CONJUNTURA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE CAFÉ
Cristiane Rachel de Paiva Felipe1; João Batista Duarte2
Resumo
Esse artigo tem como objetivo a análise da conjuntura do comércio
internacional do café, enfocando especialmente aspectos ligados à produção,
consumo, importações e exportações desse produto. Foram utilizadas
informações referentes ao período de 1961 a 2004, registradas nos bancos
de dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO) e da Organização Internacional do Comércio (OIC). Constatou-se
que a produção mundial de café é dominada pelos países tropicais, onde o
produto representa uma fonte de divisas comerciais e de recursos financeiros.
Nas cinco últimas décadas, o Brasil foi o maior produtor e também o maior
exportador de café, detendo a maior área cultivada com a cultura. Nesse
período, a maior produtividade média foi da Costa Rica e os EUA foram os
maiores importadores. A performance do mercado de cafés depende de fatores
relacionados ao sistema de produção, à infra-estrutura, aos impostos e taxas,
às informações de mercado e aos fatores institucionais. Um dos meios para
superar os problemas do mercado de café e aumentar a competitividade é a
agregação de valor, a melhoria da qualidade e a segmentação do produto. O
mercado cafeeiro tem características únicas como ocorrência de períodos de
restrição natural de oferta, contrapondo épocas de abundância. Os esforços
para controlar a produção mundial de café acabam por pressionar os preços,
e estes, as safras, causando fortes reflexos no mercado internacional, se
estendendo por pelo menos três anos. Os desafios dos países produtores, em
especial o Brasil, apontam para o incentivo do consumo mundial de café, o
marketing internacional do produto, a identificação de novos mercados, o
investimento em qualidade, a redução de custos de produção e o aumento da
produtividade, bem como os incentivos governamentais.
Palavras-chave: Coffea arabica L., importação, exportação, economia
cafeeira.
Enga. Agrônoma, Dra. Professora do Centro Universitário de Goiás Uni-ANHANGÜERA.
Engo. Agrônomo, Dr. Professor da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos
- UFG.
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CONJUNCTURE OF INTERNATIONAL TRADE OF COFFEE
Abstract
This article has as objective the analysis of the conjuncture of the international
trade of the coffee, focusing especially on aspects to the production,
consumption, import and exports of this product. The information used in this
work was obtained from Food and Agriculture Organization of the United
Nations (FAO) and International Coffee Organization (IOC) data bases. It
was verified that the coffee world production is dominated by the tropical
countries, where the product represents a source of commercial exchange value
and financial resources. In the five last decades, Brazil was the main producer
and also the biggest exporter of coffee, detaining the largest cultivated area.
In this period, highest average productivity was of Costa Rica and the main
importers were the U.S.A. The performance of the market of coffees depends
on the factors related to system of production, the infrastructure, the taxes
and fees, and information of market and the institutional factors. One of the
measures to overcome the problems of the coffee market and to increase the
competitiveness is to add value to the product, to improve quality, and to
segment the product. The coffee market has unique characteristics such as
occurrence of periods of natural restriction of offers, opposing to periods of
abundance. The efforts to control the world production of coffee pressure the
prices and the harvests, reflecting in the international market for at least three
years. The challenges of the producing countries, especially Brazil, point to
the incentive of the world consumption, investment in international marketing,
identification of new markets (including special coffees), the investment in
quality, the reduction of production costs and increasing yields, as well as the
government incentives.
Key words: Coffea arabica L., importation, exportation, coffee economy.
Introdução
Existem, atualmente, cerca de 100 espécies descritas do gênero Coffea,
mas apenas duas espécies são cultivadas: Coffea arabica L e C. canephora
(FAZUOLI, 1986). O café arábica, de qualidade superior, corresponde a
aproximadamente 61% do café comercializado no mundo. O café robusta (C.
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canephora), comparativamente de qualidade inferior, responde por cerca de
39% da produção mundial comercializável (INCAPER, 2006).
A maioria dos blends comerciais de café torrado e espresso é feita com a
utilização de café arábica e robusta. Quanto maior a qualidade desejada para
o produto, menor é o percentual de café robusta, como nos casos dos cafés
especiais ou superiores nacionais. De acordo com a classificação brasileira,
nos cafés com a designação gourmet, não é permitida a inclusão de outros
cafés se não o arábica. Contudo, a preferência por blends e pelas características
particulares dos cafés variam muito de um país para o outro, sendo possível
encontrar mercado para todos os sabores.
O agronegócio mundial do café engloba, anualmente, cerca de 91 bilhões
de dólares, envolvendo meio bilhão de pessoas, ou seja, 8% da população
(GENOMA CAFÉ, 20043). Por isso, conhecer esse mercado representa poder
e é vital para o processo de tomada de decisões empresariais, não obstante as
dificuldades de sua mensuração. O conhecimento do mercado de café permite
atingir uma forma de competição efetiva, de modo a alcançar a satisfação de
compradores e vendedores (REZENDE e ROSADO, 2003).
