CARACTERIZAÇÃO DO REGIME TÉRMICO DE IMPERATRIZ-MA
Márcio Nirlando Gomes Lopes 1 , Dimitrie Nechet 2
RESUMO – O regime térmico de Imperatriz-MA foi caracterizado. A ocorrência de temperaturas
extremas e médias foi investigada com base em registros diários e mensais da estação
meteorológica de superfície do aeroporto de Imperatriz. Com relação à distribuição interanual, não
houve sensível variação de temperaturas máximas, médias e mínimas. Sazonalmente, entretanto,
devido à estação menos chuvosa, durante o final da primavera e inverno, temperaturas abaixo de
18ºC podem ocorrer devido à penetração de sistemas frontais, o que resulta em uma amplitude
térmica diária maior. Foi verificada uma ligeira tendência de crescimento da temperatura média
anual ao longo da série atribuída à ocorrência de fenômenos El Niño-Oscilação Sul (ENOS),
especialmente em 1998 e 2002.
Palavras-chave: Temperatura. Clima. Imperatriz-MA.
ABSTRACT – The thermal regimen of Imperatriz-MA was characterized. The occurrence of
extreme and average temperatures was investigated on the basis on daily and monthly records of the
surface meteorological station of the airport of Imperatriz. With relation to the interannual
distribution, it did not have sensible variation of maximum, average and minimum temperatures.
Seasonally, however, due to less rainy station, during the end of the spring and winter, temperatures
below of 18ºC can occur due to penetration of frontals systems, what daily results in greater thermal
amplitude. A slightly trend of growth of the annual average temperature along one of the series
attributed to the occurrence of the El Niño-Southern Oscillation (ENSO) phenomena was verified,
especially in 1998 and 2002.
Key-words: Temperature. Climate. Imperatriz-MA.
INTRODUÇÃO
O Brasil, por se tratar de um país com dimensões continentais, apresenta, assim, certa
variedade e variabilidade climática. Eis que se mostra necessário, portanto, um estudo mais
detalhado de cada região e localidade fins caracterizá-lo com maior propriedade. Desta forma,
buscou-se com este trabalho contribuir com uma pequena parte, especialmente porque o município
em questão conta com poucas informações climatológicas e trabalhos científicos disponíveis.
A cidade de Imperatriz-MA apresenta significativa importância no contexto da Região
Tocantina. Desta forma, o detalhamento das condições climáticas para cada elemento
meteorológico certamente vem a ajudar a compor um quadro geral que visa auxiliar o
desenvolvimento local. O conhecimento do comportamento da temperatura do ar, particularmente,
1
Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (INFRAERO). Aeroporto Internacional de Belém - Navegação
Aérea de Belém (NABE). Av. Júlio César, s/n – Val-de-Cans. Belém-PA/Brasil. Fone: (91) 3210-6134. E-mail:
[email protected]
2
Universidade Federal do Pará (UFPA). Centro de Geociências/Departamento de Meteorologia. Rua Augusto Correa,
nº1 – Guamá. Belém-PA/Brasil. Fone: (91) 3201-7410. E-mail: [email protected]
traz um benefício significativo quando aplicado a setores, principalmente, como agricultura e
turismo, pois favorece a escolha de culturas e variedades agrícolas mais adaptadas regionalmente no
primeiro caso, e a prática de atividades ligadas ao lazer no outro.
MATERIAIS E MÉTODOS
A região de Imperatriz apresenta um relevo parcialmente acidentado e a vegetação é
constituída de pastagens, reflorestamentos, com manchas de florestas amazônicas. A topografia é
marcada pela presença de chapadas a leste e ao sul e por pequenas ondulações dos contrafortes da
Serra do Gurupi, ao norte.
Para a realização deste estudo foram utilizados dados de temperatura do ar provenientes da
Estação Meteorológica de Superfície Classe-2 do Aeroporto de Imperatriz-MA, cujas coordenadas
geográficas são 05° 32’ S, 047° 28’ W e altitude de 131 metros, operada pela INFRAERO. Os
dados trabalhados referem-se a registros de observações diárias, estes restritos aos períodos de 1988
a 1989 e 1991 a 1996, e dados mensais das temperaturas médias, mínimas e máximas em graus
Celsius (°C) compreendendo o período de 1987 a 2002.
