FACULDADE NOVOS HORIZONTES
Programa de Pós-graduação em Administração
Mestrado
O PROUNI E A PROMOÇÃO DO EMPODERAMENTO DE
MULHERES:
um estudo com egressas de uma Instituição de Ensino Superior
privada mineira
Valéria Rezende Freitas Barros
Belo Horizonte
2015
Valéria Rezende Freitas Barros
O PROUNI E A PROMOÇÃO DO EMPODERAMENTO DE
MULHERES:
um estudo com egressas de uma Instituição de Ensino Superior privada
mineira
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
em Administração da Faculdade Novos Horizontes
como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Administração.
a
Orientadora: Prof. Dr.
Oliveira Lopes Melo
a
Marlene Catarina de
Linha de pesquisa: Relações de Poder e Dinâmica
nas Organizações
Área de concentração: Organização e Estratégia
Belo Horizonte
2015
FOLHA DE APROVAÇÃO
Ao meu companheiro, Aluízio, à minha
irmã, Carolina, e aos meus pais, Ana
Lúcia e Hélio, pelo apoio incondicional e
pelas orações.
AGRADECIMENTOS
Em especial:
A Deus, pela vida, proteção, família, saúde, amigos e força e por me permitir concluir
e vivenciar mais uma etapa de minha vida.
À minha orientadora Prof.ª Dr.ª Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo, pela
oportunidade, pelas sábias sugestões e pela orientação em todas as etapas da
realização deste trabalho. Eternamente agradecida!
A Prof.ª Dr.ª Kely César Martins de Paiva, pela orientação enquanto bolsista de
Iniciação Científica e pelo aprendizado, oportunidade, paciência, carinho e apoio.
Eternamente agradecida!
A minha família, minha base. O que seria de mim sem o apoio, o incentivo e a
compreensão de vocês? Não há palavras que descrevam meu amor por vocês!
A minha irmã, Carolina, imensamente, por tudo!
Aos meus pais, Ana Lúcia e Hélio, infinitamente. Mesmo que distantes fisicamente,
fizeram-se presentes em cada angústia, dor, vitória e alegria.
Ao meu companheiro, Aluízio, pela companhia, amor, compreensão, paciência e
incentivo.
A minha tia, Eliana, pela acolhida amorosa, carinho, apoio e compreensão.
A minha avó Jovina, pelo amor, incentivo e carinho!
A todos os meus familiares, em especial, tia Cida e Severo, tio Magela e Imaculada
e meu primo Mateus, pelo carinho.
A minha querida amiga e companheira de trabalho Rosilaine, pelo companheirismo
nesta caminhada solitária, pela amizade, conforto e compreensão e por compartilhar
comigo as incertezas, os medos, as vitórias e as alegrias.
A professora Ana Lúcia Magri, pela ajuda, pelas palavras de conforto, pelo
aprendizado e pela paciência.
Aos meus amigos Andréia, Michelle, Leandro, Adriana, Renata e Leonardo, pelo
apoio.
A Faculdade Novos Horizontes, especialmente à Diretoria, aos professores e aos
funcionários.
A CAPES e a FAPEMIG, pelos apoios concedidos.
Aos meus amigos da FNH, pela ajuda, em especial, Rosiane, Christian, Natália,
Roque e Anna Gabriela.
As secretárias Wânia e Beatriz. Como agradecer por todo carinho, incentivo e
ajuda?
Ao secretário Flávio, pelo apoio, ajuda e palavras reconfortantes.
A todos os amigos do mestrado.
As mulheres entrevistadas, que contribuíram para a concretização deste sonho.
A todos aqueles que, diretamente ou indiretamente, contribuíram para a realização
desta dissertação.
Nós
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter.
Humberto Gessinger
RESUMO
Esta pesquisa analisa as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no
empoderamento de mulheres formadas nos cursos de Administração, Ciências
Contábeis e Direito entre 2009 a 2013 em uma Instituição de Ensino Superior
privada mineira, na percepção das graduadas pesquisadas, considerando o modelo
de Melo (2012). Caracteriza-se como qualitativa descritiva, nos moldes de um
estudo de caso. Na coleta de dados, pesquisaram-se 20 egressas, sendo 10
formadas em Administração, 6 em Ciências Contábeis e 4 em Direito, aplicando-se a
elas um roteiro de entrevista semiestruturado, sendo suas falas gravadas e
transcritas na íntegra, a fim de permitir a análise de conteúdo. Constatou-se que a
principal facilidade encontrada pelas mulheres para ingressarem no ensino superior
foi o Prouni e que os principais dificultadores foram: a escassez de recursos
financeiros para arcar com as despesas de um curso superior e o ensino médio
público deficitário que cursaram. Verificou-se que, antes de se qualificarem, as
mulheres pesquisadas ocupavam cargos mais baixos na hierarquia e de natureza
mais operacional. Após se graduarem elas subiram alguns degraus na hierarquia
organizacional. Identificou-se, ainda, que a graduação desencadeia o processo de
empoderamento das mulheres pesquisadas, contribuindo para o empoderamento
cognitivo analítico, econômico, social e cultural delas. Em relação aos fatores
subjetivo e político, observou-se que as mudanças na vida das mulheres foram
bastante restritas. Este estudo contribuiu, no âmbito acadêmico, para a ampliação
dos estudos sobre empoderamento de mulheres na realidade brasileira,
principalmente no âmbito da Administração. Como todo estudo, esta pesquisa
possui limitações. Sugeriu-se a realização de mais pesquisas sobre o tema, a fim de
aprofundar o empoderamento de mulheres formadas com bolsa do Prouni.
Palavras-chave: Empoderamento. Mulher. Prouni. Educação.
ABSTRACT
The following research analyses the repercussions for the PROUNI funding for
women who have graduated in Business Administration, Accounting, and Law during
2009 and 2013 in a private institution of higher education in Minas Gerais, according
to the perception of the surveyed graduates considering the Melo (2002) model. In
the case study, it is categorized as descriptive qualitative. The data collected from 20
egresses surveyed, 10 graduates in Business Administration, 6 graduates in
Accounting, and 4 in Law, to each was applied a semi-structured interview guide,
with their speech recorded and transcribed in order to allow for content analysis. It
was discovered that PROUNI was the easiest way for these women to get a higher
education and that the shortage of financial resources for the expenses of a higher
education and the quality of public education were the hardest difficulty found from
the surveyed women. It was established that before their qualification the surveyed
women worked low-income or operational jobs. Soon after graduating, they found
themselves in a higher level of hierarchy in their current work positions. It was also
found that the graduation triggers the empowerment process in the women surveyed,
contributing to the analytical cognitive empowerment, economic, social and a cultural
one. With regards to subjective and political factors, it was observed that the changes
in women's lives were quite restricted. This study contributes, in the academic realm,
to the expansion of women's empowerment on studies in the Brazilian reality,
particularly within Administration. As with any study, this research has its limitations.
It is suggested that further research be made on this topic, in order to further the
empowerment of women formed with PROUNI scholarship.
Keywords: Empowerement. Woman. Prouni. Education.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Síntese dos resultados da pesquisa, pautando-se no modelo de
empoderamento de Melo (2012) .............................................................................125
Gráfico 1 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni no Brasil
entre 2005 e 2013, por região ...................................................................................27
Gráfico 2 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni na região
Sudeste entre 2005 e 2013, por estado ....................................................................28
Gráfico 3 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni em Belo
Horizonte entre 2005 e 2013 .....................................................................................28
Quadro 1– Perfil das bolsistas do Prouni entrevistadas ............................................56
Quadro 2 – Categorias e subcategorias do conteúdo das entrevistas ......................57
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Dificuldades encontradas para ingressar no ensino superior ..................60
Tabela 2 – Facilidades encontradas para ingressar no ensino superior ...................61
Tabela 3 – Sentimento despertado nas entrevistadas ao graduarem-se ..................63
Tabela 4 – Educação continuada ..............................................................................65
Tabela 5 – Importância dos conhecimentos adquiridos para a vida pessoal ............67
Tabela 6 – Desigualdades de gênero no ambiente de trabalho ................................69
Tabela 7 – Importância dos conhecimentos adquiridos para a vida profissional......71
Tabela 8 – Significado da atividade profissional para as entrevistadas ...................74
Tabela 9 – Sente-se capaz de galgar qualquer emprego da área de qualificação....76
Tabela 10 – Sentimento despertado nas entrevistadas por ter um curso superior....78
Tabela 11 – Planejamento profissional .....................................................................79
Tabela 12 – Reconhecimento dentro da empresa, na percepção das entrevistadas 82
Tabela 13 – Relações de poder no ambiente de trabalho.........................................86
Tabela 14 – Posição das entrevistadas nas relações de poder onde trabalham.......88
Tabela 15 – Preferência de gênero onde trabalha ....................................................91
Tabela 16 – Habilidades essenciais nas mulheres para ocupar cargos elevados.....93
Tabela 17– Acesso às informações importantes e estratégicas na organização ......94
Tabela 18 – Alianças e estratégias realizadas para desenvolver profissionalmente.96
Tabela 19 – Autonomia dentro da organização.........................................................97
Tabela 20 – Relações de gênero no ambiente de trabalho .......................................99
Tabela 21 – Incentivo que teve para buscar independência financeira ...................101
Tabela 22 – Contribuição da graduação para a independência financeira..............103
Tabela 23 – Facilidades desencadeadas pela graduação no mercado de trabalho 104
Tabela 24 – Razão pela qual trabalha.....................................................................105
Tabela 25 – Sentimento de realização econômica despertado nas entrevistadas ..106
Tabela 26 – Perspectivas e planos no campo profissional antes de graduar-se.....108
Tabela 27 – Principal figura de autoridade dentro da sua família............................110
Tabela 28 – Capacidade das entrevistadas de influenciar pessoas, ao graduarem-se
................................................................................................................................111
Tabela 29 – Reconhecimento social das entrevistadas ao graduarem-se ..............113
Tabela 30 – Oportunidades econômica, social e política na sociedade ..................114
Tabela 31 – Influência masculina nas escolhas ......................................................118
Tabela 32 – Influência feminina nas escolhas.........................................................118
Tabela 33 – Influência da graduação nas relações sociais e culturais das pessoas
................................................................................................................................120
Tabela 34 – Influência da graduação na desigualdade de gêneros ........................122
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
FEM – Fórum Econômico Mundial
FIES – Fundo de Financiamento Estudantil
IES – Instituições de Ensino Superiores
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Prouni – Programa Universidade para Todos
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 14
1.1 Problema de pesquisa ......................................................................................16
1.2 Objetivos ............................................................................................................18
1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................18
1.2.2 Objetivos específicos.....................................................................................19
1.3 Justificativa........................................................................................................19
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E
PROUNI............................................................................................ 21
2.1 Políticas públicas ..............................................................................................21
2.1.1 Programa Universidade para Todos .............................................................24
3 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................ 30
3.1 Relações de gênero ..........................................................................................30
3.1.1 Relações de gênero e trabalho .....................................................................36
3.2 Empoderamento ................................................................................................42
3.2.1 Modelo de empoderamento feminino proposto por Melo (2012) ...............46
4 METODOLOGIA DE PESQUISA ...................................................... 50
4.1 Tipo de pesquisa quanto à abordagem ...........................................................50
4.2 Tipo de pesquisa quanto aos fins....................................................................51
4.3 Tipo de pesquisa quanto aos meios................................................................51
4.4 Unidade de análise e sujeitos da pesquisa.....................................................51
4.5 Técnica de coleta de dados..............................................................................52
4.6 Técnica de análise de dados ............................................................................53
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS....................... 55
5.1 Caracterização do perfil dos pesquisados......................................................55
5.2 Análise qualitativa: categorias e subcategorias.............................................57
5.2.1 Dificuldades e facilidades encontradas para ingressarem no ensino
superior .........................................................................................................59
5.2.2 Cognitivo analítico .........................................................................................62
5.2.2.1 Valorização da capacitação ........................................................................63
5.2.2.2 Valorização do conhecimento ....................................................................66
5.2.2.3 Conhecimento versus oportunidade .........................................................68
5.2.3 Subjetivo .........................................................................................................73
5.2.3.1 Significado da atividade .............................................................................74
5.2.3.2 Competência reconhecida ..........................................................................75
5.2.3.3 Autodeterminação .......................................................................................79
5.2.3.4 Impacto percebido na organização............................................................82
5.2.4 Político ............................................................................................................85
5.2.4.1 Vivência das relações de poder no espaço organizacional ....................85
5.2.4.2 Percepção e consciência das diferenças entre os gêneros,
reconhecimento da mulher e o acesso à informação ...........................90
5.2.4.3 Alianças e estratégias para a própria carreira ..........................................95
5.2.4.4 Autonomia....................................................................................................97
5.2.4.5 Legitimação organizacional .......................................................................98
5.2.5 Econômico ....................................................................................................100
5.2.5.1 Demandas e oportunidades .....................................................................100
5.2.5.2 Independência financeira .........................................................................104
5.2.5.3 Perspectiva de carreira .............................................................................107
5.2.6 Social.............................................................................................................110
5.2.6.1 Reconhecimento familiar..........................................................................110
5.2.6.2 Reconhecimento social ............................................................................112
5.2.6.3 Reconhecimento organizacional..............................................................116
5.2.7 Cultural..........................................................................................................117
5.2.7.1 Influências culturais..................................................................................117
6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................. 124
REFERÊNCIAS.................................................................................. 131
APÊNDICE......................................................................................... 140
14
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, fazem-se pertinentes reflexões acerca da mulher com base em um olhar
dirigido para além dos papéis tradicionais designados a elas, no decorrer dos anos,
nos âmbitos social e familiar (MENEZES, 2013), tendo em vista que constituem o
mais numeroso e vulnerável segmento social do País (LISBOA, 2008; PANDEY,
2013).
A delimitação dos papéis do homem e da mulher na sociedade é considerada
natural, como se fosse a “ordem natural das coisas”, sendo tais papéis introjetados
nos corpos e na percepção dos sujeitos e manifestados por meio de pensamentos e
ações capazes de reproduzirem-se (MELO, 2004; BOURDIEU, 2007). Segundo
Bourdieu (2007), a dominação masculina vai sendo reproduzida na sociedade por
meio de instituições do tipo escola, Igreja e Estado, de organizações diversas e,
principalmente, da estrutura familiar.
Tradicionalmente, a imposição de papéis ditos adequados especificamente a cada
gênero reflete a estrutura da sociedade − no caso brasileiro, essencialmente
patriarcal. Nos contextos social e familiar, ao homem é reservado o papel de
provedor financeiro do lar e de dominador, exerce o poder econômico e o político,
enquanto à mulher compete a responsabilidade de cuidar do lar e dos filhos,
comportando-se de maneira pacata, frágil, instável, submissa e dominada (ROSA,
2003). Ela possui acesso restrito à saúde de qualidade, ao trabalho, à segurança e a
uma vida digna (MENEZES, 2012).
Esses papéis fazem-se presentes em todas as esferas da vida da mulher,
principalmente, no mercado de trabalho. Ela enfrenta, devido a seu papel nas
relações de gênero, inúmeras barreiras para ingressar no trabalho assalariado.
Entende-se relações de gênero como relações sociais, por meio das quais homens e
mulheres são constituídos como categorias sociais desiguais (ELSON, 1991). A ela
são reservados predominantemente trabalhos ditos femininos, de baixa hierarquia
organizacional. Enfrenta, também, a dificuldade de conciliar a dupla jornada de
trabalho (assalariado e doméstico) e de progredir na carreira. Ainda, enfrenta a
15
necessidade de se qualificar constantemente se desejar galgar outros cargos na
hierarquia das organizações (ROSA, 2003; SORJ, 2004; BRUSCHINI, 2007; CHIES,
2010; MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI, 2010; AMARAL, 2012).
A partir condição de submissão e de desigualdade da mulher na sociedade, buscase a igualdade entre os gêneros, visando atribuir outros significados à estrutura
social e alterar os papéis e a ordem das relações entre os gêneros na sociedade
(LISBOA, 2008).
Na perspectiva feminista, estudos apontam que uma das formas para alcançar a
igualdade entre os gêneros decorre do empoderamento da mulher (LISBOA, 2008).
“O movimento das mulheres tem situado o empoderamento no campo das relações
de gênero e na luta contra a posição socialmente subordinada das mulheres em
contextos específicos” (LISBOA, 2008, p. 2). Assim, em algumas circunstâncias, o
poder é fonte de opressão e de dominação; em outras, pode ser fonte de
emancipação, reconhecimento e valorização do sujeito. Neste último caso, o
exercício do poder pelas mulheres retrata o empoderamento feminino, adotando o
sentido de emancipação, democratização e decisão compartilhada (LISBOA, 2008).
Implica a modificação das estruturas social, econômica e profissional que
reproduzem a dominação masculina.
O empoderamento constitui-se em um novo conceito de poder nas relações de
gênero. A mulher é reconhecida e valorizada (LISBOA, 2008; MELO; LOPES, 2011),
reconstruindo seu papel na sociedade.
Para Melo (2012), o empoderamento da mulher é constituído por seis fatores, a
saber:
a) Cognitivo analítico − consiste no saber, no conhecer, no reconhecer e na
conscientização da mulher no que se refere a sua qualificação;
b) Subjetivo – relaciona-se a autoconfiança, autoestima, autodeterminação e crença
na própria capacidade;
c) Político – relaciona-se ao acesso da mulher a cargos de representação e direção,
a relações de poder mais equilibradas, à consciência das diferenças entre
16
gêneros e à construção de alianças e estratégias para o desenvolvimento da
carreira e a busca de autonomia profissional;
d) Econômico − consiste na realização de atividades rentáveis que garantam
independência financeira e autonomia financeira à mulher;
e) Social – relaciona-se ao reconhecimento familiar, social e organizacional da
mulher;
f) Cultural − refere-se às mudanças nas relações patriarcais presentes na sociedade
no que diz respeito a gênero, classe social, raça, cultura e história.
Em outras palavras, consiste em promover mudanças profundas na mente dos
sujeitos e nas estruturas que produzem, reproduzem e apoiam a posição de
subordinação da mulher. Como reflexo das relações de gênero, significa as
alterações, às vezes radicais, na estrutura da sociedade (COSTA, 2004).
1.1 Problema de pesquisa
Na perspectiva de Santosh (2013), o acesso igualitário a todos os níveis de
educação contribui para o processo de empoderamento da mulher. A educação
pode melhorar o acesso da mulher a vários direitos, melhorar sua qualidade de vida
e a mobilizar na defesa de outros direitos, possibilitando maior participação delas em
processos de tomada de decisões individuais, sociais, culturais e econômicas. Ou
seja, melhorando os níveis educacionais, possivelmente a mulher passará a ter uma
atuação ativa em sua vida e na sociedade (SANTOSH, 2013).
É por meio do avanço educacional, segundo o Fórum Econômico Mundial (FÓRUM
ECONÔMICO MUNDIAL, 2005), que se alcança o empoderamento feminino em
todas as esferas da sociedade. A partir da educação é que se forma uma mulher
potencial para participar da vida econômica, social e política, além de proporcionar
melhorias na saúde, na nutrição e no bem-estar, influenciando também seu
ambiente familiar (SANTOSH, 2013).
Rajankar (2013) argumenta que a educação contribui consideravelmente para
reduzir as desigualdades presentes entre os gêneros na sociedade. Ressalta que
por meio da educação as ideias produzidas, reproduzidas e incorporadas
17
socialmente sobre os sexos são desmontadas. Desencadeia alterações significativas
na condição da mulher, a medida em que provoca alterações nas estruturas da
sociedade, como escolas, família, igreja, organizações e outras (FÓRUM
ECONÔMICO MUNDIAL, 2005; LOURO, 2011; RAJANKAR, 2013; SANTOSH,
2013).
Segundo Bourdieu (2007), de todos os fatores de mudança da condição feminina na
sociedade, os mais importantes estão relacionados à mudança do papel das
instituições educativas, que contribui para reproduzir as desigualdades de gênero.
Refere-se, também, ao aumento do acesso da mulher aos níveis educacionais, o
qual possibilita sua independência financeira e mudanças nas estruturas patriarcais
familiares, podendo desencadear e aumentar o número de divórcios, ou de não
casamentos de mulher casadas.
Bourdieu (2007) ressalta que, principalmente, o acesso da mulher aos ensinos
secundário e superior transformará sua condição, modificando as estruturas
produtivas e a divisão do trabalho. Ela começa a ter mais espaço nas profissões
intelectuais, na administração e na venda de produtos simbólicos, além de maior
participação nas profissões ditas femininas (ensino, assistência social).
A demanda social por educação no Brasil, tendo em vista a necessidade de ampliar
as oportunidades de acesso ao ensino superior de grupos marginalizados e de
minorias (MORAIS, 2011; ANHAIA, 2012) nos últimos anos tem pressionado “o
sistema educacional a equilibrar a relação entre oferta e demanda” (SARAIVA;
NUNES, 2011, p. 941). Esse equilíbrio pode ser alcançado, embora não em sua
totalidade, por meio da criação de programas socioeducacionais (ANHAIA, 2012).
Em 2004, o governo brasileiro criou o Programa Universidade para Todos (Prouni)
(BRASIL, 2005), o qual visa à inclusão social e educativa de grupos que vivem
historicamente em condições de desigualdades (MORAIS, 2011; ANHAIA, 2012),
como é o caso das mulheres. Por meio do Prouni, grupos em condições desiguais
passaram a ter maior acesso ao ensino superior, graças à concessão de bolsas,
parciais e integrais, em instituições privadas do País (BRASIL, 2005).
18
O Prouni tem por objetivo conceder bolsas de estudos integrais e parciais (50% ou
25%) em cursos de graduação e sequenciais de formação específica para
estudantes de baixa renda não portadores de diploma de curso superior em IES
brasileiras (BRASIL, 2005). Essas bolsas destinam-se aos estudantes que cursaram
o ensino médio completo em escolas públicas, ou que receberam bolsa integral em
instituições particulares, ou que sejam afrodescendentes, indígenas ou portadores
de deficiência física. Podem-se candidatar também professores do ensino público no
efetivo exercício do magistério da educação básica para os cursos de licenciatura,
normal superior e pedagogia, independente de sua renda (BRASIL, 2005).
Segundo Gomes et al. (2012), por configurar-se como uma política que possibilita
grupos brasileiros que vivem em condições de desigualdades terem acesso ao
ensino superior, garantindo-lhes maiores e melhores níveis educacionais, o Prouni
acaba por contribuir para a conquista de vários direitos, por exemplo: melhorias na
segurança e saúde, independência financeira, autonomia e qualidade de vida de
seus beneficiados, redução das desigualdades entre gêneros e empoderamento das
mulheres.
Diante deste contexto, a pergunta central desta pesquisa foi: Quais são as
repercussões da graduação financiada pelo Prouni no empoderamento de
mulheres beneficiárias deste programa?
1.2 Objetivos
Diante da pergunta central desta pesquisa, os seguintes objetivos foram traçados.
1.2.1 Objetivo geral
Analisar as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no empoderamento
de mulheres formadas nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito
entre 2009 a 2013 em uma IES privada mineira, na percepção das graduadas
pesquisadas, considerando o modelo de Melo (2012).
19
1.2.2 Objetivos específicos
a) Descrever as facilidades e as dificuldades encontradas pelas entrevistadas para
ingressar no ensino superior;
b) Identificar e analisar as atribuições e funções que as entrevistadas ocupavam
antes de se formarem no ensino superior e as expectativas em relação a sua
atuação após a graduação;
c) Identificar e analisar os fatores de empoderamento da mulher, conforme proposto
por Melo (2012), a saber, cognitivo analítico, subjetivo, político, econômico, social
e cultural, na percepção das entrevistadas na sua trajetória socioprofissional.
1.3 Justificativa
No âmbito acadêmico, esta pesquisa justifica-se por ampliar os estudos acerca do
Prouni e de empoderamento realizados no Brasil (FARIAS, 2010; LIRA, 2010;
SANTOS, 2011; NONATO, 2012; ANHAIA, 2013; MANTOVANI, 2013; RIBEIRO,
2013; PEREIRA, 2014). Essas dissertações foram encontradas na Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações defendidas entre 2010 até meados de 2014.
Cabe ressaltar que nenhum desses estudos mencionados é da área da
Administração. Portanto, este estudo justifica-se principalmente por abordar uma
política educacional, tema relativamente novo e pouco estudado nesta área, lacuna
apontada por Saraiva e Nunes (2011) e Anhaia (2013). Poderá trazer contribuições
para esclarecer as possíveis repercussões de uma política pública educacional na
sociedade e, principalmente, suas possíveis influências na vida das pessoas,
especialmente das mulheres, na ótica dos próprios sujeitos.
Academicamente, este estudo poderá contribuir para a ampliação dos estudos sobre
o empoderamento da mulher, principalmente no âmbito da Administração, no Brasil.
No âmbito organizacional, faz-se necessário analisar o desempenho dos programas
educacionais, tendo em vista os recursos aplicados e a possibilidade de melhorar
seus resultados (SARAIVA; NUNES, 2011) e a possibilidade de o programa
modificar a realidade social de pessoas que vivem em condições desiguais. A
20
possível inexistência de repercussões da educação no empoderamento das
egressas poderá contribuir para que haja mudanças, adequação de políticas
públicas educacionais e do ensino-aprendizagem no atual ensino superior brasileiro
(FERNANDES, 2013).
No âmbito social, esta pesquisa poderá despertar a consciência das pessoas quanto
às desigualdades presentes na sociedade, especialmente aquelas oriundas das
relações de gênero, e desencadear transformações na mente delas, além de
mobilizá-las em busca de mudanças nas relações patriarcais e redução das
desigualdades de gênero, raça, cor e etnia (PANDEY, 2013; BARRETO; PAULA,
2014).
Por último, este estudo justifica-se tendo em vista a necessidade de identificar as
possíveis repercussões deste programa social “enquanto política de inclusão social
sob múltiplas óticas”, tendo em vista o número expressivo de brasileiros que
usufruem dele (SARAIVA; NUNES, 2011, p. 944).
Esta dissertação está estruturada em seis capítulos, incluindo esta Introdução, em
que se apresentam a contextualização do tema, o problema de pesquisa, os
objetivos e a justificativa. No segundo capítulo, realiza-se a contextualização deste
estudo. No terceiro capítulo, desenvolve-se o referencial teórico, que foi dividido em
três partes: primeira, em que se discutem as relações de gênero; segunda, em que
são feitas abordagens sobre relações de gênero e trabalho; e, terceira, em que se
apresentam as considerações sobre empoderamento. No quarto capítulo, especificase o caminho metodológico usado nesta dissertação. No quinto capítulo, procede-se
à análise e discussão dos resultados obtidos na pesquisa. No sexto capítulo, são
feitas a conclusão e as considerações finais. Seguem-se as referências usadas e o
roteiro aplicado na coleta dos dados.
21
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E
PROUNI
Neste capítulo, realiza-se a contextualização desta pesquisa, discorrendo sobre as
políticas públicas, o Programa Universidade para Todos (Prouni) e a IES privada
pesquisada.
2.1 Políticas públicas
“A expressão ‘políticas públicas’ tornou-se domínio comum nos últimos anos e
frequente nos discursos eleitorais e governamentais, no debate público, na
academia e nas organizações politicamente organizadas da sociedade” (FONSECA,
2013, p. 403).
Este termo pode ser interpretado de variadas formas, as quais podem ser
contrastantes. Por exemplo, nos âmbitos social e político, ganha sentidos e
expectativas distintos (FONSECA, 2013). Em algumas circunstâncias, é utilizado
para retratar algo voltado ao “bem público” e ao “bem-estar social”; em outras, a
busca pela estabilidade política (GONÇALVES, 2012).
Voltadas para o “bem público”, as políticas públicas têm por objetivo reduzir os
problemas que afetam inúmeras pessoas no país (FONSECA, 2013). Passaram a
ser utilizadas pelo Estado visando desenvolver ações e atuar em variadas áreas,
como saúde, educação, meio ambiente, pobreza e desigualdades, todas presentes
na sociedade, promovendo o bem-estar social (GONÇALVES, 2012).
Ainda focadas no “bem público”, segundo Brenner, Amaral e Caldas (2007), as
políticas públicas compreendem as ações e decisões governamentais em prol da
solução de problemas presentes na sociedade. Em outras palavras, são as ações,
metas e planos delineados por todas as esferas públicas, sejam elas estaduais,
municipais ou federal, as quais são definidas visando alcançar o bem-estar social e
o interesse público.
22
Em outras circunstâncias, é importante destacar que as políticas públicas não são
tão generosas como, muitas vezes, são apresentadas, pois estão recheadas de
disputas de poder (FONSECA, 2013).
Ressalta-se que, em alguns casos, constituem estratégias desenvolvidas pelos
governos em busca de diminuir o impacto de crises do capitalismo (BOSCHETTI,
2012), por exemplo, buscam impulsionar o desenvolvimento econômico por meio do
aumento do consumo das famílias beneficiadas pelas políticas públicas que
focalizam a pobreza (BOSCHETTI, 2012; SILVA, 2012).
Boschetti ressalta:
O investimento em programas assistenciais pífios, focalizados e recheados
de condicionalidades, aliado a manutenção do desemprego estrutural e não
investimento em políticas universais, longe de indicar um novo modelo de
desenvolvimento social, é uma estratégia útil do capitalismo para regular o
mercado a baixo custo. (BOSCHETTI, 2012, p. 47).
Nesse sentido, “permanecem fortes desigualdades estruturais no acesso à
propriedade, na qualidade do trabalho e emprego, no tipo e valor dos rendimentos e
no acesso aos direitos e políticas sociais”. (BOSCHETTI, 2012, p. 47). A classe
trabalhadora não tem acesso a bens, serviços sociais e direitos fundamentais, como,
saúde, moradia, habitação, educação e trabalho, produzidos socialmente. Ou seja,
não tem acesso à riqueza.
Seguindo a mesma linha de pensamento de Boschetti (2012) sobre os benefícios
proporcionados pelas políticas públicas ao capitalismo, Silva (2012) ressalta outro
ponto importante: os prestadores de serviços e as instituições bancário-financeiras,
que repassam os benefícios financeiros às pessoas beneficiadas, recebem um valor
extraído do valor total dos recursos financeiros repassados. Assim, o repasse de
dinheiro às instituições bancário-financeiras alimenta diretamente essa forma de
capital, pois estas operam com capital bancário e com a especulação, sustentando a
elite rentista. Salienta-se, também, que os repasses financeiros às políticas públicas
podem sofrer grandes reduções em função do pagamento da dívida pública
brasileira, a qual é suportada com esses cortes/reduções (SILVA, 2012).
23
Sobre as políticas públicas adotadas em muitos países, existem outros
questionamentos. Um deles está centrado na perspectiva dos direitos quanto às
exigências de condicionalidades para se ter acesso aos benefícios sociais. A
garantia de direitos deveria estar intrinsecamente relacionada ao acesso fácil a
essas políticas públicas, assim como à garantia de um nível de vida adequado por
meio desses programas. Ressalta-se, também, que deveriam existir mecanismos
capazes de garantir que qualquer pessoa possa exigir seus direitos (ZIMMERMANN,
2010). Entretanto, Silva (2012) salienta que as políticas públicas estão longe de
atingir a totalidade da população-alvo.
