Organizadores
Érico Colen
Luana Drumond
Das tempestades:
a poesia alemã do
Sturm und Drang
Edição bilíngue
Belo Horizonte
FALE/UFMG
2010
Sumário
As palavras passam, a poesia fica . 5
Prometheus . 8
Johann Wolfgang Von Goethe
Diretor da Faculdade de Letras
Luiz Francisco Dias
Vice-Diretora
Sandra Bianchet
Prometeu . 9
Tradução de Paulo Quintela
Die Liebe . 12
Matthias Claudius
O amor . 13
Comissão editorial
Eliana Lourenço de Lima Reis
Elisa Amorim Vieira
Lucia Castello Branco
Maria Cândida Trindade Costa de Seabra
Maria Inês de Almeida
Sônia Queiroz
Capa e projeto gráfico
Glória Campos
Mangá – Ilustração e Design Gráfico
Revisão e normalização
Luana Drumond
Formatação
Luana Drumond
Revisão de provas
Érico Colen
Luana Drumond
Endereço para correspondência
FALE/UFMG – Setor de Publicações
Av. Antônio Carlos, 6627 – sala 2015 A
31270-901 – Belo Horizonte/MG
Telefax: (31) 3409-6007
e-mail: [email protected]
Tradução de Geir Campos
Der Saemann säer den Samen . 14
Matthias Claudius
O semeador . 15
Tradução de Olívia de Krahenbuhl
Selige Sehnsucht . 16
Johann Wolfgang von Goethe
Anelo . 17
Tradução de Manuel Bandeira
Lenore . 18
Gottfried August Bürger
Leonor . 19
Tradução de Bernardo Taveira Junior
Erlkönigs Tochter . 36
Johann Gottfried Herder
A filha do rei dos elfos . 37
Tradução de Pedro de Almeida Moura
Seufzer eines Ungeliebten . 40
Gottfried August Bürger
Suspiros de alguém que não é amado . 41
Tradução de Maria de Nazaré Fonseca
Gegenliebe . 42
Gottfried August Bürger
Amor correspondido . 43
Tradução de Maria de Nazaré Fonseca
Wanderers Sturmlied . 44
Johann Wolfgang von Goethe
As palavras passam, a poesia fica
Luana Drumond
Poesia é a língua materna do gênero humano.
Hamann
Cançao do viandante sob a tempestade . 45
Tradução de Paulo Quintela
Die Schlacht . 52
Johann Friedrich von Schiller
Sobre os autores . 55
Sobre os tradutores . 58
Referências . 61
A interpretação de um signo linguístico pode se dar por outro signo
de sua mesma língua, por um signo não verbal, ou por um signo
correspondente em outra língua, e, dentre essas formas de traduzir,
é especialmente da última que há séculos a literatura se utiliza.
Émile Benveniste, linguista francês, postulou que o valor de
um signo está nas diferenças com relação aos outros signos de sua
língua: ele vale por aquilo que representa e os outros não. Difícil
seria encontrar na língua de tradução um signo que contivesse exatamente o valor daquele traduzido, ainda mais se consideramos que
línguas diferentes possuem conceitos diferentes para cada signo.
Como, então, verter um texto de uma língua para outra?
Há inúmeros teóricos da tradução, inúmeras correntes, inúmeras formas de traduzir e, sobretudo, diversos tipos de textos a
serem traduzidos. Há os que dizem que a tradução mantém seu
vínculo mais forte com a linguagem e deve ser, portanto, fidedigna
às palavras do original. Entretanto, em se falando de literatura, a
tradução, mesmo que possa ser definida como a transposição de um
texto de uma língua para outra, é muito mais complexa, pois mais do
que palavras soltas, envolve leitura, interpretação. E se a poesia é o
lugar do sobre-sentido do texto, ainda mais imbricada é a tradução
poética, pois aquilo a que chamam poeticidade não se pode perder.
Para Jorge Luís Borges, poeta-leitor-tradutor, traduzir textos
literários significa traduzir culturas, tarefa da qual o trabalho “letra
por letra”, demasiado preso ao nível linguístico, não daria conta. Não
que a tradução, então, não possa ser feita, nem que se possa perder
de vista o caráter formal do texto. Há que se buscar apenas outro
nível de transposição, um que consiga contemplar forma e sentido
– ou que se aproxime disso, se o equilíbrio for mesmo impossível.
Ao tradutor de literatura, de certo modo e até certo ponto,
permite-se interpretar o texto de partida e, a partir de sua leitura,
construir um novo texto. Importa, para Walter Benjamin, que a tradução, pura forma, contenha o essencial do texto, que veicule aquilo
que o original contém de mais profundo e intenso, desdobrando-o.
Seja feita em qualquer vertente, a tradução representa, de
certa forma, o reconhecimento da alteridade, da existência e da
importância do outro, que merece ser traduzido e lido em línguas
que não a sua.
Poesie
A literatura alemã compreende toda uma literatura feita em alemão,
não só na Alemanha, e teve sua fundação, nesta língua, em uma
tradução: a da Bíblia, por Martin Lutero1.
Nos idos de 1700, após um humanismo e um barroco na arte,
o racionalismo, Aufklaerung, assumiu a cena e ditou uma produção
literária baseada na razão e na consciência, em resposta à qual apareceu o Sturm und Drang, o movimento pré-romântico alemão, da
mocidade de Goethe e Schiller e da produção sentimental de tantos
poetas.
Sentimental, talvez seja esta a palavra. O Sturm und Drang
pretendia contrapor o sentimento e a poesia à racionalidade, pretendia burlar tantas formalidades e construir uma literatura com originalidade, “genial”. Sturm: tempestade, drang: ímpeto.
1
O mais que se produziu à época do pré-romantismo alemão foi
teatro dramático – é de uma peça de Friedrich Maximilian Klinger,
inclusive, que proveio o nome do movimento. A influência era de
Shakespeare, da poesia escocesa, do romance epistolar inglês, que
possibilitou Os sofrimentos do jovem Werther.
Na poesia, razão deste florilégio, a produção não foi tão grande e
a ela se tem pouco acesso. O Sturm und Drang ficou fora do cânone
literário alemão, primeiro porque os estudos em alemão sobre literatura
alemã são, em geral, ideológicos, partidários, depois porque o movimento se preocupou pouco, por assim dizer, com os ideais de beleza
(forma, estética, etc.) que são valorizados pela instituição canônica.
Difícil achar traduzidas para o português poesias alemãs –
e aqui não falamos apenas da poesia do Sturm und Drang. Em
Portugal há um trabalho de tradução e publicação, que ainda não é
grande, mas no Brasil bem pouco se faz ou se encontra nesse sentido; há algumas antologias, alguns livros traduzidos em sua completude, mas ainda é pouco.
Matthias Claudius, Bürger, Herder, Goethe, Schiller, tantos
outros. Dos que escreveram em outras linhas e épocas, é a poesia
dos outros momentos que mais se encontra (lírica de Goethe, baladas de Schiller); dos que ficaram apenas no pré-romantismo, pouco
se ouve falar.
Propomos, então, esta leitura. É apenas um mergulho raso na
poesia impetuosa dos moços, mas que vale pela iniciação.
Antes da cristianização, os alemães não tinham literatura escrita. Posteriormente, surgiu uma literatura cristã
em latim – língua bastante importante na fundação da cultura alemã, mas só com Lutero e a tradução da Bíblia
passou-se a produzir em língua nacional.
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Prometheus1
Prometeu
Johann Wolfgang Von Goethe
Bedecke deinen Himmel, Zeus,
Mit Wolkendunst
Und übe, dem Knaben gleich, Der Disteln köpft,
An Eichen dich und Bergeshöhn;
Mußt mir meine Erde
Doch lassen stehn
Und meine Hütte, die du nicht gebaut,
Und meinen Herd,
Um dessen Glut
Du mich beneidest.
Ich kenne nichts Ärmeres
Unter der Sonn als euch, Götter!
Ihr nähret kümmerlich
Von Opfersteuern
Und Gebetshauch
Eure Majestät
Und darbtet, wären
Nicht Kinder und Bettler
Hoffnungsvolle Toren.
Da ich ein Kind war,
Nicht wußte, wo aus noch ein,
Kehrt ich mein verirrtes Auge
Zur Sonne, als wenn drüber wär
Ein Ohr, zu hören meine Klage,
Ein Herz wie meins,
Sich des Bedrängten zu erbarmen.
