INVESTIMENTOS PESSOAIS EM TEMPOS DE JUROS BAIXOS
João Carlos Medeiros Madail
Econ. Vice-Presidente da AECONSUL.
No tempo dos meus avós se costumava dizer que “dinheiro chamava dinheiro”, ou
seja, quem tinha muito dinheiro poderia aumentar a fortuna ainda mais, investindo em ativos
com altas taxas de juros. Era comum o aplicador financeiro adormecer com um determinado
valor e acordar mais rico, fruto dos altos rendimentos que a economia e o mercado ofereciam.
Foi um período recente em que o país praticava taxas de juros estratosféricas muito distantes
da realidade mundial. Como resultado atraiu investidores de todos os cantos do mundo,
dispostos a se inserir num cenário tipicamente especulativo. Em janeiro de 1999 a taxa anual
oficial de juros no Brasil era de 45%, desde então vem baixando, alcançando 7.25% até
outubro de 2012, com perspectivas de se manter no mesmo nível até dezembro de 2012.
Na verdade os tempos são outros, com a redução da taxa básica de juros a vida dos
investidores mudou ou pelo menos está mudando, está mais difícil e desagradável para quem
costumava ganhar muito com aplicações seguras. Até que este cenário de baixos retornos em
aplicações financeiras seja absorvido o corre-corre na busca das melhores alternativas vai
continuar. Existem vários fundos cada um dos quais com suas regras e especificidades em
termos de retornos, taxas de administração, impostos etc. que, se não forem bem estudados,
corre-se o risco da perda de patrimônio, ainda mais num cenário inflacionário, mesmo com
índice considerado baixo.
É preciso que nos acostumemos a conviver com juros baixos, afinal este é o
comportamento normal dos países em desenvolvimento e/ou desenvolvidos como caminha o
Brasil e a mudança das regras de comportamento dos brasileiros-investidores ou do brasileiro
comum se fazem necessário. Como na economia é difícil todos ganharem ao mesmo tempo,
agora é hora do brasileiro comum que consome todo o salário que recebe a cada mês e
encontra-se endividado por conta dos cartões de crédito, resolver as suas pendências
financeiras. Com crédito barato, ficou mais fácil buscar financiamentos com juros mais baixos
do que aqueles cobrados pelos saldos devedores dos cartões e regularizar suas vidas
financeiras. Em relação aos investidores é bom lembrar que numa economia estabilizada,
risco baixo significa retorno baixo, diferente do que ocorreu num passado recente em que os
ganhos eram fáceis e não se precisava estudar com profundidade o mercado de capitais.
É bom, no entanto, que a gente vá se acostumando porque o cenário ainda não se
completou. Ainda hoje, no Brasil os fundos atrelados à taxa Selic, definida pelo Banco Central é
de 10,5%, considerada alta se comparada com os investidores chilenos que ganham 5%; os
peruanos, 3%; e os americanos, tão somente 0,2%. Há que se ressaltar que a inflação nesses
países é menor que no Brasil, o que impacta negativamente nos ganhos dos investidores
brasileiros. Estudos realizados por economistas da Fundação Getúlio Vargas apontam que um
milhão de investidores aplicam em fundos DI com taxa de administração superior a 1,5%,
idêntica à inflação, ou seja, não ganham nem perdem, porém outros tantos permanecem em
fundos que perdem da inflação. Para os investidores conservadores a melhor saída é optar por
títulos com retornos aceitáveis atrelados à inflação.
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