1 UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA João Vitor Barbosa da Gama VIOLÊNCIA URBANA: um estudo comparativo das políticas públicas para enfrentamento da violência sexual nos Municípios de Cachoeira do Arari e Breves- PA BELÉM-PARÁ 2013 2 João Vitor Barbosa da Gama VIOLÊNCIA URBANA: um estudo comparativo das políticas públicas para enfrentamento da violência sexual nos Municípios de Cachoeira do Arari e Breves- PA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para obtenção do título de mestre. Orientadora: Profª. Drª. Rosália do Socorro da Silva Correa. BELÉM-PARÁ 2013 3 4 João Vitor Barbosa da Gama VIOLÊNCIA URBANA: um estudo comparativo das políticas públicas para enfrentamento da violência sexual nos Municípios de Cachoeira do Arari e Breves- PA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para obtenção do título de mestre. . Banca Examinadora: ______________________________ Profª. Drª. Rosália do Socorro da Silva Corrêa (Orientadora) ______________________________ Prof. Drº. Cláudio Roberto Rodrigues Cruz ______________________________ Prof.Dr. Carlos Jorge Paixão Apresentado em: 17 /06 / 2013 Nota: ____________________ BELÉM-PARÁ 2013 5 6 DEDICATÓRIA A Deus primeiramente por me conceder toda a inspiração e aos meus fiéis intercessores Nossa Senhora da Conceição, São Sebastião e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro a quem devo toda a minha proteção. Aos meus amados pais Guilhermina Barbosa da Gama e Raimundo Aurélio Corrêa da Gama, a quem com muito amor e carinho dedico todas as minhas conquistas, pois são o alicerce da minha vida e que essas poucas palavras não expressam o Amor Incondicional que vocês me proporcionam todos os dias. Aos meus irmãos que são meus verdadeiros fãs e sempre estão presente para me juntar quando deslizo ou para me aplaudir nas minhas conquistas. Amo vocês. Ao meu sobrinho Guilherme da Gama que apesar de ser uma criança está sempre preocupado comigo e não sossega enquanto não vê. A todos os meus familiares que sem dúvida estão sempre torcendo pelo meu sucesso. 7 AGRADECIMENTO A minha querida Orientadora Professora Doutora Rosália do Socorro Silva Correa pela grande contribuição na elaboração deste trabalho e pelos ensinamentos que levarei para toda minha vida, que com toda a sua delicadeza nos puxões de orelha, más sempre pensando na excelência e no meu sucesso. Aos meus amigos da turma 2011 pela força na superação dos entraves enfrentados. Ao ex-prefeito da minha amada Cachoeira do Arari, o Senhor Jaime Barbosa, pela confiança que sempre depositou em mim e pela força em mais essa conquista. A minha amiga Janaína Bragança e ex-secretária municipal de educação de Cachoeira do Arari a quem agradeço todas as oportunidades que me fizeram crescer pessoalmente e profissionalmente. As minhas amigas Vanise Muribeca e Izabel Gomes que nunca deixaram pensar em desistir e sempre estão do meu lado em todos os momentos. A todos os entrevistados do Município de Breves que me receberam com muita atenção e que foram peças fundamentais para entender este município importante da Ilha de Marajó com suas belezas naturais e culturais, porém carregado de problemas sociais. Agradeço a diretora de ensino Professora Lucyjane Bezerra, a Secretária Municipal de Saúde Jucineide Barbosa, a Secretária Municipal de trabalho e Assistência Social Celi Rosana, ao Excelentíssimo Juiz Luiz Augusto Menna Barreto, ao Senhor Luiz Gustavo Quadros Promotor de Justiça, a Doutora Úrsula Mascarenhas Defensora Pública, ao Senhor Clodoaldo Vieira Coordenador do Conselho Tutelar, a Delegada de Polícia Vanessa Macêdo e a Irmã Rita Raboin. A todos os entrevistados do município de Cachoeira do Arari pela valorosa colaboração na realização deste sonho a Senhora Socorro Athar secretária municipal de saúde, a senhora Marecléa assessora técnica da secretaria municipal de saúde, a senhora Janaína Bragança secretária municipal de educação, a senhora Priscila Pinheiro Delegada de Polícia, ao senhor Luiz Carlos Filho Defensor Público e a senhora Sebastiana Bragança presidente do CMDCA. A todos muito obrigado! 8 Diante da dor humana é preciso ter garra, coragem, determinação e capacidade de amar até as últimas consequências. Ir. Henriqueta Cavalcante 9 RESUMO A presente dissertação de mestrado trata de um estudo comparativo das políticas públicas para o enfrentamento da violência sexual nos municípios de Cachoeira do Arari e Breves – PA, a partir dos dados quantitativos dos casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes denunciados nos Conselhos Tutelares, e da análise da atuação do Poder Público nas esferas Federal, Estadual e Municipal, no que se refere ao enfrentamento e atendimento aos vitimizados pela violência sexual. Neste estudo buscou-se analisar em que medida a implementação das políticas públicas de combate à violência sexual cometida contra crianças e adolescentes nos referidos municípios, avançou. Para a realização da pesquisa foram utilizados questionários e entrevistas semi-estruturadas com diferentes categorias de informantes. Destaca-se que os casos de violência sexual contra crianças e adolescentes tomaram proporções incalculáveis e, as políticas públicas de combate a essa violência são inexistentes, nos dois municípios. O resultado da pesquisa evidenciou que a violência sexual é presente e aumenta a cada dia, e o poder Público pouco tem feito para combatê-la. Palavras-chave: Violência. Violência Sexual. Políticas Públicas. Poder Público. 10 ABSTRACT This dissertation is a comparative study of public policies to combat sexual violence in the municipalities of Cachoeira do Arari and Brief - PA, from the quantitative data of the cases of sexual abuse and exploitation of children and adolescents reported the Guardianship Councils and analysis of the performance of the government at Federal, State and Local, in relation to coping and care for victimized by sexual violence. In this study we sought to examine to what extent the implementation of public policies to combat sexual violence against children and adolescents, in those counties, advanced. For the research were used questionnaires and semi-structured interviews with different categories of informants. It is noteworthy that the cases of sexual violence against children and adolescents were incalculable proportions, and public policies to combat such violence are nonexistent in the two counties. The result of this research showed that sexual violence is present and only increases every day, and Public Power has done little to combat it. Keywords: Violence. Sexual Violence. Public Policy. Public Power. 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Figura 2 - Localização da Ilha de Marajó e das cidades que compõe o Polo Marajó Extensão territorial do município de Breves Figura 3 - Localização do município de Cachoeira do Arari na Ilha de Marajó Figura 4 - Centro urbano de Cachoeira do Arari LISTA DE TABELAS Tabela 1 Tabela 2 - Município, população, extensão territorial, densidade demográfica e IDH do Município de Breves – Ilha de Marajó – 2010 Município, população, extensão territorial, densidade demográfica e IDH do Município de Cachoeira do Arari – Ilha de Marajó – 2010 Tabela 3 - Indicadores de População de 10 ou mais de idade, economicamente ativa e ocupada 2000* Tabela 4 - Número de casos de violência sexual cometidos contra crianças e adolescentes- 2009-2012 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Gráfico 3 - Casos de violência contra criança e adolescente no município de Cachoeira do Arari. 2009-2012 Casos de violência contra crianças e adolescentes no município de Breves. Casos de violência sexual relacionados ao sexo da vítima. Gráfico 4 - Casos de violência sexual conforme o sexo das vítimas Gráfico 5 - Casos de violência sexual conforme a faixa etária das vítimas. Gráfico 6 - Número de casos de violência sexual notificados na SEMED. Gráfico 7 - Casos de violência e violência sexual cometida contra crianças e adolescentes no ano de 2012, registrado na Secretaria Municipal de Saúde do município de Breves. Gráfico 2 - 13 LISTA DE SIGLAS AEE Atendimento Educacional Especializado BPC Benefício de Prestação Continuada CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPS Centro de Atendimento Psicossocial CEDECA/EMAUS Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Pará CMDCA Conselho Municipal do Direito da Criança e do Adolescente CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil COSANPA Companhia de Saneamento do Pará CPI Comissão Parlamentar de Inquérito CRAS Centro de Referência da Assistência Social CREAS Centro de Referência Especializado da Assistência Social CT Conselho Tutelar EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará FNDE Fundo de Desenvolvimento Nacional da Educação FNPETI Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica MDS Ministério do Desenvolvimento Social MP Ministério Público PC Polícia Civil PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PM Polícia Militar PROAME Programa de Apoio a Meninos e Meninas SEMED Secretaria Municipal de Educação SIPIA Sistema de Informação para Infância e Adolescência SISVAN Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional UEPA Universidade do Estado do Pará UFPA Universidade Federal do Pará 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 15 2 CONCEITUANDO VIOLÊNCIA, VIOLÊNCIA SEXUAL, CUIDADO INSTITUCIONAL, POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS 21 SOCIAIS......................................................................................................... 3 DESDOBRAMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS PARA ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES............................................................................... 37 3.1POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL: PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA INFANTO JUVENIL E SUA APLICABILIDADE NO ESTADO E NOS MUNICÍPIOS 37 ............................................................................................... 3.1.1. Programa Sentinela .............................................................................. 40 3.1.1.1 Objetivos do Programa Sentinela ......................................................... 41 3.1.1.2 Público-alvo do Programa Sentinela .................................................... 41 3.1.1.3 Como funciona o Programa Sentinela .................................................. 41 3.1.1.4 Avanços registrados do Programa Sentinela ....................................... 41 3.1.1.5 Desafios do Programa Sentinela .......................................................... 42 3.1.2 O Programa Turismo Sustentável e Infância ...................................... 43 3.2 POLÍTICAS SOCIAS NAS ÁREAS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL E DA EDUCAÇÃO, DESENVOLVIDAS NOS MUNICÍPIOS DE BREVES E 45 CACHOEIRA DO ARARI .......................................................................... 3.2.1 A Assistência Social ............................................................................. 3.2.2 Educação nos Municípios de Breves e Cachoeira do Arari ............. 45 47 4 COMPARANDO BREVES E CACHOEIRA DO ARARI: CARACTERÍSTICAS DOS MUNICÍPIOS, INICIATIVAS E FORMAS DE ENFRENTAR A REALIDADEDA VIOLÊNCIA SEXUAL 51 ........................... 4.1 A REALIDADE DO MUNICÍPIO DE CACHOEIRA DO ARARI ................... 53 4.2 A REALIDADE DO MUNICÍPIO DE BREVES ............................................ 67 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 87 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 90 APÊNDICES .................................................................................................... 93 ANEXOS............................................................................................................ 110 15 1 INTRODUÇÃO A violência é um fenômeno muito complexo, que afeta toda a sociedade deixando sequelas irreparáveis. No Brasil, a violência está presente em todas as camadas e segmentos sociais, disseminando o medo e a insegurança entre as pessoas e afetando as relações de convivência. Entre os jovens e contra eles, a violência está se ampliando cada vez mais, mostrando múltiplas faces que se concretizam desde o aliciamento para o tráfico de drogas até a manutenção das redes de exploração sexual. E, embora não possamos responsabilizar totalmente a globalização pela abrangência do fenômeno da violência, não ignoramos que o aumento das desigualdades sociais da ampliação da miséria, do sofrimento, da fome, e do desemprego acompanharam este processo. A sociedade clama por paz, porém precisa preparar-se para ofertá-la, formando cidadãos de conduta reta, através de uma educação de cultura de paz e de não-violência e para a cidadania, embasada no paradigma holístico do conhecimento. Somente com a mobilização social, articulada ao combate das causas da violência, é que podemos construir a paz social que é em si mesma uma construção coletiva. Assim, pode-se dizer que a violência, que ronda o planeta possui suas raízes no fracasso dos sistemas sociais. A violência, crescente em suas múltiplas formas, nos dias de hoje, está estritamente relacionada à inegável falta de politicas públicas para enfrentá-la na sua origem e não apenas de forma superficial. A população rica e pobre não se auto educou ao longo da existência humana e, portanto, hoje a sociedade experimenta o caos. Segurança é questão de vida ou de morte, pois a violência atinge todas as pessoas indiferentemente da classe social que pertença. As pessoas não circulam nas ruas com tranquilidade e também não se sentem seguras nas suas casas, nas praças, nas igrejas, dentro e fora do país. Todos se sentem inseguros, em qualquer período do dia e, qualquer manifestação incomum observada na via em qualquer local é motivo de desconfiança e sentimento de medo. A violência é hoje uma das grandes preocupações em nível mundial, afetando grupos ou famílias e ainda o indivíduo de forma isolada. Fazendo parte da chamada questão social, ela revela formas de dominação e opressão desencadeadora de conflitos. Como um fenômeno complexo, polissêmico e controverso, a violência é perpetrada por indivíduos contra outros indivíduos, 16 manifestando-se de várias maneiras, assumindo formas de relações pessoais, sociais, políticas ou culturais (CHAUÍ, 1985). Uma das manifestações mais cruéis da violência é a violência sexual, que se tornou um problema social que afeta milhares de famílias. A Ilha de Marajó, no Estado do Pará, apresenta índices alarmantes deste tipo de violência contra crianças e adolescentes que se encontram em alta vulnerabilidade social. Este estudo apresenta um tema conhecido pelas autoridades estaduais e locais, entretanto não existem políticas eficazes para enfrentá-los na sua fonte, perpetuando-se com isso a fragilidade dos sistemas de garantias dos direitos das crianças e dos adolescentes. Logo, o principal objetivo desta dissertação foi analisar as políticas públicas de enfrentamento da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes nos municípios de Cachoeira do Arari e Breves – PA. Desta maneira, o estudo analisou as políticas públicas existentes nos respectivos municípios marajoaras e/ou aquelas que estão em processo de implementação. Acerca do Poder Público Municipal, foram verificadas as ações para combater a violência sexual e qual atendimento é oferecido às vítimas através das Secretárias de Assistência Social, Saúde e Educação. Foram analisadas as atuações do Poder Judiciário e Ministério Público, frente a esse tipo de fenômeno que ocorre nos referidos municípios. Além disso, foram analisados os dados registrados nos Conselhos Tutelares e nas Delegacias, verificando a atuação destes órgãos junto ao Sistema de Garantias de Direito de Crianças e Adolescentes. Como objetivos específicos o estudo buscou conhecer as diversidades e as singularidades dos dois municípios, nos aspectos demográfico, social, político, cultural e econômico; levantar as políticas públicas de enfrentamento à violência sexual implantadas ou em fase de implantação nas esferas Federal, Estadual e Municipal e verificar as condições do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente. A pesquisa limitou-se ao estudo comparativo entre os municípios de Cachoeira do Arari e Breves. O município de Cachoeira do Arari pertence mesorregião do Marajó e a microrregião do Arari. Apresenta um grande potencial turístico principalmente por ser o município que possui a maior criação de búfalos e também por apresentar uma cultura muito rica, em termos religiosos a festividade de São Sebastião, e o Museu do 17 Marajó responsável pela maior fonte de conhecimento sobre a vida rústica do Homem Marajoara. Além disso, apresenta inúmeros sítios arqueológicos como o do Pacoval, cobiça de antropólogos do mundo inteiro, pois buscam o entendimento de como os povos primitivos viviam nesse período. É um município que possui muitas praias, que são pouco frequentadas, pois não existe estrada para facilitar o acesso. Também possui diversas fazendas que mantém a arquitetura colonial e outras, consideradas verdadeiros santuários ecológicos, como a Fazenda Severino. O que motivou inicialmente a escolha do tema foi o fato de o autor ser originário deste município, tornando-se, posteriormente, funcionário da Secretaria Municipal de Assistência Social e atualmente exercendo a função de técnico na Secretaria Municipal de Educação. Desta maneira vivenciou inúmeras situações de violência sexual vitimizando crianças e adolescentes. Assim, despertou o interesse em analisar como o poder municipal agia para combater o problema acima referido e de que forma atendia as vítimas. Para realizar um estudo comparativo foi escolhido o município de Breves, que pertence à microrregião dos furos de Breves e apresenta os maiores indicadores de violência sexual dessa região. Além de ser o maior em termos populacionais, com uma população que ultrapassa os cem mil habitantes é considerado economicamente o principal município da Ilha de Marajó. Considerada como qualquer forma de atividade sexual não consentida, a violência sexual ocorre, em geral, com o uso da força física ou de intimidação. É um problema que aumenta a cada dia e deixa sequelas irreparáveis na sociedade, principalmente nas famílias. Portanto, necessita de iniciativas urgentes do poder público no sentido de enfrentar o problema. Diante disso, o problema central da pesquisa é analisar em termos comparativos, em que medida as políticas públicas de combate à violência sexual, cometida contra crianças e adolescentes, nos municípios de Cachoeira do Arari e Breves avançaram em termos de implementação? Partiu-se da hipótese que no município de Cachoeira do Arari não existe políticas públicas para enfrentamento da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes, e no município de Breves as políticas públicas para combater a violência sexual existem, mas ainda não mostraram eficácia. Em decorrência desta 18 lacuna, em ambos os municípios, os casos de violência sexual praticados contra crianças e adolescentes tomam proporções incalculáveis. A análise comparativa das políticas públicas de enfrentamento da violência sexual existentes nos municípios de Cachoeira do Arari e Breves, também se pautou pela percepção dos representantes do Poder Público Municipal sendo eles secretários de assistência social, saúde e educação, representante local do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, além da Polícia Civil, Conselho Tutelar e Organizações Não-governamentais que atuam em defesa da criança e do adolescente. Destaca-se também com este estudo, independente das características físicas, geográficas, sociais, políticas e econômicas dos municípios de Cachoeira do Arari e Breves, que o mesmo poderá servir de base para outros municípios marajoaras, outros municípios paraenses e até mesmo para municípios fora do Estado do Pará. A problemática da violência sexual é uma realidade que atinge todas as sociedades e que pode estar presente em outras áreas com características iguais ou semelhantes, mas que de uma forma ou outra traz prejuízos para a população. Assim, necessitando de uma melhor atenção do Poder Público e principalmente da sociedade que precisa de uma melhor atuação em reivindicar seus direitos. Quanto à metodologia, o presente estudo exploratório/descritivo, utilizou a abordagem qualitativa, pois o levantamento que resultou em dados numéricos serviram para associações com as iniciativas do poder público, além de possibilitar ao pesquisador perceber a subjetividade dos sujeitos pesquisados, seus valores, seus anseios, suas angústias, suas atitudes, suas opiniões e suas aspirações sobre o objeto pesquisado. Desta forma, foram levantados nos Conselhos Tutelares, hospitais, Secretarias Municipais de Educação, Saúde e Assistência Social, Ministério Público, Delegacias e Organizações que tratam de assuntos relacionados à questão em pauta, documentos relativos às iniciativas do poder público e os casos registrados, além de documentos relativos às particularidades dos municípios estudados como: Plano Municipal de Educação, Plano Municipal de Saúde e Diagnóstico Social da Criança e do Adolescente do município de Cachoeira do Arari. A pesquisa bibliográfica que acompanha todo o processo de construção deste estudo e os dados documentais expostos no decorrer do trabalho foram sistematizados de forma quantificada. 19 O método de procedimento foi o estudo comparativo das iniciativas de enfrentamento da violência sexual nos dois municípios, o que possibilitou raciocinar comparativamente e identificar semelhanças e diferenças; continuidades e descontinuidades; regularidades; deslocamentos e transformações, além de auxiliar na construção de modelos e tipologias para explicitar as determinações mais gerais que orientam os fenômenos sociais que foram estudados. Gil (1995, p.35) esclarece que o método comparativo procede uma investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles [..]. Enquanto Ferreira (1998, p. 109) afirma que o método comparativo, “propõe a realização de comparações entre povos, grupos e sociedades, a partir da identificação de suas diferenças e semelhanças com o objetivo de construir uma melhor compreensão do comportamento humano”. A comparação acerca do avanço da implementação de políticas públicas de enfrentamento da violência sexual nos referidos municípios, com base nas suas diversidades e singularidades, possibilitará a visão da forma como o poder público enfrenta este grave problema social que afeta a população dos municípios. A pesquisa de campo consistiu na realização de entrevistas semiestruturadas com representantes dos órgãos responsáveis pela elaboração e implementação das políticas de enfrentamento da violência local; com juízes, promotores de justiça, defensores públicos, delegados, secretários municipais de Educação, Saúde e Assistência Social e com representantes de organizações nãogovernamentais, utilizando apenas gravador de voz. As entrevistas foram digitadas na íntegra facilitando a análise da problemática. Para o levantamento dos casos junto aos órgãos responsáveis pelos registros, foram aplicados questionários contendo questões abertas e fechadas. Especificamente para o levantamento do número de casos e as suas especificidades estabelecemos como série temporal o período da última gestão municipal 2009-2012. A dissertação está estruturada em quatro capítulos incluindo a introdução que apresenta o problema da pesquisa, a hipótese, a justificativa do estudo, o objetivo geral, os objetivos específicos, o lócus da pesquisa e os procedimentos metodológicos para a efetivação deste trabalho. Além das considerações finais que retoma a problemática e ao alcance dos objetivos propostos a partir da demonstração dos resultados alcançados e algumas contribuições para possíveis trabalhos posteriores acerca desta temática. 20 O segundo capítulo trata da conceituação de violência, violência sexual, política pública, cuidado institucional e política social. Tecendo um debate teórico a partir de diversos autores como: Silva (1996), Bueno (1986), Sposito (1998), Candau (2001), Chauí (2000), Silva (1996), Sanchez (2003), Oliva (2012), Faleiros (2000), Ravazzola (1997), Heidemann (2010), Rua (1997), Machado (2000), Freire (1979) entre outros que fundamentaram este trabalho. O terceiro capítulo apresenta uma discussão acerca dos desdobramento das políticas sociais para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, onde constam programas da política nacional e as aplicações destes nos municípios, além da demonstração das políticas de assistência social e educacional dos municípios, fazendo uma relação com a política municipal de enfrentamento da violência sexual. O quarto capítulo apresenta a realidade dos municípios de Breves e Cachoeira do Arari localizados na Ilha de Marajó em seus aspectos culturais, econômicos e sociais, e faz comparações acerca da estrutura dos municípios e compara as iniciativas do poder público implementadas ou em processo de implementação nos dois municípios marajoaras, através de dados coletados nos conselhos tutelares e de entrevistas realizadas com Juízes, Promotores de Justiça, Defensores Públicos, Delegados de Policia, secretários municipais de Educação, Saúde e Assistência Social e Organizações Não-Governamentais, com reflexões fundamentadas a partir dos dados coletados. Por fim, as considerações finais momento de reflexão do pesquisador sobre os resultados alcançados, apresentando sugestões sobre a implantação ou a implementação de políticas públicas para enfrentamento da violência sexual nos respectivos municípios a partir das constatações dos estudos realizados. 