Outro ponto salientado por Lisboa (2007) foi que as políticas públicas e os
programas voltados para as mulheres são impostos de cima para baixo. Não há a
participação das pessoas que serão por eles beneficiados na elaboração dos
programas. Tais programas não consultam e não se aproximam dos valores e da
cultura dos grupos assistidos, mas, espelham experiências de outros países que,
nem sempre, se assentam culturalmente ao Brasil.
As políticas públicas são desenvolvidas em condições precárias, com programas
restritivos e com valores irrisórios (SILVA, 2012). Os governos investem em políticas
sociais restritas, ao invés de investir em políticas sociais universais (BOSCHETTI,
2012). Barreto e Paula (2014) ressaltam que as ações governamentais não se
podem limitar à atuação de alguns programas públicos, pois muitos dos problemas
sociais estão constantemente sendo modificados, configurando, portanto, uma
dinâmica inacabada.
As políticas públicas devem buscar combater a discriminação racial e de gênero e,
ainda, reduzir as iniquidades sociais. Neste contexto, o Estado deve aplicar o
princípio da equidade, o qual garante que pessoas em situações iguais devem ser
tratadas igualmente, enquanto pessoas que fazem parte de grupos historicamente
excluídos devem ser especialmente tratadas. É importante ressaltar que, além do
papel do Estado, o povo também tem que atuar, reivindicando seus direitos, por
meio da organização política, e exigindo o cumprimento de políticas públicas já
aprovadas (GOMES et al., 2012).
24
Atualmente, são vários os planos e programas brasileiros voltados para diferentes
segmentos da sociedade: Mais Médicos, Brasil sem Miséria, Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida,
Programa de Aceleração do Crescimento 2, Ciência sem Fronteiras, Saúde não tem
preço, Crack, é Possível Vencer, Viver Sem Limite, Luz Para Todos, Bolsa Atleta,
Rede Cegonha, Mais Cultura nas Escolas, Seca, Chuva, Observatório do Crack,
Prouni (BRASIL, 2014). Dentre estes programas, destaca-se o Prouni, o qual se
destina aos estudantes brasileiros e contextualiza o grupo pesquisado.
2.1.1 Programa Universidade para Todos
Pereira (2013) considera a importância de políticas públicas em benefício da
educação dos jovens brasileiros inquestionável. Ressalta que essas políticas devem
ser capazes de criar oportunidades igualitárias, independentemente de condições
sociais, regionais, étnicas ou culturais.
O Programa Universidade para Todos (PROUNI) foi criado em 10 de setembro de
2004, pelo governo brasileiro, por meio da Medida Provisória 213, convertida na Lei
11 096, de 13 de janeiro de 2005, a qual também regulamentou a atuação de
entidades beneficentes de assistência social no ensino superior (BRASIL, 2005).
Segundo Anhaia (2012), o objetivo do Prouni é oferecer bolsas de estudos parciais e
integrais no setor educacional privado, que possui inúmeras vagas a serem
ocupadas, e, ainda, atender a população de baixa renda. A criação do Prouni teve
em vista solucionar três problemas: pouco aproveitamento das vagas oferecidas
pelo setor privado; melhorar o percentual de alunos no ensino superior; e possibilitar
o acesso de grupos que vivem em situações desiguais a este nível de ensino
(ANHAIA, 2012).
As bolsas de estudo parciais e integrais oferecidas por meio do Prouni são
destinadas a brasileiros que ainda não têm diploma de curso superior e auferem
renda familiar dentro do estipulado pelo programa. As bolsas de estudo parciais, de
50% ou de 25%, são destinadas às pessoas com rendimento mensal familiar inferior
ou igual a três salários-mínimos. As bolsas de estudo integrais são destinadas às
25
pessoas com renda familiar mensal igual ou inferior a um salário mínimo e meio
(BRASIL, 2005).
A pré-seleção dos estudantes ocorre por meio da nota alcançada no Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM) (BRASIL, 2005) e a candidatura acontece pela
internet. Atualmente, o ENEM é constituído por quatro provas objetivas e uma
redação (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
ANÍSIO TEIXEIRA, 2013). Cada prova objetiva possui 45 questões e aborda os
seguintes conteúdos: Ciências Humanas e suas Tecnologias, Ciências da Natureza
e suas Tecnologias, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Matemática e suas
Tecnologias
(INSTITUTO
NACIONAL
DE
ESTUDOS
E
PESQUISAS
EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2013).
O candidato via Internet, pode escolher até três cursos, de acordo com sua
preferência, tanto em uma instituição como em diferentes instituições credenciadas
(BRASIL, 2005). Primeiramente, a seleção dos candidatos é feita com base nos
resultados e no perfil socioeconômico declarado no momento da inscrição no ENEM.
Em um segundo momento, os alunos são selecionados pela IES em que se
candidataram, tendo por base suas notas de desempenho no ENEM (BRASIL,
2005).
Os candidatos podem acompanhar as chances de ingressar na IES escolhida
diariamente, podendo, se for de seu interesse, escolher outros cursos e outras IES e
se candidatarem, dentro das datas estipuladas pelo Ministério da Educação (MEC)
(INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO
TEIXEIRA, 2013).
As IES que aderem a essa política de acesso ao ensino superior criada pelo governo
recebem em contrapartida à concessão de bolsas de estudos isenções fiscais no
período de vigência do termo de adesão, tais como: Imposto de Renda de Pessoas
Jurídicas, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, Contribuição Social para
Financiamento da Seguridade Social e Contribuição para o Programa de Integração
Social (BRASIL, 2005). Em outras palavras, as instituições que ofertam bolsas de
estudo por meio do Prouni recebem mais isenções fiscais (CISLAGHI, 2012).
26
As IES privadas, com ou sem fins lucrativos, não beneficentes que aderem ao
Prouni devem oferecer, no mínimo, uma (1) bolsa integral para o equivalente a 10,7
estudantes que sejam pagantes regulares e que estejam matriculados devidamente
ao final do correspondente período letivo anterior; ou oferecer uma (1) bolsa integral
para cada 22 dois estudantes matriculados em seus cursos regularmente pagantes,
desde que ofereça adicionalmente, na proporção necessária, bolsas parciais (50%
ou 25%), para que a soma dos benefícios concedidos seja equivalente a 8,5% da
receita anual dos períodos letivos que já têm bolsistas do Prouni (BRASIL, 2005).
Para Morais (2011), o Prouni consiste em uma política de inclusão social e educativa
que contempla grupos marginalizados, por meio do acesso ao ensino superior.
Anhaia (2012) ressalta que os pré-requisitos exigidos dos alunos para se
candidatarem às vagas oferecidas pelo Prouni refletem o caráter equitativo do
programa, tendo em vista que buscam garantir às minorias a possibilidade de
acesso à educação superior.
A partir do acesso ao curso superior, tem-se a possibilidade de os estudantes
ingressarem no mercado de trabalho. Muitos estudantes se inserem no mercado de
trabalho, tanto dentro da própria IES como fora delas. Dentro da instituição, muitos
realizam monitorias acadêmicas e pesquisas acadêmicas e participam de eventos
de sua área de atuação. Fora delas, realizam estágios (ANHAIA, 2012).
Níveis educacionais mais elevados contribuem para a conquista de direitos, como os
salientados na Declaração Universal de Direitos Humanos, e, principalmente, para o
alcance do empoderamento pelas mulheres, a partir da redução das desigualdades
entre os gêneros (GOMES et al., 2012). O acesso das mulheres ao ensino superior,
traduzido em altos níveis educacionais, desencadeia inúmeras mudanças em sua
vida: melhora sua qualidade de vida e a de suas famílias e proporciona maior
segurança, emprego, independência financeira, aumento da renda, maior autonomia
nas decisões pessoais, controle de sua fecundidade e maior participação pública
(BORGES, 2008; GOMES et al., 2012).
No caso desta pesquisa, as egressas estudaram em uma IES credenciada no Prouni
que está no mercado há quinze anos, oferecendo vários cursos de graduação e de
27
pós-graduação. Possui três campi, localizados na região metropolitana de Belo
Horizonte, disponibilizando graduação e bacharelado em Administração, Ciências
Contábeis, Direito, Engenharia Civil, Engenharia de Produção e Serviço Social. Na
graduação tecnológica, oferece os cursos de Gestão Comercial, Gestão da
Qualidade, Gestão da Segurança Privada, Gestão de Cooperativas e Logística.
Apresenta, ainda, MBA em Contabilidade Tributária com ênfase em Sistema Público
de Escrituração Digital (SPED) e mestrado em Administração. Todos os cursos
oferecidos são reconhecidos pelo MEC.
A IES incentiva o ingresso das pessoas de baixa renda no ensino superior por meio
da oferta de bolsas parciais e integrais do Prouni, concedendo vagas para todos os
cursos de graduação, bacharelado e tecnólogo.
No Brasil, 1.273.665 bolsas, entre parciais e integrais, do Prouni foram ofertadas de
2005 a 2013, conforme apresentado detalhadamente no GRAF. 1. Destas, 609.804
foram ocupadas por pessoas do sexo masculino e 663.861 do sexo feminino.
Gráfico 1 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni no Brasil
entre 2005 e 2013, por região
649.286
239.639
191.899
122.507
70.334
Sudeste
Sul
Fonte: SisProuni de 06 nov. 2013
Nordeste
Centro-Oeste
Norte
28
O número de bolsistas do Prouni do sexo feminino supera o de bolsistas do sexo
masculino. No Brasil, outras estatísticas apontam que nos últimos anos a
participação feminina no total de matrículas, de ingressos e de concluintes dos
cursos de graduação ultrapassa a participação masculina (INSTITUTO NACIONAL
DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2011). Em
2011, nos cursos de graduação o percentual de matrículas realizadas pelo sexo
feminino foi de 56,9%, o percentual de ingressos foi de 55,8% (INSTITUTO
NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA,
2011).
Na região Sudeste, foram ofertadas 649.286 bolsas parciais e integrais pelo Prouni
entre 2005 e 2013 (GRAF. 2).
Gráfico 2 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni na região
Sudeste entre 2005 e 2013, por estado
391.098
155.558
81.923
20.707
São Paulo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
Espírito Santo
Fonte: SisProuni de 06 nov. 2013
Em Belo Horizonte, foram ofertadas 80.387 bolsas parciais e integrais do Prouni
entre 2005 e 2013 (GRAF. 3).
Gráfico 3 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni em Belo
Horizonte entre 2005 e 2013
29
Fonte: SisProuni de 06 nov. 2013
Verifica-se a partir do GRAF. 1 que a região com maior quantidade de bolsas
ofertadas pelo Prouni foi a Sudeste. Na região Sudeste (GRAF. 2), o estado que
concentrou o maior número de bolsas do Prouni entre 2005 e 2013 foi São Paulo.
No caso desta pesquisa, na IES em que as egressas estudaram, o número
aproximado de mulheres bolsistas parciais e integrais do Prouni nos cursos de
Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 e 2013 foi de 200 bolsistas.
No próximo capítulo, desenvolve-se o referencial teórico desta pesquisa.
30
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo, desenvolve-se a fundamentação teórica e os conceitos que darão
sustentação a esta pesquisa. Inicialmente, são abordadas as relações de gênero (de
modo geral e relações de gênero e trabalho). Em seguida, formulam-se as
considerações sobre empoderamento (de modo geral e modelo de empoderamento
proposto por Melo (2012), especificamente).
3.1 Relações de gênero
O conceito de gênero está relacionado diretamente à história do movimento
feminista contemporâneo. Foi a partir das contestações e das transformações da
ordem social e política, século XIX, que surgiram os estudos sobre a mulher
(LOURO, 2011; SOIHET, 2012). O principal objetivo desses estudos era dar
visibilidade às mulheres, historicamente ocultadas na sociedade (LOURO, 2011).
Nos anos de 1970, as mulheres entraram nos círculos universitários e passaram a
reivindicar seu lugar na história, tendo ocorrido certa feminização das universidades
e da produção dos saberes (RAGO, 1998). Juntamente, “emergiram seus temas e
problematizações, seu universo, suas inquietações, suas lógicas diferenciadas, seus
olhares desconhecidos” (RAGO, 1998, p. 90). Várias de suas histórias passaram a
ser o campo de observação intelectual, como as “histórias da vida privada, da
maternidade, do aborto, do amor, da prostituição, da infância e da família, das
bruxas e loucas, das fazendeiras, empresárias, enfermeiras ou empregadas
domésticas, fogões e panelas” (RAGO, 1998, p. 90).
Aos poucos, a cultura feminina foi ganhando visibilidade, tanto pela presença de
mulheres na academia quanto pela produção acadêmica.
Entre as décadas de 1980 e 1990, desenvolveu-se na história das mulheres a
categoria gênero como variável de estudo, emergindo uma literatura mais
significativa. Posteriormente, passou-se a considerar o aspecto relacional nessa
categoria (RAGO, 1998).
31
No século XIX, “na gramática, gênero é compreendido como um meio de classificar
fenômenos, um sistema de distinções socialmente acordado mais do que uma
descrição objetiva de traços inerentes” (RAGO, 1995, p. 3). Para feministas
americanas, o termo gênero considerava as facetas sociais das distinções
relacionadas ao sexo, enfatizando a noção relacional presente no termo e
desconsiderando o determinismo biológico presente nele. Nos últimos anos, este
termo passou a ser discutido como uma categoria analítica, sugerindo que as
informações referentes às mulheres são também referentes aos homens e que
ambos estão relacionados (SCOTT, 1995; LOURO, 2011). Trata-se das relações
sociais construídas entre os sexos, não se atendo apenas aos aspectos biológicos
(SCOTT, 1995) e tampouco às mulheres.
A categoria gênero evidencia que o universo feminino difere do masculino não
apenas pelas determinações anatômicas dos corpos, mas principalmente pelas
experiências históricas, valores, pensamentos, crenças e símbolos (RAGO, 1998).
Em outras palavras, o gênero retrata a relação entre homens e mulheres; ou seja,
envolve a relação do indivíduo com outros indivíduos e com a cultura da qual fazem
parte (CYRINO, 2009).
Na perspectiva feminista, o gênero retrata a construção, reprodução e interiorização
dos papéis designados aos homens e às mulheres pela sociedade (BOURDIEU,
2007; FLORES-PEREIRA, 2012), ao passo que sexo retrata as distinções entre
homens e mulheres, basicamente, a partir de suas diferenças biológicas. Este
conceito é construído somente a partir de uma perspectiva anatômica do corpo
(FLORES-PEREIRA, 2012).
Butler (2010) ressalta que a distinção entre sexo e gênero foi inicialmente utilizada
para questionar a ideia de que a biologia é o destino, apontando o gênero como uma
construção cultural. Neste contexto, a autora pondera: se o gênero não é resultado
causal do sexo, não deveria ser aparentemente fixo quanto o sexo nem deveria
permanecer em número de dois. Considerando que o gênero decorre dos
significados culturais introjetados pelos corpos sexuados, não se pode dizer que ele
decorra de um sexo desta ou daquela maneira (BUTLER, 2010, p. 25).
32
Para a autora,
[...] se o caráter imutável do sexo é contestável, talvez o próprio sexo seja
tão culturalmente construído quanto o gênero; a rigor, talvez o sexo sempre
tenha sido o gênero, de tal forma que a distinção entre sexo e gênero
revela-se absolutamente nenhuma (BUTLER, 2010, p. 25).
Em outras palavras, colocar em número de dois o sexo num domínio pré-discursivo
é um meio utilizado para garantir que a estabilidade interna e a dualidade do sexo
sejam eficazmente asseguradas na sociedade (BUTLER, 2010).
Para Bourdieu (2007), as diferenças biológicas entre homens e mulheres,
especialmente a anatômica de seus corpos, são utilizadas para caracterizar como
natural a diferença de papéis socialmente construídos entre os gêneros. Nesse
sentido, as diferenças biológicas são construídas e reproduzidas socialmente e
legitimam as diferenças entre os gêneros (BOURDIEU, 2007). Assim, as
representações dos corpos desencadeiam mudanças profundas e contínuas nos
corpos e na mente dos sujeitos. Incutem-se na mente dos sujeitos formas
diferenciadas de uso dos corpos, especialmente dos sexuais, e elimina-se tudo que
pertence ao outro gênero (BOURDIEU, 2007).
Louro (2011) salienta que as desigualdades sociais entre gêneros, muitas vezes,
são justificadas pelas características biológicas dos sexos. Neste contexto, homens
e mulheres são diferenciados pela anatomia dos órgãos sexuais e a relação entre
eles também decorre desta distinção.
O movimento e os estudos feministas, todavia, “deslocaram-se as explicações das
diferenças que marcam a condição de mulheres e homens na sociedade do reino da
natureza para o da cultura”. Dessa forma, pode-se dizer que a desigualdade entre
gêneros não está “pré-determinada, enraizada na constituição do corpo humano,
mas é socialmente construída” (SORJ, 1992, p. 144). Salienta-se que as diferenças
sociais entre gêneros, ditas tão naturais quanto às diferenças anatômicas entre os
órgãos sexuais masculinos e femininos, têm a possibilidade de mudar, e mudam
(SORJ, 1992).
33
O feminismo pode ser considerado um movimento político e ético, devido a seu
caráter de emancipação, por questionar os valores, as crenças e a estrutura de uma
sociedade, buscando transformá-los. Nesse sentido, pode-se dizer que o feminismo
busca a igualdade, a equidade, a emancipação, a liberdade e a autonomia das
mulheres. Esse movimento apresenta os aspectos político e ético. Por denunciar a
dominação masculina e a subjugação das mulheres, desafia os “valores,
preconceitos e tradições que justificam e legitimam essa situação de opressão”
presente na sociedade (SOIHET, 2012, p. 30).
Ressalta-se que não são as características sexuais que retratam o que é feminino e
o que é masculino, e sim a forma como essas características são representadas ou
valorizadas em uma sociedade e em um contexto histórico (LOURO, 2011). Então,
para compreender as relações de gênero na sociedade, faz-se necessário
compreender o que se constrói acerca dos sexos (LOURO, 2011).
Historicamente, construíram-se papéis específicos ditos “adequados” ao homem e
papéis específicos ditos “adequados” à mulher. Nesse sentido, aos homens,
tradicionalmente, é reservado o espaço público, cabendo-lhes prover materialmente
a família, ter comportamento viril e racional, ser dominante e ter representação na
sociedade (ROSA, 2003; BOURDIEU, 2007; GOMES et al., 2012).
O papel tradicionalmente imposto às mulheres aos longos dos anos, tanto no
contexto social quanto no familiar, associa-a ao de mãe, de dona de casa,
trabalhadora e dinâmica, pouco visível na sociedade e, ainda, excluída da
mobilização para mudar o mundo (MENEZES, 2013). À mulher é reservado o
espaço privado, competindo-lhe as tarefas do lar, o cuidado dos filhos, a realização
de trabalhos domésticos e a postura de esposa submissa ao marido (BOURDIEU,
2007; GOMES et al., 2012).
Esses papéis distintos atribuídos aos gêneros são aprendidos e interiorizados desde
o início da socialização dos sujeitos. Nesse sentido, pode-se dizer que, ainda
quando criança aprende-se a relacionar objetivos e comportamentos ao gênero. Por
exemplo, atribui-se apenas aos meninos jogar bola, enquanto cabe as meninas usar
saia e brincar de boneca. Assim, a partir da socialização dos sujeitos as construções
34
sociais sobre os sexos passam a fazer parte do subconsciente coletivo (ROSA,
2003) e são reproduzidas continuamente como se fossem uma coisa natural e
determinada de cada gênero.
Os papéis atribuídos ao homem no decorrer de sua socialização retratam a virilidade
aprendida, mais comumente denominada “dominação masculina” (MENEGHEL et
al., 2012), ao passo que os papéis atribuídos às mulheres retratam a feminilidade
aprendida (comportamentos e práticas que não denotem virilidade), afirmando
sutilmente que não possuem qualquer direito a este atributo masculino que é o
poder (BOURDIEU, 2007).
Pode-se dizer, então, que a dominação masculina e a subalternidade das mulheres
na sociedade são frutos dos papéis de gênero (COSTA, 2004). Esses papéis são
difundidos, involuntariamente, tanto pelos próprios sujeitos quanto por propagandas,
imagens, brincadeiras, crenças, cultura, tradições, sistema educacional, leis,
violência contra a mulher, divisão sexual e social do trabalho e instituições presentes
na sociedade (ROSA, 2003; COSTA, 2004; BOURDIEU, 2007).
A dominação masculina é reforçada pela objetividade das estruturas sociais e pelas
atividades produtivas e reprodutivas, de tal maneira que há uma estrutura completa
que garanta a perpetuação e o exercício do poder pelo homem (BOURDIEU, 2007).
As mulheres são excluídas e praticamente se tornam invisíveis nos âmbitos político,
social, familiar, cultural e profissional (COSTA, 2004; MENEZES, 2012).
A dominação masculina é reafirmada por forças simbólicas (violência simbólica), tipo
de poder exercido sobre os corpos sem coação física. É exercido como que por
magia, atuando no âmbito mais profundo dos corpos, com a ajuda de estruturas de
dominação (BOURDIEU, 2007). Assim, a dominação masculina por meio da
violência simbólica “encontra reunida todas as condições de seu pleno exercício”, é
“reafirmada pelas estruturas sociais, pelas atividades produtivas e reprodutivas,
baseadas na divisão sexual do trabalho e de reprodução biológica e social”
(BOURDIEU, 2007, p. 35).
35
Além da violência simbólica, o exercício do poder pelo homem na sociedade,
denominada “dominação masculina”, manifesta-se de outras formas. Muitos homens
utilizam-se da força física para exercer seu poder sobre as mulheres (BOURDIEU,
2007). Na maioria das vezes, as mulheres são espancadas, violentadas e
exploradas, principalmente dentro do seio familiar (SAFFIOTI, 2008).
A violência contra as mulheres por parte dos homens, comumente maridos, esposos
e amantes, também está centrada nas relações de gênero, pois o homem torna-se
violento a partir do incentivo que recebe diariamente para ser valente, macho,
masculino (SAFFIOTI, 2008) e, ainda, por exercer o poder nessas relações. Já a
mulher é incentivada a permanecer calada, e geralmente permanece, ao receber
maus-tratos de seus companheiros. Essa situação se agrava quando somente o
homem possui poder econômico e provém materialmente a família (SAFFIOTI,
2008). Dessa forma, a violência contra a mulher é também meio de reproduzir e
reafirmar as ideias estereotipadas sobre os gêneros socialmente, ou seja, as
desigualdades de gênero (SAFFIOTI, 2008).
Falar sobre as relações de gênero é falar sobre oportunidades desigualdades de
exercer o poder. No entanto, o poder precisa assumir uma nova concepção no
âmbito das relações de gênero, possibilitando alcançar a igualdade e o
empoderamento feminino (COSTA, 2004; LISBOA, 2008). Neste contexto, refletiria
maior acesso da mulher aos espaços públicos da sociedade, antes ocupados
apenas pelos homens, assim como maior acesso a saúde de qualidade, educação,
trabalho, segurança e vida digna (CAVAZOTTE; OLIVEIRA; MIRANDA, 2010;
MENEZES, 2012).
Exercer o poder e promover mudanças nos padrões arraigados na sociedade
requerem maior escolarização da mulher, pois contribuem para promover
transformações consistentes na sociedade (MENEZES, 2012), assim como nas
relações de gênero. Possibilitam, também, romper com uma posição social de
subordinação, minimizar as desigualdades e aumentar as possibilidades de se
alcançar o empoderamento das mulheres.
36
Salienta-se que, mesmo com o aumento da escolaridade, da presença no mercado
de trabalho e da participação social das mulheres, as estruturas patriarcais ainda
não foram rompidas. A sociedade ainda é caracterizada pela discriminação e pela
exclusão econômica e simbólica das mulheres (MENEZES, 2012), pois seu
desenvolvimento social, muitas vezes, é obstruído pelas estruturas sociais
patriarcais ainda presentes na sociedade (SIDRAMAPPA; ASTIGE, 2013).
A estrutura patriarcal refere-se aos atributos específicos designados aos gêneros, os
quais se refletem no contexto familiar, econômico, social e no trabalho. É a partir do
ambiente familiar que o papel da mulher, de submissão e exploração, é reafirmado e
reproduzido em outros ambientes, ou seja, no seio familiar acontecem as relações
de gênero em função das demandas morais, religiosas, culturais e sociais as quais
são reproduzidas em outros contextos (SILVA, 2013).
3.1.1 Relações de gênero e trabalho
A forma dicotômica como as tarefas, os ofícios e as profissões foram definidas e
divididas demonstra a estrutura patriarcal presente em muitas sociedades, pois
reflete uma posição binária. Existem tarefas e atitudes que são de domínio do
homem e tarefas e atitudes que são de domínio da mulher. Ou seja, são
especificidades atribuídas a cada gênero e que estão arraigados na sociedade.
Somente nos últimos anos essa posição passou a ser questionada (CACOUAULT,
2003).
Até bem pouco tempo homens e mulheres estavam diferentemente
disponíveis para as atividades de trabalho, uma vez que os papéis de
gênero atribuíam aos homens o lugar de provedor de renda (espaço
público) enquanto que às mulheres caberia as responsabilidades
domiciliares (espaço privado) (ROSA, 2003, p. 2).
As divisões de trabalho no âmbito familiar denotam e corroboram a manutenção da
subordinação de gênero em vários âmbitos da sociedade (SORJ, 2004). A autora
salienta que a partir da posição diferenciada no âmbito doméstico e familiar é que
são determinadas as chances de cada um no mercado de trabalho, nas carreiras e
nos salários.
37
A subalternidade da mulher e a dominação masculina são papéis disseminados na
sociedade. Dessa forma, independem da profissão que ela venha a desempenhar, a
mulher sempre será menos valorizada que os homens, devido às questões de
gênero (CHIES, 2010).
Os papéis sociais, determinados e universais, podem ser referência das relações de
poder em vários âmbitos da vida da mulher. Eles refletem as relações nos âmbitos
doméstico e público que acontecem no mercado de trabalho (CHIES, 2010). Assim,
em outros termos, as desigualdades nas relações de poder no contexto das relações
de gênero fazem-se presentes no cotidiano de trabalho (COSTA, 2004).
Segundo Bourdieu (2007, p. 130), as mulheres possuem experiências específicas,
que as aproximam: “estão separadas dos homens por um coeficiente simbólico
negativo” e pela dominação masculina. No entanto, encontram-se separadas umas
das outras por algumas diferenças econômicas e culturais. Esses contextos
diferentes em que estão inseridas influenciam sua forma subjetiva e objetiva de
perceber e vivenciar a dominação masculina.
A entrada da mulher no mercado de trabalho aconteceu somente após séculos de
lutas e transformações na sociedade (ROSA, 2003), pois eram necessárias
transformações da ordem social para que elas pudessem desenvolver suas
potencialidades e se desenvolverem profissionalmente. Além de ter provocado
mudanças na divisão sexual do trabalho, o aumento delas no mercado foi
acompanhado pela busca por igualdade de direitos e de oportunidades no mundo
profissional e por responsabilidades (ROSA, 2003).
As mudanças ocorridas na sociedade que contribuíram para a inserção da mulher no
mercado de trabalho, segundo Melo (2004), podem ser justificadas por três questões
principais e interligadas, a saber: tecnológicas, econômicas e culturais.
As questões tecnológicas envolvem os motivos pelos quais as mulheres se inseriram
no mercado de trabalho. A partir da Revolução Industrial, houve a substituição da
mão de obra pelas máquinas em inúmeros setores da economia, o que provocou
aumento do desemprego e desvalorização do trabalho. A crescente utilização de
38
máquinas nas organizações empobreceu as tarefas, de forma que os operários
começaram a procurar trabalhos mais valorizados, sendo substituídos pelas
mulheres com salários muito mais baixos.
Salienta-se, ainda, que as evoluções tecnológicas permitiram que as mulheres, com
o seu trabalho mais delicado e minucioso e com maiores habilidades manuais,
substituíssem os homens quando o trabalho era manusear peças pequenas (MELO,
2004). Outra questão suscitada pelas questões tecnológicas: o avanço da medicina,
possibilitando o aumento da expectativa de vida das mulheres e o uso de
medicamentos contraceptivos avançados, contribuiu para o controle da reprodução e
o adiamento da maternidade (MELO, 2004).
As questões econômicas estão intrinsecamente relacionadas às questões
tecnológicas, pois o desenvolvimento de tecnologias criou campos de trabalho,
produtos e estilo de vida. Praticamente todas as camadas sociais passaram a ter
acesso aos produtos industrializados fabricados em série. Houve, também,
mudanças nos hábitos de consumo da população, o que desencadeou o
consumismo e a melhoria na qualidade de vida das pessoas. Assim, foi necessário
complementar a renda familiar. A mulher ingressou no mercado de trabalho para
ajudar o homem a sustentar a família (MELO, 2004).
As mudanças culturais que ocorreram a favor do fortalecimento da mão de obra
feminina estão principalmente relacionadas ao enfraquecimento do patriarcalismo,
pois a mulher passou a contribuir com as despesas do lar, chegando, em muitos
casos, até a assumir todas as despesas sozinha. Assim, as mulheres entraram no
mercado de trabalho devido à necessidade de complementar a renda familiar e
passaram a lutar por igualdade de direitos e melhores condições de trabalho,
contestando estereótipos sobre si mesmas (MELO, 2004).
Durante as transformações de ordem social que permitiram a entrada da mulher no
mercado de trabalho remunerado, criaram-se profissões específicas, ditas femininas.
Ocupavam espaços que as remetiam ao seu papel de gênero. Foram-lhes
reservadas
atividades
de
bordadeiras,
costureiras,
babás,
empregada
da
coletividade ou do comércio, secretária, área da saúde e de ensino, de forma que
39
suas ocupações se caracterizavam como uma extensão da vida doméstica
(BOURDIEU, 2007; CHIES, 2010).
Segundo Bourdieu, as mudanças visíveis na condição da mulher mascaram a
perpetuação nas posições relativas. Segundo o autor, “[...] a igualização de
oportunidades de acesso e índices de representação não deve mascarar as
desigualdades que persistem na distribuição entre os diferentes níveis escolares e,
simultaneamente, entre as carreiras possíveis.” (BOURDIEU, 2007, p. 126).
No
âmbito
profissional,
as
mulheres
são
direcionadas
para
atividades
tradicionalmente ditas femininas e pouco qualificadas (BOURDIEU, 2007).
Ressalta-se que são complexas as condições de inserção da mulher no mercado de
trabalho
(AMARAL,
2012)
devido
à
realização
do
trabalho
assalariado
concomitantemente com os trabalhos do lar e a necessidade de se qualificar
constante (SORJ, 2004; CHIES, 2010; AMARAL, 2012).
Mesmo quando as mulheres adentram no mercado de trabalho e passam a
colaborar com as despesas domésticas, a elas ainda é imputado todo o trabalho do
lar, como o cuidado com o filho e as tarefas domésticas. Todavia, era justificável,
que os homens não precisavam realizar tarefas domésticas, por assumirem o papel
de provedor financeiro do lar (CHIES, 2010).
Os trabalhos domésticos refletem a cultura rigidamente imposta às mulheres,
chegando a caracterizar-se como natural, impondo-lhes a subordinação e a
inferioridade (SORJ, 2004; CHIES, 2010).
