Observatório Iberoamericano de Políticas e Sistemas de Saúde Projeto de pesquisa: Desenvolvimento da Matriz Analítica Oficina de Trabalho PROPOSTA DE INDICADORES SOBRE TRABALHO EM ATENÇÃO PRIMÁRIA Patrícia Barbosa 22 de Novembro de 2012 Índice Introdução ..................................................................................................................................... 3 Enquadramento ............................................................................................................................ 3 Atenção primária ....................................................................................................................... 3 Indicadores de saúde ................................................................................................................ 6 A matriz analítica ........................................................................................................................... 6 Dimensões selecionadas para a definição dos indicadores .......................................................... 6 Estrutura.................................................................................................................................... 7 Processo .................................................................................................................................... 7 Resultado................................................................................................................................... 7 Critérios de seleção de indicadores .............................................................................................. 7 Perguntas a que os indicadores procuram responder .................................................................. 7 Proposta de indicadores................................................................................................................ 8 Estrutura.................................................................................................................................... 9 Processo .................................................................................................................................... 9 Resultado................................................................................................................................. 10 Proposta de elementos a constar na ficha técnica ..................................................................... 10 Possíveis viéses............................................................................................................................ 14 Fontes de informação a considerar............................................................................................. 14 Existência de fontes de informação que cubram os indicadores selecionados, nos países participantes ............................................................................................................................... 15 Exemplo de output sugerido ....................................................................................................... 16 Conclusões .................................................................................................................................. 16 Referências bibliográficas ........................................................................................................... 18 2 Introdução O presente documento tem por objetivo apresentara proposta de um conjunto de indicadores para acompanhamento da área temática “Trabalho em Atenção Primária”, considerando a validade do conteúdo e a viabilidade dos sistemas de informação existentes nos países. Para tal, procedeu-se a uma revisão bibliográfica sobre indicadores em atenção primária. Esta revisão incidiu, essencialmente, naquele que foi o trabalho de Barbara Starfield e nas principais caracteristicas que atribuiu à atenção primária, mais detalhadas no enquadramento deste documento. Após uma abordagem aos principais elementos da atenção primária, optou-se por utilizar a estratégia de Donabedian para apresentar a seleção de indicadores de acordo com a sua categoria – estrutura, processo e resultado. A pesquisa efetuada resultou num vasto conjunto de indicadores em atenção primária, que fazem parte de várias fontes de informação distintas. Decidimos iniciar este trabalho com base na lista de 53 indicadores utilizados pelo Ministério da Saúde de Portugal, para