R i o d e J a n e i r o , 1 3 d e a b r i l d e 1 9 6 8 - A n o 15 - NI 8 3 4
C o n v e r s a c o m o leitor
T u d o começou quando ela decidiu que sua cozinha
precisava de uma nova aparência. Ela escolheu o laminado decorativo marca FORMICA para sua parede e para
os tampos das bancadas de pias e armários vermelhos
e azuis. Era tão irresistível que ela começou a ficar mais
tempo na cozinha do que devia. Então, levou a beleza
durável de FORM ICA a todas as peças da casa. Agora
sua sala de estar tem uma elegante parede acabada em
*Marca registrada da Cyanamid Química do Brasil Ltda. Divisão FORMICA, Caixa Postal 1 0 3 9 , Rio de Janeiro
teca asiática. A mesa de café em padrão mármore (que
é tão fácil de se limpar) não tem uma mancha de café.
Sua mesa de jantar com acabamento em carvalho resiste a altas temperaturas. E você deveria ver seu toucadordeõanos. Está tão brilhante e colorido como no dia
em que ela o escolheu. Você não acha
que já é tempo de você colocar a beleza
de FORMICA em sua vida?
[FORMICA
laminado decorativo
A todas as promessas de carreiras mirabolantes que lhe fizeram, a gaúcha leda Maria
Vargas preferiu a glória pessoal e tranqüila conquistada em 1963 com o t tu o de Miss Universo. E,
depois disso, a felicidade de um casamento bem pensado, na base do amor. com o jovem acadêmico
de direito, José Carlos Athanásio. A cerimônia aconteceu esta semana em Porto Alegre e nossa
reportagem lá estava, para acompanhá-la em todas as fases. Nas páginas finais desta edição,
apresentamos a belíssima noiva em seu vestido branco (criado pelo costureiro Rui). Nosso principal
caderno em cores, no entanto, foi entregue ao romancista Jorge Amado e ao fotógrafo Walter Firmo
para um Canto de Amor à Bahia. O cinema brasileiro e suas lutas também nos ocupam e eu recomendo a leitura do texto assinado por Geraldo Mayrink, estudioso do assunto. De Nova Iorque,
Murilo Melo Filho enviou-nos, pelo telex, a descrição minuciosa do impacto causado nos Estados
Unidos pela desistência do Presidente Johnson de concorrer às próximas eleições. Coube, porém, à
morte de um estudante, no Rio, a dramática abertura deste número. Os leitores verão em ampla
reportagem os fatos que constituem, atualmente, uma autêntica rebelião universal dos jovens contra
governantes que, aparentemente, ignoram os anseios do nosso tempo.
JUSTINO MARTINS
• EXPEDIENTE
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VICE PRESIDENTE Osca.
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Jorge.
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o dia mais triste da juventude
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No coração do Rio, vinte mil pessoas promoveram, sexta-feira passada, um dos cortejos
mais impressionantes que a cidade já viu. A maioria dos participantes eram rapazes e
moças. Todos tinham passado a noite em claro, velando um garoto, cujo corpo ensangüentado transportaram nos braços para o saguão da Assembléia Legislativa, pouco depois de êle ter sido baleado num choque dos estudantes com a Polícia Militar, no restaurante do Caíabouço. Enquanto a notícia se alastrava em movimentos de protesto por
todo o país, a Cinelândia transformou-se num comício de grandes proporções cuja exaltação ninguém poderia conter e que sequer terminou no cemitério. O estudante Edson Luís
Lima Souto, morto aos dezessete anos de idade, teve um enterro de mártir e herói.
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Êle vivia anônimo no Rio, distante da família, ajudando na limpeza do Caíabouço para poder estudar e comer.
Logo seu nome correu o pais e sua morte atraiu milhares de pessoas que foram levar-lhe as flores do adeus.
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A c i d a d e Inteira
ctiorou a morte
do estudante
humilde
Enquanto os oradores
se sucediam na escadaria da Assembléia,
uma multidão desfilava diante do esquife
de Edson. 0 caixão,
finalmente, saiu para
a rua, conduzido pelos estudantes — de
um lado a bandeira
nacional, de outro o
pavilhão vermelho e
branco do Calabouço.
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A trágica morte
de Edson
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Início d o a n o
letivo, o
problema das
greves estudantis
— Morreu um estudante, podia ser seu filho! —
esta era a frase, repetida em coro pela multidão,
durante o cortejo, para os milhares de pessoas
que acenavam lenços das suas janelas. Bandeiras,
faixas, cartazes e coroas de flores seguiam o esquife na lenta caminhada de mais de duas horas,
do centro da cidade até o cemitério, em Botafogo.
Já era noite quando Edson Lufs Souto Lima foi
sepultado, à luz de velas e de archotes improvisados com folhas de jornais. Pela primeira vez cessaram os gritos. Houve um instante de silêncio. Depois, todos cantaram o Hino Nacional e a melodia
da Marselhesa, antes que outros oradores fizessem novos discursos. Quando deixavam o Cemitério São João Batista, em Botafogo, os estudantes
prestaram a homenagem final ao colega morto,
cantando em surdina a Valsa do Adeus: "No
céu, na terra, onde fôr, viverá o nosso amor.. , M
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Na escadaria da Assembléia Legislativa,
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BP) &KJ, Í 1 I O *
Si, ACá.B
Prove que você gosta
do seu dinheiro: compre
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H á camisas Tergal esporte.
Para você ficar à vontade e passear,
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O secretário de Finanças da Guanabara, Sr. Márcio Alves, terminava a sua exposição para o plenário
da Assembléia Legislativa quando o Deputado Alberto Rajão entrou, anunciando aos gritos a morte
do rapaz Naquele momento os estudantes chegavam com o corpo de Edson Luís, carregando também
o seu colega Benedito Frazão, ferido, que sangrava muito e estava desacordado. O garoto abriu os
olhos — nao me batam, por favor" — e foi levado para o Hospital Sousa Aguiar, enquanto Edson Luís
ficava estendido numa mesa, sem a camisa, que era exibida, toda manchada de sangue pelos
oradores. Em poucos minutos surgiam velas e os primeiros cartazes. Só de madrugada 'depois
de processada a autópsia, foi possível armar o catafalco. A multidão aumentava a cada momento
ii
Na terrível m a d r u g a d a , E d s o n
tornou
filho e i r m ã o d o s q u e o
choraram
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O Dia Mais Triste da Juventude . .
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A Rebelião Universal dos Jovens ,.
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A Renúncia de Lyndon Johnson
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Maria Teresa, a Visita da Saudade .
28
quem confia mais:
o Nordeste na Cesmel
ou a Cesmel no Nordeste?
Crise Política no Panamá
30
Cagarin — Adeus ao Pioneiro do Espaço
32
Claudia Cardinale
38
Página Dupla
40
V o c ê é quem vai julgar.
Antes que se c o m e ç a s s e a construir o N o v o Nordeste, j á havíamos instalado na r e gião uma moderna indústria de estruturas metálicas e c a l d e r a r i a pesada.
Paulo Mendes Campos
103
Bonnie e Clyde à Francesa
104
A Nova Moda Antiga
112
A Catedral de Brasília
118
Por sua vez, o Nordeste absorveu nossa produção.
Desde logo, passamos a nos antecipar às necessidades da região c o m o apoio do
B N B e da Sudene — s e m p r e aumentando nosso parque industrial.
E nós c o n t i n u a m o s a nos antecipar às suas necessidades. N o s ú l t i m o s d o i s anos,
elevamos de 1 0 0 % nossa capacidade de p r o d u ç ã o . E m agosto p r ó x i m o , vamos ampliá-la
de mais 7 0 % : vamos inaugurar, em Recife, a Cesmel Nordeste.
A verdade é que c r e s c e m o s nesse r i t m o (e o Nordeste sempre teve suas necessidades
atendidas) p o r q u e entre nós se forjou sólida confiança mútua.
42
Canto de Amor k Bahia
44
A Nova Eahia Começa a Aparecer .
66
Posto de Escuta
80
Porque Briga o Cinema Brasileiro .
CESMEL
84
A Volta ao Mundo de Mathieu . . . . 122
— PIONEIRA
DA
INDÚSTRIA
P E S A D A NO N O R T E D O BRASIL.
O Nordeste continuou a absorver nossa p r o d u ç ã o .
Henrique Pongetti
SALVADOR:
Rua Miguel Calmon, 59, 6.' andar. tel. 2-2874
(Escritório Central).
RECIFE :
Rua da Concórdia. 153. conj. 701. tel. 4-5902
RIO:
Av, Presidente Vargas. 542 conj. 1506, tel. 43-5074
Duda Disse Oai
128
Britt Eklund Escolheu a Liberdade . 132
A Grande Feira
138
Jean Rostand — Este Homem Ê um
Bruxo
144
Uma Pista para o Concorde
Truman
Capote, Quando
Notícias que Valem Manchete
163
165
Vida e Luta Severina
168
O Mundo em MANCHETE
172
A Noiva Mais Bonita do Universo . 176
Claudius
nOÍTlSílCe •
Acho pouco o prazo até junho para concorrer ao
Prêmio Bloch de Romance. — Edno Cornélio — Campanha, MG.
•
Infelizmente,
o regulamento não poderá ser alterado.
UireitOS autOrSIS • Q S autores brasileiros ganham qualquer espécie de royalties pela transmissão das suas músicas nos Estados
Unidos? — Margarida Maria Castilho de Freitas — Boston, Mass.
— EUA.
•
Recebem, sim, por Intermédio da sociedade de direito autoral
a que se filiam, ou através dos seus editores.
Ainil3 0 retrato •
Remetemos um exemplar da edição "Retrato
do Brasil" à engenheira Neusa Monteiro de Arruda Juliano, que
participou do li! Curso de Aperfeiçoamento para Mulheres de Liderança, patrocinado pelo Departamento Técnico d a OEA, em São
José da Costa Rica. A revista foi colocada em destaque no painel do Brasil e mereceu detido exame, com efeito excepcional,
permitindo à nossa representante receber os melhores elogios.
— Antônio da Silva Victor — Uons internacional — Distrito L-4
— Sáo Paulo, SP.
rOtOgrSTiaS
•
Desejaríamos receber fotografias de Jerry
Adriani. Wanderléia, Roberto Carlos e Guto. — Nilce,
Etizabeth
e Maria Helena — Fortaleza, CE.
•
Não podemos atender a pedidos de fotografias.
Queiram se
dirigir diretamente aos cantores.
182
Nossa capa: o corpo do estudante Edson
Luís é conduzido por seus companheiros,
ao iniciar-se o enterro que comoveu o
Rio de Janeiro, na última sexta-feira.
(Foto de Orlando Abrunhosa.)
É tão fácil instalar em sua casa um
G A R A S U L . Fácil e muito mais econômico do que em geral se pensa. Supereconômico, se V. pensar na vida do seu
carro, na beleza dele, no valor da revenda.
