MERCOSUL - Impasses e Perspectivas
THAÍS RAQUEL FERREIRA DE GODOY
[email protected]
ORIENTADOR: ANDERSON CÉSAR G. T. PELLEGRINO
Estágio Supervisionado em ADM-GNI - UNIMEP
[email protected]
Resumo: A globalização financeira e territorial impulsionou a necessidade de integração internacional e a
origem dos blocos econômicos. Devido à necessidade de adaptar-se ao novo cenário e acelerar o crescimento
econômico, a América Latina dedicou-se a um plano de integração, sem atentar, no entanto, à importância
da integração institucional. Esta deficiência causou uma série de dificuldades e estimulou a ocorrência de
conflitos entre os membros. Com isso, o MERCOSUL é hoje um bloco em fase de desenvolvimento o qual
ainda precisa estruturar seus interesses e regras.
Palavras-chave: Globalização, Blocos Econômicos, Mercosul.
Abstract: The financial and territorial globalization stimulated the international integration and the creation
of trade blocs. Due to the need to adapt its economy to the new world wide situation and accelerate the
economy development, Latin America dedicated itself to an integration plan; however they didn’t care with
the community integration. This deficiency caused several difficulties and stimulated the conflicts between
the members. For this reason, MERCOSUL is right now a bloc in a development phase, which still needs
to structure its interests and rules.
Keywords: Globalization, Trade Blocs, Mercosul.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente o comércio internacional ganha
cada vez mais força e se torna um eficiente mecanismo para gerar e acumular riquezas. Ao mesmo
tempo, este cenário traz um constante aumento na
competitividade entre os países o que impulsiona a necessidade de iniciativas de adaptação para
acompanhar o acelerado crescimento e mudanças.
Uma dessas iniciativas é a Integração Internacional, apresentando uma idéia de cooperação entre
os países. Para explicar a origem da idéia de integração internacional busca-se inicialmente traçar
todo o caminho percorrido pelo mundo até sua
atual estrutura globalizada. Desde o fim de Segun5(9):7-12, 2007
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da Guerra Mundial, com o surgimento da idéia
de constituir uma nova ordem mundial (Bretton
Woods), até ocorrer o momento da globalização
financeira, a qual ocasionou como conseqüência a
globalização territorial. Em razão disso, cidades se
tornaram grandes metrópoles mundiais e os países
sentiram cada vez mais a necessidade de se integrarem economicamente. Explicado o surgimento dos
blocos econômicos, busca-se focar toda a estrutura
do Mercado comum do Sul (MERCOSUL) desde a sua formação, justificando sua formação com
base no regionalismo aberto, até sua estrutura atual
com o intuito de identificar seus impasses e traçar
suas possíveis perspectivas.
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2. GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA
E TERRITORIAL
Com o fim da Segunda Guerra Mundial os países aliados tiveram a iniciativa de desenvolver uma
nova ordem econômica estável e em constante desenvolvimento buscando a restauração da confiança
econômica em âmbito internacional marcando o
começo da recuperação do caos econômico mundial existente entre 1920 e 1930. Esta nova ordem
recebeu o nome de Sistema de Bretton Woods.
De acordo com Moffitt (1984) o plano Bretton
Woods foi um acordo com o objetivo de propiciar
um clima monetário estável com intuito de facilitar
a retomada do comércio internacional. Foram fundadas duas instituições existentes até os dias de hoje;
o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BIRD
(Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento). A nova ordem também estimulou
a industrialização de alguns países em desenvolvimento; paises como Brasil e México começaram a
evoluir, desenvolvendo potências industriais e recuperando o atraso econômico. Segundo Gonçalves
(1998), Bretton Woods foi eficaz até o final dos
anos 70 e devido a desequilíbrios monetários o sistema fracassou. Nesta década os países enfrentaram
uma situação de sobreacumulação e esgotamento da
onda tecnológica nos setores que lideravam o ciclo
de crescimento. Como conseqüência houve uma desaceleração nos investimentos prejudicando as taxas
de crescimento econômico, os juros aumentaram e
houve redução da liquidez internacional. Nos países
periféricos passou a existir a dívida externa, o que os
tornou cada vez mais dependentes do financiamento externo para honrar suas dívidas.
