INOVAÇÃO NO MANEJO DE BÚFALOS
Innovation in the management of buffalo
TONHATI, Humberto1 ; ASPILCUETA-BORQUIS, Rúsbel Raul1 ; DE CAMARGO,
Gregório Miguel Ferreira 1 ; HURTADO-LUGO, Naudin Alejandro1
1
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal
(UNESP), 14884900, SP, Brasil.
Endereço para correspondência: [email protected]
RESUMO
Palavras-chave: bubalino, leite, carne
INTRODUÇÃO
Os búfalos domésticos têm se constituído numa valiosa alternativa na agropecuária
em diferentes países do mundo, isso é devido a sua versatilidade para a produção de leite
(PL), carne e tração, mantendo-se a base de pastos naturais e resíduos de plantações. Além
disso, possuem alta rusticidade, tolerância e resistência a doenças contagiosas e parasitá rias.
Esse conjunto de vantagens tem permitido que sua manutenção seja muito econômica,
somado à fácil adaptação a terras inundáveis, costeiras, montanhosas, planícies e condições
edafológicas ruins.
1
Como conseqüência desses fatos, os búfalos apresentam uma grande aceitação para
a PL nos diferentes países da América do Sul, especialmente na Argentina, Brasil Colômbia
e Venezuela. Nesses países observa-se grande crescimento da população, onde estão sendo
adotadas práticas mais adequadas mediante o manejo sanitário e registro reprodutivo e
produtivo, criando importantes bases de dados.
O objetivo desse trabalho é apresentar os diferentes aspetos básicos que envolvem
inovação no manejo de búfalos no Brasil.
Aspectos gerais das populações bubalinas na Amé rica do Sul.
A população mundial de bubalinos (Bubalus bubalis) é estimada em 178
milhões de cabeças, sendo o continente asiático o de maior população com cerca de 171
milhões de cabeças. Na América do Sul, estima-se cerca de 1.300.000 cabeças (FAOSTAT,
2009), e os principais rebanhos estão no Brasil, Venezuela, Argentina e Colômbia.
No Brasil a introdução dos bubalinos ocorreu no final do século XIX. Uma das
primeiras importações de bubalinos aconteceu no ano de 1890, quando um barco com
imigrantes políticos da Guiana Francesa chegou à Ilha de Marajó trazendo um grupo de
búfalos tipo Carabao (Bubalus bubalis). Vários anos depois aproximadamente 50 búfalos
foram importados da Itália para a ilha de Marajó (NETO, 1985). No período de 1901 a
1909 foram realizadas importações de búfalos da região de Egito para a ilha de Marajó,
para a ilha de Trinidad e Tobago e região amazônica (tipo Carabao), para Java e o estado de
Alagoas (tipo Carabao) e da Índia a diferentes regiões do país (desconhecendo o tipo).
Entre o período de 1918 a 1921 chegaram ao estado de Minas Gerais três importações de
bubalinos procedente da Índia.
Devido à grande aceitação dos bubalinos nessas regiões no ano 1944 o governo cria
uma fazenda experimental, sendo o primeiro centro bubalino de pesquisa no continente
Americano (CABRERA, 1991). Estima-se que os primeiros relatos da chegada de
2
bubalinos das raças Murrah e Jafarabadi (Índia) no estado de São Paulo aconteceram perto
do ano de 1948. E no ano de 1961 foi criada a Associação Brasileira de Criadores de
Bubalinos (ABCB) com sede em São Paulo. Nos posteriores anos o apoio da ABCB foi
fundamental no desenvolvimento dos bubalinos no Brasil e trabalhando principalmente no
levantamento de dados zootécnicos, livros e registros genealógicos e gerenciamento de
importações e exportações, entre outras atividades.