Há vários tipos e marcas de abrigos para
automóveis,claro; Acontece que somente
G A R A S U L é totalmente escamoteável,
praticamente desaparece, quando não
está em uso. G A R A S U L é ultra resistente, feito com... P.V.C rígido, alumínio
esmaltado.e chapas galvanizadas esmaltadas. Cores ã sua escolha, todas muito bonitas.
oUgeSTOeS
•
Gostaria de ver uma reportagem ampla sobre
a capital do Paraná. — Regina Maria — Rio, GB.
Em visita ao Peru, imaginei com que deslumbramento os
brasileiros receberiam das câmaras mágicas de MANCHETE as
maravilhas que lá pude admirar. — Dislau J. Baranowsky
—
Belo Horizonte, MG.
Estou esperando uma reportagem sobre The Monkees e The
Supremas.
— Paulo Roberto E. Lucas — Copacabana, Rio.
Sugiro para cada semana uma reportagem com um grande
nome da nossa música popular — Elis, Edu. M. Medalha. Nara,
Chico, Vinícius, etc. — Edna Miranda — Belo Horizonte, MG.
Escrevo-lhes pela sétima vez, com a mesma finalidade: pedir
uma reportagem sobre Ronnie Von. — Norma M. dos Santos —
São Pauto, SP.
•
Sugestões anotadas. Quanto aos grandes nomes da música
popular, eles tèm sido focalizados sempre que há oportunidade
para isso.
Discos
o Crime
Compensa
Você não acha ?
152
se sente bem
-protegido em
sua casa - sabendo
que o seu carro
está lá fora,
tomando uma chuva
-daquelas ou
queimando a pintura
num sol de t o r r a r ?
voadores
•
N ã 0 n á n o B r a s i | u m a s o r e v i s t a espe_
cializada nesse assunto, enquanto em quase todas as nações
do mundo existem diversos magazines que divulgam e comentam
os fenômenos ocorridos com os "misteriosos objetos aéreos não
identificados". Temos, porém, várias organizações civis, onde
existem arquivados centenas de casos e relatórios sobre aparições verídicas dessas estranhas espaçonaves. Sugiro-lhes -que
lancem uma nova revista, que poderia chamar-se Discos Voadores,
ou então Enigmas do Espaço. — José Roberto Nogueira Uma
— Fortaleza, CE.
•
Gratos pela sugestão, mas os discos andam muito
sumidos,
pelo menos no Brasil.
D e t a l h e s muito importantes:
GARASUL
ó fornecido direta-
mente da fábrica e m vários t a m a n h o s e tipos diferentes. O F E R E C E M O S grande facilidade de
p a g a m e n t o e pronta entrega, e m
todo o país. Ê O Ú N I C O c o m g a rantia.
ACEITAMOS representações
em todo o pais.
Argentina 9
Tenho a grata satisfação de dírigir-me aos senhores, a fim de fazer-lhes chegar em nome do Consulado Geral
da República Argentina, minhas mais calorosas felicitações pelas
fotografias e comentários sobre meu país, publicados no último
número de MANCHETE. Quero destacar também que a reportagem realizada pelos senhores, com tão alto grau de perfeição,
ajuda a um melhor conhecimento entre ambos os países e maior
união entre os povos, ideais com que está intimamente identificado este Consulado Gerai em São Paulo. Norberto de Elizalde —
Consulado Geral da República
Argentina
— São Paulo, SP.
LIZ TaylOr •
Quero expressar meus agradecimentos Dela magnífica reportagem sobre Elizabeth Taylor. Era a reportagem que
eu esperava. Pena que não tenham publicado uma fotografia do
casal Burton na capa da revista. — Êlcio Pedrosa — Belo Horizonte, MG.
GARASUL
ó mais um excelente produto de
toldos sula m é r i c a
Esto e m p r e e n d i m e n t o conta c o m financiamento d o B a n c o
do Nordeste d o Brasil e c o l a b o r a ç ã o d a Sudene
Itda
Fábrica e Escritórios; Rua Tereza, 134
fones: 92-7451 e 92-9983
São Paulo
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REBELIÃO UNIVERSAL DOS JOVENS
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"Que podemos fazer neste mundo que vocês fizeram? Em nome de quê, tendo em vista o resultado revoltante de
suas ações e de suas omissões, vocês pretendem nos dar conselhos e ordens?" Em Roma e Londres, em Praga
e Berlim, em Berkeley e Varsóvia, em Madri, em Nanterre e no Rio de Janeiro, perguntas como estas tiram o sono
dos líderes do mundo. Pela primeira vez eles começam a admitir que os protestos estudantis não mais se originam
na secular rebeldia dos jovens. Para alguns, trata-se de algo inteiramente novo. Nos países capitalistas e nos
comunistas, nos países democráticos e nos totalitários, os cassetetes não conseguiram reprimir as manifestações.
I
Um policial salta sobre um cartaz em chamas e se atira sobre o grupo de
estudantes que se manifesta em protesto contra a guerra no Sudeste da Ásia.
16
Jovens
Dois poli
flamengos e valões lutam na Universidade
ciais prendem um estudante. Um terceiro
local,
sorri.
EUA
Um policial agride um negro surpreendido
ocorridos na semana passada. Os negros
ao saquear uma loja durante os conflitos raciais
resistiram à polícia com pedradas e pauladas.
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'"TPUDO se passa como se os jovens
-•" formassem, hoje, uma classe social
à parte, com sua linguagem, sua solidariedade, seus deveres e suas obrigações próprias. E o poder estudantil que
começa a impor sua presença.
O sentido deste protesto varia. A
liberdade que os estudantes pedem na
Polônia é diferente da que pedem os
dos Estados Unidos. Na Itália, querem
a reforma universitária. Na Tchecoslováquia, maior liberdade de expressão.
Na Inglaterra, pedem maior participação
na -política. Um fio comum entrelaça
todos os movimentos: eles querem derrubar o establishment. Nos quatro cantos do mundo, tentam demonstrar que
se sentem sufocados no universo criado
pelos seus antepassados. Conforme observou há pouco um professor francês, os
jovens se sentem "demais" neste mundo
que consideram superado. "É como se
transbordassem", explica êle.
Os protestos têm um caráter eminentemente nacionalista. O antiamericanismo é flagrante na maioria dos movimentos, como também — do lado socialista
— as críticas à ação da União Soviética tornam-se dia a dia mais insistentes. Embora o noticiário da imprensa
dê ênfase maior aos protestos de cunho
internacional e político (guerra do Viena, morte de Guevara etc.)» e m toda
parte a rebeldia tem começado na insatisfação com as próprias escolas. "A
esclerose universitária é a doença número um da Europa", declara o Professor
Jacques Monod, Prêmio Nobel francês.
Suas palavras seriam endossadas pelos
professores latino-americanos, asiáticos
ou mesmo norte-americanos. Jean Daniel, jornalista francês, escreve que o
primeiro protesto nasce no momento em
que o estudante desconfia do que lhe
ensinam. Antigamente, a destruição de
mitos era, sobretudo, literária. O direito
de desafio e protesto estava nas mãos de
alguns grupos que faziam dele uma profissão, Mas mesmo os mais revolucionários concediam à idade um valor, e
a experiência era sempre uma virtude.
O patriarca devia saber tudo, o homem
maduro ter todo o poder.
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Pela democraaa e desarmamento protestam, em Frankfurt, contra a presença dos soidados
no Vtetna. Na Alemanha, os estudantes são liderados por Rudi Dutschke, que despreza tanto os partidos clmunistas coZ
norte-americanos
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•
Essa condição privilegiada dos velhos é hoje rejeitada em bloco. Nos
Estados Unidos, a grande sensação dos
meios estudantis não é mais o sábio
erudito, mas o Professor Marshall McLuhan, o homem que coloca em dúvida
todo o conhecimento adquirido através
do pensamento linear, cartcsiano e livresco. Outro líder dos estudantes americanos, Herbert Marcuse, é solidário
com a "rebelião total".
TC
Este jovem negro participou da marcha de Luther King, em
Memphis, e estava preparado em espirito e- em armas.
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FRANÇA
Em Paris, após a realização de
uma passeata reprimida pela policia, estudantes surpreendem um
guarda e tomam-lhe es armas.
•
£>*> 4A7, fttO*^.O. e £ i , A C L
sempre admoestados,
começam a enfrentar
a polícia com as
Para êle, os jovens têm o dever moral de
desacreditar num sistema de valores que tende
a absorver e uniformizar tudo. Se nos países
pobres os líderes protestam em nome da miséria, Marcuse ergue sua voz "contra a prosperidade, o luxo e o desperdício, contra as contradições de uma sociedade que encoraja artificialmente o consumo do supérfluo, e não
sabe como prover às necessidades mais fundamentais de enormes camadas da população".
A juventude descrê nos seus líderes, ou
simplesmente deixou de admirá-los. Daí à
angústia vai apenas um passo. A angústia cria
um sentimento de impotência e de esmagamento cuja saída mais tentadora é a violência.
Mesmo nos países "duros" — Espanha, Argélia, Egito — o desafio do protesto vem sendo
aceito pelos estudantes. Os japoneses tiveram
pelo menos oito batalhas campais com a polícia, nos últimos seis meses, com 545 feridos,
1.350 prisões e cerca de 3 mil policiais machucados. Na Itália, o protesto geral contra
a estrutura da universidade dividiu-se: os próprios estudantes, separados em esquerdistas e
direitistas, lutaram entre si no meio da rua
e em todo o país, paralisando completamente
as atividades em 33 faculdades. Na Espanha,
o governo mantém uma associação estudantil
que controla mas não pode evitar o choque
desta com várias outras organizações, clandestinas e contrárias ao governo. Nos países socialistas as rebeliões estudantis eram mais ou
menos freqüentes até 1956, ano do levante
de Budapeste, esmagado pelos russos. Durante muitos anos os estudantes limitaram-se aos
protestos "oficiais", aprovados pelos governos,
até que as recentes campanhas contra o ex-Presidente Antonin Novotny, na Tchecoslováquia,
e a ocupação de universidades na Polônia
trouxeram-nos de novo à linha de frente.
20
ITÁLIA
Esquerda e direita se digladiam na Universidade de Roma. Os
feridos no conflito político foram atendidos na Cruz Vermelha.
i" •
ÜJj^ ^
I J *
0 ^ %
A policia, com roupas de pioteção, usa
soVer comido contra a guerra, na Universi
t assetetes para disdade de Wisconsin.
No Ocidente, certos professores liberais
mostram-se alarmados com a "politização excessiva" destes movimentos. Em outras palavras, eles admitem o protesto, "dentro de certos limites", mas não parecem dispostos a aceitar "a anarquia total". O Professor Norberto
Bobbio (cujo filho, Luigi, foi preso durante
manifestações na Universidade de Roma) elaborou um estudo da crise estudantil.
"Desde o começo, eles (os estudantes)
adotaram uma posição política de contestação
geral da sociedade. Só no fim de um mês de
ocupação das salas de aula é que começaram
a elaborar seus programas de reivindicações e
de reestruturação da universidade. Num seminário de ideologia política, descobrimos que não
havia um único estudante que não tivesse idéias
ou uma estrutura mental do tipo marxista."