O objetivo desse estudo foi avaliar o panorama geral do mercado de
café no mundo e identificar os atores envolvidos nas atividades de produção,
exportação, importação e consumo do produto, bem como apontar caminhos
para a melhoria do desempenho dos países produtores nesse mercado, em
especial o Brasil.
Breve Histórico
Originário da Etiópia, antiga Absínia (leste da África), o café teve registro
de cultivo no Yemen antes mesmo do século XV. As primeiras cafeterias,
luxuosamente decoradas, surgiram no mundo Árabe e se tornaram um ponto
de encontro tanto para negociantes quanto para a sociedade. Apesar do forte
3
Folheto Lançamento Genoma Café – O Agronegócio Café no Brasil e no Mundo,
Brasília, agosto, 2004. Embrapa Café/FAPESP/Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia.
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controle das sementes férteis da planta, os holandeses conseguiram trazer o
produto para seus jardins botânicos. De lá, o café seguiu para a região atual
da Indonésia que passou a suprir a Europa, a partir de 1615, com os grãos que
eram considerados medicinais. Somente em 1720 foi aberto o primeiro café
em Veneza (OIC, 2006).
Na América do Norte, o primeiro registro do produto foi em 1615, ocasião
em que a bebida começava a ser apreciada nos maiores centros urbanos. Em
razão do interesse no comércio do café, centros financeiros americanos, como
o New York Exchange e o Bank of New York, começaram a operar negócios
com o café, originando o distrito financeiro conhecido como Wall Street.
Em 1718, o Suriname iniciou os primeiros plantios da cultura. De lá, o café
seguiu para a Guiana Francesa e, finalmente, para o Brasil. A partir de 1825, a
América Central e do Sul passaram a suprir o mundo com o café, apresentando
como maior produtor o Brasil (LEITE e SILVA, 2000).
No Brasil, o café foi um instrumento importantíssimo de crescimento
financeiro. De 1950 a 1970, a construção de estradas de ferro, portos, usinas
hidroelétricas e outras infra-estruturas foi intimamente ligada às divisas
geradas pelo comércio do café, que também financiou as primeiras indústrias
nacionais. No final do século XVIII, com a queda acentuada da produção
cafeeira do Haiti, o Brasil aumentou significativamente a sua produção de
café e passou a exportar o produto com maior regularidade. A partir de 1906,
o Brasil passou a produzir e comercializar o produto independentemente das
imposições de Portugal. Este fato se mostrou como um “grito de independência
econômico-comercial” do Brasil Império (PACHECO, 2002).
Em meados do século XIX, a expansão da economia cafeeira brasileira
introduziu modificações, como a substituição da mão-de-obra escrava pelo
trabalho assalariado dos imigrantes, a modernização dos meios de transporte,
a expansão da rede bancária e do crédito agrícola, a modernização dos portos
do Rio de Janeiro e de Santos e a dinamização das atividades comerciais.
No início do século XX, a cafeicultura despontou entre as culturas de
exportação, desbancando a cana-de-açúcar e iniciando o ciclo econômico que
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foi, sem dúvida, a mola propulsora da urbanização e industrialização do país
(PACHECO, 2002).
Atualmente, o café representa para o Brasil, assim como para os demais
países produtores, uma importante fonte de geração de emprego e renda para
todos os segmentos da atividade. Entre os principais componentes deste setor
agroindustrial, podem ser citados os fornecedores de insumos, máquinas e
equipamentos; a produção primária; primeiro processamento (maquinistas e
cooperativas); o segundo processamento (empresas de torrefação e moagem
de café solúvel); os vendedores nacionais (exportadores, cooperativas e
atacadistas); os compradores internacionais (empresas de solúvel e de
torrefação) e o varejo nacional e internacional (supermercados, pequeno
varejo, mercado institucional, lojas de café, bares, restaurantes) (SAES e
FARINA, 1999).
Produção Cafeeira
Existem quatro tipos principais de cafés produzidos no mundo. Os
“suaves colombianos” que têm como origem a Colômbia e Quênia. Os
“outros suaves” referentes aos cafés dos países centro-americanos: México,
Papua Nova Guiné, Equador e Peru. Os “naturais brasileiros” predominantes
no Brasil e Etiópia. Os “robustas” originários do Vietnã, Indonésia, Costa do
Marfim, Uganda, Tailândia e Brasil (VIANA e SILVA, 2003).
A produção mundial de café é dominada pelos países tropicais, onde o
produto representa uma fonte de divisas comerciais e de recursos financeiros.
Ao longo das cinco últimas décadas, o Brasil tem se destacado como o maior
produtor mundial, com média de 27,8% da produção mundial (Figura 1). A
Colômbia, o maior concorrente brasileiro nas Américas, produziu em média
11,4% da produção global durante o período, perdendo o posto de segundo
maior produtor para o Vietnã. Outros importantes produtores são Indonésia,
México, Costa do Marfim, Etiópia, Guatemala, Uganda, Índia, El Salvador e
Costa Rica (FAO, 2005a).