Através do teste de homogeneidade não paramétrico, run test, recomendado pela norma
técnica nº 81 da OMM, esta série foi considerada homogênea.
Os dados de temperatura permitiram obter: médias mensais e anuais, máximos e mínimos
absolutos e relativos, amplitudes médias diárias, distribuição anual e sazonal, coeficiente de
variação, desvio padrão, e tendência da temperatura média do ar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a classificação internacional de Köppen, Imperatriz apresenta clima do tipo
Aw (LOPES, 2006), isto é, tropical quente e úmido, com inverno seco. A temperatura média mensal
ao longo do ano nunca esteve inferior a 26°C, embora tenham ocorrido, freqüentemente, mínimas
absolutas menores que 18°C durante o inverno. Estas observações podem ser melhor ilustradas
através da Fig. 1.
40,0
37,5
35,0
32,5
30,0
25,0
(°C)
27,5
22,5
20,0
17,5
15,0
12,5
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
Temp mín absoluta mensal
JUN
JUL
AGO
Temp média mensal
SET
OUT
NOV
10,0
DEZ
Temperatura máx absoluta mensal
Figura 1 – Distribuição anual da temperatura média e temperaturas máxima e mínima absolutas para Imperatriz-MA,
no período de 1987 a 2002.
Não foram observadas grandes variações nas médias das temperaturas máximas e mínimas
anuais e, principalmente, na temperatura média anual ao longo da série (Fig. 2). As variações
diurnas da temperatura nas latitudes baixas são mais dominantes do que as variações sazonais
(AYOADE, 1983).
38,0
36,0
34,0
32,0
28,0
(°C)
30,0
26,0
24,0
22,0
20,0
18,0
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
Média da temperatura máxima
1994
1995
1996
1997
Média da temperatura mínima
1998
1999
2000
2001
16,0
2002
Temperatura média
Figura 2 – Variabilidade interanual da temperatura para Imperatriz-MA.
O comportamento da temperatura média anual ao longo do período estudado apresentou
ligeiro aumento, 0,07°C ao ano, denotando uma tendência de aquecimento, mostrada na Fig. 3. O
coeficiente de regressão foi R = 0,618.
29,5
29,0
28,5
(°C)
28,0
y = 0,0672x + 26,909
R2 = 0,3822
27,5
27,0
26,5
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
26,0
2002
Figura 3 – Variabilidade interanual (linha azul) e tendência (linha vermelha) da temperatura média para ImperatrizMA. A tendência acompanha a equação de regressão.
A variabilidade interanual de temperaturas médias, contudo, é pouco importante em um
contexto mais amplo de acordo com a sua amplitude térmica anual, quase sempre inferior a 3°C.
Deve-se destacar, entretanto, que as temperaturas mais altas da primavera tornam-se bastante
significativas, visto que esta época do ano apresenta baixo índice de chuvas (LOPES, 2006),
deixando o solo e a população vegetal mais susceptíveis à falta d’água, devido à intensificação da
evapotranspiração.
A redução dos valores térmicos ocorre nos meses de verão, associada ao aumento da
precipitação, embora não seja muito significante. Durante o inverno, a temperatura máxima inicia
ligeiro aumento até a primavera, quando pode aproximar-se ou ultrapassar 38°C (Fig. 4), mesmo
registrando mínimas relativamente muito baixas, devido a maior penetração de massas de ar polar
em transição para a tropical. Por exemplo, no dia 19 de agosto de 1988, registrou-se uma
temperatura mínima de 14,0°C e a máxima de 35,0°C.
Um quadro mais geral para a estatística dos valores de temperatura é apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 – Quadro estatístico descritivo dos valores mensais de temperatura do ar em (°C) para o período de 1987 a
2002. Méd (média), DP (desvio padrão), CV (coeficiente de variação), Máx Abs / Ano (máxima absoluta e
anoa de ocorrência), Máxima Méd (máxima média), Mín Abs / Ano (mínima absoluta e ano de
ocorrência), Mín Méd (mínima média), Amp Méd (amplitude média). A amplitude média refere-se à
diferença entre as médias das temperaturas máxima e mínima.