Nem um. No entanto, o documento revela
que entre os estudantes havia católicos, religiosos de várias tendências, burgueses conservadores e membros do PC. O que êle chama de
"pensamento do tipo marxista" é o que une a
quase totalidade destes estudantes: recusa global do capitalismo, dos valores de consumo, de
toda autoridade e hierarquia, desprezo às "superpotências bárbaras" (EUA) e às "superpotências prudentes e conciliadoras" (URSS, o
PC). Chamam-se de "nova esquerda" e que*
rem criar o "poder estudantil". Mas a imprensa
italiana afirma que nem o PC, nem as facções
trotsquistas, nem as da linha chinesa conseguiram capitalizá-los.
Em Los Angeles, a jovem hippie enfrenta o poder real
concentrado nas mãos do guarda.
Ela pedia paz.
4/l6.*.IÔ
gp> AAi.aio v 5 ? . o . e s / , ^ c L . 4 / i » . p . ^
válidas: canções, cartazes,
espetáculos. No corpo-acorpo, as batalhas podem
acabar de modo imprevisto
INGLATERRA
Vanessa Redgrave, na poria do primeiro-ministro, canta o seu protesto.
A juventude de hoje está encurralada entre os computadores e a revolução armada. Ela vê o fracasso das ideologias, a imobilidade instalada e se sente prisioneira dos
homens que viveram a guerra que ela não viveu. "Chamo
de agitador a um estudante que agita", declara simplesmente
um chefe de policia. Mas, ainda assim, seria preciso descobrir o sentido desta agitação. Um mundo sem guerras, sem
fome, sem burocracia e sem favoritismos ofereceria menos
clima à agitação. Mas poderia realmente acabar com ela?
Jean Daniel, na sua análise dos movimentos estudantis, dá
uma resposta desaJentadora:
"No universo hierarquizado, administrativo, burocrático e estruturado, onde a espontaneidade se torna uma
doença oferecida aos psicanalistas, a iniciativa um reflexo estudado por economistas, a opinião um pretexto para sondagem, e nosso lugar no mundo um pretexto para planificação,
um jovem que dá seus primeiros passos na vida tem todas as
razoes para temer que o enterrem antes que êle viva. Só então
descobre a violência, o desafio, a intransigência."
Em outras palavras, Gomulka está tão superado em Varsóvia como Johnson nos EUA. Para os jovens, eles são os
representantes de um mundo que não lhes interessa. A desestalinização nos países do Leste tem o mesmo sentido dos protestos que regem estudantes americanos ou italianos. Ê difícil
dizer que seguem um movimento político específico. Ao contrário, a pluralidade de opiniões nestes movimentos é evidente.
Eles desafiam os donos do poder porque não querem viver
num mundo para o qual não foram chamados a reconstruir
0 protesto contra a guerra do Vietnã, em Londres, termina, melancòlicamente para esta moça.
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BP> A*i,mo x^.o.esi f ^cL.4/i8 # p x 2,
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*a-0.6£itACL.qífòt?tà
Em mangas de
camisa, de colarinho
desabotoado, o Presidente
O clieffe cio g o v e r n o a m e r i c a n o c a u s o u e n o r m e
impacto d e costa a costa dos Estados Unidos,
anunciando a sua decisão de n ã o concorrer ã
reeleição para a Casa Branca e suspendendo
os b o m b a r d e i o s a o Vietnã d o Norte
MURILO
MELO FILHO informa, de Nova Iorque, pelo telex
A RENUNCIA DE
«JOHNSON
Foros AP e Black Star
Oitenta milhões de norte-americanos, colhidos de surpresa, ouviram, estarrecidos, a comunicação feita pelo Presidente Lyndon B. Johnson, através de enorme cadeia de televisão, sobre
a sua decisão de não concorrer à Convenção do Partido Democrata, como candidato a candidato ao próximo período de governo. A estupefação foi geral, pois ninguém contava com tão
súbita desistência, nem com tão dramático discurso. Os comentaristas políticos, que logo depois
o sucederam no vídeo, confessaram-se completamente atordoados com a decisão de Johnson.
• M chegou a dizer: "Depois disso, só nos resta
^ ^ ir para casa e repousar a cabeça num travesseiro. Estamos por demais chocados e aturdidos.
É impossível raciocinar agora sobre fato tão imprevisto . "
A imagem que se apresentou aos olhos dos
telespectadores, da costa do Atlântico à costa do
Pacífico, foi a de um homem extremamente cansado, marcado pelo esgotamento, envelhecido por
mil e uma atribulações. Sua fisionomia bem espelha seus quatro anos de exercício do poder, em
meio a turbulências que vão desde os choques raciais no interior dos Estados Unidos às provações
da prolongada guerra no Sudeste asiático. Seu
rosto vincado de rugas e a profunda emoção com
que ele falou, chegando, por vezes, até as lágrimas, sensibilizaram inúmeras áreas da opinião norte-americana, sobretudo no campo feminino.
A fala presidencial de domingo durou quarenta minutos e foi proferida em VOZ grave e solene, sem a despreocupação e o tom mais ou menos
casual de outras palestras. Johnson tinha o discurso escrito à sua frente, mas falou todo o tempo
olhando diretamente para as câmaras de tevê, graças aos dispositivos, providos de lentes especiais,
usados para projetar o texto n u m painel, por trás
dos aparelhos que captam as imagens. Improvisou, no entanto, a frase final, pedindo a Deus
para que abençoasse todo o povo norte-americano.
Por toda parte, cruzavam-se as perguntas:
porque teria Johnson tomado tal decisão? Constara,
24
há um mês, de maneira um tanto vaga, que essa
poderia ser a sua atitude, mas ninguém tomara tal
hipótese ao pé da letra. Só há três dias — sabe-se
agora — ele se fixara definitivamente nesse ponto de vista, conhecido apenas por poucas prssoas:
os Secretários Dean Rusk, Clifford, o Vice-Presidente Hubert Humphrcy, o ex-Secretário Robert
McNamara, Lady Bird e seu secretário particular.
Pergunta-se, agora, se a sua atitude teria sido tomada cm razão da crescente popularidade das candidaturas dos Senadores Robert F. Kennedy C Eugene McCarthy nas eleições primárias, ou se em
conseqüência do declínio de seu próprio prestígio.
Ou, ainda, se por ter a saúde abalada ou por estar
desgostoso com a impopularidade de que se cercou pelos rumos que imprimiu à guerra do Vietnã.
T P A L V E Z fosse mais justo atribuir a sua decisão à soma de todas essas causas e, ainda,
à previsão de que os distúrbios raciais, no verão
deste ano, poderão ser ainda mais violentos que
os do ano passado.
Nas pesquisas da opinião pública, o indice de
sua popularidade, como presidente, considerados
os mais diversos aspectos da administração federal, desceu ao ponto mais baixo, desde a sua
ascensão ao poder, no dia da morte do Presidente Kennedy. Foi de apenas 36 por cento, contra
um índice de desaprovação de 52 por cento c de 9
por cento o de pessoas sem opinião formada.
Lyndon Johnson
trabalhou durante várias
horas, no Cabinet
Room da Casa
Branca, no histórico
discurso que pronunciou
no domingo passado.
4A/\ 4 i o M. Ò>Ç$r,ACl. 4-/(6, fct2S
BR> Ad,P>ic X ^ . C e S l . A C L ^ / i ô K i 4
a Inesperada renúncia de L B J , tudo
Indica que a luta eleitoral deste ano nos
EUA venha a ser travada entre Rictiard Nlxon
Robert F. Kennedy
O que se refere ao caso particular da
guerra do Vietnã, esse índice é ainda
menos elevado: só 26 por cento da população norte-americana apoia os rumos
por êle dados ao conflito, ao passo que 63
por cento o desaprovam e 11 por cento não
têm opinião formada. Tais pesquisas foram
fornecidas à imprensa precisamente no sábado passado e nesse mesmo dia eram conhecidas do público Cos jornais dominicais
começam a ser vendidos na véspera, à noite).
Os jornais insistiam em que "a popularidade
do Presidente Johnson chegara ao ponto mais
baixo".
Ao mesmo tempo, também anunciavam
que o Senador Eugene McCarthy era favorito absoluto na convenção primária do Estado de Wisconsin, "onde deverá derrotar
Johnson e conquistar uma sólida maioria de
delegados, na próxima terça-feira". O Senador McCarthy estava discursando num comício em Milwaukee, quando os jornalistas
lhe comunicaram a desistência do Presidente Johnson. Quando êle, por sua vez, a transmitiu à assistência recebeu uma prolongada ovação.
Imediatamente, declarou o Senador
McCarthy que essa desistência não o levaria a alterar qualquer dos slogans de sua propaganda, muitos dos quais fazem veementes críticas à atual administração. Disse, porém: "Sempre fui amigo pessoal de Johnson,
e sua atitude, de grande nobreza, clareia o
ambiente político e propicia a reconciliação
do nosso povo."
O outro postulante do Partido Democrático, Senador Robert F. Kennedy,
estava chegando ao aeroporto de Nova Iorque,
vindo de um comício que realizara em Phoenix, no Arizona, terra de Barry Goldwater e
o décimo-quinto estado que êle visitou em
duas semanas de campanha. Ao receber a
notícia, Bob Kennedy se recusou a fazer, no
momento, qualquer comentário, declarando
que se reservava para abordar o assunto no
dia seguinte, quando falaria numa cadeia de
rádio e de televisão. E, com sua esposa, dirigiu-se imediatamente para o seu apartamento, localizado num edifício recém-construído nas proximidades das Nações Unidas.
Um repórter do New York Times, John
Herbers, que o acompanhou nessa excursão
de propaganda, ficou entusiasmado com a
receptividade do nome de Bob. Disse êle
que, na primeira das duas semanas, o Senador Kennedy falara a auditórios que totalizavam cerca de 250 mil pessoas, além de
ter mantido contato pessoal com vários milhares e alcançado milhões através do rádio
e da televisão.
O mais provável candidato à Presidência pelo Partido Republicano, Richard
Nixon, estava chegando ao aeroporto La
Guardiã, em Nova Iorque, a caminho de
seu apartamento, na Quinta Avenida, quando soube da atitude presidencial. É disse
logo: "É inacreditável. Nunca esperei que
Johnson entregasse tão facilmente a vitória
na Convenção Democrática a Bob Kennedy.
26
O que êle fêz, na verdade, foi dar a este a
indicação, numa bandeja. Mas ainda assim
creio que a luta entre eles será acalorada.