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2,500,000
1961-1969
2,000,000
.
1970-1979
1980-1989
1,500,000
t métricas
1990-1999
1,000,000
2000-2004
500,000
Outros
Costa Rica
El Salvador
Índia
Uganda
Etiópia PDR
Vietnam
Etiópia
Costa do
Marfim
México
Indonésia
Guatemala
Fonte: FAO, 2005a
Colômbia
Brasil
-
Figura 1. Produção média em toneladas (t) métricas dos países produtores de
café, nos períodos de 1961 a 1969, 1970 a 1979, 1980 a 1989, 1990 a 1999 e
de 2000 a 2004.
Das regiões produtoras, a África tem mantido sua produção de café
mais ou menos estável ao longo do tempo, com crescimento da produção e
produtividade em alguns países e decréscimo em outros. Contudo, os países
africanos, responsáveis pela produção de mais de 20 milhões de sacas ao ano
– predominantemente de café robusta destinado à exportação – muitas vezes
vendem o seu café a preços inferiores aos do mercado internacional, graças ao
reduzido custo de produção devido à exploração extrativista e disponibilidade
de mão-de-obra farta e barata. Essa atitude força as baixas de preços e conquista
o mercado quando países tradicionalmente grandes na produção de café
restringem a oferta, devido a problemas climáticos e ambientais ou de ordem
econômica (SILVA e LEITE, 2000).
Na América Central e Caribe, o crescimento da produção ocorreu até o início
dos anos 1990, se mantendo a partir daí. Por outro lado, a Ásia tem apresentado
expressivo crescimento na produção, com taxas de aumento de 6,2% ao ano nas
últimas décadas. A América do Sul é a região do mundo que mais produz café.
O Brasil e a Colômbia responderam juntos por 40% da produção mundial nas
duas últimas décadas. Mas, enquanto a produção mundial cresceu a uma taxa
geométrica de 0,89% ao ano (a.a.) naquele período, a colombiana reduziu em
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0,08% a.a. e a brasileira em 0,26% a.a. (SILVA e LEITE, 2000).
Vários fatores podem afetar a produção de café, alterando a performance
do mercado do produto. Entre eles, pode ser citada a variabilidade dos sistemas
de cultivo, a incidência de geadas e outros eventos atmosféricos prejudiciais à
cafeicultura, a bianualidade da cultura, os estoques mundiais, as informações
de mercado, a disponibilidade de crédito, as ações dos governos e outros
(CAIXETA, 2001). Independentemente da origem, reflexos dos eventos
capazes de incentivar ou penalizar a cafeicultura são observados por mais de
dois anos, já que, em média os cafezais apresentam sua primeira produção no
terceiro ano após o plantio.
Em termos de produtividade média, a Costa Rica superou nas últimas
cinco décadas os principais países produtores, com média de 19 sacas por
hectare (sc/ha). Em seguida, ficaram Vietnã (17 sc/ha); El Salvador (15 sc/
ha); Guatemala, Colômbia e Índia (todos com média de 12 sc/ha), Uganda (11
sc/ha) e Brasil (10 sc/ha). Pela Figura 2, percebe-se que houve um aumento
gradativo nas produtividades médias do Brasil, Colômbia, Vietnã, Guatemala,
República Democrata da Etiópia, Índia e Costa Rica (FAO, 2005a). Esses
aumentos foram conseguidos graças à introdução de novas tecnologias, como
a adoção de cultivares melhoradas, o controle de pragas e doenças, os cultivos
adensados, o uso de herbicidas e de sistemas de irrigação.
Fonte: FAO 2005a.
Figura 2. Produtividade média, em sacas por hectare, dos maiores produtores
de café, nos períodos de 1961 a 1969, 1970 a 1979, 1980 a 1989, 1990 a 1999
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e de 2000 a 2004.
De 1961 a 2004, houve aumentos gradativos das áreas cultivadas
apenas na Indonésia, México e Índia, tendo as áreas dos demais países
passado por flutuações consideráveis (Figura 3). Em média, a área brasileira
cultivada com café correspondeu, durante o período, a 25,7% da área mundial
ocupada pela cultura (2,6 milhões de hectares), superando em 16,7% a área
da Colômbia e em 17,8% a da Costa do Marfim. Na presente década, a área
cultivada do Brasil é, em média, 15% maior que a da Colômbia e 17,4% maior
que a da Costa do Marfim (FAO, 2005a).
Fonte: FAO, 2005a.
Figura 3. Média da área cultivada com café (em mil hectares) nos países
produtores, nos períodos de 1961 a 1969, 1970 a 1979, 1980 a 1989, 1990 a
1999 e de 2000 a 2004.