Mês
Méd
DP
CV
Máx Abs /
Ano
Máx
Méd
Mín Abs /
Ano
Mín
Méd
Amp
Méd
Jan
26,8
0,37
0,01
36,2 / 1998
34,8
20,6 / 2001
21,3
13,4
Fev
27,0
0,72
0,03
37,0 / 2002
34,4
20,4 / 1993
21,3
13,1
Mar
26,9
0,53
0,02
37,0 / 1993
34,6
20,6 / 1998
21,4
13,1
Abr
27,3
0,65
0,02
36,4 / 1998
34,6
20,8 / 1989
21,6
13,0
Mai
27,7
0,73
0,03
36,2 / 1998
34,9
19,0 / 1999
20,7
14,1
Jun
27,4
0,68
0,02
36,6 / 1998
35,1
17,0 / 1997
18,4
16,6
Jul
27,3
0,83
0,03
37,4 / 1998
36,0
15,0 / 1992
16,6
19,3
Ago
28,0
0,77
0,03
38,0 / 2002
37,1
14,0 / 1988
17,5
19,6
Set
28,5
0,84
0,03
38,4 / 1998
37,4
16,6 / 1989
19,3
18,1
Out
28,5
0,58
0,02
38,2 / 1998
37,0
17,4 / 1999
20,8
16,2
Nov
28,0
0,56
0,02
37,2 / 1987
36,1
19,6 / 1989
21,2
15,0
Dez
27,7
0,65
0,02
37,0 / 2002
35,7
20,0 / 2002
21,2
14,5
Anual
27,6
–
–
38,4 / 1998
35,6
14,0 / 1988
20,1
–
A amplitude média descrita na Tabela 1 foi representada graficamente na Fig. 4, evidenciando
a variabilidade diurna ao longo do ano.
21,0
20,0
19,0
18,0
16,0
(°C)
17,0
15,0
14,0
13,0
12,0
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
11,0
DEZ
Figura 4 – Variabilidade anual da amplitude térmica média para Imperatriz-MA no período de 1987 a 2002.
CONCLUSÃO
As temperaturas máxima, média e mínima de Imperatriz apresentaram pequenas variações
mensais e anuais. Entretanto, a penetração de fortes sistemas frontais durante a estação menos
chuvosa, período de inverno/primavera austral, provocaram temperaturas mínimas inferiores a
18°C, relativamente baixas para a região. As amplitudes térmicas diárias foram elevadas, variando
sazonalmente de 13°C a 19°C, da estação chuvosa para a menos chuvosa, respectivamente.
A tendência de elevação na temperatura média do ar de 0,07°C ao ano foi devida a um
provável balanço em favor do calor sensível em lugar do calor latente, visto que este aumento
esteve associado a um período de baixa pluviosidade nos anos de 1998 e 2002, possivelmente
relacionados com a ocorrência do fenômeno El Niño-Oscilação Sul, não avaliado neste estudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1996. 332 p.
LOPES, M. N. G. Caracterização climática da temperatura e precipitação de Imperatriz-MA.
2006. 80 f. Trabalho de conclusão de curso – Universidade Federal do Pará – UFPA, Pará, 2006.
NIEUWOLT, S. Tropical climatology: an introduction to the climates of the low latitudes. New
York: John Willey & Sons, 1977. 207 p.
NIMER, E. Pluviometria e recursos hídricos de Pernambuco e Paraíba. Superintendência de
Recursos Naturais e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: SUPREN, 1979. 117 p.
RIEHL, H. Meteorologia tropical. Tradução de Aurélio Augusto Rocha. Rio de Janeiro: Livro
Técnico S. A., 1965. 426 p.
SANTOS, A. Análise das tendências da chuva e das temperaturas extremas na região de
Belém(PA). 1993, 124 f. Dissertação (Mestrado em Agrometeorologia) – Universidade de São
Paulo - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP-ESALQ, São Paulo, 1993.
TARAKANOV, G. G. Tropical meteorology. Moscow: Mir Publishers. Translated from Russian by
Michael G. Edelev, 1982. 230 p.
VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e climatologia. 2ª. Ed. Brasília: Instituto Nacional de
Meteorologia, 2001. 515 p.
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