Pode-se dizer que, mesmo conquistando novos papéis, como a sua inserção no
mundo profissional, ainda se atribuem às mulheres papéis tradicionais de gênero.
Esse acúmulo de atribuições acaba comprometendo sua saúde física e emocional,
como os sentimentos despertados de improdutividade, tanto no âmbito público como
no privado (AMARAL, 2012).
40
É grande a dificuldade de romper com a tradição de que o trabalho doméstico é
tarefa feminina, pois para que haja mudança é necessário “desmontar pressupostos
morais, crenças e valores estabelecidos sobre as diferenças entre homens e
mulheres”, bem como questionar as representações de gênero arraigadas na
sociedade que contribuem para caracterizar como natural e inevitável as diferenças
socialmente construídas (CYRINO, 2009, p. 73).
Em um primeiro momento, as mulheres justificavam sua entrada no mercado de
trabalho salientando os conhecimentos adquiridos por meio da educação; ou seja,
os méritos que adquiriram por meio da educação (ROSA, 2003). Buscavam
qualificar-se constantemente, visando facilitar sua inserção no mercado de trabalho.
Dessa forma, os índices de escolaridade passaram a ser superiores em relação aos
homens (MARUANI; HIRATA, 2003).
Essa justificativa contribuía para neutralizar a condição feminina, tendo em vista o
contexto das relações de gênero. Posteriormente, as mulheres começaram a
justificar sua presença em altos cargos da hierarquia organizacional, ressaltando
suas competências femininas. Em outras palavras, passaram a justificar sua
progressão na carreira em função das qualidades que possuem no âmbito das
relações de gênero (ROSA, 2003).
Isso garantia uma vantagem comparativa em relação aos homens. Assim, os
discursos igualitários são substituídos por discursos da diferença, devido à
valorização de papéis atribuídos pela experiência de gênero (ROSA, 2003).
Contudo, o discurso da diferença acaba contribuindo para reafirmar os atributos de
gênero, ou seja, “características construídas historicamente e socialmente e,
portanto, mutáveis, passam a ser integradas e internalizadas como parte do ser
feminino e assim institucionalizadas nas organizações empresariais” (ROSA, 2003,
p. 6).
Afirmar que os papéis femininos diferenciam as mulheres no mercado de trabalho
faz com que sua identidade profissional esteja atrelada a sua identidade familiar, de
gênero (ROSA, 2003).
41
Além da dupla jornada de trabalho e da necessidade de se qualificar
constantemente (SORJ, 2004; CHIES, 2010; AMARAL, 2012), elas estão sujeitas a
trabalhos de baixa qualidade e hierarquia organizacional, assim como à dificuldade
de progredir na carreira. Recebem salários menores para profissões equivalente às
dos
homens
(ROSA,
2003;
BRUSCHINI,
2007;
MADALOZZO;
MARTINS;
SHIRATORI, 2010)
Para notar que a desvalorização da mulher no mercado permanece, basta observar
os baixos salários que recebe em relação ao homem. Mesmo quando possui o
mesmo nível de escolaridade, ela ocupa cargos de menor prestígio e hierarquia. É a
mais atingida pelo desemprego e pelos trabalhos precários e está sujeita a jornada
de trabalho reduzida, parcial. Esta é uma forma de eliminá-la dos jogos de poder
presentes no espaço organizacional e, também, de cercear sua perspectiva de
carreira (BOURDIEU, 2007).
Alguns autores ressaltam que há pouca representação de mulheres em cargos de
alta hierarquia nas empresas (MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI, 2010), pois se
deparam com o teto de vidro (glass ceiling). Este termo, que surgiu nos Estados
Unidos, na década de 1980, retrata uma barreira enfrentada pelas mulheres para
alcançar postos de altas hierarquias nas organizações (STEIL, 1997).
Romper o teto de vidro é um desafio enfrentado para ocuparem cargos de poder nas
organizações. Seu efeito é invisível, mas faz com que elas continuem em baixas
posições de poder e contribui para que haja assimetrias entre homens e mulheres
(CASINI, 2004). Observando os cargos ocupados nas organizações, nota-se que
elas possuem salários menores e perspectivas restritas de promoções na carreira
(SCOTT, 1995).
Para alguns autores, a diferença na remuneração está relacionada a aspectos
sociais, no que se refere à manutenção tanto de uma ordem social no mercado de
trabalho quanto da ordem dentro da família (MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI,
2010). Salientam que é discrepante o perfil salarial de homens e mulheres com
maior nível educacional (MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI, 2010).
42
Nos últimos anos, pode-se dizer que ocorreu um aumento significativo de mulheres
no mercado. Elas ocupam cargos e funções diversificados e conquistam
gradativamente espaço no âmbito público da sociedade (CYRINO, 2009; AMARAL,
2012). Contudo, é importante salientar que as discriminações de gênero só foram
atenuadas, na medida em que persistem dificuldades associadas à inserção no
mercado, ao progresso na carreira, ao recebimento de baixos salários e às relações
hierárquicas entre os gêneros (CYRINO, 2009; AMARAL, 2012). Salienta-se que,
mesmo emancipada profissionalmente, ainda se atribuem à mulher papéis de
gênero (AMARAL, 2012).
Em outras palavras, a situação da mulher funciona assim: “três passos para frente,
dois passos para trás”. Essa situação não é fácil de ser caracterizada, pois, mesmo
tendo ocorrido algumas mudanças, não se pode dizer que houve rupturas. Sua
inserção no mercado ainda é desigual e precária (MARUANI; HIRATA, 2003, p. 21).
A partir das mudanças que ocorrerem na condição da mulher na sociedade e nas
organizações, de forma que elas passam a ter acesso a espaços antes reservados
apenas aos homens, conquistarem novos direitos e passarem a exercer o poder nas
relações sociais, pode-se dizer que elas entram em processo de empoderamento..
3.2 Empoderamento
A palavra empoderamento tem origem na língua inglesa, empowerment. Seu uso
tem sido ampliado para outras línguas, como espanhol, empoderamiento, e
português, empoderamento (MARTINS, 2003). Martins (2003) destaca que, mesmo
não sendo muito conhecida, a palavra não é tão nova, pois em sua edição de 1958 o
Dicionário Caldas Aulete já a registrava.
O uso do conceito de empoderamento aconteceu mais recentemente, a partir da
década de 1970. Passou a ser utilizado inicialmente nos Estados Unidos, no cenário
dos movimentos feministas (COSTA, 2004). Este conceito tem evoluído ao longo
dos anos, surgindo inúmeras definições na literatura acerca do tema (KOKATANUR,
2013).
43
Anteriormente, o empoderamento tinha foco na condição econômica das mulheres,
mas com o tempo passou a considerar outros aspectos importantes da vida delas. O
termo passou a considerar sua relação com o homem em todas as esferas de sua
vida, pessoal e pública. Consiste em um processo que envolve os aspectos
econômico, social, político e pessoal, sendo este último o centro do processo de
empoderamento feminino (KOKATANUR, 2013).
Melo salienta que
a primeira vertente para o empoderamento deve estar atrelada ao despertar
da conscientização por parte das mulheres em relação à discriminação de
gênero, ou seja, reconhecer a existência da desigualdade entre homens e
mulheres, inquietar-se com essa situação e desejar transformá-la. (MELO,
2009, p. 649).
O termo empoderamento está relacionado a possibilidade de uma pessoa de
exercer o poder. Assim, pode retratar tanto a opressão, o autoritarismo, o abuso e a
dominação quanto a emancipação e a resistência (LISBOA, 2007). Neste último
caso, conforme salienta Prá (2006), retrata possíveis modificações nas relações de
gênero, classe social, raça, cultura e história, visando à equidade entre homens e
mulheres e igualdade de oportunidade e acesso aos recursos e vantagens. Denota a
possibilidade de as mulheres comandarem a própria vida e tomar decisões.
Deere e León (2002) sustentam que o termo empoderamento pode assumir o
sentido de conquistar o controle sobre a própria vida, fazer escolhas segundo o
próprio querer. Essa oportunidade de tomar decisões ocorre em um contexto em que
apenas aos homens era conferido esse direito de escolha. Pode-se dizer também
que o termo empoderamento pode assumir o sentido de emancipação, conquista do
controle e busca de poder social e político pelas mulheres.
Para Eyben (2013), o empoderamento das mulheres possui inúmeros significados,
os quais estão relacionados a: poder, participação, capacidade, autonomia, escolha
e liberdade. Ocorre quando elas conseguem imaginar seu contexto de modo
diferente e concretizá-lo, alterando as relações de poder que as conduzem à
pobreza, restringem sua voz e as privam de autonomia.
44
Em outras palavras, o empoderamento refere-se à busca pela equidade entre o sexo
masculino e o feminino, nos âmbitos individual e público, na sociedade. Mas não é
só; envolve, no sentido restrito, a melhoria do aspecto econômico das mulheres.
Portanto, traduz-se no reconhecimento de seu poder interno e na capacidade de
exercê-lo para os benefícios próprios e das outras pessoas (PANDEY, 2013).
O empoderamento das mulheres, para Costa,
[...] representa um desafio às relações patriarcais, em especial dentro da
família, ao poder dominante do homem e a manutenção dos privilégios de
gênero. Significa uma mudança na dominação tradicional dos homens sobre
as mulheres, garantindo-lhes a autonomia no que se refere ao controle dos
seus corpos, da sua sexualidade, do seu direito de ir e vir, bem como um
rechaço ao abuso físico e a violação sem castigo, o abandono e as
decisões unilaterais masculinas que afetam a toda a família. (COSTA, 2004,
p. 9).
Em outras palavras, empoderamento consiste em promover mudanças radicais nos
processos e estruturas que reproduzem a condição de subordinação das mulheres.
Assim, as mulheres tornam-se empoderadas quando passam a tomar decisões
coletivas e quando ocorrem mudanças individuais (COSTA, 2004).
Seguindo a mesma linha de raciocínio de Costa (2004), Santosh (2013) salienta que
desafiar a estrutura patriarcal predominante é um dos objetivos do empoderamento,
de forma a produzir transformações nas estruturas e instituições que reforçam a
discriminação de gênero e as desigualdades sociais, proporcionando o acesso das
mulheres pobres a materiais e recursos informacionais e a presença ativa em todos
os níveis de tomada de decisão (SANTOSH, 2013).
Uma das formas de alcançar a igualdade de gênero é educar. A educação ajuda a
romper com os estereótipos arraigados na sociedade, por desencadear mudanças
radicais na forma de pensar e de agir das pessoas (RAJANKAR, 2013). A
importância de educar também foi salientada por Bourdieu (2007), na medida em
que a educação provoca mudanças decisivas na condição das mulheres.
Kokatanur (2013) enfatiza que o empoderamento consiste em desmontar as
fraquezas, as incapacidades, as desvantagens e as privações das pessoas em
45
função do sexo ou de outras minorias existentes na sociedade. Para Santosh (2013),
ao se empoderarem, as mulheres passam a ter maior participação, mobilização,
controle e tomada de decisão em todas as esferas de sua vida, além de compartilhar
e afirmar a igualdade com os homens.
Outros autores também salientam a importância da educação para desencadear o
processo de empoderamento de mulheres. Quando as mulheres melhoram seus
níveis educacionais, passam a participar das decisões econômicas, sociais e
políticas tanto no âmbito individual como no coletivo. Obtêm melhorias na saúde e
na qualidade de vida, têm maior acesso a outros direitos humanos fundamentais,
mobilizam-se em defesa de seus próprios direitos e de toda a sociedade e,
principalmente, mobilizam-se em prol de mudanças nas relações patriarcais (FEM,
2005; LOURO, 2011; SANTOSH, 2013; RAJANKAR, 2013; KOKATANUR, 2013).
Segundo Rajankar (2013), a educação é capaz de provocar mudanças radicais na
sociedade, contribuindo para reduzir as desigualdades de gênero e alcançar o
empoderamento.
Segundo Eyben (2013), existem diferentes dimensões de empoderamento, as quais
se reforçam mutuamente, a saber:
a) Empoderamento social − está relacionado às mudanças na sociedade, de tal
forma que as mulheres passam a ser reconhecidas e respeitadas naquilo que elas
desejarem, e não naquilo que é imposto por outros. Engloba, também, um sentido
de autonomia e de autoestima, para que as mulheres façam escolha de forma
independente a respeito dos relacionamentos sexuais, casamento e filhos.
A
valorização e o respeito às mulheres são importantes para a participação delas na
política, no sentido de buscar uma justa remuneração por seu trabalho e ter
acesso a serviços públicos – dentre eles, saúde e educação.
b) Empoderamento político − refere-se à representação equitativa das mulheres em
instituições políticas e à possibilidade de tomarem decisões no que tange a sua
vida e à vida de outras pessoas que se encontram em posição semelhante a ela
(EYBEN, 2013).
46
c) Empoderamento econômico − consiste no respeito à dignidade, na capacidade de
negociar uma distribuição justa dos retornos e no desenvolvimento de atividades
econômicas, com o reconhecimento do valor de sua contribuição.
O Fórum Econômico Mundial (2005) enfatiza que o empoderamento da mulher pode
ser analisado considerando cinco dimensões.
a) Participação econômica – refere-se ao número de mulheres presentes no
mercado de trabalho, contribuindo para a redução dos níveis desproporcionais
de pobreza entre elas, para o aumento da renda familiar e para desenvolver
economicamente os países;
b) Oportunidade econômica – está intrinsecamente relacionada à qualidade do
envolvimento econômico das mulheres no mercado de trabalho e à oportunidade
de carreira;
c) Avanço educacional – consiste no acesso da mulher à educação de qualidade,
contribuindo para ter avanços na carreira e acesso a cargos altos e bons
salários;
d) Saúde e bem-estar – estão relacionados ao acesso das mulheres a nutrição
adequada, a cuidados com a saúde e a facilidades produtivas, além de questões
de segurança, indispensáveis a integridade pessoal;
e) Empoderamento político − mede a presença das mulheres e dos homens em
altos níveis de tomada de decisão política, seja organizacional ou estatal;
Salienta-se que este modelo proposto pelo Fórum Econômico Mundial (2005) é mais
indicado para analisar o empoderamento de mulheres no contexto social.
3.2.1 Modelo de empoderamento feminino proposto por Melo (2012)
A concepção de empoderamento adotada nesta pesquisa foi a proposta por Melo
(2012). Segundo a autora o empoderamento da mulher
47
[...] representa um desafio às relações patriarcais nos espaços sócio
institucionais, em especial dentro da família, ao poder dominante do homem
e à manutenção dos seus privilégios de gênero. Além disso, significa uma
mudança na dominação tradicional dos homens sobre as mulheres,
garantindo-lhes a autonomia no que se refere ao controle dos seus corpos,
da sua sexualidade, do seu direito de ir e vir, bem como um rechaço ao
abuso físico, ao abandono e às decisões unilaterais masculinas que afetam
toda a família. (MELO, 2012, p. 663).
Melo (2012) propôs um modelo para analisar o empoderamento de mulheres no
contexto organizacional, a partir das dimensões de análise do empoderamento
feminino para o contexto social apresentado por Stromquist (1997), Costa (2004) e
Lisboa (2008).
O modelo de empoderamento social apresentado por Stromquist (1997) e Costa
(2004) constitui-se pelas seguintes dimensões:
a) Cognitiva − refere-se à conscientização das mulheres quanto a sua posição de
subordinação e às causas destas nos níveis micro e macro da sociedade.
Engloba também o ser e a necessidade da mulher de fazer escolhas, mesmo
contrariando as expectativas sociais e culturais (STROMQUIST, 1997; COSTA,
2004);
b) Psicológica – relaciona-se aos sentimentos desenvolvidos na mulher, os quais,
quando são colocados em prática, mudam sua condição nos âmbitos individual e
social (STROMQUIST, 1997; COSTA, 2004);
c) Política – relaciona-se à capacidade da mulher de analisar o meio circundante em
termos políticos e sociais, de organizar-se e de desencadear mudanças sociais
(STROMQUIST, 1997; COSTA, 2004);
d) Econômica − diz respeito à independência financeira da mulher. Dá suporte à
dimensão psicológica (STROMQUIST, 1997; COSTA, 2004).
Além dessas dimensões, Lisboa (2008) apresenta, na sua configuração do
empoderamento da mulher na sociedade, a dimensão social, que está relacionada
ao acesso a algumas “bases” de produção doméstica, como informação,
48
conhecimento, técnicas e recursos financeiros, além do acesso a serviços e da
capacidade de influenciar no âmbito público.
Segundo Melo (2012), o empoderamento é constituído por seis fatores:
a) Cognitivo-analítica − consiste no saber, no conhecer, no reconhecer e na
conscientização da mulher no que se refere a sua qualificação. Considera a
conscientização quanto as suas reais condições em seu contexto social. Engloba,
ainda, a capacidade e os conhecimentos como forma de progredir na carreira.
Este fator subdivide-se em: valorização da capacitação; valorização do
conhecimento; e conhecimento versus oportunidade;
b) Subjetiva – está relacionada ao empoderamento psicológico. Refere-se a suas
experiências subjetivas, as quais refletem seus sentimentos de autoconfiança,
autoestima e autodeterminação, bem como a crença na própria capacidade. Este
fator verifica a forma como a mulher decide e escolhe e, ainda, os significados
que elas atribuem a suas atividades. Subdivide-se em: significado da atividade;
competência reconhecida; autodeterminação; e impacto percebido.
Significado da atividade: valor de uma meta de trabalho, ou seja, a
percepção, a importância e o valor para a pessoa/indivíduo.
Competência reconhecida: crença na própria capacidade (ex: eu sou capaz
de fazer).
Autodeterminação: sentido de escolha sobre as atividades e o método de
trabalho. É uma escolha do indivíduo, ele se prepara, acredita que pode, ele
se autodetermina. Clima que favorece o empoderamento.
Impacto percebido: grau que o indivíduo acredita que pode contribuir e que
pode influenciar os resultados da organização. (Esse impacto pode ser
positivo ou negativo) (MELO, 2009, p. 66);
d) Política – relaciona-se ao acesso das mulheres a cargos de representação e
direção, às relações de poder mais equilibradas, à consciência das diferenças
entre gênero, à construção de alianças e estratégias para o desenvolvimento da
carreira e à busca de autonomia profissional. Este fator analisa o posicionamento
das mulheres nos cargos e nas hierarquias das empresas, a consciência delas
quanto à existência das desigualdades de gênero, as alianças e as estratégias
49
que desenvolvem para progredir na carreira profissional e ter autonomia.
Subdivide-se em: vivência das relações de poder no espaço organizacional;
percepção e consciência das diferenças entre os gêneros, reconhecimento da
mulher e acesso a informação; alianças e estratégias para a própria carreira;
autonomia; e legitimação organizacional;
e) Econômica − consiste na realização de atividades rentáveis que garantam
independência financeira, autonomia financeira e participação nas despesas da
família. Dá suporte à dimensão psicológica da mulher, ou seja, a seu
empoderamento subjetivo. Subdivide-se em: demandas e oportunidades;
independência financeira; e perspectiva de carreira;
f) Social – relaciona-se à conscientização da mulher quanto à forma como é
reconhecida em seus âmbitos familiar, social e organizacional, demonstrando
possíveis mudanças nas relações de gênero. Subdivide-se em: reconhecimento
familiar; reconhecimento social; e reconhecimento organizacional;
g) Cultural – consiste nas relações de poder presentes na sociedade. Analisa as
possíveis mudanças nas relações patriarcais, ou seja, gênero, classe social, raça,
cultura e história. Subdivide-se nas influências culturais. A entrada da mulher no
mercado de trabalho desencadeia mudanças nos aspectos culturais e nas
relações de gênero presentes na sociedade.
Com base nesse modelo de empoderamento, foi realizada uma pesquisa nos
moldes explicitados a seguir.
50
4 METODOLOGIA DE PESQUISA
Neste capítulo, descrevem-se os procedimentos metodológicos adotados para o
desenvolvimento desta pesquisa: tipo de pesquisa quanto à abordagem, tipo de
pesquisa quanto aos fins, tipo de pesquisa quanto aos meios, unidade de análise e
sujeitos da pesquisa, técnica de coleta de dados e técnica de análise de dados.
4.1 Tipo de pesquisa quanto à abordagem
Tendo em vista que o objetivo desta pesquisa foi analisar as repercussões da
graduação financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres formadas nos
cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 a 2013 em uma
IES privada mineira, na percepção das graduadas pesquisadas, considerando o
modelo de Melo (2012), verificou-se que a pesquisa qualitativa seria a mais
apropriada.
Este estudo caracteriza-se, então, como qualitativo, o qual, segundo Collis e Hussey
(2005), tem natureza mais subjetiva, analisa e reflete as percepções dos sujeitos,
buscando entender as atividades sociais e humanas, e pretende interpretar a
realidade social (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2010).
O objetivo da pesquisa qualitativa é compreender a vida dos entrevistados e de
grupos sociais específicos. Por meio dela, buscam-se dados essenciais para
desenvolver e esclarecer as relações entre os atores sociais e as situações
vivenciadas por eles, tais como crenças, atitudes, valores e motivações (GASKELL,
2010).
Segundo Creswell (2010), a pesquisa qualitativa consiste em uma investigação
interpretativa, por meio da qual os pesquisadores interpretam o que enxergam,
ouvem e entendem, sendo essas interpretações contextualizadas pelas suas
origens, história, contexto e entendimentos anteriores.
51
4.2 Tipo de pesquisa quanto aos fins
Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, que, segundo Godoy (1995) e Vergara
(2009), tem o compromisso de discriminar as particularidades de certa população ou
fenômeno. Para Collis e Hussey (2005), este tipo de pesquisa busca descrever o
comportamento dos fenômenos estudados.
Nesta pesquisa descritiva, buscou-se descrever as repercussões da graduação
financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres formadas nos cursos de
Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 e 2013 em uma IES privada
mineira.
4.3 Tipo de pesquisa quanto aos meios
Caracteriza-se como um estudo de caso, que, segundo Godoy (2006), é adotado em
situações em que o pesquisador busca explicar uma situação a partir de problemas
práticos decorrentes de situações individuais e sociais e das interações humanas.
O estudo de caso, segundo Severino (2010), é uma investigação concentrada em
um caso particular, o qual pode ser considerado representativo dentre outros
análogos.
O caso aqui estudado foi o de ex-alunas do Prouni de uma Instituição de Ensino
Superior (IES) privada localizada na cidade de Belo Horizonte que está no mercado
há 15 anos e oferece vários cursos de graduação e de pós-graduação, escolhido por
acessibilidade.
4.4 Unidade de análise e sujeitos da pesquisa
Segundo Collis e Hussey (2005, p. 73), unidade de análise “é um tipo de caso aos
quais as variáveis ou fenômenos sendo estudados se referem, e sobre o qual se
coletam e analisam os dados”. Nesta pesquisa, a unidade de análise compreendeu
as egressas de uma IES privada localizada em Belo Horizonte que estudaram por
meio do Prouni ou Prouni e FIES (Fundo de Financiamento Estudantil).
52
Sujeitos da pesquisa, de acordo com Vergara (2009, p. 47), “são os sujeitos que
fornecerão os dados de que você necessita”. No caso desta pesquisa, os sujeitos
foram 20 egressas dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito, de
uma IES privada mineira que estudaram com bolsa do Prouni integral ou bolsa
parcial (50%) e FIES entre 2009 e 2013, as quais forneceram as percepções
necessárias à concretização deste estudo.
A escolha dos cursos de graduação em Administração, Ciências Contábeis e Direito
se justificou por estarem entre os que têm maior número de vagas na IES. Pesquisar
mulheres que concluíram o curso de graduação no período entre 2009 a 2013
justifica-se pelo fato de que em 2009 formaram-se as primeiras turmas beneficiadas
pelo Prouni, pois esse programa foi institucionalizado em janeiro de 2005.
Os sujeitos desta pesquisa foram selecionados por acessibilidade, que consiste na
escolha dos sujeitos que se encontram mais próximos do pesquisador (VERGARA,
2009).
4.5 Técnica de coleta de dados
A técnica utilizada para obter os dados analisados nesta pesquisa foram as
entrevistas semiestruturadas. Por meio desta técnica, foi possível identificar a
percepção das entrevistadas quanto às repercussões da graduação financiada pelo
Prouni em seu processo de empoderamento.
A entrevista, segundo Collis e Hussey (2005), é um método que consiste em coletar
os dados a partir de perguntas formuladas aos entrevistados, a fim de descobrir o
que fazem, pensam ou sentem. A entrevista semiestruturada, segundo Godoy (2006,
p. 134), visa “compreender os significados que os entrevistados atribuem às
questões e situações relativas ao tema de interesse”.
As entrevistas foram realizadas entre 21 de outubro e 5 de novembro de 2014,
sendo realizadas até haver a saturação dos dados, a qual foi atingida com 20
entrevistas (10 formadas em Administração, 6 formadas em Ciências Contábeis e 4
formadas em Direito). A saturação consiste em um critério de finalização:
53
“investigam-se diferentes representações, apenas até que a inclusão de novos
estratos não acrescente mais nada de novo”. Assim, quando no decorrer das
entrevistas a fala das novas entrevistadas não acrescentar algo novo aos dados da
pesquisa, acredita-se não ser necessário continuar a coleta, pois outras entrevistas
podem não acrescentar novas perspectivas às que já haviam sido realizadas no
decorrer da coleta de dados (GASKELL, 2010).
O roteiro de entrevista (APÊNDICE A) foi dividido em duas partes. Na primeira,
constavam perguntas relacionadas aos dados demográficos, em que se buscou
identificar: nome, idade, estado civil, número de filhos, tipo de bolsa do Prouni,
formação acadêmica financiada pelo Prouni, formação acadêmica não financiada
pelo Prouni, profissão que exercia antes da graduação, cargo ocupado e renda
mensal das entrevistadas. Na segunda, buscou-se identificar as repercussões do
Prouni no processo de empoderamento de mulheres, cujas perguntas foram
elaboradas tendo por base o modelo de empoderamento proposto por Melo (2012).
4.6 Técnica de análise de dados
As 20 entrevistas realizadas foram analisadas por meio da técnica proposta por
Bardin (2008) denominada “Análise de conteúdo”, a qual se divide nas seguintes
fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e
interpretação.
Na fase da pré-análise, buscou-se operacionalizar e sistematizar as ideias iniciais,
de modo a deixar os dados organizados para realizar as próximas fases. Nesse
sentido, mediante a autorização das participantes, após serem informadas sobre a
natureza do estudo, as entrevistas foram gravadas, transcritas na íntegra e mantidas
em sigilo.
A fase de exploração do material requer que a pré-análise tenha sido concluída.
Realizaram-se a análise das entrevistas, as operações de codificação e a
enumeração dos dados.
54
As categorias analisadas nesta pesquisa, na fase de exploração das entrevistas,
contemplaram as facilidades e dificuldades encontradas pelas entrevistadas para
ingressar no ensino superior e os fatores do modelo de empoderamento propostos
por Melo (2012), quais sejam: fator cognitivo-analítico, subjetivo, social, econômico,
político e cultural.
Na fase de tratamento dos resultados obtidos e interpretação, os resultados foram
tratados, a fim de torná-los significativos e válidos. Tornou-se possível, a partir de
resultados significativos e fiéis, fazer inferências e adiantar interpretações, tendo em
vista os objetivos previstos ou as descobertas que emergiram na análise. Salienta-se
que os resultados obtidos podem servir de base para outras análises dispostas em
torno de novas dimensões teóricas ou praticadas com outras técnicas.
Os resultados dessa análise de dados estão dispostos no próximo capítulo.
55
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Neste capítulo, procede-se à apresentação e análise dos resultados desta pesquisa.
No primeiro momento, descreve-se o perfil das mulheres pesquisadas. Em seguida,
analisa-se o conteúdo dos depoimentos coletados, por meio de entrevistas
semiestruturadas, que visaram levantar dados sobre as dificuldades e facilidades
relacionadas à inserção no ensino superior e ao empoderamento das entrevistadas.
5.1 Caracterização do perfil dos pesquisados
As bolsistas do Prouni entrevistadas foram identificadas pela letra “E”, acompanhada
da numeração crescente, à medida que as entrevistas foram feitas. No Quadro 1,
apresentam-se alguns dados das mulheres pesquisadas.
56
Quadro 1– Perfil das bolsistas do Prouni entrevistadas
Entrev.
E1
Estado Número Tipo de bolsa Formação
Formação
civil de filhos do Prouni acadêmica acadêmica que
financiada pelo não foi
Prouni
financiada pelo
Prouni
Entre 26 a 30 anos Solteira
0
Integral Administração Engenharia Civil
E2
E3
Entre 26 a 30 anos Solteira
Até 25 anos
Casada
0
0
E4
E5
Entre 31 a 35 anos Solteira
Entre 26 a 30 anos Divorciada
0
1
E6
Entre 31 a 35 anos Solteira
0
Integral
Administração
E7
Entre 31 a 35 anos Casada
1
Integral
0
Integral
E9
União
Estável
Entre 26 a 30 anos Solteira
0
Integral
Ciências
Contábeis
Ciências
Contábeis
Direito
E10
Entre 26 a 30 anos Casada
0
Integral
Direito
Nenhuma
Solteira
0
Integral
Administração
E12
Entre 41 a 45 anos Casada
3
Parcial e FIES
Ciências
Contábeis
Arquitetura e
Urbanismo
Nenhuma
E13
Entre 26 a 30 anos Solteira
0
Integral
E14
E15
Entre 26 a 30 anos Solteira
Entre 31 a 35 anos Solteira
0
0
Integral
Integral
Solteira
0
Integral
Entre 41 a 45 anos Casada
Até 25 anos
Solteira
2
0
Integral
Integral
Solteira
0
Integral
Entre 26 a 30 anos Solteira
0
Integral
E8
E11
E16
E17
E18
E19
E20
Idade
Até 25 anos
Até 25 anos
Até 25 anos
Até 25 anos
Parcial e FIES Administração
Integral
Ciências
Contábeis
Parcial e FIES Administração
Integral Administração
Profissão que Atual cargo
exercia antes ocupado
de graduar
Não trabalhava
Gerente
Mestrado
Nenhuma
Vendedora Professora
Não trabalhava Assistente
Contábil
Nenhuma
Estoquista Desempregada
Mestrado
Auxiliar
Estudante
administrativo
Mestrado
Técnico de Coordenação
Segurança no
Trabalho
Nenhuma
Auxiliar de Técnico em
Contabilidade Contabilidade
MBA gestão Não trabalhava Analista de
financeira e
Auditoria
controladoria
Interna
Nenhuma Não trabalhava Advogada
Operador de
caixa
Estudante
Servidora
Pública
Renda mensal
De R$ 7.001,00 a R$ 10.000,00
De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
Não tem renda
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00
Advogada
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
Estudante
Não tem renda
Referência
Técnica de
Sistema
Ciências Pós-graduação Auxiliar de
Analista
Contábeis
em Auditoria
escritório
Contábil
Administração Nenhuma
Vendedora
Gerente
Ciências
Nenhuma Empreendedora Empresária
Contábeis
Administração
MBA
Encarregada Empreendedora
de loja
Direito
Nenhuma
Vendedora Desempregada
Administração Nenhuma Recepcionista Assistente
Administrativo II
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00
Não tem renda
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
Direito
Pós-graduação Não trabalhava Advogada De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
em Direito
Administração Pós-graduação Bolsista de Analista Fiscal De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00
Iniciação
Científica
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme foi discriminado no Quadro 1, quanto à faixa etária das entrevistadas,
verificou-se que 8 têm entre 26 a 30 anos; e 6, até 25 anos. Quanto ao estado civil e
ao número de filhos, constatou-se que a maioria é solteira e não possui filhos.