Posteriormente, e entre os anos de 1962 e 1989 ocorreram várias importações de
animais das raças Murrah, Jafarabadi e Mediterrâneo procedentes de Ásia, Itália e América
Central e chegando às regiões do norte (Belém/Pará) e Sudeste (São Paulo e Minas Gerais)
do país. Atualmente possui uma população de aproximadamente 1.100.000 cabeças
(ANUALPEC, 2009). Estimando-se que a maioria dos rebanhos encontra-se distribuído,
principalmente, nas regiões Norte e Sudeste.
Manejo dos bubalinos na chegada ao Brasil
Com as primeiras importações dos bubalinos no século XX, também começou a
expansão do rebanho. O manejo da espécie foi considerado (do ponto de vista zootécnico)
igual aos bovinos. A inexperiência no manejo por parte dos criadores, os aspectos
etológicos próprios da espécie e a falta de conhecimentos acadêmicos sobre a mesma crio u
mitos e tabus, e que ainda hoje caracterizam o búfalo em varias regiões do mundo.
Algo que positivamente caracterizou os búfalos foi seu ótimo desempenho
zootécnico, alta rusticidade, tolerância e resistência a doenças contagiosas e parasitá rias.
Permitindo se adaptar a zonas topográficas de difícil acesso, terras inundáveis, costeiras,
montanhosas, planícies e condições edafológicas ruins. Esse conjunto de vantagens
permitiu que sua manutenção fosse muito econômica, pois não precisava de nada e
produzia de tudo. Foi considerando como um animal de ferro e quase indestrutível.
3
As primeiras experiências na cria de bubalinos levantaram inúmeros mitos, dentre
eles: que os animais não respeitavam cercas e que era um animal muito raivoso e perigoso.
Esse mito foi aumentando à medida que a experiência dos vizinhos que os criavam não era
tão boa, chegando a comentar que esses devoraram todo o seu pasto incluindo as suas
plantações.
Ainda não muito longe dos nossos dias ainda se tem certas dúvidas e receios no
manejo dessa espécie. Aquelas pessoas que começaram a considerar o búfalo como uma
alternativa de exploração pecuária tinham a certeza que o aspecto sanitário dos animais era
diferente e que se não precisava dos mesmos cuidados dos bovinos. Isso levou a uma
considerável taxa de mortalidade na fase juvenil.
No momento da ordenha o bezerro búfalo era afastado da mãe (tentado simular as
condições de raças especializadas) e como conseqüência etológica a mãe reagia de forma
perigosa e ruim tentando proteger o filho, além disso, pelo caráter hierárquico e grupal
outras búfalas ficavam alteradas dificultando a ordenha.
Estudos na área de bubalinos
No princípio da década de 60, pesquisadores de diversos países do mundo
intensificaram os estudos em bubalinos domésticos nas diferentes áreas do conhecimento
(RAMOS, 1994). Alguns desses estudos relacionaram-se especialmente aos ramos da
bioquímica, fisiologia, anatomia, reprodução, manejo e genética. Esses estudos serviram
como base para o desenvolvimento da ciência aplicada à espécie bubalina, embora, esses
conhecimentos, em muitas ocasiões, não tenham sido utilizados nas práticas de manejo e
nos programas de melhoramento genético para essa espécie.
4
Esse fenômeno pode ser explicado pelas condições próprias dos países em
desenvolvimento, onde se encontra presente a grande maioria destes animais (ALEXIEV,
1998). Já que a avaliação geral da interação dos bubalinos com homem, seja na importância
econômica ou social encontram-se refletidas nas inúmeras tradições culturais do povo
asiático, indiano, búlgaro, etc. Sob esses aspectos o búfalo foi considerado sinônimo de
distinção social e prosperidade chegando a ser respeitado até como um membro da família.
Razões pelas quais os bubalinos se adaptaram a diferentes manejos baseados nos diferentes
aspetos religiosos, éticos ou morais.
