Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
Las “jornadas de junio” del Brasil bajo la
perspectiva de las nuevas tecnologías de la
información
Dulcinea Duarte de Medeiros - Universidade Federal Fluminense
[email protected] - Gabriela
de
Oliveira
Delgado
Universidade Estadual Norte Fluminense - [email protected]
-
Palavras clave: participacíon política, movimientos sociales, jornadas de junio,
democratización, tecnologia de la información
Resumo
En el Brasil, bien como en otros países, la revolución tecnológica de la información
rápidamente remodeló las bases materiales de la sociedad promoviendo cambios en
las relaciones entre la economía, el Estado y la sociedad instaurando un nuevo
paradigma tecnológico organizado alrededor de las nuevas tecnologías de la
información (TICs). Ese ya no tan nuevo paradigma tiene abierto posibilidades
únicas de articulación entre las personas, promocionando nuevas formas de
organización colectiva, el acceso y a la circulación de informaciones y el cambio de
experiencias de vidas. En ese sentido es importante destacar que las tecnologías de
la información no son simples herramientas, son contextos que posibilitan la
construcción de nuevas sensibilidades acerca del tiempo, espacio y acontecimientos
políticos y culturales.
Al mismo tiempo los problemas del sistema socio metabólico del capital se
profundizan, sobre todo tras la crisis del 2008, la pobreza, el hambre, el desempleo
tienen llevado millares de personas a las calles bajo la forma de gigantescas
protestas. El uso de las TICs tiene sido ampliamente empleado en la creación de
redes de comunicación y solidaridad establecidas a partir del desarrollo interactivo
de formas horizontales de comunicación por medio de la internet y del teléfono
móvil, bajo tales condiciones los movimientos sociales, incluso los contra
hegemónicos, tienen potencializado sus intervenciones en la esfera pública.
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 1
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
Las manifestaciones que ocurren en Brasil desde junio del 2013 son un ejemplo de
lo que hemos descripto, las TICs están siendo empleadas masivamente en la
organización de los actos y en su cobertura informativa en tiempo real. El objetivo de
ese artigo es analizar tales manifestaciones bajo la perspectiva de las TICs,
señalando sus potencialidades y limitaciones sin olvidar que tratase de un país en el
cual las brechas sociales aún son determinantes, incluso para pensar el paradigma
de las TICs.
1.
Introdução
As manifestações que ocorreram em todo Brasil a partir de junho de 2013 são
eventos único na história do país, até aquele momento nem o país, nem o mundo
nunca havia visto tantas pessoas saindo às ruas em protestos organizados com
tanta freqüência. A diversidade de pautas, o formato horizontal de organização, as
críticas à representatividade são características comuns aos diversos atos que
começaram em junho. Outra característica comum é o uso massivo de diversos
instrumentos de tecnologia da informação para a organização dos atos, como
ferramentas de propaganda e agitação e, também, para a cobertura das
manifestações em tempo real, principalmente no que tange à cobertura da violência
policial em suas ações repressivas com relação aos manifestantes.
Os protestos no Brasil ocorrem em uma época de grande agitação no mundo.
Turquia, Egito, Grécia, Espanha são exemplos de países que vivenciaram
recentemente ou estão vivenciando agitações populares em torno de pautas
diversificadas. Os diversos protestos não são entendidos aqui somente como
fenômenos locais específicos, mas principalmente como formas de reações
específicas à diferentes formas em que o capitalismo global se manifesta em cada
país1. Na verdade, o fenômeno que estamos descrevendo tem suscitado diversas
polêmicas entre especialistas e intelectuais que buscam explicar as causas e quem
são os protagonistas das manifestações que vem ocorrendo no Brasil. Para nós o
que assistimos hoje é um fenômeno condicionado pelas particularidades locais
(histórico-sociais), mas que devem ser entendidos como uma reação às
manifestações e conseqüências do capitalismo em sua fase atual, é também fruto do
1
Cf Zizek, 2013
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 2
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
acúmulo de anos de experiência política, tanto prática quanto teórica, de diferentes
grupos em diferentes frentes, o que permitiu que os protestos que hora analisamos
pudessem ter mais organicidade e pautas que ultrapassaram em muito a questão
relacionada ao transporte público. Em nossa avaliação é também esse acúmulo que
permitiu que os protestos tivessem estratégias organizativas elaboradas e eficazes
independente da necessidade de qualquer liderança instituída.