Silva e Leite (2000) apontam como os fatores externos responsáveis pelos
aumentos das áreas destinadas à cafeicultura a perda de competitividade de um
país (ou região vizinha), o surgimento de um novo mercado consumidor ou
a redução de barreiras tarifárias dos mercados já estabelecidos, a introdução
de incentivos ou subsídios governamentais e os altos preços praticados no
mercado, entre outros. Como fatores internos, citam a industrialização
crescente, a abundância e o baixo custo de mão-de-obra e o crescimento do
consumo regional.
A competitividade da atividade cafeeira requer eficiência do
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gerenciamento, alta produtividade, baixo custo de produção e comercialização
eficiente (CAIXETA, 2001). Para a autora, o segmento produtivo deve escolher
melhor a época de venda do café, visando administrar os riscos de preços
(defendendo-se contra mudanças bruscas); ganhar em produtividade e custos;
investir na qualidade do produto e, principalmente, conhecer bem a atividade.
Consumo
O café é produzido por países pobres e consumido em países ricos. Seu
consumo está relacionado com aspectos econômicos, demográficos e de
comportamento das populações dos diferentes países (SILVA e LEITE, 2000).
Geograficamente, os maiores consumidores do produto se encontram em
regiões de clima frio.
As variações no consumo de café se referem basicamente às causas
conjunturais de curto prazo, e a alterações de tendência. No primeiro caso, a
variação resulta de um fenômeno normal sobre uma dada curva da demanda, ou
seja, aumenta-se o preço do café nesse período, reduz-se o volume consumido.
No segundo, fatos como o desinteresse da população jovem americana pelo
café e o aumento da preferência pelos soft drinks provocam o deslocamento
da própria curva de demanda para patamares inferiores de consumo. Para
Moricochi et al. (1997), a alteração estrutural no mercado (renda, preferências,
etc.) relacionada ao segundo caso é a que deveria preocupar os agentes
econômicos da cadeia.
Os EUA, com demanda em torno de 18 milhões de sacas/ano nas últimas
duas décadas, são os maiores consumidores mundiais do produto. Entretanto,
Farina e Zylberstajn (1998) afirmam que o consumo naquele país tem
declinado a uma taxa próxima a 0,76% ao ano nas últimas décadas. Para eles,
essa redução ocorreu graças à instabilidade dos preços, à queda da participação
no mercado para outras bebidas e sucos e, principalmente, pela dificuldade de
transmitir aos jovens uma imagem favorável do café.
Moricochi et al. (1997) também apontam como causa da queda do
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consumo a perda de qualidade do café vendido nos EUA no passado. Segundo
os autores, essa queda foi parcialmente compensada pelo surgimento do
segmento de mercado de cafés especiais. Incluindo os gourmets com certificado
de origem (puros ou com diferentes blends); outros cafés que diferem no
ponto de torra; os com diferentes sabores; os descafeinados; os orgânicos, etc.
Eles afirmam que na categoria dos cafés gourmets estão incluídos os melhores
cafés do mundo (para o paladar americano), como o da Colômbia, os Centroamericanos e alguns da África, com pequena participação brasileira, em razão
da falta de publicidade, apesar da disponibilidade de cafés brasileiros de
excelente qualidade.
Entre os países não produtores, outros grandes consumidores são
Alemanha, Áustria, Espanha, França, Holanda, Itália, Reino Unido e
Japão (ABIC, 2006). Sendo que, nesse último, graças às altas taxas de
desenvolvimento econômico e à ocidentalização dos hábitos de consumo,
houve a maior taxa de crescimento de demanda que ficou em torno de 8,60%
nas últimas quatro décadas (SILVA e LEITE, 2000).
Dos países produtores, o Brasil tem se mostrado o maior consumidor
doméstico de café, com média de 9,6 milhões de sacas/ano, no período de
1975 a 2004, o que representa, atualmente, 43,9% do café consumido por
aqueles países (OIC, 2005a). O forte mercado interno consumidor garante
ao Brasil vantagem comparativa diante dos concorrentes, que dependem
fortemente do mercado externo para comercializar suas produções. Vantagem
comparativa se refere à capacidade de especialização de um país em relação
a outro, para a produção de mercadorias cujo custo de oportunidade (custo de
deixar de produzir um bem em detrimento de outro) é menor que no outro país
(ECONOMIA, 2006). Além do mais, os brasileiros consomem o café de baixa
qualidade que dificilmente é exportado.
Se comparado o consumo brasileiro de café durante o período de 1975
a 1979 ao de 2000 a 2004, houve um aumento de mais de 100% no último
(OIC, 2005a). De modo oposto, os demais países produtores como a Etiópia,
Colômbia, Indonésia, México, Índia, Venezuela e Filipinas exibiram poucas
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variações no consumo do produto (Figura 4).
Fonte: OIC, 2005a
Figura 4. Consumo médio de café (em mil sacas) dos países produtores, nos
períodos de 1961 a 1969, 1970 a 1979, 1980 a 1989, 1990 a 1999 e de 2000
a 2004.