avaliar a atenção primária. Todavia, e como este não é um estudo em exclusivo sobre Portugal, foi realizada uma nova pesquisa com o objetivo de verificar se os mesmos indicadores existiam em outras fontes de informação, de âmbito internacional. Estapesquisafoirealizadaaonível da OCDE (Health at a Glance e Stat Extracts), Estatísticass da Saúde da OMS, Global Health Observatory Data Repository da OMS, ,PRO_ADESS, Observatório Regional da Organização Pan-Americana de Saúde, Agency for Healthcare Research and Quality (Quality Indicators) dos EUA, Canadian Institute of Health Indicators, European Community Health indicators Monitoring, Kaiser Foundation, NHS Indicators for Quality Improvement e Australian National Institute of Health and Welfare (National Indicator Set). Após esta fase, foi selecionado um conjunto de 12 indicadores sobre os quais é possível buscar informação nas bases de dados internacionais acima mencionadas. Contudo, não deixa de ser importante deixar espaço para que cada país participante indique se existem, a nível nacional, fontes de informação credíveis que possam responder a uma análise sobre os indicadores identificados. Enquadramento Atenção primária O grande contributo para a definição de atenção primária resultou da conferência de Alma – Ata (1978), onde participaram cerca de 134 países. Segundo o entendimento global alcançado neste encontro, a atenção primária pode ser definida como «os cuidados essenciais de saúde 3 baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante a sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país podem manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e autodeterminação. Representam o primeiro nível de contacto dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde». Em termos práticos, a atenção primária pode ser distinguida de outros tipos de cuidados de saúde pelas características clínicas dos seus doentes, que incluem a diversidade do diagnóstico e a componente relacionada com a prevenção da doença. Contribuem também para a sua caracterização elementos como a acessibilidade, as parcerias estabelecidas e o contexto familiar e de comunidade (Starfield, 1998; Silva et al, 2012). Segundo Barbara Starfield, as principais caracteristicas deste nível de cuidados centram-se no facto de representarem o primeiro contacto do usuário com o sistema de saúde, incluindo aqui a noção de gatekeeper, na sua longitudinalidade, por acompanharem o ciclo de vida do usuário, a globalidade e a coordenação/integração com outros níveis de cuidados (Starfield, 1998; Starfield; Shi; Macincko, 2005;Silva et al, 2012). O facto da atenção primária representar o ponto de entrada do usuário no sistema e o seu papel de gatekeeper, implica, necessariamente o conceito de acesso. A acessibilidade apenas será mensurável se a sua utilização for efectiva. O acesso mede-se, portanto, através de indicadores de estrutura. A avaliação da acessibilidade e da utilização dos serviços é fundamental (Biscaia, 2003; Starfield; Shi; Macincko, 2005 Starfield; Rajmil; et al, 2006; Silva et al, 2012). A longitudinalidade da atenção primária, está relacionada com o facto de acompanhar o ciclo de vida do usuário, ao longo do tempo e de todos os seus problemas de saúde (e prevenção da doença). Não se limita ao tratamento e acompanhamento de episódios específicos sem continuidade (Biscaia, 2003; Starfield; Shi; Macincko, 2005; Harzheim; Starfield; Rajmil; et al, 2006; Silva et al, 2012). A sua globalidade, pressupõe que devem disponibilizar cuidados à globalidade da população, independentemente de suas caracteristicas especificas, devendo prestar um leque muito variado de cuidados, diretamente ou através de um processo de referenciação para outro tipo de cuidados. A atenção primária implica igualmente os conceitos de coordenação e integração, com a comunidade e com os outros níveis de cuidado (processo) (Starfield, 1998; Biscaia, 2003; Harzheim; Starfield; Rajmil; et al, 2006; Macinko; Starfield; Shi, 2003; Silva et al, 2012) Desde a Declaração de Alma Ata que a atenção primária tem vindo a assumir cada vez mais importância, sobretudo naquilo que representa para a eficiência dos sistemas de saúde. Porém, nem todos os países estão ao mesmo nível naquilo que respeita o desenvolvimento e organização deste nível de cuidados. A evidência científica parece demonstrar que os sistemas de saúde que distribuem os seus recursos