Outra questão relevante que permite tanto a compreensão do fenômeno, como ele
próprio é a revolução “científico-técnica e das tecnologias da comunicação” em
curso2. Uma revolução permanente que tem remodelado a base material da
sociedade, promovendo mudança nas relações entre a economia, o Estado e a
sociedade pela instauração de um novo paradigma tecnológico organizado em torno
da tecnologia da informação3. O paradigma da tecnologia da informação abre
possibilidades singulares de articulação entre as pessoas, promovendo novas
formas de organização coletiva e o acesso e circulação de informações
estabelecidas em um ecossistema virtual descentralizado e interativo4. A luta contra
o freqüente aumento das tarifas dos transportes coletivos no Brasil é antiga, desde o
século XVIII há registros de quebra-quebra e revolta ocasionados pelo aumento de
tarifa, na contemporaneidade especialistas têm apontado a “Revolta do Buzu”5
ocorrida em Salvador no ano de 2003 como o primeiro evento no Brasil organizado
através das novas tecnologias de informação e telefones móveis.
2. As manifestações
Em junho de 2013, centenas de milhares de pessoas foram às ruas de diversas
cidades brasileiras em uma onda de manifestações cuja magnitude é singular na
história recente do país. Manifestações similares, ainda que menores, são as
marchas pelas eleições diretas6, contra a ditadura militar e o fora Collor7, ocorridas
2
Cf. Martins, 2013
Cf. Castells, 2002
4
Cf. Moraes, 2013
5
Cf. Pomar, 2003 e PNUD, 2009
6
O regime militar brasileiro durou oficialmente de 1964 a 1985, terminou com a eleição indireta do
presidente Tancredo Neves. As “Diretas Já” foi uma campanha ocorrida em 1984 que levou milhares
de pessoas às ruas do país exigindo eleições diretas para a presidência da república naquele mesmo
ano.
3
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 3
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
entre os anos 80 e início dos anos 90. Ou seja, em um hiato temporal de mais de
duas décadas, nada parecido foi observado no Brasil.
As manifestações se desencadearam em torno do anuncio de aumento nas tarifas
de transportes públicos, a partir de atos chamados pelo MPL – Movimento Passe
Livre – em Porto Alegre e São Paulo e pelo Fórum Contra o Aumento das
Passagens no Rio de Janeiro. Os dois grupos já se organizavam em torno da
questão do transporte público há pelo menos dois anos (O MPL há mais de dez
anos) e convocavam atos e manifestações cujo número de participantes contavam,
não mais, de algumas dezenas.
Os atos organizados, em junho de 2013, em virtude de mais um aumento das
passagens dos ônibus, surpreenderam pela quantidade de pessoas mobilizadas,
pois como dito anteriormente, não havia manifestações multitudinárias no país há
duas décadas. Inicialmente concentrados nas capitais Porto Alegre, Rio de Janeiro e
São Paulo, os protestos foram espalhados por diversas cidades, entre capitais e
cidades menores – com cada vez mais pessoas comparecendo às ruas, até
atingirem proporções inéditas. Carlos Eduardo Martins (2013) ressalta a forma
“muitas vezes violenta e insurrecional” da “primavera brasileira”, assumindo o termo
empregado pela imprensa internacional para se referir aos acontecimentos de junho.
A quantidade de pessoas nas ruas, a freqüência quase semanal dos atos e o
emprego de ações diretas por alguns grupos que faziam parte das manifestações
obrigou, com maior ou menor velocidade, o governo recuar e cancelar o aumento
das tarifas, e em algumas cidades (como Porto Alegre, Natal, Pelotas) se registrou,
inclusive, redução nas mesmas. Mas muitas pessoas não saíram das ruas e as
manifestações
continuam,
levantando
as
mais
diversas
bandeiras,
umas
relacionadas a opressões sofridas por grupos específicos (por exemplo: a
criminalização da homofobia; a garantia de direitos civis para casais homoafetivos; o
fim da violência contra mulher; a legalização do aborto, o fim do genocídio do povo
negro nas favelas; etc.) Outras, de caráter bastante geral incluíam demandas como
mais recursos para saúde e educação; fim da violência policial; fim da polícia militar;
contra as privatizações; fim dos leilões do petróleo; contra o volume de gastos
7
Em 1989 ocorreu pela primeira vez desde 1954 no Brasil a eleição direta, via sistema
representativo, de um presidente da República. Três anos após o início de seu mandato o presidente
eleito Fernando Collor de Mello foi afastado por um impeachment graças a escândalos de corrupção.
