N.º 10 • outubro 2014 Resultados das empresas não financeiras da Central de Balanços – 2013 e 1.º semestre de 2014 Na presente edição do Boletim Estatístico, o Banco de Portugal divulga os resultados das empresas não financeiras da 1 Central de Balanços que incorporam os dados da Informação Empresarial Simplificada (IES) referentes a 2013 e os principais desenvolvimentos identificados para o ano acabado no segundo trimestre de 2014. São ainda introduzidas as alterações associadas ao novo Sistema Europeu de Contas Nacionais 2 e Regionais na União Europeia (SEC 2010) que se refletem, designadamente, na alteração do universo de referência do setor sociedades não financeiras, cujos efeitos serão igualmente referidos. Caracterização das empresas não financeiras Em 2013, de acordo com as estimativas da Central de Balanços, existiam cerca de 370 mil empresas não financeiras em 3 Portugal . Este número não se alterou significativamente ao longo dos últimos anos. As “pequenas e médias empresas” representavam cerca de 99,2% das empresas não financei- ras, 50,6% do total do ativo das sociedades não financeiras e 4 54,5% do total dos rendimentos (Gráfico 1). Cerca de 160 mil empresas, com um peso de 26,2% no total do ativo das empresas não financeiras, pertenciam ao agregado “outros serviços”, que inclui o alojamento e restauração, as atividades de informação e comunicação e as de consultoria técnica e administrativa, entre outras. O “comércio” era o setor com maior peso no total dos rendimentos (36%) (Gráfico 1). Gráfico 1 Repartição por setor e dimensão das empresas em 2013 100% 80% 60% Número de empresas Total do ativo 40% Total dos rendimentos 20% 0% Pequenas e médias empresas Grandes empresas Empresas privadas por dimensão (exclui SGPS) 50% 45% 40% 35% 30% 1 As estatísticas da Central de Balanços têm subjacente uma metodologia de compilação que visa, a partir da informação recolhida junto de um conjunto de empresas, inferir os resultados para o universo das empresas não financeiras em Portugal. Para mais informação sobre a metodologia de compilação desta informação, aconselha-se a consulta do Suplemento 2/2013 ao Boletim Estatístico de outubro de 2013, disponível em http://www.bportugal.pt/ptPT/Estatisticas/PublicacoesEstatisticas/Biblioteca%20de%20Tumbnails/Supl emento-2-2013.pdf. 2 Mais informações sobre estas alterações podem ser encontradas em http://www.bportugal.pt/ptPT/Estatisticas/MetodologiaseNomenclaturasEstatisticas/AlteracoesMetod ológicasSEC 2010BPM6/Paginas/AlteracoesMetodológicasSEC2010BPM6.aspx e na Nota de Informação Estatística Nº 11|2014. 3 Não considerando as empresas da secção A da CAE – Rev3: Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca. 25% 20% 15% 10% 5% 0% Indústrias Electricidade, gás e água Construção Comércio Transportes e Outros Serviços armazenagem SGPS Empresas privadas por setor de ativ. económica A implementação do SEC2010 alterou significativamente o universo das sociedades não financeiras implicando uma 4 Rendimentos gerados pelas empresas, compostos pelo volume de negócios e outros proveitos operacionais e financeiros. 2 NOTA DE INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA • outubro 2014 contração de cerca de 1% no número de empresas. Esta alteração teve maior impacto nas variáveis económicas e foi particularmente expressiva no total do ativo (Gráfico 2). Gráfico 2 Impacto da alteração no setor das sociedades não financeiras: número de empresas, total do ativo e total dos rendimentos – diferença relativa em percentagem 0% Relativamente aos ativos, o aumento do balanço das empresas não financeiras é determinado pelo aumento dos investimentos financeiros, parcialmente compensado pela redução de imobilizado, inventários e ativos biológicos. No capital próprio e passivo, o aumento do balanço resulta do crescimento das componentes de capital próprio e de outros passivos, que compensam a redução dos financiamentos obtidos (Gráfico 4). Gráfico 4 Decomposição da variação do balanço em 2013, por instrumento – em milhões de euros -5% -10% 8.000 -15% 6.000 4.000 -20% 2.000 0 -25% 2006 2008 Número de empresas 2010 Total do ativo 2012 -2.000 Total dos rendimentos -4.000 -6.000 A redefinição do universo de sociedades não financeiras teve implicações particularmente relevantes nos agregados das empresas públicas e das “sociedades gestoras de participações sociais” (SGPS), “comércio” e “outros serviços” (Gráfico 3). Nas empresas privadas, o impacto da reclassificação no “comércio” e “outros serviços” foi superior até 2010, ano a partir do qual se assistiu à deslocalização das empresas sedeadas na Zona Franca da Madeira. Com a implementação do SEC 2010, uma parte significativa dessas empresas foi reclassificada no setor financeiro. Gráfico 3 Alteração do setor das sociedades não financeiras - total do ativo por setor, em milhões de euros 700.000 600.000 500.000 400.000 Imobilizado, inventarios e ativos biologicos Investimentos financeiros Clientes Caixa e depósitos bancários Outros ativos 8.000 6.000 4.000 2.000 0 -2.000 -4.000 -6.000 Inst. de Participantes Outros crédito e soc. e participadas financiadores fin. e merc. de val. mob. Total Capital Próprio Financiamentos obtidos Fornecedores Outros passivos A autonomia financeira (capital próprio / total do ativo) das empresas não financeiras em Portugal passou de 32,5% em 2012 para 33,3% em 2013. O aumento da autonomia financeira foi observado na generalidade dos setores de atividade, com exceção das “SGPS”. 300.000 200.000 100.000 0 Total 2006 2012 2006 2012 2006 Empresas públicas Empresas Privadas não incluídas nas Adm. Públicas 2012 Comércio Empresas Públicas vs. Privadas 2006 2012 Outros Serviços 2006 2012 SGPS Setores de ativ. económica mais afetados SEC95 SEC2010 Estrutura do balanço O total do balanço das empresas não financeiras em Portugal aumentou 3 779 milhões de euros em 2013, o que representa uma variação de 0,7% em relação ao ano anterior. As “pequenas e médias empresas” registaram uma autonomia financeira de 28,7%, mais 1.9 p.p. do que em 2012. A autonomia financeira das “grandes empresas”, embora mais elevada do que a das pequenas e médias empresas, diminuiu 1.4 p.p., para 33,4%. De acordo com a informação disponível, em 2014, a autonomia financeira das empresas não financeiras voltou a aumentar, situando-se em 34,1% no final do primeiro semestre. Este aumento foi transversal a todos os setores de atividade, com exceção dos “transportes e armazenagem” (Gráfico 5). NOTA DE INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA • outubro 2014 Empresas privadas por dimensão (excl. SGPS) Empresas privadas por setor de atividade Empresas públicas vs. privadas Gráfico 5 Capital próprio / total do ativo – em percentagem O aumento da rendibilidade do capital investido resulta da evolução do EBITDA. O EBITDA cresceu 17,8% em relação a 2012 (mais 4 648 milhões de euros). Todas as componentes do EBITDA contribuíram para este aumento (Gráfico 7). Empresas privadas Empresas públicas (1) A informação disponível para 2014 (primeiro semestre) aponta para uma diminuição de 0,3 p.p. da rendibilidade do capital investido, para 7,1%. SGPS Outros serviços Transportes e armazenagem A rendibilidade do capital investido aumentou, no entanto, nas “indústrias”, “eletricidade, gás e água” e “sociedades gestoras e participações sociais” e, por dimensão, nas “pequenas e médias empresas”. Comércio Construção Eletricidade, gás e água Indústrias Pequenas e médias empresas A contração observada nos “outros serviços” e, por dimensão, nas “grandes empresas” resulta, em parte, da restruturação em curso no setor das telecomunicações. Grandes empresas TOTAL 0 (1) Empresas públicas não incluídas nas Adm. Públicas 10 30 20 2012 40 2013 50 60 Gráfico 7 Decomposição da variação do EBITDA em 2012 e 2013, por instrumento – em milhões de euros jun 2014 Rendibilidade bruta do capital investido 6.000 4.000 5 Em 2013, a rendibilidade bruta do capital investido (EBITDA 6 / capital investido ) das empresas não financeiras aumentou 1,1 p.p., para 7,4% (Gráfico 6). 