Não me surpreenderei se o vice-presidente
Humphrey quiser agora ser candidato." Há
também quem argumente com a hipótese de
uma manobra de Johnson, como velha raposa
política, jogando no pano a sua renúncia e
mostrando que nada quer, para comover as
bases partidárias com esse gesto de desprendimento, a fim de que estas lhe imponham a
candidatura, na convenção de julho. Isso
seria, entretanto, um caso inédito na politica dos Estados Unidos. Não há exemplo
de uma palavra presidencial, testemunhada
por milhares de pessoas, deixar de ser cumprida. O próprio Johnson declararia mais tarde, aos jornalistas, já de camisa azul de gola
roulée e comendo pudim de chocolate, que
a sua decisão era definitiva. Na véspera,
Johnson mandara suspender os bombardeios
ao Vietnã do Norte em 90 por cento do
país, para reduzir as proporções do conflito
e reabrir as negociações de paz. Esses bombardeios ficaram limitados a estreita faixa
vizinha da zona desmilitarizada. Afinal, depois de um período de obstinação, êle optou
pela "desescalada", tomando a primeira medida concreta no sentido há longo tempo
advogado por U Thant, secretário-geral da
Da janela de baixo, Jackie Kennedy e John
Júnior viram Bob passar sob grande
aclamação.
ONU, e pelo Papa Paulo VI. Se a ofensiva
de paz que ora recomeça der resultado, terão
desaparecido as principais objeções do eleitorado norte-americano contra êle, que estaria em condições de atender aos apelos das
bases partidárias, renunciando à renúncia,
para pleitear novo mandato presidencial, Mas
existe o risco de ser considerada tardia essa
atitude, agora que os vietnamitas do norte
podem achar que o curso da guerra está a
seu favor. De qualquer modo, a palavra está
agora com Hanói, que sempre clamou pela
cessação dos bombardeios como o passo inicial indispensável a qualquer começo de negociações, Johnson frisou: "A área em que
estamos suspendendo os nossos ataques abrange quase 90 por cento da população do
Vietnã do Norte e a maior parte de seu território. Assim, não haverá ataques nas
áreas populosas principais e nas áreas produtoras de alimentos. Mesmo esse bombardeio limitado pode terminar brevemente, se
nossa contenção for imitada por Hanói. Todavia, não posso em sã consciência cessar
todo o bombardeio, sem colocar imediata e
diretamente em perigo a vida dos nossos homens e dos nossos aliados. Se uma cessação
completa dos bombardeios se tornar possível
no futuro será determinada pelos acontecimentos." Johnson frisou esperar um gesto de
compreensão de Ho Chi-Minh, no sentido
de fazer cessar a infiltração de guerrilheiros
entre os sul-vietnamitas. "Peço que as conversações sejam iniciadas prontamente e que
sejam conversações sérias, sobre a substância da paz."
O Presidente Johnson falou longamente
sobre as operações do Sudeste da Ásia, para
rebater as principais críticas feitas por personalidades como Bob Kennedy e outras,
que acusavam o governo do Vietnã do Sul
de não mobilizar seriamente as reservas
humanas desse país, enquanto a mocidade
norte-americana morria e se cstioLava cm
Khe Sanh.
i ^ E F E N D E U o governo do Presidente
^ ^ Thieu e disse que a contra-ofensiva
dos vietcongues fracassara completamente,
pois as cidades assaltadas estavam agora
sob o controle dos EUA e de seus aliados.
Estava, porém, disposto a salvar as vidas de
homens bravos e de mulheres e crianças
inocentes. E declarou: "Esta noite, conclamo a Inglaterra e a União Soviética —
como co-presidentes das conferências de Genebra e membros permanentes do Conselho
de Segurança das Nações Unidas — a fazerem todo o possível para que caminhemos
do ato unilateral de cLesescolação, que acabo
de anunciar, para a paz verdadeira no Sudeste da Ásia, Agora, como no passado, os
Estados Unidos estão prontos a mandar os
seus representantes a qualquer fórum, a
qualquer momento, para discutir os meios
de pôr fim a essa guerra."
Revelou que, por seu lado, já se adiantara: "Estou designando um dos nossos mais
ilustres cidadãos, o Embaixador Averell Harriman, meu representante pessoal para tais
Falando aos tcrnalistas,
no Jardim das Rosas
na TV sobre o problema
do Vietnà. mas nada
da Casa Branca.
Johnson
snunciou-lhes
que ia falar
adiantara sobre a decisão de renunciar à sua
candidatura
Richard Nixon mostrou-se
surpreso
e achou que as vantagens no Partido Democrático
são para Robert F
Kennedy.
Eugene J.
elogio para
McCarthy
teve palavras
de
LBJ ao saber da
renúncia.
O Senador Robert F. Kennedy, aclamado durante a sua campanha de duas semanas, através de 15
estados. A eficiente equipe que assessorou o Presidente Kennedy está a postos para trabalhar por èle.
conversações. Alem disso, solicitei ao Embaixador LJelwellyn Thompson, que veio de
Moscou para consultas, que fique disponível,
a fim de juntar-se ao Embaixador Harriman
em Genebra ou em qualquer outro local escolhido, tão cedo quanto Hanói concorde em
uma conferência. Conclamo o Presidente
Fio Chi-Minh a responder positiva e favoravelmente a esse novo passo em direção da
paz. Se a paz não vier por meio de negociações, virá quando Hanói compreender que
a nossa decisão comum é inabalável e o nosso poderio comum é invencível."
Para não dar a impressão de que fa/ia
as aberturas de paz por fraqueza, Johnson
acrescentou, a essa declaração, a de que os
Estados Unidos e seus aliados já tèm no
Vietnã 600 mil combatentes, para dar ajuda aos 700 mil soldados sul-vietnamitas.
Falou longamente sobre os recursos ali
acumulados, mas ao fim disso \oltou ao tema
da paz, "essa paz que um dia porá fim ao
derramamento de sangue, essa paz que permitirá àquele povo reconstruir e desenvolver
o seu país e que também permitirá que nós
voltemos a dedicar nossos esforços plenamente às tarefas nacionais".
| L J A parte final do discurso Johnson disse
que, quando uma tragédia o levara ao
poder, pedira o auxílio do povo e 'de Deus,
para que pudesse manter os EUA no seu
rumo, curando as suas feridas, corrigindo a
sua história, marchando para uma nova unidade. E disse: "Unidos, temos mantido esse
compromisso. E por todo o porvir acredito
que os EUA serão uma nação mais forte,
uma sociedade mais justa, uma terra de
maior oportunidade e satisfação, em razão do
que todos fizemos juntos, nestes anos de realizações sem paralelo. Nossa recompensa
virá na vida de liberdade, de paz e de esperança, que nossos filhos desfrutarão pelos
anos afora. O que obtivemos, com o nosso
povo, unido, não pode agora ser perdido com
suspeitas, desconfianças e egoisrnos políticos.
E, acreditando nisso, conclui que não deveria permitir que a Presidência se envolvesse
nas divisões partidárias que se estão desenvolvendo neste ano político. Com os jovens
norte-americanos nos longínquos campos de
batalha, com o futuro dos EUA desafiado
dentro de nossa própria pátria, com as nossas esperanças e as esperanças do mundo,
com a paz, em jogo todos os dias. não creio
que possa dedicar uma hora sequer a nenhuma causa partidária, ou a qualquer outra
tarefa que não sejam as imensas tarefas desta função — a Presidência de vosso país.
Assim sondo, não buscarei e não aceitarei a
indicação de meu partido para outro período
como vosso presidente. Mas que todos os
homens, em toda parte, saibam, no entanto,
que uma América forte, confiante e vigilante w levanta disposta, esta noite, a alcançar uma paz honrosa e a defender uma causa nobre, qualquer que seja o preço, qualquer que seja o fardo, qualquer que seja o
sacrifício que esse dever possa exigir. Agradeço-vos pela atenção. Boa noite. E Deus
vos abençoe a todos."
27
BP>
&P> / W , P i i O X ^ - 0 . £ ^ ) , ^ C L . 4 / i 6 , f . ^ 5
Maria Teresa
A VISITA DA
SAUDADE
Reportagem de Sérgio Ro*~ •
Fotos de Wilson Lima e Hajimo Hirano
O povo que se comprimia na porta da igreja de São
José, no casamento de leda Maria Vargas, aplaudiu a
chegada de D. Maria Teresa Goulart. Ela sorriu e agradeceu discretamente. Ao seu lado, João Vicente, muito
crescido e bonito. Foi por causa do filho, que até então
não conhecia Porto Alegre, que a ex-primeira dama
dilatou a sua permanência no Rio Grande além das
40 horas anunciadas ao desembarcar.
— É sempre bom, no exílio, receber atenções de
amigos — disse ela, referindo-se ao convite para o casamento de leda Maria Vargas. Nestas horas, uma palavra
toma contornos excepcionais. Nem todos cultivam 4 amizade dos que não têm poder.
Na segunda vez que vem ao Brasil desde o inicio
do exflio no Uruguai, D. Maria Teresa levou João Vicente
às compras — um presente para o pai, outro para a irmã
Denise, livros e gramáticas de português —, sempre reconhecida na rua por gente que a cumprimentava. Surgiram inúmeros convites para jantares. almoços e festas,
todos recusados amàvelmente. A mãe, uma parente e o
Sr. Valdir Borges, advogado de Jango, faziam-lhe companhia no hotel ou nos passeios em Porto Alegre, que
João Vicente percorreu com muita curiosidade, sem esquecer o futebol. E às perguntas sobre o regresso definitivo ao Brasil, uma resposta sucinta:
— Meu marido decidirá da oportunidade. Enquanto
isso, cultivamos nossas saudades.
i
)
-f
Os passeios em Porto Alegre foram feitos com a maior discrição
28
e a companhia exclusiva de poucos
familiares.
I
fiAi.ftioxq.o.ezi.^tL^he^.ub
Partidários de Árias se regozijam com o "ímpeachmenf
Com rifles que disparam granadas, a Guarda Nacional dispersa o povo.
30
Uma onda de agitação varre o Panamá.
A crise atual é a mais grave ali ocorrida,
desde que essa antiga província
colombiana se desmembrou, para
emancipar-se, quando o Congresso
Nacional, em Bogotá, recusou aos
Estados Unidos a concessão do canal que
hoje liga o Atlântico ao Pacífico
através do istmo panamenho.
COM DOIS
PRESIDENTES
Fotos AP, Via VARIG
-í9
de Robies. Emb.; um guarda naciona! pronto para usar gás
lacrfmejante.
Tudo resultou do recente acirramento da luta pela presidência, entre o candidato oposicionista
Dr. Arnulfo Árias (que já exerceu anteriormente o cargo) e David Samúdio, candidato oficial, apoiado
pelo Presidente Marco A. Robles. A certa altura, quando este empenhava toda a máquina estatal em
favor de seu preferido, ficou sem maioria parlamentar. Os deputados, rebelando-se contra tal intromissão,
aprovaram o seu "impeachment", empossando imediatamente no cargo o primeiro vice-presidente, Max
Delvalle. Acontece que o destituído tinha ao seu lado a Guarda Nacional (o Panamá não dispõe de exército), e se recusou a aceitar a autoridade do novo presidente.