Quanto ao tipo de bolsa do Prouni, ao curso em que se formaram e a outra formação
57
acadêmica que possuem, identificou-se que a maioria significativa estudou com
bolsa integral do Prouni, a metade é graduada em Administração e 6 em Ciências
Contábeis e a metade possui apenas o curso de graduação e 8 possuem pósgraduação. No que se refere à profissão que exerciam antes de graduarem e depois,
verificou-se que 5 entrevistadas não trabalhavam antes de se graduarem e 3
trabalhavam como vendedoras, mas atualmente 3 são advogadas, 3 são analistas, 2
são gerentes e 2 são estudantes. A renda mensal da maioria das entrevistadas está
entre R$ 1.001,00 e R$ 3.000,00 reais e 5 entrevistadas possuem renda entre R$
3.001,00 e R$ 5.000, 00.
As mulheres pesquisadas, após concluírem o curso, passaram a ocupar outros
cargos no mercado de trabalho. Algumas galgaram cargos gerenciais, indo além
daqueles culturalmente reservados às mulheres no espaço organizacional, ou seja,
aqueles cargos de alta hierarquia organizacional, por exemplo, cargos de chefia.
5.2 Análise qualitativa: categorias e subcategorias
A partir da análise das entrevistas, tendo por base as categorias previamente
definidas para análise, surgiram algumas subcategorias, conforme discriminado no
Quadro 2.
Quadro 2 – Categorias e subcategorias do conteúdo das entrevistas
(continua)
Categoria
Dificuldades e facilidades
para inserir no ensino
superior
Dificuldades
Facilidades
Cognitivo analítico
Valorização da capacitação
Valorização do
conhecimento
Subcategoria
- Falta de recursos financeiros para arcar com os custos da
mensalidade de um curso superior, antes de ganharem a bolsa do
Prouni
- Ter tido um preparo deficiente no ensino médio público
- Conseguir boa nota no Enem e em vestibulares de universidades
federais
- Ter conseguido a bolsa do Prouni
Subcategoria
- Importância da qualificação para a vida das entrevistadas.
- Julgam necessário qualificar-se continuamente para se
desenvolverem mais, pessoal e profissionalmente.
- Os conhecimentos adquiridos na graduação provocaram mudanças
individuais e na forma das entrevistadas se posicionarem na família e
na sociedade.
58
Cognitivo analítico
Conhecimento versus
oportunidade
Subjetivo
Significado da atividade
Competência reconhecida
Autodeterminação
Impacto percebido na
organização
Político
Vivência das relações de
poder no espaço
organizacional
Percepção e consciência
das diferenças entre os
gêneros, reconhecimento da
mulher e o acesso à
informação
Alianças e estratégias para a
própria carreira
Autonomia
Legitimação organizacional
Econômico
Demandas e oportunidades
Independência financeira
Perspectiva de carreira
(continuação)
Subcategoria
- Sofrem discriminação dentro das organizações, no entanto outras
não percebem tratamentos diferenciados na atividade profissional por
serem mulheres.
- Importância dos conhecimentos adquiridos para a progressão na
carreira
Subcategoria
- O trabalho desperta sentimentos positivos nas entrevistadas.
- Não se sentem capazes de galgar qualquer cargo dentro da área de
qualificação após se graduarem.
- Sentem-se capazes de realizar atividades ligadas ao atual cargo
com as experiências, os conhecimentos e as habilidades adquiridas
na graduação.
- A graduação não favoreceu o desenvolvimento de elevada
autoestima e segurança pessoal nas entrevistadas.
- Têm a pretensão de passar em concurso público.
- Pretendem trabalhar por conta própria.
- Pretendem continuar se qualificando em busca de outras
possibilidades de trabalho dentro de sua área de qualificação.
- Reconhecimento organizacional positivo das entrevistadas pelo
trabalho que desenvolvem
Subcategoria
- O poder é centralizado em poucas pessoas onde trabalham.
- As entrevistadas estão na subordinação onde trabalham.
- Persistem algumas desigualdades de gênero no ambiente
organizacional.
- A mulher tem que ser determinada, qualificar-se, saber liderar, ser
dinâmica, ter postura firme e deve ter bons relacionamentos com as
outras pessoas.
- Têm acesso essas informações onde trabalham, mas não participam
da tomada de decisão.
- Julga importante estabelecer alianças e estratégias para se
desenvolver profissionalmente.
- Possuem autonomia apenas no que tange a sua função dentro da
empresa.
- Os homens possuem mais oportunidades do que as mulheres no
ambiente de trabalho.
Subcategoria
- Os problemas financeiros que enfrentaram, mobilizaram as
entrevistadas a tentar mudar a própria realidade.
- Contribuição da graduação para as entrevistadas adentrarem no
mercado de trabalho, galgar outros cargos e obterem melhorias
salariais.
- A graduação ajuda reduzir alguns bloqueios enfrentados pelas
entrevistadas para se inserirem no mercado de trabalho.
- Trabalham para se tornar independentes financeiramente.
- Ainda não se sentem realizadas economicamente.
- A graduação foi fator decisivo para suas perspectivas no campo
profissional, como entrar no mercado de trabalho, galgar outros
cargos e obter melhoria salarial.
59
Social
Reconhecimento familiar
Reconhecimento social
Reconhecimento
organizacional
Cultural
Influências culturais
(conclusão)
Subcategoria
- O pai é a principal figura de autoridade dentro da família.
- A graduação contribuiu para a capacidade das entrevistadas de
discutir situações cotidianas.
- As entrevistadas sentiram-se reconhecidas positivamente pelo seu
grupo social, após se graduarem.
- Homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades
econômicas, políticas e sociais na sociedade.
- São reconhecidas positivamente por parte da organização que
trabalham.
Subcategoria
- As entrevistadas tiveram maior influência feminina do que masculina
no decorrer de sua vida.
- A graduação contribuiu para as relações sociais e culturais das
entrevistadas.
- A graduação contribui para reduzir os tratamentos desiguais entre
homens e mulheres na sociedade.
Fonte: Dados da pesquisa
Para facilitar a compreensão, cada uma das categorias será analisada de forma
detalhada a seguir, levando-se em consideração suas subcategorias.
5.2.1 Dificuldades e facilidades encontradas para ingressarem no ensino
superior
Durante o percurso em busca de se qualificarem por meio de um curso superior, as
entrevistadas encontraram dificultadores e facilitadores, conforme discriminado,
respectivamente, na TAB. 1 e na TAB. 2.
A partir dos dados disponíveis na TAB. 1, verifica-se que a principal dificuldade
encontrada pela maioria das entrevistadas para ingressar em um curso superior está
relacionada à falta de recursos financeiros para arcar com as despesas,
principalmente
a
mensalidade.
Constatou-se,
ainda,
que
as
entrevistadas
perceberam outros dificultadores, como ter tido um preparo deficiente no ensino
médio público (40%). Isso afetou diretamente o desempenho delas nos vestibulares
de IES federais e no Enem (40%), pois não conseguiam boas notas, de forma que
fizeram várias vezes esses testes. Duas apontaram como dificultador o fato de terem
que conciliar trabalho e estudo. Uma apontou a falta de apoio do marido e outra se
sentia discriminada por ser nova.
60
Tabela 1 – Dificuldades encontradas para ingressar no ensino superior
Item discriminado
%
60
Não ter recursos financeiros para arcar despesas, principalmente com as mensalidades
40
Ter tido um preparo deficiente no segundo grau público
40
Conseguir boa nota no Enem e em vestibulares de universidades federais
30
Não encontrou nenhuma dificuldade para ingressar no ensino superior
10
Conciliar trabalho e estudo
5
Não ter tido apoio do marido
5
Sentiu-se discriminada por ser nova
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Os dados explicitados na TAB. 1 podem ser confirmados pelos fragmentos das falas
das entrevistadas:
As dificuldades sempre foram baseadas em fatores financeiros, já que meus
pais não possuíam situação financeira boa e os custos de vida em Belo
Horizonte eram muito maiores que no interior.[...]. (E1)
[...] fiz vestibular três vezes. Não. Três não; quatro vezes. Na Federal, e fui
reprovada. Então, não tive, assim, né... Eu vim de um ensino público. Não
tive a oportunidade de fazer um cursinho, né. (E2)
[...] existiam muitas dificuldades pra mim. A primeira delas é a questão
financeira, porque não possuía um rendimento que pudesse pagar os meus
estudos. [...]. (E5)
[...] Bom, no primeiro momento eu não tinha condição, né, de cursar uma
faculdade. Só que eu fiz uma prova do Enem. Não foi uma vez, foi umas
três vezes que eu fiz a prova, e aí eu passei na prova, que eu não achei
nem um pouco fácil, e aí comecei a cursar a faculdade. (E6)
[...] foi mais a financeira mesmo. Eu tinha dificuldade financeira. [...] (E15)
[...]. Então, seria essa assim. Na verdade, é, não só a prova em questão,
que foi uma dificuldade, mas também né, o tanto de papelada aí que eles
pedem na hora, no momento que você vai fazer a matricula, e tudo
direitinho, para dar tudo certo [...]. (E6)
A questão financeira pode ser considerada um dificultador encontrado pelas
entrevistadas para ingressar no ensino superior, uma vez que elas mencionaram
que eram oriundas de famílias de baixa renda, estando sujeitas ao precário
orçamento financeiro familiar. Pode-se dizer também que vivenciaram outra
dificuldade, relacionada ao fato de terem realizado o ensino médio em escolas
públicas, caracterizadas por um ensino deficiente, o que dificultou a entrada delas no
ensino superior. Então, as principais dificuldades encontradas pelas entrevistadas
61
para
adentrarem
no
ensino
superior são
decorrentes das
desigualdades
econômicas, sociais e culturais presentes na sociedade.
De acordo com os dados da TAB. 2, o principal facilitador encontrado pela maioria
das entrevistadas para adentrar no ensino superior foi o fato de terem conseguido a
bolsa do Prouni, já que a maioria não tinha boas condições financeiras para investir
em educação, enquanto outras não conseguiam adentrar no ensino superior público
devido à defasagem no conhecimento que tinham, por terem estudado em
instituições públicas de baixa qualidade. Para 20% das entrevistadas o principal
facilitador encontrado foi o Enem. Segundo elas, era mais fácil do que outros
vestibulares,
enquanto
outras
entrevistadas
ressaltaram
que
não
tiveram
facilitadores.
Tabela 2 – Facilidades encontradas para ingressar no ensino superior
Item discriminado
%
Ter conseguido a bolsa do Prouni
60
ENEM
20
Não foi muito fácil ingressar no Ensino Superior
15
Ter aumentado o número de faculdades na época
5
Ter sido sonho de criança graduar
5
Ter recebido ajuda de outras pessoas
5
Não ter sido necessário fazer vestibular para as instituições de ensino federais
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme relatos a seguir, segundo as entrevistadas:
[...] as principais facilidades que eu encontrei, com certeza, estão
relacionadas ao Prouni, pois eu não tinha condições financeiras de pagar os
meus estudos. E aí veio esse programa, e eu vi a oportunidade de estudar,
estudar, assim, me graduar. Sempre foi meu sonho desde criança. Eu
sempre gostei muito de ler, de estudar e eu nunca quis parar de estudar.
[...]. (E5)
Com o Prouni ficou mais fácil para ingressar na faculdade através das
provas do Enem, que foi o meu caso. [...] (E7)
No caso, foi a bolsa do Prouni. O Enem que foi um facilitador [...] (E14)
A facilidade que eu encontrei para ingressar no Ensino Superior foi a bolsa
do Prouni. [...]. (E18)
Na verdade, eu não encontrei facilidade nenhuma. Bom, no primeiro
momento eu não tinha condição, né, de cursar uma faculdade. Só que eu fiz
uma prova do Enem. Não foi uma vez, foi umas três vezes que eu fiz a
62
prova, e aí eu passei na prova, que eu não achei nem um pouco fácil, e aí
comecei a cursar a faculdade. [...]. (E6)
Os depoimentos das entrevistadas revelaram que a maioria delas não encontrou
muitas facilidades para ingressar no ensino superior. Elas enfrentaram, além das
desigualdades de renda, dificuldades relacionadas à preparação educacional que
tiveram no ensino médio. Ressaltaram que o principal facilitador encontrado para
ingressar no ensino superior foi o fato de terem conseguido a bolsa do Prouni, por
meio da qual tiveram a chance de se qualificarem em uma IES privada, mesmo com
a defasagem educacional que tiveram, sem dispêndios financeiros com as
mensalidades do curso.
Segundo Bourdieu (2007, p. 130), as mulheres possuem experiências específicas
que as aproximam: “estão separadas dos homens por um coeficiente simbólico
negativo”, a dominação masculina. No entanto, também se encontram separadas
umas das outras por algumas diferenças econômicas e culturais, como acontece
com as entrevistadas. Esses contextos diferentes em que estão inseridas
influenciam sua forma subjetiva e objetiva de perceber e vivenciar a dominação
masculina e empoderar-se.
Pode-se dizer que, além das desigualdades de gênero, a vida das mulheres
pesquisadas é afetada negativamente pelas dificuldades financeiras, educacionais e
culturais, às quais estavam sujeitas ao longo de suas vidas, o que pode dificultar
ainda mais seu processo de empoderamento.
5.2.2 Cognitivo analítico
Este fator refere-se ao saber, ao conhecer, ao reconhecer e à conscientização da
mulher no que se refere a sua qualificação. Conscientização quanto a suas reais
condições em seu contexto social e à capacidade e aos conhecimentos, como forma
de progredir na carreira (MELO, 2012).
Neste fator, foram analisados os aspectos referentes a valorização da capacitação,
valorização do conhecimento e conhecimento versus oportunidade pela própria
pesquisada.
63
5.2.2.1 Valorização da capacitação
A análise dos depoimentos coletados revelou que os principais aspectos que
caracterizam a valorização da capacitação referem-se à importância da qualificação
para a vida das entrevistadas e àquilo que elas julgam necessário investir em
capacitação continuamente após a graduação, para se desenvolverem ainda mais,
pessoal e profissionalmente.
No que se refere à valorização da capacitação, verificou-se que a maioria
significativa das entrevistadas reconhece a importância da graduação que fizeram
para a própria vida (75%), passando a sentir-se mais qualificadas, conscientizandose de que apenas a graduação não é suficiente, sendo preciso estudar mais para
continuar a se desenvolver pessoal e profissionalmente. Algumas entrevistadas
passaram a se sentir mais qualificadas para exercer suas atividades profissionais.
Outras se sentiram mais confiantes, realizadas, sentindo-se que se tornaram
diferenciadas, com mais conhecimentos, aptas a estarem entre as pessoas
qualificadas. Além disso, serviram de incentivo para outras pessoas estudarem (5%),
conforme dados da TAB. 3.
Tabela 3 – Sentimento despertado nas entrevistadas ao graduarem-se
Item discriminado
%
Sente-se melhor em termos de qualificação.
75
Sente-se melhor qualificadas para exercer suas atividades profissionais.
25
Sente-se mais confiante.
10
Sente-se realizada.
10
Percebeu que têm coisas que não se aprende na graduação.
10
Constatou que as IES precisam aliar os conteúdos a prática.
10
Sente-se insegura para assumir algumas atividades profissionais.
10
Acredita que adquiriu muitos conhecimentos.
5
Sente-se frustrada por não conseguir emprego.
5
Consegue estar entre as pessoas qualificadas.
5
Tornou-se diferenciada.
5
Tornou-se um incentivo para outras pessoas estudarem.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Observa-se, ainda, na TAB. 3 que duas entrevistadas ressaltaram que não
aprenderam muito na graduação, o que, em alguns casos, despertou sentimento de
insegurança quanto à realização de algumas atividades profissionais. Uma
64
entrevistada se sentiu frustrada por não conseguir emprego. Acredita que as IES
devem aliar os conteúdos às atividades práticas do mercado de trabalho.
Verifica-se que a maioria das entrevistadas percebeu mudanças em seu próprio
saber após se capacitarem e se graduarem. Também, perceberam ser importante
qualificarem-se continuamente, conforme se verifica nos relatos a seguir:
[...] eu me sinto mais segura! Eu percebo que hoje eu tenho uma
qualificação, que se eu participar de um processo seletivo de empresa eu
saio na frente por causa da faculdade. [...]. Segura, confiante, com certeza!
Hoje, eu não tenho medo, por exemplo, de perder o emprego. Eu sei que eu
não vou ficar desempregada. Eu tenho essa confiança. (E6)
[...]. mudou bastante como pessoa, sabe, porque no ensino médio você tá
ali. Eu saí direto do ensino médio pra faculdade. Então, assim, no ensino
médio você tá ali praticamente obrigado, e na faculdade, não. Na faculdade,
estuda quem quer, está quem quer. Me trouxe muita responsabilidade
nesse sentido, sabe, porque só depende de mim [...]. (E8)
No começo, me senti insegura. A prática é diferente. E se você não tiver
uma boa formação, acaba passando vergonha. Tinha feito estágios e
ajudou muito. Me considero uma boa advogada. Mas a gente só aprende de
verdade fazendo. (E10)
Verifica-se a partir dos dados expostos que a graduação desencadeia mudanças
nos âmbitos profissional e individual das mulheres pesquisadas. Dessa forma, podese dizer que a educação, conforme salientam alguns autores (SANTOSH, 2013;
RAJANKAR, 2013), contribui para o empoderamento de mulheres. De acordo com
os dados apresentados na TAB. 3, a qualificação está possibilitando às mulheres
ocuparem outros espaços nas organizações e saírem de uma posição de
vitimização, conforme salientou a E8.
Com base nos resultados apresentados na TAB. 4, percebe-se que a maioria das
entrevistadas continua estudando e se capacitando após a graduação, que algumas
fizeram pós-graduação lato sensu, que duas fazem mestrado e que duas optaram
por fazer uma segunda graduação e cursos preparatórios para concursos públicos.
De outro lado, algumas relataram que não estão fazendo nenhum curso de
qualificação. Destas, duas manifestaram o desejo de fazer pós-graduação, uma
pretende ingressar no mestrado e outra no doutorado, no intuito de aperfeiçoar e
aumentar seus conhecimentos dentro na área de atuação.
65
Tabela 4 – Educação continuada
Item discriminado
%
Continua se qualificando
55
Não continua estudando
40
Fez pós-graduação lato sensu
25
Faz mestrado
10
Faz outra graduação
10
Faz cursos preparatórios para concurso público
10
Pretende fazer pós-graduação na área de atuação
10
Pretende fazer mestrado
5
Pretende fazer doutorado
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Verifica-se que o desejo de qualificação contínua está presente no grupo
pesquisado. Os extratos a seguir ilustram a percepção das entrevistadas no que se
refere à valorização da capacitação:
Estou cursando Engenharia Civil para aprimorar meus conhecimentos
técnicos, já que meu trabalho é desenvolvido juntamente com engenheiros.
(E1)
Continuo. Eu continuo fazendo curso sempre para aperfeiçoar, tipo pósgraduação, curso de atualização jurídica, sempre cursos relacionados na
área do Direito. [...]. (E9)
[...] se você quer adquirir um conhecimento maior, você não pode parar, né.
Minha mãe acha até que eu sou doida, porque eu não paro de estudar:
“Menina, para de estudar!” (E11)
Sim, continuo. Fiz pós, eu fiz curso. Lá na empresa oferece curso. Eu faço
os cursos que estão lá. Eu fiz pós, fiz alguns cursos por conta própria
mesmo que eu queria fazer, tipo CPA, que eu tinha que fazer porque banco
exige. Aí eu fui e fiz. Exige assim, né. Não exige, é bom ter. Aí, eu vou
fazendo. (E20)
Constatou-se a partir dos relatos das entrevistadas que elas reconhecem a
importância da graduação para sua vida e que precisam continuar estudando e se
capacitando para se desenvolverem profissional e pessoalmente, tanto que a
maioria está fazendo algum curso de qualificação. Aquelas que ainda não fazem,
indicaram o desejo de fazer em breve.
Pode-se inferir diante desses achados que a capacitação das entrevistadas por meio
da graduação contribuiu para a trajetória profissional delas, o que pode ter
conscientizado estas mulheres quanto à necessidade de se
qualificarem
continuamente, para reduzir outras barreiras tradicionalmente impostas a elas.
66
Segundo Bourdieu (2007), melhorar os níveis educacionais das mulheres é uma das
melhores maneiras de modificar sua condição na sociedade. Decorreram daí
alterações em seu posicionamento no seio familiar e social, assim como na forma de
enxergar a si mesmas nesses contextos.
Esses achados corroboram as ideias apresentadas pelo Fórum Econômico Mundial
(2005), Louro (2011), Santosh (2013) e Rajankar (2013) ao afirmarem que por meio
da educação as ideias produzidas, reproduzidas e incorporadas socialmente sobre
os sexos podem ser alteradas. Nota-se que, ao se qualificarem, as entrevistadas
passaram a se sentir um pouco mais confiantes e realizadas tanto individualmente
quanto no contexto profissional.
5.2.2.2 Valorização do conhecimento
Dos relatos das entrevistadas emergiram as seguintes subcategorias características
da valorização do conhecimento: os conhecimentos adquiridos na graduação
provocaram mudanças individuais; e, também, na forma de se posicionar na família
e na sociedade.
No que tange às mudanças ocasionadas pelos conhecimentos adquiridos na
graduação, a maioria significativa das entrevistadas (85%) relatou que os
conhecimentos provocaram mudanças na forma de se posicionar diante da própria
vida, nos âmbitos individual, familiar e social. Segundo essas entrevistadas, os
conhecimentos provocaram mudanças individuais e alteraram sua percepção em
relação a si mesmas. Elas se sentiram valorizadas e em uma posição privilegiada.
Nos âmbitos familiar e social, passaram a questionar os comportamentos dos
maridos, a ajudar as pessoas com o conhecimento que adquiriram, a opinar, a
incentivar os filhos a estudarem, a se sentirem aceitas e respeitadas no grupo social
e se tornarem independentes financeiramente.
Para algumas entrevistadas, os conhecimentos adquiridos por meio da graduação
aumentaram sua bagagem intelectual; para outras, alteraram sua visão e seu ponto
de vista a respeito de determinados assuntos; para 20%, ampliaram suas
perspectivas de vida; para 20%, mudaram completamente a sua vida; para 20%
67
contribuíram para o crescimento pessoal; e para 20% amadurecimento. Algumas
entrevistadas passaram a se sentirem mais confiantes e a definir a própria vida,
perspectivas e sonhos. Duas mobilizaram-se em prol de seus desejos e passaram a
ter autoestima elevada, conforme detalhado na TAB. 5.
Tabela 5 – Importância dos conhecimentos adquiridos para a vida pessoal
Item discriminado
Mudou a forma das entrevistadas de se posicionarem em âmbito individual, familiar e social.
Aumentou a bagagem intelectual.
Modificou a visão e o ponto de vista sobre determinados assuntos.
Ampliou as perspectivas de vida das entrevistadas.
Mudou completamente a vida das entrevistadas.
Contribuiu para o crescimento pessoal.
Fez com que amadurecessem.
Sente-se mais confiante.
Contribuiu para definir a vida, perspectiva e sonhos.
Passou a correr atrás de suas coisas.
Tem autoestima elevada.
Não houve mudanças na vida pessoal.
Sente-se frustrada por não conseguir emprego.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
%
85
40
35
20
20
20
20
15
10
10
10
5
5
mais
As entrevistadas consideram os conhecimentos adquiridos fundamentais para
começarem a posicionar-se diante da própria vida, da família e da sociedade,
conforme fragmentos das falas das entrevistadas a seguir:
Todo e qualquer tipo de conhecimento sempre é de grande importância
para as definições de nossas vidas, perspectivas e sonhos. (E1)
A inserção em grupos de pessoas antes “fechados”, uma outra visão para
vida. Ampliou os horizontes. (E4)
Nossa!!! Mudaram completamente a minha vida. É uma mudança que
acontece de dentro pra fora, entende? A minha maneira de enxergar o
mundo mudou completamente, a forma de me posicionar frente a tantas
questões da minha vida, tanto no nível individual quanto no convívio com as
outras pessoas. Eu passei a me sentir mais aceita e respeitada [...] dentro
do meu grupo social, dos meus amigos, da igreja que eu frequentava na
época. [...] mas essa questão da minha percepção em relação a mim
mesma mudou muito. Eu passei a me sentir mais....é...mais valorizada...Eu
acho que é isso. [...] antes eu achava que eu tinha que aceitar determinados
comportamentos do meu marido, e depois eu comecei a questionar e a não
aceitar, porque me fazia mal e eu não me sentia mais na obrigação de
aceitar, entende? (E5)
Bom, acho que ampliaram muito a minha visão. Eu sempre trabalhei assim.
Comecei a trabalhar com 14 anos, né, fora. Eu trabalhava com [...]
antigamente, assim, eu comecei como menor aprendiz, né. Então, eu acho
que eu tive uma experiência muito bacana profissional por trabalhar em
áreas diferentes, coisas diferentes, mas acho que eu precisava ter uma
68
parte teórica. Claro que todo mundo necessita para poder entender,
compreender melhor a realidade, né [...]. (E2)
As mudanças desencadeadas pelo aumento do conhecimento no posicionamento
das entrevistadas em relação a si mesmas e frente ao seu grupo social refletem as
repercussões do aumento dos conhecimentos e da qualificação no processo de
empoderamento de mulheres.
Os dados desta pesquisa confirmam a perspectiva de empoderamento proposto por
Deere e León (2002), ao enfatizarem que ele está relacionado à conquista do
controle sobre a própria vida, com a possibilidade de fazer escolhas segundo a sua
própria vontade, em um contexto que apenas aos homens era conferido esse direito.
Pode-se dizer também que assumiu o sentido de emancipação, que trata da
conquista do controle e da busca pelos próprios interesses.
5.2.2.3 Conhecimento versus oportunidade
Dos relatos das entrevistadas emergiram as seguintes subcategorias características
do conhecimento versus oportunidade: algumas entrevistadas sofrem discriminação
dentro das organizações; outras não percebem tratamentos diferenciados na
atividade profissional por serem mulheres; e há aquelas que percebem a importância
dos conhecimentos adquiridos para a progressão carreira.
Para 15% das entrevistadas as mulheres ainda recebem tratamentos diferenciados
dentro das organizações em que trabalham pelo fato de serem mulheres; para 15%,
os homens possuem maiores chances no mercado de trabalho do que as mulheres;
para duas, existem no mercado de trabalho áreas predominantemente masculinas;
para duas, existem diferenças salariais entre homens e mulheres para os mesmos
cargos; para duas, há discriminação pelo fato de terem filho; e para duas, a
capacidade das mulheres é testada o tempo todo, conforme apresentado na TAB. 6.
Das entrevistadas, duas ressaltaram que por serem mulheres sofrem muita pressão
no trabalho, são discriminadas independente do conhecimento que possuem, sofrem
69
assédio sexual e moral, possuem menor confiança dos clientes e são percebidas
como frágeis. Citaram, também, que os homens tentam se impor perante elas.
Tabela 6 – Desigualdades de gênero no ambiente de trabalho
Item discriminado
As entrevistadas ainda sofrem discriminação.
O conhecimento que as pessoas possuem é mais importante do que ser homem ou mulher.
Os homens possuem mais chances no mercado de trabalho.
A mulher ainda sofre em algumas áreas que são essencialmente masculinas.
Existem diferenças salariais.
Ter filhos talvez faça diferença para as mulheres.
Testa a capacidade da mulher o tempo todo.
Em serviços que requerem atenção, a mulher pode ter melhores desempenhos.
Em algumas áreas, ser nova atrapalha mais do que ser mulher.
As clientes preferem ser atendidas por mulheres.
Ser mulher tem benefícios.
A mulher tem algumas habilidades e comportamentos melhores do que os homens.
Onde trabalhou sempre tiveram mais mulheres do que homens em cargos altos.
Ser mulher em algumas circunstâncias ajuda e em outras atrapalha.
Mulher passa mais confiabilidade para o juiz do que homem.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
%
15
15
15
10
10
10
10
10
10
10
5
5
5
5
5
mais
A TAB. 6 mostra que duas entrevistadas salientaram que em determinados serviços
que requerem atenção a mulher pode ter melhores desempenhos; duas, que
algumas clientes preferem ser atendidas por mulheres em detrimento dos homens;
5%, que ser mulher tem benefícios; 5%, que possuem algumas habilidades e
comportamentos melhores do que os homens; 5%, que onde trabalham a maioria
dos cargos de chefia é ocupada por mulheres; 5%, que ser mulher às vezes ajuda e
em outras atrapalha; e 5%, que a mulher passa mais confiabilidade para os juízes.
Há entrevistadas que não percebem tratamentos diferenciados na atividade
profissional por serem mulheres. Algumas ressaltaram que no ambiente de trabalho
consideram como importante o conhecimento que as pessoas possuem, e não o fato
de ser homem ou mulher; e duas enfatizaram que ser nova na função que
desempenha atrapalha mais que ser mulher, conforme TAB. 6.
Os dados descritos na TAB. 6 são demonstrados nos relatos a seguir:
Nestes oito anos de trabalho, sempre percebi nitidamente a dificuldade que
temos para conseguirmos nos destacar e provar nossa capacidade para o
mercado. Sempre foi notório que os homens têm mais facilidade e aceitação
no mercado de trabalho. Por estar trabalhando no mercado de construção
70
civil há sete anos, este fato é ainda mais forte, por ser uma área
predominantemente masculina. [...]. (E1)
Bom, faz. Eu acho que, apesar da gente ter avançado muito, né, no
mercado, nós ainda temos, ainda sofremos em algumas áreas que são
essencialmente masculinas ainda, a gente ainda sofre muita pressão,
discriminação [...]. (E2)
Sim, eu percebo muito diferença, principalmente dentro de sala de aula. A
gente que é mulher sofre muitos preconceitos pelos alunos. Eles ficam
provando a sua capacidade o tempo todo, te testando mesmo, sabe? E uma
coisa muito difícil também é o assédio moral e sexual que a mulher sofre,
principalmente dentro de sala de aula, né? É difícil lidar com isso, escutar
alguns tipos de comentários preconceituosos, maliciosos... É muito
desagradável. (E5)
Principalmente, quando você nega alguma coisa, eles querem se impor,
principalmente homem quer se impor por eu ser mulher. Começa a querer
falar mais alto para tentar intimidar. [...] eles acham que por ser mulher e
frágil eu vou aumentar o tom de voz que eu consigo o que eu quero. (E12)
Verificou-se, ainda, que existem tratamentos diferenciados para homens e mulheres,
característicos de uma sociedade patriarcal nas organizações em que trabalham.
Existem diferenças salariais, áreas predominantemente masculinas e menores
chances de crescer na hierarquia da organização para as mulheres em relação aos
homens. Estes resultados corroboram a proposição feita por Amaral (2012) ao
salientar que, mesmo conquistando novos papéis, como a inserção no mercado de
trabalho, ainda se atribui às mulheres papéis tradicionais de gênero.