Em relação ao consumo per capita, a Finlândia se posiciona como líder
frente aos países nórdicos, responsáveis pelos maiores índices mundiais
(Tabela 1). Apesar do baixo consumo per capita dos EUA, seus consumidores
de café gastaram aproximadamente uma média de U$164,71 por ano tomando
a bebida em 1999. As estatísticas americanas de consumo em 2000 mostraram
que 54% da população de adultos tomam café diariamente, somando-se
a esses mais 25% de americanos que o tomam ocasionalmente (COFFEE
RESEARCH, 2006).
Tabela 1. Consumo per capita, em quilogramas por habitante por ano, dos
principais países consumidores de café.
País
Consumo
País
Consumo
País
Consumo
País
Consumo
Finlândia
9,88
Suécia
8,00
Itália
5,40
EUA
4,07
Noruega
8,85
Alemanha
6,73
Brasil
4,88
Japão
3,17
Dinamarca
8,58
França
5,44
Espanha
4,65
Fonte: ABIC, apud Costa (2003).
Apesar dos consumidores de países ricos desembolsarem uma pequena
fortuna por uma xícara de café em bares da moda, não houve disponibilidade
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por parte deles de continuar financiando os estoques crescentes do produto.
Assim, os desequilíbrios entre oferta e demanda deixaram de ser temporários,
fazendo ruir em 1989 o esquema intervencionista coordenado pela
Organização Internacional do Café (TAVARES, 2002). Ainda assim, Caixeta
(2001) acredita que a estocagem é uma das formas de pressionar a elevação
dos preços no mercado cafeeiro.
De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC) (2005b), entre
1975 e 2004, o Brasil exibiu o maior estoque médio de café, detendo 53,2% do
volume estocado no período. Isso supera o país concorrente mais próximo, a
Colômbia, que estocou, em média, 11,6% do estoque mundial. Com exceção
do Brasil e Etiópia, os demais países reduziram seus estoques a partir de 1990
(Figura 5), período em que OIC deixou de interferir sobre eles.
Fonte: OIC, 2005b
Figura 5. Estoques médios de café (em mil sacas) dos países produtores, nos
períodos de 1961 a 1969, 1970 a 1979, 1980 a 1989, 1990 a 1999 e de 2000
a 2004.
Exportações
O café é, ainda, a segunda maior commodity comercializada no mundo,
perdendo a liderança apenas para o petróleo. Seus preços e termos dos
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contratos do mercado mundial são ditados pela New York Board of Trade
(NYBOT), o coração financeiro do agronegócio mundial do café arábica, que
também guia o comportamento das demais bolsas negociantes de contratos
do produto. Entretanto, as regras do funcionamento deste mercado continuam
sendo um mistério para os produtores agrícolas, que são gravemente afetados
pela volatilidade dos preços deste bem (TAVARES, 2002).
De acordo com a FAO (2005a), no período de 1961 a 2002, o Brasil foi
o maior exportador mundial de café, com média de 1,11 milhões de toneladas
métricas, o que correspondeu a 23,3% das exportações mundiais. A Colômbia
exportou 11,6% do total e a Alemanha – que não é produtora – se apoderou de
3,5% das exportações do período. Merece destaque o fato de que os maiores
exportadores mantiveram uma tendência de crescimento nos seus volumes
médios exportados durante esses 41 anos (Figura 6). Isso indica que a demanda
de café pelos países importadores vem crescendo periodicamente.
Segundo a OIC (2005c), entre novembro de 2004 e outubro de 2005,
os países que mais contribuíram para as exportações mundiais de café verde
foram o Brasil (30,33% referentes à arábica e robusta), o Vietnã (15,65%,
apenas robusta) e a Colômbia (12,29% exclusivamente arábica). Outros países
como a Indonésia, Guatemala, Peru, Índia, Etiópia, Uganda, Honduras, Costa
do Marfim, México, Costa Rica e El Salvador exportaram de 1,44% a 6,49%
do volume total de café.
Nesse período, o restante das exportações mundiais de café (8,72%) se
referem aos pequenos volumes exportados pela Nicarágua, Quênia, Burundi,
Ruanda, Zâmbia, Venezuela, Panamá, Bolívia, Zimbabwe, República
Dominicana, Haiti, Cuba, Malawi, Jamaica e Paraguai (exportadores de
arábica), Papua Nova Guiné, Equador, Tanzânia (arábica e robusta), Guiné,
Tailândia, Togo, República Central Africana, Filipinas, Serra Leoa, Gana,
Angola, Sri Lanka, Nigéria, Trindade e Tobago, Benin, República do Congo,
Guiné Equatorial, Gabão (robusta), Camarões, República Democrata do
Congo e Mandagascar (robusta e arábica) (OIC, 2005c).
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Fonte: OIC, 2005c.
Figura 6. Média das exportações de café (em mil toneladas métricas) dos
países produtores, nos períodos de 1961 a 1969, 1970 a 1979, 1980 a 1989,
1990 a 1999 e de 2000 a 2002.