Dainez (2006) explica que esta situação fez com
que os países subdesenvolvidos direcionassem seus
fluxos de capitais para títulos americanos, os quais
por sua vez desregulamentaram seu sistema financeiro para atrair mais capitais. Com a pressão mundial e hegemonia americana, demais países tomaram
a mesma ação, com isso todas as formas de controle
foram eliminadas na década de 90. Essa transformação recebeu o nome de Globalização Financeira,
criando um ambiente em que os mercados financeiros internacionais estariam cada vez mais integrados
e o capital de dinheiro possuiria uma ampla liberdade de movimentação.
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O capital se tornou produto e com a sua mobilidade a concorrência entre grandes empresas se tornou intensa, o que alterou as estratégias empresariais
para acelerarem o processo de concentração e centralização de capitais. As empresas obrigatoriamente
se tornaram multissetoriais e multifuncionais, surgindo a partir daí a necessidade de ampliação dos
espaços econômicos geográficos. Esta situação causou a quebra de algumas barreiras políticas e comerciais entre as nações. Conforme descreve Pellegrino
(2005), a partir destes acontecimentos ocorreu à
emergência de espaços subnacionais, com o surgimento das cidades-regiões e cidades-globais, as quais
responderam às exigências do processo de transnacionalização, e se tornaram metrópoles mundiais, e
a emergência de espaços supranacionais, através da
integração internacional, o que ocasionou a formação de blocos econômicos.
A integração internacional foi conceituada com
o objetivo de reduzir e superar restrições externas ao
crescimento econômico, através de uma área de livre
comércio e de liberação de barreiras tarifárias e não
tarifárias ao comércio, considerando que quanto
maior a abertura maior seria a eficiência na alocação
destes recursos. De acordo com Campbell (2000)
a integração de mercados de bens, serviços e capital
cresceu de forma acelerada. Com isso, as interdependências entre os diversos espaços econômicos se
estreitaram de maneira intensa e isso incentivou que
países com interesses comuns unissem suas idéias e
formassem um objetivo único; a integração.
Através da formação de blocos econômicos e
da configuração do mesmo, eliminaram-se as barreiras alfandegárias diminuindo assim o custo dos
produtos e consequentemente aumentando o poder
de compra. Estes blocos foram classificados como
etapas para um mundo sem fronteiras. Esta integração econômica foi caracterizada por diferentes
módulos; Zona de preferências tarifárias, Zona de
Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum e União Econômica. Atualmente o mundo
está dividido em diversos blocos classificados em
diferenciados estágios de integração, os quais foram
citados no tópico anterior. O Brasil está inserido
no MERCOSUL, um bloco com fortes impasses e
fortes perspectivas, o qual será abordado com maior
detalhe no próximo tópico.
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NegóciosInternacionais,
Internacionais,Piracicaba,
Piracicaba,5(9):39-44,
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Rev.
3. MERCOSUL: SITUAÇÃO ATUAL, IMPASSES E PERSPECTIVAS
3.1 A Evolução da Integração Latino-Americana
e o MERCOSUL
A partir dos anos 70, os países latino-americanos
promoveram um intenso processo de endividamento
externo para financiar a continuidade do seu processo de industrialização. Segundo Sarti (2001), pode-se
comprovar que devido a esta crise de dívida externa, o
processo de industrialização foi interrompido nos anos
80. Nesta mesma época foi identificado que o principal
empecilho para o crescimento econômico da América
Latina foram as restrições externas, denominada como
a insuficiente capacidade de importar, e a integração regional seria o instrumento fundamental para eliminar
ou reduzir esta restrição externa. Para isso algumas medidas deveriam ser tomadas como mecanismos regionais de pagamento, preferências tarifárias para incentivar o intercâmbio regional e usufruir da capacidade de
compra para ativar a produção da região. A integração
econômica seria a ferramenta fundamental para a formação de estruturas produtivas mais complementares
e em maior escala, atuando como uma plataforma de
exportações para os países centrais. Em menor medida,
estimularia acordos de cooperação e coordenação políticas nos fóruns internacionais.
As primeiras idéias integracionalistas na América
Latina surgiram no século XVIII com as lutas pela
independência política dos países da região, através
de Simon Bolívar, o qual acreditava ser uma idéia
grandiosa transformar o Novo Mundo em uma só
nação, já que a origem, a língua e os costumes tendiam a ser os mesmos (Morini; Simões, 2006).
