O homem, o sofrimento e a psicoterapia
Rodrigo Otávio de Lima Rezende, psicólogo.
A relação do homem com o sofrimento ou com a possibilidade de sofrer é
uma constante tão significativa que começa mesmo antes do seu nascimento e o
acompanha como um companheiro fiel até o suspiro final, se não for além. As
filosofias são conjuntos de idéias humanas que procuram entender e explicar a
realidade e, dentre elas, algumas filosofias se preocupam mais com a importância
do sofrimento humano. A filosofia Humanista-Existencial tem a concepção de que
o homem está destinado a sofrer a partir da sua condição frágil e mortal. Essa
filosofia entende que o homem é essencialmente livre e responsável pelas suas
escolhas, então, a consciência de sua finitude e da responsabilidade por sua
formação gera angústia no homem. Dessa forma, a angústia está na base
estrutural de nossos sentimentos e não há como eliminá-la de nossas vidas.
Para enfrentar o sofrimento, ou melhor, essa companhia ou perseguição
constante mais que desagradável, cada homem, a sua própria maneira, e a
humanidade como um todo desenvolve formas de conceber a si próprio, os outros,
a vida e a realidade. O homem desenvolve a fé e fórmulas diversas para suportar o
sofrimento como crenças no sobrenatural, práticas espirituais e as religiões.
Também, entre outras fórmulas, incluí-se a de ganhar poder e dominação sobre os
outros homens, acumular riquezas e esquecer ou aliviar o sofrimento ocupando-se
de todo tipo de atividade que gere alienação e anestesia mental. Inclusive, as
drogas lícitas e ilícitas e o fanatismo por qualquer coisa têm essa função. Entre
essas fórmulas estão, ainda, as tentativas de recondicionar a mente humana
através de treinamentos, inclusive os terapêuticos, e drogas medicamentosas para
aceitar e adaptar-se melhor a uma dada realidade. Contudo, parece que essas
fórmulas acabam não funcionando bem ou não eliminando o sofrimento por
completo.
Por outro lado, a citada filosofia Humanista-Existencial entende que cada
homem só realmente supera o sofrimento que lhe é inerente quando assume a
responsabilidade de fazer escolhas condizentes com a intimidade de seu ser. Para
tanto, naturalmente, ele precisa antes de tudo conhecer a própria intimidade. Todo
homem só pode encontrar sentido na vida para si mesmo quando busca e
desenvolve critérios e valores próprios em máxima liberdade. Esses critérios e
valores, então, só têm força para fazer frente aos sofrimentos que a vida trás
quando são desenvolvidos no íntimo individual de cada ser humano.
A Abordagem Centrada na Pessoa ancora-se na filosofia HumanistaExistencial e desenvolveu um modo de psicoterapia em que o papel do
psicoterapeuta é ajudar seu cliente a desenvolver por si e para si mesmo critérios
e valores. Dessa forma, ele desenvolve significados e sentido para a vida e,
consequentemente, alívio para o sofrimento. Sendo assim, o papel do
psicoterapeuta não poderia ser o de aconselhar, indicando as razões ou meios de
como resolver problemas. Seu papel deve ser, então, o de ajudar o cliente a entrar
em contato consigo mesmo, com a sua intimidade. Isso é feito na medida em que
o psicoterapeuta oferece um clima de aceitação e compreensão com o mínimo de
influência externa ao cliente, que é favorecido para desenvolver critérios e valores
próprios para se responsabilizar por si e, consequentemente, encontrar sentido e
suporte frente ao sofrimento.
A Psicoterapia Centrada na Pessoa indica que a qualidade da relação entre
psicoterapeuta e cliente é fundamental para a criação de um ambiente favorável e
confiável que permita que o cliente se revele e se descubra. A percepção do
cliente da capacidade e qualidade da aceitação e compreensão do psicoterapeuta
em relação ao que ele revela indica até que grau de profundidade ele pode se
revelar. Quanto mais profunda for a revelação do cliente ao psicoterapeura, mais
ele descubrirá sobre si mesmo. As descobertas através dessas revelações formam
uma nova autoavaliação no cliente, uma nova base de partida para conceber a si
próprio no mundo com os outros. Então, a partir dessa nova base, mudanças
emocionais e comportamentais são consequências naturais. Por fim, o cliente
forma uma resistência ou resiliência para enfrentar os sofrimentos inerentes à vida.
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