L LA PE GI DO PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CU M EN TO PR OT E UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PSICOMOTRICIDADE COLABORANDO PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN MARLI DE JESUS SILVA 2 MARLI DE JESUS SILVA PSICOMOTRICIDADE COLABORANDO PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN Monografia apresentada ao Programa de Cursos de Pós Graduação “Lato Sensu” Projeto “A Vez do Mestre” da Universidade Candido Mendes, como pré-requisito para obtenção do Título de Pós Graduado em Psicomotricidade. Orientadora: Profª.Dra. Maria Esther de Araújo Oliveira 3 DEDICATÓRIA Dedico aos meus pais, pela cumplicidade, perseverança e amor; aos meus filhos Michelle e Miller, por tudo que eles representam na minha vida; ao meu esposo Antônio Wilson, que sempre me deu força para prosseguir; à 4 RESUMO Iniciou-se a pesquisa, por partes. Apresentou-se a parte de neurologia, para entender onde e o porquê da estimulação, principalmente no caso do Ensino Especial, para posteriormente estar familiarizados com termos médicos, portanto o enfoque dado vai estar relacionado a déficits motores e cognitivos. A psicomotricidade pode colaborar para o desenvolvimento das crianças portadoras de Síndrome de Down, em termos de desenvolvimento, que a criança evolua nos conhecimentos dos esquemas sensório-motores, na construção de categorias reais (espaço, tempo, causalidade e objeto: em sua cor, forma, cheiro, peso), bem como, inicie a função simbólica e tenha ganhado significativos em toda área motora e psicológica. Para tanto, dá-se ênfase à imitação de sons e gestos, às brincadeiras de faz-de-conta e às brincadeiras sensório-motoras. Estimula-se a criança para que aprenda a brincar ao lado dos colegas, realizando algumas trocas, obedecendo a regras simples já estabelecidas. Este estudo teve como objetivo investigar a influência das atividades psicomotoras em crianças portadoras da Síndrome de Down. Utilizou-se uma ficha para avaliação psicomotora. Comparando-se os resultados de pré e pós-teste, obtiveram-se resultados significativos, a maioria das crianças apresentou melhora na 5 METODOLOGIA A presente pesquisa delimita-se a uma escola da Rede Pública localizada em Brasília-DF, onde os alunos são portadores da Síndrome de Down. Serão observados aspectos motores globais em crianças portadoras da Síndrome, antes e depois das aulas de Psicomotricidade. A pesquisa propõe comparar as idades psicomotoras pré e pós-reeducação psicomotora de crianças portadoras de Síndrome de Down. Assim, foi avaliado o desenvolvimento psicomotor de 10 crianças com idade cronológica média de 06 anos portadoras da síndrome. Para tal, utilizou-se uma Ficha da Avaliação Psicomotora baseada em PICQ E VAYER, sendo observados os seguintes tópicos do desenvolvimento psicomotor: ? Coordenação dinâmica geral ? equilíbrio ? Esquema corporal ? lateralidade ? Organização espacial ? linguagem Realizou-se no Salão de Atividades Físicas e na piscina, um Programa de 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 07 CAPÍTULO I – O QUE É PSICOMOTRICIDADE 08 1.1 Psicomotricidade uma Visão História 09 1.2 Psicomotricidade e suas Distintas Definições 10 1.3 A Neurologia e o Sistema Nervoso 11 1.4 A Importância da Reeducação Através do Movimento 13 1.5.Psicomotricidade e a Consciência do Corpo 14 1.6 Psicomotricidade e o Ensino Especial 17 CAPÍTULO II - SÍNDROME DE DOWN 22 2.1 Patologia e Manifestações Clínicas 27 2.2 Aspectos da Síndrome de Down 31 CAPÍTULO III - A PSICOMOTRICIDADE E A SÍNDROME DE DOWN 34 3.1 A ontogênese do desenvolvimento motor 35 3.2 Fatores que influenciam o desenvolvimento infantil 36 7 INTRODUÇÃO A Síndrome de Down também conhecida como Trissomia do 21 é causa isolada mais comum de retardo mental. As crianças nascidas com a Síndrome atingem seus marcos de desenvolvimento mais tarde que as crianças que não apresentam comprometimentos neuromotores e isso independe da inteligência ou do comportamento. A criança portadora da Síndrome apresenta distúrbios no tônus muscular onde se evidencia transtornos motores. Uma característica desses distúrbios é a falta de controle sobre os movimentos. Além disso, como a doença é um retardo mental, o processo de aquisição de habilidades motoras pode ser comprometido. A Psicomotricidade é um recurso muito rico para os nossos portadores de necessidades especiais. Por se fazer necessário trabalhar com as potencialidades de cada indivíduo, respeitando os seus limites, porém capacitando para uma maior independência para o futuro. A atividade motora é importante desde o começo da vida, pois é a evolução motora que permite as demais conquistas de nosso desenvolvimento. Crianças portadoras da Síndrome de Down apresentam um atraso 8 respondida no final deste trabalho é: “Como a Psicomotricidade, pode colaborar para o desenvolvimento psicomotor da criança portadora da Síndrome de Down”? CAPÍTULO I – O QUE É PSICOMOTRICIDADE Visualizando o termo psicomotricidade, sob uma ótica lingüística, observamos que é formado por dois componentes: —PSICO: Faz referência à criatividade psíquica com seus dois componentes sócio-afetivo e cognitivo. —MOTRICIDADE: Pode-se compreendê-la como uma entidade dinâmica, que se subdivide em noção de desenvolvimento orgânico, organização, relação e funcionamento, sujeita ao desenvolvimento e à maturação, e entidade como um todo constitui a função motora e se traduz fundamentalmente pelo movimento, para o qual o corpo dispõe da base neurofisiológica adequada. A Psicomotricidade é uma reeducação através de exercícios que visam tornar a criança plenamente consciente das atividades que realiza do espaço e no tempo. Tem uma finalidade educativa, pois vai tornar essa criança capaz de realizar gestos coordenados, com habilidade de se locomover no espaço a sua volta de modo harmonioso e ainda ajuda a conhecer pela visão, audição e tacto o mundo que 9 ou afetivas. Esta pesquisa de reeducação psicomotora seria uma maneira de ligar a criança portadora da Síndrome de Down ao mundo, dando-lhe condições corporais para orientar em suas ações, pensamentos e emoções. 