A ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR PROPOSTA E DESENVOLVIDA NO RATIO STUDIORUM:
ORIENTAÇÕES PRECISAS E DETERMINANTES PARA O SUCESSO DAS ESCOLAS
JESUÍTAS.
LEDA MARIA LACERDA ZINSLY
Núcleo de Estudos e Pesquisas: História e Filosofia da Educação- Mestranda
Orientador: Prof. Dr. José Maria de Paiva
Gustavo Droysen traça o perfil do fundador dos jesuítas com essas palavras:
“Era dotado de vontade férrea, de perseverança infatigável, de imaginação ardente, de
piedade terna. Possuía o dom maravilhoso da sedução e um como poder divinatório para
discernir o caráter dos homens, submetê – los e tirar proveito até mesmo dos seus vícios.
Teve o gênio da organização, a vontade que agrupa em ação comum as forças mais
diversas e as disciplinas. Possuiu a perspicácia que aponta o alvo e a fertilidade de
expedientes que, no meio dos embaraços, atina com a estrada do triunfo. Depois desse
entusiasmo comunicativo, que dá ao chefe de um exército de heróis, que levanta acima do
comum até mesmo os caracteres medíocres e que se presta a todas as virtudes duráveis e
a todas energias úteis”,Loyola acreditava – se eleito de Deus para aniquilar seus inimigos e
restituir o antigo esplendor à potência e dignidade da igreja.
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A Companhia de Jesus nasceu em uma época que se misturavam elementos tradicionais com
as novas necessidades intelectuais, preenchendo uma lacuna que se abria no sistema
educacional. A formação das monarquias nacionais, como resposta a crise de estagnação
capitalista, possibilitou mudanças profundas na estrutura da Europa que atingiu a religião. Ser
cristão dependia da posição do rei absolutista. O rei, portanto, determinava a religião da
população. Os dois países que foram os pioneiros desta transformação: Portugal e Espanha.
Dividiram o “mundo” com a intervenção da igreja. Novas possibilidades de expandir o
cristianismo se somava ao projeto destes países na superação da crise de expansão do
capitalismo. A companhia de Jesus dava o suporte religioso ao projeto de transformar o Novo
Continente em um modelo europeu, quer seja de valores morais ou religiosos. Estas
transformações ocorreram, também, no campo do conhecimento, uma vez que a Europa
necessitava de um modelo educacional que respondesse a nova realidade. Portanto, o século
XVI foi palco de conflitos ideológicos, exigindo dos jesuítas uma formação rígida, com
princípios e caminhos claros, sendo capazes de enfrentarem um mundo em transformação sem
apresentarem fraquezas ou conflitos.
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PRADO. Dr. Armando, “A Europa do séc XVI e a obra de Inácio de Loyola.” In: Anais do IV Centenário da Companhia de Jesus, Rio de
Janeiro, Imprensa Nacional, 1946, p. 279
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O caminhar da Companhia de Jesus deveria ser sólido como uma rocha e demonstrar à todos
sua estrutura baseada nos princípios religiosos.
Para enfrentar estas transformações, a FÉ estabelecia as normas e tornava possível a
realidade. Os jesuítas assumiram a função de formar na fé jovens que pudessem salvar suas
almas e as almas dos próximos, de acordo com a concepção da Companhia de Jesus.
A identidade cristã produzida por mecanismos ideológicos era reforçada pelas monarquias que
buscavam a legitimidade na catolicidade de seus reinos. Isso resultava em uma recusa a tudo
que fosse contrário a igreja.
O fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, era antes de se converter ao catolicismo
um militar e sua proposta religiosa era a de formar um exército de Cristo.
O crescimento da Companhia de Jesus foi rápido e sua ação na educação foi uma
conseqüência das necessidades da época. Uma das suas atividades estava relacionada com a
tarefa da educação dos jovens, que poderiam converter – se ao cristianismo. A educação tinha
o objetivo de prestar serviço à igreja, com a salvação das almas. Um dos objetos dos estudos
da Companhia é de ensinar ao próximo todas as disciplinas convenientes ao Instituto, tendo
como objetivo o conhecimento e o amor do Cristo Redentor.
Para registrar e coordenar os trabalhos de forma clara e objetiva, os Jesuítas elaboraram um
documento mestre – O Ratio Studiorum,com todas as regras e procedimentos necessários para
um perfeito funcionamento das escolas jesuítas, sendo o primeiro sistema unificado que o
mundo conheceu.
A palavra Ratio significa ORDEM, Studiorum significa ESTUDOS, isto quer dizer, a ordem dos
estudos ou o método de ensino. Como características principais apresenta a cooperação
hierárquica das pessoas envolvidas no processo, em todos os níveis, fatores essências para
garantir o sucesso do processo educativo
O Ratio, sofreu ao longo de 50 anos, várias revisões e alterações, chegando em sua versão
definitiva em 1599, composto por 30 conjuntos de regras, deixando de ser um projeto de
estudos e passando a ser a promulgação de uma lei.
O Ratio Studiorum é fruto da experiência comum, ampla no tempo e no espaço, que lhe
assegura uma grandeza, trazendo em sua composição a harmonia e equilíbrio perfeito, com o
objetivo de ajudar aqueles que começam a ensinar, a administrar um processo educativo.
Toda administração estava baseada em princípios, normas e regras, com suas referências
teóricas e principalmente a base religiosa que sustentaria todas as orientações, elaborações de
documentos, registros e diretrizes.