de acordo com as necessidades de saúde da 4 população, que assumem responsabilidade para o financiamento dos serviços, e que permitem uma grande variedade de serviçosna atenção primária, são mais efectivos, assim como aqueles em que a atenção primária está organizada segundo listas de doentes, capitações mistas e sem co-pagamentos são mais custo-efectivos. A Organização Mundial de Saúde realça a importância dos sistemas de saúde serem organizados com maior peso para a atenção primária, tendo em conta os determinantes sociais, o equilíbrio entre prevenção, promoção e atos curativos e devem basear-se no primeiro nível de cuidados, com metodologia de referenciação para os cuidados secundários e terciários apenas quando necessário (Rawaf; Maeseneer; Starfield, 2008; Silva et al, 2012). Segundo a revisão bibliográfica efetuada, Starfield identifica seis mecanismos que, isoladamente ou em associação, podem contribuir para beneficiar a saúde da população (Starfield; Shi; Macincko, 2005; Silva et al, 2012): Maior acesso aos serviços; Melhor qualidade dos cuidados; Maior foco na prevenção; Gestão precoce dos problemas de saúde; O efeito acumulado das principais características de prestação de cuidados primários Papel da atenção primária na redução de cuidados desnecessários e potencialmente não-benéficos cuidados especializados (Starfield; Shi; Macincko, 2005; Silva et al, 2012). É defendido que cerca de metade dos ganhos em saúde das populações, são atribuídos aos serviços de saúde. Nas duas últimas décadas a atenção primáriatem sido relacionada com os indicadores mais comuns de saúde das populações. Nos países desenvolvidos a atenção primária está associada a baixas percentagens de recém-nascidos de baixo peso, menor mortalidade por enfarte e menores taxas de mortalidade pós-neonatal(Beasley; Starfield; Weel et al., 2007; Shi; Starfield; Kennedy, 1999; Silva et al, 2012). A atenção primária contribui para a redução dos efeitos adversos na saúde, das desigualdades sociais (Shi; Starfield; Kennedy, 1999; Silva et al, 2012). A Organização Mundial de Saúde reconhece o papel da atenção primária como promotora da acessibilidade e da aceitabilidade de cuidados para os doentes, assegura a distribuição equitativa dos recursos de saúde, integra e coordena cuidados de saúde curativos, paliativos, preventivos e de promoção e aumenta o custo efectividade dos serviços (Starfield, 1992; Silva et al, 2012). Contribui assim para a prevenção da doença e para a reduçãodas taxas de mortalidade, tendo influência direta com a incidência de acidentes vasculares cerebrais (Shi; Starfield; Kennedy, 1999; Silva et al, 2012). Uma prestação de cuidados primários de qualidade está associada a menores taxas de mortalidade e menores taxas de mortalidade prematura e a um melhor tratamento de doenças passíveis de prevenção, incluindo asma, doenças cardiovasculares (DCV), pneumonias, entre outras. Vários estudos demonstram que a saúde é melhor em áreas com mais médicos de cuidados primários e que as pessoas que recebem cuidados de saúde destes médicos são mais saudáveis e apresentam menores taxas de mortalidade por cancro, DCV e enfarte (Macinko; Starfield; Shi, 2003; Starfield; Shi; Macinko, 2005; Silva et al, 2012). 5 Indicadores de saúde Os indicadores de saúde são valores, expressos por taxas ou percentagens, calculados em relação a uma determinada população, que permitem fazer uma avaliação estatística sobre a saúde dessa população. São utilizados em processos de monitorização, sendo que refletem as evoluções e mudanças ao longo do tempo (Barron, Monticelli, 2007). São instrumentos poderosos para a medição da mudança, mas apresentam igualmente algumas limitações. Estas passam pelo facto de indicarem possíveis problemas e de contribuírem para a colocação de questões de aprofundamento, mas não permitem uma visão das causas dos problemas. Outra limitação apontada está no facto de um indicador isolado, por si só, não ter grande representatividade, sendo que necessita do estabelecimento de comparações ao longo do tempo ou entre regiões, para obter significado (Barron, Monticelli, 2007). Qualquer indicador utilizado numa matriz de análise, deve ter por base um conjunto de critérios de relevância (devem estar relacionados com os objetivos do estudo que se pretende desenvolver e a informação neles contida deve ser utilizável), de utilidade (devem ser úteis para a decisão, para