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 4
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
públicos direcionados para o megaeventos8; contra a corrupção parlamentar, entre
outras tantas.
Outra característica inédita das manifestações reside em sua forma organizativa,
inicialmente não foi possível identificar lideranças, evidenciando um caráter
horizontal e difuso de organização. A organização por meio da rede favorece essa
característica, Carlos Castilho (2006) afirma que a política on-line, inverte a
estratégia de luta política tradicional na circunstância em que os indivíduos
geralmente atuam sozinhos, não elegem lideranças, e só se encontram no momento
mesmo das manifestações. Além disso, como diversas pesquisas tem demonstrado
há, no Brasil, uma descrença no sistema político-partidário significativa. Desta forma,
essa insatisfação, somada às críticas à representatividade, e a é uma constante nas
manifestações, chegando a ser demonstrado algumas vezes de forma violenta
quando militantes de partidos políticos institucionais tentaram erguer suas bandeiras
durante as manifestações e quase foram expulsos.
Como afirma Castells (2013), o atual modelo de democracia representativa está
esgotado, e isso ocorre em um momento de aprofundamento do modelo de
capitalismo neo-liberal, que mesmo em crise, não cansa de buscar novos
mecanismo de expansão, neste contexto é compreensível que o eventos brasileiros
não sejam isolados, nos últimos anos eclodiram, em outros lugares do planeta,
movimentos com características similares as observadas aqui. Os protestos da
Praça Taksim em Istambul são um exemplo cuja semelhança é evidenciada,
inclusive, pelas palavras de ordem gritadas pelos manifestantes cariocas nos
momentos mais tensos dos atos “Acabou o amor, isso aqui vai virar a Turquia”. Na
Turquia as manifestações tiveram como estopim, a tentativa por parte do governo de
privatizar e transformar em área comercial um parque arborizado, que se localiza ao
lado da Praça Taksim. Para Zizek (2013) o estopim, representado no Brasil pelo
aumento das tarifas de transportes e na Turquia pela privatização do parque não são
“exatamente o motivo dos protestos”9.
8
Como se sabe o Brasil será a sede da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos
de 2016, assim como em muitas outras cidades que foram sedes desses eventos estão ocorrendo
enormes gastos com obras de embelezamento do espaço urbano, remoções de milhares de famílias
e populações tradicionais, especulação imobiliária.
9
Cf Zizek 2013
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 5
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
Zizek (2013) utiliza do conceito marxista de totalidade para demonstrar a relação
entre os processos ocorridos nos diferentes países, evidenciando a “totalidade do
capitalismo global” que não é indicadora de uniformidade, ao contrário, são
“múltiplas as facetas da globalização capitalista”. Como processo complexo o
capitalismo global “afeta diversos países de maneira variada” para o autor o que
unifica os diversos protestos é que “são todos reações contra as múltiplas facetas da
globalização capitalista”10 Partindo dessa perspectiva, a multiplicidade de pautas,
característica comum aos diversos protestos em todo o mundo torna-se
compreensível. Para Zizek (op. cit) todos os protestos lidam “com uma combinação
específica de (pelo menos) duas questões” uma econômica e outra políticoideológica. Além multiplicidade de pauta de cada protesto, se pode notar uma
diferença de prioridades nas pautas defendidas nos diferentes países, pois cada um
deles representa uma reação a face que o capitalismo encarna localmente (por
exemplo, para Martins (op. cit.) os protestos no Brasil são uma resposta a crise do
sistema político, que tem como base o “esgotamento do projeto neoliberal” no país).
Para Zizek (op. cit) esta combinação de propostas representa a força dos protestos,
e indica a ideia de coordenação entre os manifestantes das diferentes partes do
mundo na organização de “manifestações comuns de solidariedade. Para ele,
“Talvez o próprio futuro dos protestos em curso dependa da capacidade de se
organizar essa solidariedade global”. ZIZEK, (2013)
A proposição de Zizek (op. cit) se apresenta como um desafio posto aos que
apostam na transformação da ordem mundial existente: o desafio de articular
mecanismos e eixos de forma que essa solidariedade global se atualize. Para tanto
o acesso à informação e os mecanismos de trocas comunicativas descentralizadas e
interativas, aparecem como meios privilegiados. Para construção de uma
solidariedade global é necessária comunicação global, é preciso saber o que se
passa no mundo, e é preciso também que essa comunicação não seja filtrada por
agências comprometidas com governos e corporações que reúnem esforços no
sentido da manutenção da ordem mundial existente.