O percentual de entrevistadas que ressaltaram que não percebem diferenças de
tratamento entre homens e mulheres onde trabalham ficou próximo do das
entrevistadas que percebem discriminações de gênero. Os argumentos utilizados
pelas entrevistadas para neutralizar as desigualdades de gênero no trabalho foram
as mesmas apontadas por Rosa (2003), Maruani e Hirata (2003). Segundo as
autoras, as mulheres inicialmente justificavam sua entrada no mercado de trabalho
salientando os conhecimentos adquiridos por meio da graduação, tentando
neutralizar a condição feminina nas relações de gênero. Posteriormente, elas
justificam sua presença no mercado de trabalho ressaltando suas competências
femininas, na tentativa de neutralizar sua condição feminina no mercado de trabalho.
As justificativas utilizadas pelas entrevistadas para adentrar no mercado de trabalho
podem ser percebidas nos relatos a seguir:
71
[...] minha capacidade vem do meu conhecimento, e não do meu gênero.
(E3)
[...] Eu acho que as relações são idênticas, até porque, pelo menos na
minha área, é o conhecimento que você vai ser avaliada através do
conhecimento, não porque você é homem ou mulher. (E9)
Para as entrevistadas que não percebem desigualdade de tratamento entre homens
e mulheres nas organizações em que trabalham o que importa no trabalho são os
conhecimentos e a capacitação de uma pessoa, e não o gênero dela.
Os dados da TAB. 7 ressaltam a importância dos conhecimentos adquiridos na
graduação para a progressão na carreira, pois após se graduarem a maioria das
mulheres entrevistadas teve melhores oportunidades profissionais; algumas
adquiriram conhecimentos sobre várias áreas dentro da Administração de
Empresas; outras sentiram-se mais competentes para realizar suas tarefas no
trabalho; e três tornaram-se mais capaz intelectualmente.
Para algumas entrevistadas, contribuiu para ter melhorias financeiras, para se
sentirem mais aceitas, mais respeitadas, mais confiantes no ambiente de trabalho e
ter uma melhor postura profissional. Segundo uma, não houve mudança na sua vida
profissional; e para outra não precisaria ter um curso superior para ter sucesso
profissional, conforme apresentado na TAB. 7.
Tabela 7 – Importância dos conhecimentos adquiridos para a vida profissional
Item discriminado
%
Contribuiu para ter melhores oportunidades profissionais.
65
Entende sobre várias áreas dentro da Administração de Empresas.
30
Sente-se mais competente para realizar as tarefas no trabalho.
25
Tornou-se mais capaz intelectualmente.
15
Teve melhorias financeiras.
5
Sentiu-se mais aceita dentro do ambiente de trabalho.
5
Sentiu-se mais respeitada dentro do ambiente de trabalho.
5
Sentiu-se mais segura.
5
Melhorou a postura profissional.
5
Percebeu que eu não precisaria de um curso superior para ter sucesso profissional.
5
Não houve grandes mudanças, pois não conseguiu nenhum emprego nessa área.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
72
A partir desses resultados, pode-se dizer que o aumento dos conhecimentos das
mulheres entrevistadas ampliou suas oportunidades de avançar na carreira. Isso
representa um avanço para a posição delas no espaço organizacional, tendo em
vista as desigualdades de gênero a que estão sujeitas, e no âmbito educacional,
pois tiveram uma deficiente formação nos ensinos fundamental e médio.
A importância dos conhecimentos adquiridos por meio da qualificação na vida
profissional das entrevistadas pode ser comprovada pelos seguintes relatos:
Sem dúvidas o curso me permitiu um conhecimento amplo de todas as
áreas da Administração de Empresas, abrindo a minha cabeça para as
tantas perspectivas e diferentes oportunidades dentro da área. Os
conhecimentos adquiridos me deram uma base para o início da minha vida
profissional. [...]. (E1)
Bom, mudaram radicalmente, porque a partir do momento que eu entrei na
faculdade, que eu comecei... Ah! Não foi literalmente a partir do momento
que eu entrei, mas depois que eu entrei comecei a ter oportunidades
melhores profissionais, né. Comecei a pegar estágios em áreas que antes
da graduação eu não poderia. Antes de ter entrado no curso, eu não
poderia ter pego, né, e tive boas oportunidades a partir mesmo do curso.
Então, para mim foi extremamente importante. (E2)
Através dos estudos que consegui meu atual cargo [...]. (E3)
Minha carreira é uma crescente até hoje. Eu não trabalhava. Trabalhava
fazendo bico, e tudo. Aí, quando eu entrei aqui, eu já comecei a fazer
estágio. Só que o salário do estágio também não estava dando. Aí, eu
consegui um emprego numa empresa pequena [...]. [...] Então, eu acredito
que a minha carreira vai continuar sendo uma crescente, porque eu busco,
eu procuro. Não parei ainda, né, mas o benefício que trouxe para mim foi
esse. [...]. (E8)
[...] durante o curso mesmo eu consegui um emprego na área com um
salário melhor do que antes, né, de quando eu comecei a estudar. (E13)
Constata-se que os conhecimentos que as entrevistadas adquiriram na graduação
contribuíram para minimizar as dificuldades básicas que elas enfrentavam: a de
formação, pois cursaram o ensino médio em colégios públicos com ensino
deficitário; e ainda, a financeira que vivenciaram no seio familiar. Dessa forma,
conforme salientado por Bourdieu (2007), a educação é um propulsor de mudanças
na vida das mulheres e, principalmente, de seu empoderamento em vários âmbitos
da vida: educacional, profissional, individual, econômico e social. Conforme
salientam Cyrino (2009) e Amaral (2012), as mulheres estão gradativamente
conquistando espaço na sociedade.
73
Em síntese, a análise do empoderamento cognitivo analítico (MELO, 2012) das
mulheres entrevistadas apresentou as seguintes contribuições:
a) Em relação à valorização da capacitação, houve mudanças na qualificação das
entrevistadas após se graduarem. Elas sentem-se melhores nesse sentido, pois
tiveram consciência da importância da qualificação continuada para sua vida,
tanto que fazem outros cursos ou, ainda, manifestaram o desejo de fazer;
b) Quanto à valorização do conhecimento, os conhecimentos adquiridos na
graduação desencadearam a consciência nas entrevistadas quanto a sua
realidade e modificaram a forma de se posicionarem socialmente;
c) No que tange aos conhecimentos versus oportunidades, as entrevistadas tiveram
melhores perspectivas de carreira após se qualificarem. Constatou-se que ainda
persistem desigualdades de gênero no ambiente de trabalho: diferença salarial
entre homens e mulheres para os mesmos cargos e áreas predominantemente
masculinas. Segundo Bourdieu (2007), essas desigualdades refletem a
dominação masculina e a desvalorização da mulher ainda presente nesse
ambiente.
Tendo em vista os resultados explicitados nas tabelas, bem como os estratos das
entrevistas analisadas por meio do fator cognitivo analítico (MELO, 2012), pode-se
inferir que as mulheres entrevistadas empoderaram, pois, ao investirem em
capacitação, obtiveram mudanças significativas na qualificação e na vida profissional
e pessoal. De modo geral, a educação pode ter contribuído para que as
entrevistadas tivessem maiores possibilidades de progredir na carreira
e
conscientização da sua real condição na sociedade e das relações de gênero.
5.2.3 Subjetivo
Neste fator, analisam-se os aspectos referentes ao empoderamento psicológico das
mulheres entrevistadas. Trata-se das experiências subjetivas, as quais se refletem
em seus sentimentos, como autoconfiança, autoestima, autodeterminação, e na
crença na própria capacidade. Verifica-se a forma como a mulher decide e faz suas
74
escolhas e, ainda, os significados que elas atribuem a suas atividades (MELO,
2012).
Neste fator, foram analisados os aspectos referentes ao significado da atividade, da
competência reconhecida, da autodeterminação e de seus impactos na percepção
das entrevistadas.
5.2.3.1 Significado da atividade
A partir dos relatos das entrevistadas emergiu uma subcategoria característica do
significado
da
atividade:
o
trabalho
desperta
sentimentos
positivos
nas
entrevistadas.
A TAB. 8 apresenta os dados referentes aos sentimentos que o trabalho desperta
nas entrevistadas. Verificou-se que o trabalho desperta sentimentos positivos na
maioria significativa das entrevistadas (70%), segundo elas o trabalho representa
uma atividade prazerosa, desperta sentimento de felicidade, de realização e de
dignidade. Para algumas, representa a base para outras conquistas pessoais; para
três, representa crescimento profissional; e para outras três, desperta sentimentos
negativos, conforme discriminado na TAB. 8.
Tabela 8 – Significado da atividade profissional para as entrevistadas
Item discriminado
%
Desperta sentimentos positivos.
70%
É a base para outras conquistas pessoais.
25%
Representa crescimento profissional.
15%
Desperta sentimentos negativos.
15%
Não respondeu
5%
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
A
atividade
profissional das entrevistadas
reflete
nos
sentimentos
delas.
Despertando o sentimento de realização, conforme ressaltaram algumas mulheres
pesquisadas:
Minha atividade profissional me faz muito feliz e realizada, permitindo aliar a
gestão com a parte técnico-comercial, o que me agrada muito. (E1)
75
Além de ser relevante financeiramente, me faz sentir realizada. (E3)
Gosto da minha profissão. Tenho prazer do que faço. (E7)
Eu gosto de trabalhar, e a área que eu estou me permite não cair na rotina
essas coisas. Sempre tem uma coisa diferente acontecendo, e eu gosto do
que eu faço. Trabalho hoje para mim é a base das minhas conquistas [...].
(E8)
É uma realização, porque é um sonho de família que a gente vem
construindo há mais de dez anos, e o negócio está expandindo e a gente
quer expandir mais ainda. Então, é como se estivesse com um sonho
realizado. (E14)
Eu gosto muito do que eu faço entendeu. Então, assim, tem um leque.
Como que eu vou te explicar? Tem uma importância muito grande para mim
o que eu faço, porque eu sempre gostei disso de moda, dessas coisas
assim, entendeu. Então, eu sinto realizada, entendeu. (E15)
Realização. É uma realização porque com ela eu consegui muita coisa [...]
Então para mim foi uma realização, sabe. Eu comprei o meu carro com o
meu dinheiro. Fui eu que juntei. Então, assim, tudo que eu conquistei tudo
veio do meu dinheiro. Eu ainda posso ajudar em casa [...] (E20)
O trabalho das entrevistadas consiste em uma atividade de significado para elas,
pois provoca mudanças tanto em nível individual, despertando sentimentos de
realização e felicidade, quanto em nível social, contribuindo para o crescimento
profissional delas e para a obtenção de melhorias financeiras. Essas opiniões
manifestadas pelas respondentes têm respaldo em Stromquist (1997) e Costa
(2004) quando enfatizam que os sentimentos desenvolvidos nas mulheres mudam
sua condição nos âmbitos individual e social, pois atuam no campo subjetivo do
sujeito.
5.2.3.2 Competência reconhecida
A partir dos relatos das entrevistadas emergiram
algumas subcategorias
características da competência reconhecida: as entrevistadas não se sentem
capazes de ocupar qualquer cargo dentro da área de qualificação após se
graduarem; sentem-se capazes de realizar tarefas ligadas ao atual cargo com as
experiências; os conhecimentos e as habilidades adquiridas na graduação e na pósgraduação não favoreceram o desenvolvimento de elevada autoestima e segurança
pessoal nas entrevistadas.
76
Quanto ao sentimento de capacidade de galgar qualquer cargo dentro da área de
qualificação após se graduarem, nota-se, a partir dos dados desta pesquisa, que a
maioria significativa das entrevistadas (70%) não se sente capaz de galgá-los; que
algumas sentem-se capazes de ocupar qualquer cargo dentro da área de atuação; e
que outras acreditam que é necessário adquirir experiência para sentirem-se
preparadas para ocupar qualquer cargo dentro da área de formação.
Tabela 9 – Sente-se capaz de galgar qualquer emprego da área de qualificação
Item discriminado
%
Não
70
Sente-se capaz de galgar qualquer emprego da área de atuação
30
Precisa adquirir mais experiência para sentir-se preparada
20
Sente-se mais capaz do que as pessoas que não são graduadas
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Nos depoimentos a seguir, verifica-se a percepção das entrevistadas quanto ao
sentimento de capacidade de conquistar qualquer emprego dentro da área de
qualificação, após se graduarem:
Somente com a graduação, não. Acredito que o que realmente faz a
diferença é o nosso empenho e dedicação no trabalho, que, efetivamente,
nos permite aprimorarmos nossos conhecimentos práticos e ir galgando por
patamares cada vez mais elevados. (E1)
Não, não mesmo. Acho que a graduação é um instrumento fantástico. São
quatro anos que a gente fica se debruçando ali sobre muitos temas.
Exatamente por serem tantos temas que você não tem capacidade para
atuar em todas as áreas [...] Agora, eu acho que a qualidade do profissional
também não está relacionada só com a graduação que ele optou, mas
muito pelo esforço dele, pelo perfil dele. Se ele quer fazer, se ele se joga
mesmo naquilo ali que ele está se propondo e se vira, dá um jeito. (E2)
Não. Eu acho que eu ainda tenho que ter muita experiência, aprender muita
coisa, porque só a faculdade não é suficiente para querer me candidatar a
qualquer vaga. Precisa de experiência mesmo. (E13)
Ainda em relação à competência reconhecida, identificou-se nos depoimentos das
entrevistadas que após se graduarem elas se sentem capazes de realizar atividades
ligadas ao cargo que ocupam, conforme fragmentos de suas falas:
Sim. Hoje me sinto preparada para a atual posição que exerço. Com um
mercado em que as mudanças são cada vez mais frequentes e rápidas, há
77
uma necessidade sempre de aprimorar e reciclagem do conhecimento, de
forma que uma dose de insegurança faz bem, para não ficarmos
estagnados. (E1)
Sinto, sinto muita segurança. Eu tenho por princípio nunca pegar uma
disciplina ou uma área que eu realmente não conheça. Se eu não tenho
domínio do que eu vou fazer, se eu não tenho domínio do que eu vou falar,
eu não entro em sala de aula para isso (E2)
Sim, tenho segurança no meu trabalho. (E3)
Sim. Tenho pleno conhecimento e domínio da minha área de atuação
profissional e das tarefas que desempenho. (E7)
Na área que eu atuo, sim. (E9)
A partir dos resultados apresentados na TAB. 9 e do discurso das entrevistadas,
verificou-se que a maioria significativa não se sente capaz de conquistar diferentes
cargos em sua área de qualificação apenas com a graduação. Ressaltaram que é
necessário aprimorar seus conhecimentos práticos para, em seguida, galgar outros
cargos. Dessa forma, pode-se dizer que somente a graduação não desperta o
sentimento de autoconfiança nem de elevada autoestima nas entrevistadas o
suficiente para ocuparem diferentes cargos. As entrevistadas julgam necessário
adquirir experiência prática, além da necessidade da educação continuada.
Identificou-se, porém, que algumas mulheres pesquisadas possuem sentimentos de
autoconfiança na realização de suas atividades profissionais cotidianas após a
graduação. Dessa forma, pode-se dizer que a graduação é um primeiro passo para
um possível empoderamento.
Ainda no que tange à competência reconhecida, com base na TAB. 10, verificou-se
que a graduação não favoreceu o desenvolvimento de elevada autoestima e
segurança pessoal para a maioria significativa das entrevistadas (75%). Ou seja,
não houve mudanças na autoconfiança nem na autoestima dessas mulheres. É
natural que mulheres graduadas sintam-se mais desenvolvidas intelectualmente que
as mulheres que não são graduadas (35%). As entrevistas mostraram que duas
sentem-se mais confiantes e com autoestima elevada.
Outras entrevistadas ressaltaram que, na medida em que o estudo as torna
diferenciada e mais respeitada, sua opinião passa a ser considerada, possuem mais
78
expectativa de crescimento em relação a tudo e decidem qual caminho desejam
seguir. Outras entrevistadas salientaram que possuem visão diferenciada em
relação às pessoas que não fazem um curso superior e maior expectativa de ter
melhorias financeiras.
Tabela 10 – Sentimento despertado nas entrevistadas por ter um curso superior
Item discriminado
%
Favoreceu o desenvolvimento de elevada autoestima e segurança pessoal.
75
Sente-se mais desenvolvida intelectualmente.
35
Sente-se confiante.
10
Possui autoestima elevada.
10
Acredita que se tornou mais diferenciada.
5
Acredita que se tornou mais respeitada.
5
Ao cursar o mestrado sua opinião passou a ser considerada.
5
Sente que tem mais expectativa de crescimento em relação a tudo.
5
Passou a decidir qual caminho quer seguir.
5
Quem não tem curso superior é limitado financeiramente.
5
A visão de uma pessoa que tem um ensino superior difere daquela que não possui.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Os relatos a seguir refletem os sentimentos despertados nas entrevistadas perante
as outras pessoas por terem se graduado em um curso superior:
Normal. Não me tornei melhor que ninguém por isso. (E3)
[...] eu acho que o curso superior, ele não é, ele é um diferencial, é um bom
grau que você tem a mais, mas não é só ele que conta, porque muita gente
também tem. As pessoas estão tendo acesso à universidade, um acesso
fácil à universidade. [...]. (E8)
Não sinto diferença nenhuma. Nunca achei diferença assim. [...] (E9)
Eu não me sinto superior. Superior não no sentido de arrogância, não. É
lógico que eu sinto assim que eu sou um pouco, que eu tenho mais
conhecimento do que os outros [...]. (E11)
Constata-se a partir dos fragmentos acima que a graduação não modificou a
autoestima nem a autoconfiança da maioria das entrevistadas. No entanto, provocou
mudanças na competência. Algumas entrevistadas perceberam que se tornaram
mais competentes, mais desenvolvidas intelectualmente com a graduação.
Verifica-se a importância da educação para o desenvolvimento de competências nas
entrevistadas, as quais refletem diretamente na capacidade delas de galgar qualquer
79
emprego em sua área de atuação e, ainda, contribuem para projetarem suas
carreiras profissionais e ocuparem outros postos de trabalho.
Segundo Bourdieu (2007, p. 126), o acesso ao ensino superior permite às mulheres
ter a oportunidade de desenvolver novas competências, o que contribui para que
haja mudanças nas estruturas das organizações e na posição delas na divisão do
trabalho. Segundo o autor, a partir da capacitação “há um forte aumento da
representação de mulheres nas profissões intelectuais ou na administração e nas
diferentes formas de venda de serviços simbólicos”.
5.2.3.3 Autodeterminação
A partir dos dados desta pesquisa, emergiram algumas subcategorias características
da autodeterminação, a saber: as entrevistadas pretendem passar em um concurso
público; outras pretendem trabalhar por conta própria; e algumas querem continuar
se qualificando em busca de outras possibilidades de trabalho em sua área de
qualificação.
Os dados da TAB. 11 apontam o planejamento profissional na percepção das
entrevistadas.
Tabela 11 – Planejamento profissional
Item discriminado
%
Passar em um concurso
35
Trabalhar por conta própria
25
Qualificar-se mais para ter outras oportunidades em sua área de qualificação
25
Tornar-se professora
20
Trabalhar em outras áreas
20
Ocupar a posição que ocupa hoje
10
Fazer um processo seletivo para entrar no doutorado
10
Crescer mais profissionalmente
10
Continuar trabalhando em sua empresa e fazê-la crescer
10
Trabalhar em uma empresa
10
Graduar-se em arquitetura
5
Não se planejou profissionalmente
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Verificou-se que algumas entrevistadas pretendem passar em concurso público.
Para isso, já fazem cursinhos para tal, o que é demonstrado nos seguintes relatos:
80
[...] pretendo continuar estudando para concurso público e montar um
negócio próprio. (E4)
Passar em um concurso, trabalhar por conta própria [...]. (E3)
Ainda no que tange ao planejamento da própria carreira, constatou-se que outras
entrevistadas pretendem trabalhar por conta própria; ou seja, abrir o próprio negócio,
conforme se observa nos relatos:
Me especializar sempre, abrir um escritório com algumas colegas da
faculdade e ganhar dinheiro. É o objetivo de todo mundo. (E10)
[...]. Minha família tá pensando em montar uma construtora mesmo, né, uma
empresa nessa área de construção lá em Esmeraldas e trabalhar junto com
a empresa da família, e sozinha também, né, para pegar algum outro
trabalho adjacente e trabalhar nessa área sozinha porque aí eu já estou
mais independente, né. O curso me dá essa possibilidade de trabalhar
independentemente de outra empresa ou não. [...]. (E11)
[...] eu sempre pensei algo de ser empreendedora, né, e sempre na área da
beleza, porque eu também sou formada em estética. Então, eu larguei a
estética para fazer a graduação, e eu sempre falei: “Eu vou fazer
Administração para abrir meu próprio negócio e administrar meu próprio
negócio” [...]. (E16)
Das entrevistadas, algumas ressaltaram que pretendem continuar se qualificando
em busca de outras possibilidades de trabalho em sua área de qualificação; outras
pretendem se tornar professoras, pois acreditam ser uma profissão que permite ter
mais qualidade de vida; e outras querem trabalhar em outras áreas, conforme
depoimentos a seguir:
Eu pretendo estudar mais, cada vez mais. Pretendo fazer outras
graduações. [...] para conseguir outras realizações pessoais, entendeu, e na
área de Direito, continuar estudando, se possível, para conseguir. No
Direito, seria somente para conseguir um cargo melhor, um trabalho melhor.
[...]. (E9)
Olha, fazer um concurso da minha área de interesse e fazer um mestrado,
porque o mestrado, na verdade, vai acrescentar na minha área acadêmica,
mas é porque eu pretendo trabalhar na área acadêmica também, então.
(E19)
Olha, eu quero. Dentro da empresa, eu já estou um tempinho já. Eu quero
adquirir mais conhecimento nessa área. Eu quero aumentar muito, porque
eu ainda tenho muita coisa para aprender ali. Então, eu estou sugando ao
máximo tudo que eu posso aprender, e depois que eu aprender tudo que eu
tenho, talvez eu tente uma outra área ou busque uma outra empresa [...].
(E20)
81
Diante destes achados e considerando as proposições acerca da autodeterminação
feita por Melo (2012), pode-se dizer que somente algumas entrevistadas possuem
sentimento de autodeterminação.
A procura por concursos públicos por parte das entrevistadas pode justificar-se pela
forma de ingresso nessa profissão. Os processos seletivos de concursos públicos
geralmente não pedem experiência e as competências exigidas dos candidatos são
testadas por meio de provas, e não de experiências práticas anteriores dos
candidatos, conforme ocorre nas organizações privadas. Assim, o processo seletivo
dos concursos pode ser um atrativo para mulheres, diante das desigualdades que
vivenciam na sociedade devido ao papel delas nas relações de gênero. Segundo
Sorj (2004), as chances das mulheres no mercado de trabalho, nas carreiras e nos
salários são definidas a partir da posição diferenciada que ocupam na sociedade e,
principalmente, nos âmbitos doméstico e familiar.
Outro fator que pode justificar a ânsia das entrevistadas em passar em um concurso
público é a estabilidade que essa área/setor garante. Muitas vezes, nas
organizações privadas as mulheres são demitidas quando engravidam ou
simplesmente não são contratadas pela possibilidade de terem filhos. Assim, a
estabilidade garantida em um cargo público, independente de ser homem ou mulher,
pode explicar o motivo pelo qual as entrevistadas buscam ingressar no serviço
público.
A pretensão das entrevistadas de trabalhar por conta própria pode ser uma
estratégia para evitar vivenciar as desigualdades de gênero presentes nas
organizações, pois ter o próprio negócio lhes possibilita ter acesso a áreas que lhes
são restritas nas outras organizações.
Sobre a pretensão das entrevistadas de serem professoras, a justificativa utilizada
por elas – busca por qualidade de vida – pode ser reflexo das dificuldades que
encontram para conciliar trabalho remunerado e trabalho doméstico. Conforme
salientam Sorj (2004), Chies (2010) e Amaral (2012), mesmo após se inserirem no
mercado de trabalho, às mulheres compete todo o trabalho doméstico. E esse
82
acúmulo de atribuições acaba comprometendo sua saúde física e emocional,
gerando sentimentos de improdutividade em ambos os afazeres (AMARAL, 2012).
A busca das entrevistadas em se tornarem professoras pode ser justificada também
pela característica feminina dessa profissão, segundo Chies (2010), pois remete aos
papéis tradicionais da mulher na sociedade. Costa (2006) também ressalta que o
papel da mulher na sociedade, tendo em vista as questões de gênero, engloba a
atividade de ensinar/educar.
5.2.3.4 Impacto percebido na organização
A pesquisa revelou que o principal aspecto que caracteriza o impacto percebido na
organização
associa-se
ao
reconhecimento
organizacional
positivo
das
entrevistadas pelo trabalho que desenvolvem.
Conforme apresentado na TAB. 12, a maioria significativa das entrevistadas (70%) é
reconhecida positivamente pela organização em que trabalham; três por promoção;
três pela função que desempenham; três pela qualidade do trabalho que
desenvolvem.
Mas
algumas
não
se
sentem
reconhecidas
no
ambiente
organizacional.
Tabela 12 – Reconhecimento dentro da empresa, na percepção das entrevistadas
Item discriminado
%
É reconhecida positivamente pela organização.
70
Não se sente reconhecida na empresa.
25
Sente-se reconhecida, pois é promovida.
15
Considera reconhecida pelas funções que desempenha.
15
Sente-se reconhecida pela qualidade do trabalho que desenvolve.
15
Não respondeu.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Os depoimentos das entrevistadas a seguir demonstram como acontece o
reconhecimento delas pela empresa:
Hoje, vejo que tenho maior reconhecimento dentro das empresas que
trabalhei em virtude de um bom trabalho desenvolvido. (E1)
83
Meu reconhecimento é bom. Quando eu entrei, eu acho que ainda tinha
muita. As pessoas ainda me olhavam assim muito de lado, pelo fato, né,
como eu falei, de ser muito nova e tal. Mais depois quando você vai
entrando, mostra o seu trabalho e tudo mais as pessoas vão ganhando mais
respeito por você [...]. (E2)
Na época, tive o reconhecimento [...] através de uma promoção. [...]. (E4)
Sou, sou reconhecida [...]. “Ó gerente eu quero o curso tal, tal, tal”. Não,
liberado. Não tem nem o que questionar. “Pra que este curso? O que que
você vai fazer com esse curso?” Ele não questiona, ele já libera. Então,
assim, isso, querendo ou não, é um reconhecimento. Foi um
reconhecimento quando aumentou meu salário. Também foi um
reconhecimento, foi um mérito meu. E a forma também de tratamento, é
totalmente diferente. Então, você percebe que é reconhecida assim.[...] (E6)
Nossa! Tem tanto tempo que eu estou aqui. Eu acho que é através do meu
trabalho desempenhado, né. Acho que é através disso. (E13)
Pode-se inferir a partir destes resultados encontrados referentes ao impacto
percebido que estas mulheres estão influenciando e contribuindo para os resultados
organizacionais por meio do trabalho que desenvolvem.
Observa-se, também, que, além de terem adentrado/ melhorado de posição no
mercado de trabalho, as entrevistadas estão sendo reconhecidas, o que demonstra
avanço no que tange ao seu posicionamento nesse ambiente. Pode-se dizer que as
mulheres estão tendo mais oportunidades e responsabilidades nas organizações. Ao
conquistar novos cargos na hierarquia organizacional, as mulheres passam a ter
acesso a algumas responsabilidades inerentes às funções que desempenham e ao
trabalho que desenvolvem. Conforme enfatiza Rosa (2003), além de entrar no
mercado de trabalho, elas buscam igualdade de direitos, de oportunidades e de
responsabilidades.
No fator subjetivo (MELO, 2012), foi possível encontrar aspectos importantes,
conforme explicitados a seguir.
No que tange ao significado da atividade para as entrevistadas, identificou-se que o
trabalho consiste em uma atividade de grande significado para elas, pois desperta
sentimentos positivos, como de realização e de felicidade e contribui para fazerem
outras conquistas. Dessa forma, pode-se dizer que o trabalho possui um significado
positivo para as mulheres pesquisadas, pelo fato de desencadear várias mudanças,
tanto na forma como elas se percebem quanto no seu posicionamento na sociedade.
84
Quanto à competência reconhecida, verificou-se que após se graduarem, as
entrevistadas não se sentem capazes de ocupar qualquer cargo em sua área de
qualificação. Constatou-se que elas se sentem inseguras para ocupar outros cargos
na hierarquia organizacional. Diante do sentimento de incapacidade dessas
mulheres, mesmo após melhorar seus níveis educacionais, pode-se dizer que talvez
elas precisem continuar estudando para que haja modificações mais profundas
nesse sentido. Conforme salienta Rajankar (2013), a melhora dos níveis
educacionais das mulheres pode desencadear mudanças radicais em sua forma de
pensar e de agir.
No que tange à autodeterminação, verificou-se que somente algumas mulheres
pesquisadas já escolheram quais atividades profissionais pretendem desenvolver no
futuro. Algumas até já definiram estratégias para alcançá-las. Em relação às
atividades profissionais que planejam desenvolver (planejamento profissional),
observa-se que algumas pretendem passar em concursos públicos, trabalhar por
conta própria e tornar-se professoras. Essas profissões podem ser reflexo do papel
de gênero das mulheres na sociedade.
Em relação ao impacto percebido, observa-se que as entrevistadas sentem-se
reconhecidas pelas organizações onde trabalham, pois mudaram de cargo ou
função por desenvolverem um bom trabalho. Assim, por meio do trabalho que
realizam as mulheres pesquisadas contribuem para os resultados organizacionais.
Quanto ao empoderamento subjetivo (MELO, 2012) das mulheres pesquisadas,
observou-se que as experiências educacionais e profissionais que tiveram
interferiram em seus sentimentos. A graduação não desenvolveu elevada
autoestima, autoconfiança e autodeterminação nas entrevistadas. As mudanças
nesse sentido foram bastante restritas, elas se sentem inseguras em relação a
algumas atividades relacionadas à sua área de qualificação.
O trabalho para estas entrevistadas consiste em uma atividade que desperta
sentimentos positivos. E, também, fonte de reconhecimento pela organização devido
ao trabalho que desenvolvem.
85
Não houve empoderamento psicológico completo. O curso superior não favoreceu o
desenvolvimento
de uma autoestima e
de uma
segurança
pessoal nas
entrevistadas. Houve algumas modificações apenas no que tange à autoestima e à
autoconfiança das entrevistadas no que tange a sua atividade profissional. Dessa
forma, pode-se dizer que não houve total empoderamento subjetivo das mulheres
entrevistadas.
Além do teto de vidro, as mulheres enfrentam também outras barreiras para se
ascenderem nas organizações. É o sticky floor, também denominado “chão
pegajoso”, que as mantém agarradas na parte inferior na hierarquia organizacional
(WIRTH, 2002). Pode-se dizer que a falta de crença das entrevistadas na própria
capacidade e a inexistência de elevada autoestima fazem com que elas
permaneçam em cargos de baixa hierarquia, recebam menores salários e não
tenham acesso ao poder.
5.2.4 Político
Neste fator, analisaram-se o acesso das mulheres a cargos de representação e
direção e às relações de poder mais equilibradas, a consciência das diferenças entre
gênero, a construção de alianças e estratégias para o desenvolvimento da carreira e
a busca de autonomia profissional (MELO, 2012).