Uma das particularidades do negócio do café é a existência de países
que importam café verde das regiões produtoras e o exportam após o processo
de torrefação. Essa atividade, denominada reexportação, exibiu uma tendência
de crescimento de 1975 a 2004. A lucratividade das reexportações é alta, já que
os países importadores compram o produto, principalmente quando o preço
está em baixa. Além disso, os importadores não sofrem com a sazonalidade
da produção, ataque de fitopatógenos, geadas e secas, ou qualquer problema
ligado à produção.
Segundo a OIC (2005d), a Alemanha liderou as reexportações, perfazendo
em média 28,7% do total de café reexportado no mundo nesse período. Em
segundo lugar ficaram os EUA com 16% do total e em terceiro a Bélgica/
Luxenburgo com 10,8% (Figura 7).
O mercado norte americano, apesar de ocupar o segundo lugar, é onde se
concentram e emanam as informações mais importantes sobre o que ocorre
mundialmente com o café, refletindo nos preços e nas relações comerciais
do produto em todo mundo (REZENDE e ROSADO, 2003). A França, que
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possui as mais tradicionais cafeterias do mundo, ocupa a quarta posição no
ranque dos reexportadores, com 7,8%, percentual este também obtido pela
Holanda. A prática de reexportações difere o produto da maioria das outras
mercadorias transacionadas entre os países, pois grande parte do mercado
cafeeiro é composta por países não produtores.
Fonte: OIC, 2005d.
Figura 7. Média das reexportações de café (em mil sacas) dos maiores reexportadores, no período de nos períodos de 1975 a 1979, 1980 a 1989, 1990
a 1999 e de 2000 a 2004.
Importações
O mercado mundial de café tem como grandes compradores e
consumidores os países desenvolvidos, que têm seu poder de barganha muitas
vezes mais forte do que o dos países produtores (TAVARES, 2002). Além
disso, as grandes corporações multinacionais exercem uma enorme força no
mercado referente à demanda, dominando as vendas de café torrado e solúvel,
que são comercializados sob numerosas marcas. A assimetria na estrutura do
mercado do lado da oferta e da demanda, segundo as autoras, permite que
estas empresas utilizem de seu poder oligopônico para captar uma parcela
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desproporcional dos benefícios do mercado de cafés verdes (TEIXEIRA e
MILHOMEM, 2001).
A média das importações mundiais de 1961 a 2003 foi de 4,1 milhões de
toneladas métricas, sendo os EUA responsáveis, em média, por 29% dessas
importações e a Alemanha por 14,5% (FAO, 2005b). Entre os importadores,
tais como, Alemanha, Itália, Japão, Espanha, Reino Unido e Canadá, percebese uma tendência de aumento nas importações de café ao longo do período
(Figura 8). Contudo, comparando-se o período de 2000 a 2003 com as duas
décadas anteriores (Figura 9), houve uma redução dos preços pagos nas
importações de café, que se mostraram intermediários em relação aos preços
praticados em todo o período analisado (FAO, 2005c). Essa redução é um dos
indícios do acirramento da concorrência internacional pelos mercados.
Fonte: FAO, 2005b.
Figura 8. Média das importações de café (em mil toneladas métricas) dos
maiores importadores mundiais, nos períodos de 1961 a 1969, 1970 a 1979,
1980 a 1989, 1990 a 1999 e de 2000 a 2003.
De acordo com Caixeta (2001), a alta variabilidade de preço e a grande
dificuldade de ajuste da produção e dos preços às condições do mercado são
peculiares do setor cafeeiro. Além disso, a autora indica que o café apresenta,
historicamente, ciclos de produção e de preço que se repetem ao longo do
tempo. Desse modo, os preços variam em função de um efeito específico na
oferta, que é crescente quando os preços se tornam altos, e decrescente quando
eles caem.
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Cristiane Rachel de Paiva Felipe e João Batista Duarte
Fonte: FAO, 2005c.
Figura 9. Valores médios pagos pelas importações de café (em milhões de
dólares) nos principais países importadores, nos períodos de 1961 a 1969,
1970 a 1979, 1980 a 1989, 1990 a 1999 e de 2000 a 2003.
Das importações de café, realizadas no período de outubro de 2004
a março de 2005, a Comunidade Européia respondeu por 64% do volume
total (46,9 milhões de sacas), sendo os maiores importadores a Alemanha
(19,30%), a Itália (7,95%) e a França (6,43%). O maior volume importado foi
dos EUA (25,76%), tendo o Japão (7,71%) exibido um considerável volume
de importação (OIC, 2005e).
Observando o panorama geral do negócio mundial de café (Figura 10),
percebe-se que, mesmo com o aumento constante no volume das importações,
o crescimento – também contínuo – da oferta (produção) parece ter sido
responsável pela redução da média de dólares gastos com importações, a
partir da década de 1980. Período este em que houve a maior movimentação
financeira da série.
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Fonte: OICe, 2005c; FAO, 2005a; FAO, 2005b; FAO, 2005c.
Figura 10. O negócio mundial do café nos períodos de 1961 a 1969, 1970 a
1979, 1980 a 1989, 1990 a 1999 e de 2000 a 2003.
