ASPECTOS QUALITATIVOS DE OVOS COMERCIAIS ARMAZENADOS EM
DIFERENTES EMBALAGENS
Kely Cristina Bastos Teixeira Ramos1; Helaine dos Reis Flor2; André Mantegazza
Camargo3; Thaiz Marinho Magalhães Cedro2; Mirton José Frota Morenz1
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ/Departamento de Nutrição Animal e Pastagens/
Instituto de Zootecnia - Rod. BR-465, km47 – CEP 23890-000, Seropédica/ RJ. [email protected];
[email protected]
3
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ/Departamento de Produção Animal/ Instituto de
Zootecnia - Rod. BR-465, km47 – CEP 23890-000, Seropédica/ RJ. [email protected];
[email protected]
2
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ/Departamento de Reprodução e Avaliação Animal/
Instituto de Zootecnia - Rod. BR-465, km47 – CEP 23890-000, Seropédica/ RJ.
[email protected]
Resumo - O objetivo deste trabalho foi avaliar os aspectos qualitativos de ovos comerciais armazenados
em diferentes embalagens. Foram utilizados 360 ovos brancos produzidos por poedeiras da linhagem Hy
Line W36 com 28 semanas de idade. Os ovos foram acondicionados em embalagens de polpa de celulose
com ou sem o revestimento de filme plástico (embalagem fechada e aberta, respectivamente). O
delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado. O peso dos ovos não foi influenciado pelo
armazenamento dos ovos nas diferentes embalagens. A qualidade interna (índice de gema e unidade
Haugh) e externa (percentual de casca e espessura da casca) dos ovos também não foram influenciadas
significativamente pelos tipos de embalagens (aberta e fechada). Este estudo permitiu concluir que os ovos
embalados com filme plástico preservaram melhor suas características internas. No entanto, a qualidade
externa não foi influenciada pelo tipo de embalagem.
Palavras-chave: embalagem, qualidade de ovos, unidade Haugh
Área do Conhecimento: V - Ciências Agrárias
Introdução
O ovo é um produto de origem animal de custo
relativamente baixo que em sua forma natural
encontra-se previamente embalado e pronto para
comercialização. Quando consumido em boas
condições, o ovo fornece ao organismo humano
um balanço quase que completo de nutrientes. No
entanto, para que todo esse potencial nutritivo seja
otimizado pelo homem, o ovo precisa ser
preservado durante o período de armazenamento,
uma vez que podem transcorrer semanas entre o
momento da postura e o consumo (BENITES,
2005).
A qualidade do ovo pode ser definida como um
conjunto de características responsáveis pela sua
aceitabilidade no mercado, podendo estas ser
físicas ou sensoriais. Pesquisas mostram que o
ovo recém posto é de excelente qualidade,
entretanto, esta é acentuadamente reduzida
durante a comercialização deste produto. O ovo é
um alimento perecível, e começa a perder
qualidade interna imediatamente após a postura
(MORAIS et al., 1997).
De acordo com Stadelman & Cotterill (1995)
vários atributos de qualidade interna são perdidos
com o armazenamento prolongado do ovo,
destacando-se as alterações do albúmen e da
gema. À medida que o ovo envelhece, perde água
e CO2 para o ambiente, isto provoca desequilíbrio
do sistema tampão de ácido carbônico (H2CO3),
promovendo assim, a elevação do pH do ovo. Esta
alcalinização promove uma série de modificações
físico-químicas no ovo, como: liquefação do
albúmen denso, movimentação de líquidos entre
os compartimentos, distensão e flacidez da
membrana vitelina e rompimento da gema.
A qualidade externa dos ovos pode ser
influenciada por fatores relacionados ao próprio
ovo, como estocagem inadequada ou com relação
à raça, idade, ambiente, manejo e nutrição da ave.
Pesquisas mostram que ovos com cascas mais
espessas são mais resistentes a danos físicos,
reduzindo com isso, perdas econômicas,
provocadas por fissuras, trincas e quebra da casca
(GARNER & CAMPOS, 1981).
