposta do sistema é, qualitativamente, a mesma quando comparada ao sistema elástico. Para uma situação onde a temperatura de trabalho do sistema é de T = 298K , as amplitudes de deslocamento são menores quando comparadas com o sistema puramente elástico e, além disso, apresenta uma resposta mais regular. (a) (b) Figura 23 – Evolução no tempo do deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. A Figura 24.a mostra o comportamento do centro do rotor (R) e com isso temse que um sistema utilizando SMA, a temperatura ambiente, apresenta uma menor variação na amplitude de vibração. A Figura 24.b mostra as órbitas do espaço de fase 35 tanto para um sistema a alta temperatura e outro trabalhando em temperatura ambiente. Observa-se que o sistema que trabalha à temperatura ambiente responde de uma maneira mais bem comportada quando comparada ao caso a alta temperatura. Note que para o sistema com SMA à temperatura ambiente (T=298K), existe um ciclo estável onde o sistema oscila, enquanto o sistema elástico gira, ora tocando nas paredes do mancal ora não tocando. Este comportamento pode ser observado nas Figuras 23.a e 23.b onde se vê um comportamento de batimento no sistema elástico. (a) (b) Figura 24 – (a) Evolução no tempo do R e (b) Órbitas do espaço de fase. A Figura 25 mostra o comportamento dos elementos elástico e de SMA à temperatura ambiente e à alta temperatura. Nota-se que o comportamento do material elástico é análogo ao da SMA a alta temperatura, enquanto que o comportamento do material à temperatura ambiente apresenta perda de comportamento histerético apresentado em ambas as direções. 36 energia devida ao (a) (b) Figura 25 – Diagrama força x deslocamento para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. Todas as situações observadas neste estudo não apresentam amortecimento, ficando a cargo do comportamento especial das SMA a perda de energia que pode ser observada tanto no comportamento do deslocamento ao longo do tempo tanto no comportamento do material nos diagramas F × x e F × y . O comportamento não-linear da dinâmica do sistema rotor-mancal é muito rico, onde o sistema apresenta respostas periódicas, quasi-periódicas e caóticas. O caos é um comportamento indesejado para o sistema estudado, visto que a dinâmica do rotor não pode ser prevista, e quando não se pode prever a resposta do sistema, tem-se dificuldade em controlar seus efeitos. Uma das características mais marcantes da resposta caótica é a sensibilidade às condições iniciais, ou seja, uma pequena perturbação nas condições iniciais transforma completamente a resposta do sistema. Considere os dados da Tabela 6, para os quais o sistema com suporte elástico apresenta resposta caótica, visando investigar se a utilização do elemento de SMA modifica a natureza do comportamento do sistema. Tabela 6 – Parâmetros do sistema rotor-mancal. m (kg) M (kg) γ (m) ρ (m) ω (rad/s) k (N/m) k s (N/m) T (K) 0,15 15 0,002 0,055 1,8 3,92 350 298 A Figura 26.a mostra que a evolução no tempo do deslocamento na direção horizontal devida a uma pequena perturbação na condição inicial do deslocamento em ambas as direções da ordem de 10 −6 , muda completamente. O mesmo 37 comportamento é mostrado na Figura 26.b, através das órbitas do espaço de fase do sistema, onde é analisado y × y' , ou seja, o comportamento na direção vertical. (a) (b) Figura 26 – (a) Evolução no tempo para a direção x (b) Órbitas do espaço de fase para y × y' . A Figura 27 mostra o comportamento do sistema utilizando elementos elásticos através das órbitas do espaço de fase e da seção de Poincaré. Na Figura 27.a tem-se o comportamento do sistema para a direção horizontal. Nesta figura, observa-se o comportamento caótico do sistema através do espaço de fase que apresenta o movimento desordenado característico do caos e é apresentada também a seção de Poincaré associada a este movimento. Já na Figura 27.b tem-se o comportamento do sistema onde é mostrado o deslocamento do centro do rotor. A Figura 27.c mostra o comportamento caótico na direção vertical e a Figura 27.d mostra o comportamento do sistema, considerando a velocidade do sistema. 38 (a) (b) (c) (d) Figura 27 – Órbitas do espaço de fase e seção de Poincaré para o sistema com elemento elástico (a) para x × x ' , (b) para x × y , (c) y × y' e (d) x '× y' . A Figura 28 mostra o comportamento do sistema utilizando elementos de SMA. Através destas figuras, pode-se observar que, com a utilização das ligas com memória de forma, o sistema responde em período-1, fornecendo um comportamento regular onde o caos não existe. A Figura 28.a mostra o comportamento do sistema na direção horizontal através das órbitas do espaço de fase e da seção de Poincaré. A curva mostrada nesta figura representa o comportamento periódico do sistema e o único ponto da seção de Poincaré indica o período-1. A Figura 28.b mostra o deslocamento do centro de gravidade do rotor e em comparação com a Figura 27.b pode-se observar a complexidade do sistema caótico em relação a um sistema periódico. A Figura 28.c mostra o comportamento do sistema utilizando os elementos de SMA na direção vertical e a Figura 28.d mostra o comportamento do sistema, considerando a velocidade. 