avaliação e comparação e devem ser provido do nível de consistência necessária ao estudo), de exequibilidade e devem ainda ser cientificamente aceitáveis (especificações precisas, fiabilidade, validade e adaptabilidade) (McGlynn et al, 2003). A definição de um indicador pressupõe a existência de vários elementos, entre os quais, a sua designação e descrição, elementos necessários ao seu cálculo, orientações sobre a recolha dos dados e fontes de recolha, população em análise, periodicidade e forma de apresentação de resultados, entre outros aspetos que se considerem pertinentes para o estudo em causa. Com base nestes elementos, é possível proceder à elaboração de fichas técnicas individuais, por indicador (Barron, Monticelli, 2007). A matriz analítica O objetivo do estudo que enquadra este documento, é o de desenvolver uma matriz analítica para a acompanhamento dos sistemas de saúde, a ser adotada pelo OIAPSS. O quadro concetual que fundamenta a construção da matriz é baseado no projeto sobre desenvolvimento de metodologia de avaliação do desempenho do sistema de saúde PROADESS. A este trabalho, foram acrescentadas algumas áreas temáticas consideradas prioritárias para o Observatório, nomeadamente o trabalho em atenção primária. Dimensões selecionadas para a definição dos indicadores Embora exista evidência e experiências sobre a seleção de indicadores de acordo com as categorias de acesso, qualidade e eficiência, para a seleção das dimensões em que os indicadores se inserem, após revisão de literatura, optou-se pelo alinhamento da estratégia de Donabedian (1980), em que distingue as dimensões estrutura, processo e resultado. Assim, decidiu-se selecionar indicadores de acordo com cada uma destas três dimensões. 6 Estrutura A estrutura, segundo Donabedian, refere-se às condições físicas, humanas e organizacionais em que os cuidados têm lugar. Engloba os recursos físicos, humanos, materiais e financeiros, necessários para a prestação de cuidados de saúde. Alguns indicadores de estrutura, dizem respeito à existência de pessoal de saúde, de estruturas físicas e equipamentos. Processo A dimensão processo refere-se ao contexto onde se verifica a relação entre o prestador e o usuário. É o processo dinâmico dos cuidados de saúde. Alguns indicadores de processo são, por exemplo, a prescrição de meios complementares de diagnóstico, a verificação de exames ou a execução de procedimentos ou atos médicos. Resultado O resultado representa o produto final da assistência prestada, considerando a saúde e a satisfação de padrões e de expectativas. Como indicadores de resultado, apresenta-se o exemplo da morbilidade, mortalidade, estado de saúde, qualidade de vida, satisfação dos utentes etc. Critérios de seleção de indicadores A seleção dos indicadores que aqui se apresentam, teve por base critérios de validade de conteúdo, validade de predição e validade operacional. Foi levada em conta a relevância do indicador, em função dos objetivos, a relevância para a tomada de decisão e a sua facilidade de cálculo, assim como a existência de fontes de informação válidas, a nível internacional. Perguntas a que os indicadores procuram responder Qual a dimensão da atenção primária? Os recursos humanos disponiveis são suficientes para garantir o acesso? A utilização dos serviços responde às necessidades? De que modo a prática dos profissionais de atenção primária promove os programas de vigilância da saúde? De que forma o processo, a forma como decorre a atenção primária, contribui para os ganhos em saúde? De que forma a atenção primária e o modo como esta é prestada permite a representação do papel de gatekeeper do sistema? Que ganhos em saúde advém da atenção primária? Qual a perceção dos usuários, relativa à qualidade dos cuidados prestados? 