Com o objetivo de procurar soluções estruturais
para as dificuldades econômicas e sociais na América
Latina, criou-se em 24 de junho de 1948 um ramo
regional do Conselho Econômico e Social das Nações
Unidas, caracterizado como A Comissão Econômica
para a América Latina (CEPAL). A principal idéia enfatizada desde o início era a necessidade da integração
econômica da América Latina. A primeira importante
experiência de integração latino-americana ocorreu
com a criação da Associação Latino-americana de
Livre Comércio (ALALC) em 1960 a partir da assinatura do Tratado de Montevidéu. A experiência foi
fortemente influenciada pelo pensamento estrutura5(9):7-12, 2007
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lista Cepalino, considerando que nas décadas entre 50
e 70 a idéia era de que a integração regional pudesse
reduzir as restrições externas e a escassez de capital e
tecnologia. Estas restrições dificultavam o processo de
industrialização, por este motivo a experiência não obteve êxito do ponto de vista da integração regional.
A experiência seguinte de integração na região
ocorreu em 1980 com a formação da Associação
Latino-americana de Integração (ALADI). Seus objetivos eram menos ambiciosos comparados aos da
Alalc; a intenção foi manter o foco em esforços na
ampliação do intercâmbio regional e assumir uma
estratégia de negociação e operacionalização mais
flexível. Além de substituir acordos multilaterais
para acordos comerciais bilaterais envolvendo um
número reduzido de países e setores produtivos.
Mesmo assim, a ALADI enfrentou sérias dificuldades operacionais, principalmente nos termos de
expansão comercial, e com isso, também fracassou.
Contudo, a ALADI continuou sendo referência em
termos normativos e institucionais para acordos
sub-regionais como o MERCOSUL.
Com base nas descrições de Brum (1995) e
Almeida (1998) O MERCOSUL veio se desenvolvendo desde os anos 80 através das tentativas de
cooperação entre Argentina e Brasil. Mas foi em 26
de março de 1991, através da assinatura do Tratado de Assunção, que a união foi fundamentada. Os
países Paraguai e Uruguai integraram-se ao bloco e
juntos constituíram o MERCOSUL, com o objetivo de alcançar a livre circulação de bens, serviços e
fatores produtivos entre os países membros, através
da eliminação de tarifas alfandegárias e restrições. O
tratado previu que os países passariam a adotar as
mesmas alíquotas de importação através do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC),
aplicado em 1995. Seu conceito foi fundamentado
e correlacionado aos itens da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM) com os direitos de
importação incidentes sobre cada um desses itens,
com aplicação somente às importações provenientes
dos países não membros. Com isso o MERCOSUL
passou a ser classificado como uma União Aduaneira, ou seja, um bloco integrado para negociação em
conjunto com demais blocos e países.
Finalmente em 04 de julho de 2006 a Venezuela ingressou oficialmente no MERCOSUL em uma
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reunião em Caracas para formalizar a adesão. O protocolo de adesão da Venezuela foi firmado em junho
pelos ministros de Relações Exteriores dos países
membros. O documento definia os compromissos,
as etapas do processo de integração, os prazos para a
adoção da Tarifa Externa Comum do bloco e para a
liberalização do comércio com os demais integrantes.
3.2 O MERCOSUL como fenômeno do Regionalismo Aberto – Impasses e Perspectivas
Conforme definição da CEPAL na década de 90,
Regionalismo Aberto foi caracterizado como o processo que envolveria a interdependência criada através de acordos especiais e preferenciais impulsionados
pelos sinais do mercado resultantes da liberalização
comercial. Com base nesta definição de regionalismo
aberto não seria mais o desenvolvimento de uma base
tecnológica que estimularia os vínculos produtivos e
tecnológicos em nível regional. Ao contrário, a integração e a abertura comercial seriam os fatores que facilitariam a incorporação de progresso técnico através
do aumento do rendimento das atividades de inovação. Isto se daria ao reduzir as barreiras comerciais, favorecer a padronização de normas e regulamentações,
estimular a criação de centros de excelência e reduzir
os custos da pesquisa pura e aplicada.