39 (a) (b) (c) (d) Figura 28 – Órbitas do espaço de fase e seção de Poincaré para o sistema com elemento elástico (a) para x × x ' , (b) para x × y , (c) y × y' e (d) x '× y' . A Figura 29 compara a evolução no tempo do deslocamento e da velocidade do sistema, utilizando elemento elástico e utilizando elemento de SMA. Na Figura 29.a tem-se o deslocamento horizontal (direção x) no tempo. Note que o sistema que utiliza o elemento elástico tem comportamento caótico enquanto o sistema que utiliza o elemento de SMA apresenta comportamento harmônico de período-1. A mesma análise pode ser feita na Figura 29.c que mostra a evolução no tempo do deslocamento na direção vertical, y, onde o sistema que utiliza o elemento de SMA apresenta resposta de período-1. A Figura 29.b mostra o comportamento da velocidade na direção x. Note que a velocidade apresenta curva defasada de noventa graus em relação à curva de deslocamento. A Figura 29.d mostra o comportamento da velocidade na outra direção, y, e pode-se observar que o sistema elástico apresenta comportamento caótico enquanto que o sistema que utiliza elemento de SMA apresenta comportamento periódico. 40 As Figuras 29.e e 29.f mostram o comportamento do centro do rotor, onde a primeira representa o deslocamento e a segunda representa a velocidade. Note que o comportamento caótico do sistema elástico confere altas amplitudes de deslocamento do centro, enquanto o sistema utilizando SMA apresenta uma resposta bem mais comportada. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 29 – Evolução no tempo (a) do deslocamento horizontal, (b) da velocidade na direção horizontal, (c) do deslocamento vertical, (d) da velocidade na direção vertical, (e) do centro do rotor e (f) da velocidade do centro do rotor. 41 A Figura 30.a mostra o espectro de frequência do sistema com elemento elástico para a direção x, onde a energia é distribuída por uma faixa grande de frequências. Já a Figura 30.b mostra o espectro do sistema com elemento de SMA. Note que esta apresenta apenas um pico na frequência de excitação do sistema. A Figura 30.c mostra o espectro de frequência do sistema com elemento elástico para a direção y, e mais uma vez a energia é distribuída por uma faixa extensa de frequência, enquanto que na Figura 30.d é mostrado o espectro de frequência para o sistema com SMA, onde, mais uma vez, só existe um pico, que representa a excitação do sistema. (a) (b) (c) (d) Figura 30 – Espectro da frequência para (a) direção x do sistema elástico, (b) direção x do sistema com SMA, (c) direção y do sistema elástico e (d) direção y do sistema com SMA. O efeito da utilização das ligas com memória de forma se mostra extremamente eficiente quando são apresentados os parâmetros anteriormente estudados, e que a dissipação interna das ligas é uma condição importante para a manutenção da reposta periódica nos casos estudados. 42 Na próxima seção discute-se a influência da assimetria tração-compressão das SMA’s na resposta dinâmica do sistema rotor-mancal. 4.3 Efeito da assimetria tração-compressão Nesta seção é discutida a influência da assimetria tração-compressão dos elementos de SMA na reposta dinâmica do sistema e é feita uma comparação com o caso elástico. A Tabela 7 mostra os parâmetros físicos do sistema rotor-mancal e a Tabela 8 mostra as propriedades físicas dos elementos de SMA que apresentam assimetria tração-compressão. Para este caso, o amortecimento é nulo no sistema rotor-mancal para que seja realçado o efeito da dissipação histerética dos elementos de SMA. Tabela 7 – Parâmetros do sistema rotor-mancal. m (kg) M (kg) γ (m) ρ (m) ω (rad/s) k (N/m) k s (N/m) T (K) 0,15 15 0,002 0,055 1,8 3,92 2,867 298 Tabela 8 – Propriedades das SMAs com assimetria. E A (GPa) E M (GPa) α T (MPa) α C (MPa) εR L 0 (MPa) 54 42 50 90 0,0555 0,15 L (MPa) LA0 (MPa) LA (MPa) Θ A (MPa/K) Θ M (MPa/K) η L (MPa.s) 4,0 6,3 165 0,74 0,17 5,0 η U (MPa.s) η LA (MPa.s) η UA (MPa.s) TA (K) TM (K) T0 (K) 5,0 2,0 2,0 222,5 201,4 298,0 A seguir, é mostrado que, para as condições definidas nas Tabelas 7 e 8, o sistema que apresenta assimetria tração-compressão se comporta de maneira bem diferente de um sistema simétrico. Um sistema de característica simétrica apresenta uma resposta bem mais regular quando comparado a um sistema assimétrico e também a um sistema elástico. Nota-se que a assimetria modifica a dinâmica do 43 sistema, pois o sistema se comporta de maneira distinta na tração e na compressão, visto que para a tração o sistema perde mais energia que na compressão. A Figura 31 mostra o comportamento do deslocamento ao longo do tempo nas duas direções de interesse. Na Figura 