1
Tradução de Paulo Quintela
Encobre o teu céu, ó Zeus,
Com vapores de nuvens,
E, qual menino que decepa
A flor dos cardos,
Exercita-te em robles e cristas de montes;
Mas a minha Terra
Hás de ma deixar,
E a minha cabana, que não construíste,
E o meu lar,
Cujo braseiro
Me invejas.
Nada mais pobre conheço
Sob o sol do que vós, ó Deuses!
Mesquinhamente nutris
De tributos de sacrifícios
E hálitos de preces
A vossa majestade;
E morreríeis de fome, se não fossem
Crianças e mendigos
Loucos cheios de esperança.
Quando era menino e não sabia
Pra onde havia de virar-me,
Voltava os olhos desgarrados
Para o sol, como se lá houvesse
Ouvido pra o meu queixume,
Coração como o meu
Que se compadecesse da minha angústia
Fragmento. III ato.
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Wer half mir
Wider der Titanen Übermut?
Wer rettete vom Tode mich,
Von Sklaverei?
Hast du nicht alles selbst vollendet,
Heilig glühend Herz?
Und glühtest jung und gut,
Betrogen, Rettungsdank
Dem Schlafenden da droben?
Quem me ajudou
Contra a insolência dos Titãs?
Quem me livrou da morte,
Da escravidão?
Pois não foste tu que tudo acabaste,
Meu coração em fogo sagrado?
E jovem e bom – enganado –
Ardias ao Deus que lá no céu dormia
Tuas graças de salvação?!
Ich dich ehren? Wofür?
Hast du die Schmerzen gelindert
Je des Beladenen?
Hast du die Tränen gestillet
Je des Geängsteten?
Hat nicht mich zum Manne geschmiedet
Die allmächtige Zeit
Und das ewige Schicksal,
Meine Herrn und deine?
Eu venerar-te? E por quê?
Suavizaste tu jamais as dores
Do oprimido?
Enxugaste jamais as lágrimas
Do angustiado?
Pois não me forjaram Homem
O Tempo todo-poderoso
E o Destino eterno,
Meus senhores e teus?
Wähntest du etwa,
Ich sollte das Leben hassen,
In Wüsten fliehen,
Weil nicht alle
Blütenträume reiften?
Pensavas tu talvez
Que eu havia de odiar a vida
E fugir para os desertos,
Lá porque nem todos
Os sonhos em flor frutificaram?
Hier sitz ich, forme Menschen
Nach meinem Bilde,
Ein Geschlecht, das mir gleich sei,
Zu leiden, zu weinen,
Zu genießen und zu freuen sich,
Und dein nicht zu achten,
Wie ich!
Pois aqui estou! Formo Homens
À minha imagem,
Uma estirpe que a mim se assemelhe:
Para sofrer, para chorar,
Para gozar e se alegrar,
E pra não te respeitar,
Como eu!
11
Die Liebe
O amor
Matthias Claudius
Die Liebe hemmet nichts;
Sie Kennt nicht Tür noch Riegel,
Und dringt durch alles sich;
Sie ist ohne Anbeginn.
Schlug ewig ihre Flügel
Und Schlägt sie ewiglich.
12
Tradução de Geir Campos
O Amor, nada o detém;
Não tem porta nem trinco,
Tudo ele vence e vaza.
Sem princípio, bateu
E eternamente bates
Suas eternas asas.
13
Der Saemann säer den Samen
Matthias Claudius
14
O semeador
Tradução de Olívia de Krahenbuhl
Der Saemann säet den Samen,
Die Erd empfängt ihn, und über ein kleines
Keimet die Blume herauf.
Lança a semente o semeador.
Recebe-a a terra; e dentro em pouco
Germina, aponta a flor.
Du liebtest sie. Was auch dies Leben
Sonst für Gewwin hat, war klein dir geachtet,
Und sie entschlummerte dir.
Tu a amavas; por ela desprezaste
Os outros dons que a vida oferecia
e sozinho ficaste.
Was weinest du neben dem Grabe
Und hebst die Hände zur Wolke des Todes
Un der Verwesung empor?
Chorar próximo à tumba sossegada,
Para a nuvem da morte erguer os braços –
Que valem gestos ante o nada?
Wie Gras auf dem Felde sind Menschen
Dahin, wie Blätter! Nur wenige Tage
Gehn wir verkleidet einher.
Passa o homem qual erva emurchedia,
Qual folha de arvoredo; é muito breve
A mascarada desta vida.
Der Adler besuchet die Erde,
Doch säumt nicht, schüttelt vom Flügel den Staub und
Kehret zur Sonne zurück.
O pouso da águia pouco dura:
Logo, a poeira das asas sacudindo,
Remonta ao sol na altura...
15
Selige Sehnsucht
Anelo
Johann Wolfgang von Goethe
Tradução de Manuel Bandeira
Sagt es niemand, nur den Weisen,
Weil die Meng gleich verhöhnet,
Das Lebend’ge will ich preisen,
Das nach Flammentod sich sehnet.
Só aos sábios o reveles
Pois o vulgo zomba logo:
Quero louvar o vivente
Que aspira à morte no fogo.
In der Liebesnächte Kühlung,
Die dich zeugte, wo du zeugtest,
Überfällt dich fremde Fühlung,
Wenn die stille Kerze leuchtet.
Na noite – em que te geraram,
Em que geraste – sentiste,
Se calma a luz que alumiava,
Um desconforto bem triste.
Nicht mehr bleibst du umfangen
In der Finsternis Beschattung,
Und dich reisset neu Verlangen
Auf zu höherer Begattung.
Não sofres ficar nas trevas
Onde a sombra se condensa.
E te fascina o desejo
De comunhão mais intensa.
Keine Ferne macht dich schwierig,
Kommst geflogen und gebannt,
Und zuletzt, des Lichts begierig,
Bist du, Schmetterling, verbrannt.
Não te detêm as distâncias,
Ó mariposa! E nas tardes,
Ávida de luz e chama,
Voa para a luz em que ardes.
Und so lang du das nicht hast,
Dieses: Stirb und werde!
Bist du nur ein trüber Gast
Auf der dunklen Erde.
“Morre e transmuta-te”: enquanto
Não cumpres esse destino,
És sobre a terra sombria
Qual sombrio peregrino.
Como vem da cana o sumo
Que os paladares adoça,
Flua assim da minha pena,
Flua o amor o quanto possa.
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Lenore
Leonor
Gottfried August Bürger
18
Tradução de Bernardo Taveira Junior
Lenore fuhr ums Morgenrot
Empor aus schweren Träumen:
“Bist untreu, Wilhelm, oder tot?
Wie lange willst du säumen?” –
Er war mit König Friedrichs Macht
Gezogen in die Prager Schlacht
Und hatte nicht geschrieben,
Ob er gesund geblieben.
Ruins sonhos mal surge a aurora
A Leonor vêm despertar:
“És-me infiel, Guilherme? És morto?
Quando pensas tu voltar?”
Nas tropas de Frederico
Guilherme fôra também,
Mas, após bater-se em Praga,
Não sabe dêle ninguém.
Der König und die Kaiserin,
Des langen Haders müde,
Erweichten ihren harten Sinn
Und machten endlich Friede;
Und jedes Heer, mit Sing und Sang,
Mit Paukenschlag und Kling und Klang,
Geschmückt mit grünen Reisern,
Zog heim zu seinen Häusern.
Já cansados de contendas
E aplacando o ânimo ardente,
Os altivos soberanos
Tratam da paz, finalmente.
De parte a parte as coortes
Aos lares volvem cantando;
De verdes palmas se adornam;
Atabales vêm rufando.
Und überall, allüberall,
Auf Wegen und auf Stegen,
Zog alt und jung dem Jubelschall
Der Kommenden entgegen.
“Gottlob!” rief Kind und Gattin laut,
“Willkommen!” manche frohe Braut;
Ach! aber für Lenoren
War Gruss und Kuss verloren.
Por estradas, por atalhos
Vai o môço, vai o ancião,
Com exclamações de júbilo
Ao encontro delas vão.
Filhos, mães e noivas dizem:
“Graças! Viva! Adeus!...” Leonor,
Só ela, ai! não recebe
Saudações, festas de amor.
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20
Sie frug den Zug wohl auf und ab
Und frug nach allen Namen;
Doch keine war, der Kundschaft gab
Von allen, so da kamen.
Als nun das Heer vorüber war,
Zerraufte sie ihr Rabenhaar
Und warf sich hin zur Erde
Mit wütiger Gebärde
Ela aos que chegam pergunta
Por Guilherme, que não via;
Mas nenhum dos que voltavam,
Notícias dêle sabia.