21 2 CONCEITUANDO VIOLÊNCIA, VIOLÊNCIA SEXUAL, INSTITUCIONAL, POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS SOCIAIS CUIDADO Este capítulo tem como objetivo apresentar o conjunto de conceitos que orientou a discussão sobre o tema proposto. Os conceitos de Violência; Violência Sexual; Cuidado Institucional; Políticas Públicas e Políticas Sociais foram baseados nas concepções de autores como Faleiros (2000), Oliva (2012), Ravazzola (1997), Heidemann (2010), Rua (1997), Machado (2000), Freire (1979), entre outros que estudam ou pesquisam sobre a temática, e serviram como base teórica para este trabalho. De acordo com Silva (1996, p.28) violência “é a força bruta contra alguém”. Dentre os fatores que caracterizam a violência estão o uso da força e a violação de um direito, pois: [...]o uso injusto da força-física, moral e psicológica tem a finalidade de privar um ser humano do seu legítimo direito à vida, à saúde e à liberdade. Neste último caso, quando o homem é impedido de ter uma opção livre, e obrigado a fazer o que é contrário a sua vontade, idéias e interesses” (SORGE, 1993, p.09). Segundo Bueno (1986) “violência é qualidade de violento, ato violento; constrangimento; ato de violentar” (p.1199), é um fenômeno que está disseminado em todas as instâncias da sociedade. No novo Dicionário de Língua Portuguesa (2010), a palavra violência está assim definida: “qualidade de violento, ato violento, ato ou efeito de violentar, constrangimento físico ou moral, uso da força, coação” (p.2162). Outra definição é apresentada no Dicionário do Pensamento Marxista (BOTTOMORE, 1988, p.1291): Por violência entende-se a intervenção física de um indivíduo ou grupo contra outro indivíduo ou grupo (ou contra si mesmo). Para que haja violência é preciso que a intervenção física seja voluntária. A intervenção física, na qual a violência consiste, tem por finalidade destruir, ofender e coagir. A violência pode ser direta ou indireta. É direta quando atinge de maneira imediata o corpo de quem sofre. É indireta quando opera através de uma alteração do ambiente físico no qual a vítima se encontra Com base nessas definições, percebemos que não é fácil definir precisamente o que é violência, pois são diversos os enfoques apresentados. Considerando a primeira definição, a caracterização da violência ultrapassa o limite 22 da agressão física, admitindo uma violência de caráter psicológico e moral; enquanto na segunda, a ênfase recai no aspecto relacionado ao dano físico, ao uso da força no sentido de prejuízo físico. A última definição aproxima-se dos estudos que tratam violência e criminalidade como se fossem a mesma coisa. De acordo com Sposito (1998, p.58): Desde a antiguidade, existe a preocupação entorno da violência e dos meios para evita-la, diminui-la e controla-la. E a partir disso, diferentes formações sociais, culturais e éticos como padrões de conduta, de correlações intersubjetivas e interpessoais, de comportamento social que podessem garantir a integridade física e psíquica de seus membros e conservação do grupo social. Além disso, as várias culturas e sociedades existentes não conceituam a violência da mesma maneira ou lhe dão conteúdos diferentes, conforme os tempos e lugares. Não obstante, os diferentes aspectos da violência são percebidos da mesma maneira nas várias culturas e sociedades, formando normas comuns sobre as quais os valores morais e éticos são erguidos. Segundo a afirmação de Sposito (1998), em nossa cultura a violência se dá através do uso da força que nega a ação do diálogo. Ela é comumente identificada à criminalidade ou agressão física, podendo ser classificada como violência sangrenta – aquela que nos deixa chocado com os assassinatos, reconhecidos como crimes bárbaros. Contudo, existe a violência “branca”3, assim denominada por apresentar-se de maneira oculta, como a fome, a injustiça, o preconceito e dentre outras. Em ambas as classificações, uma não deixa de ser mais perversa que a outra. Portanto, é complexa a conceituação de violência, pois conforme Candau (2001, p.20), “(...) a marca constitutiva da violência será a tendência à destruição de si e do outro, podendo a ação situar-se no plano físico, psicológico ou ético”. Esta noção denuncia uma tendência para a autodestruição, quer pelas forças destrutivas presentes no homem, quer pela omissão que leva a amplos setores da sociedade a 3 Tipo de Violência apresentada por Aranha (1999, p.28) que corresponde à distinção da violência "vermelha" (ou sangrenta), pois trata-se de uma violência que não salta à vista. Às vezes não é possível conhecer o agente causador, outras vezes a ação nem é prevista nos códigos penais, e, portanto a tendência é não a reconhecer como violência propriamente dita. A pobreza é um exemplo, pois é percebida como uma consequência inevitável de certa "ordem natural" que comanda as relações entre os homens. 23 serem espectadores passivos desse espetáculo dramático. Desta maneira, é necessário, mais do que nunca, sublimar a violência, isto é, estabelecer uma nova ética de cidadão, onde os valores da vida prevaleçam sobre os da morte. A violência em nosso planeta assumiu proporções assustadoras, pois em todos os lugares, em todas as direções, podemos sentir a sua presença. Na afirmação de Chauí (2000, p.336): A origem da violência humana tem sido estudada por historiadores, sociólogos, e pela psicologia, que veem na escassez de bens a fonte maior de conflito entre os homens. Para esses estudiosos, entre os quais estão Hobbes, Rousseau, Marx e Engels, a origem dos conflitos e da violência remonta as organizações mais primitivas. Tudo indica que foi a revolução agrícola que, transformou radicalmente as relações dos homens entre si e com o meio, introduzindo novos aspectos de organização social. Silva (1996, p.57) esclarece: Houve época de grande produção e de aumento populacional, que verificouse em várias regiões mundiais e a medida em que a agricultura generalizavase, as disputas pela posse da terra férteis colocou os grupos humanos uns contra os outros. Desta forma, a escassez de bens, a atividade econômica produtiva, o surgimento de funções defensivas e a relação de propriedade para com a terra e o produto do trabalho criaram um conflito permanente entre os diversos grupos humanos. A guerra, a conquista e a defesa tornaram-se atividades permanentes de manutenção de propriedades e defesa de direitos adquiridos. Neste sentido, o Capitalismo – com sua natureza expansionista por excelência – desenvolveu ao máximo os recursos bélicos, com os quais as nações passaram a disputar posições na rede de relações internacionais. Além disso, criou a indústria de armamentos a qual passou, também a produzir em massa e a promover constantemente meios de expansão do mercado, sempre em busca de um maior número de consumidores. Sabemos que a violência não é recente e existe em todos os segmentos da sociedade, e para discuti-la, é preciso olhar mais amplamente para nossa história e para os fatos que a marcaram; buscando respostas em nosso passado para entender situações vivenciadas no dia-dia da população. O Brasil, no decorrer do processo de colonização no século XVI, foi unido a Portugal na categoria de Colônia, com isso não tinha autonomia política e obedecia as Leis da Metrópole. Segundo Cotrin (1997), as manifestações de violência nesse 24 período são frequentes, associados à aliança entre Estado e Igreja a qual foi implantada oficialmente em Portugal em 1442, com a finalidade de perseguir todos os que não fossem cristãos. Este período de intolerância religiosa estendeu-se ao Brasil. A violência no Brasil modificou-se de forma mais acentuada e sistemática durante as visitações portuguesas, pois além das questões de cunho religioso, a Inquisição estava batizada por motivos políticos. O confisco de bens da maioria dos judeus e cristãos-novos (judeus convertidos à fé cristã) contribuía para os gastos da nobreza da época. Depois da denúncia ou da confissão, o Tribunal do Santo Ofício iniciou o processo contra o herege. Eram consideradas hereges ou heréticas, todas as pessoas que divergissem das doutrinas da Igreja Católica: judeus, ciganos, feiticeiros e outros. O governo português considerava-os inimigos em potencial, porque ameaçavam a paz social. Com o inicio da colonização, o comportamento do branco em relação ao índio tornou-se ainda mais nocivo. A partir daí, os portugueses resolveram escravizálo para o trabalho da lavoura canavieira, além de tratá-lo como “pagão”, considerado “feroz” e despossuído de razão. Por isso, foi implantada a catequese pela necessidade de “civilizar” o índio. As guerras iniciadas pelos indígenas contra a escravidão, a violência sexual, a destribalização, e suas expulsões das terras, marcaram o começo de uma luta secular. Do total de aproximadamente seis milhões de indígenas, que habitavam o Brasil, por ocasião do “descobrimento”, restam menos de 150 (cento e cinquenta) mil, sobrevivendo em condições precárias e sob constantes ameaças, salvo algumas exceções (SILVA, 1992, p. 28-29) Assim, como o índio, o negro também foi violentado e marginalizado do mundo social que se organizou para os segmentos privilegiados da raça dominante. Silva (1992, p.56), afirma: Indescritível, era a crueldade do tratamento dispensado ao negro pelo branco. Apesar dos negros serem as mãos e os pés do senhor de engenho, eram comuns assassinatos, mutilações, açoites, correntes, palmatórias e outras práticas abomináveis. No dizer da época da escravidão, no Brasil o negro tinha direito a três pês: pau para andar na linha, pano para vestir e pão para aguentar o trabalho. Neste sentido, os senhores e seus algozes buscavam destruir os valores do negro e forçá-lo a aceitar a ideia de superioridade da raça branca. Igualmente ao negro, o índio também sempre lutou contra a escravidão. A rigor, a luta do negro pela 25 liberdade e igualdade extrapola os limites do tempo e chega aos dias atuais. Com isso, percebemos que as perseguições religiosas e política deram o tom da prática autoritária a que o estado português implantou nas terras coloniais brasileiras. O Código de Leis e a Inquisição construíram um arcabouço de doutrinação política, moral e social, que posteriormente serviu de base para os primeiros códigos legais brasileiros. O estigma à mulher, ao índio e ao negro constituiu-se na origem das ideias autoritárias e racistas que vingaram posteriormente. Os atos de violência contra essas parcelas “inferiorizadas” da população moldaram a sociedade brasileira na época colonial. Somando-se a isso, as cassações políticas, as censuras, as prisões e a invenção do milagre econômico marcaram os anos 60 do século XX da história brasileira. A resistência, porém, ocorreu principalmente contra os jovens do movimento estudantil, os quais tomaram a força 1968 e saíram às ruas exigindo o retorno da democracia. Muitos deixaram de ser indivíduos participativos da sociedade para se tornar um subversivo, sob o olhar policial. Assim, a “Violência é antes de tudo, uma violação dos direitos humanos, que se manifesta sob diversas formas em espaços públicos e privados” (SANCHEZ, 2003, p.39). É esse tipo de violação que se constata nos casos de violência sexual. Para conceituar violência sexual é necessário primeiro entender o que é abuso e exploração sexual. Para Oliva (2012, p.170) “esse fenômeno tem como precedente a violação do corpo de crianças e adolescentes, não é possível discutir exploração sexual sem enfocar o abuso sexual”. A autora reforça esta afirmação esclarecendo que “[...] a cadeia de violência multiplica-se sob o manto da impunidade”, isto evidencia que a morosidade da justiça permite que os crimes só aumentem e as famílias cada vez mais sendo destruídas (OLIVA, 2012, p.171). Abuso sexual é um termo difundido para designar violência sexual contra crianças e adolescentes. Desta forma, ora é nomeado como maus tratos ora como violência, o que justifica a complexidade de conceituar esse termo. Logo, Faleiros afirma que é necessário dissolver o termo e primeiramente entender o que é “abuso”, que para Gabel apud Faleiros (2000, p.6) “etimologicamente, abuso indica afastamento do uso (US) normal. O abuso é ao mesmo tempo, mau uso e uso excessivo, (...) ultrapassar os limites, portanto transgredir”. Neste sentido Faleiros (2000 p. 06) diz que refere-se: 26 A um estilo, a um padrão, a uma forma de tratamento que uma pessoa exerce sobre outra, sobre a si mesma ou sobre objetos, com a característica de que não percebe que produz danos. (...) quem exerce abuso não aprende a regular, a medir, a dizer, a escutar e respeitar mensagens de si mesmo e do outro, ou encontra-se em um contexto nos quais estas aprendizagens foram esquecidas, se diluíram ou perderam força. Portanto, abuso sexual “consiste numa situação de dominação e que seu conceito contém ainda a noção de poderio, abuso de poder ou de astúcia, abuso de confiança, ou seja, noções em que a intenção e a premeditação estão presentes” (WELZER-LANG apud FALEIROS, 2000, p.6). Partindo do entendimento de vários autores Eva Faleiros (2000, p. 7) afirma que abuso sexual deve ser entendido como: Uma situação de ultrapassagem (além, excessiva) de limites de direitos humanos, legais, de poder, de papéis, do nível de desenvolvimento da vítima, do que esta compreende, do que o abusado pode consentir, fazer e viver, de regras sociais e familiares e de tabus. Assim, para se qualificar a violência sexual cometida contra crianças e adolescentes é preciso analisar a natureza da relação, ou seja, o contexto em que ocorreu a relação, isto é, se foi no âmbito familiar, a chamada relação intrafamiliar ou se foi cometida por pessoas próximas, vizinhos e outras, que não possuem parentescos consanguíneos, a chamada relação extrafamiliar. Desta forma, levando em consideração a natureza da relação, a condição de dominação do vitimizador e o consentimento da vítima que na maioria das vezes é forçada às práticas mais variadas de abuso, assim, Faleiros (2000) da uma nova denominação para abuso sexual denominando de relacionamento interpessoal sexual forçado. Porém, a Associação de Psiquiatria Americana ao elaborar o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais define que todos os comportamentos sexuais criminosos, ou seja, todos que causam transtornos as vítimas que foram expostas a situações sem consentimento próprio e interferindo nos relacionamentos sociais são denominados de Parafílicos. Logo, Cohen apud Faleiros (2000, p.12) afirma que “crimes sexuais Parafílicos implicam à imposição de seus desejos ao outro sem que este entenda o que está acontecendo e possa não permitir o ato parafílico”. 27 Desta maneira, Faleiros ao classificar abuso sexual como crime parafílico, leva em consideração a compreensão da natureza da relação classificando em intra e extrafamiliar. A autora denomina todas as relações classificadas como abuso sexual de Relacionamento Interpessoal Sexual Parafílico. Porém dentro do relacionamento interpessoal sexual parafílico acontece duas formas variadas de violência sexual: a Dominação Sexual Perversa e a Agressão Sexual. A Dominação Sexual Perversa, conforme Faleiros (2000, p.14) “se constitui na construção deliberada, premeditada, paciente e ritualizada, de um relacionamento perverso, que se mantém através da dominação psicológica de longa duração”. Além, de ser: Repetitiva, de longa duração, oculta, baixo o silencio e a dominação da vítima e, em muitas situações, com a tolerância ou conveniência da família e do meio ambiente, porque ocorre sob o domínio e o império do violentador. (FALEIROS, 2000, p.14). A dominação sexual perversa que vitimiza crianças e adolescentes, e que tem como vitimizador um adulto é caracterizada de Pedofilia ou hebefilia e se classificando como incestuosa quando cometida por pessoas pertencentes a família, e não incestuosa quando praticada por pessoas que não fazem parte da família, porém possuem uma relação muito próxima ou que possuem um grau de intimidade muito considerável com a família da vítima. Enquanto que a Agressão Sexual é conforme Faleiros (2000, p.15) “aquela na qual a vítima é submetida pela força física (com ou sem arma) e pelo terror, sofre graves danos, como estupro ou outros atos libidinosos, ferimentos, torturas, sevícias, roubo, trauma psicológico, gravidez ou morte, associados ou não”. Esta divisão é voltada exclusivamente para a agressividade dos abusadores os quais descarregam sem nenhuma sensibilidade sua raiva “agressão” que é superior ao desejo sexual. Nestes casos, as vítimas tem que satisfazer os abusadores independentemente de como será exposta, pois o abuso sexual ultrapassa todos os valores morais e todos os limites sociais. Assim, os relacionamentos interpessoais sexuais parafílicos voltam-se principalmente para o consentimento ou não da vítima, que dentro do contexto da violência sexual, as vítimas são forçadas ao ato libidinoso. O não consentimento das vítimas é o ponto chave para que os vitimizadores se apoiem para justificar seus atos 28 parafílicos, pois afirmam que sexualidade é o principal argumento para o cometimento do crime, devido à sensualidade das vítimas aguçarem no vitimizador prazer pelo (a) vitimizado (a). Para Hazeu e Fonseca (1998, p.35) “a sexualidade é o processo gradual de descoberta do corpo, autoexploração que propiciará a descoberta do prazer”, porém o que realmente deve ser levado em consideração são as relações de violência que as crianças e adolescentes são submetidas. O que infringe as determinações do ECA em seu Artigo 17 combinado com Artigo 18 (2011, p.24-25): Art. 17 – O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art. 18 – É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Outra face da violência sexual que tem bastante destaque é a denominada de exploração sexual, que corresponde ao comércio das relações sexuais. Conforme Hazeu e Fonseca (1998, p.35) “quando na relação se tira proveito indevido do trabalho sexual do outro, o que ocorre no chamado mercado do sexo”. Faleiros afirma que o mercado do sexo nos anos 90 era chamado de Prostituição Infanto-Juvenil, porém esta denominação era muito superficial, tratava apenas da prostituição, uma das infinitas formas de exploração. No contexto da exploração sexual existe a pornografia, o turismo sexual e o tráfico de crianças e adolescentes, os quais alimentam as redes de exploração sexual local, estadual, nacional e internacional. A exploração sexual atinge principalmente meninas de regiões muito pobres que a miséria deixou à margem da sociedade e, que conforme Hazeu, a única forma de combater essa problemática é oportunizando à sociedade a fomentação de políticas públicas sociais inclusivas. A exploração sexual expressa-se através de práticas sexuais pelas quais os indivíduos obtém lucros. Conforme, a OIT, a Convenção 182 sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para a sua Eliminação, o artigo 3º, alínea B, prevê a expressão "as piores formas de trabalho infantil" abrange: 29 a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, tais como a venda e tráfico de crianças, a servidão por dívida e a condição de servo, e o trabalho forçado ou obrigatório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados: b) a utilização, o recrutamento ou a oferta de crianças para a prostituição, a produção de pornografia ou atuações pornográficas; c) a utilização, recrutamento ou a oferta de crianças para a realização de atividades ilícitas, em particular a produção e o tráfico de entorpecentes, tais como definidos nos tratados internacionais pertinentes e; d) o trabalho que, por sua natureza ou pelas condições em que é realizado, e suscetível de prejudicar a saúde, a segurança ou a moral das crianças. (grifo nosso). Nesse sentido a OIT considera a exploração sexual de crianças e adolescentes como uma das piores formas de trabalho infantil. Partindo dessa afirmação, verifica-se que a conceituação de exploração sexual ainda é muito superficial, porém esta problemática apresenta uma nova denominação que, segundo Faleiros, abrange todas as categorias e formas de exploração que é a chamada Exploração Sexual Comercial, isto é, “toda relação de caráter comercial e mercantil” (2000, p. 20). Este tipo de exploração é puramente econômica, e a principal característica é a dívida que as exploradas contraem durante todo o processo de exploração, o que facilita a sua permanência nas redes de exploração. Essa prática comercial é parecida com aquela ocorrida no período da exploração da borracha, momento histórico chamado de Sistema de Aviamento, uma relação desigual onde o aviador explorava impiedosamente o seringueiro que via sua vida voltada para o Barracão4, desta forma sempre deviam e poucas vezes conseguiam sanar as dívidas com o Aviador5. Assim, Faleiros (2000, p.22) afirma: A dívida é um dos mais importantes instrumentos de exploração e controle que os patrões possuem, pois são eles que detém a contabilidade da conta das trabalhadoras, que não possuem um controle paralelo de suas receitas e despesas e nem têm acesso às suas contas. Logo, a exploração sexual comercial defini-se como: Uma violência contra crianças e adolescentes, que se contextualiza em função da cultura (do uso do corpo), do padrão ético e legal, do trabalho e do 4 Local que funcionava como comércio o qual o seringueiro comprava todos os utensílios necessários para a exploração da borracha. 5 Dono do barracão “comércio” 30 mercado. (...) é uma relação de poder e de sexualidade, mercantilizada, que visa à obtenção de proveitos por adultos, que causa danos bio-psico-sociais aos explorados, que são pessoas em desenvolvimento. Além de implicar o envolvimento de crianças e adolescentes em práticas sexuais, coercitivos ou persuasivos, o que configura uma transgressão legal e a violação de direitos a liberdade individuais da população infanto-juvenil. (“A Exploração Sexual de Meninos e Meninas na América Latina e no Caribe” – Relatório Final – BRASIL, 1998). Por sua complexidade e múltiplas faces, o tema da violência sexual, requer compreensão mais ampla e global, desde a sua natureza até a sua caracterização, passando pelo entendimento de abuso e da exploração sexual. Desta forma, Azevedo (2000) conceitua violência sexual como “todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente ou utilizados para obter uma estimulação sexual sobre uma pessoa ou de outra pessoa” (2000, p.45). Logo, a violência sexual se concretiza no ambiente das famílias despossuídas de cuidado, ou seja, a família não está respondendo a sua função na sociedade que é de proporcionar a base do ser humano na construção de seu caráter, o que demonstra ausência dos laços afetivos entre os familiares. Desta forma, Oliva (2012, p.177) afirma: A essas ausências é possível responder através do Cuidado Institucional às Famílias e, em particular, às suas crianças, no contexto de políticas públicas e sociais. O sentido desse cuidado deve ser o de promover e apoiar o fortalecimento econômico, social, ético e emocional no quadro da família, para que a força dos laços afetivos entre os seus membros se torne habitual, obstaculizando assim a dinâmica de abuso e violência. Isto demonstra que a única via para minimizar ou combater àviolência é fazer com que o sistema de proteção volte a funcionar de forma efetiva, por meio da ação conjunta da União, dos Estados e dos Municípios, desenvolvendo e executando políticas públicas que atuem no nascedouro dos problemas sociais, de forma que atinja toda a sociedade, e que todos os entes federados se responsabilizem em fortalecer e cumprir suas obrigações do sistema de colaboração para combater de fato a violência sexual que destrói crianças e adolescentes. O ECA destaca nos Artigos 86 e 87, 31 A Política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações Governamentais e Nãogovernamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Artigo 87 – São linhas de ação da política de atendimento: I - Políticas sócias básicas; II - Políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo para aqueles que deles necessitem; III - Serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligencia, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; IV - Serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; V - Proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente; VI - Políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convênio familiar e garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes; VII - Campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e a adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupo de irmãos. Portanto, é necessário que sejam elaboradas políticas públicas pautadas no Cuidado Institucional denominado por Oliva como “a passagem do cuidado que se processa, normalmente, no âmbito privado (doméstico), para o público (institucional), desde a primeira infância” (2012, p. 41). Na opinião da autora é necessário cuidar do ser humano não de forma parcial, ou seja, não apenas garantir aquilo que está determinado nas leis, pois o “cuidado não é abstrato, é expresso em processos institucionais” (2012, p. 41). Logo, o cuidado institucional é fruto de um regime de colaboração entre diversos atores como o poder público, a sociedade civil organizada, a escola, as famílias, as instituições públicas e privadas e outras, de forma compartilhada cada um exercendo o que lhe cabe para que o regime torne-se cada vez mais forte, pois Oliva (2012, p.44) afirma que “o cuidado institucional não se transfere, mas se compartilha”. Assim, o cuidado institucional surge como uma categoria emancipatória a qual não deve ser confundida como mais uma categoria que surge para minimizar os diversos problemas que atingem a sociedade e sim como algo que liberta e que desenvolve no ser humano a criticidade para que este torne-se autônomo para cobrar de forma cidadã seus direitos. Isto evidencia que esta categoria não pensa o sujeito como possuidor de uma única cultura – monoculturalismo e sim como sujeito possuidor de diversos conhecimentos ultrapassando o mono para multiculturalismo. O 32 que segundo, Oliva (2012, p. 54) “o cuidado institucional se alimenta de uma articulação de múltiplos saberes”, pois ao contrário, é como a referida autora cita só reforça ainda mais o amadurecimento da síndrome do stand-by6. Oliva conceitua o Cuidado Institucional como “força que se transforma em possibilidades, criando, recriando, semeando práticas sociais calcadas na aliança e no compartilhar” (2012, p. 54). Por isso, as políticas públicas devem ser elaboradas a partir da compreensão da realidade na qual o público-alvo está inserido para que realmente estas se materializem e propiciem a transformação da sociedade, pois o que verificamos são programas sociais pensados de forma padrão o que obstaculiza a sua transformação em alternativa de enfrentamento para as populações que se encontram em vulnerabilidade social. Como forma de superar a síndrome de stand-by a autora destaca a responsabilidade raiz7 que são ações que atacam não apenas na superfície do problema e sim no nascedouro, ou seja, perceber o problema como um todo e não apenas o que ele já está ocasionando. Desta forma, transformando-se em uma política pública saindo da categoria de decisão política. Para Santo Agostinho apud Costa (1998) dentro de uma visão dialética o homem é o termômetro do Estado, isto é: O Estado valerá o que valerem seus cidadãos concretos. Se o homem é bom, ou seja, se faz o bem segundo a verdade, a caridade e a piedade, o Estado que dele deriva será bom e justo e consequentemente, reinará a paz ou concórdia. Se, ao contrário, o homem é mau, ou seja, se peca, isto é, se se afasta da verdade, da caridade e da piedade, o Estado que dele deriva será mau e injusto e, consequentemente, não haverá paz e nem concórdia, mas infelicidade e intranquilidade. (COSTA, 1998, p. 191). Segundo Heidemann (2010, p.28) “o Estado é um agente unitário que atua em prol dos interesses de um corpo politico coletivo, a cidadania brasileira”. Assim, necessita implementar políticas que atinjam a sociedade em sua totalidade, pois política “engloba tudo o que diz respeito à vida coletiva das pessoas em sociedade e 6 7 A Síndrome de Stand-by refere-se aos cotidianos institucionais pode estar a morar um “parasita” que, ao sedimentar a imobilização, obstaculiza mudanças nos itinerários percorridos pelos grupos vulneráveis. O Parasita espalha-se transgeracionalmente, no contexto institucional, alimenta-se do medo da ousadia, e por isso projeta uma imagem idealizada e acomoda-se. Responsabilidade Raiz – expressa uma dinâmica institucional pertinente ao cuidado. Porém, implica não só ficar a espera das situações – foco, mas ir à raiz dos fatores condicionantes e determinantes que devem se converter em pautas plausíveis das organizações institucionais ou interinstitucionais. 