1.1 Psicomotricidade uma visão histórica O estudo da psicomotricidade surgiu na França, por volta de 1950. Sua evolução veio da psiquiatria. O primeiro médico que falou sobre problemas de evoluções e suas perturbações foi DUPRÉ. Descreveu as diferentes etapas do Desenvolvimento Psicomotor e mostrou as perturbações que podem advir desse desenvolvimento. Quando escreveu “Princípios da Debilidade Motriz”, mostrou a existência de certas dificuldades motrizes que não respondem a certas lesões deficitárias do S.N (Sistema Nervoso), mas uma perturbação na organização de harmonização das diferentes funções sustentadas por um cérebro que se matura progressivamente. Observou-se o comportamento de uma criança, perceberam como é o seu desenvolvimento. O comportamento ou conduta são termos adequados para 10 músculos. À medida que os feixes de músculos mais específicos são usados, a criança desenvolve sua coordenação fina. Para que ocorra um desenvolvimento motor adequado, é necessário um amadurecimento neural, ósseo, muscular, além de crescimento físico, juntamente com o aprendizado. Assim, os estudiosos e pesquisadores fizeram trabalhos remarcáveis, onde colocaram à luz o papel do sensório-motor na evolução da criança. Os testes psicomotores e psicológicos permitiram situar a criança em função da evolução do adulto e assim surgiu a reeducação psicomotora para solucionar os distúrbios psicomotores. A atividade motora é importante desde o começo da vida, pois é a evolução motora e sensitiva que permite as demais conquistas de nosso desenvolvimento. 1.2 Psicomotricidade e suas Distintas Definições A psicomotricidade é uma reeducação através de exercícios que visam tornar a criança plenamente consciente das atividades que realiza no espaço e no 11 Para a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (cit. MELLO, 1989, p.31), “Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”. Portanto observamos que o elo entre as definições apresentadas é a junção da psique + motricidade, o que levou Francisco Ramos a concluir que: Consequentemente, a Psicomotricidade nos apresenta como o conjunto de comportamentos técnico-gestuais, tanto intencionados como involuntários. A função motora, em definitiva, não é nada sem o aspecto psíquico, pela intervenção do psiquismo, o movimento se converte em gesto, quer dizer, em portador de respostas, de intencionalidade e de significações. (RAMOS, 1979, apud, Cened, p. 57). Definição mais recente: A Psicomotricidade educativa/reeducativa/terapêutica. é Foi concebida uma como disciplina diálogo que considera o ser humano como uma unidade psicossomática e que atua sobre sua totalidade por meio do corpo e do movimento no ambiente, por meio de métodos ativos de mediação, principalmente corporal, com o propósito de contribuir a seu desenvolvimento integrante (MUNIÁIN, 1997, apud, Cened, pág.08). 1.3 A NEUROLOGIA E O SISTEMA NERVOSO 12 As crianças com Síndrome de Down após o seu nascimento são feitos vários exames, entre eles um mapeamento cerebral, onde serão diagnosticadas lesões cerebrais. Através do PET, um aparelho que mostra na tela do computador em cores que áreas do cérebro são ativas quando o indivíduo está realizando algum tipo de atividade, é possível localizar e caracterizar processos cerebrais quando uma pessoa está pensando, lendo, fazendo diversos movimentos. Em conseqüência destas novas tecnologias, aprendeu-se mais sobre o cérebro humano nas últimas duas décadas do que nos 200 anos que as precederam. Contrariamente ao que poderia se supor não se trata aqui de um corpo de pesquisa na área estritamente biológica ou médica. Vários neurocientistas tem apontado para o fato de que o desenvolvimento do cérebro e seu funcionamento são funções de fatores de ordem cultural e da organização social, do trabalho e das atividades de lazer. Segundo alguns neurocientista, o cérebro se forma na dinâmica cotidiana das reações do indivíduo ao meio, idéia defendida há décadas. Destas informações dadas pelos cientistas pode-se tirar uma série de elementos importantes para a prática educativa. Estes elementos nos informam as questões importantes do tempo e do espaço relacionada à aprendizagem. Eles nos informam que certas práticas são necessárias no processo de construir o 13 1.4 A Importância da Reeducação Através do Movimento Nosso organismo é dotado de uma estrutura organizada, dotado de uma constante relação com nosso ambiente. O instrumento de que dispomos para usar essa energia é o sistema nervoso que canaliza seu uso através da rede neuronal. Assim, através do sistema nervoso, a atividade sensorial recolhe impressões do meio interno e externo, atividade muscular regula os movimentos, a atividade mental elabora os processos intelectuais que possibilitam o uso da linguagem e do pensamento. O crescimento orgânico em geral e o dos órgãos em particular vão proporcionar o acabamento necessário ao uso e funcionamento do nosso corpo e de sua rede neuronal. A maturação neurológica é básica para o desenvolvimento psicomotor e para todas as funções dependentes da psicomotricidade. A estimulação que a criança recebe do meio ambiente é também muito importante. Assim, crescendo e amadurecendo ela adquire habilidades para comandar seu corpo e de certa forma, dirigir seu comportamento. Além disso, o mundo que a rodeia, composto de coisas e objetos, é um enigma para ela resolver e tudo passa a ser manipulado, investigado, descoberto e usado em função do que ela já é capaz 14 ou menor intensidade, a interferência generalizada ou localizada nos sistemas locomotores humano. A necessidade da reeducação se faz sentir também precisamente nos caso de transtornos bem caracterizados, como os de linguagem, dislexias, disortografias, disgrafias, transtornos afetivos, tics, antes de empreender a reeducação especializada (Psicomotricidade). A Psicomotricidade tem sido considerada mais vantajosa e eficaz quanto à aquisição e velocidade do aprendizado nos trabalhos desenvolvidos. A Educação Psicomotora é a educação do corpo, e a tomada de consciência do corpo, a educação do movimento. É atividade física. 