Timerman
Emergência nos Grandes Eventos Esportivos
Editorial
Revista Brasileira de Cardiologia, volume 25, número 5
setembro/outubro 2012
Editorial
Está o Brasil Preparado para o Atendimento de Urgência e Emergência em Grandes Eventos
Desportivos?
Is Brazil Prepared for Urgent and Emergency Care at Major Sports Events?
Sergio Timerman
Em curto período de tempo, o Brasil sediará dois
grandes eventos: a Copa do Mundo da FIFA em 2014
e os Jogos Olímpicos em 2016. Estamos preparados em
termos de saúde pública para esses eventos?
Alguns aspectos importantes se destacam da longa
associação existente entre a Organização Mundial da
Saúde (OMS) e os Jogos Olímpicos, notadamente o
ambiente livre de tabagismo e a promoção de uma vida
ativa, atividade física e desportiva. O Movimento da
FIFA e do Comitê Olímpico intrinsecamente ecoam os
valores e princípios que a OMS defende: equidade,
harmonia, paz, solidariedade, tolerância, amizade,
vida saudável, busca da excelência e busca de uma
mente saudável num corpo saudável.
Os Jogos Olímpicos, devido ao tamanho, à duração, à
participação internacional e o interesse popular e da
mídia requerem um nível excepcionalmente elevado
de saúde pública, tanto na prevenção como na ação.
Nos países que os acolhem espera-se o fortalecimento
e a expansão da capacidade de seus sistemas de saúde
de modo a lidar com uma gama ampla de problemas
de saúde e emergências, sejam eles naturais ou
provocados pelo homem.
As ameaças globais de doenças transmissíveis e os
relacionados com o uso deliberado de explosivos,
agentes químicos e biológicos ou materiais
radionucleares tornam a tarefa de preparação de saúde
pública extremamente difícil para qualquer país. Criar
um encontro de massa que seja saudável e seguro, tais
como a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos
Olímpicos, constitui-se um desafio especial. Isso requer
a aplicação de métodos e processos conhecidos, mas
também o desenvolvimento de novas ideias e sistemas
que sejam efetivos para os aspectos de saúde pública
do evento como também para a comunidade
internacional. A cooperação internacional é essencial
nesse contexto, tanto na prevenção como para
responder a grandes incidentes de saúde pública e
emergências.
O grande sucesso desses eventos dependerá de altos
padrões de desempenho do setor de saúde, resultado
de imenso esforço e disciplina coletiva em diferentes
locais e de profissionais (principalmente de saúde) em
todos os níveis.
De início, deveria ser adotada a regra de tornar as
cidades-sede membros ativos da OMS e das Redes de
Cidades Saudáveis, modelo europeu, com um
compromisso de parceria baseado em esforços para a
saúde e desenvolvimento sustentável. Essas cidades
já estariam envolvidas pelos preparativos, o que exige
um nível avançado e sofisticado para lidar não apenas
com o cuidado de saúde convencional intenso e
problemas de saúde pública e emergências para
reunião de grandes proporções, mas também ter a
capacidade e habilidade para lidar com potenciais
incidentes que envolvam a utilização deliberada de
agentes biológicos e químicos ou materiais
radionucleares.
As Comissões Médicas desses eventos devem trabalhar
em estreita cooperação com a Comissão Organizadora
de modo a garantir que os eventos ocorram de forma
exemplar no que diz respeito à saúde, à higiene e à
ação em caso de urgência e emergência. Todos os
procedimentos deverão ser cuidadosamente estudados
e analisados. A participação dos poderes públicos é
fundamental, pois são eles responsáveis por muitas
estruturas criadas por ocasião desses grandes eventos.
Encontros de grandes massas trazem maior risco à
saúde pública do que aqueles de menor porte. Os
principais riscos de saúde esperados incluem:
alterações referentes ao calor ou frio, doenças de
Escola de Ciências da Saúde - Universidade Anhembi Morumbi - São Paulo, SP - Brasil
Correspondência: Sergio Timerman
E-mail: [email protected]
Rua Dr. Almeida Lima, 1134 - Mooca - 03164-000 - São Paulo, SP - Brasil
Recebido em: 19/06/2012 | Aceito em: 03/07/2012
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Revista Brasileira de Cardiologia, volume 25, número 5
setembro/outubro 2012
origem alimentar e hídrica, doenças transmissíveis e
os acidentes e outros tipos de lesões. As viagens
internacionais por si só envolvem risco, pois as doenças
transmissíveis endêmicas podem ser importadas. Os
milhões de refeições servidas para atletas, funcionários
e visitantes oportunizam surtos de doenças transmitidas
por alimentos.
Além disso, e o Brasil deve estar preparado aos
aspectos da globalização, em que eventos de massa
são alvo de catástrofes com explosivos, agentes
biológicos e químicos ou materiais radionucleares. Na
literatura médica grandes manifestações têm sido
associadas a aumento de morbidade e à morte, embora
esta seja relativamente rara. Em geral, os problemas
médicos mais frequentes associados às manifestações
de massa incluem lesões cutâneas e musculoesqueléticas,
gastrintestinal (tais como náuseas, vômitos, diarreia e
dor abdominal) e possíveis problemas cardíacos (tais
como dor torácica, síncope, tontura e perda de
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Editorial
consciência). Em relação aos problemas cardíacos, é
importante que os envolvidos estejam preparados para
realizar suporte básico de vida com primeiros socorros;
a presença de desfibriladores em locais de grande
concentração deve ser obrigatória.
O Brasil poderá dar em termos de suporte médico
durante esses grandes eventos um exemplo nacional
e internacional que poderá se tornar referência tanto
para os organizadores de futuros eventos desportivos
e autoridades públicas, bem como para o ambiente
médico. Para isso há que se trabalhar muito, buscando
a excelência no atendimento e, com isso, contribuindo
para o sucesso dos eventos.
Palavras-chave: Medicina de Emergência; Emergências em
Desastres; Esportes; Medicina esportiva
Keywords: Emergency medicine; Emergencies in disasters;
Sports; Sports medicine
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