Depois que todos passaram
Leonor ao chão se lança;
Delirando enraivecida
Espedaça a linda trança.
Die Mutter lief wohl hin zu ihr:
“Ach! dass sich Gott erbarme!
Du trautes Kind! was ist mir dir?”
Und schloss sie in die Arme. –
“O Mutter, Mutter! hin ist hin!
Nun fahre Welt und alles hin!
Bei Gott ist kein Erbarmen.
O weh, o weh mir Armen!” –
Corre a mãe alvoroçada:
“Valha-me Deus” - exclamou “Filha, que tens, o que é isso?”
E, nos braços, a estreitou.
“Mãe, ó mãe! Tudo perdido!
Adeus, mundo, e tudo enfim!
Deus de mim não tem piedade...
Ai, desgraçada de mim!”
“Hilf Gott! hilf! Sieh uns gnädig an!
Kind, bet ein Vaterunser!
Was Gott tut, das ist wohlgetan;
Gott, Gott erbarmt sich unser!” –
“O Mutter, Mutter! eitler Wahn!
Gott hat an mir nicht wohl getan!
Was half, was half mein Beten?
Nun ists nicht mehr vonnöten!” –
“Vem, Senhor, em nosso auxílio!
Filha, um padre-nosso reza!
O que Deus faz é bem feito,
Nunca aos aflitos despreza!”
“Mãe, ó mãe! Inútil crença!
Deus esquece a quem o implora!
Orações, rezas!... que valem,
Do que aproveitam agora?”
“Hilf Gott! hilf! Wer den Vater kennt,
Der weiss, er hilft den Kindern.
Das hochgelobte Sakrament
Wird deinen Jammer lindern.” –
“O Mutter, Mutter, was mich brennt,
Das lindert mir kein Sakrament!
Kein Sakrament mag Leben
Den Toten wiedergeben!” –
“Vem, Senhor, em nosso auxílio!...
Tem fé, Deus sabe atender;
Acolhe-te aos sacramentos,
Tua dor hás de vencer”.
“Mãe, sacramentos não podem
Esta aflição abrandar;
Não sei que haja sacramentos
Para vida aos mortos dar”.
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“Hör, Kind! Wie, wenn der falsche Mann
Im fernen Ungerlande
Sich seines Glaubens abgetan
Zum neuen Ehebande?
Lass fahren, Kind, sein Herz dahin!
Er hat es nimmermehr Gewinn!
Wann Seel und Leib sich trennen,
Wird ihn sein Meineid brennen!” -
“Escuta! Quem sabe se ele
Não traiu a fé jurada,
Se, perjuro, lá na Hungria
Não tem outra desposada?
Se tal portou-se, deixá-lo!
O castigo há de puni-lo;
No extremo arranco da vida
O remorso há de pungi-lo!”
“O Mutter! Mutter! hin ist hin!
Verloren ist verloren!
Der Tod, der Tod ist mein Gewinn!
O wär ich nie geboren!
Lisch aus, mein Licht! auf ewig aus!
Stirb hin! stirb hin in Nacht und Graus!
Bei Gott ist kein Erbarmen;
O weh, o weh mir Armen!” -
“Mãe, foi-se a minha esperança!
Ai! tudo, tudo perdi!
Só me resta agora a morte!...
Oh! por que, por que nasci!
Some-te, ó sol, para sempre
Num profundo horror sem fim!...
Deus não atende aos aflitos,
Ai, desgraçada de mim!”
“Hilf Gott! hilf! Geh nicht ins Gericht
Mit deinem armen Kinde!
Sie weiss nicht, was die Zunge spricht;
Behalt ihr nicht die Sünde!
Ach Kind, vergiß dein irdisch Leid
Und denk an Gott und Seligkeit,
So wird doch deiner Seelen
Der Bräutigam nicht fehlen!” –
“Graças, ó meu Deus! Não julgues
Tua filha em tal estado!
Do seu crime não te lembres,
Tem o juízo transtornado!...
Terrenas paixões esquece,
Pensa em Deus, no gozo eterno;
Só assim tua alma pode
Escapar do horrendo inferno”.
“O Mutter, was ist Seligkeit?
O Mutter, was ist Hölle?
Bei ihm, bei ihm ist Seligkeit,
Und ohne Wilhelm Hölle!
Lisch aus, mein Licht! auf ewig aus!
Stirb hin! stirb hin in Nacht und Graus!
Ohn ihn mag ich auf Erden,
Mag dort nicht selig werden!” –
“O que é, mãe, o gozo eterno?
E o inferno, que vem a ser?...
Ah! sòmente sem Guilherme
É que inferno pode haver!...
Some-te, ó sol, para sempre
Num profundo horror sem fim;
Eu sem ele, cá na terra,
Com a dor só vivo... sim!”
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So wütete Verzweifelung
Ihr in Gehirn und Adern.
Sie fuhr mit Gottes Vorsehung
Vermessen fort zu hadern,
Zerschlug den Busen und zerrang
Die Hand bis Sonnenuntergang,
Bis auf am Himmelsbogen
Die goldnen Sterne zogen.
E tal na mente e no sangue
Raivosa desesperava;
Contra o céu dizia injúrias
Und aussen, horch! ging’s trapp, trapp trapp,
Als wie von Rosses Hufen,
Und klirrend stieg ein Reiter ab
An des Geländers Stufen.
Und horch! und horch! den Pfortenring
Ganz lose, leise, klinglingling!
Dann kamen durch die Pforte
Vernehmlich diese Worte:
Mas silêncio, ouvi... Lá fora
Pisa um corcel... O tinir
Se ouve da espora e da espada
De um cavaleiro a subir...
Silêncio! Batem na argola
Bem de leve, devagar!...
Depois, através das portas,
Claro se ouve assim falar:
“Holla! Holla! Tu auf, mein Kind!
Schläfst, Liebchen, oder wachst du?
Wie bist noch gegen mich gesinnt?
Und weinest oder lachst du?” –
“Ach, Wilhelm! du? – So spät bei Nacht?...
Geweinet hab ich und gewacht;
Ach! grosses Leid erlitten!
Wo kommst du hergeritten?” –
“Olá, meu bem, abre a porta!...
Que fazes? Dormes ou velas?
Ris ou choras? Lembras-te ainda
De mim, ó bela das belas?” “Tu Guilherme?!... A tais desoras?...
Velado tenho e gemido;
O que não sofri! Mas dize,
Donde até aqui hás partido?” –
“Wir satteln nur um Mitternacht.
Weit ritt ich her von Böhmen.
Ich habe spät mich aufgemacht
Und will dich mit mir nehmen!” –
“Ach, Wilhelm! erst herein geschwind!
Den Hagedorn durchsaust der Wind
Herein, in meinen Armen,
Herzliebster, zu erwarmen!” -
“Montamos à meia noite,
Da Boêmia acabo de vir.
Saí tarde, mas comigo
Sem demora vais partir”.
“Vem cá primeiro! Na selva
Zune o vento com furor;
Quero-te agora em meus braços,
Vem-te aquecer, meu amor!”
Contra o Senhor blasfemava.
Desde o nascer d’alva aurora
Té sumir-se a luz do dia
Lacerava o brando seio,
Insana as mãos retorcia.
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“Lass sausen durch den Hagedorn,
Lass sausen, Kind, lass sausen!
Der Rappe scharrt; es klirrt der Sporn.
Ich darf allhier nicht hausen.
Komm, schürze, spring und schwinge dich
Auf meinen Rappen hinter mich!
Muss heut noch hundert Meilen
Mit dir ins Brautbett eilen.” –
“Que importa o vento na selva,
Deixá-lo soprar violento!
Raspa o corcel, tine a espora...
Perder não posso um momento.
Colhe as vestes; do murzelo
Salta à garupa, é um instante!
Nosso leito de noivado
Está cem milhas distante”.
“Ach! wolltest hundert Meilen noch
Mich heut ins Brautbett tragen?
Und horch! Es brummt die Glocke noch,
Die elf schon angeschlagen.” –
“Sieh hin, sieh her! der Mond scheint hell;
Wir und die Toten reiten schnell,
Ich bringe dich, zur Wette,
Noch heut ins Hochzeitsbette.” –
“Pois ao tálamo a cem milhas
Queres-me inda hoje levar?
Escuta! horas dá o relógio,
Onze acabam de soar”.
“Esplende a lua! Sabemos
Nós e os mortos bem correr...
Aposto que ainda hoje mesmo
Ao tálamo iremos ter!”