1.5 Psicomotricidade e a Consciência do Corpo O homem, que não toma consciência de si mesmo, é comparável a um veículo, onde os ocupantes são dois desejos, os cavalos, os músculos, e o veículo ele mesmo, o esqueleto. A consciência é o motorista que dorme. Mas quando o motorista é acordado, ele pode guiar os cavalos e através deles o veículo, de tal maneira que todos os viajantes atingem seus objetivos. (Parábola Tibetana) 15 desenvolvimento funcional. A educação psicomotora tem como meta a estruturação do Esquema Corporal e o desenvolvimento de funções psicomotoras. Eis a explanação, resumidamente, das funções psicomotoras que contribuem na formação e desenvolvimento do Esquema Corporal: Coordenações Globais: É o emprego das ações simultâneas de grupos musculares diferentes, para a execução de movimentos amplos e voluntários mais ou menos complexos, envolvendo principalmente o trabalho de membros. Dentro deste fundamento, encontram-se as coordenações óculo-manual, óculo-pedal, braço-perna entre outras. Coordenação motora fina: É a realização, de forma ordenada, de pequenos músculos e que se apóia na coordenação dinâmica geral. Um equívoco observado com muita freqüência ocorre quando se trabalha a motricidade fina apenas com as mãos. Devem-se levar em conta dos os pequenos músculos, por exemplo, os músculos dos pés e do rosto. Lateralidade: Vivenciando as potencialidades dos dois lados do corpo, estabelece-se na criança a dominância de um dos lados em relação ao outro se inclui esta dominância também nos sentidos. Por exemplo: pedir para a criança olhar através de uma lupa, uma câmera fotográfica ou mesmo através de um buraco na 16 Equilíbrio: Habilidade da criança de manter o controle do corpo, utilizando ambos os lados simultaneamente, um lado só ou ambos alternadamente. O equilíbrio se mantém pela interação de certo número de estruturas neurofisiológicas, sentidos e vias como a visão, a excitação labiríntica e vestibular dos reflexos do pescoço, as sensações táteis e proprioceptivas. Espaço-temporal: Ser capaz de se orientar e se organizar diante de um espaço físico, de perceber suas limitações e a relação de proximidade das coisas. Organização temporal corresponde à capacidade de relacionar ações a uma determinada dimensão de tempo, onde sucessões de acontecimentos e de intervalos de tempo são fundamentais. Coste (1992 p. 52) diz que a estruturação da organização espaço-temporal permite ao indivíduo não só coordenar e sequênciar os gestos, localizar seu corpo e partes no espaço, coordenar e organizar seus atos evolutivos e suas atividades, sendo, também, de extrema importância para a adaptação do indivíduo em sua relação com o meio. Ritmo: Esta função obedece à individualidade e é espontânea, precisando ser organizada porque é parte efetiva do desenvolvimento psicomotor da criança. O trabalho de desenvolvimento e estímulo do ritmo é aos poucos e através de experiências sucessivas, na vivência e exploração de suas potencialidades. 17 Andar apoiando-se mais num pé que no outro; com passos descontrolados, ora mais longos ora mais curtos; tropeçando frequentemente; com o corpo em posição desajeitada, entre outros. Correr de forma desajeitada, aos tropeções, sem coordenar os movimentos dos braços e das pernas, apresentando dificuldades em desviar de obstáculos. Pular descontroladamente, não conseguindo manter-se em pé ao final do pulo e tendo muitas dificuldades para dar vários pulos de forma contínua e coordenada. Esquema corporal: apresentar dificuldades em localizar e apontar as várias partes do próprio corpo. Equilíbrio, ritmo, dificuldade nestes pontos. Lateralidade: incapacidade de orientar-se em termos: direita e esquerda, frente e trás, em cima e embaixo. 1.6 Psicomotricidade e o Ensino Especial O desenvolvimento motor começa na gestação, sendo ele notavelmente 18 prática obrigatória por lei, que se deve cuidar do desenvolvimento motor. Este deve ser constante em todas as atividades escolares. Sem este suporte interdisciplinar, não se alcançará o objetivo. Quer estejamos dormindo, parados ou em atividade física, existem posições e movimentos adequados para a promoção de ma vida corporal saudável. Isto é pré-requisito para o equilíbrio emocional e intelectual Só é possível determinar as características dos espaços a criar se, primeiramente, analisarmos as diferentes etapas de desenvolvimento de acordo com o período críticos ou fase de receptividade por que passa a criança, isto é, a forma como descobrindo o mundo o corpo se adapta e se modifica (desenvolvimento neuro-motor), a forma como a criança situa o corpo, o conhece e organiza as ações. Há vários distúrbios motores que podem prejudicar o bom funcionamento do organismo, isto pode ser observado em práticas de jogos e atividades livres ou mesmo em sala de aula, quando o aluno apresenta certas posições inadequadas e a falta ou deficiência de coordenação e controle dos vários movimentos corporais. Para detectar isto, nada melhor que o professor de Educação Física e/ou os professores que estão grande parte do tempo com as crianças. A deficiência motora pode trazer uma dificuldade na aprendizagem. O desenvolvimento psicomotor é semelhante para todas as crianças, a 19 cognitivo e afetivo-social. Nesse sentido a psicomotricidade, através da reeducação psicomotora, busca uma organização funcional da conduta e da ação, atingindo o individuo de uma maneira integral. O movimento é a exteriorização mais significativa do Sistema Locomotor, constituído pelos ossos, articulações e músculos. Tal sistema constitui uma máquina composta que faculta ao homem a maior parte dos fenômenos de sua vida de relação. Permanecer e deslocar-se, exprimir-se pela fala, valoriza-la pelo gesto, torna-la mais significativas pelas atitudes gerais ou expressões mímicas de dor, de tristeza, de alegrias, de medo, de cólera, etc., são fenômenos e vida que pedem, com maior ou menor intensidade, a interferência generalizada ou localizada do sistema locomotor humano. Considera-se como educação psicomotora tudo que se encontra na atividade física, no jogo, no esporte, onde o pensamento e o movimento não são mais dissociados, pois qualquer movimento voluntário é um ato governado, isto é, executado e conduzido, graças à intervenção de nossa própria vontade e controlado por nosso cérebro. O movimento é um elemento importante da educação, pois é através dele que expressamos nossas necessidades primordiais. A necessidade da reeducação se faz sentir também precisamente nos 20 “O grande erro pedagógico atual é querer separar a educação chamada intelectual da educação chamada física, o que se constitui em parte, o