Por outro lado, as condições ambientais, a distribuição geográfica, manejo e
alimentação, próprias de cada país e região tiveram uma grande influência sobre a espécie
dificultando consideravelmente o levantamento de dados zootécnicos. Como consequência
observa-se nesses países grande variação na produção, manejo, reprodução e assim como
diferenças nos objetivos dos programas de seleção, entre outros aspectos.
Na maioria dos criatórios bubalinos do Brasil, adotam-se regime de criação
extensivo, caracterizado pela falta de controle zootécnico e em muitas ocasiões
desconhecendo-se os parâmetros genéticos produtivos e reprodutivos (TONHATI, 1997).
Em consequência, as diferenças na variação dos parâmetros zootécnicos podem ser
atribuídas ao nível de manejo e às condições ambientais, sociais e culturais entre os
rebanhos desses países.
Manejo do controle sanitário
Os búfalos estão sujeitos às mesmas enfermidades que os bovinos, entretanto, os
procedimentos devem ser os de rotina, como vacinações contra: febre aftosa, bruce lose,
carbúnculo sintomático, paratifo e raiva se tiver ocorrências na região (tabela 1).
5
Tabela 1. Plano sanitário em bezerros bufalinos
Bezerros
Vermífugo
Brucelose (fêmeas)
Carbúnculo
Modificador
Orgânico
Paratifo
Nascimento
X
30
dias
X
60
dias
X
90
dias
X
X
120
dias
X
180
dias
X
240
dias
270
dias
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Deve se estabelecer como rotina os exames de tuberculose e brucelose de acordo
com as normas em vigor. Nas criações onde a atividade principal é a produção de leite,
esses cuidados devem ser seguidos com rigor, sendo efetuado a cada 6 meses.
No caso de endo e ectoparasitos apresentam-se várias situações que devem ser
levadas a sério no manejo dos bubalinos. Por exemplo, a verminose é a causa principal de
mortalidade na fase jovem dos bubalinos, portanto, se de ve ter cuidado especial para esse
problema. A incidência de vermes é menor que nos bovinos e o tratamento tópico se mostra
eficaz.
Por outro lado, os piolhos, são parasitas específicos da espécie. A pediculose é uma
infecção causada por piolho (Haematopinus tuberculatus) e sendo considerado como o
mais importante e maléfico parasito do búfalo. Os sintomas que apresentam os indivíduos
são: estresse por picadas, intranquilidade, prejuízos no repouso, alimentação, perda de peso
e anemia. As infecções apresentam-se por contato direto o todo ciclo no hospedeiro. O
tratamento para ectoparasitos (piolhos ou carrapatos) deve ser realizado mediante banhos, e
além devem-se efetuar controles sistemáticos por meio de pulverizações (1 cada 21 dias de
3 a 5 vezes).
6
Nos casos da Neoascaridiose (Neoascaris vitulorum) os principais sintomas são:
debilidade, apatia, ventre flácido, diarreia fétida e escura, morte, perfurações e obstruções
intestinais (apresentando-se mortalidade do 30 a 50%). O tratamento e controle é a
vermifugação.
Manejo nutricional
A eficiência nutricional é fundamentada nos conhecimentos da fisiologia digestiva,
sistemas de alimentação e exigências nutricionais nas diversas etapas da vida do animal
(crescimento, gestação, etc.). Do ponto de vista da fisiologia e anatomia digestiva
apresentam–se semelhanças nos animais domésticos ruminantes, embora a funcionalidade
possa variar de espécie para espécie. Essas diferenças encontram-se associadas às
condições ambientais, alimentos e fisiologia peculiar dos lugares onde fossem criados.