As decisões empresariais de especialização e de
complementaridade em busca de ganhos de competitividade na produção são tomadas em um quadro
econômico. Este quadro combina, simultaneamente, um maior grau de abertura econômica e financeira dos países-membro em relação ao mundo, e
um maior grau de integração econômica (de fato) e
institucional (de jure) entre os países pertencentes ao
bloco. A idéia é que um processo de integração econômica possa contribuir para o ganho conjunto de
competitividade e, ao mesmo tempo, para a redução
das assimetrias produtivas existentes entre as economias nacionais presentes no bloco. Nesse sentido, o
papel institucional (responsável pela integração de
jure) seria criar normas, políticas e instituições capazes de assegurar e conduzir o processo de integração,
nas esferas produtiva, comercial e financeira, (integração de fato). O regionalismo aberto foi definido
como sendo fundamentalmente um processo político (de jure) podendo ou não incrementar as forças
competitivas dentro da região. O processo de desre42
gulamentação econômica e financeira, a geração e
difusão de novas tecnologias de informação e a globalização dos mercados financeiros são fenômenos
que caracterizaram e contribuíram para o processo
de globalização desde o final dos anos 70.
Todas as tentativas de integração na América Latina
foram conceituadas no regionalismo aberto. De acordo
com Sarti (2001), o MERCOSUL foi um processo
institucional, mas que sempre teve como motivação
básica seu desenvolvimento econômico. Nesse sentido
o MERCOSUL constitui-se em uma integração de
jure e de fato, com predominância na integração de fato.
As decisões, normas, diretrizes entre outros acordos realizados pelo MERCOSUL foram moldados e concebidos como uma experiência de Regionalismo Aberto,
pressupondo assim uma margem de preferência regional, mas acompanhada de uma crescente abertura econômica com relação a terceiros países. As características
de jure e de fato não evoluíram na mesma intensidade
e velocidade para o MERCOSUL. A institucionalização do MERCOSUL não conseguiu acompanhar a
dimensão econômica e avançou de forma insuficiente
e inadequada. As diretrizes das políticas nacionais das
economias latino-americanas eram contraditórias com
qualquer processo de integração, o que contribuiu em
vários momentos para a geração de conflitos políticos
no processo negociador.
Segundo CEPAL, o predomínio dos processos de
integração de fato ocorreu devido a importantes elementos como a tendência comum para a constituição
de um quadro macroeconômico coerente e estável, a
liberalização comercial unilateral, a promoção não discriminatória das exportações, a desregulamentação e a
eliminação de entraves aos investimentos estrangeiros,
as privatizações e a supressão das restrições de pagamentos. Com isso, o avanço parcial da institucionalidade do MERCOSUL não impediu que o processo de
integração se fortalecesse em termos econômicos.
De acordo com Bouzas (2000), o MERCOSUL
apresenta resultados decepcionantes devido às imaturas e precárias instituições de governo, situação
macroeconômica instável, falta de regulamentações,
interesses e valores divergentes. No entanto fatores
como o significativo capital investido, o crescente
aumento na interdependência econômica constituem elementos favoráveis para que o bloco possa
dar continuidade no processo de integração.
Rev.de
deNegócios
NegóciosInternacionais,
Internacionais,Piracicaba,
Piracicaba,5(9):39-44,
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Rev.
Conforme apresentado nos indicadores anteriores, o MERCOSUL apresenta uma participação
fundamental no comércio mundial. Considerado
como um dos principais pólos de atração de investimentos do mundo e classificado como a quarta
economia mundial além de possuir a principal reserva de recursos naturais do planeta, sendo principalmente as reservas de energia, considerando
fontes de minério e das hidroelétricas. Além disso,
conta com redes de comunicações desenvolvidas e
em constantes processos de renovação, e possui um
dos mais importantes setores industriais dentre os
países em desenvolvimento incluindo alguns países
desenvolvidos. Isso não significa, no entanto, que os
avanços alcançados sejam suficientes. Ao contrário,
os diversos problemas implícitos nos processos de
integração nos apresentam diariamente as limitações
e as questões pendentes em diversos campos.
Nesta situação restam duas alternativas para o
MERCOSUL; uma implica no abandono do objetivo de estabelecer uma união aduaneira, afinal existem
obstáculos como a aplicação de uma política comum,
arbitragens satisfatórias considerando as diferenças de
estrutura e interesses. Com isso, este primeiro cenário
permitiria que cada país pudesse recuperar sua flexibilidade e autonomia nas negociações internacionais
com o restante do mundo. Por outro lado, não desfrutaria de dos benefícios de um mercado unificado e
do exercício da negociação comum.
