O ESTILO MOTIVACIONAL DE PROFESSORES BRASILEIROS: PREFERÊNCIA POR CONTROLE X PREFERÊNCIA POR AUTONOMIA AMÉLIA CAROLINA TERRA ALVES MACHADO (UEL - BOLSISTA PROIC/UEL) , SUELI EDI RUFINI GUIMARAES . [email protected] - UEL O ambiente de sala de aula é apontado como fator determinante do interesse dos alunos com conteúdos escolares. Nesse contexto, o estilo motivacional do professor é considerado uma das principais influências na motivação dos estudantes. A literatura aponta para uma predominância de motivação extrínseca em relação à escola em decorrência, principalmente, das ações do professor em sala de aula. Este trabalho, na perspectiva da Teoria da Autodeterminação, apresenta conceitos relativos à interação entre professor e alunos, focalizando o estilo motivacional do professor. Teoria da Autodeterminação; Estilo motivacional; Autonomia, Motivação intrínseca e extrínseca; Recompensas externas. Introdução O ambiente de sala de aula é apontado como fator determinante do interesse dos alunos com conteúdos escolares. Nesse contexto, o estilo motivacional do professor é considerado uma das principais influências na motivação dos estudantes. A literatura aponta para uma predominância de motivação extrínseca em relação à escola em decorrência, principalmente, das ações do professor em sala de aula. Este trabalho, na perspectiva da Teoria da Autodeterminação, apresenta conceitos relativos à interação entre professor e alunos, focalizando o estilo motivacional do professor. Material e Métodos Participaram da pesquisa 1296 professores do ensino fundamental e médio de diversos estados brasileiros: Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Do total de professores, 1160 (83,93%) eram do gênero feminino e 123 (8,9%) do gênero masculino; 117 (8,47) tinham até 22 anos, 390 (28,24) de 23 a 30 anos, 720 (52,13) de 31 a 50 anos e 48 (3,47) mais de 51 anos. Quanto ao tempo de atuação no magistério, 280 (20,26) não tinham experiência, 222 (16,06) de um a três anos, 337 (24,38) de 4 a 10 anos e 388 (28,07) tinham mais de 11 anos de experiência. Os números variam pelo fato de que alguns participantes deixaram de responder a algumas questões sobre os dados demográficos. Os professores responderam ao instrumento (à versão brasileira de uma escala de avaliação do estilo motivacional de professores), preferencialmente em cursos de pós-graduação ou de formação continuada. O tempo gasto na atividade variou de 10 a 15 minutos. Resultados e Discussão De acordo com os resultados obtidos, percebe-se que as respostas dadas às oito situações propostas pelo questionário apontam para uma acentuada preferência dos professores por estratégias promotoras de autonomia (M = 6,01 Dp = 0,73), em vez de estratégias controladoras (M = 2,72 dp = 1,01). Pelo teste t, essa diferença entre as médias é estatisticamente significativa (p = 0,00005). Sendo assim, terá pertinência uma reflexão sobre as possíveis causas destas respostas visto que, informalmente, a situação das salas de aula Anais do XV EAIC e VI EPUEPG de 22 a 25 de agosto de 2006 - ISSN: 1676-0018 = 0,00005). Sendo assim, terá pertinência uma reflexão sobre as possíveis causas destas respostas visto que, informalmente, a situação das salas de aula nas escolas brasileiras não parece indicar tal tipo de interação entre professores e alunos. Algumas questões ou hipóteses podem ser levantadas a partir dos resultados encontrados neste estudo. A primeira refere-se ao instrumento utilizado para levantamento dos dados. A técnica de auto-relato tem sido amplamente utilizada em estudos exploratórios, nos quais são buscadas informações acerca de uma situação ou contexto ainda não investigado. Além disso, o auto-relato pode ser ainda mais oportuno do que entrevistas não estruturadas quando se trata de constructos bem sólidos teoricamente, já detalhados seus desdobramentos. No entanto, como toda alternativa de coleta de informações em pesquisas nas áreas humanas, o auto-relato apresenta a limitação de gerar nos participantes a preocupação em apresentar respostas socialmente esperadas. Um segundo aspecto a ser levantado é que o estilo motivacional do professor é uma característica vinculada a traços de personalidade, uma tendência individual de ser mais controlador ou promotor de autonomia nas iterações com as outras pessoas, mas que pode ser influenciado por variáveis ambientais e culturais. Conclusões Muitas dúvidas devem permear a consciência dos professores visto que se esbanja em teorias que por vezes não possuem