“Sag an! wo ist dein Kämmerlein?
Wo? wie das Hochzeitbettchen?”“Weit, weit von hier!... Still, kühl und klein! Sechs Bretter und zwei Brettchen!” “Hat’s Raum für mich?” – “Für dich und mich!
Komm, schürze, spring und schwinge dich!
Die Hochzeitsgäste hoffen!
Die Kammer steht uns offen.” –
“Mas, dize-me, onde é que moras?
Como é o leito de noivado?”
“Longe!... Quêdo, fresco, estreito;
De oito tábuas é formado”.
“Para mim?” “Para nós ambos!
Vem, não percas um momento!
Já lá estão os convidados;
Franco está nosso aposento”.
Schön Liebchen schürzte, sprang und schwang
Sich auf das Ross behende;
Wohl um den trauten Reiter schlang
Sie ihre Lilienhände;
Und hurre, hurre, hop, hopp, hopp!
Ging’s fort in sausendem Galopp,
Das Ross und Reiter schnoben
Und Kies und Funken stoben.
E a bela arregaça as vestes,
Salta no corcel veloz,
E com suas mãos de neve
Cinge o cavaleiro após.
Começa então a corrida!
A rédea solta lá vão!
Ginete e guerreiro ofegam!
Saltam pedras, faísca o chão!
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Zur rechten und zur linken Hand,
Vorbei vor ihren Blicken,
Wie flogen Anger, Heid und Land!
Wie donnerten die Brücken! –
“Graut Liebchen auch?... Der Mond scheint hell!
Hurra! Die Toten reiten schnell!
Graut Liebchen auch vor Toten?” –
“Ach nein! – doch lass die Toten!” –
Lá vão! À esquerda e à direita
Foge o prado, o campo, o monte!
Do murzelo sob as patas
Longe, atrás, retumba a ponte!
“Tens mêdo?... A lua é formosa!
Ligeiro correm os mortos...
tens medo deles, querida?”
“Não tenho! Mas deixa os mortos”.
Was klang dort für Gesang und Klang?
Was flatterten die Raben?...
Horch, Glockenklang! Horch, Totensang!
“Lasst uns den Leib begraben!”
Und näher zog ein Leichenzug,
Der Sarg und Totenbahre trug.
Das Lied war zu vergleichen
Dem Unkenruf in Teichen.
“Que sons, porém, ouço agora?
Que anda o corvo a farejar?
Geme o sino! Entoam psalmos!...
Um morto vão a enterrar!”
E lá vinha o saímento
Acompanhando o caixão;
Qual silvo de serpe aquática
Semelhava o cantochão.
“Nach Mitternacht begrabt den Leib
Mit Klang und Sang und Klage!
Jetzt führ ich heim mein junges Weib.
Mit, mit zum Brautgelage!
Komm, Küster, hier! komm mit dem Chor
Und gurgle mir das Brautlied vor!
Komm, Pfaff, und sprich den Segen,
Eh wir zu Bett uns legen!” –
“Psalmeando à meia-noite
Despojo levais da morte,
Quando às bodas levo a noiva
Que vai ser minha consorte!...
Vinde, ó sacristão, ó coro,
O epitalâmio entoai-nos!
Antes de entrarmos no leito,
Vinde, ó padre - abençoai-nos!”
Still, Klang und Sang… Die Bahre schwand…
Gehorsam seinem Rufen,
Kam’s hurre! hurre! nachgerannt
Hart hinter’s Rappen Hufen.
Und immer weiter, hopp, hopp, hopp!
Ging’s fort in sausendem Galopp,
Das Ross und Reiter schnoben
Und kies und Funken stoben
Cessa o canto... A tumba some-se...
E aquela turba em tropel
Obediente corre e vôa
Após o forte corcel.
E a corrida aumenta sempre!
A rédea solta lá vão!
Ginete e guerreiro ofegam!
Saltam pedras, faísca o chão!
29
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Wie flogen rechts, wie flogen links
Gebirge, Bäum und Hecken!
Wie flogen links und rechts und links
Die Dörfer, Städt’ und Flecken! –
“Graut Liebchen auch?... Der Mond scheint hell!
Hurra! Die Toten reiten schnell!
Graut Liebchen auch vor Toten?”
“Ach! Lass sie ruhn, die Toten!” –
Como à esquerda e destra somem-se
Selvas, montes e valados!
Como à esquerda e destra somem-se
Cidades, vilas, povoados!
“Tens medo? A lua é formosa!
Ligeiros correm os mortos!
Tens medo deles, querida?”
“Ah!... Não te importem os mortos!”
Sieh da! sie da! Am Hochgericht
Tanzt um des Rades Spindel,
Halb sichtbarlich, bei Mondenlicht,
Ein luftiges Gesindel. –
“Sasa! Gesindel, hier! komm hier!
Gesindel komm und folge mir!
Tanz uns den Hochzeitreigen,
Wann wir zu Bette steigen!” –
“Olha! Em torno de uma forca
Não vês como ruidosa
Turba aérea à luz da lua
Gira e dança numerosa?
Aqui, birbantes! Chegai-vos!
Ó cambada, acompanhai-me!
Vinde à dança do noivado,
Junto ao leito meu dançai-me!”
Und das Gesindel, husch husch husch!
Kam hinten nachgeprasselt,
Wie Wirbelwind am Haselbusch
Durch dürre Blätter rasselt.
Und weiter, weiter, hopp hopp hopp!
Ging’s fort im sausenden Galopp,
Das Ross und Reiter schnoben
Und kies und Funken stoben
E toda a cambada o segue
Com um ruído infernal,
Qual vento em seca folhagem
Quando passa o vendaval!
E a corrida aumenta sempre!
A rédea solta lá vão!
Ginete e guerreiro ofegam!
Soltam pedras, faísca o chão!
Wie flog, was rund der Mond beschien,
Wie flog es in die Ferne!
Wie flogen oben überhin
Der Himmel und die Sterne! –
“Graut Liebchen auch?... Der Mond scheint hell!
“Hurra! die Toten reiten schnell!
Graut Liebchen auch vor Toten?” –
“O weh! lass ruhn die Toten!” –
Quanto em roda alcança a lua
Tudo foge, vai fugindo!
Céu, estrelas pelo espaço,
Tudo atrás se vai sumindo! “Tremes, amor? A lua é bela!
Ligeiros correm os mortos!
Tens mêdo dêles, querida?”
“Que horror!... Ai, esquece os mortos!”
31
“Rapp! Rapp! Mich dünkt, der Hahn schon ruft…
Bald wird der Sand verrinnen…
Rapp! Rapp! ich wittre Morgenluft…
Rapp! tummle dich von hinnen!... –
Vollbracht, vollbracht ist unser Lauf!
Das Hochzeitsbette tut sich auf;
Wir sind, wir sind zur Stelle. –
Rasch auf ein eisern Gittertor
Ging’s mit verhängtem Zügel.
Mit schwanker Gert ein Schlag davor
Zersprengte Schloss und Riegel.
Die Flügel flogen klirrend auf,
Und über Gräber ging der Lauf.
Es blinkten Leichensteine
Ringsum im Mondenscheine.
Ha sieh! Ha sieh! Im Augenblick,
Huhu! ein grässlich Wunder!
Des Reiters Koller, Stück für Stück,
Fiel ab wie mürber Zunder.
Zum Schädel ohne Zopf und Schopf,
Zum nackten Schädel ward sein Kopf;
Sein Körper zum Gerippe
Mit Stundenglas und Hippe.
32
“Avante!... Já canta o galo...
Não tarda a areia a correr!
Avante! O ar sinistro da aurora...
Corre! corre a bom correr! É finda a nossa carreira!
Aqui o leito nupcial!
Ligeiros correm os mortos!
Chegamos nós afinal!”
A um portão de férreas grades
A rédea solta chegaram
E ao toque de uma varinha
Ferrolho e chave soltaram.
Piando as aves fugiram
Sobre campas mortuárias.
Findava a corrida! Alvejam
Frias lousas funerárias.
Eis que logo ao cavaleiro...
Quadro horrível de se ver!
Peça por peça a couraça
Começa a se desfazer.
Sua cabeça escarnada
Em liso crânio tornou-se;
Feio esqueleto o seu corpo,
Segura ampulheta e foice.
33
34
Hoch bäumte sich, wild schnob der Rapp’
Und sprühte Feuerfunken;
Und hui! war’s unter ihr hinab
Verschwunden und versunken.
Geheul! Geheul aus hoher Luft,
Gewinsel kam aus tiefer Gruft.