Assim, neste fator, foram analisados os aspectos referentes a vivência das relações
de poder no espaço organizacional, percepção e consciência das diferenças entre
os gêneros, reconhecimento da mulher e acesso à informação, alianças e
estratégias desenvolvidas para a própria carreira, autonomia e legitimação
organizacional.
5.2.4.1 Vivência das relações de poder no espaço organizacional
A partir dos dados desta pesquisa surgiram algumas subcategorias características
da vivência das relações de poder no espaço organizacional, a saber: o poder é
centralizado em poucas pessoas onde trabalham; e elas estão na subordinação.
86
Na TAB. 13 são apresentados os resultados referentes aos jogos de poder no
ambiente de trabalho. Para 60% das entrevistadas a possibilidade de exercer o
poder nas organizações onde trabalham está centralizado em poucas pessoas.
Dessa forma, poucos mandam e a maioria obedece. Ou seja, as decisões
importantes e estratégicas da organização estão centralizadas em algumas pessoas
no âmbito organizacional, existem desvio de poder, competições e a metáfora da
violência está impregnada nas relações dentro da organização.
Para algumas entrevistadas o chefe gosta de se impor; outras salientaram que as
relações de poder seguem uma hierarquia definida nas funções e nos cargos; outras
declararam que, na maioria das vezes, os cargos de poder são ocupados por
homens; e duas salientaram que possuem abertura para participar e discutir ideias e
projetos (TAB. 13).
Tabela 13 – Relações de poder no ambiente de trabalho
Item discriminado
O poder está centralizado em poucas pessoas.
O chefe gosta de se impor.
Segue hierarquia definida nas funções e nos cargos.
São os homens que geralmente assumem cargos de poder.
Tem uma abertura muito grande para participação e discussão de ideias e projetos.
Percebe as relações de poder pautadas na qualificação.
O poder traz uma imagem muito importante para os funcionários.
As pessoas que não se importam com esse tipo de relação se dão muito bem.
O topo é bem solitário.
Não existe abuso de poder.
O poder é descentralizado.
Não soube responder.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
%
60
20
15
15
10
5
5
5
5
5
5
5
mais
Outras entrevistadas salientaram que as relações de poder onde trabalham são
pautadas na qualificação, que quanto mais títulos, mais acesso ao poder e que ter
acesso ao poder garante posicionamento diferenciado, solitário e bem reconhecido
pelas outras pessoas. Segundo as entrevistadas, pessoas que têm facilidade de
lidar com as relações de poder têm mais chances de sobressair nesse ambiente
(TAB. 13).
87
Segundo relatado pela maioria das entrevistadas, a oportunidade de exercer o poder
onde trabalham é restrito a algumas pessoas, conforme pode ser observado nas
falas que seguem:
Olha, eu acho que como qualquer outra empresa, né, Toda instituição de
ensino é uma empresa comercial também, né, [...] as relações são as
mesmas: tem o desvio do poder da mesma forma, têm as competições, tem
a metáfora da violência impregnada em cada atitude, cada memorando,
cada documento que circula lá dentro, como que fala, cerceando a nossa
liberdade, tem a avaliação institucional [...]. (E2).
Segue a estrutura organizacional da empresa de acordo com cada cargo e
função. (E3)
Na maioria das vezes, são os homens que assumem cargos de poder.
Quando são assumidos por mulheres, ainda existe muita falta de respeito.
(E4)
Eu percebo que quanto mais conhecimento e títulos as pessoas têm mais
elas acreditam que têm poder sobre outras pessoas, e elas se mantêm a
um nível de distância das outras pessoas que não estão no mesmo patamar
que elas, como se elas fossem mais importantes que as outras. (E5)
Então, assim, e eu percebo o poder assim muito... Às vezes, dá um pouco
de medo [...]. (E6)
[...]. É tudo dividido. A responsabilidade, igual eu te falei, só em questão de
ter assim aquela necessidade de resolver na hora que a gente resolver
sozinhas, e sempre em conjunto. [...]. (E15)
De acordo com Chies (2010), o papel social construído acerca da mulher remete-a à
subalternidade e à dominação masculina. O autor enfatiza que esse papel é
reproduzido no ambiente de trabalho, onde se pode observar a desvalorização do
trabalho da mulher em relação ao trabalho do homem. O relato de uma das
entrevistadas (E4) pode ser explicado pelos estereótipos elaborados acerca de cada
gênero, em que o homem é símbolo de força, virilidade e poder e a mulher é símbolo
de fragilidade, cuidados e submissão (BOURDIEU, 2007). Assim, o homem
ocupando posições de poder é percebido como a “ordem natural das coisas”, tal
como foi produzido e reproduzido pela sociedade. Já a mulher encontra dificuldades,
pois precisa quebrar as barreiras dos preconceitos de gênero e o “teto de vidro”
presente nas organizações (STEIL, 1997).
A TAB. 14 mostra que a maioria significativa das entrevistadas (90%) ressaltou que
é subordinada tendo por base a estrutura hierárquica onde trabalha, não participam
da tomada de decisão e ocupam uma posição de subalternidade nas relações de
88
poder dentro das organizações; algumas salientaram que exercem o poder apenas
no que tange a sua função; duas declararam que possuem autonomia para propor e
discutir ideias.
Tabela 14 – Posição das entrevistadas nas relações de poder onde trabalham
Item discriminado
%
Está na parte de subordinação.
90
Segue a estrutura organizacional da empresa de acordo com cada cargo e função.
15
Tem autonomia para propor e discutir ideias.
10
Não tem autoridade sobre ninguém.
5
Sofre muito com as relações de poder.
5
Sente-se humilhada.
5
Sente-se triste com as relações de poder no trabalho.
5
Fica com baixa autoestima devido às relações de poder no trabalho.
5
Não respondeu.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Outras enfatizaram que as relações de poder no ambiente de trabalho interferem em
seus sentimentos, que se sentem humilhadas, tristes, que sofrem, que tudo isso
desencadeia baixa autoestima, e que não possuem autoridade sobre ninguém.
Nesse sentido, pode-se dizer que as relações de poder no ambiente de trabalho
influenciam
negativamente
o
empoderamento
psicológico
das
mulheres
pesquisadas.
Os resultados discriminados na TAB. 14 podem ser observados nos relatos das
entrevistadas a seguir:
[...]. Como que eu me insiro? Bom, eu estou dentro da organização. Então,
eu tenho que navegar no meio dessa história aí, tentando, é, digamos me
manter, né, mas com um mínimo de problemas possível. (E2)
Eu estou na parte de subordinação, né? [risos] eu obedeço ordens e só
repasso as ordens que são me passadas. Não tenho autoridade sobre
ninguém, mas digo que sofro muito com essas relações de poder, já que
muitas pessoas, por possuírem muito conhecimento, são grossas,
ignorantes. Faltam até ao respeito com a gente. Humilham mesmo! (E5)
Participo de todas as decisões da empresa. São tomadas pela coordenação
e pela, com a gerência. Então, tem o gerente e três coordenadores, [...] aí, a
gente senta para alinhar as decisões. (E6)
[...] a parte mais fraca da relação, e acabo sempre saindo fora. Eu percebo
que as pessoas que não se importam com esse tipo de relação, elas se dão
muito bem assim. [...]. (E9)
89
No meu caso aqui é meu pai, né, que é o poderoso, o maior. É ele que
comanda. A relação de poder é ele. Manda e a gente obedece. (E14)
As entrevistadas são subordinadas nas organizações em que trabalham. Em relação
à posição nas relações de poder nas organizações, Sorj (2004) afirma que as
divisões de trabalho no âmbito familiar denotam e colaboram para a manutenção da
subordinação de gênero em vários âmbitos da sociedade. A autora salienta que a
partir da posição diferenciada no âmbito doméstico e familiar é que são
determinadas as chances de cada um no mercado de trabalho, nas carreiras e nos
salários.
Ao se falar sobre relações de poder no ambiente de trabalho, as entrevistadas
apresentaram dificuldades para discorrer sobre esse assunto. O que pode se
observou é que elas faziam uma associação direta às pessoas que exercem o poder
nas decisões, desconsiderando as pessoas que participam dessas relações como
parte subordinada.
A maioria das entrevistadas não sabia o que falar, pois, como identificado na
pesquisa, não exercem o poder e não tem autonomia para propor e discutir objetivos
e ideias em seu ambiente de trabalho. Identificou-se na maioria das entrevistadas
certa limitação, receio, baixa autoestima, falta de segurança e constrangimento para
falar sobre as posições hierárquicas em seu ambiente de trabalho. Isso pode ser
explicado pela posição subalterna da mulher na sociedade, o que reflete em todos
os âmbitos de sua vida. Segundo Bourdieu (2007, p. 54), “as próprias mulheres
aplicam a toda a realidade, e particularmente, às relações de poder em que se veem
envolvidas, esquemas de pensamento que são produto da incorporação dessas
relações de poder”. As mulheres ajudam a reproduzir a dominação masculina na
sociedade.
O empoderamento político também pode explicar esse comportamento, já que se
relaciona também com a acessibilidade das mulheres aos cargos de maior
representatividade e direção, ao equilíbrio das relações de poder entre os gêneros,
etc. (MELO, 2012). Diante disso, o que se observou foi o desequilíbrio das relações
de poder no que se refere à atuação dessas entrevistadas no espaço organizacional.
90
5.2.4.2
Percepção e consciência das diferenças entre
reconhecimento da mulher e o acesso à informação
os
gêneros,
A análise dos dados desta pesquisa revelou que os principais aspectos que
caracterizam a percepção e a consciência das diferenças entre os gêneros, o
reconhecimento da mulher e o acesso à informação associam-se e que ainda
persistem algumas desigualdades de gênero no ambiente organizacional, uma vez
que os homens possuem mais oportunidades do que as mulheres. A mulher precisa
ser determinada, qualificar-se, saber liderar, ser dinâmica e ter postura firme para
ocupar cargos elevados nas organizações e ter acesso a informações importantes e
estratégicas na organização. No entanto, não tomam decisões.
Conforme apresentado na TAB. 15, a maioria das entrevistadas não percebe
preferência de gênero quando há disputa entre profissionais com as mesmas
qualificações, ressaltando que as oportunidades são as mesmas. Para duas a
preferência acontece em função da qualificação profissional das pessoas e para três
há preferência por mulheres.
Em contrapartida, conforme a TAB. 15, algumas das entrevistadas salientaram que o
mercado de trabalho está totalmente voltado para o sexo masculino (40%). Segundo
elas, as mulheres precisam provar a todas as pessoas e a todo o momento que são
capazes de desempenhar seu trabalho. Para três, dependendo das tarefas que
precisam ser desenvolvidas, há preferência por homens. Para duas as mulheres
ainda enfrentam preconceitos, podendo estar relacionado à possibilidade de
engravidarem, e para duas os homens são mais bem remunerados em relação às
mulheres.
91
Tabela 15 – Preferência de gênero onde trabalha
Item discriminado
Não percebe preferência de gênero.
Há preferência pelo sexo masculino.
Percebe preferência por mulheres.
Preferem homens para desenvolver determinadas tarefas (carregar caixas, subir escadas,
trabalhar com vendas).
Existe preconceito, talvez pela possibilidade de gravidez ou por ter filhos.
O sexo masculino é mais bem remunerado.
Depende da empresa.
São as mesmas oportunidades. A preferência acontece em relação a qualificação profissional.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
%
50
40
15
15
10
10
10
10
mais
A percepção das entrevistadas quanto à consciência das diferenças entre gênero no
ambiente de trabalho pode ser identificada nos fragmentos de suas falas a seguir.
[...] Não há preferencialismo. (E3)
Não percebo diferença. O que conta é o título, o conhecimento e
reconhecimento que essa pessoa tem, nacional e internacionalmente, não o
sexo. (E5)
São as mesmas oportunidades. A preferência acontece em relação à
qualificação profissional. (E9)
Muito pautada na base do respeito. Não há distinção de gêneros. (E18)
[...]. Por estar trabalhando no mercado de construção civil há sete anos,
este fato é ainda mais forte, por ser uma área predominantemente
masculina. Na empresa que trabalhei por sete anos, embora tenha tipo boas
oportunidades, acredito que caso fosse homem as oportunidades teriam
vindo mais rapidamente do que ocorreu. (E1)
Sim. Ainda existe o preconceito, talvez pela possibilidade de gravidez ou por
ter filhos. (E4)
Sim. O sexo masculino é melhor remunerado. (E7)
Sim. O masculino, a não ser que a pessoa se diferenciasse muito, mas se
estivesse no mesmo nível o masculino sempre iria. (E12)
Conforme identificado na TAB. 15, nas organizações ainda há certa preferência por
profissionais do sexo masculino, pois o percentual de entrevistadas que não
percebem preferências de gênero foi bem próximo daquele de entrevistadas que
percebem preferência por homens nas organizações. De acordo com Cyrino (2009)
e Amaral (2012), a mulher enfrenta muitas discriminações no mercado de trabalho
relacionadas ao crescimento hierárquico, à progressão na carreira e à equiparação
salarial em relação aos homens. Os autores ressaltam que mesmo emancipada a
92
mulher luta contra os estereótipos definidos para ela na sociedade. Verifica-se que
os depoimentos das entrevistadas corroboram as ideias apresentadas por Cyrino
(2009) e Amaral (2012), pois algumas ainda sofrem discriminações de gênero no
ambiente organizacional.
Verificou-se, também, certa ingenuidade dessas mulheres pesquisadas, pois a
maioria não percebe as desigualdades de gênero presentes no contexto
organizacional.
A TAB. 16 mostra algumas habilidades que as entrevistadas julgam essenciais nas
mulheres para ocupar cargos elevados nas organizações, dentre elas destacam-se:
ser determinada (40%), qualificar-se (35%), saber liderar (30%), ser dinâmica (25%),
ter postura firme (25%), ter bom relacionamento interpessoal (20%) e ter controle de
si mesma (15%).
Para outras entrevistadas, é necessário ser organizada, proativa, paciente,
motivadora, racional e segura, ter elevada autoestima, saber comunicar, ser
centrada, valorizar a equipe, ser sensível e flexível, ter técnica, capacitar-se, ser
imparcial e séria e saber lidar com as relações de poder, conforme discriminado na
TAB. 16.
93
Tabela 16 – Habilidades essenciais nas mulheres para ocupar cargos elevados
Item discriminado
Ser determinada.
Qualificar-se.
Saber liderar.
Ser dinâmica para ocupar cargos elevados.
Ter postura firme.
Ter bom relacionamento com as pessoas.
Ter controle de si mesma.
Ser organizada.
Ser proativa.
Ser paciente.
Ser motivadora.
Ser racional.
Ser segura.
Ter elevada autoestima.
Saber comunicar.
Ser centrada.
Valorizar a equipe de trabalho.
Ser flexível.
Ter técnica.
Capacitar-se.
Ser imparcial.
Ser séria.
Saber lidar com as relações de poder.
Não respondeu.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
%
40
35
30
25
25
20
15
10
10
10
10
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
mais
As habilidades que as mulheres precisam ter para alcançar altos cargos na
hierarquia organizacional, na percepção das entrevistas, podem ser visualizadas nos
recortes das falas que seguem:
Boa comunicação, é, organizada, dinâmica, é, centrada [...]. (E6)
Eu acho que ela tem que ter pulso firme, tem que ser determinada. Mas
pulso firme não quer dizer rigidez, não é oito, oitenta, é saber lidar com as
situações do dia a dia, principalmente nessa área voltada pra gestão de
pessoas [...]. (E8)
Domínio próprio, técnica, espírito de liderança, bom relacionamento com as
pessoas e paciência. (E10)
A respeito das habilidades que as entrevistadas consideraram essenciais às
mulheres para atingir patamares mais altos nas organizações, observou-se que elas
ressaltaram algumas habilidades masculinas, tendo em vista os tradicionais papéis
de gênero presentes na sociedade, como ser determinada, saber liderar, ter uma
postura firme, ter controle de si mesma, ser racional e segura e ter elevada
autoestima. Segundo Bourdieu (2007), as divisões constitutivas da ordem social
94
classificam as coisas do mundo tendo em vista a oposição definida entre o
masculino e o feminino. Aos homens nessa divisão é reservado o lado externo, do
oficial, público, viril, racional, seco. Cabe a eles realizar todos os atos breves,
perigosos e espetaculares. Enquanto as mulheres são reservadas à resignação e à
discrição, são atribuídos a elas os trabalhos domésticos, privados, pouco visíveis,
vergonhosos e mesquinhos.
Os dados da TAB. 17 apontam que a maioria significativa das entrevistadas (75%)
tem acesso às informações importantes e estratégicas onde trabalha. Destas,
apenas duas entrevistadas participam da tomada de decisão. Outras mulheres
ressaltaram que não possuem acesso às informações.
Tabela 17– Acesso às informações importantes e estratégicas na organização
Item discriminado
%
Tem acesso às informações importantes e estratégicas na organização.
75
Não tem acesso a informações importantes e estratégicas da empresa.
20
Tem acesso a informações e participa da tomada de decisão.
10
Não soube responder.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Nos relatos a seguir, pode-se identificar a percepção das entrevistadas quanto ao
acesso que possuem relacionados às informações importantes e estratégicas nas
organizações em que trabalham.
Sim, mesmo antes de assumir posição de gestão nas empresas já tinha
contato e auxiliava nos planejamentos estratégicos, inclusive, com liberdade
para propor alterações e análises. (E1)
Tenho, infelizmente. Às vezes, eu não queria não, sabe, porque e ... pode
até sair fora [...]. (E6)
Sim. Todas nós compartilhamos tudo, tudo, tudo. (E14)
É importante ressaltar que o fato de a maioria das entrevistadas ter acesso às
informações importantes e estratégicas da organização não quer dizer que elas
participam da definição de objetivos, metas e planos que envolvem essas
informações. Como discutido no FEM (2012), essas mulheres não estão presentes
nos altos níveis de tomada de decisão política da organização. Identificou-se que a
maioria das entrevistadas possui o conhecimento, mas como já apresentado, elas
95
estão em posição de subordinação, não fazendo parte da estratégica da
organização, exceto duas entrevistadas, que relataram participar da tomada de
decisão.
Constataram-se, com base nos dados desta pesquisa, no que tange à percepção e à
consciência das diferenças entre os gêneros, reconhecimento da mulher e acesso à
informação e que os homens possuem mais oportunidades do que as mulheres no
mercado de trabalho. Para conquistar cargos de alta hierarquia organizacional, as
mulheres precisam ser determinadas, qualificar-se, ter espírito de liderança, ser
dinâmica, ter postura firme e saber relacionar-se com as pessoas. E, ainda,
identificou-se que as mulheres pesquisadas possuem acesso às informações
importantes e estratégicas onde trabalham. No entanto, não tomam decisões
importantes.
Percebe-se que houve modificações no posicionamento das entrevistadas nas
organizações. Elas passaram a ter mais espaço neste meio. Contudo, ainda são
notáveis as discriminações que enfrentam em função do gênero. Elas possuem
restrito poder de decisão, precisam desenvolver habilidades masculinizadas para
galgarem altos cargos, enquanto os homens possuem maiores oportunidades.
5.2.4.3 Alianças e estratégias para a própria carreira
Com base nos dados desta pesquisa, identificou-se a seguinte subcategoria
referente às alianças e estratégias para a própria carreira: é importante estabelecer
alianças e estratégias para desenvolver-se profissionalmente.
Conforme discriminado na TAB. 18, a maioria significativa das entrevistadas (85%)
julga
importante
estabelecer
alianças
e
estratégias
para
se
desenvolver
profissionalmente. Destas, algumas salientaram que é necessário manter bom
relacionamento com as pessoas; outras ressaltaram que é importante estabelecer
alianças com os pares; outras com superiores; e outras com outros especialistas.
Duas julgaram que não é importante desenvolver alianças para progredirem na
carreira. Segundo elas desenvolver profissionalmente depende da própria pessoa.
96
Tabela 18 – Alianças e estratégias realizadas para desenvolver profissionalmente
Item discriminado
Desenvolver alianças garante sempre portas abertas no mercado de trabalho.
Deve ter bom relacionamento com as pessoas.
Deve estabelecer alianças com os pares.
Deve estabelecer alianças com os superiores.
Ter contato com outros especialistas.
Acredita que não precisa desenvolver alianças para se desenvolver profissionalmente.
Desenvolver-se profissionalmente depende da própria pessoa.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
%
85
45
30
25
20
10
10
mais
Os dados apresentados na TAB. 18 podem ser complementados a partir dos
fragmentos das falas das entrevistadas a seguir:
Ah! É importante você se estabelecer em uma rede de relacionamento
interessante. E nem é só, porque há uma cultura muito forte, né, de que
você precisa ter amigos que conheçam pessoas ou que sejam bem
relacionados, e tudo mais, para você subir. [...]. (E2)
Contato é tudo. Sem indicação continua sendo difícil alcançar um bom
emprego. Devia ter estreitado mais laços na faculdade e em outros lugares.
Mas aprendi com o tempo. É, um círculo um precisa do outro para dar certo.
(E10)
Ah! Sem dúvida. Quando você tem alguém que te indique, alguma coisa
assim, fica mais fácil. (E13)
Claro! Talvez não alianças, né, mas o convívio em qualquer área da vida ele
é essencial, principalmente no Direito. No Direito, as pessoas indicam.
Talvez seja por isso que eu não tenha conseguido um emprego ainda,
porque eu não conheço, não tenho indicação, porque a questão mesmo da
indicação é essencial. Nossa! Dentro do Direito então, essencial demais.
(E17)
Totalmente necessário. As alianças são sempre portas abertas no mercado
de trabalho. (E18)
Os resultados discriminados na TAB. 18 mostram que a maioria das entrevistadas
tem consciência da importância de se fazer alianças, tanto no ambiente de trabalho
(pares e superiores) como fora dele, a fim de manter relacionamentos que possam
trazer benefícios para o desenvolvimento profissional e da carreira, conforme
também foi enfatizado por Melo (2012). A importância de aliar-se a outras pessoas
que possam contribuir para o trabalho ou para o desenvolvimento profissional está
relacionada à dimensão política de empoderamento proposta por Stronquist (1997) e
Costa (2004). Dessa forma, pode-se dizer que as alianças que as entrevistadas
estão desenvolvendo podem contribuir para seu empoderamento político.
97
5.2.4.4 Autonomia
A partir dos dados desta pesquisa, emergiu a seguinte subcategoria referente à
autonomia: as entrevistadas possuem autonomia apenas no que tange a sua função
na empresa.
A TAB. 19 revela que a maioria das entrevistadas possui autonomia apenas no que
diz respeito a sua função na empresa; algumas salientaram que possuem pouca
autonomia; e três, até mesmo, nenhuma autonomia. Duas enfatizaram que têm
autonomia para propor e discutir ideias, mas precisam ser aprovadas pela direção
da empresa.
Tabela 19 – Autonomia dentro da organização
Item discriminado
%
Tem autonomia para as decisões relacionadas a função.
55
Tem pouca autonomia.
20
Não tem nenhuma autonomia.
15
Tem autonomia, mas às vezes precisa de aprovação da Diretoria.
10
Não respondeu.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Os depoimentos das entrevistadas mostram que elas possuem apenas autonomia
no que tange à função, e não à organização como um todo, conforme relatos a
seguir:
Tenho autonomia para o que está relacionado à minha função. (E3)
Pouca autonomia, superficial. (E4)
Não tenho nenhuma autonomia. Aliás, tenho autonomia somente dentro de
sala de aula, quando estou dando aula, mas isso é uma vez só por semana.
Mesmo assim, a gente sabe que hoje a gente, como professor, não tem
muita autonomia, né? [...]. (E5)
Sim! Não todas, mas, né, porque existe... Nas minhas atividades
praticamente todas, e porque a gerência fica em cima, e tem várias
atividades que nós somos líderes, mas dentro do meu setor, praticamente
todas. (E6)
Na última zero, nenhuma, como eu te falei [...]. (E16)
Em razão do cargo que ocupo hoje, minha autonomia é pequena. (E18)
98
A maioria das entrevistadas possui autonomia limitada, que se restringe a suas
atividades, influenciando o trabalho de outras pessoas de forma restrita. Costa
(2004) destaca que o empoderamento da mulher inclui seu poder de interferir e
influenciar a vida de outras pessoas. Nesse sentido, pode-se dizer que as
entrevistadas ainda não avançaram muito, pois sua autonomia no ambiente
organizacional ainda é muito restrita.
5.2.4.5 Legitimação organizacional
Quanto à legitimação organizacional, verificou-se a seguinte subcategoria: Ainda há
preferência pelo sexo masculino no ambiente de trabalho.
As mulheres enfrentam muitas dificuldades ao tentarem se legitimar no espaço
organizacional, pois este espaço sempre foi reservado aos homens, ambiente
predominantemente masculino. Conforme salienta Cacouault (2003), as tarefas e as
profissões foram divididas de forma dicotômica, cuja característica reflete a tradição
patriarcal predominante na sociedade. Dessa forma, algumas tarefas e atitudes são
de domínio do homem e outras são de domínio da mulher. Rosa (1992) salienta que
aos homens cabem
o
espaço
público
e
a
responsabilidade
de
prover
financeiramente a casa, enquanto cabe às mulheres as responsabilidades referentes
ao lar.
Conforme apresentado na TAB. 20, algumas entrevistadas salientaram que os
homens possuem maiores oportunidades no trabalho (45%). Algumas destas
salientaram que, dependendo das atividades que precisam ser desenvolvidas, os
homens possuem preferência. A preferência por homens retrata que, mesmo as
mulheres conquistando novos papéis, ainda atribui-se a elas papéis tradicionais de
gênero, conforme também enfatizou Amaral (2012).
Identificou-se, ainda, que outras entrevistadas não percebem preferência de gênero
no ambiente de trabalho (45%). Salientaram que a preferência nas organizações
depende das competências que as pessoas possuem e da qualificação, e não do
sexo (TAB. 20).
99
E, ainda, uma entrevistada ressaltou que as relações de gênero onde trabalha são
caracterizadas pela disputa entre os gêneros. Outra salientou que as mulheres
possuem mais oportunidades (TAB. 20).
Tabela 20 – Relações de gênero no ambiente de trabalho
Item discriminado
%
Os homens possuem mais oportunidades do que as mulheres no ambiente de trabalho.
45
Não há preferência de gênero no ambiente de trabalho.
45
Depende das qualificações, e não do sexo.
5
Preferem mulheres.
5
Há muita disputa entre homens e mulheres.
5
Não respondeu.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
Os depoimentos a seguir referem-se à percepção das entrevistadas quanto a sua
legitimação organizacional.
[...] eu percebo que ainda tem a questão de ser jovem e ser mulher. Então,
eu acho que há uma certa resistência, um certo preconceito dos
professores, principalmente dos mais velhos. Eu já trabalhei num curso.
Tinha um coordenador, e ele não me chamava pelo nome, me chamava: Ô
menina, menina, menina, menina [..]. (E2)
Não vejo essa diferença de gênero, não. Por se tratar de um ambiente
acadêmico, o que mais importa é o conhecimento e a qualificação do
profissional. É o quanto ele é reconhecido [...]. (E5)
[...] eu acredito que isso também vai muito do perfil do profissional. Igual,
assim, para trabalhar onde eu trabalho é mais administrativo. Então, tem
que ser uma pessoa com o perfil mais administrativo. Não adianta pegar
uma pessoa com o perfil do campo. Não vai dar certo [...]. (E6)
Algumas entrevistadas afirmaram que não existe preferência de gênero no ambiente
de trabalho, enquanto outras ainda percebem preferências nesse sentido. A partir
destes achados, pode-se dizer que, mesmo havendo algumas modificações na
estrutura patriarcal da sociedade, ainda persistem as desigualdades e preferências
pelo sexo masculino em determinados ambientes.
Os privilégios do gênero masculino ainda são observados por algumas entrevistadas
em seu ambiente de trabalho. Nesse sentido, as opiniões manifestadas pelas
entrevistadas são respaldadas por Menezes (2013), que enfatiza que na sociedade
ainda existe a discriminação de gênero, o que remete à exclusão econômica e
100
simbólica da mulher, já que, muitas vezes, seu desenvolvimento é freado pelas
práticas sociais da dominação masculina (SIDRAMAPPA; ASTIGE, 2013).
Os aspectos mais importantes identificados no fator político foram:
a) Nas relações de poder estabelecidas no ambiente de trabalho, a maior parte das
mulheres ocupa posição de subordinação. Isso que afeta sua autonomia no
espaço organizacional, de forma que elas não participam da definição de
objetivos importantes e estratégicos no ambiente de trabalho. Mesmo que elas
possuam acesso a informações importantes e estratégicas na organização, seus
poderes de decisão continuam restritos;
b) As entrevistadas reconhecem a importância do desenvolvimento de alianças e
estratégias para o crescimento profissional dentro e fora da instituição. Elas
percebem preferência de gênero no ambiente de trabalho, reconhecendo que os
homens possuem mais oportunidades;
c) As mulheres têm um longo caminho a trilhar para alcançar o empoderamento
político.
5.2.5 Econômico
Este fator consiste na realização de atividades rentáveis pelas mulheres que
garantam independência financeira, autonomia e participação nas despesas da
família. Dá suporte à dimensão psicológica, ou seja, ao empoderamento subjetivo
(MELO, 2012).
Foram analisados os aspectos referentes às demandas e às oportunidades, a
independência financeira e a perspectiva de carreira.
5.2.5.1 Demandas e oportunidades
A partir da análise dos dados desta pesquisa, identificou-se que as demandas e as
oportunidades
encontradas
pelas
mulheres
entrevistadas
associam-se
aos
101
problemas financeiros que enfrentaram, os quais mobilizaram as mulheres a tentar
mudar a própria realidade; e à contribuição da graduação para adentrar no mercado
de trabalho, galgar outros cargos e obter melhorias salariais e para reduzir alguns
bloqueios enfrentados pelas mulheres para se inserirem no mercado de trabalho.
Conforme TAB. 21, a partir dos problemas financeiros que a maioria das
entrevistadas enfrentou, elas se mobilizaram para mudar a própria realidade;
Ressaltaram que foram incentivadas pelas mães a buscar sua independência
financeira; e três salientaram que foram conscientizadas na graduação para
buscarem sua independência.
Outras entrevistadas buscaram ser independentes financeiramente, visando, adquirir
bens materiais, sair da casa dos pais, participar das decisões familiares, melhorar de
vida e ter uma vida financeira mais estável. Uma salientou ter sido incentivada pelo
pai, enquanto outra foi incentivada pela avó (TAB. 21).
Tabela 21 – Incentivo que teve para buscar independência financeira
Item discriminado
%
Partiu de si mesma, devido os problemas financeiros que vivenciou.
65
Foi incentivada pela mãe.
15
Foi incentivada durante a graduação.
15
Foi incentivada pelo pai.
5
Foi incentivada pela avó a buscar a independência financeira.
5
A necessidade de adquirir bens materiais (carro, casa...).
5
Queria sair da casa dos pais.
5
Querer melhorar de vida.
5
Ter uma vida financeira mais estável.
5
Queria participar das decisões familiares.