32.a, tem-se a comparação entre os casos elástico, com elementos de SMA simétricos e com elementos de SMA assimétricos na tração-compressão. O sistema com elemento elástico apresenta, ao longo do tempo, um ganho de energia enquanto ambos os sistemas com elementos de SMA apresentam dissipação de energia. Neste caso nota-se que o elemento de SMA com simétrica tração-compressão apresenta-se de maneira bem mais comportada em relação aos outros dois casos. (a) (b) Figura 31 – Evolução no tempo para deslocamento (a) em x e (b) em y. Na Figura 31.b, tem-se a evolução no tempo do deslocamento na direção y, onde os outros dois casos perdem energia juntamente com o sistema elástico. No entanto, onde existe a presença dos elementos de SMA, o sistema se comporta de forma mais regular, acompanhando a amplitude de vibração apresentada para a direção x. Foi escolhido o intervalo de tempo 4950 ≤ t (s) ≤ 5000 para mostrar de maneira mais detalhada o comportamento do deslocamento nas duas direções para o sistema rotor-mancal. Note que na Figura 32.a o sistema elástico apresenta amplitudes maiores de vibração em comparação com os outros dois casos, e que o sistema simétrico é mais regular quando comparado com o caso assimétrico. 44 (a) (b) Figura 32 – Evolução no tempo para deslocamento no intervalo 4950 ≤ t (s) ≤ 5000 (a) em x e (b) em y. Na Figura 32.b nota-se que o comportamento do sistema elástico se assemelha aos casos com SMA, que se apresentam com amplitudes de vibrações menores. A Figura 33 mostra como o sistema dissipa energia. Essa dissipação pode ser observada nos gráficos de força-deslocamento onde se apresentam os laços de histerese. Nas Figuras 33.a e 33.b, é feita uma comparação entre o comportamento de um sistema utilizando elementos de SMA com comportamento simétrico e assimétrico. (a) (b) Figura 33 – Diagrama força x deslocamento do elemento de SMA para (a) direção horizontal e (b) direção vertical. Considere os dados da Tabela 5 e da Tabela 8, onde a primeira está associada à resposta simétrica tração-compressão e a segunda à resposta assimétrica. Da Tabela 8 os dados correspondentes ao parâmetro de dissipação interna η L 45 (associado à martensita não-maclada induzida por tensão que controla a transformação martensítica) e η U (parâmetro de dissipação interna associado à martensita não-maclada induzida por tensão que controla a transformação inversa) foram modificados para 8,0 MPa.s a fim de se explorar novos comportamentos para o caso com assimetria. As Tabelas 9 e 10 mostram, respectivamente, os dados geométricos e estruturais do sistema assim como os parâmetros utilizados no sistema rotor-mancal. Tabela 9 – Dados geométricos e estruturais do elemento de SMA. D (m) d (m) N k s (N/m) 0,009 0,000916 5 350 J p (m4) k (N/m) d eixo (m) M (kg) 9,81 x 10-10 3,92 0,01 15 A Tabela 10 mostra que a rigidez associada ao mancal é aumentada da ordem de 103 e esta mudança influencia na resposta do sistema assimétrico que passa a responder de maneira caótica, enquanto o sistema simétrico se comporta de maneira harmônica de período-1. Tabela 10 – Parâmetros do sistema rotor-mancal. m (kg) M (kg) γ (m) ρ (m) 0,15 15 0,002 0,055 ω (rad/s) k (N/m) 1,8 3,92 k s (N/m) T (K) 350 298 A Figura 34.a mostra que, para a direção x, o sistema rotor-mancal passa da resposta periódica para a caótica com a modificação dos parâmetros que controlam o mecanismo de tração-compressão, onde o sistema simétrico responde de maneira comportada, enquanto o sistema assimétrico apresenta comportamento caótico. Esta mesma análise pode ser feita observando o comportamento da curva apresentada na Figura 34.b que representa o deslocamento do rotor na direção y. 46 (a) (b) Figura 34 – Evolução no tempo para deslocamento (a) em x e (b) em y. A Figura 35.a mostra as órbitas do espaço de fase para os sistemas com elementos de SMA simétrico e assimétrico. A órbita fechada (em preto) mostra o comportamento do sistema simétrico, enquanto o comportamento assimétrico está demonstrado na outra curva (em vermelho). Neste caso, tem-se que o sistema rotormancal utilizando elemento de SMA com comportamento simétrico, após um regime transiente, se estabiliza numa órbita estável de período-1 enquanto que o mesmo sistema utilizando elementos de ligas com características assimétricas se comporta de maneira tipicamente caótica. Na Figura 35.b têm-se as órbitas do espaço de fase para x × y , onde se observa o movimento do centro do rotor. Mais uma vez, nota-se que o comportamento do sistema utilizando os elementos de ligas com comportamento simétrico apresentam vantagens significativas em relação ao sistema que utiliza estas ligas assimétricas. A órbita fechada (em preto) mostra o comportamento de período-1. (a) (b) Figura 35 – Órbitas do espaço de fase para (a) x × x ' e (b) x × y . 