Lenorens Herz mit Beben
Rang zwischen Tod und Leben.
Chispas lançando, o ginete
Ofegante se empinou;
A seus pés abriu-se a terra,
E logo o abismo o tragou!
Uivos perpassam nos ares.
Gemidos partem do chão;
De Leonor já semi-morta
Treme, bate o coração.
Nun tanzten wohl bei Mondenglanz
Rundum herum im Kreise
Die Geister einen Kettentanz
Und heulten diese Weise:
“Geduld! Geduld! Wenn’s Herz auch bricht!
Mit Gott im Himmel hadre nicht!
Des Leibes bist du ledig;
Gott sei der Seele gnädig!”
Ao luar ali andavam
Mil fantasmas a dançar,
Da dança nos longos giros
Tal se ouviam ulular:
“Paciência, se isto te aflige!
Não sei se vai de encontro aos céus.
À terra já não pertences,
Tua alma receba Deus!”
35
Erlkönigs Tochter
A filha do rei dos elfos
Johann Gottfried Herder
36
Tradução de Pedro de Almeida Moura
Herr Oluf reitet spät und weit,
Zu bieten auf seine Hochzeitleut;
A horas mortas, longe de casa
Segue a cavalo o senhor Oluf.
Da tanzen die Elfen auf grünem Land,
Erlkönigs Tochter reicht ihm die Hand.
Foi avisar os seus convidados:
Que o casamento será amanhã.
“Willkomen, Herr Oluf! Was eilst von hier?
Tritt her in den Reihen und tanz mit mit.”
Mas a caminho, numa campina, inesperado,
Bailando encontra um bando de elfos.
“Ich darf nicht tanzen, nicht tanzen ich mag,
Frühmorgen ist mein Hochzeittag.”
E logo a filha do rei dos elfos
A mão lhe estende e assim lhe diz:
“Hör an, Herr Oluf, tritt tanzen mit mir,
Zwei güldne Sporne schenk ich dir.
“Vós sois benvindo, senhor Oluf! Que tanta pressa
Daqui vos leva? Entrai na roda, dançai comigo...”
Ein hemd von Seide so weiss und fein,
Meine Mutter bleicht’s mit Mondenschein.”
“Dançar não posso, nem dançar quero:
Meu casamento será amanhã, de madrugada.”
“Ich darf nicht tanzen, nicht tanzen ich mag,
Frühmorgen ist mein Hochzeittag.”
“Não vem ao acaso, senhor Oluf, dançai comigo.
Eu vos darei um par de esporas feitas de ouro,
“Hör an, Herr Oluf, tritt tanzen mit mir,
Einen Haufen Goldes schenk ich dir.”
E uma camisa de seda branca, tão fina e pura,
Que minha mãe soube alvejar na luz da lua...”
“Einen Haufen Goldes nähm ich wohl;
Doch tanzen ich nicht darf noch soll.”
“Dançar não posso, nem dançar quero;
Meu casamento será amanhã, de madrugada.”
“Und willt, Herr Oluf, nicht tanzen mit mir
Soll Seuch und Kankheit folgen dir.”
“Que importa isso, senhor Oluf? Entrai na roda,
Dançai comigo. Eu vos darei um mundo de ouro...”
Sie tät einen Schlag ihm auf sein Herz,
Noch nimmer fühl er solchen Schmerz.
“Um mundo de ouro bem quero eu;
Porém dançar, aqui, não posso nem devo mesmo...”
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Sie hob ihn bleichend auf seine Pferd:
“Reit heim nun zu dein’m Fräulein wert.”
“Ai! Não quereis dançar comigo? Que vos persigam
Doenças e ais, doenças e ais é o que tereis...”
Und als er kam vor Hauses Tür,
Seine Mutter zitternd stand dafür.
Isto dizendo, a ninfa cruel no peito dele desfere um golpe
Tão forte e doído como jamais ele sentira em sua vida.
“Hör an, mein Sohn, sag an mir gleich,
Wie ist deine Farbe blass und bleich?”
E suspendendo-o desfigurado, sobre o corcel,
Lhe diz: “Pois volta, então depressa, para junto dela!”
“Und sollt sie nicht sein blass und bleich,
Ich traf in Erlenkönigs Reich.”
Chegando a casa vem-lhe ao encontro
A mãe aflita, que ao vê-lo assim, pergunta ansiosa:
“Hör an, mein Sohn, so lieb und traut,
Was sol lich nun sagen deiner Braut?”
“Que é isso, filho? Que estranha cor,
Que palidez te invade o rosto?”
“Sagt ihr, ich sei im Wald zur Stund,
Zu proben da mein Pferd und Hund.”
“Pálido estou, é certo, sim; porque do reino
Dos elfos volto, ai! ai de mim!”
Frühmorgen und als es Tag kaum war,
Da kam die Braut mit der Hochzeitschar.
“E agora, filho, querido filho,
Que direi eu, do acontecido, à tua noiva?”
Sie schenkten Met, sie schenkten Wien;
“Wo ist Herr Oluf, der Bräutigam mein?”
“Dirás que ainda estou na mata,
Em exercícios de montaria, com a matilha”
“Herr Oluf, er ritt in Wald zur Stund,
Er probt allda sein Pferd und Hund.”
E na manhã do dia seguinte, mal nasce o dia,
Chega o cortejo nupcial, todo alegria.
Die Braut hob auf den Scharlach rot,
Da lag Herr Oluf, und er war tot.
Bebem do vinho e erguem brindes, mas eis que a noiva
Logo pergunta: “Meu noivo Oluf, que é feito dele?”
“Ainda na mata, exercitando
A montaria, com a matilha...”
Ela porém, abre a cortina, o olhar absorto:
É o noivo, Oluf, que ali jaz morto.
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39
Seufzer eines Ungeliebten
Gottfried August Bürger
40
Suspiros de alguém que não é amado
Tradução de Maria de Nazaré Fonseca
Hast du nicht Liebe zugemessen
Dem Leben jeder Krestur?
Warum bin ich allein vergessen,
Auch meine Mutter, du! Natur?
Não atribuíste tu amor
À vida de cada criatura?
Por que só eu fui esquecido,
Não és tu, Natureza, minha mãe também?
Wo lebte wohl in Forst und Hürde
Und wo in Luft und Meer ein Tier,
Das nimmermehr geliebet würde?
Geliebt wird alles ausser mir!
Florestas e cercas, ares e mares
Abrigam um único ser
Que jamais conhecerá o amor?
Tudo, além de mim, é amado!
Wenngleich im Hain, auf Flur und Matten
Sich Baum und Staude, Moos und Kraut
Durch Liebe und Gegenliebe gatten,
Vermählt sich mir doch keine Braut.
Embora no arvoredo, no campo e nos prados,
Árvore e arbusto, musgo e erva,
Se unam através do amor e do amor correspondido
Nenhuma noiva se une a mim.
Mir wächst vom süssesten der Triebe
Nie Honigfrucht zur Lust heran,
Denn ach! mir mangelt Gegenliebe,
Die eine nur gewähren kann.
O mais doce dos impulsos nunca trará
Um fruto tão doce para apaziguar o meu desejo.
Porque ai! me falta o amor correspondido
Que uma só me possa conceder.
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Gegenliebe
Amor correspondido
Gottfried August Bürger
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Tradução de Maria de Nazaré Fonseca
Wüsst’ ich, wüsst’ ich, dass du mich
Lieb und wert ein bisschen hieltest
Und von dem, was ich für dich,
Nur ein Hundertteilchen fühltest;
Se eu soubesse, se eu soubesse que tu
Me amavas e valorizavas um pouco
E sentias um centésimo
Do que eu sinto por ti;
Dass dein Dank hübsch meinem Gruss
alben Wegs entgegenkäme
Und dein Mund den Wechselkuss
Gerne gäb’ und wieder nähme,
Que os teus agradecimentos
Vinham ao encontro das minhas saudações
E a tua boca alegre dava
E de novo recebia o beijo da transmutação,
Dann, o Himmel, ausser sich
Würde ganz mein Herz zerlodern!
Leib und Leben könnt’ ich dich
Nicht vergebens lassen fodern!
Então, o céu, todo o meu coração
Em chamas rebentaria!
Eu não poderia deixar-te em vão
Reclamar o meu corpo e a minha vida!
Gegengunst erhöhet Gunst,
Liebe nähret Gegenliebe
Und entflammt zur Feuersbrunst,
Was ein Aschenfünkchen bliebe.