5
Não respondeu.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
As
entrevistadas
mobilizaram-se
em
busca
de
independência
financeira,
principalmente por terem vivenciado dificuldades econômicas, o que pode ser
confirmado nos relatos a seguir:
Bom, incentivo na época, desde que eu comecei a trabalhar, foi a
necessidade, por causa dos problemas econômicos. Uma época da vida,
minha mãe começou a ter problemas de saúde. Ela teve que ficar licenciada
por mais de um ano no trabalho, e Governo Federal é difícil. Ela teve uma
queda no salário muito grande. A gente passou assim por uma época difícil.
Então, eu comecei a trabalhar com 14 anos, mas eu comecei a trazer
102
dinheiro para casa aos 7 anos de idade, quando a gente começou a
trabalhar vendendo salgado, doce e tudo que dava para fazer em casa de
alimentos na rua para poder garantir ali alguma coisa. Então, por um longo
período eu tinha que, eu saía todos os dias com as minhas coisas para
vender, pensando que se eu não conseguisse não tinha dinheiro para
comprar pão, não tinha dinheiro para comprar leite, não tinha dinheiro para
comprar as coisas para comer, ou no final daquele dia, ou no dia seguinte.
Então, o que me motivou a trabalhar tão nova assim foi a necessidade
mesmo, e depois foi a vontade de crescer, a vontade de melhorar, a
vontade de ter outra vida. (E2)
Eu era solteira, família de doze filhos. Então, família muito grande, uma
situação muito péssima. Então, querendo ou não, mulher tende a querer
trabalhar rápido para adquirir suas coisas. [...]. (E12)
Ah! Eu sempre busquei isso. Eu trabalho desde os 16 anos. Então, eu acho
que eu tenho de mim essa motivação: eu sempre quis ser independente
financeiramente. (E16)
O fator que desencadeou a busca por independência financeira nas entrevistadas
foram as dificuldades financeiras que vivenciaram. Pode-se dizer que as
desigualdades inerentes à renda foram mais recorrentes nos depoimentos das
entrevistadas. No entanto, identificaram-se aspectos de desigualdades de gênero
que também induziram as mulheres pesquisadas a buscar a independência.
Algumas entrevistadas foram incentivadas pelas mães a buscar sua independência,
ressaltando que era para elas não dependerem do marido. Outra entrevistada disse
ter buscado se tornar independente financeiramente visando participar da tomada de
decisão familiar, justificativa também identificada nos dados desta pesquisa
relacionada à busca pela independência visando reduzir algumas desigualdades de
gênero vivenciadas pelas entrevistadas.
Assim, pode-se dizer que as mães das entrevistadas, após serem subordinadas e
dependentes financeiramente do marido, incentivaram as filhas a se tornarem
independentes. Dessa forma, algumas entrevistadas foram incentivadas a se
mobilizarem visando romper com os papéis específicos impostos às mulheres aos
longos dos anos, reduzindo sua subordinação aos homens.
A TAB. 22 mostra que a graduação foi a maior oportunidade que as entrevistadas
tiveram para adentrar no mercado de trabalho, galgar outros cargos e obter
melhorias salariais (70%). Essas oportunidades foram decisivas para elas se
tornarem cada vez mais independentes financeiramente. Algumas entrevistadas
103
tiveram melhorias no seu poder aquisitivo, adquiriram bens materiais e passaram a
controlar melhor seus gastos. Ressaltaram que a graduação não contribuiu para se
tornar independente economicamente, 20%.
Constatou-se ainda, que alcançar a independência financeira desencadeou
sentimentos de elevada autoestima em uma entrevistada, conforme TAB. 22.
Tabela 22 – Contribuição da graduação para a independência financeira
Item discriminado
%
Foi fator decisivo para a mulher entrar no mercado de trabalho, galgar outros cargos e
70
obter melhoria salarial.
Não contribuiu.
20
Aumentou sua autoestima.
5
Melhorou sua qualidade de vida.
5
Passou a controlar os gastos.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto à contribuição da graduação para a conquista da independência financeira,
identificou-se que a graduação foi o fator decisivo para tal. Elas conseguiram
ingressar no mercado de trabalho, tiveram oportunidade de ocupar outros cargos e
melhorias salariais após se graduarem. Dessa forma, os resultados desta pesquisa
corroboram a ideia enfatizada por Menezes (2013) de que o aumento dos níveis
educacionais das mulheres significa mudanças nos padrões arraigados na
sociedade e, principalmente, nas relações de gênero, pois as entrevistadas se
tornaram mais independentes financeiramente e adentraram em espaços que
tradicionalmente são de domínio masculino.
A TAB. 23 revela que todas as entrevistadas salientaram que a graduação contribui
para reduzir alguns bloqueios enfrentados pelas mulheres para se inserir no
mercado de trabalho e que duas ressaltaram que o diploma comprova que a mulher
possui competências. Segundo as entrevistadas, a qualificação facilita a inserção
das mulheres no mercado de trabalho, permite maiores e melhores oportunidades
profissionais e lhes proporciona mais confiança e elevada autoestima. Possibilita,
também alcançarem cargos tradicionalmente reservados aos homens, como os de
alta hierarquia organizacional.
104
Tabela 23 – Facilidades desencadeadas pela graduação no mercado de trabalho
Item discriminado
%
A graduação facilitou sua inserção no mercado de trabalho.
100
O diploma comprova que ela tem competência.
10
Ao qualificar, a mulher consegue se inserir em ambientes que antes não conseguia.
5
Deixa a mulher mais confiante.
5
Eleva a autoestima da mulher.
5
Sente-se mais segura.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com os achados apresentados na TAB. 23 e conforme apontado por
alguns autores (LOURO, 2011; RAJANKAR, 2013), a educação desencadeia o
processo de empoderamento de mulheres.
No que tange às demandas e às oportunidades relativas ao fator econômico (MELO,
2012),
observou-se
que
as
entrevistadas
foram
impulsionadas
a
buscar
independência financeira a partir das dificuldades econômicas que vivenciaram e do
incentivo da mãe. Identificou-se que a graduação que fizeram foi essencial para se
tornarem um pouco mais independentes e, também, para reduzir alguns bloqueios
enfrentados pelas mulheres para se inserirem no mercado de trabalho.
5.2.5.2 Independência financeira
Constatou-se que o trabalho para as entrevistadas relaciona-se principalmente à
busca de se tornarem independentes financeiramente e ao fato de ainda não se
sentirem realizadas economicamente.
Conforme discriminado na TAB. 24, a principal motivação que orienta a maioria
significativa das entrevistadas a trabalhar é a independência financeira (70%). A
busca pela independência financeira pode ser sintetizada pela necessidade de
alcançar segurança econômica e romper com a dependência em relação aos pais e
com a limitação econômica que bloqueava seu crescimento.
Para algumas das entrevistadas, o trabalho desperta sentimento de autorrealização
e para outras, de utilidade. Outras ressaltaram que gostam de trabalhar e que os
trabalhos as deixam felizes.
105
Ressaltaram que o trabalho desperta nelas o sentimento de realização profissional,
independência, confiança e faz com que elas cresçam pessoalmente (10%, cada
uma).
Tabela 24 – Razão pela qual trabalha
Item discriminado
%
Trabalha pelo retorno financeiro.
70
Trabalhar lhe faz sentir realizada.
35
Trabalhar lhe faz sentir útil.
25
Porque gosta de trabalhar.
20
Trabalhar lhe deixa feliz.
20
Por realização profissional.
15
Trabalhar para ser independente.
10
Trabalhar lhe faz sentir segura/confiante.
10
Trabalha para crescer pessoalmente.
10
Gosta de conhecer determinada área mais profundamente por meio do trabalho.
5
Trabalha para não se sentir submissa.
5
Trabalha para elevar a autoestima.
5
Trabalha para ter amizades e outros relacionamentos.
5
Trabalha para estar diante da sociedade.
5
Para ajudar nas despesas do lar.
5
Trabalha para passear, viajar.
5
Para ganhar experiência.
5
Para adquirir conhecimento.
5
Reconhecimento pessoal.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
Para
algumas
entrevistadas,
trabalhar
significa
conhecer
profundamente
determinada área, não se sentir submissa, ter autoestima elevada, fazer amizades,
participar da sociedade, ajudar nas despesas do lar, passear, viajar, ganhar
experiências, adquirir conhecimento e ser reconhecida.
As entrevistadas trabalham principalmente em busca de independência financeira,
conforme fragmentos de suas falas:
Por gosto e por necessidade financeira. (E1)
Bom, né, a primeira coisa é o fator econômico. A gente precisa comer. Eu
ainda não virei anjo, ainda preciso me alimentar, vestir, morar, ir no médico
e tudo mais, tomar uma pilha de remédios. Então, eu trabalho para financiar
isso tudo, e trabalho por que eu adoro trabalhar. Então, eu acho que,
mesmo que eu tivesse condições de não fazer literalmente nada, eu
continuaria trabalhando [...]. (E2)
Hoje, o que consigo dizer é que trabalho por dinheiro. Atualmente, estou
buscando uma atividade que tenha mais relação com o que eu gosto de
fazer. [...]. (E8)
106
Os dados desta pesquisa demostram que as entrevistadas se tornaram um pouco
mais independentes financeiramente, mas não totalmente. Elas veem o trabalho
como uma forma de participar ativamente da família e da sociedade, além de
permitir que mudem seus sentimentos de autoestima e autoconfiança.
Conforme se identificou nesta pesquisa e de acordo com Kokatanur (2013), o
empoderamento, a princípio, parte da equiparação econômica entre homens e
mulheres, pois por meio da igualdade de condições econômicas, a mulher consegue
romper em outras dimensões. Conforme Melo (2012), a independência financeira da
mulher afeta as outras dimensões da sua vida, tornando-a mais segura e confiante e
dando-lhe suporte para o empoderamento psicológico.
Os dados apresentados na TAB. 25 referem-se ao sentimento de realização
financeira das entrevistadas. Das mulheres pesquisadas, a maioria significativa
ainda não se sente realizada economicamente (80%). Destas, algumas acreditam
que a condição financeira sempre pode melhorar; duas que sua condição financeira
atual ainda não possibilitou seu acesso a bens materiais como, ter uma casa ou um
carro; duas sentem-se realizadas economicamente; e uma salientou se sentir
humilhada por não ter uma boa condição financeira.
Tabela 25 – Sentimento de realização econômica despertado nas entrevistadas
Item discriminado
%
Não se sente realizada economicamente.
80
Acredita que pode melhorar.
20
Precisa ganhar mais dinheiro para adquirir bens materiais (casa, carro...).
10
Sente-se realizada economicamente.
10
Sente-se humilhada por outras pessoas por não ter uma boa condição financeira.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
Identificou-se nesta pesquisa que as mulheres entrevistadas não se sentem
realizadas economicamente, conforme expressam seus relatos:
Em se tratando de termos financeiros, sempre busco melhorar minha
situação, mas há um ano consegui uma melhoria salarial que me permite
viver melhor. No entanto, ainda não conquistei minha casa própria e por isto
ainda estou em busca de melhorias e economia visando esta conquista.
(E1)
107
Ainda não. Ainda tem coisas que eu quero fazer. É, por exemplo, eu ainda
moro com a minha mãe. Eu quero ter o meu apartamento, é viagens, coisas
que eu quero fazer. Então, realizada, plenamente realizada, ainda não [...].
(E2)
Os depoimentos das entrevistadas revelam que elas ainda não se sentem realizadas
com a atual situação financeira. Pode-se inferir que, devido ao fato de dependerem
de outras pessoas e de estarem buscando incessantemente ter melhorias salariais,
essas mulheres estão buscando se empoderar psicologicamente a partir da
independência financeira (empoderamento econômico).
No que se refere à independência financeira das entrevistadas, identificou-se que
elas não se sentem totalmente realizadas neste quesito, pois ainda não possuem
casa própria nem carro. Elas estão tentando também, por meio da independência
econômica, empoderar-se psicologicamente, pois há outras repercussões, como
ocorreu nos sentimentos das entrevistadas.
5.2.5.3 Perspectiva de carreira
A partir dos dados desta pesquisa, verificou-se que a perspectiva de carreira das
entrevistadas estava relacionada a: graduação como fator decisivo para suas
perspectivas no campo profissional, como entrar no mercado de trabalho, conquistar
outros cargos e obter melhoria salarial.
Tendo por base a TAB. 26, constatou-se que antes da graduação as perspectivas de
carreira para algumas entrevistadas eram mínimas; Que para duas eram de
desenvolverem-se intelectualmente; que para duas eram de ter qualidade de vida; e
que para outras eram de conquistar bens materiais.
Uma entrevistada sonhava em ter o próprio negócio e outra pretendia conseguir
emprego relacionado a sua área de qualificação. Outras entrevistadas pretendiam
ter um bom salário, ocupar um bom cargo, construir carreira em uma instituição
financeira e outra sonhava passar em um concurso público. Constatou-se, ainda,
que uma entrevistada não se sentia capaz de ocupar um bom emprego; outra
108
achava que seria fácil encontrar um emprego após a graduação; e outra não sabia
em que área gostaria de trabalhar (TAB. 26).
Tabela 26 – Perspectivas e planos no campo profissional antes de graduar-se
Item discriminado
Eram mínimas suas perspectivas no campo profissional antes de se graduar.
Desenvolver-se intelectualmente, independente da área.
Ter qualidade de vida.
Conquistar bens materiais.
Ter o próprio negócio.
Pretendia conseguir um emprego que fosse relacionado sua graduação.
Ter um bom salário.
Ter um cargo bom.
Seguir carreira em uma instituição financeira.
Passar em um concurso público.
Achava que nunca iria conseguir um bom emprego.
Pensava que fosse ser mais fácil arrumar emprego após graduar.
Não sabia em que área gostaria de trabalhar.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
%
30
10
10
10
5
5
5
5
5
5
5
5
5
mais
Os dados apresentados na TAB. 26 podem ser complementados a partir dos
depoimentos das entrevistadas a seguir:
Minhas perspectivas sempre foram o desenvolvimento intelectual,
independente da área que estivesse, já que antes da graduação não sabia
exatamente em que área gostaria de trabalhar. Foi somente na faculdade
que tomei gosto pela gestão e me vi exercendo tal atividade a partir de tal
momento. (E1)
Eram mínimas, sem expectativas.[...]. (E4)
Ah! Não tinha muitas, não. Eu trabalhava em uma indústria farmacêutica e
era auxiliar administrativo, apesar dos meus superiores elogiarem muito o
trabalho que eu realizava. Eu trabalhava com as artes dos materiais de
embalagem da empresa, mas eu não via muitas possibilidades de
ascensão, não, porque, para ocupar os cargos mais altos, era necessário a
graduação, e eu não tinha, né. Então, as minhas perspectivas eram baixas.
Não tinha muitos planos no campo profissional, não. Me sentia limitada pela
falta do curso superior. (E5)
Percebe-se que as entrevistadas enxergavam na graduação uma perspectiva de
mudança de vida. Isso reforça o que alguns autores afirmam sobre a educação
como forma de desencadear o processo de empoderamento de mulheres. O acesso
à educação influencia a melhoria de vida, o acesso a direitos fundamentais e a
conquista de autonomia, além de provocar mudanças nas relações patriarcais (FEM,
109
2005; BOURDIEU, 2007; LOURO, 2011; SANTOSH, 2013; RAJANKAR, 2013;
KOKATANUR, 2013), como pode ser identificado na percepção das entrevistadas.
Em relação aos planos de carreira após a graduação, conforme mencionado no fator
subjetivo, a partir da análise das entrevistas emergiram as seguintes subcategorias:
passar em concurso público; ter seu próprio negócio; investir em mais educação; e
tornarem-se professoras.
A graduação fez com que novas perspectivas de vida surgissem para estas
mulheres. O conhecimento despertou nelas o desejo de continuar progredindo e
investindo em mais conhecimento, pois percebem que a educação é uma estratégia
para conquistar melhores condições de vida e que para se destacarem precisam
continuar investindo em educação.
Em relação ao empoderamento econômico (MELO, 2012), citam-se como os
aspectos mais importantes identificados neste fator:
a) A
maioria
das
entrevistadas
não
se
sente
completamente
realizada
economicamente, apesar de terem obtido melhorias financeiras, pois ainda não
atingiram o patamar econômico que desejam;
b) As mulheres pesquisadas reconhecem a contribuição da graduação para sua
independência financeira e para a elaboração de planos e projetos futuros.
Ressaltaram que antes de se graduarem as perspectivas de melhorar a qualidade
de vida eram limitadas e que após a graduação tiveram maiores perspectivas
para carreira profissional e para sua vida pessoal. Apesar de reconhecerem a
contribuição da graduação, enfatizaram que, para galgarem posições mais
elevadas, é necessário continuar investindo em educação.
Pode-se inferir que a graduação financiada pelo Prouni desencadeou mudanças
econômicas na vida das mulheres e que houve empoderamento econômico, pois,
mesmo que elas ainda não tenham alcançado a independência financeira que
almejam, como ter a casa própria, viajar e ter carro, a maioria arca com várias as
despesas.
110
5.2.6 Social
Este fator relaciona-se à conscientização da mulher quanto à forma como é
reconhecida em seus âmbitos familiar, social e organizacional, demonstrando
possíveis mudanças nas relações de gênero (MELO, 2012).
Neste fator, foram analisados os aspectos referentes ao reconhecimento familiar,
social e organizacional das entrevistadas.
5.2.6.1 Reconhecimento familiar
Dos
dados
desta
pesquisa
emergiram
as
seguintes
características
do
reconhecimento familiar das entrevistadas: o pai é a principal figura de autoridade
dentro da família; e a graduação contribuiu para a capacidade das mulheres de
discutir situações cotidianas.
Considerando-se que a sociedade possui características patriarcais, predominando
a dominação do homem e a subjugação da mulher, as entrevistadas vivenciaram
esse dualismo em seu seio familiar.
Conforme a TAB. 27, a principal figura de autoridade na família de algumas
entrevistadas era o pai, com 45%. Seguem-se a mãe, 30%; o marido, 15%; e elas
mesmas, 15%. Na família de uma entrevistada, a principal figura de autoridade era o
padrasto; de outra, a avó. Uma entrevistada salientou que o poder de decisão é de
quem detém conhecimento sobre o teor da decisão.
Tabela 27 – Principal figura de autoridade dentro da sua família
Item discriminado
%
O pai é a principal figura de autoridade dentro da família.
45
A mãe sempre foi a autoridade dentro de casa.
30
O marido.
15
Ela mesma.
15
O padrasto.
5
A avó.
5
O pai apoia financeiramente.
5
Decide quem detém conhecimento sobre o teor da decisão.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
111
Verifica-se que as principais figuras de autoridade na família das mulheres
pesquisadas foram masculinas, prevalecendo o pai, seguindo-se o padrasto ou o
marido, conforme relatos a seguir:
Meu pai! Minha mãe é totalmente dependente do meu pai. Eu acho que se
um dia – Deus me livre e guarde o dê muitos anos de vida –, mas se meu
pai falecer, ela vai focar tudo para mim. Minha mãe é assim, aquela figura,
aquela mulher feminina que foi criada para ser submissa. Ela não consegue
tomar decisão. Meu pai é que administra, faz tudo. Então, é mais meu pai,
tanto que meu pai, é estranho, porque eu e minhas irmãs nós somos ao
contrário [...]. (E18)
Verifica-se que nas famílias das entrevistadas predominava a estrutura patriarcal,
sendo ao homem reservado o poder, enquanto às mulheres/esposas era reservado
apenas o cuidado com os filhos e a submissão ao cônjuge.
Considerando a TAB. 28, identificou-se que o reconhecimento familiar das
entrevistadas se refere à contribuição da qualificação para discutir situações
cotidianas (80%). Algumas passaram a ajudar a família a tomar decisões. Além de
representá-la em reuniões na sociedade, passaram a incentivá-la a controlar os
gastos financeiros e a poupar dinheiro.
Algumas entrevistadas passaram a influenciar as pessoas a sua volta por meio de
suas experiências positivas e negativas, duas encorajam outras pessoas a
buscarem seus objetivos e outras duas ajudam os amigos a tomarem decisões.
Duas entrevistadas não perceberam mudanças em sua capacidade de influenciar
pessoas.
Tabela 28 – Capacidade das entrevistadas de influenciar pessoas, ao graduarem-se
Item discriminado
Contribui para melhor discutir situações.
Passou a influenciar as pessoas por meio de suas experiências positivas e negativas.
Ajuda os amigos a tomarem decisões.
Não percebeu mudança na sua capacidade de influenciar as pessoas.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
%
80
30
10
10
mais
As mudanças ocasionadas pelos conhecimentos adquiridos na graduação na
capacidade das mulheres pesquisadas de influenciar as pessoas ao seu redor
podem ser percebidas pelos relatos a seguir:
112
A qualificação e experiências sempre nos dão base para melhor discutir as
situações. E, com a melhoria das posições de trabalho, o reconhecimento
não vem somente do ambiente de trabalho, mas também nas demais
relações que nos veem como exemplos. (E1)
[...] eles não teriam muito por que discutir essas coisas comigo, né, e eu
acho que depois que eu formei, e tudo mais, eles passaram a perceber [...]
Então, todas as decisões mais críticas assim que ele tem que tomar na
empresa ele vem atrás de mim. Meu irmão também. Até em decisões mais
idiotas, tipo assim: “Ah! Nossa! Eu queria fazer a prestação tal. Você olha
aqui para mim se é interessante tal [...]. (E2)
Com base nesses depoimentos, pode-se dizer que as entrevistadas estão
caminhando rumo ao rompimento de uma posição de subordinação no contexto
familiar, pois passaram a influenciar as tomadas de decisão da família, o que antes
era restrito aos homens, característica familiar típica de uma sociedade patriarcal,
conforme apresentado na TAB. 28.
Pode-se dizer a partir desses achados que a graduação desencadeia mudanças na
estrutura patriarcal predominante na sociedade, conforme enfatizam Louro (2011),
Rajankar (2013) e Santosh (2013). Bourdieu (2007) também ressalta que o acesso
das mulheres ao ensino superior, além de desencadear a independência financeira
delas, provoca mudanças nas estruturas patriarcais familiares. Assim, a partir dos
dados desta pesquisa, tem-se que as mulheres começaram a ter acesso a espaços
antes reservado aos homens na estrutura familiar.
5.2.6.2 Reconhecimento social
Com base nos dados desta pesquisa, identificou-se que as entrevistadas sentiramse mais reconhecidas no grupo social após se graduar e que homens e mulheres
não possuem as mesmas oportunidades econômicas, políticas e sociais na
sociedade.
A TAB. 29 apresenta as respostas das entrevistadas quanto às mudanças que
ocorreram na forma de serem reconhecidas pelo grupo social ao se graduarem.
Apurou-se que 80% das entrevistadas sentiram-se reconhecidas pelo seu grupo
social, porque adquiriram novos conhecimentos e cultura, passaram a ser
respeitadas e tratadas de forma diferente pelas pessoas a sua volta e tornaram-se
exemplos a serem seguidos.
113
Salientaram que não percebem mudanças na forma de ser reconhecida pelo seu
grupo social, 20%.
Tabela 29 – Reconhecimento social das entrevistadas ao graduarem-se
Item discriminado
%
Sentiu-se mais reconhecida positivamente no grupo social após se graduar.
80
Não se sentiu mais reconhecida em seu grupo social após se graduar.
20
Permitiu maior reconhecimento em todos os cenários.
5
Sente-se mais reconhecida porque adquiriu novos conhecimentos.
5
Sente-se mais reconhecida porque adquiriu cultura.
5
Facilitou a inserção no grupo social.
5
Passou a ser respeitada.
5
Não só por ser uma graduação, mas por mérito de conquista.
5
Se tornou um exemplo de autodeterminação a ser seguido.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
Observa-se nos relatos como as entrevistadas percebem o seu reconhecimento
social, após se graduarem:
Porque é outra coisa. Não tem jeito. Não adianta falar que é a mesma coisa.
Não é. Você é percebida de uma forma diferente. Você consegue muito
mais coisa do que você conseguia antes. Você é vista de outra forma na
sociedade. Não é só eu quero ser vista diferente, quero ser percebida. Não
é isso. Você vai conhecer, você vai ter um reconhecimento totalmente
diferente. [...]. (E6)
Eu acho que, querendo ou não, você adquire mais experiência. Você escuta
outras histórias. Então, você querendo ou não, você traz para sua vida e
traz para vida da outra pessoa também, né. Eu acho que com o
conhecimento você consegue ter, como se fala, mostrar muito mais fácil
para a pessoa que aquilo vai ser ruim, vai ser bom ou não naquele
momento para ela. (E12)
Esses achados reforçam o que Eyben (2013) enfatiza sobre empoderamento social
quando afirma que ele está relacionado à forma como as mulheres são
reconhecidas e respeitadas considerando o desejo que possuem, e não os que lhe
são impostos pelos papéis tradicionais.
Conforme apresentado na TAB. 30, 75% das entrevistadas salientaram que homens
e mulheres não possuem as mesmas oportunidades econômicas; 65%, políticas;
60% sociais. Segundo as entrevistadas, as mulheres ainda sofrem preconceitos
oriundos da tradição patriarcal. Salientaram que os homens possuem vantagens
naturais, pois possuem melhores oportunidades econômicas, políticas e sociais. Os
114
homens dominam a política, recebem maiores oportunidades do mercado de
trabalho e maiores salários e ocupam com mais facilidade altos cargos na hierarquia
das organizações. No espaço doméstico, cabe a eles apenas prover financeiramente
a família, conforme discriminado na TAB. 30.
Segundo as entrevistadas, as mulheres têm acesso restrito à política, recebem
salários menores, possuem restrita oportunidade no mercado de trabalho e acesso a
altos cargos na hierarquia organizacional e precisam provar que são capazes a todo
o momento no trabalho. Elas representam o sexo frágil, sofrem preconceitos ao
tentar mudar tal realidade, são responsáveis pelo cuidado com o espaço doméstico
e com os filhos, além de ter que ajudar nas despesas do lar (TAB. 30).
Ainda com base na TAB. 30, identificou-se que duas entrevistadas ressaltaram que
homens e mulheres possuem as mesmas oportunidades econômica, política e
social. Uma entrevistada até ressaltou que a mulher tem mais oportunidades que o
homem.
Tabela 30 – Oportunidades econômica, social e política na sociedade
Item discriminado
%
Homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades econômicas.
75
Homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades políticas.
65
Homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades sociais.
60
No mercado de trabalho, os homens possuem mais oportunidades, a mulher ganha menos e
25
ocupa cargos inferiores.
As mulheres ainda sofrem muitos preconceitos por causa da tradição da sociedade patriarcal.
20
Os homens têm vantagens naturais.
15
A política é dominada por homens.
15
Socialmente e economicamente, a mulher tem que provar sua capacidade para o mercado.
10
Acredita que está mudando.
10
Homens e mulheres possuem as mesmas oportunidades sociais, políticas e econômicas.
10
Os homens se preocupam apenas em manter financeiramente a família, enquanto a mulher tem,
10
além dessa, outras preocupações, como com os filhos e o trabalho doméstico.
A realidade é que a mulher tem mais oportunidade do que o homem.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
A partir dos relatos das entrevistadas, constatou-se que ainda persistem
discriminações em função do gênero na sociedade, conforme os fragmentos a
seguir:
115
Em nenhum dos quesitos... Ah! Profissionalmente, notório que os homens
têm mais facilidade e aceitação no mercado de trabalho. Temos que provar
nossa capacidade para o mercado, economicamente como consequência e
politicamente. Assim, na sociedade também sofre preconceitos por
buscarem liberdade, diferenciação [...]. (E1)
Não. Não possuem. As mulheres ainda sofrem muitos preconceitos por
causa da tradição da sociedade patriarcal. Os homens têm vantagens
naturais. Isso é nítido. Para alguns cargos, os homens são os primeiros a
serem cotados, porque as pessoas acham que existem características que
são naturais dos homens, como a objetividade, a autoridade, a decisão, a
segurança, a razão... Então, a mulher tem que provar muita competência
para ocupar determinadas posições e conquistar o respeito em
determinadas áreas. (E5)
Pode-se dizer que estas mulheres tiveram maior reconhecimento social após se
graduarem, mas ainda predominam na sociedade traços de uma sociedade
patriarcal.
Pode-se inferir a partir dos achados desta pesquisa que as mulheres pesquisadas,
mesmo sendo reconhecidas pelo seu grupo social, ainda percebem o predomínio de
aspectos culturais acerca dos gêneros, pois persistem
as desigualdades
econômicas, políticas e sociais. Os resultados confirmam o que foi enfatizado por
autores: os papéis de gênero são difundidos e reafirmados continuamente por
propagandas,
imagens,
brincadeiras,
crenças,
cultura,
tradições,
sistema
educacional, leis, violência contra a mulher, divisão sexual e social do trabalho e
instituições presentes na sociedade (ROSA, 2003; COSTA, 2004; BOURDIEU,
2007).
A dominação masculina é reforçada pela objetividade das estruturas sociais e pelas
atividades produtivas e reprodutivas, de tal maneira que as mulheres são excluídas
e praticamente se tornam invisíveis nos âmbitos político, social, familiar, cultural e
profissional (COSTA, 2004; MENEZES, 2013).
O fato de duas mulheres perceberem mudanças nas relações de gênero na
sociedade pode se justificar pelo aumento dos níveis educacionais delas. Conforme
salientam alguns autores, quando as mulheres melhoram seus níveis educacionais
passam a participar das decisões econômicas, sociais e políticas nos âmbitos social
e coletivo (BOURDIEU, 2007; KOKATANUR, 2013).
116
5.2.6.3 Reconhecimento organizacional
A partir dos dados desta pesquisa, emergiu a seguinte subcategoria característica
do reconhecimento organizacional: as mulheres são reconhecidas nas organizações.
Verificou-se que a maioria das entrevistadas é reconhecida nas organizações,
principalmente por meio de promoções e melhorias salariais, conforme já foi
analisado no fator subjetivo (impacto percebido).
A partir desse resultado, pode-se perceber que o reconhecimento organizacional das
mulheres entrevistadas é restrito, pois elas não percebem outras manifestações de
reconhecimento organizacional. Verificou-se, no que tange a alguns aspectos
presentes no espaço organizacional, como o reconhecimento organizacional, que a
consciência das entrevistadas é muito limitada. Dessa forma, elas podem estar
vivenciando uma violência simbólica, como enfatiza Bourdieu (2007), pois parecem
estar envolvidas pela magia do espaço organizacional. Elas não se dão conta das
relações de gênero e poder no trabalho.
Em relação ao empoderamento social (MELO, 2012), citam-se como os aspectos
mais importantes identificados neste fator:
 As entrevistadas passaram a participar mais ativamente da tomada de decisão na
família. No que se refere ao seu reconhecimento social, também se perceberam
algumas mudanças, na medida em que elas se sentiram mais reconhecidas
devido à maior bagagem de conhecimentos e de cultura que adquiriram na
graduação. No entanto, ainda consideram restritas sua participação no contexto
social, político e econômico. No âmbito organizacional, as entrevistadas também
se sentiram reconhecidas. Salienta-se que nesse espaço o reconhecimento
aconteceu por meio de mudanças de cargo, função e melhorias salariais destas
mulheres.
A partir desses resultados, pode-se inferir que o processo de empoderamento social
(Melo, 2012) se iniciou, mais ainda não ocorreu em sua plenitude, pois houve
apenas algumas mudanças na conscientização das mulheres no que se refere a seu
reconhecimento familiar, social e organizacional após terminarem a graduação.