47 Para mostrar outra característica importante do caos no sistema rotor-mancal com elementos de SMA assimétricos, tem-se a Figura 36 que mostra as órbitas do espaço de fase com comportamento caótico e a seção de Poincaré associada a este comportamento. A Figura 36.a mostra o comportamento do ponto de vista da velocidade do sistema, enquanto a Figura 36.b mostra comportamento do ponto de vista do movimento na direção y. Em ambos os casos tem-se a presença das órbitas desordenadas. (a) (b) Figura 36 – Órbitas do espaço de fase e seção de Poincaré para (a) x '× y' e (b) y × y' . A Figura 37 mostra o espectro de frequência para o sistema com resposta periódica e para o sistema com resposta caótica. A Figura 37.a mostra que o espectro de frequência para a direção x apresenta apenas um pico que representa a frequência de excitação do sistema, enquanto a Figura 37.b mostra o espectro para o sistema com comportamento caótico. Note que a energia é distribuída por uma faixa de frequência e que não apresenta apenas um pico em destaque conforme o caso periódico. A Figura 37.c mostra o comportamento do sistema rotor-mancal utilizando as SMA com comportamento tração-compressão simétrico e a Figura 37.d mostra o comportamento do sistema rotor-mancal utilizando elementos de SMA com comportamento assimétrico. 48 (a) (b) (c) (d) Figura 37 – Espectros de frequência para (a) Resposta simétrica na direção x (b) Resposta assimétrica na direção x, (c) Resposta simétrica na direção y e (d) Resposta assimétrica na direção y. 4.4 Efeito do amortecimento externo Nesta seção são apresentados os resultados do sistema rotor-mancal sob a influência do amortecimento viscoso associado ao eixo do rotor, que pode representar diversos fenômenos dissipativos como o amortecimento estrutural e a viscosidade dos fluidos lubrificantes. Os resultados apresentados são gerados, utilizando os dados da Tabela 10, e revelam que o sistema utilizando elementos elásticos possui comportamento dinâmico bastante complexo onde existe comportamento tipicamente caótico na faixa 0 ≤ c ( N.s / m) ≤ 0,03 , e periódico de período-1 a partir de c > 0,03 N.s / m . Com isso, conclui-se que o aumento do amortecimento tende a estabilizar o comportamento do sistema rotor-mancal em órbitas periódicas. 49 Já no sistema utilizando elementos de SMA, o sistema oscila sempre em órbitas periódicas, para a faixa de amortecimento analisada, não apresentando a complexidade exposta anteriormente para o sistema elástico. Este resultado demonstra que a resposta deste sistema é indiferente à variação do coeficiente de amortecimento para esta faixa. A Figura 38 mostra a evolução do deslocamento do rotor no tempo para c = 0,002 N.s/m. O sistema utilizando elemento elástico se comporta de maneira caótica tanto na direção x quanto na direção y, enquanto o sistema utilizando elementos de SMA se comporta de maneira periódica de período-1. (b) (b) Figura 38 – Evolução no tempo do deslocamento para (a) direção x e (b) direção y. A Figura 39 mostra as órbitas do espaço de fase para a direção x (Figura 39.a) e para o deslocamento do centro do rotor (Figura 39.b). Note que o sistema que utiliza elemento de SMA apresenta apenas uma órbita estável de período-1 enquanto o sistema que utiliza elementos elásticos apresenta uma órbita caótica, representadas por uma curva que nunca se fecha devido à imprevisibilidade do comportamento. 50 (a) (b) Figura 39 – Espaço de fase para (a) x × x ' e (b) x × y utilizando c = 0,002 N.s / m . Na Figura 40.a é mostrado o comportamento periódico para o sistema que utiliza os elementos de SMA. O ponto único mostrado na figura mostra que o sistema é de período-1. A Figura 40.b mostra o espaço de fase x × y tipicamente caótico e a seção de Poincaré associada a este espaço de fase. (a) (b) Figura 40 – Espaço de fase e seção de Poincaré para (a) y × y' utilizando SMA e (b) y × y' utilizando elemento elástico utilizando c = 0,002 N.s / m . A Figura 41 mostra o espectro de frequência para o comportamento caótico (Figura 41.a) e para o comportamento periódico (Figura 41.b). 51 (a) (b) Figura 41 – Espectro de frequência utilizando c = 0,002 N.s / m para (a) direção x utilizando elemento elástico e (b) direção x utilizando elemento de SMA. Considerando, agora, o coeficiente de amortecimento (c) igual a 0,05 N.s / m , tem-se a modificação completa da resposta do sistema que utiliza os elementos elásticos, onde o comportamento caótico dá lugar a um comportamento harmônico de período-1. A Figura 42.a mostra a história no tempo do deslocamento em x. Note que enquanto o sistema utilizando elementos de SMA já atingiu o regime permanente, o sistema utilizando elemento elástico ainda está em regime transiente. Este fato se deve ao comportamento histerético das SMA, conferindo dissipação de energia ao sistema (além do amortecimento). Na Figura 42.b é mostrado o comportamento do sistema em regime permanente para 4950 < t (s) < 5000. É importante notar que o sistema que utiliza elemento elástico apresenta menor amplitude de deslocamento, entretanto, o fato importante a se destacar é que o sistema utilizando elementos de SMA apresenta-se em regime permanente desde t=50s aproximadamente. (a) (b) Figura 42 – Evolução no tempo do deslocamento em x utilizando c = 0,05 N.s / m para (a) direção x considerando regime transiente e (b) direção x considerando regime permanente. 