O Brasil e o Negócio Mundial do Café
O panorama do comércio internacional de café pode mudar drasticamente
nos próximos anos em razão dos desastres naturais de 2004 e 2005. A onda
Tisunami na Ásia e as enchentes no Mississipi afetaram consideravelmente
nos estoques de grãos, incluindo o café. Esse novo cenário pode reaquecer
os preços praticados nas importações e privilegiar o Brasil durante a atual
década, quando, segundo a CONAB (2005a), deverá produzir entre 40,43 a
43,58 milhões de sacas anuais. Esses números representam um crescimento
entre 22,7% a 32,3% em relação à safra atual.
No Brasil, o Estado de Minas Gerais é o maior produtor de café arábica
e, segundo levantamento do IBGE (2005), produz 46,7% do café nacional.
Outros Estados produtores são Espírito Santo (24,7%), São Paulo (9,3%),
Paraná (4,0%), Bahia (6,5%), Goiás (0,7%), entre outros (Figura 11). Em
termos de produtividade, São Paulo lidera com 28,68 sc/ha, Minas Gerais
produz em média 18,75 sc/ha e Mato Grosso apresenta a menor produtividade,
8,98 sc/ha (CONAB, 2005b).
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Cristiane Rachel de Paiva Felipe e João Batista Duarte
Fonte: IBGE, 2005.
Figura 11. Produção de café, em milhares de toneladas, dos Estados brasileiros
nos anos 2004 e 2005.
Além de investir em produtividade, os cafeicultores brasileiros passaram
a investir na diferenciação por qualidade, para superar os problemas dos baixos
preços pagos pelos cafés nos mercados nacional e internacional. Segundo
Teixeira (2000), citada por Teixeira & Milhomem (2001), os produtores
que, de alguma forma, levaram mais de um único tipo de produto para o
mercado conseguiram uma maior valorização dos seus produtos, tornandose mais competitivos. A autora cita o caso do mercado específico de cerejas
descascadas como um exemplo de melhoria no retorno da atividade cafeeira.
Embora tenha havido crescimento na produção nacional de café, a média
dos estoques brasileiros de janeiro a outubro de 2005 ficou 60% abaixo do
volume médio estocado em 2004 (Figura 12), e 63% abaixo do volume de
2003, segundo as estatísticas da CONAB (2005c). Essa redução parece ter
ocorrido em razão do aumento das exportações de café nos últimos anos
(Figura 10) e, também por causa do aumento do consumo interno (ABIC,
2005a). De acordo com essa instituição, o consumo total de maio de 2004 a
abril de 2005 superou em 3,55% o consumo de novembro de 2003 a outubro
de 2004 (Figura 13).
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Fonte: CONAB, 2005c; ABIC, 2005a.
Figura 12. Estoques brasileiros de café, ao longo do ano, em toneladas, em
2003, 2004 e 2005.
Fonte: ABIC, 2005a.
Figura 13. Consumo total (em milhões de sacas) e por segmento da cadeia do
café, no período de novembro de 2003 a outubro de 2004 e no período de maio
de 2004 a abril de 2005.
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De acordo com a OIC (2005a), o Brasil é o segundo maior consumidor
de café, perdendo apenas para os EUA. O hábito de tomar um cafezinho é
comum do norte ao sul do país e tem, ao longo dos tempos, arrebanhado mais
consumidores. Segundo Vieira e Carvalho (2000), o consumidor brasileiro
tem se tornado bem mais exigente em relação à qualidade, buscando uma
bebida prazerosa, de sabor especial, mais do que um simples líquido.
De 1990 para 2005, o consumo interno nacional saltou de 8,2 para
15,5 milhões de sacas/ano. Até 1959, o consumo brasileiro de café era
relativamente baixo. Mas, de acordo com Marques (1987), a implantação,
em 1958, da “Campanha de Aumento do Consumo Interno de Café” pelo
Instituto Brasileiro do Café (IBC), resultou em um significativo crescimento
na quantidade consumida internamente no país. Ainda que sutilmente, o
consumo per capita de café em grãos se manteve crescente de 1985 a 2004,
de 2,83 para 5,19 kg/habitante/ano, assim como o consumo per capita de café
torrado, de 2,27 para 4,15 kg/habitante/ano (ABIC, 2005a).
Em se tratando das exportações brasileiras de café, houve uma redução
a partir do Acordo Internacional do Café (AIC), que vigorou de 1962 a 1989.
Segundo Teixeira e Milhomem (2001), o Brasil era responsável por cerca de
80% das exportações de café, tendo reduzido esse total para 40% na década
de 1950, e para 25% na década de 1980. Entretanto, a média das exportações
referente ao período de 2000 a 2003 (1,44 milhões de toneladas) superou em
21,7% a média geral da década de 1990 (1,13 milhões de toneladas) (FAO,
2005a), indicando uma recuperação da participação brasileira no mercado
internacional de café.