Assim, o Panamá ficou com dois presidentes, um de fato, Robles, e outro de direito, Delvalle, o
primeiro dispondo da força armada e o segundo das simpatias populares. Robles mandou cercar o edifício da Câmara, impedindo que os deputados e o Presidente Delvalle lá entrassem. O povo protestou,
verificando-se repetidos conflitos. Parece que o beneficiário será o Brigadeiro Bolívar Villarino, que emerge
como o homem forte do Panamá. Casado com a alemã Irmã Strunz, êle tem 51 anos e desde os 3 5 comanda
os 4.810 homens da Guarda Nacional, que é a corporação mais bem paga da América Latina, com equipamento modemíssimo (graças aos milhões de dólares dos EUA, além de treinamento em bases americanas).
Quando a luta entre os partidos chegar ao máximo, êle poderá passar de árbitro a dono da situação.
3i
1
GAGAR
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M ?
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•
kM^
/
&
£% S mais altos dirigentes soviéticos, entre os quais Brejnev,
Kossiguin e Podgorny, constituíram
a guarda de honra do astronauta
pioneiro Yuri Gagarin, morto num
desastre aéreo, na semana passada,
nos arredores da cidade de Vladimir, próximo a Moscou. Durante vários dias, centenas de milhares de
moscovitas visitaram a câmara funerária nos salões do Kremlin. Depois,
suas cinzas foram transportadas
para a Praça Vermelha e depositadas ao lado do túmulo de Lênin.
Fotos Novostl, Dalmas e AP
£ ^ 4A/, M'0X3.O.£SI,4CL.4//g, p.3\
V)
Os
candidatos
a
cosmonauta
sào
familiarizados
com os foguetes
interplanetários
!U<
A nave
cósmica
Vostok-1
prepara-se
para
decolar,
levando
no seu interior
Gagarin
Depois do vôo espacial, Gagarin ficou famoso. Mas alguns anos antes (embaixo, à direita) era um simples piloto de provas nos Urais.
Gagarin morreu
sem realizar o seu
maior sonho: percorrer, com outros
astronautas, a rota
Lua — Vênus — Marte
34
Moscou, 12 de abril de 1961: num ponto qualquer do território
soviético, por volta de meio-dia, são captadas as primeiras palavras
que um homem envia do Cosmos: "A Terra é azul! A Terra é azul!"
Brasília, 29 de junho de 1961, cerca de 6 horas da tarde.
Yuri Gagarin, o primeiro homem a tripular uma nave espacial, é
recebido como convidado especial do governo brasileiro. Suas primeiras palavras: "Brasília é a mais bela cidade que já vi."
Torre de Controle do aeroporto militar de Chkalovsky, 27 de
março de 1968, 8 horas e 46 minutos da manhã. Um aparelho de
treinamento, provavelmente um Mig-21 aperfeiçoado, espatifa-se próximo à localidade de Vladimir. Seu piloto era o célebre astronauta,
herói da União Soviética, Coronel Yuri Gagarin. Suas últimas palavras: "Camaradas, estou caindo!"
Moscou, manhã do dia 30 de março de 1968. Depois de suas
cinzas terem sido colocadas num nicho de 30 centímetros quadrados, nas muralhas do Kremlin, fêz-se silêncio total, seguindo-se uma
salva de artilharia. Era a derradeira homenagem ao piloto da Vostok.
Yuri Gagarin
despede-se
de seus companheiros,
minutos
antes
de partir
para
o
Cosmos.
35
Bh AM, P>iO X^.0.££». r A C L . q / i ô - 3 3
GANHE
&P> M,fttoyc*!.o.Gsi,ACL.4/ia
p.34
Filho d e m o d e s t o marceneiro,
a embriaguez do espaço e as
s o l i c i t a ç õ e s d a f a m a não f i z e r a m
o m o ç o Yuri Gagarin renegar
sua origem humilde, n e m
lhe tiraram o s pés d a Terra
DO SEU
IMPOSTO
DE RENDA
VANTAGENS
DE SEU
NOVO NEGÓCIO
NA AMAZÔNIA!
ISENÇÃO TOTAL DO IMPOSTO OE
RENDA até 1962 inclusive para os
empreendimentos que se instalarem
até 1971.
ISENÇÃO TOTAL DE IMPOSTOS E
TAXAS FEDERAIS com relação à
correção do registro contábil do valor dos bens de seu ativo imobilizado e ao correspondente aumento
de capitai com recursos provenientes de reservas ou lucros suspensos.
ISENÇÃO DO IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO, com a possível inclusão de seu produto na lista de
mercadorias do Conselho Monetário
Nacional, por sugestão da Sudam.
ISENÇÃO DE QUAISQUER IMPOSTOS OU TAXAS DE IMPORTAÇÃO
de máquinas e equipamentos, mesmo
os cobrados por órgãos de administração indireta.
DISPENSA do recolhimento ou depósito de qualquer natureza na
compra de câmbio para a importação de máquinas ou equipamentos
considerados prioritários pela Sudam.
DISPENSA do dopósito de 1 0 % do
capital, previsto pela Lei das So
ciedades Anônimas, para as pes
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diversas
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de Janeiro - Rua da Assembléia, 62 • Fones: 31-3192 - 31-1550
Porto Alegre - Rua Borges de Medeiros, 646 - Fone: 5415 • Goiânia
Av. Anhanguera, 103 - Fones: 6-3170 - 6-3171 - Brasília - Avenida
W-3 - Quadra 13 - Lotes 7, 8, 9-A - Fones: 2-3580 e 2-3581
36
amigas.
Cena
que
não
se repetirá:
Gagarin
e
sua
família.
Êle
era
A viúva do Coronel Sereguin, falecido no mesmo acidente, é confortada
aplicando na
a
I
Vatentina
Yuri Gagarin morreu voando. A mesma voz que sete
anos antes revelara ao mundo que a Terra era azulada e muito
bonita, quando vista do espaço, reconheceu que o Mig acidentado não mais poderia ser salvo. Ao seu lado morreu o engenheiro-comandante de uma unidade da Aviação russa, Coronel Sereguin. Não se sabe, ao certo, quem pilotava o aparelho
no momento do desastre, mas o fato é que o uso de pára-quedas não foi sequer tentado. Depois da mensagem desesperada
de Gagarin, a torre de controle perdeu contato com o aparelho,
embora êle ainda fosse visível nas telas do radar. Imediatamente partiram helicópteros que não tardaram a avistar os
restos do Mig num bosque, a 17 quilômetros de Vladimir.
0 avião, que voava a quatro mil metros de altitude, caiu quase
na vertical, com um ângulo de inclinação de 70 graus. Mas
as causas do acidente ainda não foram totalmente esclarecidas.
Yuri Gagarin foi o primeiro homem a realizar o mais destemido sonho de todos os tempos: sair da Terra e a ela voltar
no momento desejado, com aparelhos adequados e totalmente
sob controle. O primeiro vôo tripulado ao espaço ocorreu nas
primeiras horas da manhã daquele 12 de abril. O foguete portador do satélite Oriente ÇVostok, em russo) era lançado de
uma base desconhecida. Vinte minutos depois a astronave entrava em órbita. Durante todo o vôo, o comportamento de Gagarin e o funcionamento de todos os aparelhos de registro de
bordo foram cuidadosamente observados através de sistemas
telemétricos de rádio e televisão.
Ao descer da nave, excitado, com os olhos brilhantes, o
astronauta de 27 anos dizia a todos que o rodeavam: "A vista
do horizonte é única e formosíssima. Ê possível ver as mudanças deste notável colorido, desde a clara superfície da
Terra, ao firmamento inteiramente escuro, onde se avistam as
estréias. Esta linha divisória é muito estreita, como se fosse
uma espécie de fita de celulóide que cerca a esfera terrestre.
Ê de cor azul-clara, muito suave e formosa. Mas quando aparece a sombra da Terra, surge no horizonte uma franja alaranjada, que passa para o preto absoluto." Esta impressão, cuja
força poética encantou os povos de todo o mundo, foi trazida
por Yuri Alexeyevitch Gagarin, que em 1 hora, 48 minutos e
1 segundo realizou uma volta completa em torno da Terra,
num vôo cujo perigou (ponto mais próximo da Terra) foi de
181 quilômetros, e cujo apogeu (ponto mais distante) foi de
327 quilômetros.
Na época, os observadores ocidentais fizeram uma reconstituição de como teria sido o primeiro vôo espacial tripulado.
Gagarin
um
ídolo
chora
para
a
as
De fato, Gagarin vinha sendo submetido à preparação —
desde um ano antes do vôo — num laboratório experimentai de
localização desconhecida. As provas físicas e psíquicas eram
duríssimas. Um dos testes mais rigorosos consistia em passar
vários dias na cabina espacial, em absoluto isolamento. Ali procurava-se reproduzir as condições do vôo cósmico: ensaios de
aceleração violentíssima, bruscas mudanças de temperaturas,
aumento intensivo da força de gravidade. Seu desenvolvimento
intelectual também foi intenso. Orientado pelos melhores especialistas soviéticos, Gagarin tornou-se um perito em eletrônica, física, astronáutica e astronomia. Ao fim de tudo, mostrou que era o homem indicado para a grande missão: seu equilíbrio psíquico era perfeito.
Yuri Alexeyevitch Gagarin nascera a 9 de março de
1934,
numa granja coletiva nas proximidades de Smolensk.
Seu pai era marceneiro e a mãe — Ana Gagarina — dona-decasa. Aos sete anos êle começou a freqüentar a escola do distrito, mas os nazistas ocuparam a região e seus estudos só recomeçaram após a guerra. De acordo com as biografias oficiais — distribuídas aos milhões na União Soviética — Gagarin foi um bom estudante, concluindo com brilhantismo os
estudos secundários em 1951. Ingressou em seguida na Escola
Profissional de Liberetsk. não muito longe de Moscou, de onde
saiu formado como técnico em fundição. Ambicioso e aplicado,
começou a estudar numa escola noturna da juventude comunista, enquanto trabalhava. Desde 1949 passou a ser membro das organizações do Komsomol e no ano seguinte foi admitido no PC. Matriculando-se na Escola Técnica de Saratov, Gagarin continuou a estudar e em 1955 forma-se com
distinção. Daí segue para a Escola de Aviação de Orenburg
nos Urais, onde é graduado em 1957. Dotado de aptidões
excepcionais. Gagarin é chamado a servir como piloto de provas, na Força Aérea Soviética, e em junho de 1960 ingressa
no Partido Comunista. Gagarin era casado com uma médica
de 33 anos de idade, de nome Valentina, e deixa duas filhinhas
Yelena de 9 anos e Galya de 7 anos.
Yuri Gagarin morreu sem realizar o seu maior sonho:
visitar Vênus, ver o que escondem suas nuvens; ver Marte, verificar se tem canais, ou não. Ou, pelo menos, realizar um
vôo até a Lua. Os homens do futuro não esquecerão os feitos
deste jovem sonhador, misto de Júlio Verne e Cristóvão Colombo, que escreveu, no livro intitulado O Mundo Daqui a
20 Anos;
'Sem afastar-me das possibilidades da ciência e da técnica,
e penetrando ligeiramente n . terreno da fantasia, trato de
morte
crianças
do
marido
soviéticas.