52 A mesma análise apresentada anteriormente serve para descrever o comportamento mostrado na Figura 43. A Figura 43.a mostra a história no tempo do deslocamento em (y), considerando regime transiente, enquanto a Figura 43.b mostra o comportamento do sistema na direção y em regime permanente. (a) (b) Figura 43 – Evolução no tempo do deslocamento em y utilizando c = 0,05 N.s / m para (a) direção x considerando regime transiente e (b) direção x considerando regime permanente. O efeito dos elementos de SMA se mostra especialmente importante nas análises deste parâmetro, revelando que a dissipação interna do elemento de SMA é suficiente para a manutenção da resposta periódica nos casos estudados. 53 5. Considerações Finais As máquinas rotativas são constituídas de sistemas rotor-mancal, e estes sistemas desbalanceados apresentam problemas que notadamente são grandes fontes de quebras neste tipo de equipamento. Estes desbalanceamentos podem provocar toques entre o eixo do rotor e as paredes do mancal (rubbing) que são fontes de não-linearidades e consequentemente provocam respostas muito difíceis de controlar. Além disso, as altas amplitudes de deslocamento provenientes deste desbalanceamento produzem forças indesejáveis na dinâmica do sistema, que podem apresentar problemas de desgaste e até mesmo quebras. O objetivo deste trabalho é atestar o potencial das ligas com memória de forma para serem empregadas na redução de vibrações em sistemas rotativos que utilizam conjuntos do tipo rotor-mancal. O trabalho contempla quatro modelos para representar este sistema – a saber: dois modelos com um grau de liberdade (um com suporte elástico e outro com SMA) e dois modelos com dois graus de liberdade (um com suporte elástico e outro com SMA). Os três primeiros modelos, apresentados no Capítulo 3, visam a verificação do código computacional, através da comparação com resultados numéricos existentes na literatura. Os resultados obtidos neste trabalho estão coerentes com aqueles pesquisados na literatura. Para demonstrar a capacidade de dissipação intrínseca da SMA’s, comparam-se os resultados obtidos para o modelo com dois graus de liberdade utilizando suportes de SMA no mancal com outro utilizando suportes elásticos lineares. A análise do novo modelo proposto com dois graus de liberdade e mancais de SMA é baseada no fenômeno pseudoelástico das ligas (ou seja, são conduzidos apenas ensaios à alta temperatura para a qual a fase austenítica é estável fora da presença de tensões). Inicialmente, considera-se um caso de vibração livre e sem amortecimento, onde apenas o efeito histerético das ligas é responsável pela dissipação de energia. Verifica-se que o sistema perde energia, tendendo para um movimento com amplitude constante associada ao regime elástico da fase austenítica. Ensaios a diferentes temperaturas são propostos, para os quais se verifica a variação inversa da dissipação com a temperatura. A seguir, discutem-se os casos sem amortecimento e com vibração forçada harmônica devido a um desbalanceamento do rotor. Em todas as situações, o sistema com SMA apresenta uma resposta mais regular que o sistema elástico em regime permanente. Nesta seção, cabe destacar a possibilidade de atuação através da 54 variação de temperatura sobre os elementos de SMA, alterando suas propriedades e, consequentemente, modificando a resposta dinâmica do sistema. Na seção seguinte, assume-se uma assimetria do elemento de SMA no comportamento à tração e à compressão. Os resultados mostram que o grau de assimetria do elemento de SMA (função da composição química de cada liga) proporciona diferentes níveis de dissipação, alterando radicalmente a natureza do comportamento dinâmico do sistema, podendo variar de periódicos a caóticos. Este é mais um aspecto que confere uma flexibilidade à utilização das SMA’s, de acordo com cada aplicação. Por fim, introduz-se um amortecimento viscoso linear no sistema, mantendo-se a vibração forçada harmônica. Novamente, os resultados mostram que, para a condição assumida, o sistema apresenta uma resposta mais regular para o caso com anteparo de SMA, comparada à resposta com anteparo elástico. Além disso, em situações onde ambas as respostas são periódicas, o sistema com SMA alcança o regime permanente mais rapidamente que o sistema elástico, devido à presença de duas fontes de dissipação: o amortecimento viscoso linear e a dissipação intrínseca do elemento de SMA. As simulações apresentadas caracterizam o potencial de aplicação do efeito pseudoelástico das ligas SMA como uma forma de controle passivo de sistemas dinâmicos. Dentre