De janeiro a junho de 2005, o Brasil exportou 692.156 toneladas de café em
grão e 37.574 toneladas de café solúvel, recebendo por estas, respectivamente,
US$1.262.292.000,00 e US$164.254.000,00. Nesse período, grande parte
das exportações brasileiras de café em grãos teve como destino a Alemanha
(19,27%), EUA (16,44%) e Itália (11,07%). Países como Japão, Bélgica,
França, Espanha, Eslovênia, Suécia, Argentina, Holanda, Finlândia, Grécia,
Canadá e Dinamarca receberam de 1% a 9% do volume total das exportações
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CONJUNTURA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE CAFÉ
nacionais, restando apenas 13% do volume que foi destinado a outros países
(ABIC, 2005a).
No panorama geral das exportações brasileiras de cafés verdes, o preço
médio recebido em 2004 foi de US$ 73,97/saca de sessenta quilos, resultando
em uma receita de 1,75 bilhões de dólares (Abic, 2005b). Entretanto, em 2005,
a média de preços recebidos de janeiro a outubro pelos cafés “arábicas naturais
brasileiros”, junto aos mercados americano e alemão, foi de US$136,51/
saca, o que deve levar a um aumento considerável de retorno na atividade e
incentivar a produção de cafés de qualidade superior (OIC, 2005f). Uma série
histórica, com as médias mensais dos indicadores de preço OIC para os cafés
naturais brasileiros e de outros cafés naturais, de janeiro 1976 a setembro de
2005, pode ser observada na Figura 14 (OIC, 2005g).
Fonte: OIC, 2005g.
Figura 14. Médias mensais dos indicadores de preços da OIC, em US$/kg,
para os cafés naturais do Brasil e de outros países, entre janeiro de 1976 e
outubro de 2005.
A performance do mercado de cafés depende de uma série de fatores.
Entre eles podem ser listados o sistema de cultivo, a distribuição dos insumos
e produto, a infra-estrutura, a tecnologia de produção, os impostos e taxas, as
informações de mercado, o manejo de risco, o financiamento, o monitoramento
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Cristiane Rachel de Paiva Felipe e João Batista Duarte
e regulação do mercado, e os fatores institucionais, como o papel dos governos
e autoridades reguladoras das variáveis macroeconômicas (MILHOMEM et
al., 2001). Um dos caminhos para superar os problemas do mercado de café e
aumentar a competitividade é a agregação de valor, a melhoria da qualidade
e a segmentação do produto. Por isso, vários atributos de qualidade, passíveis
de certificação, vêm sendo incorporados nos segmentos agroindustriais, como
instrumentos de concorrência do produto final (TEIXEIRA e MILHOMEM,
2001).
De acordo com Leite e Silva (2000), o mercado internacional de café
reconhece como atributos dos cafés especiais, os cafés de origens específicas,
os blends, os tipos de torração, os cafés com flavors e os descafeinados.
Contudo, os cafés especiais requerem mais cuidados, seja na seleção dos
grãos, no processo de secagem e preparo, nos métodos de cultivo e na seleção
de sabores. Em contrapartida, tais cafés têm preço diferenciado e mercados
em crescimento e aumentando a rentabilidade da atividade.
Mister se faz, então, a reestruturação produtiva, a permanente inovação
tecnológica com produtividade, qualidade, recursos humanos qualificados,
constituindo-se novos parâmetros de competitividade, pois atuar nesse
mercado requer competência, eficácia e profissionalismo. Em suma, a
competitividade do setor cafeeiro requer maior rentabilidade (menor custo
e maior produtividade), administração adequada, programação empresarial,
comercialização eficiente e investimento na produção de cafés especiais
(CAIXETA, 2001).
Considerações Finais
O café é um dos produtos de origem agrícola de maior importância
econômica para os países produtores (tropicais) e re-exportadores. Entretanto,
esse mercado tem características únicas, como a ocorrência de períodos de
restrição natural de oferta, contrapondo épocas de abundância. O Brasil, por seu
forte consumo e produção, é uma das poucas exceções à dicotomia “produçãoRevista Anhangüera v.9 n.1 jan./dez. p.9-36
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CONJUNTURA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE CAFÉ
consumo” observada nos países envolvidos no comércio internacional do
produto. Isso ocorre porque o consumo interno é grande, e também pelo fato
de que os brasileiros consomem cafés de qualidade inferior (abaixo de bebida
“riada”), que dificilmente seriam exportados.
Os esforços para controlar a produção mundial de café acabam por
pressionar os preços, e estes, as safras, causando fortes reflexos no mercado
internacional, o que se estende por pelo menos três anos (período médio para o
início da produção de café em uma lavoura). Os desafios dos países produtores,
em especial o Brasil, apontam para o incentivo do consumo mundial de café,
o marketing internacional do produto, a identificação de novos mercados
(incluindo o de cafés especiais), o investimento em qualidade, a redução de
custos de produção e o aumento da produtividade, bem como os incentivos
governamentais.
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