primeiro fracasso do ensino”. (VAYER, 1989 pág.91) O desenvolvimento do controle motor depende grandemente do desenvolvimento neurológico —– os movimentos estão ligados à maturidade das formações nervosas. Para que o nervo funcione, isto é, para que entre em ação, é preciso que as células que o compõem se encontrem mielinizadas. O processo de mielinização é um processo lento e paulatino, cuja direção é eixo-distal — inicia-se no quinto mês da vida fetal e só termina após a adolescência (entre 15/20 anos de idade). O tônus muscular é um fenômeno de natureza reflexa, que tem sua origem no músculo, mas cuja regulação está submetida ao cerebelo; depende da estimulação ambiental. Participa de todas as funções motrizes (equilíbrio, coordenação, dissociação e outros) e pode ser usado como critério de definição de personalidade, pois varia segundo a inibição, a instabilidade, a extroversão. Podemos observar o estado do tônus através da resistência muscular à movimentação passiva de um segmento corporal. Uma grande resistência é 21 mundo das pessoas; é no plano tônico que a criança estabelece seu primeiro diálogo como meio. Portanto, a função tônica está ligada a todas as manifestações de ordem afetiva. O tônus também expressa as emoções, estando diretamente ligado a elas, ou seja, através do tônus as emoções se manifestam. A importância está nesta manifestação, portanto há que se estabelecer uma relação honesta e sincera dentro das atividades psicomotoras, para que adquira melhores condições de aprendizagem e crescimento. Um indivíduo bem estimulado e que viva num ambiente prazeroso e tranqüilo, certamente terá melhores condições de se desenvolver e expressar corporalmente que um outro indivíduo que trabalhe e viva num ambiente tenso e autoritário. Provavelmente, o segundo terá enorme dificuldade em se expressar e viver intensamente, estando sempre dependente do desejo dos outros. 22 CAPÍTULO II - SÍNDROME DE DOWN Também conhecida como trissomia do 21 é a causa isolada mais comum de retardo mental. Além disso, os nativivos representam apenas uma fração de todos os conceptos com este defeito cromossômico. Dois terços são abortados espontaneamente ou morrem no útero. A expectativa de vida também é reduzida. Os avanços recentes na terapia para infecções, operações para defeitos cardíacos congênitos e quimioterapia para leucemia, as principais causas de morte nos pacientes com Síndrome de Down, estão aumentando a expectativa de vida. A Síndrome de Down foi a primeira anomalia cromossômica percebida na espécie humana, descoberta pelo cientista francês Lejeune (1859), juntamente com Gautier e Turpin. Somente em 1866 é que a mesma foi caracterizada, por John Langdon Haydon Down, da qual herdou este nome (MUSTACCHI, 1997 pág. 34). Segundo MUSTACCHI (1997 pág.38), geralmente, a identificação da Síndrome é feita logo após o nascimento, pela combinação de várias das características físicas seguir: ? Ausência do Reflexo de Moro; 23 ? Palato estreito e alto; ? Orelhas pequenas e de implantação baixa; ? Estatura baixa; ? Dedos curtos e mãos largas; ? Única prega transversal na palma da mão ao invés de duas; ? Dedos dos pés geralmente curtos e na maioria das crianças há um espaço entre o dedão e o segundo dedo; ? Muitas têm pé chato; ? A cabeça geralmente é menor e a parte posterior levemente achatada. A moleira pode ser maior e demorar mais a fechar; ? Pode existir pele em excesso no pescoço e tende a desaparecer com a idade. Na biologia celular as células são desenvolvidas, a partir da união do óvulo do espermatozóide (chamado de zigoto), que passa por um processo de divisão celular que a denomina mitose. Cada zigoto contém cromossomos, que contém genes, os quais, por sua vez, constituem o material genético (cor da pele, olho, estatura, sexo...) transmitido de geração para geração. No ser humano normal 24 confirmado que na maior parte das pessoas portadoras da Síndrome de Down, todos os cromossomos estão separados uns dos outros, razão por se encontrar 47 numa mesma célula. Em alguns casos, menos que 5%, um dos cromossomos 21 está ligado a outro. Ocorre uma fratura do cromossomo 21 extra e este se adere a outro, onde a célula continua apresentando 46 cromossomos. Esses casos são chamados de Translocação. De acordo com o que já foi citado, pode ocorrer durante a formação inicial das células reprodutoras que deram origem à criança, ou, a translocação pode já estar presente em todas as células de um dos pais. Se um deles tiver a Translocação, terá 45 cromossomos em suas células (um dos cromossomos 21 está ligado a outro). No caso dos pais, isso não implica em anormalidade, o equilíbrio genético mantém-se conservado. Quando algumas células possuem Trissomia e outras não, ou seja, quando acontece uma distribuição irregular do cromossomo 21 na segunda ou na terceira divisão celular, algumas células da criança serão normais e outras trissômicas. Isso se denomina Trissomia 21/Mosaico normal, ou Mosaicismo. Estas crianças apresentam características parciais da Síndrome de Down. Sendo assim, a Síndrome de Down pode ser caracterizada como uma 25 mulheres têm 1.000 nativivos. O risco aumenta acentuadamente e atinge a incidência de 1 em 30 aos 45 anos de idade. O risco de recorrência de Síndrome de Down em filhos subseqüentes nascidos da mesma mãe é de 1%, independentemente da idade materna, a menos que a Síndrome esteja associada à translocação do cromossomo 21. O mecanismo pelo qual o aumento da idade materna está associado a um risco maior de ter um filho com trissomia do 21 é pouco compreendido. Até recentemente, as hipóteses alternativas implicavam u um efeito causado pelo envelhecimento dos ovócitos ou uma habilidade prejudicada pela idade do ambiente uterino em rejeitar um concepto trissômico. Hoje está claro dos estudos moleculares que o efeito da idade materna está relacionado a eventos de não-disjunção, o que significa que o defeito está no processo de meiose dentro do ovócito, e não no útero. A Síndrome de Down associada à translocação ou mosaicismo não está relacionada à idade materna. A Síndrome de Down causada pela translocação de uma parte extra do cromossomo 21 ocorre em duas situações. Um dos genitores pode ser um portador fenotipicamente normal de uma translocação balanceada, ou a translocação