O desempenho produtivo e eficiência reprodutiva dos bubalinos dependem
principalmente do aproveitamento de alimentos toscos e lignificados, obtidas a partir do
metabolismo protéico. Como consequência da ampla variação geográfica e sistemas de
alimentação a produção de nitrogênio no rúmen de búfalos dependerá da quantidade e
qualidade da proteína ingerida associadas à disponibilidade de energia da dieta a partir das
pastagens fornecidas ao animal (MAEDA et al., 2007). Por outro lado, alta degradabilidade
da fibra e matéria seca por parte dos microrganismos do rúmen dos bubalinos permite uma
melhor digestibilidade dos carboidratos não estruturais
Existem diferentes sistemas de avaliação de dietas com equações e tabelas de
exigências nutricionais para diversas espécies de ruminantes, porém há escassez de dados
para a espécie bubalina (FRANZOLIN E ALVES, 2011). Embora o sistema de sistema de
alimentação mais utilizado na Ásia e Índia é baseado em pastagens e uso de volumosos
grosseiros como palhadas de arroz, trigo e subprodutos agrícolas (KEARL, 1982).
7
As experiências por parte de criadores no estado de São Paulo, levaram a considerar
que o principal manejo alimentar fosse o pastejo (Brachiaria spp e Panicum sp) em período
de chuvas. No período seco as búfalas em lactação são suplementadas com 1 kg de
concentrado para cada 3 kg do leite produzido. O suplemento é principalmente constituído
por cana-de-açúcar, ureia e sulfato de amônio (proteína bruta 20% e cálcio 1,8% da dieta).
Também é fornecido semente de algodão (proteína bruta 23% e NDT 96%) e sal mineral
(cálcio 170 g/Kg e fósforo 95 g/Kg).
O manejo alimentar em novilhas e tourinhos é realizado principalmente em pastejo.
Além disso, é fornecido em menor quantidade cana-de-açúcar, ureia e sulfato de amônio. O
sal mineral (cálcio 140 g/Kg e fósforo 65 g/Kg) e o sal proteinado (proteína bruta de 30%)
são fornecidos à vontade. No manejo dos bezerros se recomenda alimentação com uso
pasto e concentrado (proteína bruta 16%), mombaça picado em cochos e sal mineral (cálcio
140 g/Kg e fósforo 65 g/Kg). Por outro lado, bezerros com menos de dois meses devem ser
alimentados apenas de leite e concentrado sem volumoso. Já que nessa idade, não
conseguem extrair dos volumosos os nutrientes que necessitam e diminuem a ingestão dos
concentrados, o que afeta diretamente o seu crescimento.
De forma geral, quando os bubalinos são alimentados em sistemas baseados em
pastagens artificiais e melhoradas, apresentam performances produtivos superiores
comparados aos bovinos. Também é necessário lembrar que os bubalinos são sensíveis a
modificações alimentares (principalmente minerais). Para aumentar produtividade em
bubalinos é necessário dar ênfase a pontos fundamentais da nutrição como, aumentar a
disponibilidade de forragem (especialmente em período seco), fornecer suplementação
mineral o ano todo e se apoiar nas suplementações estratégias (sal proteinado no período da
seca, concentrado, etc.).
8
Manejo reprodutivo
Um bom desempenho no manejo reprodutivo é básico nos sistemas de produção,
esse é um dos fatores mais importantes na lucratividade pecuária. As principais
características reprodutivas dos bubalinos é que são poliéstricos estacionais de dias curtos,
no Brasil a estação reprodutiva ocorre entre abril e setembro. A maioria dos partos é
concentrada entre junho e janeiro com gestação média de 310±10 dias. O ciclo estral
búfalas apresenta características típicas como: variação na duração e expressão dos
sintomas do estro, cios silenciosos, cio anoluvatório no meio do ciclo devido a crescimento
de onda folicular, pouca secreção de muco e baixa atividade homossexual ( VALE, 1988.
paulista).
Por outro lado, a búfala pode apresentar ou não atividade sazonal relacionada com a
estação de monta e de nascimento. Búfalas localizadas na região da Amazônia não
apresentaram a existência de sazonalidade reprodutiva marcada. Encontrando-se o fator
reprodutivo relacionado com a oferta e disponibilidade de alimento ( VALE, 1994).