O favor correspondido eleva o favor,
O amor alimenta o amor correspondido
E inflama até à conflagração
O que era apenas uma chispa nas cinzas.
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Wanderers Sturmlied
Johann Wolfgang von Goethe
44
Cançao do viandante sob a tempestade
Tradução de Paulo Quintela
Wen du nicht verlässest, Genius,
Nicht der Regen, nicht der Sturm
Haucht ihm Schauer übers Herz.
Wen du nicht verlässest, Genius,
Wird dem Regenwolke,
Wird dem Schloßensturm
Entgegen singen,
Wie die Lerche
Du dadroben.
Quem não abandonas, Génio,
Não há chuva nem tormenta
Que lhe abale o coração.
Quem não abandonas, Génio,
Vai cantando ao encontro
Das nuvens da chuva,
Da tormenta de saraiva,
Como a cotovia,
Ó tu lá em cima!
Den du nicht verlässest, Genius,
Wirst ihn heben übern Schlammpfad
Mit den Feuerflügeln.
Wandeln wird er
Wie mit Blumenfüßen
Über Deukalions Flutschlamm,
Python tötend, leicht, groß,
Pythius Apollo.
Quem não abandonas, Génio,
Erguê-lo-ás sobre a lama do caminho
Com as asas de fogo;
E ele passará
Como com pés floridos
Sobre a lama do dilúvio de Deucalião,
Matador do Píton, leve, grandioso,
Apolo Pítio.
Den du nicht verlässest, Genius,
Wirst die wollnen Flügel unterspreiten,
Wenn er auf dem Felsen schläft,
Wirst mit Hüterfittichen ihn decken
In des Haines Mitternacht.
Quem não abandonas, Génio,
Abres-lhe por baixo as asas de lã
Se adormecer sobre a rocha,
Cobrí-lo-ás com asas protectoras
Na meia-noite do bosque.
Wen du nicht verlässest, Genius,
Wirst im Schneegestöber
Wärmumhüllen.
Nach der Wärme ziehn sich Musen,
Nach der Wärme Charitinnen.
Quem não abandonas, Génio,
No meio da tormenta de neve em pó
O agasalharás;
Ao calor se acolhem as Musas,
Ao calor as Cárites.
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Umschwebt mich, ihr Musen,
ihr Charitinnen!
Das ist Wasser, das ist Erde
Und der Sohn des Wassers und der Erde,
Über den ich wandle
Göttergleich.
Envolvei-me em vosso vôo, ó Musas,
Ó Cárites!
Isto é água, isto é terra
E o lodo filho da água e da terra
Sobre que eu marcho
Como um deus.
Ihr seid rein, wie das Herz der Wasser,
Ihr seid rein wie das Mark der Erde,
Ihr umschwebt mich, und ich schwebe
Über Wasser, über Erde,
Göttergleich.
Vós sois puras, como o coração das águas,
Vós sois puras, como o tutano da terra,
Envolveis-me em vosso vôo, e eu pairo
Sobre a água, sobre a terra,
Como um deus.
Soll der zurückkehren,
Der kleine, schwarze, feurige Bauer!
Soll der zurückkehren, erwartend
Nur deine Gaben, Vater Bromius,
Und helleuchtend umwärmend Feuer,
Der kehren mutig,
Und ich, den ihr begleitet,
Musen und Charitinnen all,
Den alles erwartet, was ihr,
Musen und Charitinnen,
Umkränzende Seligkeit,
Rings ums Leben verherrlicht habt,
Soll mutlos kehren?
Há-de então voltar atrás
O pequeno, negro, fogoso camponês?
Há-de então voltar atrás, ele que espera só as tuas
dádivas, Pai Brómio,
E o fogo claro que o aqueça?
Ele, animoso, voltar?
Vater Bromius!
Du bist Genius,
Jahrhunderts Genius.
Bist, was innre Glut
Pindarn war,
Was der Welt
Phöbus Apoll ist.
46
E eu, que vós acompanhais,
Musas e Cárites todas,
Eu, a quem tudo espera o que vós,
Musas e Cárites,
Como grinaldas de bênçãos
Pusestes em volta da fronte da vida,
Hei-de eu, sem ânimo, voltar?
Pai Brómio!
Tu és Génio,
O Génio do século,
És o que a chama interior
Foi para o Píndaro,
O que pra o mundo
É Febo Apolo!
47
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Weh! Weh! Innre Wärme,
Seelenwärme,
Mittelpunkt,
Glüh entgegen
Phöb Apollen,
Kalt wird sonst
Sein Fürstenblick
Über dich vorübergleiten,
Neidgetroffen
Auf der Zeder Kraft verweilen,
Die zu grünen
Sein nicht harrt.
Ai! Ai! Calor interior,
Calor da alma,
Centro do ser!
Arde ao encontro
De Febo Apolo!
Senão friamente
Seu olhar de príncipe
Passará rápido por sobre ti,
Ferido de inveja
Irá pousar sobre o cedro robusto
Que pra reverdecer
Não espera por ele.
Warum nennt mein Lied dich zuletzt,
Dich, von dem es begann,
Dich, in dem es endet,
Dich, aus dem es quillt,
Jupiter Pluvius!
Dich, dich strömt mein Lied,
Und Castalischer Quell
Rinnt, ein Nebenbach,
Rinnet Müßigen,
Sterblich Glücklichen
Abseits von dir,
Der du mich fassend deckst,
Jupiter Pluvius!
Porque é que o meu hino te nomeia só no fim?
A ti, de quem começou,
A ti, em quem ele acaba,
A ti, donde ele brota,
Júpiter Plúvio!
Tu, tu és que és a torrente do meu hino,
E Fonte Castália
Faz correr só um regato humilde
Que corre pra os ociosos,
Para os felizes mortais
Longe de ti,
Tu que me cobres abraçando-me,
Júpiter Plúvio!
Nicht am Ulmenbaum
Hast du ihn besucht –
Mit dem Taubenpaar
In dem zärtlichen Arm,
Mit der freundlichen Ros umkränzt,
Tändlenden ihn, blumenglücklichen
Anakreon,
Sturmatmende Gottheit.
Não, não foi junto ao olmeiro
Que o visitaste,
Com o par de pombas
Nos braços ternos,
Coroado da rosa amigável,
O folgazão, feliz com suas flores
Anacreonte,
Ó Divindade que respiras tempestades!
49
50
Nicht im Pappelwald
An des Sybaris Strand,
An des Gebürgs
Sonnbeglänzter Stirn nicht
Faßtest du ihn,
Den bienensingenden,
Honiglallenden,
Freundlichwinkenden
Theokrit.
Não, não foi no bosque dos choupos
Junto às margens do Síbaris,
Nem na fonte da montanha
Banhada de sol, que tu
O surpreendeste,
O cantor das flores,
O de falas de mel,
O de acenos de amigos
Teócrito.
Wenn die Räder rasselten,
Rad an Rad, rasch ums Ziel weg,
Hoch flog
Siegdurchglühter
Jünglinge Peitschenknall,
Und sich Staub wälzt’
Wie vom Gebürg herab
Kieselwetter ins Tal,
Glühte deine Seel Gefahren, Pindar,
Mut. – Glühte. –
Armes Herz –
Dort auf dem Hügel,
Himmlische Macht!
Nur so viel Glut,
Dort meine Hütte,
Dorthin zu waten!
Quando as rodas estrondeavam
Roda contra roda para lá da meta,
Voava ao céu
O estalar dos chicotes dos jovens
Repassados do ardor do triunfo,
E o pó se revolvia
Como do alto dos montes
O granizo pra o vale,
É que a tua alma ardia perigosa, Píndaro,
Coragem. – Ardia?
Pobre coração!
Além da colina,
Ó poder celeste!
Só o ardor bastante
- Lá minha cabana –
Que me arraste até lá!
51
Die Schlacht2
freier schon athmet die Brust
Johann Friedrich von Schiller
Schwer und dumpfig,
eine Wetterwolke,
durch die grüne Ebne schwankt der Marsch
Zum wilden eisernen Würfelspiel
streckt sich unabsehlich das Gefilde.
Blicke kriechen niederwärts,
an die Rippen pocht das Männerherz,
vorüber an hohlen Todtengesichtern
niederjagt die Front der Major:
Halt!
und Regimenter fesselt das starre Kommando
Lautlos steht die Front.
Prächtig im glühenden Morgenroth
was blitzt dort her vom Gebirge?
Seht ihr des Feindes Fahnen wehn?
Wir sehn des Feindes Fahnen wehn,
Gott mit euch, Weib und Kinder!