pode ter surgido de novo durante a gametogênese. Estas translocações são tipicamente 26 diagnóstico é então confirmado pela análise citogenética. Porém, quando durante a gravidez há suspeita de alguma anomalia fetal, pode-se ter o diagnóstico precocemente. MUSTACCHI (1997, pág.47) apresenta algumas formas disponíveis para detectar a Síndrome de Down. Alguns exames, no entanto, só são recomendados em casos que há probabilidade de que a criança venha a apresentar tal síndrome. Dentre as formas disponíveis destaca-se: a) Cariótipo: exame que realmente comprova a existência ou não de um cromossomo extra. “Os cromossomos são fotografados ao microscópio, depois recortados e os pares colocados lado a lado, por ordem de tamanho, do maior para o menor” (Projeto Down, 1987). b) Amniocentese: utiliza-se uma agulha fina, que atravessa o abdômen, auxiliada pelo ultra-som, e retira-se uma amostra do líquido que vai formar a bolsa de água, para análise. Esta água contém células que descamam do corpo do feto. Este exame pode ser feito a partir da 14ª a 16ª semana de gravidez e seu resultado demora de 2 a 4 semanas. c) Amostra do Vilo Corial: com o auxílio do ultra-som, é introduzido um 27 amniocentese são de que há possibilidade de realização mais cedo e os estudos cromossômicos permitem resultados mais rápidos. d) Ultra-sonografia: este exame permite levantar a suspeita da Síndrome, observando-se alguns pontos como: membros curtos (principalmente o fêmur), pescoço curto e largo, dedos largos, prega simiesca, espaço aumentado entre o hálux e demais artelhos, cardiopatia e atresia duodenal. 2.1 Patologia e Manifestações Clínicas Está comprovado que a Síndrome de Down acontece somente no início da gestação, quando o bebê está ainda iniciando a sua formação. Nada consta em bibliografias que, quedas, sustos, problemas emocionais, até mesmo por algum medicamento, interferem ou causam a Síndrome. À medida que a criança se desenvolve, aparece uma constelação de anomalias: • Condição mental: As crianças com Síndrome de Down invariavelmente sofrem de grave retardo mental, com um declínio inexorável e progressivo do QI com 28 • Características crânio faciais: A face e o occipício tendem a ser achatados, com ponte nasal baixa, distância interpupilar reduzida, e fendas palpebrais oblíquas. As pregas epicânticas nos olhos dão um aspecto oriental, uma característica que contribui para o termo obsoleto mongolismo. O aspecto de íris pontilhada é chamado de manchas de Brushfield. As orelhas são aumentadas e malformadas. Uma língua proeminente, com típica ausência de fissura central, fica protrusa pela boca aberta. • Coração: Um terço das crianças que nascem com Síndrome de Down sofre de doença cardíaca congênita, e a incidência é ainda maior nos fetos abortados. As anomalias tomam a forma de canal atrioventricular, defeitos de septo ventricular e atrial, tetralogia de Fallot e persistência de ductus arteriosus. A maioria dos defeitos cardíacos parecem ser variações de um problema comum na formação da via de influxo venoso do coração. • Esqueleto: Estas crianças tendem a ser pequenas, devido ao encurtamento dos ossos das costelas, pelve e extremidades. As mãos são largas e curtas e apresentam uma “linha simiesca”, isto é, um único sulco transverso na palma. A falange média do quinto dedo é hipoplásica, uma anomalia que leva a uma curvatura para dentro deste dedo. 29 • Sistema imune: Embora o sistema imune na Síndrome de Down tenha sido objeto de numerosos estudos, não surgiu nenhum padrão claro de defeitos específicos. Entretanto, as crianças acometidas são incomumente suscetíveis a infecções respiratórias e outras. Antes da era dos antibióticos, a maioria destas crianças morria na lactância de doenças infecciosas. • Distúrbios hematológicos: As pessoas com Síndrome de Down correm um risco particularmente alto de desenvolver leucemia em todas as idades. O risco de leucemia nas crianças com Síndrome de Down com menos de 15 anos é cerca de 15 vezes maior que o normal. Nas crianças com menos de 3 anos, predomina a leucemia não-linfocítica aguda. Após esta idade, quando ocorrem a maioria das leucemias na Síndrome de Down, as maiorias dos casos são de leucemias linfoblásticas agudas. A base para a alta incidência de leucemia é desconhecida, mas as reações leucemóides (neutrofilia pronunciada transitória) são freqüentes no neonato com Síndrome de Down. Curiosamente, na Síndrome de Down com mosaicismo, os leucócitos proliferantes são invariavelmente trissômicos para o cromossomo 21. • Distúrbios neurológicos: A pesquisa de alterações neuropatológicas específicas no cérebro associada à Síndrome de Down tem se demonstrado 30 morfológicas características da doença de Alzheimer progridem em todos os pacientes com Síndrome de Down e são universalmente demonstráveis aos 35 anos. Estas mudanças no cérebro incluem (1) degeneração granulovacuolar, (2) emaranhados neurofibrilares, (3) placas senis e (4) perda de neurônios. As placas senis e os vasos sangüíneos cerebrais tanto da doença de Alzheimer quanto da Síndrome de Down sempre contêm um composto amilóide da mesma proteína fibrilar (proteína ? -amilóide). A similaridade entre as características neuropatológicas da Síndrome de Down com e as da doença de Alzheimer também se reflete no surgimento da demência em um quarto a metade dos pacientes com Síndrome de Down com mais idade e na perda progressiva de muitas funções intelectuais que não podem ser atribuídas apenas ao retardo mental. • Expectativa de vida: Durante a primeira década de vida, o principal determinante da sobrevida na Síndrome de Down é a presença ou ausência de doença cardíaca congênita. Nos que têm um coração normal, apenas 5% sucumbem antes dos 10 anos, enquanto cerca de 25% dos com doença cardíaca morrem nesta época. Após os 10 anos, a expectativa estimada de vida (a idade de morte) é de 55 anos, um tempo de vida de cerca de 20 anos a menos do que a população geral. Aos 70 anos, apenas 10% ainda estão vivos. 31 2.2 Aspectos da Síndrome de Down O termo desenvolvimento segundo VAYER e RONCIN (1988), (...) tem um significado geral de crescimento, de progresso, de desabrochamento. Aplicado à evolução da criança, significa que quando a observamos no tempo constatamos um crescimento das estruturas somáticas, um aumento das possibilidades pessoais de agir sobre o ambiente e, por conseguinte, progressos nas capacidades de compreender e se fazer compreender (...)