No estado de São Paulo os criadores de bubalinos adotaram certos manejos com o
objetivo de facilitar a reprodução dos animais. Para entrar a vida reprodutiva às novilhas
entram ao serviço com uma idade próxima de 18 meses, com peso mínimo de 350 Kg, é de
notar que as novilhas não apresentam estacionalidade reprodutiva marcante. Para uma
maior eficiência reprodutiva se recomenda que a relação macho/fêmea no outono e inverno
seja de 1/40 e na primavera e verão 1/20.
Em relação à inseminação artificial em novilhas é necessário cuidar para que seja
realizada por pessoas ou técnicos experientes para evitar problemas relacionados à futura
vida reprodutiva, já que apresentam o sistema reprodutivo bem sensível. A puberdade, ciclo
estral e cio na búfala podem ser alterados por várias condições entre eles genéticos,
consangüinidade, erros de manejo, deficiências alimentares, doenças reprodutivas (cistos
9
foliculares, endometrites, etc.) conseqüentemente é indispensável realizar acompanhamento
cauteloso dos indivíduos que vão entrar na vida reprodutiva.
Em vacas adultas, no período reprodutivo de outono e inverno se utiliza de monta
natural, e sob ótimo manejo zootécnico a porcentagem de prenhez com monta natural
alcança até 90%. No período reprodutivo de primavera e verão geralmente é utilizada a
inseminação artificial chegando à porcentagem de prenhez dos 50% por bateria de
inseminação artificial em tempo fixo. Nessas fazendas é necessário que a condição corporal
para serviço seja de 3,50 e para o parto 4,0. Além disso, é muito importante que á búfala
não venha a parir dentro da água, evitando assim infecções do sistema reprodutivo.
Diferentes técnicas de reprodução assistidas foram empregadas em rebanhos
bubalinos com aceitáveis resultados, entre elas treinamento de animais jovens para colheita
de sêmen, características seminais para congelamento de sêmen, inseminação artificial,
inseminação artificial programada, transferência de embriões e produção de embriões in
vitro (VALE E OHASHI, 1994, BARUSELLI et al., 1994, OHASHI et al., 1997).
MANEJO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS
Os bubalinos são criados nos mais variados ambientes e condições topográficas,
estando presentes em todas as regiões brasileiras. Essa espécie apresenta grande preferência
pela água, áreas pantanosas, úmidas ou áreas sombreadas protegidas do sol. Essa
associação deve-se ao fato do limitado número de glândulas sudoríparas comparadas com o
bovino. Consequentemente, pela cor da sua pele (escura) o mecanismo de termorregulação
é muito mais sensível o que obriga na procura de zonas com água, lama ou so mbra. Essas
zonas úmidas além de favorecer melhor conforto, proporcionam proteção contra doenças
parasitarias como pediculose, etc.
10
Um dos mitos associados à dificuldade do manejo em bubalinos é devido á falta de
conhecimento sobre seu aspecto etológico. No início das experiências exploratórias com
bubalinos, os criadores aplicavam similar manejo que os bovinos. Como conseqüência o
búfalo ganhou fama de furador, danificando cercas, de difícil manejo e até mesmo perigoso
pela falta de alimentos ou de conforto (água). Um fator de alto impacto na produtividade e
reprodução dos bubalinos é a disponibilidade de água, o qual se traduz em uma maior e
melhor oferta de alimentos, melhor conforto e diminuindo o nível de estresse.
Em rebanhos bubalinos do estado de São Paulo, observaram-se grande influência
das condições ambientais na produção do leite aos 270 dias de lactação (Tabela 2).