aplicabilidade nenhuma, afinal será que criar um ambiente autônomo é o mesmo que não impor regras? Ou que o professor não intervenha no percurso de aprendizagem de seus alunos? Estudos atuais sobre a temática da promoção de autonomia têm indicado que a autonomia cognitiva oferecida aos alunos em situações de aprendizagem é a que maior influência a sua motivação. Oferecer escolhas sobre aspectos irrelevantes ou pontuais como, por exemplo, com quem realizar o trabalho, onde sentar-se, a cor da tinta com que se escreve, se o trabalho é digitado ou escrito manualmente, teriam pouca eficácia em termos da motivação dos alunos para aprender. São estas algumas questões necessárias para que o professor realmente compreenda qual o melhor caminho para a promoção de autonomia na sua sala de aula. Os resultados deste estudo podem, com certa cautela, serem considerados positivos, se pensarmos em professores brasileiros disponíveis para a promoção de um ambiente de aprendizagem rico em escolhas, oportunidades diversificadas de aprendizagem, com espaço para uma diversidade de idéias e interesses. Como tornar essa propensão dos professores em uma realidade no trabalho com os alunos é um desafio para aqueles vinculados a sua formação. Agradecimentos Agradeço à Drª. Profª Sueli Edi Rufini Guimarães, que com tanto amor e dedicação tem orientado este trabalho. Referências Bibliográficas BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (Org.). A Motivação do Aluno. Contribuições da Psicologia Contemporânea. 3ª ed. Petrópolis, RJ.: Editora Vozes, 2004 . BALLESTER, ET. AL. Avaliação como apoio a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2003 BROPHY, J. Motivating Students to Learn. Boston: McGraw Hill,1999. DECI, E. L. & RYAN, R. M. Intrinsic Motivation and Self-Determination in Human Behavior. New York: Plenum,1985 DECI, E. L.; RYAN, R. M. The "what" and "why" of goal pursuits: human needs and Anais do XV EAIC e VI EPUEPG de 22 a 25 de agosto de 2006 - ISSN: 1676-0018 DECI, E. L.; RYAN, R. M. The "what" and "why" of goal pursuits: human needs and self-determination of behavior. Psychological Inquiry, v. 11, n. 4, p. 227-268, 2000. DECI, E. L. & RYAN R. M. Handbook of Self-Determination Research. New York: The University Rochester Press, 2004 DECI, E. L.; SCHWARTZ, A. J.; SHEINMAN, L.; RYAN, R. M. Na instrument to assess adults orientations toward control versus autonomy with children: reflections on intrinsic motivation and perceived competence. Journal of Educational Psychology, v. 73, n. 5, p. 642-650, 1981. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Petrópolis, RJ.: Editora Vozes, 2003 GRAHAM, S.; WEINER, B. Theories and principles of motivation. In: BERLINER, D. C.; CALFEE, R. C. (eds) Handbook of Educational Psychology. New York: Simon & Schuster Macmillan, p. 63-84, 1996. GUIMARÃES, S. E. R.; BORUCHOVITCH . O Estilo Motivacional do Professor e a Motivação Intrínseca dos estudantes: Uma Perspectiva da Teoria da Autodeterminação. Psicologia: Reflexão e Crítica,vol.17, 2004, p.143-150. GUIMARÃES, S. E. R. Avaliação do estilo motivacional do professor: Adaptação e validação de um instrumento. 2003, 188 fls. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003. GUIMARÃES, S. E. R. Recompensas externas e a motivação dos estudantes: um estudo exploratório. ( no prelo). LEPPER, M. R.; Henderlong, J.; Iyengar, S. S. Intrinsic and Extrinsic Motivational Orientations in the Classroom: Age Differences and Academic Correlates. Journal of Educational Psychology Copyright 2005 by the American Psychological Association 2005, Vol. 97, No. 2, 184-196 MCLNENEY, D. M., & ETTEN, S. V. Big Theories Revisited. Connecticut:Age Publishing, 2004. PINTRICH, P. R; DE GROOT, E. V. Motivational and self-regulated learning components of classroom academic performance. Journal of Educational Psychology, v. 82, n. 1, p. 33-40, 1990. STIPEK, D. J. Motivation and instruction In: BERLINER, DAVID C. e CALFEE, ROBERT C. (eds) Handbook of Educational Psychology. New York: Simon & Schuster Macmillan, 1996, p. 63-84. STIPEK, D. J. Motivation to Learn: From Theory to Pratice. Englewwod Clifs, N. J.: Prentice Hall, INC, 1998 TOLLEFSON, N. Classroom Aplications of Cognitive Theories of Motivation. Educational Psychology Review,2000, 12 (1), p. 63-83. VAN DE VIJVER, F. J. R.; HAMBLETON, R. K. Translating tests: some pratical guidelines. European Psychologist, v. 1, n. 2, p. 89-99, 1996. Anais do XV EAIC e VI EPUEPG de 22 a 25 de agosto de 2006 - ISSN: 1676-0018