No
Brasil.
Gagarin
toi
recepcionado
por
Jânio
imaginar como se irão construindo, um após outro, os degraus
que conduzirão o homem ao Cosmos. No princípio serão
Sputniks da Terra que irão penetrando cada vez mais no
espaço sideral, enriquecendo mais e mais nossos conhecimentos
do Cosmos. Uma e outra vez mais voarão estes laboratórios
na imer.sidão do espaço para investigar as franjas radiativas
de nosso planeta, a atividade do Sol, a vida e o movimento do
nosso manto nebuloso.
Gagarin não
toi apenas um
pioneiro do espaço.
Leitor assíduo
de Júlio Verne e
amante das flores,
êle era o mais
popular
dos
astronautas
russos.
E chegará o dia em que se estabelecerá contato direto
com a Lua. Imagino que descerá na Lua um artefato automático teledirigido, capaz de decolar e realizar um vasto programa
de investigações. Essa exploração nos dará a conhecer muitas
coisas sobre o passado do nosso próprio planeta. A Lua é
uma espécie de museu geológico no qual se conservaram amostras de antigas formações análogas às terrestres. Em sua
superfície, explorada minuciosamente pelos artefatos telecomandados, descerão foguetes de transporte. O homem, no
início, limitar-sc-á a voar em torno da Lua. Os foguetes depositarão nela as reservas de tudo que fòr necessário para a sobrevivência de seres humanos. D.pois aparecerá o primeiro grupo
de astronautas. Só um grupo b. m preparado será capaz de levar
a cabo as tarefas de conquista de um lugar que durante o dia
atinge temperaturas de 120 graus, e à noite estria até 150
abaixo de zero.
Tenho fé que muito antes de 1981 descerão na Lua o primeiro observatório astronômico e o primeiro espaçoporto para
a viagem a Vênus e a Marte. A sexta parte da gravidade da
Terra, e além disso a ausência de atmosfera facilitarão em
muito o vôo a partir da Lua. Nosso vôo a Vênus durará muito
tempo. E enquanto voamos mentalmente até o pianeta-côr-delaranja quero também pensar no dia em que as naves cósmicas
funcionarão não à base de reação — que provoca a oxidação
do combustível — mas à base da energia atômica, termonuclear.
Acredito na genial profecia de Konstantin Tsiolkowski: o homem
chegará a dominar todo o espaço circunsolar. Meus sonhos,
então, serão tidos como demasiado tímidos. Dentro de vinte
anos o homem não irá somente à Lua, Vênus e Marte, mas
também a Mercúrio, Plutão. . . Isso acontecerá, sem dúvida.
Por enquanto temos de trabalhar, estudar, organizar nossos futuros vôos. Que possamos um dia apertar as mãos dos cosmonautas de todos os países, num encontro espacial. . .
Tenho o grande dese o de estar entre os que empreenderão os primeiros vôos da rota Lua—Vênus—Marte. . . ' '
37
p
3h
O
4AJ, P ) i o x l . O . 6 5 / , 4 C L . 4 / I 8 . p. 3 5
B R A S I L
EIVI
M A N C H E T E
a cia. industrial
novopan tem
o prazer de
apresentar
o severino
Murilo nOS EstadOS UnidOS •
p e io Boeing das Aerolineas Argentinas, que iniciou seus vôos diretos entre o Rio e Nova Iorque, seguiu
para os Estados Unidos o jornalista Murilo Melo Filho, diretor-executivo das Empresas Bloch. Além de tratar de problemas referentes
à expansão dos nossos serviços naquele pais. acompanhará de perto
os primeiros passos da sucessão norte-americana, recolhendo material para as reportagens de MANCHETE. Em sua companhia também
viajaram os jornalistas Zózimo Barroso do Amaral e Pedro Müller
^•MIU
Como o Severino. há milhares de outros operários
no Nordeste. Tão inteligentes quanto èle. E com a mesma vontade de aprender. Isto
é uma boa prova de que a mão-de-obra nordestina é valiosa.
Não é à toa que o Severino. logo logo. será um dos nossos
técnicos em madeira aglomerada e laminados plásticos. A
S U D E N E t e m plena consciência
d i s s o . E o B a n c o d o N o r d e s t e do
Brasil S.A. também. Tanto que nos apoiaram
na instalação de nossa fábrica, no Centro Industrial
de Aratu (Bahia). Nós nos orgulhamos do Severino.
Setenta anOS de Peregrino •
o s amigos do escritor Peregrino
Júnior comemoraram com um jantar no Parque Recreio a passagem
do 70.° aniversário natalício, comparecendo 300 pessoas, inclusive
escritores, médicos, artistas e figuras da sociedade. Entre os oradores, o Sr. Austregésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira
de Letras, exaltou o homenageado pela sua ação como diretor da
Policlínica-Geral do Rio de Janeiro, entre muitas outras atividades.
O VOL KSWAGEN DO BRÁS*. S A
Mexa os pauzinhos e leve uma tonelada.
cn
cia. industrial novopan
a j u d a n d o a m o l d a r o futuro
centro i n d u s t r i a l d e a r a t u - b a h i a
38
Saudades
do Internato •
Ex-alunos do internato do Colégio
Pedro II, formados nos anos de 1940 a 1945, reuniram-se numa churrascaria para comemorar os anos passados, com votos de que ainda
haja muitos outros para o futuro. Médicos, advogados, jornalistas,
contadores e militares reviveram o clima de quando eram jovens: o
jantar começou quase formal, mas no fim eram cantadas as músicas
do colégio, enquanto ressurgiram muitos dos apelidos e brincadeiras.
Claro que isso é modo de dizer.
Porque, para levar uma tonelada na
Kombi Volkswagen, o certo é tirar os
dois bancos. E depois, v. coloca
a carga com mais facilidade ainda,
graças às duas grandes portas laterais
que a Kombi Volkswagen tem.
Claro que ela não foi feita só para
levar uma tonelada.
Até mesmo quando a Kombi
carrega pequenas cargas, v.
pode descobrir como ela é econômica.
O segredo é simples: o motor
Volkswagen 1.500, de 52 H P ,
faz mais quilômetros
com menos gasolina,
E só troca 2,5 litros
de óleo a cada 2.500 km
Além disso, como
a Kombi tem mecânica
Opcional: agora a Kombi também é encontrada com diferencial travante.
Volkswagen, sua manutenção é muito
simples. E por isso, muito econômica.
Depois, quando chega o fim de
semana, é só colocar os bancos.
Um gostoso passeio com a família
é o melhor
e
melh meio de aproveitar
as outras vantagens de ter
uma Kombi Volkswagen.
E segunda-feira, v. começa
tudo de novo.
39
Página
dupla
^SS
Wlaria Beatriz,
E só Carolina não viu
— Eu acho que a Carolina do
Chico só podia ser assim.
Albery Seixas da Cunha apreendeu tão bem o espírito da musa
inspiradora de Chico Buarque, que
seu trabalho obteve o primeiro lugar no recente c o n c u r s o que p r o punha esse tema, instituído por
uma galeria de arte carioca. A
sua Carolina composta em azulturquesa. preto, b r a n c o e vermelho
não faltaram os olhos tristes (com
a dor de todo este mundo), a rosa,
o violão e a janela. E uma pose
de Gioconda.
Albery. hoje c o m 23 anos, começou a pintar aos 14 anos. escolhendo o surrealismo por se identificar c o m essa escola. Êle é a u todidata, mas considera a pesquisa
c o m o o mais importante na pintura. Sua preocupação básica: criar
um estilo individual. Êle gosta de
fazer retratos e diz: "Trata-se de
uma experiência humana que transcende, que sempre emociona o
artista." Assim, Albery tem pintado gente famosa: Odete Lara,
— O senhor desculpe, mas eu
vim aqui ver se o senhor podia
ler uns poemas que eu escrevi.
Ibrahim Sued, Eliana Pittman, Skati
Chaves, entre outros. Em pauta: o
retrato de Marta Rocha. Ête também é bom na decoração de fachadas de butiques, c o m o a Biombo e a Bilboquet, no Rio.
Nascido em Belém do Pará, A l bery d e d i c a o dia inteiro à pintura
no seu atetie r de Copacabana, dá
aulas no pré-vestibular da Escola
de Belas-Artes (onde estudou Desenho e Artes Gráficas). Nas horas vagas, que são poucas, toca
violão e compõe. Agora, êle prepara para o segundo dia de maio
uma exposição individual na G a leria Meia-Pataca. Para o futuro
mais remoto está programada uma
viagem à Europa, seguindo o c o n selho do gravador Piza. atualmente morando em Paris, o n d e obtém
expressivo sucesso: " N ã o venha
para a França sem antes se realizar no Brasil.'
Vinícius olhou a moça parada
diante de sua porta, gostou de sua
franqueza, do jeito de menina, de
seus grandes olhos castanhos. Disse-lhe que entrasse. Leu duas ou
três páginas e perguntou à jovem
se ela poderia deixar as poesias
e voltar no dia seguinte. A seguir,
preparou um utsquezinho, sentouse numa confortável poltrona e saboreou cada verso, do c o m e ç o ao
fim do livro. Depois, entregou à
m o ç a o seu veredicto: " M a r i a Beatriz, seu rosto jovem de 18 anos
está marcado pelo martírio da poesia. Seus versos nascem naturais,
espontâneos, é quase uma reação
orgânica. Em cada frase descubro
a inocência sem falsidade, a candura sem problemas. Você é uma
menina-girassol num j a r d i m de t r i s tezas."
E enquanto persegue essa realização. Albery vai procurando novas musas para suas criações. Que
não seja Carolina.
tlnri.sn ffajci
a
menina-girassol
Com uma carta de Vinícius, ela
p r o c u r o u a Editora Pongetti e não
teve dificuldade em publicar seu
primeiro livro, Lugar Nenhum,
lançado esta semana c o m prefácio do
próprio poeta. Maria Beatriz Farias de Sousa diz que c o m e ç o u a
escrever aos 13 anos e que Lugar
Nenhum " é o nome que dava àquela fase e m que a gente não sabe
o que quer, não sabe para onde
ir, não está e m parte a l g u m a " .
Ela t a m b é m já escreveu crônicas
contos e peças de teatro, " i n c l u s i ve uma que se chama Enterro, mas
é uma c o m é d i a " . Vinícius, que a
descobriu, diz: " O s jovens poetas
brasileiros parecem mais velhos
do que os velhos, são formalistas
demais, preocupam-se muito c o m a
forma e se esquecem que t u d o é
bonito quando é verdadeiro. Beatriz não, ela escreve o que sente,
fala das coisas simples, do sol, da
vida, da chuva, do sonho, da sombra e, o que é mais importante,
do a m a n h ã " .