11
Tabela 2. Resumo da análise de variância da produção do leite aos 270 dias de lactação no
Brasil
Fonte de variação
Rebanho
Ano de parição
Estação de parição
Rebanho*Ano de parição
Idade ao parto
Linear
Quadrática
Resíduo
Total corrigido
Coeficiente de variação=21,89
GL
Quadrado mé dio
12
18
1
72
30172864,30 **
6465044,90 **
2370358,90 **
2349808,60 **
1
1
4782
4887
75188939,10 **
45079969,50 **
173834,00
** P<0,001
R 2 =58,78 %
Denota-se que o efeito ano de parição, estação de parição, rebanho e ano de parição
e assim como a idade ao parto (P<0,001) foram altamente significativos na performance
dos animais. Apesar da influência de fatores ambientais como o ano e a estação sobre a
produção de leite ter sido relatada por diferentes pesquisas, não se pode observar um
consenso entre os trabalhos. Isso possivelmente ocorreu porque cada estudo considera
diferentes anos e estações, sendo variável também o número deste em cada trabalho. Além
das variáveis climáticas que afetam entre outros aspectos a disponibilidade dos alimentos, o
conforto térmico dos animais, há que se considerarem possíveis mudanças no manejo e
também na composição genética do rebanho, que podem sofrer alterações ao longo do
tempo e entre as regiões que são estudadas.
Outros fatores podem influenciar a produção de leite, entre eles; manejo dos
animais, nível de produção, ano, estado, país, região geográfica, raças ou grupos genéticos,
ordem de parto das vacas e tamanho dos rebanhos
12
MANEJO DA ORDENHA
A produção mundial de leite bubalino no ano 2002 foi de 70 milhões de toneladas,
no ano 2007 foi superior a 85, e no ano 2010 superou os 90 milhões (FAOSTAT, 2011;
I.D.F, 2003; I.D.F, 2011). Embora a expectativa de produção seja de crescimento e
acelerada, espera-se nos próximos anos uma forte expansão desse tipo de leite na cadeia
produtiva do leite mundial, sendo que a maioria dos países com rebanhos bubalinos
reportam baixas médias na PL (ANUALPEC, 2009; I.D.F, 2003).
No entanto nos países asiáticos e europeus as médias de produção variaram desde
796,03 kg até 2.544,58 kg (SHARMA E SINGH,1988; BADRAN et al., 2002; ROSATI
and VAN VLECK, 2002). No entanto, na América do Sul, especificamente nos rebanhos
do Brasil e da Colômbia as médias variaram entre 1535,47 kg até 1712,46 kg e 1025,10 kg
e 1064,59 kg, respectivamente (TONHATI et al., 2004; GUTIERREZ-VALENCIA et al.,
2006).
No caso do Brasil, esse aumento na produtividade, especialmente no estado de São
Paulo, tem permitido que em vários laticínios especializados o preço pago pelo litro de leite
de búfala possa alcançar até cerca de R$1,10, embora em outros países da América do Sul o
preço do leite de búfala é pago até 30% a mais que o leite de bovino. A bubalinocultura tem
se convertido numa boa opção econômica, quanto à produção e industrialização do leite
para a elaboração de produtos lácteos.
As experiências iniciais com o manejo e ordenha mecânica foram complicadas
devido ao desconhecimento do comportamento destes animais. Na atualidade os produtores
encontram e aplicam tecnologias de ponta, principalmente relacionadas ao controle da
produção e realização das ordenhas.
13
Uma das características da melhora na ordenha foi acostumar às búfalas a ordenha
mediante a administração de água para que elas se acalmem. Entre as vantagens com a
ordenha mecânica se encontraram significativas melhoras nas condições de trabalho dos
ordenhadores (em comparação com a ordenha manual), apresentou-se redução na demanda
por mão de obra (ate 30%), diminuição da oscilação da produção de leite que chegava a ser
de até 10% sem justificativa aceitável entre dias especialmente no final de semana, aumento
da qualidade e rentabilidade no leite (diminuindo acidez) e a redução de produção por conta
da alteração de manejo foi bem menor que o esperado (menor a 10%).
Por outro lado, vários fatores podem influenciar na aceitação das búfalas a ordenha
mecânica:

Docilidade: Há uma tendência das búfalas mais dóceis a aceitarem esse tipo de
ordenha.