Para que os nutrientes contidos no interior dos
ovos não sejam transformados rapidamente em
substâncias impróprias para a alimentação, faz-se
necessário que os ovos sejam armazenados sob
refrigeração,
durante
o
período
de
comercialização, visto que desde o momento da
postura até o consumo, podem haver períodos
extensos de tempo que depreciam sua qualidade
interna. Ovos embalados inadequadamente ou
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expostos a correntes de vento e a agentes
contaminantes, e estocados sob temperatura
elevada e baixa umidade têm alterações
bioquímicas do albume mais aceleradas e estão
mais propensos à contaminação por agentes
patogênicos, reduzindo sua vida de prateleira
(MOURA et al, 2008).
Considerando que o ovo é um produto natural,
não se distinguindo entre as diferentes granjas de
postura, a embalagem é de suma importância para
a diferenciação deste produto junto ao
consumidor. Várias empresas têm investido na
modernização de suas embalagens, tornando-as
mais atraentes, práticas, e com papel fundamental
de acondicionamento e proteção da qualidade dos
ovos comerciais como forma de despertar o
interesse dos consumidores (ANTUNES, 2006).
São poucos os estudos direcionados a relacionar
o tipo de embalagem à qualidade de ovos
produzidos por poedeiras comerciais. Deste modo,
o objetivo deste trabalho foi avaliar os aspectos
qualitativos de ovos comerciais armazenados em
diferentes embalagens.
peso do ovo (g) e o índice de gema através da
razão entre a altura e o diâmetro desta estrutura.
Para avaliação da qualidade externa, as cascas
foram lavadas em água corrente de forma que as
membranas interna e externa fossem preservadas.
Depois de secas em estufa ventilada a 55° C por
cinco horas, as cascas foram pesadas na mesma
balança utilizada para medida do peso do ovo. De
posse destes valores foi possível avaliar o
percentual da casca em relação ao peso total do
ovo. Posteriormente, com o auxílio de um
®
micrômetro analógico de pressão Mytutoyo
aferiu-se a espessura de fragmentos das zonas
apical, equatorial e basal da casca e com a média
destes três pontos, obtiveram-se os dados de
espessura da casca.
Os dados obtidos foram submetidos à análise
de
variância,
utilizando-se
procedimentos
disponíveis no pacote estatístico SISVAR
(FERREIRA, 2000) e as médias dos tratamentos
comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5%
de significância.
Resultados
Material e Métodos
Foram utilizados 360 ovos brancos produzidos
por poedeiras da linhagem Hy Line W36 com 28
semanas de idade, produzidos na Granja Sétimo
Céu, localizada em Itanhandú, MG.
O delineamento estatístico utilizado foi o
inteiramente casualizado.
Dois dias após a postura, os ovos foram
direcionados ao Laboratório de Análises de Ovos
da UFRRJ, localizada em Seropédica, RJ, onde foi
realizado o presente estudo. Os ovos foram
identificados,
pesados
e
em
seguida,
acondicionados em embalagens de polpa de
celulose com ou sem o revestimento de filme
plástico
(embalagem
fechada
e
aberta,
respectivamente). Posteriormente, os ovos foram
estocados em temperatura ambiente durante vinte
e um dias. A temperatura e a umidade foram
aferidas diariamente as 9 e as 15h, sendo que a
média ao final do período experimental
o
equivalente a 26,3 C e 62% de umidade relativa.
As variáveis estudadas foram: peso do ovo,
índice de gema, unidade de Haugh, porcentagem
de casca em relação ao peso total do ovo e
espessura de casca. Para avaliação da qualidade
interna, os ovos foram pesados em uma balança
digital com precisão de 0,001g modelo BG-8000 ®
Gehaka , quebrados em uma superfície plana de
®
vidro e com um micrômetro tripé Ames mediu-se
a altura do albume denso. A altura da gema foi
medida após tê-la separado do albume, e seu
diâmetro medido com um paquímetro analógico
®
Mytutoyo . A unidade Haugh foi calculada através
0,37
da fórmula UH = 100 log (H + 7,57 – 1,7W ),
onde H = altura do albume denso (mm) e W =
Os resultados de qualidade interna e externa
de ovos armazenados em diferentes embalagens
encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1 - Influência do tipo de embalagem sobre
os aspectos de qualidade interna e externa de
ovos comerciais.
Embalagem
Peso dos ovos (g)
Índice de gema
Unida Haugh
*
% de Casca
Espessura da casca
(mm)
Aberta
Fechada
52,36a
0,30a
45,47a
9,36a
53,49a
0,32a
48,20a
9,48a
CV
(%)
6,95
14,87
11,24
9,52
0,37ª
0,37a
3,66
Médias de tratamentos com letras diferentes diferem
significativamente entre si (P<0,05) pelo Teste de Tukey.