33 em suas organizações, além de tratar de um “conjunto de processos, métodos e expedientes usados por indivíduos ou grupos de interesse para influenciar, conquistar e manter o Poder. Logo, a implementação de políticas públicas é necessária para transformar uma dada realidade, pois para Easton política pública “é a alocação oficial de valores para toda a sociedade” (EASTON apud HEIDEMANN 2010, p.29). Já Lasswell e Kaplan apud Heidemann (2010, p.29) garantem que “é essencial ao conceito de política que contenha meta, objetivo ou propósito”, ou seja, “programa projetado com metas, valores e práticas”. Portanto, Políticas Públicas conforme Rua (1997, p.21), “envolve mais do que uma decisão e requer diversas ações estrategicamente selecionadas para implementar as ações tomadas” isto é, “necessita de ação e intenção”. Pois uma política sem uma intenção formalmente manifestada não será uma política positiva sem ações que materializem uma intenção ou propósito oficial eventualmente enunciado. A autora apresenta inúmeras contribuições de diversos autores sobre Políticas Públicas, onde as sociedades modernas apresentam a diferenciação social como principal característica e que todos os participantes não possuem apenas particularidades como gênero, religião, escolaridade e outros, mas também diferentes ideias, valores, interesses e aspirações, desempenhando no decorrer de sua trajetória diversas atribuições. Segundo Schmitter apud Rua (1997, p.01) “política é a resolução pacífica de conflitos”, porém para o autor este conceito é muito vago. Logo estabelece que política “consiste no conjunto de procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que se destinam a resolução pacífica dos conflitos quanto a bens públicos” (p.01). Políticas Públicas são Outputs resultantes da atividade política que compreendem o conjunto de decisões e ações relativas à alocação imperativa de valores. Assim, é necessário diferenciar Política Pública de Decisão Política. A primeira envolve mais de uma decisão e requer diversas ações estrategicamente pensadas e selecionadas para implementar a tomada de decisão. Já decisão política é uma escolha feita dentre diversas alternativas existentes, levando em consideração a preferência dos atores envolvidos e grau das prioridades. 34 Easton afirma que o sistema político resulta dos Inputs que originam do meio ambiente e os Withinputs originam-se do próprio sistema político. Segundo Easton (1970) os inputs e os withinputs expressam demandas e suporte. As demandas relacionadas às ordens de serviços dividem-se em demandas de participação no sistema político e demandas de controle da corrupção. O Suporte ou Apoio estão direcionados para o sistema político ou para a classe governante, porém nunca podem estar totalmente desvinculados da política governamental. Constata-se ausência de inputs de apoio quando as obrigações não são cumpridas, a exemplo do cidadão que deixa de participar do processo democrático se abstendo de votar. Os withinputs também expressam demandas e apoio, mas diferenciam-se dos inputs devido serem fruto do próprio sistema político. As demandas dividem-se em três tipos: as demandas novas, resultantes do surgimento de novos atores políticos ou novos problemas sociais; as demandas recorrentes expressam problemas não resolvidos ou mal resolvidos, os quais sempre voltam para a pauta de discussão e para agenda governamental; e as demandas reprimidas, que são constituídas de “estados de coisa”, ou seja, problemas que não estão como prioridades nas agendas governamentais, isto é, são incomodações que afligem muita gente, porém estão alocadas em grau muito baixo ou até mesmo nem aparecem nas agendas de governo. Muitos desses problemas podem por muito tempo, ficarem esquecidos e fora do debate público, é o que Bachrach e Baratz (1979) denominam de “não decisão”, ou seja, determinados assuntos de muita relevância, que entram em confronto com valores da sociedade ou que ameaçam fortes interesses, e que para se transformarem em um problema político passam por diversos obstáculos para que posterior seja incluído na agenda governamental, quando isto acontece, mas nunca chegam a ser implementado nas prioridades. No processo decisório o principal momento é a formulação das alternativas, pois é o momento onde os atores envolvidos expressam suas preferências e entram em confronto devido às divergências de interesse. Assim, formam o que chamam de issues ou questões, ou seja, é o aspecto de uma decisão que atinge interesse de diversos atores catalisando um conflito entre os participantes da barganha política. As arenas políticas surgem a partir, das vantagens e desvantagens das soluções de um problema, ou seja, os diversos atores envolvidos fazem alianças e disputam entre si, dividem-se em distributivas, regulatórias e redistributivas. 35 As relações de confronto obedecem três padrões: lutas, jogos e debates. Quando se trata de arenas redistributivas acontecem às lutas, destacando o chamado “jogo de soma-zero”, situações que para um ganhar outro tem que perder. Quando trata-se de vencer o adversário em uma situação específica é o momento em que está acontecendo o jogo e todo o processo de convencimento é o que chamam de debate. Para Lindblon (1981, p. 75) “no jogo de poder, diversos são os procedimentos ou táticas utilizadas pelos atores”, onde destaca-se a persuasão a qual busca à adesão pela avaliação das possibilidades de uma ação, necessitando da análise e da argumentação. Porém a troca de valores aparece como o principal aliado dos atores envolvidos; é o que tecnicamente chamam de intercâmbio, ou seja, os favores entram nas arenas para decidir o que está sendo barganhado. Após o problema ter se tornado prioridade governamental, inicia-se a formulação de alternativas e esse pensar a solução pode dar-se através de três formas: o primeiro é o modelo incremental que tem como principal defensor Lindblom (1981), o qual soluciona os problemas de forma simples, sem causar muitas transformações nas situações existentes. O segundo é o modelo racionalcompreensivo exposto por Simon (1945), este expressa-se pelo conhecimento profundo do problema e as tomadas de decisões precisam causar grande impacto, isto é, a maximização dos valores e as alternativas que podem causar essa maximização. Portanto, pensando em solucionar problemas e outras dificuldades, surgem propostas compostas das duas abordagens. É o que defendeu Etzioni (1967) o chamado mixed-scanning, a qual dividese em decisões ordinárias ou incrementais e as decisões fundamentais ou estruturantes. As primeiras estabelecem os rumos básicos das políticas públicas proporcionando o contexto para decisões incrementais. O mixed-scanning segundo Etzioni é o método mais adequado para tratar as decisões estruturantes, permitindo uma exploração mais ampla das possíveis alternativas. Por fim, toda política pública quando se torna prioridade precisa ser implementada. Diversas ações fazem com que as políticas sejam realmente efetivadas e posteriormente acompanhadas e avaliadas para saber os pontos positivos e negativos, visando a sua reestruturação, para dar continuidade ao processo de formulação, pois a implementação é um processo interativo e contínuo, e não deve ser considerado pronto e acabado, e sim um movimento interativo entre 36 uma política que a todo instante se transforma é o que Freire (2001) situa como açãoreflexão-ação. Neste sentido, as políticas sociais que conforme Teixeira (1985, p. 400) conceitua como: [...] planos, programas e medidas necessários ao reconhecimento, implementação, exercício e gozo dos direitos sociais reconhecidos em uma dada sociedade como incluídos na condição de cidadania, gerando uma pauta de direitos e deveres entre aqueles aos quais se atribui a condições de cidadãos e seu Estado. Enquanto que para Machado (2000, p.1) “são atuações do poder político visando o bem-estar da população”. Isto evidencia que ainda não existe um conceito bem definido para política social. Assim, a conceituação defendida por Teixeira é mais abrangente, devido estar ligada ao conceito de cidadania. As políticas sociais apresentam uma especificidade, pois, estimulam o Estado a implementar medidas de proteção, as quais se dividem em três modalidades: Assistência Social8, Seguro Social9 e o Estado de Bem-Estar Social10. Porém, o Estado sempre se mostrou incapaz de implantar políticas sociais que atingisse o coletivo. Isso não acontece devido estas políticas sociais estarem voltadas para os interesses políticos e econômicos das elites nacionais, deixando a margem das decisões os interesses da população evidenciando um modelo de opressão. O que difere do pensamento de Freire (1979) quando afirma que só poderia realmente acontecer à mudança social se as classes populares fossem respeitadas; se as políticas assistencialistas fossem combatidas, pois, o autor considera tais políticas sem responsabilidade na medida em o homem ficava fora das decisões que poderiam transformar a sua realidade, sendo que isso se constitui em passividade humana. Combato o assistencialismo por contradizer a vocação natural da pessoa – a de ser sujeito e não objeto, por fazer de quem receba à assistência um objeto passivo, sem possibilidades de participar do processo de sua própria 8 Assistência Social – reconhecimento de uma necessidade, e alguma proposta de aliviá-la. Caracteriza-se por assumir um problema de caráter do necessitado, razão pela qual a assistência é promovida em condições que tentam parcialmente compensar falhas passadas e prevenir contra falhas futuras. 9 Seguro Social – destina-se a cobertura da população assalariada com a qual se estabelece uma relação jurídico do tipo contratual. É uma relação de direito social com base em um contrato. 10 Estado de Bem-estar Social – rompe com as concepções de proteção social com base na evidência da necessidade ou no contrato firmado, e propõe uma relação de cidadania plena, na qual o Estado está obrigado a fornecer a garantia de um mínimo vital a todos os cidadãos, em relação a saúde, educação, pensão, seguro desemprego etc. 37 recuperação. No assistencialismo não há responsabilidade. Não há decisão. Só há gestos que revelam a passividade e domesticação do homem. (FREIRE, 1979, p.66) Assim, as políticas sociais conforme Freire (1979) devem estar voltadas para os interesses coletivos, ultrapassando os interesses de uma minoria que sempre dominou a sociedade e decidiu quais seriam os mecanismos de enfrentamento dos problemas sociais como a pobreza. Logo levavam em consideração apenas os aspectos que as elites não fossem atingidas e que as mazelas sociais fossem apenas atingidas nas suas consequências e não na sua raiz como Oliva (2012) propõe através da responsabilidade raiz, defendida pela autora. 38 3 DESDOBRAMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS E EDUCACIONAIS E A RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS MUNICÍPIOS DE BREVES E CACHOEIRA DO ARARI Este capítulo tem como principal objetivo analisar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual como mecanismo de combate da violência sexual no Estado Brasileiro, destacando suas diretrizes e seus objetivos. Perpassando também pelo Plano Estadual e pelos Planos Municipais de Enfretamento da Violência Sexual. Em seguida, serão mostradas as políticas públicas sociais desenvolvidas nos Municípios de Breves e Cachoeira do Arari fazendo um desdobramento da Política de Assistência Social, das Políticas Educacionais relacionando com as políticas públicas de enfrentamento da violência sexual nos dois municípios. 3.1 POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL: PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA INFANTO-JUVENIL E SUA APLICABILIDADE NO ESTADO E NOS MUNICÍPIOS A violência sexual por ser um problema que atinge a sociedade de modo geral necessita ser enfrentada por todos os segmentos sociais. Desta forma, a Presidência da República através da IV Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente firmou, de forma articulada entre todos os entes federados, o Pacto pela Paz, compromisso do Estado Brasileiro para erradicar a violência sexual contra a criança e o adolescente. Assim, em fevereiro de 2003 o Governo Federal criou a Comissão Intersetorial composta por representantes do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, Ministério Público, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Organismos Internacionais e Organizações da Sociedade Civil, com o objetivo de propor políticas públicas para a erradicação da violência, abuso e exploração comercial de crianças e adolescentes praticada em todo território nacional. O Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Criança e Adolescente foi criado como um instrumento de garantia e defesa dos direitos de criança e adolescente, com propósito de criação, fortalecimento e implementação de um conjunto articulado de ações e metas fundamentais para assegurar a proteção integral a criança e ao adolescente em situação de vulnerabilidade social ou risco de violência sexual. Além do compromisso firmado pelo Governo Brasileiro na 39 declaração e agenda para ação aprovadas no I Congresso Mundial Contra Exploração Sexual e Comercial de Crianças realizado em Estocolmo na Suécia. O Plano preconiza para efetivação das ações o dever da Família, da Comunidade, da Sociedade Civil em Geral e do Poder Público fundamentado pelo Artigo 227 §4º da Constituição Federal do Brasil combinado com a Lei nº 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, sustentado por todos os segmentos da sociedade que atuam em defesa da criança e do adolescente, através de ações e metodologias adequadas, e elaboradas a partir do consenso entre todos os participantes das conferências municipais e da conferência nacional do direito da criança e do adolescente. Desta forma, constitui-se em diretriz nacional para o desdobramento das políticas para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, e serve de referência para as políticas públicas nos níveis Federal, Estadual e Municipal. O objetivo geral do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil é estabelecer um conjunto de ações articuladas que permita a intervenção técnica-política e financeira para o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Como específicos: realizar investigação científica, visando compreender, analisar, subsidiar e monitorar o planejamento e a execução das ações de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes; garantir o atendimento especializado às crianças e aos adolescentes em situação de violência sexual consumada; promover ações de prevenção, articulação e mobilização, visando o fim da violência sexual; fortalecer o sistema de defesa e de responsabilização e fortalecer o protagonismo Infanto-Juvenil. O Plano Nacional está estruturado em seis eixos estratégicos que estão interligados de forma articulada, pois por ser um documento orgânico e integrado necessita ser operacionalizado mediante ações articuladas dos diferentes eixos. Sendo eles: Análise da Situação Conhecer o fenômeno da violência sexual contra crianças e adolescentes em todo o país, o diagnóstico da situação do enfrentamento da problemática, as condições e garantia de financiamento do Plano, o monitoramento e a avaliação do Plano e a divulgação de todos os dados e informações à sociedade civil brasileira. Mobilização e Articulação 40 Fortalecer as articulações nacionais, regionais e locais de combate e pela eliminação da violência sexual; comprometer a sociedade civil no enfrentamento dessa problemática; divulgar o posicionamento do Brasil em relação ao turismo sexual e ao tráfico para fins sexuais e avaliar os impactos e resultados das ações de mobilização. Defesa e Responsabilização Atualizar a legislação sobre crimes sexuais, combater a impunidade, disponibilizar serviços de notificação e capacitar os profissionais da área jurídicopolicial; implantar e implementar os Conselhos Tutelares, o SIPIA e as Delegacias especializadas de crimes contra crianças e adolescentes. Atendimento Efetuar e garantir o atendimento especializado, e em rede, às crianças e aos adolescentes em situação de violência sexual e às suas famílias, profissionais especializados e capacitados. Prevenção Assegurar ações preventivas contra a violência sexual, possibilitando que as crianças e adolescentes sejam educados para o fortalecimento da sua autodefesa; atuar junto a Frente Parlamentar no sentido da legislação referente à INTERNET. Protagonismo Infanto-Juvenil Promover a participação ativa de crianças e adolescentes pela defesa de seus direitos e comprometê-los com o monitoramento da execução do Plano Nacional. Neste sentido, foram traçadas ações e metas de pequeno, médio e longo prazo com o intuito de erradicar a violência sexual cometida contra crianças e adolescentes. O Monitoramento e Avaliação são feitos pelo Fórum Nacional pelo Fim da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes composto por representantes das Instituições Governamentais e pela Sociedade Civil Organizada. E todos os Conselhos dos Direitos de Crianças e Adolescentes são instâncias de deliberação, controle e acompanhamento do Plano Nacional. O primeiro objetivo do quadro operativo do plano (2002, p.19) é “identificar causas/fatores de vulnerabilidade e modalidade de violência sexual contra crianças e adolescentes”, assim, procurou-se conhecer os dados referentes as vítimas de violência sexual por sexo; vítimas de violência sexual por grupos de idade; vítimas de violência sexual por cor; vítimas de violência sexual por nível de escolaridade; vítimas 41 de violência por classes de rendimento familiar per capita; distribuição das notificações de violência sexual por tipo; número de rotas de tráfico identificadas e desmanteladas; distribuição dos agressores por sexo; distribuição dos agressores por grupos de idade; distribuição dos agressores por cor; distribuição dos agressores por nível de escolaridade; distribuição dos agressores por ocupação; número de casos de violência sexual por natureza do crime. Desta forma, foi realizada em 2001 e 2002 uma Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, além de um estudo feito pela Polícia Rodoviária Federal que mapeou os pontos estratégicos de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes nas rodovias estaduais e federais brasileiras. Logo o Governo Federal assumiu o Disk Denúncia Nacional coordenado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, assumindo um caráter de política pública e, atualmente, com o Disk Denúncia 100, específico para violência sexual. No contexto das políticas públicas para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, o Programa Sentinela ganha bastante destaque. Esse Programa foi criado em 2002 no âmbito da assistência social, para coordenar o processo de atendimento das crianças, dos adolescentes e das famílias envolvidas em situações de violência sexual. Outro Programa na esfera Federal é o Turismo Sustentável e Infância, que visa realizar a prevenção e o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nos equipamentos turísticos e ao mesmo tempo desenvolver, através da atividade turística, proteção ao meio ambiente, redução da pobreza e desigualdades regionais, por meio da criação de empregos e geração de renda. 3.1.1 O Programa Sentinela11 É um conjunto de ações sociais especializadas e multiprofissionais dirigidas ao atendimento de crianças, adolescentes e famílias envolvidas com a violência sexual. O programa foi estruturado para atender as determinações da Constituição Federal, do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Lei Orgânica de Assistência Social e do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil. O Programa Sentinela constitui-se numa ação de responsabilidade do Ministério do 11 Extraído do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil – relatório de monitoramento 2003 -2004, Brasília, 2007. 42 Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, inserido no Programa de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, coordenado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e, está atualmente presente em todos os Estados da Federação e no Distrito Federal. Em 2006, com a implantação do SUAS, o Sentinela se insere como serviço do CREAS, obedecendo as Normas Operacionais Básicas da Política Pública de Assistência Social, alcançando uma abrangência de 1104 municípios brasileiros. 3.1.1.1 Objetivos do Programa Sentinela • Construir, em um processo coletivo, redes de atenção para garantir os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes; o fortalecimento de sua autoestima e o restabelecimento do direito à convivência familiar e comunitária em condições dignas de vida; • Criar condições que possibilitem às crianças e aos adolescentes vitimados e suas respectivas famílias, o resgate e a garantia dos direitos; o acesso aos serviços de assistência social; saúde; educação; justiça e segurança; esporte, lazer e cultura; guardando compromisso ético, político e a multidisciplinariedade das ações. 3.1.1.2 Público-alvo do Programa Sentinela Crianças, adolescentes e famílias vítimas de situações de violência, abuso e exploração sexual comercial. 3.1.1.3 Como funciona o Programa Sentinela O programa é operacionalizado por intermédio dos CREAs equipamentos sociais de base, implantados nos municípios, para assistência social às crianças, aos adolescentes e às famílias com necessidade de proteção especial, de média complexidade e atendimento especializado. Nesses espaços, são prestados atendimentos especializados de acolhimento e proteção imediata com abordagem multiprofissional para o apoio psicossocial e jurídico. Em caráter de prosseguimento sistemático individual, familiar e comunitário, faz-se a oferta de retaguarda, articulando e interagindo com o Sistema de Garantia de Direitos e da Rede de Proteção Social. 