as principais vantagens de utilização das SMA’s sobre materiais elásticos convencionais, é possível destacar: • A escolha da liga permite variar propriedades como: deformação residual máxima, tensão crítica para transformação de fase; energia dissipada associada ao laço de histerese; assimetria; entre outras, de acordo com a aplicação. Lembrando desenvolver/recuperar que as índices de ligas SMA deformação são ordens capazes de de grandeza superiores a materiais elásticos convencionais; • Devido à característica adaptativa do material, é possível controlar o nível de dissipação em função da temperatura para uma mesma liga; • Dentro do contexto de aplicações dinâmicas, a riqueza de comportamentos, função da natureza não-linear intrínseca das ligas, permite a utilização de técnicas de controle não-linear, onde é possível efetuar o controle através de pequenas perturbações no sistema. Com isso a versatilidade deste material nas aplicações de engenharia é mostrada, onde já são conhecidas suas aplicações na área naval, ortodôntica, aparelhos cardíacos, válvulas de controle de temperatura e até mesmo vestuário. A análise dinâmica do sistema revela que a aplicação destas ligas oferece boas 55 alternativas no desenvolvimento de sistemas passivos de controle de vibração mais eficientes, capazes de dissipar energia de forma inteligente. Como proposta de trabalhos futuros, sugere-se a aplicação do efeito memória de forma no controle ativo de vibrações em sistemas mecânicos, fazendo com que o sistema tenha um controle instantâneo de temperatura que corrija os comportamentos indesejados e torne a resposta do sistema regular. Sugerem-se ainda, o estudo dinâmico deste sistema experimentalmente, através de um protótipo a fim de verificar o efeito histerético das ligas com memória de forma em sistemas rotor-mancal. 56 6. Referências Bibliográficas ABEYARATNE, R., KIM, S.J. & KNOWLES, J.K., 1994, “Continuum Modeling of Shape Memory Alloys”, Mechanics of Phase Transformations and Shape Memory Alloys, ASME, pp. 59-69. ACHENBACH, M. & MÜLLER, I.A., 1982, “A Model for Shape Memory”, Journal de Physique, Vol.12, No. 43, pp. 163-167. AL-BEDOOR, B.O., 2000, “Transient torsional and lateral vibrations of unbalanced rotors with rotor-to-stator rubbing.” ,Journal of Sound and Vibration, pp 627-645. ANDERS, W.S., ROGERS, C.A. & FULLER, C.R., 1992, “Vibration and Lowfrequency Acoustic Analysis of piecewise-activated Adaptive Composite Panels”, Journal of Composite Materials, Vol. 26, pp. 103-120. AURICCHIO, F., TAYLOR, R. L. & LUBLINER, J., 1997, “Shape-Memory Alloys: Macromodeling and Numerical Simulations of the Superelastic Behavior”, Computer Methods in Applied Mechanics and Engineering, Vol. 146, No. 3-4, pp. 281312. BERVEILLER, M.; PATOOR, E. & BUISSON, M., 1991, “Thermomechanical Constitutive Equations for Shape Memory Effects in Alloys”, Journal de Physique IV, Vol. 1, pp. 387-396. BIRMAN, V., 1997, “Review of Mechanics of Shape Memory Alloys Structures”, Applied Mechanics Review, Vol. 50, No. 11, pp. 629-645. BOYD, J.G. & LAGOUDAS, D.C., 1996, “Thermodynamic Constitutive Model for the Shape Memory Materials – Part I: The Monolithic Shape Memory Alloys”, International Journal of Plasticity, Vol. 12, No. 6, pp. 805-842. BRINSON, L.C., 1993, “One Dimensional Constitutive Behavior of Shape Memory Alloys: Thermomechanical Derivation with Non-constant Material Functions and Redefined Martensite Internal Variable”, Journal of Intelligent Material Systems and Structures, No. 4, pp. 229-242. BUEHLER, W.J. & WILEY, R.C., 1965, “Nickel-Based Alloys”, Technical Report. CHOY, F.K., PADOVAN, J.,1987, “Nonlinear transient analysis of rotor-casing rub events”, Journal of sound and Vibration 113, pp 529-545. COMSTOCK Jr., R.J., BUCHHEIT, T.E., SOMERDAY, M. & WERT, J.A., 1996, “Modeling the transformation Stress of Constrained Shape Memory Alloys Single Crystals”, ACTA Materialia, Vol. 44, No. 9, pp. 3505-3514. DUERIG, T.M.; PELTON, A. & STÖCKEL, D. 1999, “An Overview of Nitinol 57 Medical Applications”, Materials Science and Engineering, A273-275, pp. 149-160,. EDWARDS, S., LEES, A.W., FRISWELL, M.I., 1999, “The influence of torsion on rotor/stator contact in a rotating machinery”, Journal of Sound and Vibration, pp 767-778. ENTCHEV P.B. & LAGOUDAS D.C., 2002, “Modeling Porous Shape Memory Alloys Using Micro-Mechanical Averaging Techniques”, Mechanics of Materials, Vol. 34, No. 1, pp. 1-24. FALK, F., 1983, “One-Dimensional Model of Shape Memory Alloys”, Arch. Mech., No. 35, pp. 63-84. FERNANDES, F.M.B., 2006, “Ligas com memória de forma”, Departamento de Ciências dos Materiais, Universidade Nova de Lisboa, Portugal. FISCHER, F.D. & TANAKA, K., 1992, “A Micromechanical Model for The Kinetics of Martensitic-Transformation”, International Journal of Solids and Structures, Vol. 29, No. 14-15, pp. 1723-1728. FREMOND, M., 1996, “Shape Memory Alloy: A Thermomechanical Macroscopic