Ivy
GabagUa
Luís
Fernandes
Kátta
e Tamir; Cynara
e
Cybele
São os baianos que vêm
Eles venceram o I Festival de
Jovens Compositores d a Bahia, e
uma de sueis músicas premiadas,
Rancho Para Quem Vem de Fora,
gravada por uma dupla também
baiana — Cynara e Cybele — , vendeu 12 mil discos na primeira semana.
Kátia e Tamir D r u m o n d
vieram ver o lançamento, depois
voltarão â Bahia, mas no ano que
vem esperam morar definitivamente
no R i o .
Kátia, pequena e gordinha, faz o
último ano na Faculdade de Ciências Sociais, ao mesmo tempo que
trabalha num escritório de planejamento e c o n ô m i c o montado por
ela e Tamir, c o m mais dois sócios.
Tamir e o tipo físico o p o s t o : alto,
magro, reservado, estuda Jornalismo, grava em madeira e p i n t a .
Muito importante: Kátia e Tamir são
casados, o que tem influído d e c i s i vamente na sua carreira m u s i c a l .
Eles c o m p õ e m juntos desde que
se c o n h e c e r a m . Hoje têm 42 m ú sicas, das quais a última, Um
Caso por Acaso, foi feita no R i ô .
Carlos
A l é m disso, tendo estudado harmonia e análise musical, além de
piano e violão, a sua música distingue-se pelo emprego de instrumentos regionais e e r u d i t o s .
No
Rancho
há trombone-de-vara, zabumba, reco-reco, caixa e flauta.
Em Encontro,
modinha que ganhou
o 5.° lugar no mesmo festival
baiano (além do prêmio para o
melhor arranjo), a orquestração emprega um quarteto de flautas e as
violas da gambá e damore,
instrumentos barrocos. Mas o e l e m e n to-chave em todas é o v i o l ã o .
Recém-casados,
difundindo
as
suas músicas no meio estudantil e
participando de shows
universitários, Kátia e T a m i r resolveram inscrever-se no F e s t i v a l só c o m
Encontro; no último minuto c o x e a ram o Rancho Para Quem Vem de
Fora.
O sucesso, mais o êxito da
primeira gravação feita por Cynara
e Cybele, animou-os a programar
outras oito g r a v a ç õ e s . O sucesso
vem c o m e l a s . E âies pretendem
vir j u n t o .
Vera
Uma revelação
Albery
Seixas
üa
Cunha
no
Flamengo
Luís Carlos queria ser professor,
mas parou de estudar no quarto
ano ginasial por causa do futebol.
Não queria vir para o Rio, mas
ainda por causa do futebol teve
que deixar sua vida tranqüila em
Três Irmãos. Em junho, se tudo
correr b e m , o futebol é bem capaz
de levá-lo à Europa, c o m a seleção brasileira. C o m 20 anos, torcedor do Vasco até os 15, sensação no Flamengo. Luís Carlos parece um dêsòes novos ídolos que
sabem c o m o pensar e respirar em
termos de carreira. João Saldanha
já insinuou que êle já se mascarou.
Luís Carlos não c o n c o r d a
sob hipótese alguma.
Com poucas certezas (uma delas
é que entrar em c a m p o c o m o pé
esquerdo dã azar) e algumas d i v i das ("jamais poderei pagar
ao
Paulo Henrique o que êle fêz por
m i m " ) , transformou-se num bom
ponta que. pessoalmente,
gosta
mais de jogar no meio do c a m p o .
Êle se sente confiante e seguro:
Êle faz a barba só duas vezes
por semana, lê Grande
Hotel
e
Ilusão, vai à missa todos os d o m i n gos, não fuma, não bebe. não gosta de barulho. Divide um a p a r t a mento no Leblon c o m César e Sapatão (quando puder, c o m p r a um
só para si) e não tem p r e o c u p a ções, nem mesmo c o m peso, pois
não passa dos 66 quilos. É f e l i z .
O futebol, para Luís Carlos, tem
sido a sua preocupação, mas êle
parece
absolutamente
tranqüilo
quanto a outros assuntos.
Gosta
de tomar banho assobiando, tentou
aprender tocar vio'ão interessa-se
pelas noticias dos jornais. Se não
puder ir à Europa, não ficará triste. E se um dia tiver que trocar de
profissão, vai estudar contabilidade.
A melhor de Mar dei
(Paris) — Annie Girardot me faz
um aceno afirmativo, lá de longe,
respondendo à pergunta que eu lhe
enviara por intermédio do g a r ç o m ,
na Brasserie
Lipp.
Pelo mesmo
portador, mando-lhe um mini-questionário. ao qual ela responde sem
que as demais pessoas sentadas à
sua mesa percebam que ela está
concedendo uma entrevista.
Resumo suas respostas: " O r a . J e a n Paul, você me conhece o bastante
para saber que não esnobei o Festival de Mar dei P l a t a . Não fui receber o prêmio de melhor atriz
(NR: por seu papel em Viver por
Viver, de Lelouch) porque aproveitei uns raros dias de folga para
visitar Renato (Salvatori) no M é x i co, o n d e êle filma Les
Souvenirs
du Souvenir
Na próxima semana
c o m e ç o a filmar o Bando ae Bonnot, em B r u x e l a s .
Usarei saias
longas, perucas e botas, mas nada
de soutien,
porque meu personagem era uma. a n a r q u i s t a .
Depois
serei a esposa de Robert Stack
— O que me interessa, por e n quanto, é fazer força para merecer
a seleção brasileira. Eu nem sabia dessa excursão que vai haver
agora. Quando soube, d e c i d i : agora s i m , é que vou dar duro mesm o . . . Se pretendo algum dia viver
fora do Brasil? Sendo inevitável,
só aceito a Itália.
Renato Sérgio
Com
Vinícius
Annie
Rachei
Plata
Girai dot
em A História
de Uma
Mulher.
onde minha rival será Bibi Anderson e onde enfrentarei, pela p r i meira vez. o problema de falar em
inglês.
Na Iugoslávia, a seguir,
filmarei Cnove na Minha
Cidade.
sob a d i r e ç ã o
de Alexander
P e t r o v i t c h . Satisfeito?"
Jeon-Poul
Lagarride
BP> AM.ftio x^.O.CSi,
ACL.4/I8IP.36
HENRIQUE PONGETTI
assistiu, há pouco,
a um filme no qual
aparece a figura de
Sherlock Holmes e diz
que se regalou com a
imagem exibida na tela
o escritório do meu avó.
O ROSTO
As leituras da adolescência deixam duradouros resíduos. Nunca pude me livrar de Sherlock Holmes.
Implacável carrapicho cerebral! Vieram detectives como Maigret, agentes como
James Bond, uma chusma
de outros dotados de podêres divinatórios ou de armas
inimagináveis: permaneceu
sòlidamente instalado na minha memória.
Conan Doyle teve a habilidade de traçar-lhe um retrato físico e espiritual muito minucioso: o retrato desenhado que acompanhava
os fascículos correspondia
exatamente a o descrito.
Quando no cinema aparece
um Sherlock Holmes com
outra cara e outro temperamento quase protesto contra
a falsificação e exijo o meu
dinheiro de \olta.
Os romancistas modernos,
tão sumários na caracterização dos seus personagens,
deveriam mirar-se nesse espelho. Não se pode deixar
aos leitores o trabalho de
dar um roste ao herói, seguindo mais eu menos o método de ditar os pormenores
fisionômicos como nos retratos verbais da polícia moderna, conhecidos c o m o
uientikits.
Nesse caso o formato do
bigode é tão importante como a localização da verruga.
Em homenagem ao poder
retentivo dos vossos leitores
adolescentes, caprichai na
foto, ó fiecionistas!
A semana passada fui ao
meu cineminha serrano e vi
mais uma versão de Jack, o
Estripador, c o m Sherlock
Holmes. O tipo do imortal
detective amador era perfeito, o mais perfeito dos inúmeros vistos por mim. Magro, nervoso, vibrátil, talvez
se tornando um pouco snob
quando queria ser apenas
invulgar.
Já o Dr. Watson, de cabelos ruivos, olhos azuis de
uma placidez bovina, e bochechas de um vermelhorosbife, me pareceu um tanto falsificado. Tinha às vezes expressões de uma imbecilidade bem vitaminada
e feliz, ameaçava reduzir o
par de policiais científicos a
uma dupla de cômicos baseada no contraste físico tipo
o Gordo e o Magro.
Holmes apareceu com o
boné e o casaco de capinha
xadrez, fumou cachimbo, tocou violino, fêz tudo quanto
nossa memória queria rever,
viva e saudosa, além de caracterizar-se de mendigo velho e de botar casaca.
Regalei-me na escuridão.
Eu que, ao chegar a Londres,
antes de ver a mudança de
guarda diante do palácio de
Buckingham, fui a Baker
Street ver se çlescobria a
casa onde meu herói desfiara a meada de tantos crimes
e espiralara o fumo de tantas cachimbadas introspectivas.
Deçepcionei-mc, porém,
com o método dedutivo. Superado, meus amigos, superado. Imaginem se é ainda
possível concluir, hoje, que
Lacerda voltou de uma visita a Jânio só porque, ao chegar, meteu um no que concerne na conversa com os
jornalistas. Ou que voltou
a encontrar-se com Jango
porque ao descer no aeroporto pediu logo mate gelado,
e no seu sapato havia terra,
terra de fazenda, e de fazenda uruguaia. Envelheceu o
meu herói; minha adolescência rediviva o reconhece, se
entristece, se compadece.
Também me pareceu obsoleto quando lhe deram um
chapéu-côco e desandou a
tirar conclusões da sumária
análise da copa e das abas.
Disse cá comigo mesmo:
"Não lhe dêem o soutien!
Pelo amor de Deus não lho
dêem!" De soutien debaixo
dos olhos terríveis nos arrasaria com sua capacidade de
ver no invisível:
— Tem seios pequenos,
é de sexo feminino; poderá
ligar-se a um homem se não
estiver ligada; ligando-se, poderá ter um filho; o filho
poderá ser uma filha, e tudo
me leva a crer que, se essa
filha se casar e tiver uma
filha, teremos configurado o
caso da vovòzinha.
o escritório do meu pai.
o meu escritório.
(a melha divisão - o melhor lambris)
orgulho e produto da D U R A T E X
óv
6S 1
4
/>8 ,
3 ^ AAJ, ato
x*l.o.e:
Fotos de Wulter 1'irmo e Gervásio Batista
Essa é a minha cidade, e em todas as muitas cidades que andei,
eu a revi num detalhe de beleza. Nenhuma assim, tão densa e
oleosa. Nenhuma assim, para viver. Nela quero morrer, quando
chegar o dia. Para sentir a brisa que vem do mar, ouvir à noite os
atabaques e as canções dos marinheiros. A Cidade da Bahia,
plantada sobre a montanha, penetrada de
ô « /W, ^ / o X^. o. B£ 1,^0.-4/16
ef>> mi, *)o*°i 0.esi,/>CL.4/i8,p.4i
A no/íe o silêncio povoa a cidade baixa.