7 Proposta de indicadores A lista inicial era composta pelos seguintes indicadores: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. Percentagem de consultas ao utente pelo seu médico de família Taxa de utilização global de consultas médicas (em atenção primária) Taxa de visitas domiciliárias médicas por 1000 inscritos Taxa de utilização de consultas de planeamento familiar Percentagem de grávidas com primeiras consultas no primeiro trimestre Percentagem de grávidas com 6 ou mais consultas médicas em saúde materna Percentagem de grávidas com 6 ou mais consultas de enfermagem em saúde materna Percentagem de grávidas com revisão de puerpério efetuada Percentagem de recém nascidos, de termo, com baixo peso Percentagem de primeiras consulatas na vida efetuadas até aos 28 dias Percentagem de recém nascidos com visita domiciliária de enfermagem até aos 15 dias Percentagem de diagnósticos precoces realizados até ao sétimo dia devida do recém nascido Percentagem de crianças com pelo menos 6 consultas de vigilância de saúde infantil dos 0 aos 11 meses Percentagem de crianças com pelo menos 3 consultas médicas de saúde infantil no 2º ano de vida Percentagem de inscritos com peso e altura registados nos últimos 12 meses Percentagem de crianças com PNV atualizado aos 2 anos Percentagem de crianças com PNV atualizado aos 6 anos Percentagem de crianças com PNV atualizado aos 13 anos Percentagem de crianças, com 6 anos completos, que realizaram o exame global de saúde Percentagem de utilizadores com vacina antitetanica atualizada Percentagem de mulheres entre os 50 e 69 anos com mamografia registada nos últimos dois anos Percentagem de mulheres entre os 25 e 64 anos com colpocitologia atualizada (uma em 3 anos) Percentagem de inscritos entre os 50 e 74 anos com rastreio de cancro colo retal efetuado Percentagem de inscritos com diagnóstico de diabetes Incidência de amputações major, de membro inferior, em diabéticos na população residente Percentagem de diabéticos com compromisso de vigilância Percentagem de diabéticos com pelo menos HbA1C registadas nos últimos 12 meses desde que abranjam 2 semestres Percentagem de diabéticos com pelo menos um exame dos pés registado no ano Percentagem de diabéticos abrangidos pela consulta de enfernagem Percentagem de inscritos com diagnóstico de hipertensão Percentagem de hipertensos com compromisso de vigilância Percentagem de hipertensos com registo de pressão arterial em cada semestre Percentagem de hipertensos com vacina antitetatica atualizada 8 34. Incidência de acidentes vasculares cerebrais na população residente com menos de 65 anos 35. Percentagem de inscritos com diagnóstico de asma 36. Percentagem de inscritos com diagnóstico de doençã pulmonar obstrutica crónica 37. Consumo de medicamentos ansioliticos, hipnóticos e sedativos e antidepressivos no mercado do SNS em ambulatório (DDD/1000hab/dia) 38. Taxa de referenciação por utilizador 39. Percentagem de devoluções aos cuidados primários por falta de informação clinica e administrativa 40. Percentagem de episódios agudos que deram origem a codificação de episódio 41. Percentagem de utilizadores satisfeitos e muito satisfeitos 42. Percentagem de consumo de medicamentos genéricos em valor financeiro no consumo total de medicamentos 43. Percentagem de consumo de medicamentos genéricos em embalagens, no total de embalagens de medicamentos 44. Percentagem de consumo de quinolonas no consumo total de antibióticos 45. Custo médio de medicamentos faturados por utilizador 46. Percentagem de prescrição de cefalosporinas no consumo total de antibióticos 47. Percentagem de prescrição de quinolonas no consumo total de antibióticos 48. Percentagem do custo dos inibidores da DPP-IV no custo total dos antidiabéticos orais (medicamentos faturados 49. Custo médio de MCDT faturados por utilizador 50. Percentagem de utentes hipociagulados ativos no Programa TAO 51. Percentagem de doentes tratados por ECCI/ doentes referenciados do ACES para ECCI 52. Monitorização do grau de satisfação de serviço público – mediana de tempo de resolução de reclamações 53. Percentagem de agrupamentos de escolas/escolas agrupadas com projetos de saúde formalizados e implementados. Desta lista, foram selecionados os indicadores que parecem mais adequados para uma análise internacional, que abrange países muito distintos e sobre os quais existe informação disponível. Estrutura Os indicadores de estrutura selecionados pretendem analisar os recursos humanos disponiveis na atenção primária, a utilização dos serviços e de que modo estes dados influenciam o acesso da população, verificando ainda se está a ser conseguido o papel de gatekeeper do sistema. 1. Taxa de utilização global de consultas 2. Percentagem de médicos de família a exercer em unidades de atenção primária 3. Percentagem de enfermeiros a exercer em unidades de atenção primária Processo Os indicadores de processo pretendem verificar se a prática clínica dos médicos de família e dos profissionais em geral da atenção primária, tem sido efetiva e se contribui para o sucesso 9 dos programas de vigilância específicos e ainda, em termos globais, seu contributo para os ganhos em saúde. 