(p.15). Quando nasce uma criança com Síndrome de Down, os médicos são peremptórios em dizer que não se podem prever os seus progressos. Tudo depende... é muito comum a existência de comentários e discussões acerca da proveniência e do desenvolvimento das capacidades dos indivíduos. É inato?...É adquirido?... Quando a criança nasce com uma deficiência muito facilmente, as “responsabilidades” recaem no que é genético, ou por vezes em explicações ambientais que produzem tais efeitos negativos. Para GOLEBSKI, OLIVEIRA & TRALLI, (1990, apud, Coelho, pág.17): A Síndrome de Down é essencialmente um atraso do 32 manifesto ao nível da comunicação. A criança com Síndrome de Down não dispõe de um mecanismo de estruturas mentais para a adequada assimilação do mundo perceptivo daí, que qualquer aprendizagem perceptiva deve realizar-se através do maior número de vias sensitivas. O portador da Síndrome de Down é uma pessoa diferente no que diz respeito a cuidados e atenção. Ele tem uma personalidade que influi em seu comportamento, bem como necessidades de amor, sexo, respeito e contato social. São pessoas muito afetivas e com nível intelectual “abaixo da média” tendo como repercussão disto um aprendizado lento. A inteligência ou cognição afeta a linguagem, a socialização, a adaptação ao meio, e a capacidade funcional. Também afeta a capacidade de simbolizar, o que os leva a melhor compreender as comunicações que usam uma linguagem concreta e não abstrata. Outro sim, pode-se considerar que alguns aspectos que devem ser cuidadosamente analisado como os aspectos: ? Neurológico ? Respiratórios ? Cardíacos 33 A partir da análise desses aspectos, faz necessário lembrar que os problemas médicos e a necessidade de um acompanhamento especial para estas pessoas não devem ser empecilhos para que elas tenham uma vida normal e participem ativamente da vida escolar e social. É importante ter claro que quanto antes e melhor for atendida a criança com Síndrome de Down maiores chances ela terá de um bom desenvolvimento e integração social. Um dos pontos fundamentais para o adequado desenvolvimento da criança com Síndrome de Down, é a forma de tratamento que a mesma recebe. A expressão “os filhos são o que os pais permitem que eles sejam” é bastante significativa neste contexto, segundo FIORINI (1995 pág.102 ). A criança deve receber o mesmo tratamento, com as mesmas oportunidades e as mesmas cobranças que qualquer outra criança. Síndrome não interfere na compreensão de normas e regras. 34 CAPÍTULO III - A PSICOMOTRICIDADE E A SÍNDROME DE DOWN As oportunidades para o movimento e a exploração do ambiente, oferecidas à criança, favorecem a aprendizagem e o desenvolvimento motores. Estudos feitos em diferentes culturas mostraram que, em alguns lugares, os pais cuidam de seus filhos como se eles fossem muito frágeis e os protegem de grandes estimulações. Em outros, desde os primeiros meses de vida, estratégias são usadas para que a criança seja estimulada a sentar, rastejar ou andar. O resultado da variedade de práticas oferecidas foi que as crianças que receberam oportunidades para experimentação de seus movimentos, sentaram, rastejaram e andaram mais cedo que as crianças cujas oportunidades não fora oferecidas. Desta forma, acredita-se que crianças com síndrome de down necessitam de atividades que proporcionem estímulo global de seu desenvolvimento, com a finalidade de amenizar, compensar ou superar os seus déficits. Em relação às crianças com deficiência motora, estudos afirmam que não são oferecidas atividades motoras com freqüência no dia a dia dessas crianças e, quando o são, estão revestidas de preconceitos que limitam a ação antes mesmo da experimentação. A carência de experiências motoras poderá prejudicar a construção 35 Estudos sobre o movimento de pessoas portadoras de deficiências motoras têm reunido equipes multidisciplinares na tentativa de compreender o funcionamento do SN (Sistema Nervoso ) e os processos adaptativos criados por esses indivíduos para o movimento e interação com o ambiente, tendo como finalidade desenvolver procedimentos metodológicos que facilitem a aprendizagem e o controle motor na presença de distúrbios do movimento. Neste sentido, estudos realizados por profissionais em Educação Física sobre o desenvolvimento motor em indivíduos com comprometimentos neuromotores poderiam favorecer a inclusão dessas pessoas nas diversas atividades e modalidades esportivas. E oportunizar a participação dos profissionais em Educação Física junto às equipes multidisciplinares em diversos setores da área da saúde, ampliando, assim, seu campo de atuação profissional. Crianças com Síndrome de Down são carentes de oportunidades para a realização de atividade física, esporte e recreação, não somente no sentido da reabilitação ou da compensação dos déficits dessas crianças, mas também para promoção de lazer, de convívio social, de inclusão, de estimulação da autocompetência e melhora da auto-estima. 36 O desenvolvimento infantil somente ocorre quando estão presentes, na hora do nascimento, estruturas anatômicas e uma determinada organização fisiológica capaz de garantir o funcionamento biológico do organismo. Elas são o ponto de partida para que o recém-nascido prossiga vivendo. Essa organização fisiológica (sistema endócrino e sistema nervoso) se manifesta através da realização funcional e possibilita a evolução do ser humano. Do ponto de vista filogenético, determinadas formações nervosas aparecem quando determinadas funções se organizam. Ontogeneticamente, no desenvolvimento infantil, quando ocorrem mudanças morfológicas, aparecem funções específicas. Isso significa que a organização morfológica é responsável pela maturação do organismo. Na definição de GESELL (1958, apud, Cened pág. 54), “Crescimento é um processo de estruturação que produz mudanças fundamentais nas células nervosas, que por sua vez originam as correspondentes mudanças nas bases do comportamento”. 