Após esta breve apresentação histórica, destaco o objeto de estudo que é a administração
escolar dentro do Ratio Studiorum, o documento elaborado pelos Jesuítas, analisando de
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maneira crítica, sem perder o contexto histórico que o mesmo foi elaborado, com ênfase nos
dados administrativos, buscando a origem de cada item desenvolvido.
Procurando realizar uma leitura crítica, tendo como enfoque administrativo, a Companhia de
Jesus era divida em Províncias, tendo sempre um Provincial responsável pelo funcionamento,
tendo como responsabilidade nomear o Prefeito de Estudos e de disciplina, zelar pela
formação de bons professores, em promover os estudos em sua Província, exercendo
vigilância sobre o cumprimento das normas traçadas pelo Provincial.
Alguns tópicos importantes do Ratio Studiorum , devem receber uma atenção especial, que
são:
1.Utilização do sentimento de amor próprio ou emulação – São as competições educativas
entre os alunos, com enfoque no sistema de notas, de recompensas e no sistema de
distribuição de prêmios ou medalhas.
2. Orientação aos professores – Cada colégio tinha sua academia docente organizada, onde os
professores eram orientados pelos padres, sendo os dirigentes eleitos pelos próprios membros.
3. Conteúdos com enfoques – Buscar primeiro as letras latinas e gregas, depois as ciências.
4. Utilização do teatro escolar – Usar o teatro como recurso pedagógico, fortalecendo a
memória.
5. Horário escolar com 5 aulas diárias – Sendo duas horas e meia pela manhã e duas horas e
meia pela tarde
6. Trabalhar a preleção como o centro da didática - Significa uma explicação antecipada do que
o aluno deveria estudar ou uma espécie de programa de estudo.
Pe. Leonel Franca coloca com propriedade o fio condutor da administração do Ratio
Studiorum::
“Unidade de direção, corpo e professores animados nos mesmos princípios, formados na
mesma escola, visando aos mesmos fins, empregando os mesmos meios. Eis a unidade e
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concentração completa e a forma do Ratio Studiorum.”
O conceito de administrar na origem de sua palavra implica subordinação e serviço: ad: direção
para, minister: comparativo de inferioridade, e sufixo ter. Aquele que presta serviço a outro.
A palavra administração diz respeito a atividade que se realiza sob o comando de outro. È a
arte de realizar objetivo através das pessoas, sendo essencial em toda organização que busca
um sucesso.
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FRANCA, Leonel. O método pedagógico dos Jesuítas. O “Ratio Stidiorum”.Rio de Janeiro, AGIR, 1952.
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A escola foi sempre marcada pela necessidade de organização e de sucesso. A ordem, a
disciplina, as regras, são fatores ligados a organização e a forma de administrar algo, de gerir,
de fazer funcionar.
Conforme afirma Padre Leonel Franca, o Ratio Studiorum desempenha um papel na educação
moderna cuja importância não pode ser desconhecida ou menosprezada, afinal este
documento deu a origem de quase todos os procedimentos administrativos utilizados
atualmente.
O Ratio Studiorum é um manual de organização e de administração escolar, com
procedimentos detalhados que cada membro deve seguir, iniciando no comportamento
individual de cada pessoa e as questões metodológicas e pedagógicas também se encontram
neste manual.
Na hierarquia administrativa da Companhia de Jesus, a figura mais elevada era o Geral.. Em
seguida aparece a figura do Provincial, que deveria dirigir cada uma das províncias, tendo
como uma das suas funções supervisionar a formação de bons professores. O Reitor aparece
como figura central do colégio, dirigindo a reunião com os professores. A orientação
pedagógica competia ao Prefeito de Estudos. Em seguida aparecem os professores. Apresenta
ainda as regras para os estudantes internos e externos e a figura do Bedel.
A aplicação do Ratio Studiorum atingiu êxito incontestável em todas as partes onde foi
trabalhado, reforçando a idéia de que um sistema pedagógico bem elaborado consegue atingir,
junto aos educandos, resultados surpreendentes.
Embora a administração dentro do Ratio Sudiorum seja voltada para a reprodução do sistema,
de forma mecânica, sem questionamentos, devo reforçar que, para a época que o mesmo foi
utilizado, atendia plenamente as necessidades da sociedade e do grupo social no qual estava
inserido.
Na visão atual da administração, tendo a mesma o enfoque por objetivos, ela se inicia com o
planejamento estratégico, determinando as metas, as prioridades e as medidas de
desempenho. São conceitos atuais, de acordo com os critérios da Qualidade.
Na leitura detalhada do Ratio, esses mesmos conceitos aparecem, escritos de acordo com a
cultura do seu tempo, mas cobrando e exigindo as mesmas metas,limites e resultados que
cobramos e exigimos hoje.
O enfoque dado neste trabalho teve como objetivo tentar demonstrar as influências que o
Sistema Educacional apresentam nos dias de hoje, com as origens no Sistema Educativo dos
Jesuítas “ Ratio Studiorum”.
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Referências bibliográficas
FRANCA, Leonel. O método pedagógico dos Jesuítas. O “Ratio Stidiorum”. Rio de Janeiro,
AGIR, 1952.
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo II (século XVII – a
obra).Lisboa / Rio de Janeiro: Portugália / Civilização Brasileira, 1938.
PAIVA, José Maria de. Colonização e catequese. São Paulo: Cortez, 1982.
PRADO. Dr. Armando, “A Europa do séc XVI e a obra de Inácio de Loyola.” In: Anais do IV
Centenário da Companhia de Jesus, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946.
SILVA, Felismina Dalva Teixeira. Ratio Studiorum: uma leitura dos elementos da didática.
Dissertação ( Mestrado em Educação) – Universidade Metodista de Piracicaba, 2001.
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