117
5.2.7 Cultural
Este fator refere-se às relações de poder presentes na sociedade e às possíveis
mudanças nas relações patriarcais, ou seja, gênero, classe social, raça, cultura e
história (MELO, 2012).
Foram analisados os aspectos referentes às influências culturais no empoderamento
de mulheres.
5.2.7.1 Influências culturais
De acordo com os dados desta pesquisa, as entrevistadas tiveram maior influência
feminina do que masculina no decorrer de sua vida. Identificou-se que a graduação
contribui para as relações sociais e culturais delas e, ainda, que a graduação
contribui para reduzir os tratamentos desiguais entre homens e mulheres na
sociedade, conforme discriminado na TAB. 31.
A principal influência masculina, na percepção de 45% das entrevistadas, foi a
parterna, sendo algumas positivas e outras negativas; para 40%, não ocorreu
influência masculina; e duas apontaram a do marido ou do noivo; e 5%, do avô, do
irmão ou do pastor (cada uma).
118
Tabela 31 – Influência masculina nas escolhas
Item discriminado
%
Teve influência do pai nas escolhas (tanto positivas quanto negativas).
60
Não teve influência masculina nas escolhas.
40
Teve influência do marido/noivo.
10
Teve influência do avô.
5
Teve influência do irmão.
5
Teve influência do pastor.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
A TAB. 32 descreve as influências femininas que as mulheres pesquisadas
relataram. Para 75%, a influência foi da mãe, que as incentivaram a buscar o
crescimento, o desenvolvimento e a independência financeira e, também, a fazerem
um curso superior (uma foi simplesmente motivada pela trajetória de sucesso da
mãe). Para 15%, a influência foi da avó; para 10%, de tias; e para 5%, de amigas,
mulheres de sucesso e irmã (cada uma). Declararam que não tiveram influências
femininas, 15%.
Tabela 32 – Influência feminina nas escolhas
Item discriminado
%
Teve influência da mãe nas escolhas.
75
Teve influência da avó.
15
Não teve influências femininas nas escolhas.
15
Foi incentivada pela mãe a buscar crescimento e desenvolvimento.
10
Foi incentivada pela mãe a buscar independência financeira.
10
Teve influência de tias.
10
Teve influências de amigas.
5
Teve influência de mulheres de sucesso.
5
Teve influência da irmã.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta.
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto às influências que as entrevistadas tiveram, verificou-se que para a maioria
foi femininas, conforme fragmentos de suas falas:
Bom, nas escolhas profissionais foi uma influência muito grande, porque eu
sempre tive ela como um modelo, né, de pessoa, de ser humano, né,
inclusive de modelo profissional mesmo. É uma pessoa extremamente ética.
É uma pessoa, né, que, com tudo que ela passou na vida, é uma pessoa
muito bem sucedida [...]. (E5)
[...] minha avó também falava assim. “Não! Nunca dependa de homem [...]!”.
Assim, porque minha avó teve uma história assim muito grande, né, que
antigamente, né, mulher era mal vista se fosse separada, porque ela era
bem sucedida. Ela trabalhava em uma empresa e recebia muito mais que
meu avô, e meu avô casou com ela. Aí, ele falou com ela. Aí, no caso, ou
119
ela largava o serviço ou ele separava dela. Mas não falou isso quando eles
namoravam, né. Então, ela recebia muito mais, e o pessoal falou que ela
estava bancando ele, porque ela era executiva, e ele era operário. Aí, ela
virou para mim e falou assim: “Nunca dependa de homem! Busque sua
independência, porque se o homem bater o pé, você tem a sua vida,
entendeu. Não faça o que eu fiz. Eu só não fiz porque na época eu seria
muito mal falada”. Então, eu tenho isso da minha avó até hoje: buscar
conhecimento. Eu não quero depender de homem e nem de pessoa
nenhuma. Eu quero eu mesma buscar as minhas coisas.
A maior influência feminina que as entrevistadas citaram foi a mãe, depois as avós e
as tias, o que pode ser justificado pelo papel social que a mulher possui. Ela é
responsável pelo cuidado e pela educação dos filhos. De acordo com Bourdieu
(2007), à mulher é reservado o espaço privado, competindo-lhe as tarefas do lar, os
cuidados com os filhos e a realização de trabalhos domésticos. Menezes (2013)
também enfatiza que o papel tradicionalmente imposto às mulheres a associa ao de
mãe, de dona de casa, de trabalhadora, pouco visíveis na sociedade.
Pode-se ressaltar, ainda, outro ponto em relação à influência feminina que as
entrevistadas tiveram. Segundo Bourdieu (2007), o aumento da quantidade de
mulheres que trabalham influencia a forma como as tarefas domésticas são divididas
e, ainda, afeta a posição do feminino e do masculino na família. Quando as mães
desenvolvem
trabalhos
remunerados,
as
filhas
possuem
aspirações
mais
desenvolvidas e elevadas quanto a sua própria carreira, estando, de certa forma,
menos apegadas à condição feminina no modelo de família patriarcal.
Conforme descrito na TAB. 33, para a maioria das entrevistadas a graduação amplia
as relações sociais das pessoas, pois fazem novos amigos e conhecem pessoas de
diferentes personalidades; para algumas, ao se graduarem, elas têm mais
conhecimentos; para outras, se tornaram mais conscientes no que tange aos
aspectos culturais presentes na sociedade; para outras, que ampliou o acesso aos
eventos culturais; e para outras, que a graduação possibilitou o aumento da rede de
relacionamentos profissionais das entrevistadas.
Ressaltaram, ainda, que a graduação contribui para que as pessoas tenham
pensamentos mais flexíveis, melhora a capacidade de influência, as tornam
respeitadas, desencadeia mudanças nas relações sociais e culturais e ajuda a
reduzir
as
desigualdades
presentes
na
sociedade.
Algumas entrevistadas
120
ressaltaram que a graduação possibilita que elas sejam reconhecidas em todos os
cenários, reduz a violência, contribui para o desenvolvimento do país, insere a
mulher em ambientes predominantemente masculinos e ajuda a reduzir as
vantagens naturais que os homens possuem.
A TAB. 33 apresenta as repercussões da graduação nas relações sociais e culturais
das pessoas, na percepção das entrevistadas.
Tabela 33 – Influência da graduação nas relações sociais e culturais das pessoas
Item discriminado
Amplia as relações sociais das pessoas (amigos, conhecer novas pessoas...).
Possui mais conhecimento.
Deixa a sociedade mais consciente.
Passou a ter mais acesso a eventos culturais.
Aumentou a possibilidade de relacionamentos profissionais.
Contribui para que as pessoas tenham pensamentos mais flexíveis.
Passou a influenciar mais as pessoas
Provoca mudanças nas relações sociais e culturais na sociedade.
Não percebe mudanças.
Passa a ser respeitada.
Permite maior reconhecimento em todos os cenários.
Reduz a violência.
Contribui para o desenvolvimento do país.
Insere a mulher em ambientes predominantemente masculinos.
Compensa as vantagens naturais que o homem tem.
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
%
55
35
30
20
20
15
15
15
15
10
5
5
5
5
5
mais
Verifica-se que a principal influência da graduação nas relações sociais e culturais
das mulheres entrevistadas foi em seu grupo de amizades. Elas conheceram muitas
pessoas e fizeram novos amigos, como pode ser observado em seus depoimentos a
seguir:
[...] Fiz amizades na faculdade. Minhas amizades duram até hoje. Por
exemplo, como eu sou do interior, fiquei muito perdida quando cheguei aqui.
Não conhecia ninguém além da minha família. A faculdade me possibilitou
conhecer pessoas. E, cultural. Como sou do interior e lá não tínhamos
acesso a nada cultural, com minha vinda para Belo Horizonte para estudar
pelo Prouni eu comecei a ter mais acesso a movimentos culturais. (E1)
[...] Nossa senhora! Na faculdade você conhece milhões de pessoas, né.
Então, eu acho que tem muitas possibilidades tanto de relacionamentos
profissionais quanto de relacionamentos interpessoais, e tudo mais. Você
conhece nem sei quantas pessoas ao longo do curso. Então, eu tenho,
assim, como a gente conhece pessoas que podem nos ajudar
profissionalmente, nos dar oportunidades. Até professores que podem nos
indicar para fazer entrevistas em alguma empresa que ele conheça, e tal,
121
ou, mesmo, conhecer pessoas, fazer amizade, que isso também é muito
importante para vida [...]. (E5)
Ah! É igual eu falei assim, a pessoa ela começa a ter outra visão. Então, ela
começa a participar de alguns eventos que antes ela nem fazia parte, e para
ela até assim, ou ela não conhecia certos eventos ou ela achava ridículo,
mas depois com o conhecimento, aí você começa a ver que é importante
para você. Aí, você começa a participar. (E6)
A partir desses dados, pode-se perceber que a graduação ampliou o acesso das
mulheres ao espaço público, contribuindo para o rompimento de alguns papéis
construídos acerca dos espaços destinados a homens e mulheres na sociedade.
Conforme salientam Rosa (2003) e Bourdieu (2007), ao homem foi destinado o
espaço público e, portanto, atividades de maior prestígio, e às mulheres foi
reservado o espaço privado, a reclusão. Assim, a maior participação da mulher em
atividades sociais denota mudanças nas relações tradicionais de gênero.
A mulher ampliou a sua participação não somente na esfera produtiva, mas também
em
atividades
coletivas,
sociais.
Elas
tiveram
novas
possibilidades
de
relacionamento, ampliando, a partir disso, suas possibilidades, até mesmo,
profissionais.
A TAB. 34 revela que para a maioria significativa das mulheres pesquisadas (85%) a
graduação ajuda a reduzir os tratamentos diferenciados entre homens e mulheres na
sociedade; para três, a serem mais respeitadas, valorizadas e reconhecidas. Elas
enfatizaram que as mudanças ocorrem primeiro no seio familiar e depois na
sociedade. Segundo elas isso altera a divisão de papéis entre homens e mulheres
nos espaços público e privado e possibilita-lhes ocupar espaços públicos, ter poder
de decisão e influenciar outras pessoas. Nas organizações, contribui para que as
mulheres tenham melhores empregos e melhores salários, ocupem cargos elevados
e concorram em pé de igualdade com os homens. No entanto, duas entrevistadas
não acreditam que a graduação influencia esses aspectos culturais.
122
Tabela 34 – Influência da graduação na desigualdade de gêneros
Item discriminado
%
Provoca mudanças
85
As mulheres passam a ser mais respeitadas, valorizadas, reconhecidas.
15
Acha que isso não influencia.
10
A mulher é mais competente do que um homem.
5
Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais
de uma resposta
Fonte: Dados da pesquisa
A percepção das entrevistadas em relação à contribuição da graduação para reduzir
as desigualdades de gênero na sociedade pode ser identificada nos seguintes
relatos:
Com certeza! Por causa do conhecimento e do que você aprendeu, você
começa a participar mais de decisões. Então, você acaba as pessoas te
percebendo de uma forma diferente, com poder de decisão [...]. (E6)
Eu acho que contribui sim, tanto para a minha vida quanto de forma geral.
Eu acho que contribui, sim e que é um diferencial, é uma conquista, sabe.
Pelos amigos que ela faz aqui, pelas coisas que ela vê aqui, ela já volta
para casa com outra, outra cabeça, outro ideal, sabe, outra, com mais
informação. Eu acho que assim tira ela um pouco daquele ciclo da família e
faz ela querer crescer. Eu acredito, sim, que a graduação possa mudar essa
história de que pai é a base familiar, o alicerce da família. Eu acredito que a
graduação pode mudar isso, sim. (E8)
Assim como alguns autores apontam, dentre eles Bourdieu (2007), as entrevistadas
também enfatizaram que a graduação contribui para a redução da forma desigual
como homens e mulheres são tratados, sendo reservado estes a melhor parte, o
poder, enquanto a mulher deve ser submissa.
Em relação ao empoderamento cultural (MELO, 2012), percebeu-se que a maioria
das entrevistadas relatou que a graduação contribuiu para a redução dos
tratamentos diferenciados entre homens e mulheres na sociedade.
Em síntese, verificou-se que as entrevistadas tiveram maior influência da mãe em
suas escolhas, ampliaram suas relações sociais por meio da graduação e
perceberam que a graduação contribui significativamente para reduzir os
tratamentos desiguais de gênero na sociedade.
Embora as entrevistadas reconheçam que houve empoderamento cultural, admitem
que há muito a ser conquistado, pois, conforme Bourdieu (2007), os preconceitos de
123
gênero
estão
profundamente
introjetados
nos
indivíduo
e
uma
simples
conscientização dos preconceitos de gênero não é suficiente para romper com eles.
Formulam-se, a seguir, a conclusão e as considerações finais.
124
6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa relatada nesta dissertação buscou analisar as repercussões da
graduação financiada pelo Prouni no processo de possível empoderamento de
mulheres formadas nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito entre
2009 a 2013 em uma IES privada mineira, na percepção das graduadas
pesquisadas, considerando o modelo de Melo (2012).
Foram entrevistadas 20 egressas que estudaram com bolsa do Prouni integral ou
bolsa parcial (50%) e FIES entre 2009 e 2013.
Quanto às dificuldades enfrentadas pelas entrevistadas para se inserirem no ensino
superior, identificou-se que a maior foi a falta de recursos financeiros para arcar com
os altos custos das mensalidades dos cursos oferecidos pelas IES privadas antes de
receberem a bolsa do Prouni, seguindo-se a formação deficitária que tiveram no
segundo grau. A principal facilidade que encontraram foi a obtenção da bolsa do
Prouni, por meio da qual tiveram a chance estudar em uma IES privada sem
dispêndios financeiros com a mensalidade do curso.
Pode-se inferir que as dificuldades relacionadas a renda e ao conhecimento
vivenciados pelas as mulheres pesquisadas foram reduzidas quando elas
começaram a se capacitar por meio da graduação. Os conhecimentos adquiridos na
graduação e a capacitação foram fundamentais para obterem melhorias nas suas
perspectivas profissionais.
No que se refere às atribuições e funções que as entrevistadas ocupavam antes de
se formarem no ensino superior e a suas expectativas em relação à atuação
profissional após a graduação, identificou-se a partir dos dados demográficos e dos
relatos das entrevistas que elas ocupavam cargos de baixa hierarquia organizacional
e de natureza mais operacional. Após o término da graduação, mudaram de
profissão, passaram a desenvolver tarefas de natureza tanto operacional quanto
intelectual e subiram na hierarquia organizacional. Além disso, elas tiveram
125
melhorias salariais, modificando a condição financeira precária a qual estavam
sujeitas no decorrer da vida.
Constatou-se que o fator cognitivo analítico foi a principal dimensão que influenciou
os indicativos de empoderamento das entrevistadas, desencadeando mudanças
positivas nas outras dimensões do empoderamento delas. A partir do aumento dos
conhecimentos das mulheres, das melhorias no seu saber, no conhecer e no
reconhecer houve alterações em outras dimensões de sua vida. Observou-se que os
conhecimentos adquiridos provocaram mudanças individuais, na forma de se
posicionarem na família e na sociedade e maiores e melhores perspectivas de
carreira, podendo-se dizer que o empoderamento cognitivo analítico das
entrevistadas contribuiu para seu processo de escalada do empoderamento social,
cultural e econômico.
Em síntese, pautando-se no modelo de empoderamento de Melo (2012) e nos
resultados da pesquisa, pode ser apresentado o seguinte modelo explicativo do
processo de empoderamento vivenciado pelas entrevistadas.
Figura 1 - Síntese dos resultados da pesquisa, pautando-se no modelo de
empoderamento de Melo (2012)
Fonte: Dados da pesquisa
126
Observa-se nas entrevistadas o anseio por mais qualificação. Pode-se dizer que a
qualificação é percebida como um propulsor que as projetam na sociedade,
desencadeando influências nas outras dimensões do processo de empoderamento.
Constatou-se que o empoderamento cognitivo analítico das entrevistadas não foi
suficiente para desencadear o empoderamento subjetivo delas. Os conhecimentos
adquiridos na graduação não desencadearam elevada autoestima, autoconfiança e
autodeterminação nas mulheres pesquisadas. As entrevistadas não se sentem
capazes após se graduarem de galgar qualquer cargo em sua área de qualificação.
Salientaram que apenas os conhecimentos adquiridos não são suficientes para tal,
sendo necessário adquirir experiência prática na área em que se formaram. Pode-se
inferir a partir desse resultado, que a falta de crença na própria capacidade/
autoconfiança e autoestima destas mulheres pode estar relacionada ao pequeno
intervalo de tempo entre a conclusão do curso de graduação e o momento desta
pesquisa. E, também, à possível defasagem intelectual pode estar associada à falta
de acesso ao conhecimento diferenciado desde a infância, pois a maioria é oriunda
do ensino público, no qual não há predominância de um ensino de qualidade.
No entanto, as pequenas mudanças que ocorrem nos sentimentos das entrevistadas
contribuíram para indicar ganhos no processo de empoderamento social (contextos
social e organizacional). No contexto social, houve a inserção delas em espaços
públicos da sociedade e no organizacional, o trabalho despertou sentimentos de
realização nelas além de perceberem reconhecimento pela organização.
Em síntese, pode-se dizer que a graduação financiada pelo Prouni não foi suficiente
para desencadear o empoderamento subjetivo (MELO, 2012) das mulheres
pesquisadas, pois as mudanças em sua autoconfiança e autoestima foram restritas.
Em relação ao empoderamento político (MELO, 2012), identificou-se que a maioria
das entrevistadas possui muitas barreiras neste campo, o empoderamento cognitivo
analítico não desencadeou, ainda, o processo de empoderamento político delas.
Identificou-se que nas relações de poder estabelecidas no ambiente de trabalho, a
maior parte das mulheres pesquisadas ocupa uma posição de submissão,
127
demonstrando insegurança e constrangimento ao falar sobre o assunto. Pode-se
inferir que, esses sentimentos surgem do fato de se sentirem inferiores na cadeia
hierárquica da empresa em que atuam, apresentando, portanto, certa resistência ao
falar, já que o fato de falar sobre isso remete ao fato de reconhecerem que não
exercem o poder ou que não ocupam a posição hierárquica que gostariam de ocupar
em seu ambiente de trabalho. Assim, desviar-se do assunto ou se limitar a falar
sobre ele pode ser uma forma de autoproteção. Pode-se dizer que o tempo de
formada das pesquisadas ainda é pequeno para permitir uma análise mais completa
da possibilidade de ascensão hierárquica.
A posição de subordinação nas relações de poder ocupadas pela maioria das
entrevistadas afeta sua autonomia e a definição de objetivos importantes e
estratégicos em seu ambiente de trabalho, ficando claro que a maior parte das
entrevistadas possui autonomia restrita. As entrevistadas demonstraram possuir
pouco poder de influência e de decisão em seu ambiente de trabalho.
É possível inferir também que a acessibilidade às informações importantes e
estratégicas da empresa não significa o poder de tomar decisões que envolvam
essas informações, pois, mesmo possuindo o acesso, a maioria das entrevistadas
não possui poder de decisão.
Ainda quanto ao fator político, identificou-se que as entrevistadas reconhecem a
importância do desenvolvimento de alianças e estratégias para o desenvolvimento
profissional dentro e fora da instituição. A maioria delas acredita que possuir boas
alianças é fundamental no âmbito do trabalho. Para algumas entrevistadas uma boa
aliança na conquista de um bom emprego ou promoção pode ser, até mesmo, mais
eficaz do que a própria qualificação.
Quanto à questão da preferência de gênero no ambiente de trabalho, algumas
entrevistadas, salientaram que os homens possuem mais oportunidades em relação
às mulheres.
No que tange ao empoderamento político constatou-se que as entrevistadas têm um
longo caminho a trilhar para alcançá-lo, a maioria, ainda, não ocupa cargos de alta
128
hierarquia organizacional, não possuem autonomia profissional e predomina no
espaço organizacional um desequilíbrio nas relações de poder. A condição das
mulheres pesquisadas no âmbito das organizações em que trabalham continuam a
reproduzir a lógica tradicional do que é masculino e do que é feminino culturalmente,
as entrevistadas não exercem o poder nesse ambiente. Ressalta-se que as
mudanças desencadeadas no fator cognitivo analítico não alteraram a tradicional
condição das mulheres nas organizações.
Pode-se inferir ainda neste fator, com base nos dados identificados, a presença da
violência simbólica. As entrevistadas não se dão conta da existência da dominação,
pois estão envolvidas, como que por magia, nas estruturas e nas atividades
produtivas organizacionais.
Em relação ao empoderamento econômico (MELO, 2012), identificou-se que o
empoderamento cognitivo analítico das entrevistadas desencadeou mudanças
positivas neste fator. Constatou-se certa contribuição da graduação para as
entrevistadas se tornarem mais independentes financeiramente e que a dimensão
econômica do empoderamento modificou sua condição no contexto social (âmbito
familiar, social e organizacional) e cultural. Nos âmbitos familiar e social, elas
passaram a ajudar nas despesas de casa, no organizacional, ampliaram suas
perspectivas de carreira. No contexto cultural, ressalta-se que à medida que as
mulheres passam a contribuir financeiramente com as despesas familiares algumas
mudanças ocorrem na estrutura patriarcal da sociedade.
Salienta-se diante das constatações feita nesta pesquisa que, a graduação
financiada pelo Prouni desencadeou mudanças financeiras na vida das mulheres e
contribuiu para o empoderamento econômico delas.
Em relação ao empoderamento social (MELO, 2012), verificou-se que o
empoderamento cognitivo analítico das mulheres pesquisadas influenciou o espaço
social delas. Houve mudanças no seu posicionamento familiar, de forma que passou
a participar da tomada de decisão, sentiram-se mais reconhecidas na sociedade e
nas organizações, devido à maior bagagem de conhecimentos e de cultura que
adquiriram durante o curso de graduação. Constatou-se que as melhorias no saber
129
das entrevistadas provocaram alterações na ordem social e cultural no contexto das
relações de gênero.
Ressalta-se que houve algumas mudanças em direção à alteração dos papéis
históricos imposto às mulheres nos contextos familiar, social e organizacional, pois
os resultados desta pesquisa demonstram que houve certa consciência das
entrevistadas quanto a seu reconhecimento nessas três esferas. Verificou-se que o
empoderamento social (Melo, 2012) das entrevistadas ocorreu, o qual desencadeou
o empoderamento cultural, pois elas estão sendo reconhecidas entre outros âmbitos
da sociedade, indo além dos papéis sociais tradicionalmente impostos a elas.
Em relação ao empoderamento cultural (MELO, 2012), percebeu-se que o cognitivo
analítico contribuiu para que ele ocorresse. Houve mudanças nas relações
patriarcais do grupo pesquisado e redução das desigualdades de gênero.
No que tange as repercussões da graduação no empoderamento de mulheres,
assim como alguns autores abordados neste trabalho acreditam na contribuição da
educação superior para o processo de empoderamento de mulheres, verificou-se
nesta pesquisa, que as entrevistadas tiveram o processo de empoderamento
desencadeado. Identificou-se que a graduação desencadeou o empoderamento
cognitivo analítico das entrevistadas, e que, a partir deste, houve ganhos nas
dimensões econômica, social e cultural do processo de empoderamento das
mulheres pesquisadas. Já em relação aos fatores subjetivo e político, observou-se
mudanças restritivas desencadeadas pela educação (empoderamento cognitivo
analítico) na vida das entrevistadas.
É importante ressaltar que, mesmo diante das consideráveis mudanças na condição
das mulheres desencadeadas pelo aumento de seu nível educacional e pelo acesso
ao ensino superior, ainda não houve rompimento com a tradicional condição imposta
a elas socialmente ao longo dos anos. Pode-se dizer que essas mulheres ainda têm
um longo caminho a trilhar rumo à alteração mais profunda dos papéis tradicionais
que lhes foram atribuídos e de sua subjugação na sociedade.
130
Como todo estudo, esta pesquisa possui suas limitações. Primeira, ter pesquisado
mulheres em apenas alguns cursos, Administração, Ciências Contábeis e Direito.
Percebe-se, deste modo, a necessidade de ampliar a pesquisa a outros cursos
superiores. Segunda, ter pesquisado egressas de uma única IES privada,
constatando, dessa forma, ser relevante pesquisar mulheres formadas em outras
IES, a fim de proporcionar comparações.
Verificou-se, ainda, que considerando o tempo de conclusão do curso das mulheres
pesquisadas, o período foi pequeno para se fazer uma análise de empoderamento.
Sugere-se para os estudos futuros pesquisar mulheres que tiveram a bolsa do
Prouni em áreas que na literatura são apregoadas como tipicamente masculinas,
como as engenharias e os cursos nas áreas tecnológicas, visando analisar as
repercussões da graduação no processo de empoderamento delas.
Recomenda-se ainda, pesquisar homens ou homens e mulheres visando identificar
se as desigualdades que vivenciam são de gênero ou de educação. Ou pessoas
com orientação sexual diferenciada, ou mulheres negras, ou mulheres mais e menos
experientes no mercado de trabalho buscando identificar outras nuances que podem
influenciar o processo de empoderamento desses sujeitos.
O modelo proposto por Melo (2012) pode parecer adequado para analisar mulheres
em processo de empoderamento, no entanto é mais indicado para avaliar mulheres
ocupando cargos gerenciais. Ou seja, possivelmente, ele é mais bem aplicado
quando elas que já ascenderam a um espaço organizacional, assim como o modelo
proposto pelo FEM (2005) é mais adequado para estudar o empoderamento de
mulheres que já ascenderam na sociedade. Assim, no caso de mulheres em fase de
empoderamento seus itens devem ser analisados e revistos até que um novo
modelo seja construído.
131
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140
APÊNDICE
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista
Esta entrevista visa subsidiar a elaboração da minha dissertação. Ressaltamos que
sua participação é muito importante. Não existem respostas certas ou erradas. Suas
respostas individuais serão mantidas em sigilo absoluto. Seus fins são estritamente
acadêmicos.
QUESTIONÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO
1.Nome:__________________________________________________________
2.Idade:
Faixa etária
Até 25 anos
( )
De 26 a 30 anos
( )
De 31 a 35 anos
( )
De 36 a 40 anos
( )
De 41 a 45 anos
( )
De 46 a 50 anos
( )
Acima de 50 anos
( )
*Marque com um X
3.Estado civil:
Estado civil
Casada
( )
Solteira
( )
Divorciada
( )
União estável
( )
Outros
( )
*Marque com um X
141
4.Número de filhos:___________________________________________________
5.Estudou com bolsa parcial ou integral do PROUNI (Programa Universidade para
Todos)?
Bolsa do Prouni
Parcial + FIES
( )
Integral
( )
*Marque com um X
6. Formação acadêmica financiada pelo Prouni:__________________________
7.Formação acadêmica que não foi financiada pelo Prouni:__________________
8.Profissão que exercia antes de iniciar a graduação:______________________
9.Atual cargo ocupado:______________________________________________
10. Tempo no cargo ocupado:_________________________________________
11.Organização/Empresa:
___________________________________________________
12.Tempo
na
organização/
__________________________________________
13.Renda mensal
Renda mensal
Até R$ 1.000,00
( )
De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00
( )
De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00
( )
De R$ 5.001,00 a R$ 7.000,00
( )
De R$ 7.001,00 a R$ 10.000,00
( )
Acima de R$ 10.000,00
( )
*Marque com um X
Empresa:
142
Apresente-se, por favor.
1. Quais são as facilidades que você encontrou para ingressar no Ensino Superior?
2. A que você atribui tais facilidades?
3. Quais são as dificuldades que você encontrou para ingressar no Ensino
Superior?
4. A que você atribui tais dificuldades?
5. Quais foram as dificuldades que você encontrou para obtenção da bolsa do
Prouni?
6. Quais as facilidades que você encontrou para obtenção da bolsa do Prouni?
7. De que forma os conhecimentos adquiridos na graduação mudaram sua vida
pessoal?
8. De que forma os conhecimentos adquiridos na graduação mudaram sua vida
profissional?
9. Após graduar-se como você se sente em termos de qualificação?
10. Na sua atividade profissional, o fato de ser mulher faz alguma diferença?
Comente.
11. Você continua fazendo cursos? (Em relação ao ensino continuado, Mestrado,
doutorado, pós-graduação).
12. Como você se sente perante as pessoas por ter um curso superior?
13. Qual o significado para você da sua atividade profissional?
14. Após graduar-se, você se sente capaz de galgar qualquer emprego em sua área
de qualificação? Comente.
15. Quais os sentimentos de auto-realização despertados em você ao graduar-se?
Comente.
16. Qual é o seu planejamento profissional?
17. Você sente segurança na realização de tarefas no seu campo profissional?
Comente.
18. Você percebe preferência de gênero quando há uma disputa entre profissionais
com as mesmas qualificações no setor em que trabalha? Comente.
19. Quais habilidades são essenciais nas mulheres para ocuparem cargos
elevados?
20. Você acredita ser necessário estabelecer alianças para se desenvolver
profissionalmente?
143
21. Como você percebe as relações de poder no seu campo profissional/no espaço
organizacional?
22. Como você se insere nelas?
23. Quais são os relacionamentos positivos no seu ambiente de trabalho?
24. E os negativos?
25. Como você percebe as relações de gênero no seu ambiente de trabalho?
26. Você tem acesso as informações importantes e estratégicas dentro da
organização?
27. Avalie a sua autonomia dentro da organização.
28. Porque você trabalha?
29. Você se sente realizada economicamente?
30. No seu grupo familiar (grupo social) quem busca qualificar-se mais, homem ou
mulher?
31. Você acredita que a graduação minimiza alguns bloqueios enfrentados pelas
mulheres para se inserirem no mercado de trabalho? Comente.
32. Como a graduação contribuiu para sua independência financeira?
33. Quais eram as suas perspectivas e planos no campo profissional antes de se
graduar?
34. Qual incentivo você teve para buscar sua independência financeira?
35. Qual é a principal figura de autoridade dentro da sua família? Comente.
36. Em sua percepção, homens e mulheres possuem as mesmas oportunidades
econômicas, sociais e políticas na sociedade? Comente.
37. Como são as políticas de promoção para homens e mulheres onde você
trabalha?
38. Onde você trabalha existem diferenças salariais entre homens e mulheres, para
os mesmos cargos?
39. Você se sentiu mais reconhecida em seu grupo social após graduar-se?
Comente.
40. Como você influencia seus amigos? E seus familiares? Quais mudanças
ocorreram em sua capacidade de influência após graduar-se?
41. Sem o Prouni, quais seriam as suas chances de se graduar?
42. Como você percebe o seu reconhecimento dentro da empresa?
43. Quem a incentivou a fazer um curso superior? Comente.
44. Qual a influência masculina nas suas escolhas? (influência do pai; avô)
144
45. Qual a influência feminina nas suas escolhas? (influência da mãe; avó)
46. Qual a influência da graduação nas relações sociais e culturais das pessoas
beneficiadas por ele?
47. Você acredita que a graduação contribui para reduzir os tratamentos
diferenciados entre homens e mulheres na sociedade?
48. Você se sente responsável pelo espaço doméstico?
49. O que você gostaria de acrescentar quanto as repercussões da graduação
financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres.
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Valéria Rezende Freitas Barros