A outra alternativa se baseia no estabelecimento
de uma união aduaneira, com a necessidade de reverter o quadro atual o qual apresenta uma desintegração constante. É necessário primeiramente criar mecanismos para administrar as tensões decorrentes dos
choques causados por um quadro de instabilidade
macroeconômica, em seguida, definir uma agenda de
temas prioritários que permitam desbloquear a ineficiência regulamentaria e dar respostas à problemas
pendentes. Para todas essas ações é fundamental que
avance paralelamente a reconstrução de uma matriz
de interesses comuns, a qual seja capaz de recuperar
a confiança entre os membros e sócios restabelecendo
assim a percepção de ganhos mútuos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir de Bretton Woods o mundo foi impulsionado para uma crescente evolução na integração.
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Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 5(9):39-44,
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Através desta nova ordem o mundo passou por períodos de hegemonia como também períodos de
crise, até ocorrer a globalização financeira, através da
desregulamentação do capital, o que tornou o fluxo de capital no mundo cada vez mais intenso. Essa
força impulsionou a globalização territorial e consequentemente cidades se tornaram grandes metrópoles mundiais e os países sentiram cada vez mais a
necessidade de se integrarem economicamente. Foi
nesta fase que na década de 90 surgiu o MERCOSUL, através da necessidade de reduzir as restrições
externas e impulsionar o crescimento econômico.
O MERCOSUL foi um bloco baseado no modelo
de regionalismo aberto, processo o qual envolveria a
interdependência criada através de acordos especiais
e preferenciais impulsionados pelos sinais do mercado resultantes da liberalização comercial. Este fator
explica as tantas crises e tantos desentendimentos e
impasses entre os países membros. O MERCOSUL
surgiu a partir da necessidade de se adaptarem à
nova estrutura mundial e à globalização e promoverem crescimento e industrialização, isto é, um bloco
constituído a princípio para facilitação das exportações e importações. Posteriormente surgiram as
idéias de integração institucional, cujas idéias ainda
não foram implantadas. O MERCOSUL foi, portanto, um bloco estruturado primeiramente voltado
para a economia (de fato) e somente depois, com
uma idéia fraca de um bloco fundamentado no institucional (de jure). Com isso, pudemos comprovar
a razão da institucionalização do MERCOSUL de
não conseguir acompanhar a dimensão econômica.
Isso conduziu a um avanço insuficiente e inadequado o que favoreceu o surgimento de conflitos políticos no processo.
É possível demonstrar este fato com as diversas
crises já existentes entre os membros e associados
do MERCOSUL as quais mostram que este bloco
caminha atualmente para um processo desintegração. Vale citar os impasses entre Brasil e Bolívia com a situação das refinarias da Petrobrás; as
crises existentes na Venezuela, devido à ideologia
antidemocrata do governo além de apresentar um
processo de importação/exportação burocrático e
repleto de normas e restrições; a relação Brasil e
Argentina, considerando que há poucos anos, o
presidente Kirchner se retirava dos eventos os quais
43
o Presidente Lula iria fazer algum discurso, considerando ainda que com a situação da balança comercial positiva para o Brasil e negativa para a Argentina, os argentinos passaram a responsabilizar
o Brasil pela situação de déficit existente no país;
o conflito entre a Argentina e o Uruguai, devido
a instalação de uma indústria de papel na fronteira entre os países o que ocasionou a intervenção
de países terceiros devido à dificuldade de comunicação e negociação. Embora o MERCOSUL
apresente um papel fundamental na Economia
Mundial, identificamos que atualmente ele apresenta uma estrutura instável com forte tendência a
uma desintegração. Com isso, traçamos duas perspectivas; ou ocorre o abandono da idéia de união
aduaneira ou ocorre à reversão da situação atual,
com uma conscientização e reestruturação geral do
bloco. No entanto, para uma reestruturação, para
uma integração aduaneira, o MERCOSUL precisa
ser mais ordenado e equilibrado. Isso não irá ocorrer se os demais países membros e associados não
estiverem fundamentados na mesma estrutura e estarem na mesma sintonia, com motivação e vontade de estruturar um bloco comum, com interesses
e objetivos comuns. Deve-se ter em mente que o
MERCOSUL não se desenvolve sozinho e parado,
mas sim num contexto de uma realidade política
e econômica excessivamente complexa. Por isso é
muito importante realizar estas reflexões críticas
sobre os avanços, limitações e impasses, com a
idéia de que é necessário traçar caminhos eficazes
para o processo de integração.
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