10
Ibid
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 6
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
3. O paradigma das novas tecnologias, os movimentos sociais e a
construção da contra hegemonia
Para Castells (2013) a comunicação em larga escala tem passado por profundas
transformações
tecnológicas
e
organizacionais,
seu
formato
horizontal
e
multidirecional de comunicação é, para o autor, a nova estrutura social na qual os
movimentos sociais do séc. XXI se constituem.
Para o autor esta mudança rapidamente tem remodelado a base material da
sociedade, promovendo mudança nas relações entre a economia, o Estado e a
sociedade. Castells ressalta a instauração de um novo paradigma tecnológico
organizado em torno da tecnologia da informação.
“O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de
conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e de
dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de
realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso.” (Castells, 1999, 69)
Assim, conforme os usuários se apropriam da de novas tecnologias, eles são
simultaneamente capazes de redefini-las, em um encadeamento de apropriações e
redefinições sucessivas amplificadas ao infinito. Assim, os próprios usuários podem
assumir o controle da tecnologia.
O novo sistema de comunicação tem gerado uma “língua universal digital” que
possibilita a integração global entre indivíduos. A rede é uma ideia que representa
bem a complexidade cada vez maior de interações, que vão se desenvolvendo em
modelos imprevisíveis de acordo com a capacidade criativa promovida pela própria
interação.
“As
redes
interativas
de
computadores
estão
crescendo
exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicação, moldando a vida
e, ao mesmo tempo, sendo moldados por ela.” (Castells, 1999, P. 40.)
Castells afirma que:
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 7
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
“o paradigma da tecnologia da informação não evolui para seu
fechamento como um sistema, mas rumo a abertura como uma
rede de acessos múltiplos. É forte e impositivo em sua
materialidade,
desenvolvimento
mas
adaptável
histórico.
e
aberto
Abrangência,
em
seu
complexidade
e
disposição em formato de rede são seus principais atributos.”(
Castells, 1999, P. 113).
A compreensão do paradigma da tecnologia da informação é fundamental já que
abre possibilidades singulares de articulação entre as pessoas, promovendo novas
formas de organização coletiva e o acesso e circulação de informações.
É de acordo com essa perspectiva que se faz entender a centralidade da
comunicação na formação e na prática dos movimentos sociais, uma vez que
permite que as pessoas se conectem e compartilhem sua indignação ao mesmo
tempo em que formam redes de solidariedade através do sentimento de
companheirismo.
A comunicação estabelecida através das agências de comunicação de massas,
financiadas, em sua maioria, pelo capital privado ou ainda, financiadas por Estados,
atendem a interesses corporativos e “se fixam em estratégias de maximização de
lucros e de manutenção da hegemonia mercadológica” (MORAES, 2013). Tais
estratégias passam pela não divulgação ou adaptação das informações conforme os
interesses corporativos.
“A prevalência das lógicas comerciais manifesta-se no reduzido mosaico
interpretativo dos fatos sociais; na escassa variedade argumentativa, em razão de
enfoques ajustados a diretivas ideológicas das empresas; nas supremacias de
gêneros sustentados por altos índices de audiência patrocinados; nas baixas
influencias do público nas linhas de programação; no desapreço pelos movimentos
sociais e comunitários nas pautas jornalísticas”. (Moraes, 2013)
Assim, os meios de comunicação alternativos assumem um papel importante no
estabelecimento de uma comunicação contra-hegemônica. Dentro de um sistema de
comunicação
interativo
e
descentralizado
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
onde
são
“possíveis
Página 8
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
práticas
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
comunicacionais que questionam formas de dominação impostas pelas classes e
instituições hegemônicas”. (Moraes, 2013)
A
Internet
é
capaz
de
desfazer barreiras
geográficas permitindo
trocas
extremamente ágeis entre os indivíduos ou grupos, independente da distancia física.