4. Percentagem de mulheres entre os 50 e 69 anos com mamografia registada nos últimos dois anos 5. Percentagem de recém nascidos com visita domiciliária de enfermagem até aos 15 dias de vida 6. Taxa de referenciação por utilizador 7. Percentagem de crianças com PNS atualizado aos 6 anos 8. Percentagem de crianças com PNS atualizado aos 13 anos 9. Percentagem de consumo de quinolonas no consumo total de antibióticos Resultado Os indicadores de resultado pretendem avaliar os ganhos em saúde e a qualidade dos cuidados prestados, segundo as perceções de satisfação dos usuários. 10. Percentagem de recém nascidos de termo, com baixo peso 11. Incidência de acidentes vasculares cerebrais na população residente, com menos 65 anos 12. Percentagem de utilizadores satisfeitos e muito satisfeitos Proposta de elementos a constar na ficha técnica Indicador 1 Tipo de indicador Objetivo Cálculo Periodicidade Fontes de informação Observações Indicador 2 Tipo de indicador Objetivo Cálculo Periodicidade Fontes de informação Taxa de utilização global de consultas Estrutura / Acesso Avaliar o acesso a consultas médicas pela população inscrita Nº de inscritos com pelo menos uma consulta médica/Nº de inscritos Mensal Portugal –INE Eurostat O conceito de inscritos pode não interpretado da mesma forma nos diferentes paises Percentagem de médicos de família a exercer em unidades de atenção primária Estrutura - Acesso Avaliar a disponibilidade de médicos de família a exercer em atenção primária Nº de médicos de família/ nº total de médicos Anual Portugal –INE Eurostat Observações 10 Indicador 3 Tipo de indicador Objetivo Cálculo Periodicidade Fontes de informação Percentagem de enfermeiros a exercer em unidades de atenção primária Estrutura - Acesso Avaliar a disponibilidade de enfermeiros a exercer em atenção primária Nº de médicos de família/ nº total de médicos Anual Portugal –INE Eurostat Observações Indicador 4 Tipo de indicador Objetivo Cálculo Periodicidade Fontes de informação Percentagem de mulheres entre os 50 e 69 anos com mamografia registada nos últimos dois anos Processo – Qualidade técnica, efectividade Avaliar a cobertura da vigilância oncológica/rastreios Nº demulheres com registo de mamografia realizada nos últimos 2 anos/ nº total de mulheres inscritas entre os 50 e 69 anos Mensal Portugal – ACSS Eurostat Observações Indicador 5 Tipo de indicador Objetivo Cálculo Periodicidade Fontes de informação Observações Indicador 6 Tipo de indicador Objetivo Cálculo Periodicidade Fontes de informação Observações Percentagem de recém nascidos com visita domiciliária de enfermagem até aos 15 dias de vida Processo – Qualidade técnica, efetividade Identificar as situações socio-familiares que necessitem de acompanhamento provilegiado Nº de recém nascidos que receberam consultas de enfermagem no domicilio até ao 15º dia de vida/ nº de recém nascidos até ao 15º dia, inscritos Mensal Portugal - ACSS Não existe informação referente a todos os países Taxa de referenciação por utilizador Processo – Qualidade técnica, efetividade Medir a capacidade de resolução por prestador de cuidados primários Nº de utentes referenciados para consulta hospitalar/nº de utilizadores Trimestral Portugal - ACSS Office of Population Censuses and Surveys, Royal College of General Practitioners, Department of Health and Social Security. Morbidity Statistics from General Practice O processo de referenciação pode ter especificidades 11 Indicador 7 Tipo de indicador Objetivo Descrição Cálculo Periodicidade Fontes de informação Observações Indicador 8 Tipo de indicador Objetivo Descrição Cálculo Periodicidade Fontes de informação Observações Indicador 9 Tipo de indicador Objetivo Descrição Cálculo Periodicidade Fontes de informação Observações Percentagem de crianças com PNS atualizado aos 6 anos Processo – Qualidade técnica, efetividade Monitorizar o cumprimento do PNV aos 7 anos Indicador que exprime a percentagem de utentes inscritos, com 7 anos completos, que tem o PNV atualizado Nº crianças com 7 anos com PNV atualizado/nº de crianças que completam os 7 anos no período em análise mensal Portugal - ACSS OCDE – Health at a Glance O PNV pode ter caracteristicas diferentes Percentagem de crianças com PNS atualizado aos 13 anos Processo – Qualidade