REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP
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MAL SECRETO, UMA RESENHA SOBRE O MEDO
SOUZA, José Antonio de. Mal Secreto1.
HERCULANO, Eduardo2
E, finalmente, respire. Fim da peça. O ar apreendido ainda na primeira cena
transforma-se no único ar que o espectador tomará enquanto tenta decifrar o jogo de
realidade e ilusão criado por uma mente psicótica.
No mundo apresentado, a mente dividida de Heitor, Thiago Cardoso, vaga
pelo oculto que vem a tona com o auxílio da psiquiatra, Cida Camargo, em sua análise
psicanalítica freudiana da mente humana, um mundo oculto, embora presente a todos.
Seria conveniente aqui relatar como uma mente dividida, pousada em seu mal secreto,
conflituosa consigo e com o mundo, responderia a esse estado, mas, além de
conveniente, seria simplista, e não está na simplicidade dos atos cometidos por Heitor a
grandeza da peça, mas na simplicidade do medo, do não conhecer a si próprio.
A mente de Heitor é lógica apenas a ela. Abrindo-a e analisando seus atos
em série cometidos no desenrolar da peça ficamos sobre uma base sem sustentação,
nada pode ser afirmado como real ao mesmo tempo em que, também, não podemos
afirmar nada como irreal. Poderia ser seus atos apenas a criação de sua mente
influenciada por estímulos externos. Uma notícia, talvez, lida em um jornal e projetada
em uma alucinação. Ou, ao contrário, poderia ser a notícia o resultado de seus atos.
A representação do texto de José Antonio de Souza, proposta pelo diretor
Denilson Biguete, emaranha-se nos eus contidos em nós: um conflito intenso do ego
partido no qual floresce nossa parte primitiva e os impulsos não censurados. Porém, os
conflitos se expandem além da personagem de Heitor, eles não atingem apenas medos
pessoais, mas também sociais, com os quais nos defrontamos corriqueiramente em uma
expectativa de nunca sermos o alvo de tais impulsos. Nesse ponto reside o nosso
desconhecimento sobre nós, o medo não está para os atos cometidos por Heitor, mas em
nos projetarmos à realização de tais atos em nosso eu desconhecido e perceber que não
sabemos quem somos, daí a simplicidade do medo, por ele ser natural e comum a todos.
Então, nesse caso, julgamos: quem seria Heitor?
SABER ACADÊMICO - n º 08 - Dez. 2009/ ISSN 1980-5950
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A peça, em seu conjunto, merecedora de todos os prêmios já conquistados,
fez jus aos aplausos de sua primeira temporada e as subsequentes. Retoma-se, agora, a
fim de permitir que fôlegos retomados sejam novamente expirados, muitos por
admiração, conquanto outros por desconforto, choque ou mesmo por ódio de seu teatro
moderno, proposta que resultou em uma premeditada fábula de valores imorais. Cabe,
enfim, ressaltar os aplausos àqueles que tornaram possível o projeto do grupo Menades
& Sátiros Cia de Teatro, do Lugar das Artes, sem os quais a grandeza do espetáculo
seria inquestionavelmente menor, aos atores: Carol Mendes, Giovana Galindo, Gustavo
Dalle Vedove, Ítalo Mendes, Janaíne Gazzani, e Valéria Santos. E àqueles que nem
sempre são vistos diretamente, mas que estão em todos os detalhes por trás da obra:
Luiz Progetti, Jackson Almir, Ivan Santos, Paulo Brazil, e Guilherme César.
1
Texto dramático apresentado de 07 a 09 de agosto de 2009, pelo grupo Menades & Sátiros Cia
de Teatro (http://www.lugardasartes.com.br), de Presidente Prudente/SP.
2
Graduado em Letras: Português, Inglês, e Respectivas Literaturas; pela FAPEPE - Faculdade
de Presidente Prudente. Pós-graduando em Psicopedagogia, Lato Sensus, pela UNOESTE Universidade do Oeste Paulista. Atualmente atua como professor da rede estadual de educação
de São Paulo, na cidade de Presidente Prudente.
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