3.1.1.4 Avanços registrados do Programa Sentinela • O atendimento psicossocial e jurídico tem significado para as crianças, para os adolescentes e as famílias atendidas, elevação da autoestima; inclusão em outras políticas públicas (saúde, educação, complementação de renda entre outros); trabalho, moradia e programas de 43 • Implementação do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infantojuvenil, especialmente os eixos: atendimento, prevenção, articulação/mobilização e protagonismo juvenil; • Mapeamento inicial dos pontos de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes nos municípios; • Agendamento e garantia de maior visibilidade para a temática da violência sexual nos municípios que está presente; • Tem contribuído efetivamente para a construção dos Planos Municipais de Enfrentamento à Violência Sexual, bem como a potencialização, a sensibilização e a mobilização das áreas governamentais e da sociedade civil; • Aumento do número de denúncias dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes; • Potencialização das redes locais de atendimento às crianças, aos adolescentes e famílias vítimas de violência sexual. 3.1.1.5 Desafios do Programa Sentinela • Ampliar a abrangência do Programa no território brasileiro, tendo como base a Matriz de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, desenvolvida pela Comissão Intersetorial; • Buscar uma maior qualificação das redes locais para atendimento dos casos de violência sexual; • Priorizar o desenvolvendo de ações de atendimento às situações de exploração sexual comercial; • Capacitar e promover a formação permanente dos profissionais que atendem nos Centros e Serviços Sentinelas e as Redes Locais de Proteção Social; • Realizar, em conjunto com o Comitê Nacional, os Estados, os Municípios e a sociedade civil o monitoramento, acompanhamento e avaliação dos serviços de assistência social; • Discutir estratégias de repactuação entre União, Estados e Municípios para gestão, capacitação dos profissionais envolvidos e consolidação dos serviços no âmbito da política pública municipal. 44 3.1.2 O Programa Turismo Sustentável e Infância12 O Programa Turismo Sustentável e Infância à prevenção e o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nos equipamentos do turismo. Tem como princípios o desenvolvimento sustentável, a responsabilidade social corporativa e os direitos da criança. Principais parceiros: Conselho Nacional de Turismo, Secretarias Municipais e Estaduais de Turismo, Câmara Temática do Turismo Sustentável e Infância, empresas representativas do setor turístico, universidades e sociedade civil. As ações do programa são desenvolvidas por agentes públicos federais, estaduais e municipais, empresários, profissionais do turismo e segmentos da sociedade civil. O Programa Turismo Sustentável e Infância está dividido em quatro eixos de ação: Projetos Inclusão Social com Capacitação Profissional, oferece cursos profissionalizantes ligados ao turismo para jovens em situação de vulnerabilidade social; Projetos de Formação de Multiplicadores em parceria com a Universidade de Brasília e a Secretaria de Turismo de Pernambuco, prevê a formação de multiplicadores que disseminarão o conhecimento na temática em 26 (vinte e seis) Estados e no Distrito Federal. Também serão desenvolvidos, no âmbito do projeto, um plano de ação nas 12 (doze) cidades-sede da Copa de 2014, uma campanha nacional e Seminários de Sensibilização. O programa realiza seminários para sensibilizar os empresários do setor e as instituições que trabalham com a temática. Todos os Estados Brasileiros já receberam os eventos para trabalhar com essa temática. Desta forma, conforme dados do Ministério do Turismo, mais de 100 mil pessoas que trabalham com turismo já foram sensibilizadas. E por fim, a promoção de Campanhas, com o objetivo de incentivar às denúncias dos casos de exploração sexual, são realizadas principalmente em eventos com grande fluxo de turistas – como o carnaval, as festas de São João e paradas gays. Desde 2006, já foram distribuídos mais de 4 milhões de peças de comunicação (como folders e viseiras) com versões, inclusive, em inglês e espanhol. Na esfera estadual, muito se tem feito a partir da implantação da CPI da Pedofilia, instituída em 2010, a qual percorreu inúmeros municípios e diagnosticou que o Estado do Pará é manchado pela violência em todas as suas especificidades. Porém, a maioria dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes são 12 Extraído direto do Ministério do Turismo. 45 oriundos dos municípios marajoaras. Neste sentido muitas ações são desenvolvidas para esse enfrentamento, porém é inexistente no Estado do Pará o Plano de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, apesar de ter sido elaborado, mas não foi aprovado pelo Conselho Estadual do Direito da Criança e do Adolescente conforme o CEDECA-EMAÚS. Em ambos os municípios de Cachoeira do Arari e Breves não existe o Plano Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, apesar de o município de Cachoeira do Arari ter elaborado, em 2012, o Diagnóstico da Realidade da Criança e do Adolescente, considerado como a primeira etapa para a elaboração do plano, porém ainda não foi elaborado o Plano Municipal. Desta maneira, verifica-se que existe política nacional de enfrentamento da violência sexual contra criança e adolescente, porém o Estado do Pará ainda não estruturou seu Plano de Enfrentamento da Violência Sexual. Entretanto, a Secretaria Estadual de Segurança Pública, em parceria com a Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos, atuam no combate à violência sexual. Logo, os Municípios de Breves e Cachoeira do Arari possuem uma rede de garantia dos direitos da criança e do adolescente bem articulada, porém necessita de fortalecimento para que assim, as ações possam ser mais efetivas e eficazes no enfrentamento da violência sexual. No contexto das Políticas Públicas para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes é pertinente que todos os Estados da Federação assim como os Municípios necessitem acompanhar as políticas nacionais para que, de forma articulada, possam combater à violência sexual que atinge todos os segmentos da sociedade, logo é necessário que todos elaborem e aprovem seus planos de enfrentamentos da violência sexual para que assim definam ações e metas a serem alcançadas tanto pelo poder público como pela sociedade civil organizada. 46 3.2 POLÍTICAS SOCIAS NAS ÁREAS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL E DA EDUCAÇÃO DESENVOLVIDAS NOS MUNICÍPIOS DE BREVES E CACHOEIRA DO ARARI 3.2.1 A Assistência Social O SUAS organiza e descentraliza os serviços socioassistenciais no Brasil, adotando um modelo de gestão participativa nas esferas nacional, estadual e municipal. Este sistema está dividido em dois tipos de proteção social: a primeira é Proteção Social Básica, destinada a prevenção de riscos sociais e pessoais, ofertando Programas, Projetos, Serviços e Benefícios individuais ou a famílias em situação de vulnerabilidade social; a segunda é de Proteção Social Especial destinada às famílias ou indivíduos que já se encontram em situação de risco, ou seja, já tiveram seus direitos violados por meio de abandono, maus-tratos, violência sexual e outros tipos de violações. Logo, a Rede-SUAS surge com a finalidade de suprir as necessidades de comunicação no âmbito do sistema único da assistência social e de acesso aos dados de implementação da política nacional de assistência social. Uma das ferramentas para a implementação das políticas de assistência social é o Cadastro Único, que tem como principal objetivo conhecer a realidade socioeconômica das famílias beneficiárias dos Programas socioassistenciais, que fornecem informações do núcleo familiar, das características do domicílio, as formas de acesso aos serviços públicos essenciais e também as informações de cada membro da família beneficiária. O Art. 2º Inciso I da Lei Nº 10.836, de 09 de Janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família, destinado às ações de transferência de renda com condicionalidades, define como público “unidades familiares que se encontrem em pobreza ou extrema pobreza”. Desta forma, nos dois municípios marajoaras a população é atendida pelo PBF, assegurando a essas famílias o direito humano a alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional que contribui para a conquista da cidadania pela população mais vulnerável à fome. Outro Programa desenvolvido nos dois Municípios é o BPC, que assegura um salário mínimo mensal a idosos e pessoas com deficiência, incapacitados para a vida independente e para o trabalho. O Programa Nacional de Inclusão de Jovens oportuniza aos jovens o direito de elevação do grau de escolaridade, qualificação profissional com o objetivo de 47 estimular a inserção produtiva. O Pró-jovem destina-se aos jovens com idade de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, do quinto ano escolar; aos que ainda não concluíram o ensino fundamental, e que não trabalham com carteira assinada. O Programa tem a duração de um ano e os jovens recebem auxilio no valor de R$ 100, 00 (cem reais) por mês. Dentro deste Programa existe o Pró-jovem Adolescente, destinado aos jovens de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, pertencentes às famílias beneficiárias do PBF que se encontram em situação de risco social. Além, dos benefícios acima citados, existem também àqueles eventuais de caráter provisório, prestados aos cidadãos e às famílias em virtude de morte, de nascimento, de calamidade pública e situações de vulnerabilidade temporária. Outro Programa que merece destaque é o PETI, que tem como principal objetivo contribuir para a erradicação de todas as formas de trabalho infantil no país, a partir, da articulação de um conjunto de ações que visam à retirada de crianças e adolescentes com idade inferior a 16 (dezesseis) anos da prática do trabalho precoce, exceto na condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos. Este Programa divide-se em dois tipos de ações articuladas: o Serviço de Convivência de Fortalecimento de Vínculos e a Transferência de Renda direta às famílias com crianças e adolescentes retiradas da situação de trabalho, sendo que a transferência de renda é feita atualmente por meio do PBF, para aquelas famílias que se enquadram nas condicionalidades estabelecidas diretamente pelo PETI, isto é, às famílias que extrapolaram o limite de renda, porém que se apresentam em situação de trabalho infantil. A integração entre o PBF e o PETI, foi instituída pela Portaria GM/MDS n. 666, de 28 de dezembro de 2005, para racionalizar a gestão dos dois programas e otimizar as ações do governo, evitando a fragmentação, a superposição de funções e o desperdício de recursos públicos. (CADERNOS DE ESTUDOS – DESENVOLVIMENTO SOCIAL EM DEBATE, 2010, p. 53). No entanto, as famílias beneficiárias dos Programas Sociais devem atender algumas condicionalidades nas áreas da saúde e da educação. Na área da educação é necessário que as crianças e adolescentes na faixa etária entre 6 (seis) e 15 (quinze) anos estejam matriculados e frequentando a escola com no mínimo 85% (oitenta e cinco por cento), assim as secretarias municipais de educação são responsáveis pela inserção das informações no sistema do bolsa família denominado 48 de Projeto Presença. Desta forma, as duas secretarias municipais de educação possuem um departamento responsável pelo Programa Bolsa Família na Educação. Quanto à saúde, é exigido que se mantenha atualizado o calendário de vacinação e que se faça o monitoramento do peso e do estado de saúde da criança. Com relação às gestantes, essas devem comparecer à unidade de atenção básica para acompanhamento pré-natal e as puérperas devem fazer o mesmo para o acompanhamento pós-parto. É requerido, ainda, que as lactantes participem das atividades educativas sobre aleitamento materno e alimentação saudável. Assim, as secretarias municipais de saúde são responsáveis pela inserção das informações no SISVAN. (CADERNO DE ESTUDOS – DESENVOLVIMENTO SOCIAL EM DEBATE, 2010, P. 33). 3.2.2 Educação nos Municípios de Breves e Cachoeira do Arari O município de Cachoeira do Arari, tem uma população de cerca de 20.443 habitantes, conforme o Censo Demográfico 2010. 8.230 crianças recenseadas frequentavam creche ou escola. Destas, 537 crianças estavam na faixa etária de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade; 347 com 4 (quatro) anos; 426 crianças com 5 (cinco) anos; 405 crianças com 6 (seis) anos; 1.223 crianças na faixa etária de 10 (dez) a 14 (quatorze) anos, e 1.512 pessoas na faixa etária de 15 a 19 anos. Porém ainda existem muitas crianças fora da escola, principalmente na faixa etária de 0 (zero) a 3 (três) anos, pois de um total de 3.307 pessoas recenseadas 1.187 crianças nunca frequentaram creche ou escola, ou seja, 36% (trinta e seis por cento) aproximadamente. Isto indica que o município precisa investir em novos espaços para atender esse público, pois conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Lei Nº 9394/96 Artigo 11 Inciso V: Oferecer à educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. (LDB, 1996, p. 05) Para esse público o município dispõe de duas creches, sendo uma com boa estrutura na zona urbana, e uma na zona urbana que funciona em prédio alugado e 49 inadequado para o desenvolvimento das atividades, porém é o único lugar que pode funcionar como creche. Na perspectiva de melhor atendimento educacional e com o objetivo de oferecer uma educação de qualidade, o Poder Público Municipal pleiteia desde 2011 duas creches pró-infância, projeto financiado pelo FNDE, com capacidade para atender até 240 crianças em regime parcial, ou 120 crianças em regime integral. A Secretaria Municipal de Educação do município de Cachoeira do Arari, no ano de 2010, implantou o Programa Mais Educação em uma escola para atender 250 (duzentos e cinquenta) alunos em regime integral, com atividades pedagógicas como Letramento e recreativas como futsal, pintura, iniciação musical e fanfarra. No ano 2012, expandiu para mais sete escolas municipais e, em 2013, mais oito escolas vão implantar o Programa Mais Educação13 que visa “ampliar a jornada escolar e a organização curricular, na perspectiva da Educação Integral, assim promovendo a ampliação de tempos, espaços, oportunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de educar entre os profissionais da educação e de outras áreas, as famílias e diferentes atores sociais, sob a coordenação da escola e dos professores, pois, a educação integral associada ao processo de escolarização, pressupõe a aprendizagem conectada a vida e ao universo de interesse e de possibilidades das crianças, adolescentes e jovens”. (MANUAL DA EDUCAÇÃO INTEGRAL, 2010 p. 1). O Programa Mais Educação tem suas atividades organizadas a partir de nove macrocampos: Acompanhamento Pedagógico, Meio Ambiente, Esporte e Lazer, Direitos Humanos em Educação, Cultura e Artes, Cultura Digital, Promoção da Saúde, Comunicação e uso de Mídias, Investigação no Campo das Ciências da Natureza e Educação Econômica. No município de Breves as políticas educacionais desenvolvidas pela rede municipal de ensino não são diferentes, porém das 310 (trezentos e dez) escolas do Município 48 (quarenta e oito) escolas implantaram o Programa Mais Educação no ano de 2012. Neste sentido inúmeras políticas públicas educacionais são desenvolvidas nos municípios de Breves e Cachoeira do Arari, porém todas pensadas em nível de Brasil, ou seja, elaboradas pelo Ministério da Educação e implantadas nos municípios, com o objetivo de melhorar o IDEB. Nenhum dos dois municípios possui políticas 13 Retirado do manual da educação integral, PDDE/TEMPO INTEGRAL, 2010. 50 públicas municipais pensadas a partir de suas necessidades e suas particularidades, independentemente da área de atuação seja na Saúde, Educação e Assistência Social. Assim, os municípios de Breves e Cachoeira do Arari mostram-se totalmente enfraquecidos no combate a violência sexual de crianças e adolescentes, pois a inexistência das políticas públicas de enfrentamento da violência sexual em ambos os municípios faz com que os casos assumam proporções incalculáveis, principalmente por não existir nos dois municípios uma secretaria municipal responsável pela implantação e implementação de políticas públicas de combate da violência sexual contra crianças e adolescentes. É inexistente também políticas de segurança pública, fator que contribui para o aumento da violência nos referidos municípios. Em Cachoeira do Arari, na seara das políticas públicas de segurança, apenas são realizadas rondas das polícias (militar e civil) na zona urbana do município. Na zona rural é inexistente rondas pela polícia, pelo fato de não existir transporte adequado para a realização destas ações nas localidades do município. No Município de Breves, pelo contingente populacional e pela sua localização, existe um Batalhão da Polícia Militar que atende os municípios próximos, como São Sebastião da Boa Vista, Melgaço, Bagre e Portel, nos quais também são realizadas rondas noturnas e campanhas de prevenção nas escolas em parcerias com as secretarias municipais de saúde, educação e assistência social. A Polícia Civil de Breves possui melhor estrutura física, porém seus recursos humanos ainda são deficitários, principalmente para responder aos casos de violência sexual que necessitam de um tratamento bem especializado, pois conforme a Delegada de Polícia do Município de Breves “é necessário pessoas capacitadas e habilitadas para realizar esse tipo de atendimento, algo que é inexistente aqui no município”. Neste sentido, apesar das diferenças socioeconômicas entre os dois municípios os problemas se assemelham, pois com a inexistência das políticas públicas de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes os casos se multiplicam rapidamente, deixando a população cada vez mais vulnerável e sem perspectiva de enfrentamento desse tipo de violência. Portanto, constata-se que o aumento desenfreado da violência sexual, contra crianças e adolescentes, deve-se, principalmente, ao fato de não existir políticas públicas em nenhum dos dois municípios marajoaras. O Plano Municipal de 51 Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil também não existe, o que dificulta ainda mais o combate, pois como conjunto de ações articuladas em defesa da criança e do adolescente, que se encontram em vulnerabilidade social, os dois municípios não seguem as diretrizes nacionais. Cachoeira do Arari e Breves ainda não elaboraram seus planos municipais de enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil que, de acordo com Rua (1997) consiste em ações selecionadas e estruturadas que nortearam a elaboração e implementação de políticas públicas, pois somente traçando os anseios da população de forma participativa, será combatida a violência sexual cometida contra crianças e adolescentes nos nossos municípios. 52 4 COMPARANDO BREVES E CACHOEIRA DO ARARI: CARACTERÍSTICAS DOS MUNICÍPIOS, INICIATIVAS E FORMAS DE ENFRENTAR A REALIDADE DA VIOLÊNCIA SEXUAL Este capítulo apresenta uma comparação entre os municípios pesquisados para que se possa perceber semelhanças e diferenças no aspecto que a pesquisa delimitou. O conteúdo identifica os aspectos cultural, econômico e social dos municípios, e também as políticas públicas implementadas ou em processo de implementação, através de dados coletados nos Conselhos Tutelares e de entrevistas realizadas com Juízes, Promotores de Justiça, Defensores Públicos, Delegados de Polícia, Secretários Municipais de Educação, Saúde e Assistência Social e Organizações Não-Governamentais que possibilitaram importantes reflexões. A Ilha de Marajó representa um importante atrativo turístico no Estado do Pará principalmente pela sua diversidade de fauna e flora além de suas praias de água doce. A origem do nome Marajó é definida pela língua vernácula como “vento que sopra pela baia de Guajará” (FERREIRA, 2010, p. 1337). Isto se justifica pela sua posição geográfica na foz do rio amazonas. Conforme Nunes (2000) no período da colonização, meados do século XVII, o Padre Jesuíta Antônio Vieira tinha como principal objetivo fazer com que os portugueses convivessem de forma harmoniosa com os nativos principalmente os índios aruãs14, pois eram constantes os conflitos na Ilha Grande de Joanes15. A Ilha de Marajó é composta por dezesseis municípios que apresentam realidades socioeconômicas bem diversificadas, mas bem parecidas acerca da violência sexual. Os municípios juntos, atingem cerca de 49% dos casos de violência, segundo a CPI da Pedofilia (2010), instituída pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará, a qual analisou os protocolos elaborados pelo Pró-Paz16. O mapa abaixo mostra a localização dos municípios Marajoaras: 14 ARUÃS: Etnôn. Indivíduos dos aruás, povo indígena extinto, da família linguística aruaque, que habitava a ilha de Marajó, na região do rio Tocantins. Pertencente ou relativo a esse povo. 15 Primeiro nome da Ilha de Marajó e por volta de 1760 mudou-se para o atual. 16 PRÓ-PAZ: Programa de atendimento exclusivo para crianças e adolescentes (0 a 18 anos incompletos) vítimas de violência sexual, com objetivo de promover atendimento integral, interdisciplinar e de qualidade às crianças e adolescentes vitimizadas de violência e suas famílias, oferecendo acolhimento psicossocial especializado, garantindo os direitos básicos relacionados à saúde física, emocional, mental e reprodutiva com o intuito de prevenir DST’s/AIDS, através de medidas profiláticas, nos casos detectados até 72 horas para prevenir e/ou interromper a gravidez decorrente de Violência Sexual, conforme a legislação. 53 Figura 1: Localização da Ilha de Marajó e das cidades que compõe o Polo Marajó . Fonte: Projeto RADAM/1973. Adaptado por Ana Maria M. Furtado, et al, 2006 No Ministério Público do Estado e nos Conselhos Tutelares do Estado do Pará, no período de cinco anos, foram registrados no Pará mais de 100 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescente, sendo que entre 2004 a 2009 foram notificados 27.317 casos, conforme a referida CPI. Dom Luiz Azcona e a Irmã Henriqueta Cavalcante da Comissão de Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmam que “é muito frequente a ocorrência dos casos de violência sexual contra crianças e adolescente na Ilha de Marajó” (2010, CPI DA PEDOFILIA). Conforme a religiosa “entre os municípios que compõem a Ilha, Breves possui uma situação alarmante de exploração sexual” (Jornal Amazônia, 08/06/2010) O Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil noticiou, em 2010, que muitas meninas são exploradas sexualmente no arquipélago do Marajó, são as chamadas “meninas balseiras”. Em geral são meninas que abandonam a sala de aula para fazerem “programas” com marinheiros em troca de combustível. Em geral estão na faixa entre 11 a 15 anos de idade, e se prostituem visando à sobrevivência da família. 54 As famílias são, de modo geral, as principais responsáveis pelo aliciamento dessas menores em redes de exploração sexual, fenômeno que se tornou normal para as autoridades dos municípios da Ilha. (FNPETI17, 2010). Assim, o que se percebe é a ausência de políticas públicas para enfrentamento da violência sexual e a fragilidade daquelas que já foram implementadas, pois os números de casos só aumentam e a eficácia das ações ainda não causaram impacto na sociedade marajoara. Para a entrevistada Nº 09: Uma das localidades do Estado do Pará que eu considero como um dos mais graves no que diz respeito a todo e qualquer tipo de violação. Focado para a violência sexual, o Marajó traz um quadro extremamente preocupante, é uma região do Estado marcado, eu sempre digo pelo abandono, pela pobreza, pelo descaso. Por uma população caracterizada pelo silêncio, pela incapacidade de reivindicarem, lutarem pelos seus direitos, isso resultado de um processo extremamente dominador. Essa população sempre foi dominada, sempre foi escravizada, sempre reprimida pelos seus direitos, ou seja, se tornou uma população que suporta, que não consegue enxergar o que é violação, por conta disso acaba deixando virar um descaso. As nossas crianças e adolescentes do Marajó que são violentadas sexualmente, eu sempre procuro pontuar que uma das causas dessa violência é justamente a desigualdade social, a questão da inexistência de políticas públicas. Eu quero deixar bem claro que nós vivemos uma realidade onde a inexistência de políticas públicas é notória isso torna com que as crianças do Marajó se tornem muito mais vulneráveis a esse crime. (ENTREVISTADA n.9) Desta maneira, percebemos que os municípios Marajoaras continuam esquecidos pelo Poder Público, pois a violação dos direitos das crianças e dos adolescentes que marcam a história desse povo persiste nos dias atuais, mostrando a existência de inúmeros problemas sociais, consequências das desigualdades sociais. Assim, verificou-se que todas essas mazelas que atingem a sociedade marajoara já se perpetuaram, pois caíram na rotina da população e estes não aprenderam a se defender, a reivindicar seus direitos e o Poder Público não oferece mecanismos para a superação dos problemas, demonstrando a inexistência de políticas públicas principalmente no combate a violência sexual que mancha a sociedade marajoara desde os primeiros habitantes. 4.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS MUNICÍPIOS Historicamente os primitivos habitantes da região do Ararí, conforme indícios existentes foram os índios Aruãs, ligados aos Neengaíbas, também denominados pelos historiadores como Homens do Pacoval, por ser o local que tem 17 FNPETI – Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. 