técnica, efetividade Monitorizar o cumprimento do PNV aos 14 anos Indicador que exprime a percentagem de utentes inscritos, com 14 anos completos, que tem o PNV atualizado Nº crianças com 14 anos com PNV atualizado/nº de crianças que completam os 14 anos no período em análise mensal Portugal - ACSS OCDE – Health at a Glance O PNV pode ter caracteristicas diferentes Percentagem de consumo de quinolonas no consumo total de antibióticos Processo - eficiência Monitorizar o consumo de quinolonas no consumo total de antibióticos Indicador que exprime em valor percentual, o peso dos custos com quinolonas face à totalidade dos custos com antibióticos no mercado SNS em ambulatório Custo com quinolonas (valor faturado em PVP)/custo com antibióticos (valor faturado em PVP) Mensal Portugal - ACSS European Surveillance of Antimicrobial Consumption O consumo de quinolonas pode não ter nos outros países o significado que tem em Portugal 12 Indicador 10 Tipo de indicador Objetivo Descrição Cálculo Periodicidade Fontes de informação Observações Indicador 11 Tipo de indicador Objetivo Descrição Cálculo Periodicidade Fontes de informação Percentagem de recém nascidos de termo, com baixo peso Resultado – qualidade técnica, efetividade Identificar as situações de recém-nascidos, de termo, que apresentam baixo peso (-2500gr) ao nascer Indicador que exprime a percentagem de recém nascidos de termo, que apresentam baixo peso ao nascer Nº de recém nascidos com peso inferior a 2500gr ao nascer/nº de recém nascidos de termo, com registo de nascimento no período em análise Trimestral Portugal – ACSS, OCDE, OMS Incidência de acidentes vasculares cerebrais na população residente, com menos 65 anos Resultado – Qualidade ténica, efetividade Avaliar a efetividade do controlo das doenças cardiovasculares na comunidade Indicador que exprime os resultados em saúde alcançados Nº de episódios de AVC em utentes com idade inferior a 65 anos/nºde residentes na área geográfica, com idade inferiior a 65 anos Trimestral Portugal - ACSS OCDE – Health at a Glance OMS Health Statistics Observações Indicador 12 Tipo de indicador Objetivo Descrição Cálculo Periodicidade Fontes de informação Percentagem de utilizadores satisfeitos e muito satisfeitos Resultado – qualidade percecionada Avaliar a perceção dos cidadãos face à qualidade da prestação de cuidados de saúde Indicador que exprime a percentagem de utilizadores satisfeitos e muito satisfeitos com os cuidados de saúde prestados Nºde utilizadores satisfeitos e muito satisfeitos/ nº de utlizadores que responderam ao inquérito de satisfação Anual Portugal - ACSS Possibilidade de se efetuar inquérito periódico (anual) Observações Trata-se de indicadores cuja peridicidade de recolha de informação é diversificada, pelo que a análise deve ser anual. Para a identificação de tendências evolutivas, não se devem considerar períodos inferiores a 3 anos. 13 Possíveis viéses Na pesquisa efetuada, foram encontrados alguns indicadores relacionados com o acesso do usuário ao seu médico/ prestador regular. A existência de um médico de família com uma lista especifica de usuários inscritos é limitada a um conjunto reduzido de países. Pareceu por isso suscetivel de gerar viéses, pelo que estes indicadores não foram tidos em conta. No que diz respeito aos indicadores de processo e resultado, parecia de grande importância incluir indicadores relacionados com o controle da hipertensão e diabetes. Porém, a literatura sugeriu algumas diferenças de país para país, pelo que esta questão fica para discussão pelo grupo. Importa ainda referir que a existência de sistemas de informação desenvolvidos e fiáveis é fundamental para o apuramento da informação a utilizar. Fontes de informação a considerar Portugal – ACSS Portugal- INE OCDE (Health at a Glance e Stat Extracts) Estatísticas da Saúde da OMS Global Health Observatory Data Repository da OMS PRO_ADESS, Observatório Regional da Organização Pan-Americana de Saúde Agency for Healthcare Research and Quality (Quality Indicators) dos EUA Canadian Institute of Health Indicators European Community Health Indicators Monitoring Office of Population Censuses and Surveys, Royal College of General Practitioners, Department of Health and Social Security. Morbidity Statistics from General Practice Kaiser Foundation NHS Indicators for Quality Improvement Australian National Institute of Health and Welfare (National Indicator Set) European Surveillence of Antimicrobial Consumption. 