Úbere cheio: as búfalas de úberes cheios se deixam ordenhar com mais
facilidade. Havendo resistência, se são primíparas, amarrar um pé ao mourão e
executar a ordenha. Sendo multíparas, esse procedimento nem sempre funciona,
e deverão retornar para o fim da fila, esperando que os úberes fiquem mais
cheios. Por tanto o úbere cheio é um dos principais fatores que fazem com que
uma búfala se deixe ordenhar sem bezerro ao pé.

Conformação de lotes: é importante separar as búfalas em dois lotes. Com
ordenha sem bezerro ao pé (sendo este lote o primeiro em ser ordenhado) e o
segundo com bezerro ao pé. As búfalas que resistirem, serão ordenhadas após o
segundo lote. Na conformação dos lotes é importante realizar o seguimento da
produção do leite mediante o programa de controle leiteiro (evitando es tressar
animais com baixa produção).
14

Perfil do ordenhador: esse é peça fundamental no manejo da ordenha,
principalmente na fase de adestramento de búfalas primíparas e o sucesso da
ordenha mecânica segundo experiências baseasse em um ordenhador calmo,
inteligente e persistente.
Aspectos positivos da inovação do mane jo nos rebanhos sobre o programa de controle
leiteiro bubalino
Conjuntamente, aos fatos comentados anteriormente e ao desenvolvimento de
trabalhos de seleção artificial, associados à melhoria das condições ambientais e de manejo
nos rebanhos, permitiram que os programas de melhoramento no Brasil fossem bastante
eficazes para conseguir progressos genéticos consideráveis, permitindo a exportação de
grande quantidade de material genético para outros países da América do Sul,
especialmente para a Colômbia, Venezuela e Argentina.
Observou-se que as melhorias dos diferentes aspectos mencionados trouxeram como
respostas aumento nas médias e desvios-padrão da produção de leite aos 270 dias de
lactação por ano de parto (figura 1) e corroborando a notável diminuição da influência dos
efeitos ambientais e a melhoria da constituição genética dos rebanhos. A média da
produção de leite aumento considerável de 739,38 kg (1987) para 2170,29 kg (2005), o que
equivaleu a um incremento de 193,53 % durante esse período (figura 1).
15
Figura 1. Médias e desvios-padrão ajustadas e número de observações para a
produção de leite aos 270 dias da lactação por ano de parto no Brasil.
Na atualidade, têm- se identificado um número considerável de descendentes de
reprodutores brasileiros em outros países permitindo estudos sobre o desempenho
zootécnico desses animais nas diferentes regiões da América do Sul.
Trabalhos conjuntos com outros países estão se iniciando com a formação de bases
de dados para a posterior avaliação dos animais geneticamente superiores sob as condições
ambientais e de manejo próprias dos os nossos sistemas de exploração. Não obstante é
necessário visualizar as melhorias das condições ambientais e de manejo para essa espécie,
em esforço conjunto de produtores e cientistas, permitindo obter, dessa forma,
intensificação dos processos zootécnicos dos rebanhos sob as necessidades próprias de cada
região no Brasil.
16
REFERÊNCIAS
ANUALPEC: Anuário da pecuária brasileira. São Paulo: FNP Consultoria e Comércio,
2009. 304 p
ALEXIEV, A. The water buffalo. Genetic improve ment. St. Kliment Ohridski. University
Press. Pag 122- 144, 1998.
BADRAN, A. E.; BARNARY, A.; MAHDY, A. E.; ASSAR, G. M. Genetic and nongenetic factors affecting the lifetime production traits in Egyptian buffaloes. BuffaloJournal. v.18, n.2, p.235-241, 2002.
BARUSELLI, P. S., BARNABÉ, V. H., BARNABÉ, R. C., VISINTIN, J. A., MORELO FILHO, J. R. Artificial insemination in buffalo. In: IV World Buffalo Congress,1994.