55 essa denominação, um dos pontos que conserva os vestígios mais acentuados da passagem dos silvícolas na região. Cachoeira do Arari surgiu no período colonial, com a chegada dos Jesuítas. A partir de 1700, quando se iniciou a colonização da região do Rio Arari, fundando-se as fazendas de gado pertencentes à Missão, em terras do médio e alto Arari. O povoado surgiu a partir da fazenda que pertenceu ao Capitão-Mor André Fernandes Gavinho, que após obter uma Carta de Data de Sesmaria, escolheu o local para construir sua casa em frente a uma cachoeira do Rio Arari. Com o crescimento demográfico em função do florescimento da pecuária, já em 1747, o governo português, atendendo pedidos dos vizinhos do fazendeiro, mandou erguer uma capela, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, criando assim a Paróquia de Cachoeira, nos campos da margem esquerda do Rio Arari, vinte e duas milhas acima da foz, nas terras da fazenda do Capitão-Mor André Fernandes Gavinho, o qual fundou a Freguesia, com a denominação de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira, subordinada à Vila Nova de Marajó. As terras patrimoniais da Vila foram doadas por testamento de 25 de outubro de 1747, por Francisco Ezequiel de Miranda, na qualidade de herdeiro presuntivo das terras, tendo a Freguesia, após a morte do doador, tomado posse definitiva daquele patrimônio. Com a morte do dono da fazenda, seus herdeiros consentiram que os vizinhos construíssem casas no local. Em 1811 foi criada a Vila de Cachoeira. A Instalação do município de Cachoeira do Arari ocorreu em 1833. O Governo da Província convocou um Conselho para dar nova divisão municipal ao Estado do Pará, em cujas sessões, realizadas de 10 a 17 de maio, foi determinada a extinção da Vila Nova de Marajó e a elevação da Freguesia de Cachoeira à categoria de Vila de Cachoeira. Em 6 de outubro de 1924, através da Lei Estadual n. 2.274, o município de Cachoeira do Arari foi elevada à categoria de cidade18. A história do município de Breves conta que o topônimo “Breves” é referência a uma família de origem portuguesa, radicada na localidade, na primeira metade do século XVIII. Em 19 de novembro de 1738, o capitão geral do Pará, João de Abreu Castelo Branco concedeu aos irmãos portugueses Manuel Fernandes Breves e Ângelo Fernandes Breves uma sesmaria, localizada as proximidades do Rio 18 Histórico Municipal retirado do Plano Municipal de Educação do Município de Cachoeira do Arari. 56 Parauhaú. Mas, com a instalação de um engenho, o lugar passou a ser chamado de “Engenho dos Breves”, em homenagem aos seus fundadores19. O município de Breves foi criado pela Resolução nº 200, de outubro de 1851, com a elevação da Freguesia de Nossa Senhora dos Breves à condição de Vila. Durante o período colonial, na chamada Missão dos Bocas, dois irmãos portugueses se estabeleceram: o primeiro, Manoel Maria Fernandes Breves, era solteiro e o segundo, Ângelo Fernandes Breves, era casado com Inês de Souza. Com a instalação de toda a família na região, o capitão-geral João de Abreu Castelo Branco, em 19 de novembro de 1738, concedeu a Manoel uma sesmaria, que foi confirmada pelo Rei de Portugal, em 30 de março de 1740. No local de suas terras, Manoel construiu um engenho que denominou Santana, além de fazer, também, plantação de roças, ficando o sítio conhecido como “Lugar dos Breves”. Depois de instalada, em 1738, a família dos irmãos Breves, no furo Pararau, outros parentes se juntaram, dando ao local tal desenvolvimento que, 1781, Manoel Maria Fernandes Breves e outras famílias requereram ao capitão- general José de Nápoles Tello de Menezes que concedesse ao sítio o procedimento de lugar, que através de uma portaria de 20 de outubro daquele ano, passou a chamar-se de Santana dos Breves, incluindo, também, terras de Melgaço. Com o falecimento dos irmãos, Saturnina Teresa ficou como única proprietária, em 1854, da antiga sesmaria dos Breves e, ao tentar reivindicar seu patrimônio, nada conseguiu. Esta última representante da família era analfabeta e, segundo Palma Muniz, nada se conseguiu obter do destino e do nome dos seus sucessores. Até a Lei nº 172, de 30 de novembro de 1850, que lhe conferiu a categoria de Freguesia, com nome de Nossa Senhora Santana de Breves, o lugar pertenceu, sucessivamente, a Melgaço e a Portel. Pela resolução nº 200, de 25 de Outubro de 1851, foi elevado à categoria de Vila e, portanto, criado o município, ao qual ficou anexado o território da vila de Melgaço, que perdeu sua autonomia pelo ato. Apesar de a Resolução ter extinguido o município de Melgaço e criado a Vila dos Breves, de fato, não ocorreu a extinção do citado município, pois o ofício da presidência 19 O histórico consta do livro Vocabulário terminológico cultural da Amazônia Paraense de Odaísa Oliveira. Volume IV, 2010 e complementado pelo Documento da Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Finanças do Estado do Pará intitulado de Estatística Municipal de Breves. 57 da Província, de 24 de março de 1852, apenas transferiu a Câmara de Melgaço para a nova Vila, ficando a sede municipal, de direito, em Breves, a de fato, em Melgaço. O crescente e acentuado desenvolvimento do rio Anajás e sua região fez com que, em 1869, pela Lei nº 596, de 30 de setembro, fosse criada a freguesia de Menino Deus do Anajás, tendo sido complementada com a Lei nº 637, de 19 de outubro de 1870, que estabeleceu a incorporação ao município de Breves de todo o território dessa freguesia que, anteriormente, pertencia a Chaves. A delimitação do município foi estabelecida no governo de Augusto Montenegro, pelo decreto nº 1.201, de 18 de outubro de mesmo ano. No período de 1903-1906 o Conselho Municipal de Breves, através da Lei Municipal nº 190, de 22 de dezembro de 1905, autorizou o intendente municipal, coronel Lourenço de Mattos Borges, a mudar a sede do município para outro local. O povoado escolhido obteve a categoria de vila com a denominação de Antônio Lemos, pela Lei nº 989, de 31de outubro de 1906, e pelos decretos 1.508 e 1.509, de 4 de maio de 1907, foram transferidas para lá a sede do município e da Comarca de Breves, que foram instaladas, em 13 de maio do mesmo ano. Com a lei nº 1.122, de 10 de novembro de 1909, Antônio Lemos teve o predicamento de cidade e foi instalada a 17 de dezembro do mesmo ano, não conseguindo, entretanto, conserva-se sede do município, pois a Lei Municipal nº 240, de 18 de março de 1912, extinguiu a Cidade de Antônio Lemos, rebaixando-a para vila e transferiu a sede do município para Breves. O Decreto nº 6 de 4 de novembro de 1930, manteve o município de Breves, anexada a vila de Antônio Lemos e a Curralinho o território do extinto município de Melgaço. Desde a década de 50, o município é constituído por quatro distritos: Breves, Antônio Lemos, Curumu e São Miguel dos Macacos. A denominação vem do sobrenome dos irmãos portugueses Manoel e Ângelo Fernandes Breves. A cidade de Breves obteve esta categoria pela Lei nº 1.079, de 2 de novembro de 1882. A história dos municípios estudados seguiu movimentos semelhantes em termos da instalação de estrangeiros que chegaram à região, e obtiveram concessão de terras, a despeito da existência de moradores nativos. Também indica anexações, desmembramento e extinção de áreas em ambos os municípios, embora não se 58 tenha consultado registros que informem sobre o motivo da extensão do município de Breves. O município de Breves, pertencente à mesorregião do Marajó e a microrregião dos Furos de Breves, possui uma população de aproximadamente 93 mil habitantes. A sede municipal tem as seguintes coordenadas geográficas: 01º 40‟ 57” de latitude Sul e 50º 28‟ 48” de longitude a Oeste de Greenwich. O município foi escolhido para ser pesquisado por ser o maior em termos populacionais, e o principal município da Ilha em termos econômicos. A figura 2, a seguir, mostra a extensão territorial do município de Breves demonstrando que o município é cortado por vários rios, sendo esta uma das principais dificuldades enfrentadas pelo Poder Público para o enfrentamento da violência sexual, pois requer recursos para esse deslocamento e o Poder Público e o Sistema de Garantia dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes não dispõem de lanchas velozes nem de pessoal para essas ações. Figura 2 – Extensão territorial do município de Breves. Fonte: Google maps A tabela 1, abaixo mostra, os dados de 2010, acerca da população, da extensão territorial, da densidade demográfica e do IDH, do município de Breves. 59 Tabela 1: Município, população, extensão territorial, densidade demográfica e IDH do Município de Breves – Ilha de Marajó – 2010 Município População Extensão Territorial Km² Densidade Demográfica IDH Breves 92.860 9.550,513 9,72 0,63 PNUD/2000 Total Marajó 487.161 104.606 4,66 7.581.051 1.247.954,666 6,07 Total Pará Fonte: IBGE/2010 O município de Cachoeira do Arari faz parte da Mesorregião dos Campos do Marajó e pertence à Microrregião do Arari. O município possui uma área de 3.100,261 km² e conta com uma população de 20.443 habitantes, segundo o Censo realizado pelo IBGE em 2010. Como principais localidades destacam-se no município os distritos de Retiro Grande, Camará e Caracará. A sede do município está situada à margem esquerda do rio Arari, assentada numa extensa enseada, em terreno plano e enxuto no verão, porém com alagamentos das áreas periféricas nos períodos de inverno. A sede do município está situada à margem esquerda do rio Arari, assentada numa extensa enseada, em terreno plano e enxuto no verão, porém com alagamentos das áreas periféricas nos períodos de inverno. Suas coordenadas geográficas são as seguintes: 1º 00’ 36” de latitude sul, e 48º57’56” de longitude, a Oeste de Greenwich, conforme a figura 3, abaixo. 60 Figura 3: Localização do município de Cachoeira do Arari na Ilha de Marajó. Fonte: Google Maps O município possui total de 4.773 contruções entre moradias e prédios públicos. No centro da cidade, predominam as construções de madeira, cobertas com telhas de cerâmica ou fibrocimento. Nas áreas periféricas destacam-se as construções de madeira cobertas de telha de fibrocimento ou palha. Com uma paisagem formada quase que totalmente por campos naturais – vegetação rasteira que se espalha por quase todo o seu território – Cachoeira do Arari impressiona pela variedade de atrativos naturais. A malha urbana da cidade obedece a um traçado xadrez20, com ruas largas, sendo que na zona central, avenidas e ruas são pavimentadas de cimento, asfalto ou blokets, conforme a Figura 4: 20 ROQUE, Carlos. História dos municípios, 1996. 61 Figura 4- Centro urbano de Cachoeira do Arari Fonte: Google maps A cidade possui uma razoável infraestrutura, dispondo de energia elétrica e água encanada. A coleta de resíduos sólidos domiciliar é efetuada diariamente, havendo também a limpeza, varrição e capinação das principais vias públicas. O município se insere num painel onde a densidade populacional é pouco expressiva, concentrada em áreas ribeirinhas, litorânea, em função do principal meio de transporte existente: o fluvial. Os dados de 2010, onde consta população, extensão territorial, de densidade demográfica e do IDH do município de Cachoeira do Arari, estão na tabela 2, abaixo. Tabela 2: Município, população, extensão territorial, densidade demográfica e IDH do Município de Cachoeira do Arari – Ilha de Marajó – 2010 Município População Extensão Territorial Km² Densidade Demográfica IDH Cachoeira do Arari 20.443 3.100,261 6,59 0,68 PNUD/2000 Total Marajó 487.161 104.606 4,66 7.581.051 1.247.954,666 6,07 Total Pará Fonte: IBGE/2010 62 Nota-se que os municípios apresentam disparidade em termos populacionais e área territorial, mas comparado o IDH (ambos considerados médios), a diferença é de menos 5 pontos para o município de Breves, que apresenta maior área e maior população, características que poderiam representar maiores possibilidades e melhor condição de vida para a população, se o município oferecesse mais oportunidades de trabalho e renda para a população residente. A tabela 3, abaixo, mostra a participação da população na economia do município no ano de 2000, mesmo ano do IDH registrado, onde se constata que a população ocupada constituía o total de 22.748 pessoas para um total de 54.099 que representava a população residente de 10 anos ou mais. Tabela 3 - Indicadores de População de 10 ou mais de idade, economicamente ativa e ocupada 2000* Indicadores Totais População Residente de 10 anos ou mais 54.099 População Economicamente Ativa – 25.806 PEA População Ocupada – POC 22.748 Taxa de Atividade 47,70 11,85 Taxa de Desocupação Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 Elaboração: Idesp/Sepof *Mesmo ano do IDH registrado na Tabela 2. Sabemos que os registros acima apresentam dados muito antigos, mas as limitações das condições de vida da população de Breves continuam e, no contexto atual, podem estar relacionadas à economia do município, a qual é baseada no extrativismo, principalmente na exploração de madeira, açaí, palmito e carvão. Com o fechamento de inúmeras madeireiras, inclusive as estrangeiras que trabalhavam de forma ilegal, o município atravessa uma crise econômica com um número muito grande de desempregados. Esta crise no setor madeireiro atingiu principalmente as áreas ribeirinhas ocasionando uma migração descontrolada para o meio urbano. A desqualificação profissional dos brevenses é um ponto frágil e faz com que procurem meios para sobreviverem, pois pertencem a um grupo que está à margem do mercado de trabalho devido não possuírem qualificação, sendo este um dos fatores que leva a ingressarem no mundo da criminalidade, usando e vendendo drogas e praticando atos violentos contra mulheres, crianças e adolescentes. Conforme a Secretária Municipal de Trabalho e Assistência Social: 63 Dentro do CRAS nós optamos em fazer a profissionalização das pessoas, em dois anos nós ofertamos inúmeros cursos que dantes não eram oferecidos, pois só o que era oferecido era um curso de pintura em tecido, reciclagem de papel, corte e costura, crochê, ponto cruz, não desmerecendo essas práticas, mas eu nunca vi ninguém sair da pobreza fazendo cestaria de jornal, sair da pobreza e da miséria fazendo crochê. Logo conversamos com o Prefeito, e vimos qual é a nossa maior fonte de economia é construção civil. Então decidimos em qualificar as pessoas para poder competirem no mercado de trabalho e assim começamos a investir nos cursos de qualificação profissional como: encanador, pedreiro, balconista, hotelaria, garçom, carpinteiro, ferreiro e assim fomos buscando algumas parcerias, ai agora conseguir fazer a adesão do Município no PRONATEC que vem trazer curso de hospedagem e camareira para a área do turismo. Fizemos a parceria com o governo do estado com oficinas de mecânica marítima, curso de cozinha, assim passamos a investir nos cursos de qualificação e não em cursos que não tiram ninguém da miséria. (ENTREVISTADA 1). Observa-se que a Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social passou a proporcionar cursos de qualificação profissional objetivando que esses migrantes conseguissem a inserção no mercado de trabalho, e assim não fossem absorvidos pela criminalidade. No município de Cachoeira do Arari a economia também tem como base as atividades do Setor Primário, com uma estrutura produtiva caracterizada pela produção de agropecuária, pesca e de subsistência. Um dos grandes problemas que a região tem enfrentado é a carência de infraestrutura de apoio à produção agrícola, no que se refere à falta de um sistema de armazenagem da produção, estradas dentro do próprio território municipal, transportes, crédito rural, política de preços mínimos satisfatórios, entre outros, que afetam diretamente o sistema produtivo e o abastecimento. A maior parte do território Cachoeirense constitui-se de várzeas e campos. Aliado ao clima tropical, essas duas condições básicas permitem que a agropecuária tenha uma importância fundamental na economia da região. A atual administração da Secretaria de Agricultura do município não dispõe de pessoal necessário para avaliar e promover um trabalho sistemático junto aos produtores rurais. Contudo, tem possibilitado a aquisição de pequenas máquinas e equipamentos para um número muito reduzido de propriedades. A EMATER possui um escritório no município, o qual enfrenta também sérios problemas para praticar os objetivos maiores da instituição, pois não dispõe de técnicos suficientes para atender a demanda do município. Uma das alternativas que podem incrementar o volume de produção da estrutura produtiva do setor primário é a viabilização de produtos que se adaptem 64 perfeitamente ao tipo de solo da região, porém é necessário um estudo do solo para saber que tipo de agricultura é mais propícia para o desenvolvimento local. Na produção pecuária, o destaque é para a produção do rebanho bubalino, pelo fato de que o búfalo se adapta melhor ao tipo de solo caracterizado pelo território do município. A produção dos subprodutos da pecuária é pequena e artesanal. A maior parte é consumida no mercado interno municipal. O leite, de excelente qualidade, é o produto de maior destaque. O queijo feito de leite de búfala, além de oferecer uma infinidade de proteínas, tem um sabor muito apreciado. A produção de equinos, caprinos, muares, asininos também é significativa, porém em menor escala. O potencial para o desenvolvimento da pecuária, no município é muito expressiva, não só pela extensão territorial, mas também pela qualidade dos solos que produzem ração de boa qualidade para a maioria dos rebanhos existentes. Os produtos mais importantes do extrativismo vegetal são a madeira em tora e o açaí. Atualmente o plantio de arroz em larga escala está sendo desenvolvido na Fazenda Espírito Santo. A produção de madeira é, em sua maioria, voltada para construção civil, por se tratar de um produto de excelente qualidade no mercado. A Secretaria de Agricultura do município e a EMATER desenvolvem uma série de programas voltados para o esclarecimento dos produtores desse segmento, quanto ao manejo correto desse setor. A fiscalização, no entanto, é totalmente prejudicada pela falta de recursos, principalmente humanos, e pela grande extensão territorial. A maior parte da produção de açaí é consumida pela população local, por se tratar de um alimento barato e que complementa e/ou substitui as principais refeições, sendo o excedente de produção exportado para os municípios vizinhos. A produção de pescado poderia ser significativa dada à potencialidade hidrográfica da região onde está inserido o município e sua proximidade com a Baia do Marajó e o oceano Atlântico. Entretanto, a falta de meios de armazenamento ainda é um fator que compromete bastante a produtividade. O maior problema do setor pesqueiro é a pesca de rede, que é extremamente nociva para a natureza e para a sobrevivência dos pescadores Cachoeirenses. Esse sistema que é utilizado pela maioria dos pescadores das outras 65 regiões mais próximas, requer o uso de redes muito finas, capturando todo tipo de pescado, e na seleção dos melhores, muitos acabam sendo descartados e consequentemente, uma quantidade enorme de peixes, ainda em formação é desperdiçada, prejudicando significativamente o desenvolvimento das várias espécies, sendo muito difícil a fiscalização em virtude da imensa extensão territorial. Existem duas colônias de pescadores no município, a Z-40 (Em Aranai) e a Z- 26, localizada na sede do município. A cidade é abastecida pela venda informal de peixes, que variam de tamanho e quantidade, de acordo com a época de verão ou inverno, o que periodicamente aumenta o número de casos de trabalho infantil, pois no município de Cachoeira do Arari é “cultural” os pescadores mandarem seus filhos venderem o pescado nas ruas em cambadas enfiadas em varas. O comércio é uma das atividades que se apresenta como opção de sustento para muitas famílias, concentrando o abastecimento do município. Conta com diversos estabelecimentos de venda no varejo, os quais empregam de um a dois funcionários. Entretanto, os principais empregadores do município são a Prefeitura Municipal e o Estado, através de seus Órgãos Públicos. Com uma área de mais de três mil quilômetros quadrados e uma população de quase 21 mil habitantes, o município reúne parte da história, da cultura, das crenças, do artesanato e da culinária marajoara, mostradas em museu, livros e no dia-a-dia do caboclo cachoeirense. Um fato considerado como ponto de estrangulamento do progresso da economia local é a falta de uma agência bancária. Segundo a comunidade local, grandes empresários deixam de investir no município em função dessa ausência. O conjunto desses fatores negativos que promovem a ineficiência da infraestrutura econômica tem gerado um processo de comercialização em que os produtores rurais ficam submetidos à exploração dos intermediários, sem que tenham alternativas para eliminar essa submissão, perpetuando-se a pobreza no campo. Em relação ao saneamento, ambos os municípios apresentam condições precárias. No município de Cachoeira do Arari não existe sistema de esgotos sanitários; a disposição dos dejetos é feita através de soluções individuais com a utilização de fossas negras e sépticas. Em muitos casos, as instalações sanitárias domiciliares constituem-se de valas a céu aberto, de igarapés ou de outros escoadouros mais precários, acarretando a formação de focos de transmissão de doenças. Também inexiste sistema de drenagem de águas pluviais, a não ser valas 66 superficiais e canais naturais, insuficientes para o escoamento do volume d’água. As águas são filtradas pelo leito das ruas ou escoam para áreas mais baixas da cidade até desaguarem no rio Arari. O quadro de deficiência do sistema de saneamento básico prevalecente no município, concorre significativamente para o agravamento dos níveis de morbimortalidade infantil, decorrentes de doenças de veiculação hídrica e de parasitoses em geral, afetando, sobretudo, a população infantil. No que concerne à coleta de resíduos sólidos, existe um serviço precário de recolhimento domiciliar feito diariamente. Estes resíduos são coletado nas áreas centrais através de uma carroça puxada por um micro-trator ou por caçamba, e depositado a céu aberto, em local distante menos de 5 quilômetros do centro da cidade. O município de Breves também não dispõe de um saneamento de qualidade, principalmente para as áreas periféricas. De acordo com Silva (2011), segundo a distribuição percentual dos domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e tipo de esgotamento em Breves, no ano de 2000, indicavam que o tipo de esgotamento sanitário na área urbana representava 0,2% em rede geral; 6,6% em fossa séptica e 88,9% em fossa rudimentar, vala, rio, lago ou mar e/ou outro escoadouro. O mesmo ocorre quanto ao abastecimento de água. Em Cachoeira do Arari e Breves, o sistema existente é gerenciado pela concessionária COSANPA, mas se mostra pouco eficiente. Em Breves, a água que a população consome tem ocasionando inúmeros casos de infecções. De acordo com Pochmann et al (2005, apud SILVA, 2011, p. 98 ): O escoamento sanitário rudimentar afeta diretamente o abastecimento de água que o domicílio está sujeito, os padrões mínimos de potabilidade e qualidade não são alcançados e as condições de higiene pessoal, limpeza da residência, uso industrial, carreamento de resíduos líquidos e excrementos são afetadas. Quanto ao destino do lixo, a autora informa que em Breves na área urbana, mais 40% dos domicílios urbanos queimam, enterram ou simplesmente jogam seus resíduos em escoadouros, mostrando o total descaso com o tratamento adequado do lixo. 67 Outro ponto em questão diz respeito à mobilidade da população em termos de transporte. Em Cachoeira do Arari acarreta uma preocupação premente de como melhor aproveitar as áreas de várzea. Pois, o município é recortado por uma quantidade expressiva de lagos e de pântanos no inverno e seca no verão que, apesar de proporcionar uma paisagem espetacular e garantir uma produção de pescado de boa qualidade, também promove, por outro lado, uma dificuldade grande quanto ao deslocamento do contingente populacional que vive distante da sede municipal. Em Breves, o sistema também é precário e não atende às necessidades da população. O Sistema de Saúde em ambos os municípios funciona com sérias limitações. No município de Breves a população dispõe de 1(um) Hospital Municipal com 80 (oitenta) leitos, ambulatório, e 1 (um) CAPS, além de 7 (sete) postos de saúde da família na zona urbana e 19 (dezenove) postos de saúde da família na zona rural, o que não atende às necessidades locais, tanto pela demanda populacional, atingida por vários tipos de doenças que decorrem das próprias condições estruturais do município, quanto pela precariedade dos serviços. A Secretaria Municipal de Saúde não desenvolve programas próprios municipais voltados para crianças e adolescentes. Esta instituição trabalha com os Programas do Ministério da Saúde tais como: Programa saúde da criança, Programa Saúde do Adolescente e PROAME. Também não desenvolve nenhuma política pública para o enfrentamento da violência sexual, apenas faz parcerias com os programas nacionais e, a partir do que preconizam, efetuam ações no município. Em Cachoeira do Arari a população conta com os serviços prestados pela Unidade Básica de Saúde de Cachoeira, dirigida pelo município e funcionando 24 horas. Esta unidade oferece à população serviços de atendimento médico/odontológico/ambulatorial e obstetrícia, com 17 leitos de internação. A área hospitalar cobre cerca de 95% da população, é composta por 1 médico; 2 enfermeiros; 1 odontólogo; 1 farmacêutico/bioquímico, 1 assistente social, 2 técnicos de laboratório,1 atendente de consultório dentário, 4 técnicos de enfermagem e 4 auxiliares de enfermagem. O município conta ainda com 11 Postos de Saúde na zona rural, disponibilizando serviços de Pronto Atendimento. Nesse segmento, são desenvolvidos os seguintes Programas: • Controle e Tratamento de Malária; • Atenção Integral à Saúde da Mulher e da Criança; 68 • Planejamento Familiar; • Relações Básicas de Vigilância, com vistas a estabelecimentos comerciais, creches, hospitais, matadouros, restaurantes, etc. As principais doenças incidentes no município estão relacionadas às precárias condições socioeconômicas das populações menos favorecidas, aliadas à carência de saneamento básico são as seguintes: malária, hepatite, leishmaniose, doenças diarreicas infecciosas e parasitárias, infecções respiratórias, dentre outras. A maior causa da mortalidade materno-infantil está relacionada com a desnutrição proteico-calórica e anemias nutricionais, que provocam doenças intestinais. Outro aspecto que merece destaque em ambos os municípios é a Educação. Em Cachoeira do Arari existem 45 (quarenta e cinco) escolas na rede municipal sendo 01 (uma) de Ensino Infantil, 01 (uma) de Ensino Fundamental, 43 (quarenta e três) de Ensino Infantil e Ensino Fundamental, estando 03 (três) localizadas na Zona Urbana e 42 (quarenta e duas) na Zona Rural. A Rede Estadual dispõem de 03 (três) escolas de ensino fundamental e 02 (duas) escolas de ensino fundamental e médio, distribuídas entre a Zona Urbana a Zona Rural. O Ensino Superior é ofertado através do convênio realizado entre o Município e a CAPES, que oferece cursos de licenciaturas através da Universidade Aberta do Brasil. Atualmente no Polo Universitário de Apoio Presencial “Dalcídio Jurandir” estão ativos os cursos de Licenciatura em Letras com 45 (quarenta e cinco) alunos e Matemática, com 27 (vinte sete), ambos os cursos ofertados pela UEPA. A Rede Municipal de Ensino de Breves possui um total de 310 escolas, sendo 27 na zona urbana e 283 na zona rural, ofertando Ensino Infantil, Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos, e 3 escolas oferecendo Ensino Médio. Conforme dados do censo escolar de 2012, as escolas municipais têm 35.083 alunos distribuídos em Educação infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos e a Rede Estadual tem 3.401 alunos no Ensino Médio. O município possui ainda um Campus da UFPA, além de outras Instituições privadas no oferecimento do Ensino Superior. 