14 Existência de fontes de informação que cubram os indicadores selecionados, nos países participantes Indicador 1.Taxa de utilização dglobal de consultas País (Fonte de Informação) 2.Percentagem de médicos de família a exercer em unidades de atenção primária 3.Percentagem de enfermeiros a exercer em unidades de atenção primária 4.Percentagem de mulheres entre os 50 e 69 anos com mamografia registada nos últimos dois anos 5.Percentagem de recém nascidos com visita domiciliária de enfermagem até aos 15 dias de vida 6.Taxa de referenciação por utilizador 7.Percentagem de crianças com PNS atualizado aos 6 anos 8.Percentagem de crianças com PNS atualizado aos 13 anos 9.Percentagem de consumo de quinolonas no consumo total de antibióticos 10.Percentagem de recém nascidos de termo, com baixo peso 11.Incidência de acidentes vasculares cerebrais na população residente, com menos 65 anos 12.Percentagem de utilizadores satisfeitos e muito satisfeitos 15 Exemplo de output sugerido O exemplo que se sugere como output baseia-se na construção de uma tabela, por indicador, que permite de modo rápido e fácil, uma leitura das tendências evolutivas no período temporal em análise, por país estudado. Ano 1 Ano 2 Indicador Ano 3 Ano 4 Brasil Argentina Colombia Peru Espanha Portugal Conclusões Antes de mais, importa salientar que este é um documento de trabalho, aberto à discussão e às sugestões do grupo do OIAPSS. Para se compreender a importância da atenção primária nos sistemas de saúde e quais os aspetos de maior relevo a serem monitorizados, efetuou-se uma pesquisa bilbiográfica que incidiu fundamentalmente no trabalho de Barbara Starfield. Após esta pesquisa, realizou-se uma busca para encontrar o conjunto de indicadores específicos da atenção primária, que vêm sendo trabalhados em vários países. Partiu-se, assim, para a seleção de um set de indicadores, organizados de acordo com a lógica de Donabedian (estrutura, processo e resultado). Esta seleção baseou-se em critérios de validade, utilidade, relevância, facilidade de cálculo e existência de informação. Para cumprir esses critérios, efetuou-se uma pesquisa nas fontes internacionais de informação, para garantir a existência de dados que permitam o trabalho futuro. Definiram-se, igualmente, as questões a que os indicadores procuram responder. Posteriormente, propôs-se uma série de elementos que devem constar na ficha técnica dos indicadores e que dizem respeito ao tipo de indicador, seu objetivo, forma de cálculo, periodicidade, fontes de informação existentes e possíveis observações. Em termos de análise destes indicadores, parece oportuna a realização de pesquisas anuais e de integração de períodos de pelo menos três anos, para se identificarem tendências evolutivas. Como viéses, salienta-se a necessidade de sistemas de informação robustos e o diferente entendimento do conceito de “médico de família com lista de inscritos” e a necessidade de incluir indicadores relativos ao diagnóstico e vigilãncia de doenças específicas, cuja interpretação pode variar de país para país, nomeadamente a diabetes e a hipertensão arterial. 16 Como completo, identificaram-se fontes internacionais de informação onde podem ser pesquisados dados que correspondem aos indicadores selecionados. Todavia, fica em aberto a possibilidade de cada país preencher uma taebla que indique se existem, a nível nacional, fontes de informação para cada indicador. Por fim, sugeriu-se um exemplo de output para a apresentação dos resultados, que se baseia na construção de uma tabela, por indicador, que permita, de um modo rápido e facilitado, uma leitura das tendências evolutivas no período temporal em análise em cada um dos países estudados. 17 Referências bibliográficas ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. - Cuidados de saúde primários – agora mais do que nunca. Relatório Mundial de saúde, 2008. SILVA, A.R.; FERREIRA, A.; GOMES, J.G.; PÊGO, M.A. – Barbara Starfield: cuidados de saúde primários como a base dos siistemas de saúde. Lisboa: Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, 2012. STARFIELD, B. - Primary care: Balancing health needs, services and technology. New York: Oxford University Press, 1998. BISCAIA, A. Conceito de Cuidados Primários. Observatório Português dos Sistemas de Saúde. 2003. 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