Theory”, CISM Courses and Lectures, No. 351, pp. 3-68. FUNAKUBO, H., 1987, “Shape Memory Alloys”, Gordon & Bleach, New York. GALL, K., SEHITOGLU, H., CHUMLYAKOV, Y.I. & KIREEVA, I.V., 1999, “Tension-Compression Asymmetry of the Stress-Strain Response in Aged Single Crystal and Polycrystalline Ni-Ti”, ACTA Materialia, Vol. 47, No. 4, pp. 1203-1217. GANESAN, R., 1996, “Dynamic response and stability of a rotor-support system with non-symmetric bearing clearances”, Mechanism and machine Theory, pp 781-798. GONSALVES, D.H., NEILSON, R.D., BARR, A.D.S., 1995, “A study of response of a discontinuously nonlinear rotor system.”, Nonlinear dynamics, pp 70-451. GOVINDJEE, S. & KASPER, E.P., 1997, “A Shape Memory Alloy Model for Uranium-Niobium Accounting for Plasticity”, Journal of Intelligent Material Systems and Structures, Vol. 8, pp. 815-826. HERZOG, H.; JACQUET, E., 2007, “From a Shape Memory Alloys Model Implementation to a Composite Behavior”, Computational Material Science, pp. 365375. HODGSON, D.E. & BROWN, J.W., 2000, “Using Nitinol Alloys”, Shape Memory Applications INC, 44 pp. JEFFCOTT, H.H.,1919, “The lateral vibration of loaded shifts in the neighborhood of a whirling speed – the effects of want of balance.”, Philosophical Magazine Series 6, pp 304-314. KLOUCEK, P., REYNOLDS, D.R. & SEIDMAN, T.I., 2004, “Computational 58 Modeling of Vibration Damping using SMA Wires”, Continuum Mechanics and Thermodynamics, Vol.16, No. 5, pp.495-514. LAHA, S.K., KAKOTY, S.K., 2011, “Non-linear Dynamic Analysis of a Flexible Rotor Supported on Porous Oil Journal Bearing”, Common Nonlinear Sci Numer Simulat 16, pp 1617-1631. LECLERCQ, S., BOURBON, G. & LEXCELLENT, C., 1995, “Plasticity Like Model of Martensite Phase Transition in Shape Memory Alloys”, Journal de Physique IV, Vol. 5, pp. 513-518. LEES, A. W., 2011, “Smart Machines with Flexible Rotors”, Mechanical Systems and Signal Processing 25, pp. 373-382. LEMAITRE, J.; CHABOCHE, J.L., 1990, “Mechanics of Solid Materials”, Cambridge University Press. LEVITAS, V.I., IDESMAN, A.V., STEIN, E., SPIELFELD, J. & HORNBOGEN, E., 1998, “A Simple Micromechanical Model for Pseudoelastic Behavior of CuZnAl Alloy”, Journal of Intelligent Material Systems and Structures, No. 5, pp. 324-334. LIANG, C. & ROGERS, C.A., 1990, “One-Dimensional Thermomechanical Constitutive Relations for Shape Memory Materials”, Journal of Intelligent Material Systems and Structures, No.1, pp.207-234. LU, Z.K. & WENG, G.J., 1998, “A Self-Consistent Model for the Stress-Strain Behavior of Shape Memory Alloy Polycrystals”, ACTA Materialia, Vol. 46, No. 15, pp. 5423-5433. LUO, G. W., LV, X. H., 2009, “Controlling bifurcation and chaos of a plastic impact oscillator.”, Nonlinear Analysis: Real World Applications, pp 2047-2061. MA. L., LUO, G., LV, X., 2009, “Dynamic analysis and suppressing chaotic impacts of a two-degree-of-freedom oscillator with a clearance.”, Nonlinear Analysis: Real World Applications, pp 756-778. MACHADO, L.G. & SAVI, M.A., 2002, “Aplicações Odontológicas das Ligas com Memória de Forma”, Revista Brasileira de Odontologia, Vol.59, No.5, pp. 302-306. MACHADO, L.G. & SAVI, M.A., 2003, “Medical Applications of Shape Memory Alloys”, Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Vol. 36, No. 6, pp. 683691. MANTOVANI, D., 2000, “Shape Memory Alloys: Properties and Biomedical Applications”, Journal of the Minerals Metals & Materials Society, Vol. 52, No. 10, pp. 36-44. MEIROVITCH, L., 1986, “Elements of Vibration Analysis”, McGraw-Hill Book Company, 560 pp. 59 MULLER, I. & SEELECKE, S., 2001, “Thermodynamic Aspects of Shape Memory Alloys”, Mathematical and Computer Modeling, Vol. 34, pp. 1307-1355. MUSZYNSKA, A., GOLDMAN, P.,1995 , “Chaotic responses of unbalanced rotor/bearing/stator systems with looseness or rubs.”, Chaos Solitons & Fractals, pp 1683-1704. NISHIYAMA, Z., 1978, “Martensitic Transformation”, Academic Press, New York. ORTIZ, M.; PINSKY, P. M.; TAYLOR, R. L. , 1983, “Operator Split Methods for the Numerical Solution of the Elastoplastic Dynamic Problem”. Computer Methods of Applied Mechanics and Engineering, 39. pp.137-157. OTSUKA, K. & REN, X., 1999, “Recent Developments in the Research of Shape Memory Alloys”, Intermetallics, No. 7, pp. 511-528. PACHECO, P.M.C.L. & SAVI, M.A., 1997, “A Non-Explosive Release Device for Aerospace Applications Using Shape Memory Alloys”, XIV Brazilian Mechanical Engineering Congress. PAIVA, A. & SAVI, M.A., 2006, “An Overview on Constitutive Models for Shape Memory Alloys”, Mathematical Problems in Engineering, Article ID 56876, pp. 1-30. PAIVA, A., SAVI, M.A., PACHECO, P.M.C.L. & BRAGA, A.M.B., 2005, “A Constitutive Model for Shape Memory Alloys Considering Tensile-Compressive Asymmetry and Plasticity”, International Journal of Solids and Structures, Vol. 42, pp. 3439-3457. PATEL, T.H., DARPE, A.K., 2008, “Vibration response of a cracked rotor in presence of rotor-stator