Lustig! hört ihr den Gesang?
Trommelwirbel, Pfeifenklang
schmettert durch die Glieder;
Wie braust es fort im schönen, wilden Takt!
Und braust durch Mark und Bein.
Gott befohlen, Brüder!
In einer andern Welt wieder!
Schon fleucht es fort wie Wetterleucht,
dumpf brüllt der Donner schon dort,
die Wimper zuckt, hier kracht er laut,
die Losung braust von Heer zu Heer –
laß brausen in Gottes Namen fort,
2
Da produção de Friedric Schiller do período do Sturm und Drang, nada traduzido foi encontrado – há tradução
acessível de suas obras do período classicista. Como um autor tão expressivo não poderia deixar de estar presente nesta seleção, inserimos, portanto, este poema em sua versão original apenas.
52
Der Tod ist los - schon wogt der Kampf,
eisern im wolkichten Pulverdampf,
eisern fallen die Würfel.
Nah umarmen die Heere sich;
Fertig! heults von Ploton zu Ploton;
auf die Kniee geworfen
feuern die vorden, viele stehen nicht mehr auf,
Lücken reißt die streifende Kartätsche,
auf Vormanns Rumpfe springt der Hintermann,
Verwüstung rechts und links und um und um,
Bataillone niederwälzt der Tod.
Die Sonne löscht aus, heiß brennt die Schlacht,
schwarz brütet auf dem Heer die Nacht –
Gott befohlen, Brüder!
In einer andern Welt wieder!
Hoch spritzt an den Nacken das Blut,
Lebende wechseln mit Toten, der Fuß
strauchelt über den Leichnamen.
“Und auch du, Franz?”- “Grüße mein Lottchen, Freund!”
Wilder immer wüthet der Streit;
“Grüßen will ich” – Gott, Kameraden, seht!
Hinter uns wie die Kartätsche springt! –
“Grüßen will ich dein Lottchen, Freund!”
“Schlummre sanft! wo die Kugelsaat”
“Regnet, stürtz ich Verlassner hinein”.
Hieher, dorthin schwankt die Schlacht,
finstrer brütet auf dem Heer die Nacht –
Gott befohlen, Brüder!
In einer andern Welt wieder!
Horch! Was strampft im Galopp vorbei?
Die Adjutanten fliegen,
Dragoner rasseln in den Feind,
und seine Donner ruhen.
Victoria, Brüder!
53
Schrecken reißt die feigen Glieder,
und seine Fahne sinkt. –
Sobre os autores
Entschieden ist die scharfe Schlacht,
der Tag blickt siegend durch die Nacht!
Horch! Trommelwirbel, Pfeifenklang
stimmen schon Triumphgesang!
Lebt wohl, ihr gebliebenen Brüder!
In einer andern Welt wieder!
Gottfried August Bürger (Molmerswende, 1747 – Göttingen, 1794):
Tendo nascido em cidade pequena, mudou-se para Göttingen, onde
se formou em Direito. Casado com Dorette, apaixonou-se pela irmã
dela, Auguste, a quem se referiu em suas poesias como Molly. Em
1784 tornou-se docente da universidade onde estudou, que em 1787
lhe concedeu o título honorário de doutor. Suas obras mais famosas
são As aventuras do barão de Münchhausen e o livro de baladas
Lenore, do qual extraímos poemas para esta antologia.
Johann Christoph Friedrich von Schiller (Marbach am Neckar,
1759 – Weimar, 1805): Poeta, filósofo e historiador, Schiller foi um
dos grandes homens de letras da Alemanha do século XVIII. É tido
como o mais importante dramaturgo alemão e é representante do
Romantismo alemão e do Classicismo de Weimar. Sua amizade com
Goethe rendeu uma longa troca de cartas, que se tornou famosa
na literatura alemã. Um de seus poemas, “Ode à Alegria” (“An die
Freude”), inspirou Ludwig van Beethoven a escrever, em 1823, o
quarto movimento de sua nona sinfonia. O contato com Goethe em
Weimar, em 1894, lhe valeu a colocação em cena de suas peças. Fez
dos personagens portadores de ideias, especialmente do ideal da
liberdade; em alguns dramas exprime a rebeldia política e social,
em outros, a tragicidade da culpa, a ideia grega do destino, o espírito nacional, os preconceitos aristocráticos, o absolutismo dos reis.
Obra poética: Antologia (1782), Os Artistas (1788), Os Deuses
54
da Grécia (1788), Ode à Alegria (1785), O Ideal e a Vida (1795),
Xénias (com Goethe) (1797), A Luva (1797), O Canto do Sino
(1799), A Canção da Campana(1800).
Johann Gottfried von Herder (Mohrungen, 1744 – Weimar, 1803):
Poeta, crítico, teólogo, tradutor e filósofo germânico, é figura destacada do movimento literário Sturm und Drang. Estudou filosofia, teologia e literatura (1762-1764) na Universidade de Königsberg,
onde foi aluno de Johann Georg Hamann (1730-1788) e Immanuel
Kant (1724-1804). Quando esteve na França, conheceu Diderot,
Rousseau e d’Alembert. Em Estrasburgo (1770), aproximou-se do
poeta Johann Wolfgang Goethe (1749-1832), sobre quem exerceu
influência decisiva. Sua inovação ideológica consistiu em afirmar
uma concepção nacional para a arte, expressão do espírito popular, na qual se exaltavam o individualismo e os sentimentos como
fontes de inspiração vital. Herder foi também um notável tradutor.
Em sua antologia Vozes dos povos em canções estão traduzidas
e anotadas, ao lado de lieder alemãs, canções populares inglesas,
eslavas, escandinavas e espanholas. Nessa obra, o poeta revela-se
capaz de interpretar corretamente as diferentes vozes nacionais de
uma Europa até então apenas considerada em conjunto. Por fim,
foi o criador do nacionalismo literário; para ele, a poesia era a verdadeira alma do povo, uma obra anônima e coletiva desenvolvida
durante séculos. Deixou uma vasta produção literária e filosófica,
destacando-se Über die neuere deutsche Literatur: Fragmente
(1767), Abhandlung über den Ursprung der Sprache (1772) e
Ideen zu einer Philosophie der Geschichte der Menschheit
(1784-1791).
relações da humanidade com a natureza, a história e a sociedade;
seus dramas e suas novelas refletem um profundo conhecimento da
individualidade humana. Principais obras: Götz von Berlichingen
(1773), Prometheus (1774), Os Sofrimentos do Jovem Werther
(1774), Egmont (1775), Ifigênia em Taúrides (1779), Torquato
Tasso (1780), Reineke Raposo (1794), Xenien (em conjunto com
Friedrich Schiller) (1796), Fausto (1806), Hermann e Dorothea
(1798), Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister (1807),
Faust II (1833).
Matthias Claudius (Reinfeld-Lübeck, 1740 – Hamburgo, 1815):
Poeta luterano de lugar assegurado na literatura alemã. Filho de
um padre, estudou Teologia e Direito. De 1764 a 1765 foi secretário
do Barão de Holstein. Em 1777 tornou-se escritor independente em
Wandsbek, tendo sido amigo de Herder e Klopstock. Fez oposição
ao racionalismo iluminista. Obra poética: Abendlied or Der Mond
ist aufgegangen, Der Mensch, Christiane, Die Sternseherin
Lise, Die Liebe, Der Tod, Ein Wiegenlied bei Mondschein zu
singen, Täglich zu singen, Kriegslied, Der Frühling. Am ersten
Maimorgen, Der Säemann säet den Samen, Der Tod und das
Mädchen, Wir pflügen und wir streuen.
Johann Wolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, 1749 – Weimar,
1832): Foi um escritor alemão, pensador e também incursionou
pelo campo da ciência. Como escritor, foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu. Liderou,
juntamente com Friedrich Schiller, o movimento literário alemão
Sturm und Drang. Sua poesia expressa uma nova concepção das
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Sobre os tradutores
Bernardo Taveira Junior (Rio Grande, 1836 – Pelotas, 1892):
Professor, poeta, teatrólogo e jornalista. Cultor apaixonado da língua alemã, traduziu e divulgou no Rio Grande do Sul importantes
obras de Goethe e Schiller, seus autores preferidos. Poliglota, conhecia francês, alemão, espanhol, sueco, dinamarquês, latim, grego,
guarani e sânscrito. Traduziu do alemão alguns livros, entre os
quais Guilherme Tell, de Schiller, em versos; do francês, traduziu
a primeira parte de Memórias de Garibaldi, de Alexandre Dumas,
Expiação e Epopéia do Leão, de Vitor Hugo, e a A reconciliação,
de Tieck. É patrono da cadeira 5 da Academia Rio-Grandense de
Letras.