4.2 O PODER PÚBLICO DOS MUNICÍPIOS E O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL Conforme a Comissão de Justiça e Paz da CNBB, diante do índice alarmante de violação de direito de criança e adolescente, nos municípios marajoaras, 69 foi solicitada a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar os casos de violência sexual no Estado do Pará, ocasião em que foi compreendida a extensão do problema e também foi esclarecido que a maioria dos envolvidos são pessoas influentes das localidades, que se prevalecem da ignorância das famílias pobres para aliciar crianças e adolescentes destas famílias, inserindo-os nas redes de exploração sexual. Os dados levantados para esta análise apresentam-se, alternadamente, entre os municípios de Cachoeira do Arari e Breves, mostram os casos de violência cometida contra crianças e adolescentes e de violência sexual, apresentando as particularidades dos referidos municípios. Em Cachoeira do Arari, segundo dados do Conselho Tutelar, os casos de violência contra crianças e adolescentes nos últimos quatro anos apresentam uma dinâmica bem diversificada conforme o gráfico1, a seguir: Gráfico 1- Casos de violência contra criança e adolescente no município de Cachoeira do Arari. 2009-2012 140 120 100 80 violência contra criança e adolescente 60 40 20 0 2009 2010 2011 2012 Fonte: Conselho Tutelar No município de Breves os casos de violência cometidos contra crianças e adolescentes registrados no Conselho Tutelar, indicam um número elevado, o que torna difícil a atuação efetiva do Conselho Tutelar com um quadro funcional incompleto. O Conselho Tutelar de Breves possui 02 (dois) conselheiros, sendo que o normal seria 05 (cinco) conselheiros. Esse quadro reduzido justifica-se devido o mandato dos conselheiros ter terminado. Assim, para não parar de funcionar, os dois 70 conselheiros atuam de forma voluntária até a nova eleição e posse dos novos conselheiros tutelares. Gráfico 2- Casos de violência contra crianças e adolescentes no município de Breves. 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Violência contra criança e adolescente 2009 2010 2011 2012 Fonte: Conselho Tutelar de Breves Os municípios mostraram uma dinâmica diferente em relação à violência cometida contra as crianças e os adolescentes. Enquanto em Cachoeira do Arari percebe-se o aumento dos casos no ano de 2010 e 2011 e este último já apontando uma queda. No município de Breves o ápice foi nos anos de 2009 e 2012. Indicando que a violência diminuiu no primeiro município, enquanto no segundo, está aumentando. Em 2010 e 2011 ocorreu uma diminuição considerável dos casos no município de Breves, isso se justifica pelo trabalho desenvolvido pela rede de proteção junto à comunidade com palestras nas escolas e nos centros comunitários, ações de prevenção desenvolvidas também na zona rural. Porém, em 2012, ocorreu outro aumento, registrando 178 (cento e oitenta e oito) casos de violência contra crianças e adolescentes. Na opinião do Promotor de Justiça este fato. É decorrente de uma série de fatores tanto do ponto de vista social como do ponto de vista governamental. Do ponto de vista social observamos a desagregação familiar uma das raízes da criminalidade e da violência nasce principalmente no seio das famílias, pois existem famílias desestruturadas e aquelas que ainda nem se estruturaram, além de uma grande incidência de mães, mulheres que criam seus filhos sozinhas devido seus companheiros não assumirem suas responsabilidades para sustentarem seus filhos e ministrarem 71 educação, saúde fazendo com que esses menores passem boa parte do tempo fora do ambiente escolar ficando ociosas nas ruas logo sendo aliciadas pela criminalidade passando a tornarem-se menores infratores e a praticarem atos delituosos e consequentemente criminosas. Do ponto de vista Governamental parte-se do princípio de ausência de políticas públicas ou politicas públicas bastante descontinuadas no sentido de você propiciar para a infância e adolescência mecanismos de suporte educacional, de suporte cultural e de esporte. (ENTREVISTADO 4). Em termos de violência sexual, a tabela 4, abaixo, apresenta o número de casos em Cachoeira do Arari e Breves. Tabela 4- Número de casos de violência sexual cometidos contra crianças e adolescentes- 2009-2012 Violência Total em Cachoeira do Arari Total em Breves sexual/ Anos 2009 57 90 2010 127 24 2011 96 14 2012 45 47 TOTAL 325 175 Fonte: Pesquisa de Campo/2012 (Conselho Tutelar dos municípios) Nota-se que, a despeito de ter uma população muito menor do que o município de Breves, o número de casos de violência sexual ocorridos no município de Cachoeira do Arari, quase alcança o dobro do número de casos ocorridos naquele município, mostrando a gravidade do problema neste município, apesar da queda que vem apresentando em relação ao número de casos, enquanto Breves apresenta crescimento. Verifica-se que o ano de 2010, Cachoeira do Arari se destacou na série temporal, quando apresentou um elevado índice de violência com 127 casos. No ano anterior registrou menos de 50% dos casos denunciados em 2010, com 57 casos; o ano de 2011 também registrou uma queda em relação a 2010, com 96 casos, e 2012 caiu para 45 casos, demonstrando que o índice nos dois últimos anos apresentou uma considerável redução. De acordo com o Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, o que causou essa redução foram as constantes palestras nas escolas, 72 tanto da zona urbana como da zona rural; as campanhas de prevenção desenvolvidas no município; os trabalhos noturnos nas praças e festas e as visitas domiciliares. Outro ponto de muita relevância é a parceria entre o Conselho Tutelar, Policias Militar e Civil e o Ministério Público, que estão constantemente reunidos para desenvolverem ações para enfrentamento da violência. Isso mostra que o sistema de garantias no município está funcionando de forma harmônica. Em relação ao sexo das vítimas de violência sexual no município de Cachoeira do Arari, o Conselho Tutelar registrou um número muito elevado de casos de violência sexual vitimizando crianças e adolescente na faixa etária de 01 (um) a 15 (quinze) anos, com maior incidência nas crianças e adolescentes do sexo feminino. Gráfico 3: Casos de violência sexual relacionados ao sexo da vítima. 140 120 100 80 Violência Sexual 60 feminino masculino 40 20 0 2009 2010 2011 2012 Fonte: Conselho Tutelar De acordo com o gráfico 3, o ano de 2009 apresentou um elevado número de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes sendo um total de 57 casos. Destes, 05 (cinco) foram cometidos contra criança ou adolescente do sexo masculino e 52 (cinquenta e dois) foram cometidos contra criança ou adolescente do sexo feminino. Em 2010 foram 127 (cento e vinte e sete) casos, todos contra criança ou adolescente do sexo feminino. Em 2011 foram registrados 96 (noventa e seis) casos, sendo 2 (dois) vitimizando criança ou adolescente do sexo masculino e 94 (noventa e quatro) vitimizando criança ou adolescente do sexo feminino. E, em 2012 foram registrados no Conselho Tutelar 45 (quarenta e cinco) casos, sendo 44 73 (quarenta e quatro) contra criança ou adolescente do sexo feminino e 01 (um) do sexo masculino. Em Breves a maior incidência dos casos de violência cometidos é contra crianças ou adolescentes do sexo feminino. Em 2009, dos 90 (noventa) casos, 63 (sessenta e três) atingiram o sexo feminino, e 27 (vinte e sete) o sexo masculino; no ano de 2010 foram 3 (três) vítimas do sexo masculino e 21 (vinte e um) do sexo feminino, totalizando 24 (vinte e quatro) casos; em 2011 dos 14 (quatorze) casos 1 (um) foi contra o sexo masculino e 13 contra (treze) o sexo feminino e, em 2012, dos 47 (quarenta e sete) casos 6 (seis) foram vitimizados crianças ou adolescente do sexo masculino e 41 (quarenta e um) do sexo feminino, isto mostra que a cobiça é muito maior pelas crianças ou adolescentes do sexo feminino. O gráfico 4 destaca essa problemática. Gráfico 4: Casos de violência sexual conforme o sexo das vítimas do Município de Breves. 70 60 50 40 Gênero Masculino 30 Gênero Feminino 20 10 0 2009 2010 2011 2012 Fonte: Conselho Tutelar de Breves Em ambos os municípios a preferência pelo sexo feminino se ressalta, quando de trata da violência sexual, isso demonstra que as crianças ou adolescentes do sexo feminino encontram-se mais vulneráveis à violência sexual, o que pode estar ligado a questão da sexualidade ou dá própria subsistência das famílias, pois segundo o depoimento de uma técnica do Conselho Tutelar, as famílias são, em sua maioria, as grandes responsáveis pela proliferação das redes de exploração sexual no arquipélago do Marajó 74 No que diz respeito à faixa etária das vítimas, o município de Cachoeira do Arari registrou, no ano de 2009, o maior número de vítimas na faixa etária de 06 (seis) a 09 (nove) anos de idade. Em 2010, as vítimas estavam entre 06 (seis) a 09 (nove) anos e de 09 (nove) até 12 (doze) anos. Enquanto em 2011 a faixa etária estava entre de 06 (seis) a 09 anos de idade. E, em 2012, a faixa etária que se destacou foi de 09 (nove) até 12 anos e de 12 (doze) até 15 anos. Gráfico 5: Casos de violência sexual conforme a faixa etária das vítimas. 40 35 30 1 até 3 anos 25 3 até 6 anos 20 6 ate 9 anos 9 até 12 anos 15 12 até 15 anos 10 maior de 15 anos 5 0 2009 2010 2011 2012 Fonte: Conselho Tutelar de Breves Em Breves, dos 90 (noventa) casos de violência sexual que vitimizaram crianças ou adolescentes em 2009, ressalta-se o total de 40 (quarenta) casos que vitimaram crianças na faixa etária de 03 (três) até 06 (seis) anos; seguido de 25 (vinte e cinco) na faixa etária de 06 (seis) até 09 (nove) anos; 23 (vinte e três) na faixa etária de 09 (nove) até 12 (doze) anos; 02 (dois) correspondem à faixa etária de 01 (um) até 03 (três) anos. No ano de 2010, dos 24 (vinte e quatro) casos registrados, metade (12) (doze) casos correspondem às vítimas na faixa etária de 06 (seis) até 09 (nove) anos; 05 (cinco) casos na faixa etária de 09 (nove) até 12 (doze) anos; 04 (quatro) casos na faixa etária de 12 (doze) até 15 (quinze) anos e 03 (três) casos estavam na faixa etária de 03 (três) até 06 (seis) anos. Em 2011 foram 07 (sete) casos na faixa etária de 09 (nove) até 12 (doze) anos; 4 (quatro) casos na faixa etária de 12 (doze) até 15 75 (quinze) anos e 03 (três) casos na faixa etária de 03 (três) até 06 (seis) anos, totalizando 14 (quatorze) casos de violência sexual contra crianças ou adolescentes. E, no ano de 2012, ocorreu novamente um acelerado aumento nos casos de violência sexual vitimando criança ou adolescente. De um total de 47 (quarenta e sete) casos, sendo 19 (dezenove) na faixa etária de 09 (nove) até 12 (doze) anos; 11 (onze) casos na faixa etária de 12 (doze) até 15 (quinze) anos; 09 (nove) casos na faixa etária maior de 15 (quinze) anos; 07 (sete) casos na faixa etária de 06 (seis) até 09 (nove) anos e 01 (um) caso na faixa etária de 03 (três) até 06 (seis) anos. Assim, verificamos que a violência sexual atinge todas as faixas etárias independentemente do sexo do vitimado. Na maioria dos casos as vítimas pertencem a famílias com até dez membros e são muito pobres, chegando abaixo da linha da pobreza, sendo que a maioria tem como única fonte de renda os benefícios dos Programas Sociais como o Bolsa Família. Além disso, são pessoas com baixo grau de escolaridade ou até mesmo analfabetas. No que se refere à relação da temática estudada (violência sexual) com o poder público dos municípios, a Secretaria Municipal de Educação de Cachoeira do Arari informou que não possuindo nenhuma política pública para enfrentamento da violência sexual, apesar de ter identificado casos de aliciamento de criança e adolescente, não possui nenhum recurso para combater o problema. Isto demonstra a fragilidade da rede municipal de educação, que não dispõe de nenhum programa e nem projeto para enfrentamento da violência sexual o que, conforme a secretária municipal de educação fica a cargo da secretaria municipal de assistência social. Porém, foi informado o número de casos de violência sexual que foram notificados na SEMED, mostrados no gráfico 6 abaixo. 76 Gráfico 6: Número de casos de violência sexual notificados na SEMED. 7 6 5 Casos de violência sexual notificados na SEMED 4 3 2 1 0 2009 2010 2011 2012 Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Cachoeira do Arari Conforme a secretaria municipal de educação, todos foram notificados e, em nenhum deles ocorreu conjunção carnal. Foi apenas aliciamento, sendo que os vitimizadores, na maioria das notificações, foram suspensos de suas atividades e, posterior a apuração dos fatos, voltaram a desempenhar suas funções normalmente. Outros tiveram os processos administrativos arquivados, devido à falta de provas suficientes para conclusão do processo. A Secretaria Municipal de Educação não dispõe, em seu corpo funcional, de profissionais especializados para atender os vitimados de violência sexual, possui apenas 06 (seis) pedagogos e, quando acontece casos de violência sexual, estes são encaminhados imediatamente para o Conselho Tutelar, e a Secretaria de Educação apenas acompanha a averiguação dos fatos. A Secretária Municipal de Educação do município de Breves reconhece a problemática da violência sexual, e afirma que já foram identificados vários casos desse tipo de violência contra crianças e adolescentes, em sua maioria em escolas do meio rural: Já identificamos alguns casos e diante desses casos a SEMED no ano de 2011 uma pessoa foi inclusive presa por praticar abuso contra adolescente em uma escola do meio rural. Ouve uma denúncia, ou melhor, um apelo de uma adolescente que em uma reunião aqui na SEMED, ela veio junto com a comunidade para reivindicar transporte escolar, melhorias nas escolas, no momento em que os líderes da comunidade estavam em reunião com o secretário, essa adolescente no cantinho murmurou algo no ouvido de uma das coordenadoras pedagógicas, ai inquieta com a situação nos comunicou e fomos investigar se realmente era verdade, ai se confirmou que uma pessoa que trabalhava na própria escola estava abusando sexualmente de algumas 77 meninas, mas o que se comprovou realmente foi o de uma única menina que ainda está rolando na justiça. O que temos comprovadamente nesses três anos, que foram levados ao Ministério Público nós temos 02 (dois) casos de violência sexual, mas existem aqueles que não chegam ao M.P, ou seja, aqueles que se desconfia que estar tendo porém não se consegue comprovar (provar), isto é, não consegue ter elementos mais palpáveis para poder fazer a denúncia, como exemplo uma diretora escolar chegou comigo que desconfiava que uma aluna estava sendo abusada, então o que fazer? se é só uma desconfiança, isso tudo se deu a partir de uma redação que a professora pediu a turma, aí essa menina expressou algo referente a abuso. Então pedi à diretora que de posse dessa redação fosse ao CMDCA, CT que a partir daí saberia quais seriam os encaminhamentos para que se comprovasse o que a menina expressava na redação naquele momento. Outra situação é que as próprias vítimas sentem muito medo de dizer o que está acontecendo. (ENTREVISTADA Nº 2) Desta maneira, os casos de violência sexual cometida contra crianças e adolescentes acontecem, porém muitos não chegam ao conhecimento das autoridades para que sejam tomadas as providências necessárias, ou seja, a materialidade do crime na maioria dos casos não existe, o que dificulta a denúncia e assim a justiça não consegue prosseguir com os processos. A maioria das crianças e adolescentes vitimados pela violência sexual no município de Cachoeira do Arari possui o ensino fundamental incompleto e, quando denunciado o caso, as vítimas abandonam a escola. A Secretaria Municipal de Educação não oferece nenhum tipo de atendimento aos vitimados de violência sexual, pois não possuem profissionais qualificados para esse atendimento. Quando acontece esse tipo de problema, as vítimas são encaminhadas para o Conselho Tutelar. A Secretaria também não possui equipe multifuncional preparada para qualquer tipo de atendimento apesar do Plano Municipal de Educação ter como uma das ações a formação desta equipe. No município de Breves, a Secretaria Municipal de Educação possui um bom corpo funcional. Existe uma equipe multidisciplinar composta por seis profissionais sendo eles: dois pedagogos, um assistente social, um psicólogo, um fonoaudiólogo e um fisioterapeuta, que desenvolvem atividades com os alunos do atendimento educacional especializado, porém não realizam atendimento para os vitimizados de violência sexual, pois não se consideram qualificados para o respectivo atendimento, logo encaminham as vítimas ao CREAS. Temos uma equipe multidisciplinar que é composta por pedagogos, assistentes social, psicólogo, fonoaudiólogo e fisioterapeuta, mas que atende exclusivamente as crianças do AEE. A equipe atua em parceria com as escolas, auxiliando na formação dos professores, as crianças estudam nas 78 escolas e fazem as atividades especializadas no contra-turno. Para as vítimas do abuso e exploração nós não temos essa equipe. A justificativa para essa equipe não atender as vítimas é que dizem que falta mais pessoal para compor a equipe, porém não se eximem em atender, porém procuram logo a secretaria de assistência, CREAS. Na SEMED não possuímos profissionais específicos para atender vítimas de violência sexual. (ENTREVISTADA Nº 2) Em Breves não existe política pública municipal para enfrentamento da violência sexual, os profissionais apenas desenvolvem campanhas de prevenção e sensibilização em parceria com a secretaria de trabalho e assistência social. As escolas, conforme a diretora de ensino, a violência sexual é trabalhada apenas como tema transversal, dentro do currículo escolar na temática Orientações. A diretora de ensino do município de Breves reflete sobre a problemática da violência sexual e pondera: Algo assim totalmente complexo, eu percebo no sentido de que o poder público de forma geral, não só municipal eu coloco estadual e federal, eles sabem do problema, sabem de sua existência e não efetivam nenhuma política para se combater isso. É algo assim gritante dentro do município, não é algo mascarado, taí presente, o poder público sabe disso, a justiça sabe e ninguém tem atitude em combatê-la. É como se fosse uma realidade que estivesse liberada para acontecer, é como se estivessem anestesiado diante do problema. Eu vejo que falta o poder público assumir o problema que ele tem como combater, pois eles sabem quem são as famílias das vítimas de abuso e exploração sexual, sabem quem são os malfeitores e o que é que falta para se combater isso? Então, isso é um problema gritante dentro do município de Breves, pois já presenciei casos de violação como o da menina que citei anteriormente que pediu socorro, mas que na maioria das vezes não são ouvidas. Então isso é muito sério. A própria da família da menina dizendo que ela está contando mentira, quando tudo demonstrava que ela estava falando a verdade, mas a família diz: não por que ela é mentirosa. Então é muito grave ver isso e essas vítimas no próprio sentido da palavra elas são vítimas em todos os sentidos, no sentido de estar sendo explorada, no sentido de não estar sendo ouvida pela sociedade, ela sofre no silêncio, porque a própria sociedade não lhes dá ouvido porque é mentirosa, porque está inventando. Então vejo que a sociedade, ou seja, que nós precisamos compreender o sofrimento, compreender essa doença social para que possamos ajudar as pessoas vítimas de violência sexual, e que o Poder Público, Ministério Público, Juizado precisam ser mais rígidos no cumprimento da lei. Pois a impunidade dos agressores deixa-nos fragilizados e inútil diante disso tudo, impotente diante das situações que se apresentam. Então isso é sério demais e que precisa ser tratado de forma diferente e precisa do fortalecimento de toda a rede para combater o abuso e exploração que são algo tão bem organizados. (ENTREVISTADA Nº 02) Em Breves pelo fato de noticiarem a incidência e a proliferação das redes de exploração sexual, muitas organizações desenvolvem trabalhos para o 79 enfrentamento da violência sexual, porém o município não dá continuidade, pois o poder público dá pouca atenção a este problema social. De acordo com a uma diretora de ensino: Em Breves vem Instituição de todos os lugares com o objetivo de combater a violência ficam aqui duas, três semanas ou um mês. Fazem um trabalho e depois vão embora e tudo o que foi feito não tem continuidade, pois aqui em Breves ainda não se conseguiu formar um grupo realmente para defender essa causa, ou seja, para trabalhar com a implementação das políticas públicas para enfrentamento da violência sexual. Aqui em Breves temos a Congregação das Irmãs de Notre-Dame liderada pela Irmã Rita, uma das lideres dos movimentos que combate a violência sexual, aí eu digo ela é uma dentro de um município tão grande, pois o mesmo que penso que nós vamos enfrentar e vencer a violência, mas ao mesmo tempo vejo um distanciamento para se alcançar de fato e combate-la. (ENTREVISTADA Nº 08) Outra instituição que está vinculada à problemática da violência sexual é a Secretaria Municipal de Saúde. No município de Cachoeira do Arari esta secretaria não possui programas específicos municipais para enfrentamento da violência, porém trabalham com todos os programas oriundos do Ministério da Saúde. Para o enfrentamento da violência sexual trabalham também com os programas nacionais e, com a implantação destes programas, o município apenas melhora os indicadores. Para os vitimados pela violência sexual o município oferece consulta médica com enfermeiro e atendimento psicossocial com assistente social e psicólogo do CRAS. Dependendo da gravidade do caso, a criança ou o adolescente são encaminhados para a Santa Casa de Misericórdia em Belém para o atendimento mais específico. O acompanhamento é feito pelo Conselho Tutelar através de fichas de referências e contra-referências. A Secretaria Municipal de Saúde de Cachoeira do Arari observa a problemática como “algo muito sério, e se preocupa em acompanhar os casos, e levar os profissionais a trabalharem realmente engajados no sentido de realizar mobilizações e campanhas de esclarecimentos para a prevenção da violência em sentido bem geral”. Desta forma, percebemos que a secretaria municipal de saúde possui a preocupação, porém não possui nenhuma política pública municipal para enfrentamento da violência sexual, apenas trabalha com as diretrizes da política nacional oriundas do Ministério da Saúde. 