rub”, Journal of Sound and Vibration, pp 841-865. PERKINS, J., 1975, “Shape Memory Effects in Alloys”, Plenum Press, New York. REDINIOTIS, O.K., WILSON, L.N., LAGOUDAS, D.C. & KHAN, M.M., 2002, “Development of a Shape-Memory-Alloy Actuated Biomimetic Hydrofoil”, Journal of Intelligent Material Systems and Structures, Vol. 13, No. 1, pp. 35-49. ROGERS, C.A., 1995, “Intelligent Materials”, Scientific American, pp. 122-127. RYHÄNEN, J., 1999, “Biocompatibility Evolution of Nickel-Titanium Shape Memory Alloy”. Dissertação de Mestrado, University of Oulu, Faculty of Medicine. SANTOS, B.C., SAVI, M.A., 2009, “Nonlinear dynamics of a nonsmooth shape memory alloy oscillator”, Chaos, Solitons & Fractals 40, pp. 197-209. SAVI, M. A.; BRAGA, A. M., 1993, “Chaotic Vibration of an Oscillator with Shape Memory”, Journal of the Brazilian Society of Mechanical Science, 15 (1): pp. 120. 60 SAVI, M.A, DIVENYI, S.,FRANCA, L.F.P., WEBER, H.I., 2007, “Numerical and experimental investigations of the nonlinear dynamics and chaos in non-smooth systems”, Journal of Sound and Vibration 301, pp 59-73. SAVI, M.A., 2006, Dinâmica não-linear e Caos. 1ª ed. Rio de Janeiro, Ed. Epapers. SAVI, M.A., DIVENYI, S., FRANCA, L.F.P. et al., 2006, “Nonlinear dynamics and chaos in systems with discontinuous support”, Shock and Vibration 13, pp 315326. SCHWEIZER, B., SIEVERT, M., 2009, “Nonlinear oscillations of automotive turbocharger turbines.”, Journal of Sound and Vibration, pp 955-975. SHANG, Z., JIANG, J. & HONG, L., 2011, “The global responses characteristics of a rotor/stator rubbing system with dry friction effects”, Journal of Sound and Vibration 330, pp. 2150-2160. SHIGLEY, J.E, 2006, “Mechanical Engineering Design”, Editora Mc Graw Hill, 8ª edição. SILVA, E.P., 1995, “Modelagem Mecânica de Transformações de Fase Induzidas por Tensões em Sólidos”, Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Mecânica, UNB – D.F, Brasil. SITNIKOVA, E., PAVLOVSKAIA, E., WIERCIGROCH, M. & SAVI, M.A., 2010, “Vibration reduction of the impact system by an SMA restraint: numerical analysis”, International Journal of Nonlinear Mechanics 45, pp 837-849. SITTNER, P. & NOVÁK, V., 2000, “Anisotropy of Martensitic Transformations in Modeling of Shape Memory Alloy Polycrystals”, International Journal of Plasticity, Vol. 16, pp. 1243-1268. SOUZA, A.C., MAMIYA, E. & ZOUAIN, N., 1998, “Three-Dimensional Model for Solids Undergoing Stress-Induced Phase Transformations”, European Journal of Mechanics - A Solids, No. 17, pp. 789-806. SUDHAKAR, G. N. D. S & SEKHAR, A. S., 2011, “Identification of Unbalance in a Rotor Bearing System”, Journal of Sound and Vibration 330, pp. 2299-2313. SUN, Q.P. & HWUANG, K.C., 1993, “Micro-Mechanics Modeling for the Constitutive Behavior of Polycrystalline Shape memory Alloys – Part I: Derivation of General Relations”, Journal of the Mechanics and Physics of Solids, Vol. 41, pp. 1-18. TANAKA, K.; NAGAKI, S., 1982, “Thermomechanical Description of Materials with Internal Variables in the Process of Phase Transformation”. Ingenieur – Archiv., 51, pp. 287-299. VON GROLL, G., EWINS, D.J., 2001, “The Harmonic balance method with arc- 61 length continuation in rotor/stator contact problems”, Journal of sound and Vibration, pp 223-233. WARLIMONT, H., 1974, “Thermoelasticity, Pseudoelasticity and the Memory Effects Associated with Martensitic Transformations - Part 3: Thermodynamics and Kinetics.”, Journal of Materials Science 9, pp. 1545-1555. WENHUI, X., YOUGANGA, T., CHEN YUSHUB C., 2008, “Analysis of motion stability of the flexible rotor-bearing system with two unbalanced disks.”, Journal of Sound and Vibration, pp 381-393. WIERCIGROCH, M., KARPENKO, E.V., CARTMELL, M.P., 2002, “Regular and chaotic dynamics of a discontinuously nonlinear rotor system”, Chaos Solitons & Fractals, pp 1231-1242. WIERCIGROCH, M., KARPENKO, E.V., PAVLOVSKAIA, E.E., CARTMELL, M.P., 2002, “Piecewise approximate analytical solutions for a Jeffcott rotor with a snubber ring”, International Journal of Mechanical Sciences. pp 475-488. WIERCIGROCH, M., KARPENKO, E.V., PAVLOVSKAIA, E.E., 2003, “Bifurcation analysis of a preloaded Jeffcott rotor.”, Chaos Solitons & Fractals, pp 407416. WU, S. K.; LIN, H. C., 2000, ”Recent Development of Ni-Ti-Based Shape Memory Alloys in Twain.”, Materials Chemistry and Physics, 64. pp. 81-92. YAO, G.Z., QIU, Y., MENG, G. et al., 1999, “Vibration control of a rotor system by disk type electrorheological damper”, Journal of Sound and Vibration, pp. 175-188. ZENG, S. WANG X, 1999, “The influence of the electromagnetic balancing regulator on the rotor system”, Journal of Sound and Vibration, pp 723-729. ZHANG, S., McCORMICK, P.G., 2000, “Thermodynamic Analysis of Shape Memory Phenomena — II. Modelling”, Acta Materialia, Volume 48, Issue 12, pp.3091-3101. ZHANG, Y, WEN, B., LEUNG, A., 2002, “Reliability analysis for rotor rubbing”, Journal of Vibration and Acoustics, pp 58-62. 62