Geir Campos (São José do Calçado, 1924 – Niterói, 1999): Mestre
e doutor em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1940, começou a
escrever contos e poemas e a traduzir. Em 1950, seu primeiro livro
de poesias, Rosa dos Rumos, foi publicado. Depois vieram Da profissão do poeta, Canto claro & poemas anteriores, Operário
do canto, Cantigas de acordar mulher, Metanáutica e Canto
de Peixe, dentre outros. Sua bibliografia inclui também livros de
contos, peças teatrais, obras de referência, literatura infanto-juvenil, ensaios e teses. Incluído pela crítica na famosa “Geração 45”,
que renovou a poesia brasileira, ao final dos anos 50 já havia publicado nove livros de poesia, tendo recebido, em 1956, o Prêmio Olavo
Bilac da Prefeitura do Distrito Federal por Canto Claro & Poemas
anteriores. Exímio tradutor, verteu para o português obras de
Rilke, Kafka, Brecht, Shakespeare, Herman Hesse, Walt Whitman
e Sófocles. O ensaio “Carta aos livreiros do Brasil” obteve menção honrosa no concurso Prêmio Monteiro Lobato, promovido pela
Academia Brasileira de Letras. Publicou significativa obra ensaística
sobre tradução, que até hoje é fonte de referência para os interessados no assunto. São também de sua autoria o Pequeno Dicionário
de arte poética, obra que contém centenas de verbetes e remissões, com farta exemplificação e resenha bibliográfica, e O livro de
ouro da poesia alemã, antologia referencial de poesia traduzida do
alemão para o português.
Manuel Bandeira (Recife, 1886 – Rio de Janeiro, 1968): Poeta da
geração de 22 da literatura moderna brasileira, além de crítico literário e professor de literatura, foi também tradutor. Verteu para o
português, dentre outros, poemas de Goethe, Gabriela Mistral, Emily
Dickinson e Omar Khayyam, Shakespeare, Edgar Allan Poe, além de
biografias, romances e peças teatrais. Nessa área, contribuiu para
a incorporação ao português brasileiro de grandes obras poéticas
estrangeiras. Tradutor-poeta ou poeta-tradutor, na obra de Bandeira
não se sabe bem ao certo onde começa um exercício e termina o
outro. Traduções principais: Sor Juana Inés de la Cruz, Auto sacramental do divino Narciso (1958), William Shakespeare, Macbeth
(1961), Johann C. Friedrich von Schiller, Maria Stuart (1955), Goethe
e outros, Poemas traduzidos (1956), Karl Spitteler, Prometeu e
Epimeteu (1962), Omar Khayyam, Rubaiyat (1965), entre outras.
Paulo Quintela (Bragança, 1905 – Coimbra, 1987): Professor
de Filologia Germânica da Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra, foi encarregado dos cursos de Literatura Inglesa e
Literatura Alemã. Exerceu atividade como tradutor e divulgador de
importantes obras literárias em língua alemã. Paulo Quintela gostava de designar a ação notável que desenvolveu ao longo da vida
como mediadora entre culturas, particularmente entre as culturas
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alemã e portuguesa, e essa ação lhe valeu o reconhecimento não
só do Instituto Goethe de Munique, o qual lhe atribuiu em 1960 a
Medalha de Goethe em prata e, em 1973, a Medalha de Goethe em
ouro, mas também da Fundação F.V.S. de Hamburgo, que lhe concedeu em 1985 o Prêmio Europeu de Tradutores. Plenas de rigor e
ao mesmo tempo de criatividade poética, as traduções de Quintela
deram um impulso decisivo à divulgação em Portugal da literatura
e da cultura alemã, contribuindo muito para dinamizar e europeizar o meio literário da época. Menção especial é devida às versões
admiráveis que nos deixou de poemas de Goethe, Hölderlin e sobretudo de Rilke, as quais foram objeto de intensa recepção na lírica
portuguesa da segunda metade do século XX. Traduções: Rainer
Maria Rilke, Poemas (1942), A Balada do Amor e da Morte do
Alferes Cristóvão Rilke (1943), Os cadernos de Maute Laurids
Brigge (1955), Poemas II: dispersos inéditos de 1906 a 1926
(1967), As elegias de Duíno e Sonetos de Orfeu (1969); Gerhart
Hauptmann, A Ascensão de Joaninha, Sonho Dramático em
Dois Actos (1944); Friedrich Hölderlin, Poemas (1945); Johann
Wolfgang Goethe, Poemas (1949); Friedrich Nietzsche, Poemas
(1960); Bertolt Brecht, Poemas e Fragmentos (1962), Poemas e
Canções (1975); Nelly Sachs, Poemas (1967); Georg Trakl, Poemas
(1981).
Pedro de Almeida Moura: sabe-se pouco deste tradutor. Foi professor da Universidade de São Paulo e publicou traduções de poesias
alemãs e livros sobre a literatura germânica.
Referências
CAEIRO, Olívio. Oito séculos de poesia alemã. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1983.
CAMPOS, Geir. O livro de ouro da poesia alemã. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.
CARPEAUX, Otto Maria. A literatura alemã. 2. ed. São Paulo: Cultrix,1994.
GOETHE, Johann Wolfgang von. Poemas. Antologia, versão portuguesa, notas e
comentários de Paulo Quintela. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1949.
QUINTELA, Paulo. Obras completas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 19962001. v. 2.
Sites
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<http://tv1.rtp.pt/canais-radio/antena2/arquivo_cancoes/ANTENA
2
<http://tv 1 .rtp.pt/canais-radio/antena 2 /arquivo_cancoes/beethoven- 1 .html>,
acessado em outubro de 2009.
ANTENA
CENTRO VIRTUAL CAMÕES <http://cvc.instituto-camoes.pt/figuras/pquintela.html>,
acessado em setembro de 2009.
DITRA
-
DICIONÁRIO
DE
TRADUTORES
LITERÁRIOS
NO
BRASIL
dicionariodetradutores.ufsc.br/pt/RubensRodriguesTorresFilho.htm>,
novembro de 2009.
<http://www.
acessado em
EDITORA ALCANCE <http://www.editoraalcance.com.br/discursso.htm>, acessado em
outubro de 2009.
ESTÁCIO DE SÁ <http://www.estacio.br/rededeletras/numero9/schone/barao.asp>,
acessado em dezembro de 2009.
GARGANTA DA SERPENTE <http://www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/goethe.
php?poema=1>, acessado em setembro de 2009.
GOOGLE BOOKS <http://books.google.com.br/books?id=9MIZEhXWJngC&pg=PA117&l
pg=PA117&dq#>, acessado em setembro de 2009.
SÓ BIOGRAFIAS <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JohaGoHe.html>,
acessado em outubro de 2009.
INDEX:
Sobre as demais tradutoras, Maria de Nazaré Fonseca e Olívia
Krahenbuhl, nada foi encontrado.
JOAQUIM DE PAULA <http://www.meionorte.com/josefortes,vida-obra-e-morte-degoethe,104064.html>, acessado em novembro de 2009.
PROJETO RELEITURAS <http://www.releituras.com/geircampos_menu.asp>, acessado
em setembro de 2009.
RICARDO ORLANDINI <http://www.ricardoorlandini.net/Content/DetalheConteudo2.
asp?cntId=6245>, acessado em outubro de 2009.
60
Edições Viva Voz
de interesse para a área de tradução
A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin: quatro
traduções para o português
Walter Benjamin
Traduções de Fernando Camacho, Karlheinz Barck e outros,
Susana Kampff Lages e João Barrento
Poética do traduzir, não tradutologia
Henry Meschonnic
Traduções Márcio Werberde Faria, Levi F. Araújo e Eduardo
Domingues
Tradução, literatura e literalidade
Octavio Paz
Trad. Doralice Alves de Queiroz
Glossário de termos de edição e tradução
Sônia Queiroz (Org).
Da transcriação: poética e semiótica da operação
tradutora
Haroldo de Campos
Os Cadernos Viva Voz estão disponíveis também em versão
eletrônica no site: www.letras.ufmg.br/labed
Esta publicação é resul­
tado de trabalho elaborado por alunos da disciplina Estudos Temáticos
de Edição, no segundo
semestre de 2009.
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Das tempestades: a poesia alemã do Sturm und Drang Edição