3.2 Fatores que Influenciam o Desenvolvimento Infantil 37 Todas as seqüências básicas do desenvolvimento físico que provocam mudanças (no peso e na altura, nas proporções do corpo, da estrutura óssea, dos músculos, do sistema nervoso e hormonal) atuam conjuntamente para que ocorra um processo denominado desenvolvimento motor. O desenvolvimento motor é a parte visível do desenvolvimento físico. É impossível separar a gênese da motricidade da maturação nervosa: a evolução da motricidade é paralela às possibilidades maturativas, isto é, o desenvolvimento do controle motor depende basicamente do desenvolvimento neurológico. Em continuação à atividade fetal, o desenvolvimento motor da criança, especialmente durante os primeiros anos, acompanha duas tendências básicas da organização neuro-motor: realiza-se da cabeça para parte inferior do corpo – tendência céfalo-caudal – e do tronco para as extremidades-tendência próximodistal. Que nos permitem perceber a evolução significativa do controle do córtex cerebral, que assegura a coordenação de vários grupos musculares. A evolução da motricidade está em diminuir o tônus nos membros e aumentar a do eixo corporal. No recém-nascido, a movimentação é praticamente uma descarga de energia muscular, de reações clônica e tônicas, esperneios, paradas bruscas, gestos não coordenados, automotivos, aspectos estes decorrentes da intensa hipertonia 38 do meio externo, quando então seu movimento passa a adquirir significado e representatividade. Além da hereditariedade – existe uma herança genética quanto às características físicas e biológicas de desenvolvimento – o ambiente também interfere no desenvolvimento infantil, do ponto de vista físico e, principalmente, quanto á organização interna. Deve, no entanto, tratar-se de uma intervenção cujo objetivo é o de possibilitar condições para que a criança realize sua comunicação com o mundo de forma segura, a partir da receptividade e da afetividade do adulto. A criança deve ter disponibilidade para agir num meio ambiente material e relacional favoráveis. A impossibilidade de ação corporal, provocada pela ocorrência de uma doença prolongada ou de qualquer outra anomalia, interfere negativamente no desenvolvimento e crescimento infantil. Segundo E. PIKLER (citado em VAYER, 1985), a liberdade assegurada à criança é condição básica para que esta adquira a consciência de si mesma e do ambiente. A presença do adulto deve satisfazer a necessidade infantil de verbalização, de esclarecimento frente à curiosidade, de encorajamento, de aceitação de regras sociais, mas não deve intervir na atividade física da criança. 39 e ficar de pé. No caso das crianças portadoras da Síndrome de Down, essa fase acontece tardia e muita das vezes, só com auxílio de um adulto para estimular. 3.3 Motricidade e Movimento Motor é tudo que impulsiona, faz mover, põe em movimento. A motricidade (do latim motus) deve ser entendida, do ponto de vista fisiológico, como a propriedade que certos neurônios possuem de determinar a contração muscular quando excitados, os quais seriam responsáveis pela ação motora. Psico (do grego psyrhé=alma) e um centro nervoso, região do córtex cerebral, que entra em ação quando recebe a influência de uma excitação cerebral psíquica. A interação entre as diversas ações motoras e psíquicas, damos o nome de psicomotricidade. Em crianças que apresentam distúrbios, cujos sintomas se assemelham ao do adulto lesionado, por possuírem um cérebro ainda em desenvolvimento e em condições diferentes das do adulto, por não se poder falar em perda ou alteração, fala-se em dispraxia ou apraxia de evolução. No quadro neurológico das crianças portadoras da Síndrome de Down 40 paciência e carinho. A persistência da família é fundamental nesse sentido, pois dela depende o bom desenvolvimento da criança. Embora haja esse atraso, nada impede que a criança aprenda suas tarefas diárias e participe da vida social integrando-se à sua comunidade. É fundamental que já nos primeiro meses de vida, a família procure um serviço de estimulação especializado, para receber orientações, quanto às atividades que devem ser desenvolvidas. VAYER (1989) enfoca que, a criança que nasceu com Síndrome de Down vai controlar a cabeça, rolar, sentar, arrastar, engatinhar, andar e correr, exceto se houver algum comprometimento além da síndrome. Acontece frequentemente de a criança ter alta da fisioterapia por ocasião dos primeiros passos. Na verdade, quando ela começa a andar, há necessidade ainda de um trabalho específico para o equilíbrio, a postura e a coordenação de movimentos. É essencial que nesta fase, na qual há maior independência motora, a criança tenha espaço para correr e brincar e possa exercitar sua motricidade global. A brincadeira deve estar presente em qualquer proposta de trabalho infantil, pois é a partir dela que a criança explora e internaliza conceitos, sempre aliados inicialmente à movimentação do corpo. 41 Conforme NICOLAU (1989, pág. 93), o trabalho psicomotor deve enfatizar os seguintes aspectos: ? o equilíbrio ? a coordenação de movimentos ? a estruturação do esquema corporal ? a orientação espacial ? o ritmo ? a sensibilidade ? os hábitos posturais ? os exercícios respiratórios ? o tônus muscular Todos estes aspectos devem ser trabalhados dentro de atividades que sejam essencialmente interessantes para a criança. A utilização da brincadeira e dos jogos com regras é fundamental para que a criança tenha uma participação proveitosa e prazerosa no trabalho de estimulação, tendo consequentemente um melhor desempenho. 42 participando depois de jogos em grupo com orientação adequada. Tal proposta deverá estruturar-se na ludicidade, componente indispensável à existência humana que situado na esfera do simbólico e vinculado os fenômenos da curiosidade e da intencionalidade do homem, se manifesta por intermédio do brincar como processo criativo da estruturação do comportamento humano. 