* Percentual de casca em relação ao peso total do ovo.
O peso dos ovos não foi influenciado (P > 0,05)
pelo armazenamento dos ovos nas diferentes
embalagens.
Não foi observada diferença significativa (P >
0,05) nas características de qualidade interna
(índice de gema e unidade Haugh) dos ovos
acondicionados em embalagens aberta ou
fechada.
Com relação à qualidade externa dos ovos
(percentual de casca e espessura da casca)
também não foram observadas diferenças
significativas (P > 0,05) entre as médias dos ovos
acondicionados em embalagem aberta e fechada.
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Discussão
Não foi observada diferença significativa (P >
0,05) entre o peso médio dos ovos acondicionados
em embalagens aberta ou fechada. Resultados
semelhantes foram reportados por Ramos et al.
(2007) em um estudo sobre a influência da
temperatura e do tipo de embalagem sobre as
características físico-químicas de ovos comerciais,
que não verificou diferença significativa entre o
peso médio dos ovos acondicionados em
embalagem aberta ou fechada.
A tabela 1 evidencia que embora os valores
médios de índice de gema tenham se mantido
dentro do limite padrão estabelecido para ovos
frescos, de 0,30 a 0,50 (ROMANOFF &
ROMANOFF, 1949) nos dois tipos de embalagens
estudadas.
Os
ovos
acondicionados
em
embalagens abertas neste estudo obtiveram
médias significativamente iguais (P<0,05) a
daqueles envolvidos em filme plástico (embalagem
fechada). Estes resultados estão de acordo com o
reportado em um estudo sobre a influência de
diferentes embalagens sobre a qualidade interna
de ovos comerciais, que não verificou diferença
significativa entre a qualidade da gema dos ovos
embalados com ou sem filme plástico (embalagem
fechada e aberta, respectivamente), após trinta e
um dias de armazenamento em temperatura
ambiente (OLIVEIRA et al., 2006).
Após vinte e um dias de armazenamento, foi
verificado que as médias de unidade Haugh
observados neste estudo (45,47 e 48,20; para
ovos acondicionados em embalagem aberta e
fechada, respectivamente), permitem classificá-os
como B, classe que indica qualidade interna
mediana (USDA, 2007). Foi verificado ainda, que
os
ovos
acondicionados
nas
diferentes
embalagens (aberta e fechada) obtiveram médias
de unidade Haugh significativamente semelhantes.
Estes resultados não são semelhantes ao
observados nos estudos de Cruz et al. (2007)
sobre a influência da embalagem sobre a
qualidade interna de ovos de mesa, que verificou
que os ovos embalados com filme plástico
obtiveram médias significativamente maiores de
unidade Haugh quando comparados a aqueles
acondicionados em embalagem aberta. Estes
autores relatam que a embalagem fechada com
filme plástico cria uma barreira à troca gasosa
entre o ovo e o ambiente, retardando assim, a
liquefação do albúmen denso e, por conseguinte,
.
a redução dos valores de unidade Haugh
As médias observadas para a variável
percentual da casca de 9,36 e 9,48 para ovos
acondicionados em embalagem aberta e fechada,
respectivamente. Estes resultados estão de
acordo com a literatura que relata que o
percentual da casca corresponde de 8 a 12% do
peso total do ovo (SOLOMAN, 1991).
Com relação à espessura da casca, não foi
observada diferença significativa (P > 0,05) entre
as médias dos ovos acondicionados em
embalagem aberta e fechada. Pesquisas mostram
que uma boa qualidade externa de ovos, traduzida
por ovos com boa espessura de casca constitui-se
em um fator positivo para a produção e a
comercialização de ovos de mesa, pois ovos com
boa espessura, apresentam melhor resistência da
casca, diminuindo a quantidade de ovos com
cascas trincadas, reduzindo com isso, perdas
econômicas (SOLOMAN, 1991). Estima-se que
ovos com menos de 0,33 mm de espessura de
casca possuem mais de 50% de chances de sofrer
danos físicos durante a sua distribuição.
Conclusão
Este estudo permitiu concluir que os ovos
embalados com filme plástico preservaram melhor
suas características internas.
A qualidade externa não foi influenciada pelo
tipo de embalagem.
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