2.000 0 Empresas privadas por setor de atividade Empresas públicas vs. privadas Gráfico 6 EBITDA / (capital próprio + financiamentos obtidos) – em percentagem Empresas privadas por dimensão (excl. SGPS) 3 -2.000 -4.000 Empresas privadas -6.000 EBITDA Empresas públicas (1) SGPS Margem das Gastos com vendas* o pessoal 2012 Outros gastos Outros rendimentos 2013 Outros serviços * Margem das vendas = Volume de negócios – custo das mercadorias vendidas e matérias consumidas – fornecimentos e serviços externos Transportes e armazenagem Comércio Construção Custo do financiamento e pressão financeira Eletricidade, gás e água Indústrias Pequenas e médias empresas Grandes empresas TOTAL 0 (1) Empresas públicas não incluídas nas Adm. Públicas 5 10 2012 2013 15 jun 2014 O custo da dívida (juros suportados / financiamentos obtidos) manteve-se praticamente estável desde 2012 até ao final do segundo trimestre de 2014, em torno dos 4,3%. Em 7 2013, a pressão financeira diminuiu, este decréscimo deveu-se ao aumento do EBITDA e à redução dos juros suportados. O rácio entre o EBITDA e os juros suportados passou de 2,7 em 2012 para 3,3 em 2013. Esta melhoria foi, 5 O EBITDA corresponde ao resultado antes de depreciações e amortizações, de juros suportados e de impostos. 6 O capital investido corresponde à soma do capital próprio com os financiamentos obtidos. 7 Percentagem do EBITDA absorvida pelos juros suportados, inverso do rácio EBITDA/juros suportados. NOTA DE INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA • outubro 2014 Gráfico 9 Prazos médios de pagamentos e de recebimentos (número de dias) no entanto, parcialmente revertida. No ano acabado no primeiro semestre de 2014, o rácio situava-se em 3,1. O custo da dívida das “pequenas e médias empresas” passou de 4,2%, em 2012, para 3,9%, em 2013, e voltou a reduzir-se no primeiro semestre de 2014, para 3,8%. 80 70 60 A pressão financeira das “pequenas e médias empresas” também diminuiu. O rácio entre o EBITDA e os juros suportados passou de 1,7, em 2012, para 2,8 em 2013 e 2,9 no final do primeiro semestre de 2014. 50 As “Grandes empresas” tiveram uma evolução oposta: o custo da dívida aumentou em 2013 e voltou a crescer no ano acabado no primeiro semestre de 2014. A pressão financeira também aumentou (Gráfico 8). 0 Gráfico 8 Juros suportados / financiamentos obtidos (em percentagem) e rácio EBITDA / juros suportados 6,0 40 30 20 10 2007 2009 2010 2011 Recebimentos 2012 2013 2014 Pagamentos Apesar de o diferencial entre os prazos médios de pagamentos e de recebimentos ter diminuído, o financiamento líqui8 do por dívida comercial em percentagem do total do ativo manteve-se estável, em torno dos -2%, para o ano de 2013 e para o primeiro semestre de 2014 (Gráfico 10). Gráfico 10 Peso dos fornecedores e dos clientes no total do ativo (em percentagem) 2013 2012 juros suportados / fin. obtidos 2008 Diferencial jun 2014 5,0 Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun 4 2012 14 2013 4,0 12 jun 2014 10 8 6 3,0 2,0 3,0 4,0 4 5,0 2 EBITDA/juros suportados Pequenas e médias empresas 0 Grandes empresas -2 -4 Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun 1,0 2007 Prazos médios de pagamentos e de recebimentos 2008 2009 Diferencial 2010 2011 Fornecedores 2012 2013 2014 Clientes Em 2013, os prazos médios de pagamentos e de recebimentos reduziram-se em 3 e 2 dias, respetivamente, situando-se, no final do ano, nos 72 dias, para os pagamentos, e nos 69 dias, para os recebimentos. De acordo com a informação disponível, o diferencial entre o prazo médio de pagamentos e o prazo médio de recebimento também diminuiu para o ano terminado no primeiro semestre de 2014 (Gráfico 9). 8 Corresponde à diferença entre o saldo de fornecedores e o saldo de clientes.