80 A secretária municipal de saúde afirmou que é “muito sério a violência sexual”, porém é necessário criar mecanismos de inclusão social dos jovens com a geração de emprego e renda para que estes não caiam na ociosidade, e assim fiquem mais propensos ao consumo do álcool, das drogas e ao cometimento de uma série de atos infracionais. Segundo a entrevistada nº 10: A violência sexual é muito envolvida, como no restante do País, ou seja, é muito doméstica, é pai, é irmão, é tio, é vizinho. Geralmente pessoas da ou muito próximas das famílias que cometem violência sexual contra crianças e adolescentes, que em via de regra as mães tendem a esconder essas situações. (ENTREVISTADA Nº 10) Isto justifica o caráter incestuoso da violência sexual, pois conforme o Conselho Tutelar a maioria dos casos é praticada por pessoas do seio familiar caracterizando assim a violência sexual intrafamiliar. Desta forma a denúncia é mais difícil de ser executada e esses crimes caem na normalidade da família. Este quadro só muda quando a própria vítima cansada de ser violentada busca “socorro” em algum órgão ou até mesmo com pessoas desconhecidas, que denunciam a violação que a criança ou o adolescente está vivendo. A Secretaria Municipal de Saúde também não tem política pública de combate à violência sexual. Trabalha apenas com campanhas de prevenção oriundas do Ministério da Saúde. No que diz respeito ao atendimento oferecido aos vitimados de violência sexual que requerem um atendimento diferenciado, a Unidade Mista de Saúde oferece consulta médica, consulta de enfermagem e o acompanhamento da assistente social, mostrando um atendimento insuficiente, pois o acompanhamento psicológico não é oferecido, pela falta do psicólogo no corpo funcional desta a secretaria. A unidade não tem como realizar o exame sexológico forense, o que agrava ainda mais os casos de violência sexual, pois na maioria das vezes, as famílias são muito pobres e não têm condições econômicas de levar as vítimas a Belém, em busca de um atendimento mais especializado, apesar do hospital encaminhar os vitimados para a Santa Casa de Misericórdia na Capital. Porém, devido às condições econômicas, as famílias não terminam os procedimentos. No município de Breves, a Secretaria Municipal de Saúde não desenvolve programas próprios municipais, voltados para crianças e adolescentes. Trabalha com 81 os Programas do Ministério da Saúde como: saúde da criança, saúde do adolescente e PROAME. Para o enfrentamento da violência sexual também não desenvolve nenhuma política pública, apenas com os programas nacionais e, a partir do que preconizam, efetuam ações no município. A Secretaria forneceu um dado importante que mostra a essa incidência da violência e da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes, no ano de 2012, o qual mostramos no gráfico 7, abaixo: Gráfico 7: Casos de violência e violência sexual cometida contra crianças e adolescentes, no ano de 2012, registrado na Secretaria Municipal de Saúde do município de Breves. 120 100 80 Casos de Violência 60 Violência Sexual 40 20 0 2012 Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Breves No ano de 2012 foram registrados 120 casos de violência 21. Destes casos, 25 (vinte e cinco) somente de abuso sexual contra crianças e adolescentes. O atendimento oferecido aos vitimados no hospital municipal conforme a secretária municipal de Saúde segue este procedimento: A partir do momento que ele é notificado e que seja contra criança e adolescente o Conselho Tutelar é acionado, a polícia também. A criança ou adolescente passa por avaliação médica fazem o exame de corpo e delito e outros. Caso necessário é feito o acompanhamento pelo psicólogo para fazer o primeiro atendimento e posteriormente a Família passa pelo acompanhamento psicológico. Dependendo da gravidade do caso, a saúde do paciente (...) precisar de um acompanhamento mais específico de cirurgia ou algo desse tipo é feito um encaminhamento para o Hospital Regional de Breves ou se precisar é encaminhado para a Santa Casa em Belém. 21 Este número está abaixo do total registrado pelo Conselho Tutelar do município, no mesmo ano os demais anos 2009, 2010 e 2011 não foram fornecidos pela secretária municipal de saúde. 82 Desta maneira, verifica-se que o município de Breves realiza o acompanhamento aos vitimados pela violência sexual e suas famílias através dos psicólogos, assistentes sociais e os profissionais dos CRAS e CREAS do município, demonstrando que existe uma rede de proteção para assegurar os direitos das crianças e adolescentes. Porém, conforme a secretária municipal de saúde, o município de Breves não desenvolve nenhuma política pública para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Somente são implementadas as políticas oriundas do Ministério da Saúde, e trabalha em parceria com as demais secretarias municipais realizando palestras nas escolas, nos centros comunitários e na zona rural do município, sendo que estas ações, não são reconhecidas como política pública de combate à violência sexual. Prosseguindo com as instituições que estão associadas à problemática da violência sexual dos municípios, está a Secretaria Municipal de Assistência Social. No município de Cachoeira do Arari, esta secretaria possui em seu quadro funcional 4 (quatro) técnicos responsáveis pelos atendimentos, e não possui políticas próprias para o enfrentamento da violência. Os programas desenvolvidos são todos voltados para levar informações dos programas sociais desenvolvidos pelo Ministério do Desenvolvimento Social. O município possui um CRAS com 05 (cinco) técnicos, sendo 01 (um) psicólogo, 03 (três) assistentes sociais e 01 (um) pedagogo. Destes, três são efetivos (2 assistentes sociais e 1 pedagoga) e dois contratados (1assistente social e 1 psicólogo) que atuam na coordenação dos programas sociais desenvolvidos pelo CRAS como Programa do Idoso, Pro-jovem adolescente, PETI, BPC e Bolsa Família. Em Cachoeira do Arari não existe CREAS, pois o centro funciona a partir de um termo de compromisso, no qual Estado e Município dividem gastos e o município não possui recursos disponíveis para a implantação do referido Centro. Por isso está vinculado ao CREAS Regional, localizado no Município de Soure. No CRAS existe uma técnica de referência responsável em estabelecer contato com o CREAS para o encaminhamento de crianças e adolescentes que tiveram seus direitos violados. Porém, conforme a Secretária Municipal de Assistência, este atendimento não é tão eficaz, devido ter que deslocar as vítimas para o município vizinho, o que gera ônus para a secretaria. A Secretaria Municipal de Assistência desenvolve diversos programas no município tanto na zona urbana como na zona rural, dentre eles o Programa Asas do 83 Socorro22. Entretanto, específico para crianças e adolescentes, não desenvolve nenhum. Para o enfrentamento da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes não existe política pública específica, apenas trabalham com campanhas de prevenção, como palestras nas escolas e nas comunidades e com caminhadas no dia 18 de Maio, que é o dia de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. Para os vitimizados e vitimizadas de violência sexual, o único atendimento oferecido são os do CREAS-Regional. Desta forma o CRAS e o Conselho Tutelar encaminham, via documento padrão, os vitimizados para o Município de Soure para que se realize o atendimento. O CRAS realiza acompanhamento biopsicossocial às vítimas de violência sexual e das famílias. O Município de Cachoeira do Arari possui Diagnóstico Social da Criança e do Adolescente, o qual foi elaborado em 2012 de forma coletiva, e com a participação de todos os segmentos governamentais e não-governamentais do município.Desta maneira, o diagnóstico tem como maior objetivo “conhecer a realidade em que vivem as crianças e adolescentes do município de Cachoeira do Arari, visando à elaboração de uma política de atenção a criança e ao adolescente estabelecendo novos paradigmas para seu desenvolvimento humano integral” (2012, p. 5). Assim, o Diagnóstico Social da Criança e do Adolescente do Município de Cachoeira do Arari torna-se um elemento fundamental pra nortear as políticas públicas para o segmento infanto-juvenil que possui uma das maiores fragilidades no âmbito municipal devido os altos índices de violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Conforme o secretário municipal de assistência social de Cachoeira do Arari: O município passa, desde ano de 2005, por diversas mudanças principalmente nas áreas da assistência, saúde e educação, pois antes de assumirmos a gestão municipal não tinha médico, não tinha assistente social, psicólogo e outros profissionais capacitados em oferecer o atendimento necessário para qualquer que seja a vítima. Isso demonstrava o quanto os governantes violavam nossos direitos, a partir de 2005 isso se modificou pois a população teve acesso aos programas sociais do Ministério do Desenvolvimento Social- MDS, as vítimas de violência sexual recebem 22 Atendimento médico e odontológico oferecido através da parceria do município com a Igreja Adventista. 84 atendimento básico na unidade de saúde pois existe profissionais capacitados para o atendimento como médico e quando necessário levando em consideração a gravidade do problema o município via secretaria de saúde encaminha para Belém para receber um atendimento mais especificado. Desta forma, nestes oito anos de gestão o município passou por transformações sociais básicas que deram dignidades e uma melhor qualidade de vida para os cachoeirenses. Portanto, o município de Cachoeira do Arari possui uma estrutura básica para o atendimento dos vitimados pela violência sexual, porém muito precisa ser feito para que se ofereça um atendimento eficiente, pois apesar de apresentar uma Rede de Proteção dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, os componentes nem sempre trabalham em conjunto. Para que o Conselho Tutelar desenvolva suas ações com mais efetividade precisa de uma melhor estrutura, pois não possui sinal de internet e isso impede a alimentação do SIPIA. Além disso, não tem telefone para receberem as denúncias. Estas falhas indicam que o Conselho Tutelar não tem as condições mínimas para um bom atendimento. A Secretaria Municipal de Assistência Social oferece o atendimento básico do CRAS que também não mostra muita eficiência, devido à baixa qualificação dos profissionais, para esse tipo de atendimento, que foge da sua estrutura, ficando a cargo do CREAS. O município de Cachoeira do Arari encaminha os vitimizados para o CREAS-Regional localizado no Município de Soure, o qual também não mostra eficiência no atendimento, devido à dificuldade que este município encontra na remoção das vítimas e a permanência delas em Soure, pois não existe casa de passagem. Com isso, as vítimas são encaminhadas para o PRÓ-PAZ em Belém. Desta forma, diante de todas essas adversidades, as famílias desistem do atendimento, e a justiça fica impossibilitada de prosseguir com o inquérito. Vale destacar que as famílias mais vulneráveis à violência sexual possuem entre 03 (três) e 05 (cinco) membros, com uma renda mensal de até dois salários mínimos, sendo que a maioria não possui renda e são beneficiárias dos programas sociais do Governo Federal como o Bolsa Família, PETI e Pró-jovem adolescente. 85 Em Breves, a Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social possui o CREAS-Municipal23 como principal programa para enfrentamento da violência sexual e oferece atendimento de média complexidade além dos atendimentos psicossociais. Além do CREAS-Municipal existem 03 (três) CRAS ofertando serviços da proteção básica nas áreas de alta vulnerabilidade e risco social. Para a Secretária Municipal de Trabalho e Assistência Social: A questão da exploração é tão antiga, pois onde há miséria é mais fácil da proliferação da violência sexual. O Marajó tem um IDH muito baixo, as distâncias são imensas, até pouco tempo atrás era bem difícil de levar informação para essas pessoas. O alto índice de pobreza, de miséria e a falsa idéia de cultura que exploração e abuso é cultural fez com que as coisas fossem acontecendo. Assim acredito que a exploração e o abuso sexual no Município de Breves e no Marajó não cresceram assustadoramente e sim foi dado um novo olhar, passou a se discutir mais a problemática, começou a pensar mais, começou a levar mais informações de que é crime, que isso traz danos psicológicos, sociais, emocionais na vida dessas pessoas, das famílias vitimas de violência sexual. (ENTREVISTADA Nº 01) Isso justifica que depois de muitos anos, depois de muitas crianças e adolescentes vitimadas pela violência sexual, depois que o problema tomou proporções incalculáveis, é que foi dado visibilidade e com isso, apontando a necessidade de políticas públicas para esse enfrentamento. O município não está preparado para esse enfrentamento, pois são realizadas ações preventivas que atingem apenas a ponta do problema, não existem políticas públicas realmente efetivas, capazes de amordaçar o nascedouro da violência sexual. O município possui diagnóstico da realidade da infância e da adolescência, porém os dados deste diagnóstico estão defasados, pois muitos são esquecidos, como afirma a secretária de assistência social “(...) o município possui uma deficiência muito grande nos registros dos casos, nós ainda não aprendemos a registrar os casos como eles deveriam ser registrados”. Na visão da Secretária Municipal de Trabalho e Assistência Social é preciso “pegar a cabeça da rede, simples, é prendendo quem mantém a exploração, acabou, não tem psicólogo, assistente social, pedagogo que dei jeito em uma rede totalmente 23 CREAS-Municipal: Programa co-financiado pelo MDS, que dentro da estrutura do SUAS é o serviço de média complexidade, presta atendimento psicossocial e prevenção a crianças vitimadas pelo abuso e exploração sexual. 86 organizada”. Desta forma, é necessário desmontar as redes de exploração para que o problema seja combatido, do contrário, sem politicas públicas realmente e efetivas e continuadas, as redes ficam mais complexas e seu combate cada vez mais difícil de ser executado. Outro fator de muito destaque é que a maioria dos abusadores/vitimizadores são pessoas da família, com maior incidência para o pai, tio e padrasto, nesta ordem. E quando não abusam, são os agenciadores, levando essas crianças e adolescentes como mercadorias aos clientes, mediante pagamento em dinheiro ou simplesmente por combustível, como é o caso das “Meninas Balseiras ou Balsetes” que são exploradas por seus familiares no estreito do Rio Tajapurú, lugar de muita movimentação de balsas e grandes embarcações que, segundo a secretaria de Trabalho e Assistência Social: [...] desde que cheguei a Breves, eu ouço falar nas meninas balseiras, na exploração sexual que acorre naquela área, então o Rio Tajapurú é um rio extenso no comprimento e curto na largura. Tem uma área na frente que é de Breves e ao redor pertence a Melgaço, mas tem alguns furos (rios menores), desde julho de 2012 comecei a mandar uma equipe de um serviço que nós temos chamado de CRAS EQUIPE VOLANTE para fazer o mapeamento desta área, para saber quem realmente está em situação de exploração sexual ou vê se a exploração existe de fato nesta área e de onde se originam essas meninas. Quando eu fui pra lá vou te contar isso para você vê como a rede de exploração é tão bem formada, muito bem organizada, complexa que pode ser de um simples caboclo até um grande político, eu mesma fiz questão de ir para Antônio Lemos (distrito do Município de Breves) e articular com alguns lideres comunitários, para dar apoio de retaguarda da minha equipe porque como nós íamos trabalhar com o tema delicado e não sabíamos com quem íamos mexer, eu mesma fiz questão de ir, conversei com agente comunitário de saúde, com lideres comunitários e disse que estaria mandando uma equipe e que o objetivo era entender de fato o que acontecia e tentar ajudar a comunidade, que ninguém ia chegar lá para mandar e desmandar nada disso, e ouvir das pessoas que realmente moram lá para saber se isso realmente acontece. No dia em que minha equipe chegou passaram quatro dias lá e nenhuma menina subiu na balsa, nenhum barco atracou na balsa, nenhuma menina encostou no trapiche, não é porque não existe a exploração não, elas foram avisadas. As autoridades reconhecem à problemática, sabem da existência do problema, porém não se percebe nenhuma iniciativa de mudança efetiva. Apesar do grande empenho da secretária municipal de Trabalho e Assistência Social, o que foi desenvolvido não apresentou efeito significativo na raiz do problema. 87 Conforme, a representante da Congregação Notre Dame24 outro grande problema é a falta de fiscalização nos portos, lugar de muita movimentação aos olhos de todos e que nada preventivo é realizado para coibir a violação de direitos das crianças e adolescentes. Eu tenho uma frustração com a falta de fiscalização nos portos, onde crianças viajam sozinhas, jovens e adolescentes entram nos barcos para praticarem sexo em troca de combustível, muitas vezes aliciados pelos próprios pais. Gostaria de ver uma legislação que possa mudar essa realidade, multando essas pessoas, prendendo ou até mesmo fazendo algo que restringisse o acesso desses meninos e meninas nesses lugares, ou seja, gostaria de ver ações radicais e não apenas fingir uma realidade mascarada pelo poder público. (ENTREVISTADA Nº 8) A Polícia Civil de Cachoeira do Arari não oferece nenhum tipo de atendimento especializado, pois conforme a delegada de Polícia “usam os recursos normais de investigação. Porque nós não temos um polo, o que seria ideal que cada município tivesse um polo de atendimento de criança e adolescente”. Além disso, para a delegada, a estrutura da delegacia não tem as mínimas condições de oferecer um atendimento adequado, pois a delegacia funciona em um prédio impróprio, ou seja, é uma casa alugada e adaptada para funcionamento da polícia civil no município. “A estrutura, os polícias e a ausência de psicólogo e de assistente social, demonstra que não temos uma estrutura adequada para atuar” (ENTREVISTADA Nº11). Por conseguinte, constatou-se que o município de Cachoeira do Arari apresenta uma enorme deficiência no combate à violência sexual, pois o poder público municipal, e o sistema de garantias de direito não desenvolvem nenhum tipo de política pública para enfrentamento da violência sexual, ou seja, o que existe são apenas campanhas de prevenção. Logo, o Município precisa implementar, com a máxima urgência, políticas públicas para enfrentamento da violência sexual, pois conforme os dados do Conselho Tutelar exposto no gráfico 1, o problema é frequente, e apresenta uma incidência muito alta, e precisa ser combatido. 24 Congregação religiosa feminina da igreja Católica, dedicada a educação dos mais pobres. As Irmãs são conhecidas conforme a sua Declaração de Missão como “mulheres cujo os corações são grandes como o mundo, que fazem conhecida a bondade de Deus e seu amor pelos pobres por meio de um modo de vida evangélico, pela comunidade e pela oração.” Cada religiosa desta congregação compromete sua única vida a trabalhar com os outros e outras para criar justiça e paz para todos. 88 Em Breves, a Polícia Civil não apresenta nenhuma estrutura para atender os casos de violência sexual cometidos contra crianças e adolescentes justificado também pela ausência de profissionais capacitados para esse atendimento. O Conselho Tutelar exerce sua função de forma precária, convivendo com a falta de material, além de apenas dois conselheiros atuando para uma população que ultrapassa os 100 mil habitantes. O Ministério Público atua de forma efetiva nos casos que chegam ao promotor de justiça, porém os casos que chegam não condizem com a realidade do município. A principal dificuldade enfrentada pelo Ministério Público é referente à questão estrutural, existe apenas um Promotor para dois municípios, o que dificulta a conclusão dos processos. O Poder Judiciário não é muito diferente, pois não existe na Comarca de Breves nenhum tipo de profissional como pedagogo, psicólogo, assistente social para atender às vítimas de violência sexual, e dar suporte técnico, sendo que esta ausência de profissionais nas comarcas dificulta a atuação com efetividade do judiciário e do ministério público. Logo, constatou-se que a ausência das políticas públicas para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes é bastante relevante para a proliferação das redes de exploração sexual. Isto evidencia que o que se desenvolve nos municípios são apenas ações preventivas, algo muito superficial que não atinge a base de sustentação da violência sexual e de nenhum outro problema social. Por outro lado, as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento regional, parecem não ter incluído o município de Cachoeira do Arari em seus programas, uma vez que a maioria dos principais projetos incentivados se concentram em regiões mais desenvolvidas da Ilha de Marajó. 89 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS As discussões acerca do problema da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes são muito complexos, mobiliza representantes de vários segmentos da sociedade e de diversas áreas do conhecimento como sociólogos, psicólogos, médicos, enfermeiros, professores, políticos, empresários, ONG’s e populares que vivenciam direta ou indiretamente a problemática em estudo. Neste sentido, se toda a discussão que foi tecida em torno da violência sexual, hábitos e ações poderão ser modificados e assim uma nova sociedade poderá ser construída com a participação de todos. Logo comportamentos poderão ser transformados e passados para outras gerações. Desta forma, rompendo com a cultura de que a violência intrafamiliar seja algo “normal”. Assim, o estudo reporta pensarmos em ações de enfrentamento da violência sexual construídos a partir da mobilização social e articulada com todos os entes federados. Logo, a pesquisa buscou analisar as políticas públicas de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes nos municípios de Cachoeira do Arari e Breves no Estado do Pará. Constatou-se que em ambos os municípios as políticas públicas existentes são muito deficitárias e descontinuadas. O Poder Público Municipal pouco tem feito principalmente pelo fato de muitas pessoas influentes nos municípios, como políticos e empresários, estarem envolvidos nessas práticas delituosas. Nas Secretarias Municipais de Saúde, Educação e Assistência Social são inexistentes políticas públicas municipais para o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Em relação ao Poder Judiciário no julgamento dos processos referentes à violência sexual contra crianças e adolescentes é moroso e poucos agressores tiveram suas sentenças expedidas, principalmente pelo fato de que as comarcas nos interiores paraenses não possuírem recursos suficientes para a conclusão do processo. Os recursos são poucos, o Juiz trabalha sozinho, não existe corpo técnico especializado para a realização do estudo social dos vitimizados e das famílias. Assim influenciando na conclusão dos processos junto ao Ministério Público e aos Juizados. Portanto, é na perspectiva analítica que se conclui o presente estudo, o qual envolveu a percepção de Secretários Municipais de Educação, Saúde e Assistência Social, Juízes, Promotores Públicos, Defensores Públicos, Delegados e representantes de ONG’s que atuam em defesa da criança e do adolescente. 