Procedings... São Paulo, 1994. p. 454.
CABRERA, A. III World Buffalo Congress, December, 1991. Procedings... Bulgaria,
1991. p. 354
FAOSTAT. Roma 2009. Acesso em: December de 2010. Disponível em URL:
http://faostat.fao.org/site/573/DesktopDefault.aspx?PageID=573 .
FAOSTAT. Roma 2011 Acesso em: March
2011. Disponível
http://faostat.fao.org/site/573/DesktopDefault.aspx?PageID=573 .
em
URL:
FRANZOLIN, R. ; ALVES, T. Aspectos da nutrição de bubalinos. II Simpósio da cadeia
produtiva da bubalinocultura. Procedings... Botucatu, 2011. p. 84.
I.D.F 2010. BULLETIN. International Dairy Federation. The world Dairy Situation 2010.
Buffalo milk. p. 8-9. 2010
I.D.F 2003. BULLETIN. International Dairy Federation. The world Dairy Situation 2003.
Buffalo milk production. p.5-6. 2003.
KEARL, L.C. Nutrient requirements of ruminants in developing countries. Logan:
Inte rnational Feedstuffs Institute, Uttah State University, 381 p, 1982.
17
MAEDA, E.M.; ZEOULA, L.M.; GERON, L.J. Digestibilidade e características ruminais
de dietas com diferentes níveis de concentrado para bubalinos e bovinos. Revista
Brasileira de Zootecnia, v.36, n.3, p.716-726, 2007.
NETO, A. Brazilian buffalo production. I World Buffalo Congress, December, 1985,
Procedings... Cairo, E.gypt. 1985. P. 210
RAMOS, A. 1994. Factors affecting productive characteritics of dairy buffaloes under
tropical conditions. In: IV world buffalo congress, June 27-30, 1994. Procedings... São
Paulo, Brasil. p. 270.
ROSATI, A.; VAN VLECK, L. Estimation of genetic parameters for milk, fat, protein and
mozzarella cheese production in the italian river buffalo population. Livestock Production
Science v.74 n. 2, p. 82-85. 2002.
SHARMA, R.; SINGH, B. Genetic studies on murrah buffaloes in livestock farms in Uttar
Pradesh. in: world buffalo congress. Proceedings.... New Delhi. p.259. 1988.
GUTIERREZ-VALENCIA, A.; CERÓN-MUÑOZ, M AND HURTADO-LUGO, N.
Estimates of correction factors for lactation length, age and calving season in buffaloes of
Colombian Atlantic coast. Livestock Research Rural Development,. v. 18, n. 4. 2006.
TONHATI, H.; MUÑOZ, F.; DUARTE, J.; REICHERT, R.; OLIVEIRA, A.; LIMA A.
Estimates of correction factors for lactation length and genetic parameters for milk yield in
buffaloes. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.56, n.2, p. 251257. 2004.
TONHATI, H. Melhoramento genético de bufalinos para carne e leite. O búfalo no Brasil.
Cruz das Almas: UFBA- Escola de Agronomia, p.101-113, 1997.
VALE, W. G. Bubalinos. Fisiologia e patologia da reprodução. Fundaçao Cargill,
Campinas, 86 p. 1988.
18
VALE, W. G. Reproductive management of water buffalo under Amazon conditions.
Buffalo Journal, v. 10, n.2, p.85-90,1994.
VALE, W. G.; OHASHI, O. M. Problems of reproduction in buffaloes. Buffalo Journal
Suppl. (2) 103-122, 1994.
OHASHI, O. M.; COSTA, S. H.; MACHADO, A. C.; DANTAS, J. K. Características
ovarianas de vacas zebuínas (Bos indicus) e bubalinas (Bubalus bubalis). Arquivo
Faculdade de Veterinaria. UFRGS, 25, suppl., p. 260, 1997.
19
Download

INOVAÇÃO NO MANEJO DE BÚFALOS