Diversos meios são constantemente criados ou reinventados na internet como
espaços interativos, entre eles estão as redes sociais, blogs, listas de discussão,
correios eletrônicos entre outros.
O uso da internet com fins contra-hegemônicos assume a “opção preferencial pela
difusão de informação e análises que contemplem temas de interesse coletivo e
comunitário” (Moraes, op. cit) permitindo, muitas vezes, acesso público à
informações restritas.
Além da transmissão de informações, o ecossistema virtual é utilizado como espaço
de organização e mobilização. Os limites do debate e da troca de informações em
rede se tornam em dado momento evidentes, e as pessoas procuram outros meios
de intervenção, recorrendo às tradicionais manifestações de rua e plenárias
coletivas.
(http://crowd.br.com/social/uma-analise-do-sai-do-facebook-e-vem-pra-rua/)
No Brasil um projeto que passou a chamar a atenção a partir das jornadas de junho
foi o Mídia NINJA, uma proposta de jornalismo independente, que procura passar as
informações de maneira crua, no ato mesmo de realização dos acontecimentos. Em
entrevista recente, ao programa Roda Viva da TV Cultura, dois integrantes falaram
sobre o Mídia NINJA, NINJA é uma sigla, e significa Narrativas Independentes
Jornalismo e Ação. O Mídia NINJA é organizado e mantido pelos integrantes de uma
incubadora chamada Fora do Eixo, entorno da qual se articulam por volta de duas
mil
pessoas.
(Bruno
Torturra
e
Pablo
Capilé, http://www.youtube.com/watch?v=vYgXth8QI8M)
O Mídia NINJA funciona como um veículo de informação colaborativa e
independente (sem o financiamento direto de governos e corporações) através de
páginas nas redes sociais Twitter e Facebook. No Twitter a página do Mídia NINJA
possui 20.026 seguidores, Já no Facebook 183.222 pessoas curtiram a página, o
que significa que podem receber todas as informações publicadas em seu “feed de
notícias”.
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 9
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
A cobertura das manifestações realizadas pelos ninjas chamou atenção por sua
inovação e ousadia, as transmissões aconteciam em tempo real, sem cortes durante
todo o tempo que duravam os atos e procuravam cobrir ao máximo as ações de
violência por parte dos policiais. No Rio de Janeiro, durante protestos realizados no
dia 22 de julho dois colaboradores do Mídia NINJA foram detidos por policiais e
continuaram a transmitir as imagens, mesmo dentro do camburão. Em sua página
no Facebook divulgaram que os ninjas haviam sido “presos pela tropa de choque
carioca por
transmitir
a
manifestação”.
(https://www.facebook.com/midiaNINJA?fref=ts)
Além do mídia ninja diversos outros grupos independentes e até mesmo indivíduos
passaram a transmitir informações, promover campanhas, realizar análises a partir
das redes sociais. A campanha “Cadê o Amarildo?” é um exemplo de campanha
promovidas pelas pessoas e grupos independentes acerca de uma questão pouco
trabalhada na mídia tradicional. Amarildo era ajudante de pedreiro, morador da
favela da Rocinha e desapareceu no dia 14 de julho de 2013, após ser detido por
policiais e levado para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora na Rocinha.
(http://www.virusplanetario.net/o-caso-amarildo-mais-um-episodio-da-ditadura-civilbrasileira/)
O que motiva uma manifestação não é uma notícia ou convocatória em redes
sociais. As motivações estão ligadas às bases materiais impostas pelas diversas
facetas que o capitalismo assume e à reação das pessoas e grupos a esses
problemas,
O que se evidencia é que os problemas promovidos pelo capitalismo, como a
violência policial nas capitais brasileiras, por exemplo, são agora comunicados
através de veículos não monopolistas e atrelados às corporações e governos. São
transmitidos por pessoas ou grupos independentes em uma linguagem direta, sem
edição ou sob o crivo de editoriais contra-hegemônicos.
Ao mesmo tempo Castells afirma que a internet é a plataforma que através da luta
para libertar a mente da dominação permite o surgimento da autonomia, entendida
como: “a capacidade de um ator social tornar-se sujeito ao definir sua ação em torno
de projetos elaborados independentemente das instituições da sociedade, segundo
seus próprios valores e interesses” (Castells, 2013,168).