90 Em relação ao problema central da pesquisa que era analisar em termos comparativos em que medidas as políticas públicas de combate à violência sexual cometida contra crianças e adolescentes nos municípios de Cachoeira do Arari e Breves avançaram em termos de implementação, o estudo constatou que o Poder Público Municipal pouco tem feito, demonstrando um descompromisso dos gestores em implementar políticas públicas para combater à violência sexual contra crianças e adolescentes nos municípios, uma vez que, a atenção dos governos é para programas de captação de recursos. Há pouco interesse dos gestores na implementação de políticas públicas de combate à violência sexual, devido demandar orçamento para algo com retorno muito lento, isto é expressivo nos dois municípios, principalmente por serem pouquíssimas as políticas implementadas ou até mesmo pela inexistência de políticas públicas para resolver a problemática da violência sexual. Quanto à hipótese de que no Município de Cachoeira do Arari não existem políticas públicas para enfrentamento da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes, e no Município de Breves as políticas públicas para combater a violência sexual existem, mas ainda não mostraram eficácia, foi confirmada, pois é visível a ausência das políticas públicas de combate à violência sexual principalmente no município de Cachoeira do Arari, pois o poder público apenas realiza campanhas de informação nas escolas, algo descontinuado, que na maioria das vezes a temática é tratada apenas no dia 18 de Maio, dia de combate a violência sexual. Em relação ao Município de Breves as políticas públicas existem, os gestores municipais reconhecem o problema, porém as políticas públicas que foram implementadas não mostram eficiência, e o problema toma proporções incalculáveis a cada dia. Isto, ocorre principalmente por que o Município não possui um Plano Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-juvenil, que traça diretrizes norteadoras para a elaboração e implementação de políticas públicas de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. Referente aos objetivos da pesquisa constatou-se que apesar das diferenças econômicas entre os dois municípios, ambos são muito semelhantes, principalmente pelo fato de as políticas públicas de combate a violência sexual contra crianças e adolescentes serem quase que inexistentes nos dois municípios, pois implementaram apenas políticas públicas de origem Federal e isso com pouca efetividade. As de origem Estadual e Municipal são inexistentes. Quanto, ao sistema 91 de garantias dos direitos da criança e do adolescente existe nos dois municípios. Em Cachoeira do Arari atua com muitas limitações, principalmente com a falta de recursos humanos e estrutura física deficitária, o que não é muito diferente de Breves, mas o sistema de garantia de Breves é mais estruturado e possui melhor estrutura física com casa de passagem e equipe de multiprofissionais. Porém, o Conselho Tutelar e o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente trabalham separadamente, o que é inadmissível, pois ambos atuam diretamente na garantia dos direitos destes segmentos sociais. Portanto, o estudo realizado nos Municípios de Cachoeira do Arari e Breves permite sugerir algumas propostas/ações com a finalidade de combater a violência sexual cometida contra crianças e adolescentes: Elaboração e aprovação do Plano Estadual de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil. Elaboração e aprovação do Plano Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil nos dois Municípios. Implementação de políticas públicas nos Municípios Marajoaras de combate a violência sexual. Realizar em parceria com Instituições Não-Governamentais, Públicas, Privadas e de Pesquisa como as Universidades para debater e propor soluções em parceria com as Prefeituras dos Municípios de Cachoeira do Arari e Breves. Fortalecer o sistema de garantia dos direitos da criança e do adolescente nos dois municípios. Implementar políticas públicas municipais de combate a violência sexual contra crianças e adolescentes nos dois municípios levando em consideração as especificidades locais. Implantação nos Hospitais Municipais do Centro de Atendimento aos Vitimizados pela Violência Sexual Criação da Equipe de Multiprofissionais para o tratamento biopsicossocial dos vitimizados e suas famílias. Implantação da equipe de multiprofissionais na secretaria municipal de educação do Município de Cachoeira do Arari, uma vez que, o Município de Breves já possui sua equipe faltando apenas atender os vitimizados de violência sexual, pois atendem apenas crianças com necessidades especiais. 92 REFERÊNCIAS ARANHA, M.L. A.; MARTINS, M.H.P.M. Temas de filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1999. BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. BRASIL. Lei 8.069/90. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2009. Cadernos de Estudos Desenvolvimento Social em Debate. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação. Brasília – DF, 2005. BRASIL. Lei 9394/96. Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1996, Brasília – DF. BRASIL. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Jovenil. 3 ed. Brasília: SEDH/DCA, 2002. 59 p. (Série Subsídios, 5). CANDAU, Vera. Escola e Violência. 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( ) sim ( ) não Caso sim, quantas: 5- Quem é o mantenedor (es): 6- Quadro funcional existente: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 5 – O CMDCA trabalha em parceria com o CT? ( ) sim ( ) não 6 – Quais as ações são desenvolvidas pelo CMDCA e CT para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 7 – Quantos casos de violência contra crianças e adolescentes foram registrados no Conselho Tutelar ou na Delegacia de Polícia? ANO Casos de violência contra crianças e adolescentes 2009 97 2010 2011 2012 8 – Quantos destes casos foram somente de violência sexual contra crianças e adolescentes? ANO Casos de violência sexual contra crianças e adolescentes 2009 2010 2011 2012 9 – Quantos casos conforme o sexo? ANO MASCULINO FEMININO 2009 2010 2011 2012 TOTAL 10 – Quanto à idade das vítimas? 1- 1 até 3 anos quantos: 2- 3 até 6 anos quantos 3- 6 até 9 anos quantos: 4- 9 até 12 anos quantos: 5- 12 até 15 anos quantos: 6- ˃ que 15 anos quantos: 11 – Qual é a média de membros da Família das vítimas? ( ) até 3 pessoas ( ) até 4 pessoas ( ) até 5 pessoas ( ) até 6 pessoas ( ) até 7 pessoas ( ) até 8 pessoas ( ) até 9 pessoas ( ) até 10 pessoas ( ) ˃ que 10 pessoas 12 – Qual a renda média da família? ( ) ˃ que 1 SL até 2 SL ( ) ˃ que 2 SL até 4 SL ( ) ˃ que 4 SL até 7 SL ( ) ˃ que 7 SL até 10 SL ( ) Sem renda 13 – Escolaridade das vítimas de violência sexual? ( ) Analfabeto ( ) Fundamental Incompleto ( ) Fundamental Completo ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Médio Completo 98 14 – Qual é o encaminhamento dado às vítimas de violência sexual? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ ________-____________________________________________________________ 15 – Qual é o atendimento oferecido às vítimas de violência sexual nas unidades de saúde? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 16 – Quais as Políticas Públicas de Segurança para enfrentamento da violência sexual existe no Município? Cite e explique o objetivo de cada política pública? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 17 – Existe alguma criança, adolescente ou família com proteção policial? ( ) sim ( ) não Caso SIM, quantas e explique o motivo: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 18 – Na maioria dos casos qual é o vínculo da vítima com o agressor? ( ) Pai ( ) Tio ( ) Avô ( ) Irmão ( ) Primo ( ) Vizinho ( ) outros qual: 19 – Qual é a modalidade da violência sexual mais frequente? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Muito obrigado pelas informações. Data ___/___/___ Nome do responsável pelas informações:______________________________ Função:_________________________________________ 99 APÊNDICE 2 PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO 1. Nome, função, tempo na função, quantas escolas na rede municipal, quantas urbanas e quantas do campo? 2. Em alguma escola da rede municipal já foi identificado caso de violência? A - Quantos? B – qual o tipo de violência? C – que providências foram tomadas? 3. Casos de violência sexual já foram identificados nas escolas? SIM OU NÃO A – quantos? B – menino ou menina? C – quem identificou? D – o que foi feito na escola? E – foi mantido o sigilo ou a vítima foi exposta? F – que atendimento é oferecido para a vítima no âmbito educacional? G – pra onde encaminharam a vítima ou a escola tenta resolver o problema junto com a SEMED? 4. A rede municipal possui profissionais capacitados para atender vítimas de violência sexual: SIM OU NÃO A – quais as áreas? B – são efetivos ou contratados? C – que tipo de atendimento oferecem? 5. A Secretaria Municipal de Educação possui em seu quadro funcional uma equipe multidisciplinar: SIM OU NÃO A – como atuam? B – qual é a formação? C – são efetivos ou contratados? D – que atendimento é oferecido? 6. A SEMED trabalha em parceria com as demais secretarias municipais para enfrentamento da violência sexual: SIM OU NÃO 100 A – como é esta parceria? B – o que fazem? 7. A SEMED possui programas próprios para enfrentamento da violência: SIM OU NÃO A – e para enfrentamento da violência sexual existe algum programa? B – qual? C – do que trata? D – como é realizado? E – quem são os parceiros? 8. O Município possui diagnóstico sobre a violência: SIM OU NÃO A – como foi elaborado? B – os dados são utilizados para elaboração de políticas públicas para enfrentamento da violência? Como. C – a SEMED participou da elaboração? 9. O Município possui políticas públicas para enfrentamento da violência sexual: SIM OU NÃO A – qual? B – como é desenvolvida? 10. Como Secretária Municipal de que forma você observa está problemática em seu município? 11. O que precisa ser feito para enfrentamento da violência sexual no município? Agradeço pelas informações. 101 APÊNDICE 3 PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 1. Função e tempo na função? 2. A Secretaria de Assistência possui programas próprios para enfrentamento da violência: SIM OU NÃO A – qual? B – do que trata? C – como é realizado? D – quem são os parceiros? 3. Existe Centro de Referência da Assistência Social no Município: SIM ou NÃO (caso a resposta seja SIM) A – quantos? B – como é composto o quadro funcional? C – são efetivos ou contratados? D – é suficiente para a realização dos atendimentos? 4. Existe Centro de Referência Especializado da Assistência Social: SIM ou NÃO (caso a resposta seja SIM) A – quantos? B – como é composto o quadro funcional? OBS: caso a resposta seja não A – são vinculados a algum CREAS regional? B – qual? C – você acha eficaz esse atendimento? D – por que o Município não tem CREAS? 5. Existe Programas Municipais desenvolvidos pela Secretaria de Assistência voltados para crianças e adolescentes: SIM ou NÃO A – qual? B – como é desenvolvido? C – tem parceiros SIM ou NÃO. Quem são? 102 6. Para enfrentamento da violência sexual existe alguma política pública municipal implantada ou em processo de implantação: SIM ou NÃO A – qual? B – como é desenvolvida? C – tem parceiros SIM ou NÃO. Quem são? 7. Para as vítimas de violência sexual que atendimento é oferecido? 8. O CRAS desenvolve Programas ou Projetos para enfrentamento a violência sexual: SIM ou NÃO (caso a resposta seja SIM) A – qual? B – como é desenvolvido? C – público-alvo? D – tem parceiros SIM ou NÃO. Quem são? (caso a resposta seja SIM) 9. Como as vítimas de violência sexual são encaminhadas para o CREAS? 10. É oferecido acompanhamento as vítimas de violência sexual pelo CRAS: SIM ou NÃO (caso a resposta seja SIM) A – qual? B – como é feito? 11. O Município possui diagnóstico sobre violência: SIM OU NÃO (caso resposta seja SIM) A – como foi elaborado? B – os dados são utilizados para elaboração de políticas públicas para enfrentamento da violência? Como. C – a secretaria de assistência participou da elaboração? 12. O Município possui políticas públicas para enfrentamento da violência sexual: SIM OU NÃO (caso a resposta seja SIM) A – qual? B – como é desenvolvida? 13. Como Secretária Municipal de Assistência Social observa está problemática no município? 14. O que precisa ser feito para enfrentamento da violência sexual no município? Agradeço pelas informações. 103 APÊNDICE 4 PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE SAÚDE 1. Função e tempo na função? 2. Quantas Unidades de Saúde e postos existem no município? 3. A Secretaria Municipal de Saúde possui programas próprios para enfrentamento da violência: SIM OU NÃO (caso a resp. seja SIM) A – qual? B – do que trata? C – como é realizado? D – quem são os parceiros? 4. Existe Programas Municipais desenvolvidos pela Secretaria de Saúde voltados para crianças e adolescentes: SIM ou NÃO (caso a resposta seja SIM) A – qual? B – como é desenvolvido? C – tem parceiros SIM ou NÃO. Quem são? 5. Para enfrentamento da violência sexual existe alguma política pública municipal implantada ou em processo de implantação: SIM ou NÃO (caso a resposta seja SIM) A – qual? B – como é desenvolvida? C – tem parceiros SIM ou NÃO. Quem são? 6. Quantos casos de violência foram atendidos na Unidade de Saúde. Quantos casos só de violência sexual contra crianças e adolescente? 7. Para as vítimas de violência sexual que atendimento é oferecido na Unidade de Saúde Municipal? 8. As vítimas de violência sexual são encaminhadas para outro órgão fora do município: SIM ou NÃO (caso a resposta seja SIM) A – qual? B – como? 104 9. É oferecido acompanhamento às vítimas de violência sexual pela Unidade de Saúde: SIM ou NÃO (caso a resposta seja SIM) A – qual? B – como é feito? 10. O Município possui diagnóstico sobre violência: SIM OU NÃO (caso resposta seja SIM) A – como foi elaborado? B – os dados são utilizados para elaboração de políticas públicas para enfrentamento da violência? Como. C – a secretaria de saúde participou da elaboração? 11. O Município possui políticas públicas para enfrentamento da violência sexual: SIM OU NÃO (caso a resposta seja SIM) A – qual? B – como é desenvolvida? 12. Como Secretária Municipal de Saúde observa problemática da violência no município? E a violência sexual. 13. O que precisa ser feito para enfrentamento da violência sexual no município? Agradeço pelas informações. 105 APÊNDICE 5 PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA JUÍZES FICHA DE IDENTIFICAÇÃO Nome, data de nascimento e função TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Formação, atuação profissional e trajetória no tribunal de justiça (especificar a comarca de atuação). 1. Período que trabalha na Comarca? 2. Quais são os casos mais frequentes que sentencia? 3. Como Vossa Excelência conceitua violência? 4. Como Vossa Excelência conceitua violência sexual? 5. Os casos de Crianças e Adolescentes vítimas de violência são muitos frequentes na Comarca? 6. Qual a incidência dos casos de violência sexual no Município? E de violência sexual contra crianças e adolescentes? 7. Qual a sua motivação para julgar os processos referentes às crianças e adolescentes vítimas de violência sexual é julgado no período certo ou é sempre deixado pra depois? 8. A Comarca possui equipe de profissionais para realizar o estudo das famílias ou é solicitado para algum outro Órgão caso sim qual e por quê? 9. Quantos processos de violação dos direitos das crianças e dos adolescentes são julgados por ano? 10. Quantos processos de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual são julgados por ano na Comarca do Município? 11. Na sua opinião como Pais ou Responsáveis das crianças e adolescentes deveriam agir diante das situações de violência sexual? 12. Qual ou quais as dificuldades enfrentadas pela comarca no atendimento as vítimas de violência sexual? 106 13. O que sugere como política pública para enfrentamento da violência sexual no Município? 14. Vossa Excelência conhece enfrentamento da violência implementadas no Município? Algo mais a acrescentar. Obrigado pelas informações. alguma política pública municipal para sexual contra crianças e adolescentes 107 APÊNDICE 6 PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PROMOTORES DE JUSTIÇA IDENTIFICAÇÃO (Nome, data de nascimento e função) TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Formação, atuação profissional e trajetória no Ministério Público especificar a Comarca. 1. Como você explica o aumento descontrolado da violência no Município? 2. O/A Senhor (a) considera a violência como um problema grave? 3. Como o Senhor (a) conceitua Violência? 4. Como o Senhor (a) conceitua violência sexual? 5. Quantos de violação dos direitos das crianças e dos adolescentes são autuados pelo Ministério Público por ano? 6. Quantos casos de violência sexual cometidos contra crianças e adolescentes são autuados pelo MP? 7. Como o MP atua para combater a violência sexual contra crianças e adolescentes no Município? 8. Qual ou quais as dificuldades enfrentadas pelo MP no atendimento as vítimas de violência sexual? 9. O Senhor (a) tem conhecimento de alguma politica pública municipal para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes implementadas no Município? 10. Se o Senhor (a) pudesse atuar de forma diferente o que você gostaria de fazer enquanto ação preventiva não existente hoje nesta Instituição. Explique. Algo a mais. Agradeço as informações. 108 APÊNDICE 7 PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DEFENSORES PÚBLICOS FICHA DE IDENTIFICAÇÃO Nome, data de nascimento e função. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Formação, atuação profissional e trajetória na defensoria pública especificar a Comarca de atuação. 1. Período que trabalha na Comarca? 2. Como o/a Senhor (a) conceitua violência? 3. Como o/a Senhor (a) conceitua violência sexual? 4. Como é a atuação da Defensoria Pública nos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes? 5. Em relação aos processos qual é a incidência da violência sexual no Município? 6. Qual é o perfil sócioeconômico das famílias das vítimas de violência sexual? 7. Qual ou quais as principais dificuldades enfrentadas pela defensoria no município para atendimento dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes? 8. O/A Senhor (a) tem conhecimento de politicas públicas municipais implementadas no Município para combater a violência sexual contra crianças e adolescentes? 9. Se o (a) Senhor (a) pudesse atuar de forma diferente o que você gostaria de fazer enquanto ação preventiva não existente hoje nesta Instituição. Explique Algo a mais. Agradeço as informações. 109 APÊNDICE 8 PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA DELEGADO DE POLICIA FICHA DE IDENTIFICAÇÃO Nome, data de nascimento, função TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Formação, atuação profissional, trajetória na função. 1. Período que trabalha na delegacia do Município? 2. Como o/a Senhor (a) conceitua Violência? 3. Como o/a Senhor (a) conceitua Violência Sexual? 4. Conforme os Boletins de Ocorrência qual é a incidência de violência sexual no Município? E violência sexual contra crianças e adolescentes? 5. Como a Policia Civil atua nos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes vitimizados pela violência sexual? 6. Como a Policia Civil combate a violência sexual contra crianças e adolescentes no Município? 7. A Polícia Civil possui cadastro dos lugares onde são mais propícios aos casos de prostituição de crianças e adolescentes? O que faz para combater? 8. Quais os locais que você considera como de maior índice de exploração sexual de crianças? 9. Desde de quando começaram a aparecer estes lugares? 10. Como você acha que funcionam estes locais que exploram crianças? 11. Como você acha que se organizam esses grupos de exploradores? 12. Como você acha que estes grupos se protegem? 13. Quem são esses exploradores? Que outras atividades estariam ligadas à exploração de crianças? 14. O que você acha que facilita o negócio da exploração sexual de crianças e adolescente? 110 15. O que você acha que pode dificultar, reduzir e até eliminar a exploração de crianças e adolescente? 16. Por que você acha que tem tanta criança e adolescente sendo explorada sexualmente? 17. Qual ou quais as dificuldades enfrentadas pela Policia Civil no atendimento as vítimas de violência sexual? 18. A delegacia possui estrutura para tratar dos casos de violência sexual? 19. O/A Senhor (a) tem conhecimento de alguma política pública municipal para enfrentamento da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes no Município? 20. O que o Município oferece como alternativa de atividade para essas crianças e adolescentes que são explorados sexualmente? 21. Se o/a senhor (a) pudesse atuar de forma diferente, o que você gostaria de fazer enquanto ação preventiva não existente hoje nesta Instituição. Explique Algo a mais. Agradeço as informações. 111 APÊNDICE 9 PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ROTEIRO DE ENTREVISTA ONG’S IDENTIFICAÇÃO Nome, função e trajetória profissional 1. Como a Senhora observa o problema da violência aqui no município de Breves? 2. Como a Senhora conceitua violência? E a violência sexual? 3. Qual o perfil sócioeconômico das famílias vitimizadas pela violência sexual? 4. Que tipo de atendimento é oferecido para as vítimas de violência sexual no município? 5. Existe rede de exploração sexual de crianças e adolescentes no município? De que forma elas se organizam? 6. Que políticas públicas estão implantadas ou em fase de implantação aqui no município para combater a violência sexual? 7. De que forma vocês atuam no combate a violência sexual de crianças e adolescentes? 8. Quais são as principais dificuldades enfrentadas por esta ONG para o desenvolvimento de políticas públicas de combate a violência sexual? 9. A Senhora tem dados sobre a violência sexual cometida contra crianças e adolescentes? 10. Como a Senhora vê a atuação do Poder Judiciário e do Ministério Público nos municípios marajoaras? 11. O Poder Público Municipal está combatendo a violência sexual contra crianças e adolescentes? Como 12. a sua opinião o município desenvolve políticas públicas para combater a violência sexual? 13. O que precisa ser feito para o enfrentamento da violência sexual no município? Agradeço pelas informações. 112 ANEXOS 113 ANEXO 1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO VIOLÊNCIA URBANA: um estudo comparativo das Políticas Públicas para enfrentamento da violência sexual nos Municípios de Cachoeira do Arari e Breves no Estado do Pará. Você está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa acima citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará nenhum prejuízo a você. Eu, ________________________________, residente e domiciliado na ______________________, portador da Cédula de identidade, RG ____________ , e inscrito no CPF_____________________ nascido (a) em ____ / ____ /____ , abaixo assinado (a), concordo de livre e espontânea vontade em participar como voluntário (a) do estudo VIOLÊNCIA URBANA: um estudo comparativo das Políticas Públicas para enfrentamento da violência sexual nos Municípios de Breves e Cachoeira do Arari no Estado do Pará. I) II) III) IV) V) VI) Estou ciente que: O estudo tem como objetivo analisar a implementação das políticas públicas para o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescente de Cachoeira do Arari e Breves. Assim, os participantes irão responder um questionário de perguntas abertas e fechadas e entrevistas semi-estruturadas com auxílio do pesquisador; Os dados serão coletados nos Conselhos Tutelares e nos órgãos não-governamentais que trabalham em defesa da garantia dos direitos de crianças e adolescentes através de um questionário e nas secretarias de assistência, saúde e educação além dos Juízes, Promotores, defensores e Delegados mediante roteiro de entrevista semi-estruturada; O participante da pesquisa (ou voluntário da pesquisa) não é obrigado a responder as perguntas realizadas no questionário ou no roteiro de entrevista; O participante da pesquisa (ou voluntário da pesquisa) tem a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação; A desistência não causará nenhum prejuízo ao seu bem estar físico. Não virá interferir no atendimento no órgão responsável; Esta pesquisa poderá trazer riscos, tais como: a quebra de sigilo onde o material utilizado na pesquisa possa ser extraviado ou observado por pessoas que não façam parte do grupo de pesquisa; possibilidade de os sujeitos sentirem-se discriminados pelo tema que norteia a pesquisa(violência sexual), não divulgação do resultado da pesquisa individualmente, mas de modo geral; não autorização do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE pelas autoridades participantes da pesquisa; como procedimento para minimizar os riscos pode-se dialogar com as autoridades no sentido mostrar a importância e ineditismo da pesquisa e os benefícios que os seus resultados possam refletir nas comunidade brevense e cachoeirense e seu entorno, bem como, minimizar através do diálogo a possibilidade dos entrevistados sentirem-se sem segurança para responderem as perguntas assim o pesquisador mostrará todo o sigilo que as informações serão mantidas e que o acesso será somente do pesquisador. Desta forma, o pesquisador será o responsável pelas entrevistas para que assim o sigilo seja reservado. A sua participação neste projeto contribuirá para acrescentar à 114 VII) VIII) IX) X) XI) literatura dados referentes ao tema, direcionando as ações voltadas para o conhecimento e análise das políticas públicas de segurança para enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes e não causará nenhum risco à integridade física, psicológica, social e intelectual; O participante da pesquisa não receberá remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo sua participação voluntária; Os resultados obtidos durante este ensaio serão mantidos em sigilo; O participante da pesquisa concorda que os resultados sejam divulgados em publicações científicas, desde que seus dados pessoais não sejam mencionados; Durante a realização da pesquisa, serão obtidas as assinaturas dos participantes da pesquisa e do pesquisador, também, constaram em todas as páginas do TCLE as rubricas do pesquisador e do participante da pesquisa; Caso o participante da pesquisa desejar poderá pessoalmente, ou por meio de telefone entrar em contato com o Pesquisador responsável para tomar conhecimento dos resultados parciais e finais desta pesquisa. ( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa. ( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa. Belém, _____ de __________________ de _______. Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas. Desta forma autorizo a minha participação na referida pesquisa acima citada. Assinatura do participante: ________________________________________ Testemunha 1: _________________________________________________ Nome / RG / Telefone Testemunha 2: ___________________________________________________ Nome / RG / Telefone Responsável pela Pesquisa: ____________________________________________ ______________________________________________ ROSÁLIA DO SOCORRO DA SILVA CORREA Pesquisadora 91-88567110 Email: [email protected] ____________________________________________ JOÃO VITOR BARBOSA DA GAMA Pesquisador 91-84115328 Email: [email protected] 115 CERITIFICADO DE AUTORIZAÇÃO DA PESQUISA, AUTORIZADO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UNIVERSIDADE DA AMAZÕNIA 116 MEMORANDO AUTORIZANDO A PESQUISA, EMITIDO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UNIVERSIDADE DA AMAZÕNIA