Não há
cidade como
essa, por
mais que a
procureis
nos caminhos do
mundo
Casas, cujas fachadas simples dão para as ladeiras, descem o
morro numa sucessão de andares para baixo, Eis o passado.
44
Ela dorme pelo cais, pelas casas comerciais
Escorre o mistério sobre a cidade como um óleo. Pegajoso, todos o sentem. De onde êle vem? Ninguém o pode localizar perfeitamente.
Virá do baticum dos candomblés nas noites de macumba? Dos feitiços pelas ruas
nas manhãs de leiteiros e padeiros? Das velas dos saveiros no cais do Mercado? Dos
Capitães da Areia, aventureiros de onze anos de idade?
Das inúmeras igrejas antigas? Dos azulejos, dos sobradões, dos negros risonhos? De onde vem esse mistério que cerca e sombreia a
Cidade da Bahia?
fechadas,
pelos
bancos sem movimento,
nos casarões
e nos saveiros
de vela
arriada.
A cidade alta movimenta-se para os cinemas, para as festas, as visitas
e>h 4A/,f>io
tf^.o.e£i,ACL.4/ie,p.43
Salvador, para o povo, se chama Cidade da Bahia
^t
O marinheiro
6 uma pre
sencs constante, incorporado
à paisagem local.
E o dique de Tororó (embaixo), cheio de baronesas, está cercado de obras.
A cidade baixa e a cidade
alta se completam, no entanto, e seria difícil explicar de
qual das duas provém o mistério que envolve a Bahia.
Porque o sentireis tanto na
cidade baixa como na alta,
pela manhã ou pela noite, no
silêncio do cais ou nos ruídos da gente da Baixa dos
Sapateiros.
O Não tenteis nunca explicar
o mistério dessa cidade. É
T segredo que ninguém sabe,
chega talvez do seu passado
na sombra do forte velho so\ bre o mar, chega talvez do
seu povo misturado e alegre,
talvez do mar onde reina
lansã, talvez da montanha
-V coberta de verde e salpicada
de casas. É certo que o sentireis. Êle rola sobre a Bahia,
é como um óleo que vos envolverá desde o primeiro momento .
Não a tenteis explicar. Basta
que a ameis como ela merece.
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Santo Antônio Atem ao Carmo é uma das partes mais antigas, colocada
no alto. e se levanta do verde recortando-se
contra o céu
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Na cidade baixa, do comércio agitado e típico, hà ruas que são becos
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sombreados
e estreitos, nos quais sô se pode andar a pé
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No Mercado sabereis das
is populares, dos candomblés
baterão nesta noite,.das viagens dos
saveiros, ali encontrareis as mais
belas negras vendedoras da
Bahia fritando acarajés
Este é Camateu de Oxóssi, talvez o mais famoso tocaúor de berimbau e capoeirista de hoje em Salvador. Durante o dia èle cuida da sua bar
O Mercado Modelo é um mundo. Em frente ao cais de saveiros, o Cais Cairu, um casarão sem gosto e enorme. Por
trás fica o Elevador Lacerda. Na rampa do cais as frutas
baianas são vendidas, enchendo o chão, em cestos que chegaram nos saveiros. Todo um lado é dedicado ao peixe.
Mariscos de variadas qualidades, camarões e lagostas, arraias e polvos, cação e garoupa. Do outro lado a carnesêca e a de sol, a carula de fumeiro, os miúdos de porco.
Tem tudo que um mercado costuma ter. Mas tem muito
mais também. Onde, senão no Mercado Modelo, podereis
comprar as figas que vos livrarão de todo mal, as bonecas
baianas que são recordação indispensável de passagem ou
de uma estada na cidade, os fetiches para os candomblés,
as ervas necessárias para os feitiços fortes, as redes magníficas, as cestas trançadas, os panos de costa, os búzios
para as roupas de santo?
raça no Mercado Modelo, onde só vende amuletos e fetiches para macumba.
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Barra, Farol,
Amaralina, Pituba,
Xega-Nego, Piatã,
Itapoã - as praias
são mais de dez
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As praias,
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invaríàvetmente
bonitas,
atraem
multidões
nos fins
de
semana ensolarados.
Há toda uma literatura ,em tôrno delas, em prosa e verso.
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4 mistura de sangue é muito grande e em sã consciência pouca gente poderá
negar o avô negro mais ou menos remoto.
A influência do negro sente-se
em toda parle. Não apenas no aspecto físico da cidade, mas na r>ua vida.
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E pelo menos uma ià 6 universal, Itapoà, graças à música de Dorival
Caimi.
Sempre que penso no mulato baiano vejo um homem gordo.
Gordo não apenas fisicamente. Como caráter também: bom,
amável, gtutão, sensual, agudo de inteligência, bem-falante mas
de fala mansa, sabendo tratar tão bem os inferiores como os superiores, ou melhor ainda. Comendo comida gordurosa, mas
apimentada também. Assim é o homem da Cidade da Bahia,
um pouco derramado e um pouco distraído. Um pouco poeta,
poder-se-ia dizer, mas também astutamente político, o mais hábil político do Brasil.
Nenhuma outra cidade do Brasil se mantém nesse equilíbrio espiritual que exige dos homens uma constante vigilância para não cair num conservadorismo reacionário ou num
anarquismo inconstrutivo. Ao lado da vetusta catedral está a
Faculdade de Medicina, onde os estudantes abrem cadáveres
para buscar a explicação da vida. Já há algum tempo que as
macumbas deixaram de ser apenas uma constante religiosa dos
negros querendo conservar alguma coisa da sua cultura própria. São hoje também tema e material de estudos de jovens
sábios que conservam viva a memória do grande Nina Rodrigues.
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53
No tabuleiro da baiana pode-se encontrar de tudo, uma síntese da cozinha
refinada, porque difícil de executar, e que sô não tem admiradores
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A cozinha baiana
tem sutilezas fundamentais. O vatapá, por exemplo,
é servido na
panela de barro
54
entre
os que ainda não puderam
prová-la.
Ou então entre
os que não conheceram
os pratos
autênticos.
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É trabalhosa e difícil esta cozinha afrobaiana que marca tão agudamente a
nação da Bahia. Temos uma cozinha
nossa, chegada da África com os negros,
misturada aqui pelos portugueses. Comidas com sonoros nomes africanos e um
sabor peculiar de azeite-de-dendê e pimenta. Eis aí, mais o leite-de-côco, os
três elementos que dão personalidade
própria à nossa cozinha. Esse azeite
amarelo de côco-de-dendê, essencial para
grande parte dos pratos baianos, a pi-
menta-malagueta ou de cheiro que se
mistura à totalidade das receitas e é servida em molho separado, porque existem
baianos que gostam de muita pimenta na
comida e aqueles que só sabem comer
com muita pimenta e mais alguma, o leitede-côco para as moquecas, para o cuscuz,
requintado o sabor da comida baiana.
Outros ingredientes podem ser substituídos. O caruru devia ser feito com as
folhas do caruru. Hoje o melhor caruru
é feito com quiabos. Mas, como substi-
tuir o azeite-de-dendê? Confesso humildemente que não creio na eficácia das
receitas para nenhuma dona de casa. O
difícil não está no que se deve misturar
para conseguir o prato saboroso. Mas,
sim, na própria mistura, em conseguir
alguém apoderar-se dessa ciência que
cada vez está mais circunscrita a um restrito número de negros e mulatos e de
donas de casa. Mesmo na Bahia, nos dias
de hoje, não é em toda parte que se pode
comer um efó realmente gostoso, um
xinxim de galinha com todas as regras da
arte. Mesmo entre as baianas vendedoras de doces em tabuleiros nas ruas já
não é geral a boa cocada ou o manuê
perfeito. Nas casas de família dia a dia
vão rareando os pratos baianos característicos, não porque a memória das receitas se tenha perdido, mas porque já não
existem em grande número aquelas cozinheiras capazes de interpretar fielmente
o espírito destas receitas. Mas que cozinha: vatapá, caruru, efó, arroz de haussá,
acarajé, abará, frigideiras — sublime.
BK M, P)iox^.o,e*l r flCL. 4/1 6 ,p. 5 2.
Este é, talvez, o
ponto mais belo de se
ver na Bahia — o Farol da
Barra com sua praia
Existem na Barra dois recantos admiráveis. Um é o Forte de Santo
Antônio, no porto do mesmo nome. É um forte velho, abandonado, o
primeiro que se levantou na Bahia. Data de 1536. Um pequeno porto
com uma feira aos sábados e nas manhãs de domingo, os saveiros
repousando, tudo isto ao lado de uma minúscula praia concorridíssima,
onde os corpos das grã-finas se exibem aos olhos espantados c cobiçosos dos mestres de saveiro. Uma vela azul corfa o mar verde, esplêndido.
Os grandes navios passam ao longe, vè-se a fumaça que eles lançam.
Baianas vendem doces. O forte é belo, entrando pelo mar, sentinela
da barra nos tempos antigos. Mais adiante está o farol, ante a praia
maravilhosa. Vale a pena demorar os olhos nessa beleza em torno.
O bateau-mouchc e uma inovação turística recente, que permite ao visitante contemplar
a cidade do oceano e ver bem df 'perto como trabnlham e vivem os homens do mar.
Os saveiros, porém, continuam soberanos no mar da Bahia, nos seus diversos tipos
e tamanhos, entregues à pesca ou incorporados
à realidade que faz as lendas.
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Tanto taz serem louras ou morenas, todas têm a graça da baiana
famosa no mundo inteiro e muito mais em todo o Brasil
Elas recebem do sol aquela côr inconfundível, que para muna
gente só se consegue freqüentando
as praias da Bahia.
O mito da beleza baiana surgiu quando
No espetáculo
das Jovens na
praia se concentra toda a
beleza da terra
baiana
Marta Rocha foi eleita Miss Brasil. Para quem quiser pes
Afastada da cidade, adiante de Amaralina e
Pituba, vai-se a Itapoã de automóvel. Por ali
passa uma das estradas de rodagem que conduzem ao Aeroporto 2 de Julho. A praia é a
mais bela que a cidade possui, fora da barra,
o seu farol iluminando o caminho dos navios.
Beleza selvagem, ainda não maculada com as
casas tão sem gosto com que os ricos estragam as paisagens mais formosas. Apenas cabanas de pescadores e coqueiros que o vento
balança contornam a praia de Itapoã, onde se
elevam rochedos e onde se gasta ao tempo o
casco de um navio naufragado. Aos domingos,
grupos saem da cidade para passar o dia em Itapoã, um dos passeios mais agradáveis da Bahia.
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quisar, no entanto, esta virtude vem sendo celebrada
há muito
mais tempo.
E para quem não acreditar, é simples, basta ir lá e ver
Dinâmicas,
modernas, alegres,
elas também sabem
improvisar destiles de
elegância antes do
banho de mar,
favorecidas pela sua
própria beleza e
pela paisagem
inimitável
das praias.
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