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 10
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
Neste sentido Casttels (op. cit) reforça que à diferença dos protestos sociais os
movimentos sociais conectam as demandas de hoje com os projetos de amanhã, e
que os movimentos que observamos hoje em todo o mundo têm como seu projeto a
transformação das pessoas em sujeitos de suas próprias vidas por meio da
afirmação de sua autonomia. Desta forma, o que vivenciamos hoje, está longe de
ser apenas a demonstração de uma insatisfação pontual, é a expressão do desejo e
da necessidade de uma mudança cultural e política nas estruturas sociais.
4. À guisa de conclusão
As temáticas que abordamos nesse texto têm desafiado inúmeros intelectuais e
especialistas em todo o mundo, nossa pretensão foi justamente dar uma pequena
contribuição ao debate e, principalmente, oferecer aos próprios movimentos sociais
que têm se levantado contra a opressão e a tirania de um modelo de produção que
privilegia poucos e mata muitos elementos para a reflexão. Sabemos que estamos
vivenciando um momento de inflexão marcado pela saturação do modelo político
que as revoluções burguesas consagraram e por uma profunda crise do capitalismo,
essa combinação é, aliada as novas tecnologias, um contexto profícuo para
mudanças, por qual via elas irão ocorrer somente o tempo e a experiência histórica
poderá dizer.
A análise da conjuntura brasileira é desafiadora, nos últimos dez anos vivemos um
período de crescimento econômico aliado com a redução da pobreza e da
desigualdade inédito na história do país, talvez por isso as manifestações também
tenham sido tão surpreendentes. Entretanto nos últimos 10 anos a reforma agrária
parou de avançar, os número da população carcerária cresceram vertiginosamente,
os custos de vida subiram muitíssimo em praticamente todas as regiões do país, os
transportes coletivos tornaram-se mais caros e mantiveram-se insuficientes, a saúde
e a educação pública estão cada vez mais sucateadas, esses dentre outros são
problemas que não encontram solução nos marcos da política institucional ou do
modo de produção que conhecemos hoje e os movimentos sociais têm ciência
disso.
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 11
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Actas – V Congreso Internacional Latina de Comunicación Social –
V CILCS – Universidad de La Laguna, diciembre 2013
Bibliografia
ARANTES,
P.
Tarifa
zero
e
mobilização
popular.
Disponível
em: http://blogdaboitempo.com.br/category/colaboracoes-especiais/pauloarantes/ acessado em 17 de agosto de 2013.
CAPILÉ P. e TORTURRA B. Programa Roda Viva: TV Cultura. Disponível
em: http://www.youtube.com/watch?v=vYgXth8QI8Macessado em 17 de agosto de
2013.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em Rede – a era da informação: economia,
sociedade e cultura – Volume 1. São Paulo: Paz & Terra, 2002.
_________________ Redes de Indignação e esperança. Rio de Janeiro: Zahar,
2013
HARVEY, D. A liberdade da Cidade. In. Cidades Rebeldes.São Paulo: Boitempo
Editorial. 2013
MARTINS C. E. A primavera brasileira e seu contexto sócio-político. Disponível
em: http://blogdaboitempo.com.br/category/colunas/carlos-eduardomartins/ acessado em 17 de agosto de 2013.
MORAES, D. Por que a concentração monopolítica da mídia é a negação do
pluralismo. Disponível em:http://blogdaboitempo.com.br/category/colunas/denis-demoraes/ acessado em 17 de agosto de 2013.
MORAES, D. O papel e os desafios da comunicação contra-hegemônica em
rede. Disponível
em: http://blogdaboitempo.com.br/category/colunas/denis-de-
moraes/ acessado em 17 de agosto de 2013.
Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo – PNUD Innovar para incluir:
jóvenes y desarrollo humano: informe sobre desarrollo humano para Mercosur. - 1a
ed. - Buenos Aires: Libros del Zorzal: Programa Naciones Unidas para el Desarrollo PNUD, 2009.
ZIZEK, S. Problemas no paraíso. In. Cidades Rebeldes.São Paulo: Boitempo
Editorial. 2013.
ISBN-13: 978-84-15698-29-6 / D.L.: TF-715-2013
Página 12
Actas on-line: http://www.revistalatinacs.org/13SLCS/2013_actas.html
Download

Ponencia 99 Medeiros y Oliveira - Revista Latina de Comunicación