3.4 Benefícios das Atividades Aquáticas A natação para os portadores da Síndrome de Down é compreendida como a capacidade da criança para dominar o elemento água, deslocando-se de forma independente e segura sob e sobre a água utilizando, para isto, toda sua capacidade funcional, residual e respeitando suas limitações. A água apresenta propriedades que facilitam ao indivíduo a sua locomoção sem grande esforço, pois a sua propriedade de sustentação e eliminação quase que total da força da gravidade, podem aliviar o stress exercido sobre as articulações que sustentam o peso do corpo – auxiliando o equilíbrio estático e dinâmico e propiciando desta forma maior facilidade de execução dos movimentos 43 peculiares da água como alta viscosidade, espessura, eliminação da gravidade contribuem para a realização de exercícios de educação e/ou reeducação motora (Psicomotricidade), proporcionando-lhes maior segurança na execução dos movimentos. • Benefícios psicossociais: A natação não é uma atividade solitária e extremamente individualista. As atividades aquáticas ou o aprender a nadar também são um processo de aprendizagem de socialização – daí a necessidade da criança com Síndrome de Down a subir degrau a degrau, inicialmente, relacionando-se indivíduo-objeto para depois pessoa-pessoa e, por último, o indivíduo interagindo com o grupo. • Benefícios cognitivos: Os aspectos motivadores e as propriedades terapêuticas da água estimulam o desenvolvimento da aprendizagem cognitiva e o poder de concentração, pois o aluno busca compreender o movimento do seu próprio corpo explorando as várias formas de se movimentar, adaptando as suas limitações às propriedades da água. Nós professores realizamos atividades motoras na água onde utilizamos conteúdos de aprendizagem escolar – reforçando desta forma o aspecto cognitivo das crianças, por exemplo: contar, mergulhar objetos de formas e cores diferentes, entre outras. 44 A Psicomotricidade pode ser a chave da porta de entrada para vida social da criança portadora de Síndrome de Down. Pois, o movimento é o instrumento mais produtivo e mais refinado para a socialização do homem. É um elemento facilitador do processo da inclusão social. O grupo de crianças portadoras de necessidades especiais que se pretende estudar são aquelas com Síndrome de Down. Os portadores de Síndrome de Down exigem cuidados específicos no que se refere à hipotonia, frouxidão ligamentar, instabilidade de articulações, principalmente na articulação atlanto-axial. Nesse sentido a psicomotricidade, através da reeducação psicomotora, busca uma organização funcional da conduta e da ação, atingindo a criança de uma maneira integral. Poucos foram os estudos encontrados que investigaram os benefícios da atividade física para os portadores da Síndrome de Down. E nenhum em específico sobre atividades aquáticas/solo e o desenvolvimento das capacidades psicomotoras. Algumas das pesquisas são mais voltadas para investigação da influência de diversas terapias. Assim, o presente estudo objetivou investigar a influência de um programa de atividades aquáticas e de solo no comportamento psicomotor de 45 CONCLUSÃO O desenvolvimento da criança é um processo complexo e dinâmico cuja avaliação deve ser feita através de observações seriadas (diagnóstico evolutivo). Portanto o resultado de uma observação é orientador, mas pode não ser conclusivo. A ausência de aquisições que deveriam estar presentes em uma criança, em determinada idade, deve chamar a atenção. Devem-se considerar as observações mais freqüentes e determinar se existem causas desfavoráveis ao Desenvolvimento. As aprimoramento atividades de Psicomotoras posições e não movimentos contribuem corporais, apenas mas para auxiliam o no funcionamento geral do organismo e dos seus vários sistemas. O sistema respiratório torna-se mais resistente a possíveis moléstias e tem sua capacidade aumentada, também aceleram a circulação, aumentando a freqüência dos batimentos cardíacos, sem exageros. A criança vivi um momento de liberdade, onde consegue movimentar-se livremente e assim, experimenta as suas potencialidades e vivencia as suas limitações. Inicia o seu prazer de aprender brincando, cresce a sua auto-estima, aumenta a sua autoconfiança e consequentemente sua independência. Recomenda-se a Psicomotricidade para as crianças portadoras da Síndrome de 46 criança com Síndrome de Down condições para a aquisição de conhecimentos, habilidades e interações, favorecendo assim todos os aspectos do seu desenvolvimento motor e cognitivo. Os resultados desta pesquisa permitem concluir que atividades psicomotoras aquáticas/solo são indicadas para a estimulação de crianças com Síndrome de Down. Ambos os participantes avaliados tiveram melhoras consideráveis nos aspectos psicomotores avaliados (coordenação e equilíbrio, lateralidade, esquema corporal, orientação espacial e orientação temporal). Os participantes se tornaram mais hábeis nas atividades em meio líquido, onde a facilitação do movimento favoreceu a percepção do corpo e de suas capacidades e potencialidades como extrínsecas, ou seja, do indivíduo com seu corpo e desse corpo com o meio. Automaticamente ouve melhora nas atividades propostas no solo. Um organismo saudável, resultante de exercícios adequados, é fator importante para o funcionamento do sistema nervoso e, portanto, para o desenvolvimento motor e cognitivo. 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CENED, Centro de Educação a Distância. A Psicomotricidade Aplicada na Educação Especial, Educação Infantil e Ensino Fundamental. Apostila, Brasília, DF, 2005. COELHO, Áurea Alexandra Canas. A Viagem do Senhor Down pelo Mundo da Hipoterapia: Estudo experimental com crianças com Síndrome de Down. ANDE, 2005. COSTE, Jean-Claude. A Psicomotricidade. Editora Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro 1992. DE MEUR, A & AUCOUTURIER, B. Bruno: Psicomotricidade e Terapia. Artes Médicas, Porto Alegre-RS, 1986. FIORINI, Tânia Maria. Projeto Integração. Instituto de Educação Especial Professor Manoel Boaventura Feijó. Florianópolis-SC, 1995. HURTADO, Johann G.G.M. Dicionário de Psicomotricidade PRODIL, Porto Alegre-RS, 1991. LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento Psicomotor – do nascimento até os 6 anos. Artes Médicas, Porto Alegre-RS, 1992. MONTEIRO, M.I.B. e cols. Síndrome de Down: orientação a pais. Fundação Síndrome de Down, Campinas, SP, 1990. 48 NICOLAU, Marieta Lúcia Machado. A educação Pré-Escolar. 5 ed. São Paulo. Ática. 1989. PIMENTEL, S. Avaliação de crianças com necessidades educativas especiais. Cadernos CEACF. 13 (14), 41-49. 1997 RUBIN, Emanuel MD. Patologia Bases Clinicopatológicas da Medicina, 4ª Edição, Editora Guanabara. 2006. VAYER, Pierre e ROCIN, Charles. Integração da criança deficiente na classe. São Paulo: Ed. Manole. 1989.